1 UMA INTERLOCUÇÃO ENTRE AS DISCIPLINAS DE CIÊNCIAS E HISTÓRIA PELOS ALUNOS COM DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA NO PROCESSO DE ELABORAÇÃO CONCEITUAL CRISTINA ALVES CRUZ ORTEGA NÚCLEO DE ESTUDO E PESQUISA EM PRÁTICAS EDUCATIVAS E RELAÇÕES SOCIAIS NO ESPAÇO ESCOLAR E NÃO ESCOLAR – MESTRANDO Prof (a). Dr (a). Cláudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto Introdução Nos limites deste texto apresento uma discussão acerca dos processos de elaboração conceitual de alunos de um 6º ano do ensino fundamental, objeto de atenção e análise de minha pesquisa de mestrado. Esta pesquisa insere-se no contexto de um projeto mais amplo financiado pelo CNPq/CAPES para o período 2013-2014, cujo objetivo é compreender aspectos relativos à formação de leitores e escritores na escola básica e, ao mesmo tempo, às práticas de leitura e de escrita possibilitadas pelos professores das diversas áreas de conhecimento junto aos alunos do Ensino Fundamental – anos finais. Participei das aulas durante quatro meses, em duas salas do 6º ano, formando um conjunto de 66 aulas na disciplina de Ciências e 56 aulas na disciplina de História. Além disso, participei de oito reuniões de ATPC dos professores do ensino fundamental – anos finais, da escola, a fim de conhecer as várias concepções dos professores sobre o que ensinam e como ensinam. Todas as aulas foram gravadas e transcritas, bem como utilizei diário de campo. O trabalho foi desenvolvido em uma escola da rede pública estadual na cidade de Piracicaba-SP, inserida numa comunidade periférica bastante carente, que atende alunos do Ensino Fundamental - anos finais e Ensino Médio. Conta com 620 alunos divididos em três períodos e com, aproximadamente, 70 professores. Perspectiva Teórico Metodológica/Objetivo Para a realização dessa pesquisa tomamos como referencial teórico metodológico a abordagem histórico-cultural do desenvolvimento humano de Vigotski e também nos embasamos nas ideias de Bakhtin, pela importância da interação verbal, em uma perspectiva enunciativo-discursiva. Nos limites deste texto que ora apresento destaco como objetivo compreender os processos de elaboração conceitual vividos por alunos com dificuldades de leitura e escrita no contexto de práticas de ensino de ciências por compreender com Fontana e Cruz (1997) que a elaboração conceitual se inicia na infância, utilizando da função mais simples da palavra – a nomeação, seu desenvolvimento é gradual, entretecida com fatores não-verbais e, dependente das possibilidades que cada criança tem (ou não), nas relações sociais, de compartilhar e elaborar os conteúdos e conceitos de forma organizada, “a palavra é mediadora de todo o nosso processo de elaboração do mundo e de nós mesmos” (p. 85). A palavra nos constitui e nos transforma e, por sua mediação, revestida de gestos e ações, vamos nos integrando à cultura, vamos aprendendo a ser humanos. “Ela é um ato de pensamento” e, “é por meio das palavras que o pensamento passa a existir”. (FONTANA e CRUZ, 1997, p. 85). Tal estudo justifica-se por considerar que os alunos do 6º ano apresentam graves dificuldades de leitura e de escrita que estão se prolongando até os anos finais do aprendizado escolar. Assim, para a realização de trabalho coloco a seguinte questão de investigação: como o processo de elaboração conceitual é vivido por alunos que apresentam dificuldades de leitura e escrita? 