Nasceu em 1896 na cidade de Orscha, interior da Bielo-Rússia. Gradua-se em Direito pela Universidade de Moscou. Concomitantemente faz o curso na Universidade dos Trabalhadores, graduando-se em Literatura e Filosofia. 1917 – 1923 – lecionou literatura e psicologia numa escola em Gomel. 1924 - Trabalha no Instituto de Psicologia de Moscou e, em seguida, no Instituto de Estudos das Deficiências (por ele criado). Reuniu em torno de si um grande grupo de jovens cientistas que trabalhavam nas áreas das anormalidades físicas e mentais (dentre eles Luria e Leontiev). Faleceu em 1934 de tuberculose. Outubro de 1917 - Revolução Russa: As visões de Vigotski foram formadas nos anos revolucionários da Rússia e refletem as idéias científicas e culturais daquele tempo. O tempo pessoal de Vigotski coincidiu plenamente com o tempo histórico que lhe tocou viver e sua criação, revolucionária na psicologia, coincidiu totalmente (por seu momento e por seu sentido) com o auge revolucionário em todas as esferas da vida (as relações sociais, a economia, a política, a literatura, a poesia, o teatro, as ciências, etc.) na URSS. (Shuare, 1990) Nessa sociedade, a ciência era extremamente valorizada devido à expectativa de que os avanços científicos trouxessem a solução dos prementes problemas sociais e econômicos do povo soviético. A necessidade de afirmação ideológica e as demandas práticas exigidas pelo governo influenciavam a elaboração de teorias nos diversos campos do conhecimento. A produção acadêmica desse período, além de intensa, tinha um ponto em comum: a preocupação com o desenvolvimento de abordagens históricas para a pesquisa de diferentes objetos de estudo.” (Rego, 1995, p.26/27) . Após 1917 - fragmentação do corpo teórico em distintas escolas: › Chelpanov - idealismo a psicologia devia estudar as leis da alma, que se servem do funcionamento cerebral, mas não se confunde com ele e tem uma entidade própria. O método fundamental da psicologia devia ser a instropecção. › Kornilov - reatologia (1923) se tratava de estudar, de forma objetiva, as “reações humana em seu ambiente biosocial. Tratava de evitar tanto o reducionismo social do psicológico como o reducionismo físico, sem retificar uma substância espiritual como objeto da psicologia. 1923 - I Congresso Pan-Russo de Psiconeurologia › Debate entre o idealismo e as correntes materialistas 1924 - II Congresso Pan-Russo de Psiconeurologia › Vigotski - primeira aparição no universo acadêmico inserindo a discussão sobre o estudo da consciência Instituto de Psicologia de Moscou 1912-1924 - Chelpanov 1924 - Kornilov Troika: Luria x Leontiev x Vigotski O enfrentamento histórico entre a psicologia introspectiva da consciência e os novos enfoques objetivos teve na URSS um significado peculiar ao entrelaçar-se com os acontecimentos revolucionários e com a condição global de mudança cultural que vivia aquela sociedade. O que em outros países era uma problemática mais estimulada pela história da psicologia, na URSS se converteu numa busca de uma alternativa materialista que fosse, ao mesmo tempo, consistente com a filosofia socialmente dominante: o marxismo. Examinando esta situação, Vigotskii mostrou que a divisão de trabalho entre os psicólogos da ciência natural e os psicólogos fenomenológicos havia produzido um acordo implícito, segundo o qual as funções psicológicas complexas, aquelas mesmas funções que distinguiam os seres humanos dos animais, não podiam se estudadas cientificamente. Os naturalistas e os mentalistas haviam artificialmente desmembrado a psicologia. Era sua meta, e nossa tarefa, criar um novo sistema que sintetizasse estas maneiras conflitantes de estudo. (Luria, 1988, p. 24) Alguns postulados básicos definidos na teoria marxista são incorporados por Vigotski na composição de sua teoria, tais como: “a) o modo de produção da vida material condiciona a vida social, política e espiritual do homem; b) o homem é um ser histórico, que se constrói através de suas relações com o mundo natural e social. O processo do trabalho (transformação da natureza) é o processo privilegiado nessas relações homem/mundo; c) a sociedade humana é uma totalidade em constante transformação. E um sistema dinâmico e contraditório, que precisa ser compreendido como processo em mudança, em desenvolvimento; d) as transformações qualitativas ocorrem por meio da chamada ‘síntese dialética’ onde, a partir de elementos de uma determinada situação, fenômenos novos emergem...” (Oliveira, 1993, p. 28) O projeto científico de Vigotski era o de estudar os