BLOCO DE ESQUERDA. LÍDER ABANDONA CARGOS DIRIGENTES ESTE FIM-DE-SEMANA O FRANCISCO DESCONHECIDO Durante13anoscoexistiramdoisLouçãs:ointelectualbrilhanteeodirigenteimplacávelque esmagavaehumilhavasempiedadeoscríticosqueousavamdesafiá-lo.ASÁBADOrevela-lhe históriasinéditasqueilustramaacçãodeumedeoutro. Por FernandoEsteves NUNO SARAIVA História. O autor desta BD colaborou com o Bloco na criação de material de propaganda n Em 1998, Francisco Louçã abordou o independente Fernando Rosas para que este fosse o cabeça-de-lista do PSR em Lisboa nas eleições legislativas de 1999. Resposta: “Eh pá, vamos pensar melhor nisso porque o Mário Tomé e o Luís Fazenda [dirigentes da UDP] vieram falar comigo à Universidade e pediram-me que fizesse a ligação contigo tendo em vista a criação de um novo movimento que una os dois partidos.” Louçã resistiu: “É melhor não avançar. Já tivemos uma experiência que correu mal.” “É a altura”, respondeu-lhe Rosas. E foi mesmo: Louçã encontrou-se com os dirigentes da UDP e a eles juntou-se Miguel Portas, da Política XXI. Durante muitas semanas, Louçã, Portas, FazendaeRosas encontraram-sealternadamenteno restauranteOh! Lacerda(propriedade de um militante da UDP) e na casa de Louçã,naAv. DuquedeLoulé,emLisboa. Lá, sobre a lareira, estão várias fotografias que SÁBADO alguns convidados já identificaram como sendo ruínas ouumcenário pós-terramoto – na verdade, são imagens do apartamento antes das profundas obras de remodelação quesofreu. Terásido nasaladacasadeLouçã, onde anos depois ele acomodaria o boneco Francisco Trotskã, que lhe foi ofereci- tá-lo a nível regional representou um esforço fisicamente extenuante para Louçã, que fez dezenas de milhares de quilómetros de carro. Procurava apoiantes pelos cafés e clubes recreativos das povoações. Antigos militantes daUDP entretanto afastados, simpatizantes daextrema-esquerda, independentes de esquerda, todos eram potenciais recrutas. “Era impressionante. Podia conhecer alguém de passagem e três meses depois, quando voltava, lembrava-se da pessoa, do seu nome e da conversa que tinham mantido”, diz João Delgado, ex-dirigente do partido em Braga que chegou a correr pequenas freguesias com Louçã em buscade novos militantes. Noutraocasião, o partido organizou umamarchapelo emprego entre as cidades de Braga e Lisboa. Foram vários dias a pé, almoçando em refeitórios de escolas secundárias. Louçã foi o único dirigente de topo que fez o percurso completo. “Canalha!”, gritou para Gil Garcia durante uma reunião da Mesa Nacional do partido do pelaprodutorado antigo programaContra-Informação, da RTP, que alguém se lembroude que amelhorformade lançaro movimento seria através de um artigo de Fernando Rosas na coluna que o professor de História mantinha no jornal Público. À PROCURA DE MILITANTES n Em 1999, o Bloco de Esquerda existia apenas em Lisboa e no Porto. Implemen- 51 t A FUNDAÇÃO DO BLOCO