processos de transformação do desenvolvimento humano na sua dimensão filogenética, históricosocial e ontogenética. “Deteve-se no estudo dos mecanismos psicológicos mais sofisticados (as chamadas funções psicológicas superiores), típicos da espécie humana: o controle consciente do comportamento, atenção e lembrança voluntária, memorização ativa, pensamento abstrato, raciocínio dedutivo, capacidade de planejamento etc.” (Rego, 1995, p. 24-25). O objetivo principal da troika era o de construir um novo paradigma psicológico que integrasse algumas das contribuições da psicologia da época (e de outras disciplinas) com os grandes princípios do materialismo dialético. Segundo Luria (1988), Vigotski era o maior teórico do marxismo entre eles, e é o resgate da metodologia marxista de análise que vai orientar todo o seu trabalho na construção de uma nova psicologia. Para ele, “o marxismo era uma ferramenta para pensamento e não um conjunto de verdades reveladas”. (Riviere, 1985, p. 16). A principal proposição de Vigotski quanto ao método reflete o contraste enunciado por Engels entre a abordagem naturalista e a abordagem dialética. A primeira parte do pressuposto de que as condições naturais determinam o desenvolvimento histórico. A segunda, ao considerar as influências sociais, afirma que o homem age sobre a natureza e a transforma transformando-se conseqÜentemente, criando novas condições de existência. Processos: considerar as mudanças no processo de desenvolvimento humano, de tal modo que sua gênese e evolução possam ser observadas sob determinadas circunstâncias. Tal perspectiva indica que o processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores deve ser analisado sob uma perspectiva histórica Unidade de análise: a unidade construída por Vigotski para o estudo do desenvolvimento humano - caracterizada pela fala, ação e percepção - é uma estrutura que permite a integração de elementos contraditórios. Uma unidade que retém todas as propriedades do todo, a análise deve ser holística, uma vez que os elementos vão adquirindo novos significados quando, no processo sócio-histórico, são colocados em relação com o todo em que estão integrados, bem como com outros elementos. Diferentemente do animal, cujo comportamento tem apenas duas fontes - 1) os programas hereditários de comportamento, subjacente no genótipo e 2) os resultados da experiência individual - a atividade consciente do homem possui ainda uma terceira fonte: a grande maioria dos conhecimentos e habilidades do homem se forma por meio da asssimilação da experiência de toda a humanidade, acumulada no processo da história social e transmissível no processo de aprendizagem. (...) A grande maioria de conhecimentos, habilidades e procedimentos do comportamento de que dispõe o homem não são o resultado de sua experiência própria mas adquiridos pela assimilação da experiência histórica-social de gerações. Este traço diferencia radicalmente a atividade consciente do homem do comportamento animal. (Luria, 1979, p. 73) MEDIAÇÃO INTERNALIZAÇÃO ZONA DESENVOLVIMENTO PROXIMAL APRENDIZAGEM X DESENVOLVIMENTO A aranha realiza operações que lembram o tecelão, e as caixas suspensas que as abelhas constroem envergonham o trabalho de muitos arquitetos. Mas até mesmo o pior dos arquitetos difere, de início, da mais hábil das abelhas, pelo fato de que, antes de fazer uma caixa de madeira, ele já a construiu mentalmente. No final do processo do trabalho, ele obtém um resultado que já existia em sua mente antes de ele começar a construção. O arquiteto não só modifica a forma que lhe foi dada pela natureza, dentro das restrições impostas pela natureza, como também realiza um plano que lhe é próprio, definindo os meios e o caráter da atividade aos quais ele deve subordinar sua vontade. Marx S R BEHAVIORISMO funções psicológica elementares S X ENGELS INSTRUMENTOS - SIGNOS funções psicológicas superiores R • A invenção e o uso de signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher, etc.), é análoga à invenção e uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel do instrumento no trabalho. (Vigotski, 1991, p. 59-60). • Os signos têm a função de controlar não só o comportamento de outras pessoas, mas o comportamento do próprio indivíduo. • As funções psicológicas humanas aparecem duas vezes na vida das pessoas: primeiro intermental – intersubjetivamente - e, em seguida, intramental - subjetivamente. Primeiro entre as pessoas e depois no interior da própria pessoa. • Este movimento é caracterizado por Vigotski como internalização: reconstrução interna de uma atividade externa. Isto implica numa reorganização das atividades sobre a base das operações com signos, o que pressupõe a incorporação da cultura pelo sujeito e, ao mesmo tempo, a configuração do próprio sujeito e a reestruturação das atividades reflexas do organismo. LINGUAGEM - comunicativa comunicativa x egocêntrica fala interiorizada Reintrodução da discussão entre aprendizagem e desenvolvimento e o papel do aprendizado escolar. O aprendizado das crianças começa muito antes delas freqüentarem a escola. O aprendizado escolar tem sempre uma história prévia. O conceito de ZDP foi elaborado para descrever as dimensões do aprendizado escolar. BRINQUEDO (JOGO INFANTIL) ENSINO X APRENDIZADO • A ZDP define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário. • Perspectiva histórica do aprendizado x desenvolvimento: o NDR caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a ZDP caracteriza o desenvolvimento prospectivamente. • A ZDP permite-nos delinear o futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando não somente ao que já foi atingido através do desenvolvimento, como também àquilo que está em processo de maturação. Aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daquelas que o cercam. Aprendizado cria ZDP, desperta vários processos internos de desenvolvimento que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. Uma vez internalizados, esses processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento independente da criança. O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. O “bom aprendizado” é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento. COTIDIANAMENTE CUMULATIVAMENTE DIAGNOSTICAMENTE PROGNOSTICAMENTE HISTÓRIA • • Educação [formal] propicia novas ‘ferramentas para o intelecto’ ...mas sem os contextos de uso, estas ferramentas revelam-se `enferrujadas’ e caem no desuso. (Cole, 1990, p. 106). Compreendermos o processo educacional formal sob esta ótica implica levarmos em consideração, no processo de avaliação, as maneiras como os alunos/professores se apropriam (cognitiva e socialmente) dos conteúdos escolares e como eles os operacionalizam na interpretação da realidade social em que estão inseridos (pois, caso isso não venha ocorrer, eles se tornarão "enferrujados"). • O conceito de zona de desenvolvimento proximal nos possibilita abordar o processo de aprendizado e de desenvolvimento das crianças numa perspectiva histórica • Ao operacionalizarmos tal conceito em nossa prática pedagógica, estaremos estabelecendo um diagnóstico e um prognóstico das crianças, o que nos possibilitará planejarmos estratégias educacionais para que elas consigam superar seu nível de desenvolvimento real. • O processo de aprendizado dos conteúdos escolares não se esgota num tempo determinado, mas ele se consolida e se amplia à medida que é oferecido aos alunos situações para exercitarem tais conteúdos. Ao oportunizar situações em que isso é possível, o professor possibilita aos alunos darem novos significados para os conceitos aprendidos. • O aprendizado dos conteúdos escolares não se dá exclusivamente a partir da relação professor x aluno que se estabelece dentro da sala de aula, mas a partir do exercício social dos mesmos, no contato com a realidade em que os professores e alunos estão envolvido, ou seja, é o exercício social do conhecimento que permitirá aos alunos darem um sentido próprio para o conhecimento oferecido pela escola. Cole, M. Cognitive development and formal schooling: the evidence from cross-cultural research. In: Mool, Luis C. (ed). Vigotski and education: instructional implications of sociohistorical psychology. New York:Cambridge University Press, 1990. p. 89-110 Luria, A. R. Curso de Psicologia Geral - vol 1. Rio de Janeiro:Civlização Brasileira, 1979. Luria, A. R. Vigotskii. In: Vigotskii, L. S. et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 2 ed. São Paulo: Ícone, 1988. p. 59-83. Martins, J. B. A perspectiva metodológica em Vigotski: o materialismo dialético. Semina: Ci.Soc./Hum., Londrina, v. 15, n. 3, p. 287-295, set. 1994. Oliveira, M K. Vygotsky : aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1993. Rego, T. C. Vygotsky: uma nova perspectiva históricocultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1995. Riviere, A. La psicologia de Vygotskii. 2ed. Madrid: Visor, 1985. Shuare, M. La psícologia soviética como yo la veo. Moscou: Progresso, 1990. Vygotsky, L. S. A formação social da mente. 3 ed. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1991.