2 Vigotski (2007) procurou desenvolver um trabalho preocupado em produzir uma psicologia que tivesse importância para a educação e para a prática médica. Essa necessidade para desenvolver um trabalho teórico para um contexto justifica-se por estar inserido numa sociedade em que a ciência não só era valorizada, mas dela esperava-se soluções para os problemas sociais e econômicos do povo soviético. Dessa forma, Vigotski (2007, p. xxix) como professor de literatura, “seus primeiros artigos cuidavam de problemas da prática educacional, particularmente de deficientes mentais e físicos, tais como cegueira congênita, afasia e retardamento mental severo” (COLE E SCRIBNER, 2007, p. xxix). Assim, Vigotski (2007, p. xxix) viu a oportunidade de entender os processos mentais humanos e de estabelecer programas de tratamento e reabilitação. Dessa forma, estava de acordo com a sua visão teórica geral desenvolver seu trabalho numa sociedade que procurava eliminar o analfabetismo e elaborar programas educacionais que maximizassem as potencialidades de cada criança (COLE E SCRIBNER, 2007, p. xxix). Neste caminho, elaborou um método experimental que procurava descrever a história do desenvolvimento das funções psicológicas incluindo a história da cultura e da sociedade ao lado da história do indivíduo, para explicar a origem e o desenvolvimento da consciência e do intelecto humano (VIGOTSKI, 2007). Para Vigotski, o método e o princípio do materialismo dialético, como objeto de estudo relevante da ciência psicológica, têm como ponto central que os fenômenos na sociedade devem ser estudados como processos históricos em movimento e na vida material produzem mudanças na consciência e no comportamento humano, ou seja, na sua natureza. De acordo com o autor o mecanismo de mudança individual ao longo do desenvolvimento das funções psicológicas superiores tem sua origem na sociedade e na cultura, ou seja, “o homem transforma a natureza e, ao fazê-lo, transforma a si mesmo”, mediado por meio dos instrumentos e signos produzindo cultura e também, pelo “outro” (VIGOTSKI, 2007, p. 26). Nessa abordagem, será necessário um novo modo de olhar às condições de produção da pesquisa e aos seus achados. Para tanto, devemos analisar os processos e não os objetos, assim como a explicação e não a descrição e, portanto a condição de produção, bem como o enunciado produzido em tais condições. Segundo Vigotski (2007): Toda pesquisa tem por objetivo explorar alguma esfera da realidade. Um objetivo da análise psicológica do desenvolvimento é descrever as relações internas dos processos intelectuais despertados pelo aprendizado escolar. [...] Se bem sucedida, deve revelar ao professor como os processos de desenvolvimento estimulados pelo aprendizado escolar são “embutidos na cabeça” de cada criança. A revelação dessa rede interna e subterrânea de desenvolvimento de escolares é uma tarefa de importância primordial para a análise psicológica e educacional (VIGOTSKI, 2007, p.104). Segundo Ometto (2005), partindo do princípio vigotskiano este encaminhamento metodológico, ao articular as práticas de ensino e de pesquisa, não se divorcia do mundo real. Neste modo de pesquisar Fontana (2005) explana com muita clareza o pensamento de Vigotski: “mais do que a criação de situações ostensivamente experimentais, a tônica de sua proposta é a de viver experimentalmente as situações, jogando com as atividades do próprio contexto em estudo” (p.31). As funções psicológicas superiores são funções mediadas culturalmente, relações internalizadas que na verdade são as reconstituições no plano pessoal das funções já existentes no social que nada mais é do que a “transformação do biológico em históricocultural” (FONTANA e CRUZ, 1997, p. 58). Para Vigotski as atividades que a criança realiza, interpretadas pelos adultos, adquirem significado no comportamento social do grupo ao qual está inserida. Nesse processo interativo, as reações herdadas biologicamente, de resposta aos estímulos do meio, tais como a percepção, a memória, as ações reflexas, as reações automáticas e as associações entrelaçam-se aos processos culturalmente organizados e se transformam, “em modos de ação, de relação e de representação tipicamente humanos” (FONTANA e CRUZ, 1997, p. 58). 3 Nesse caminho, tudo aquilo que se interpõe entre o homem e o ambiente é considerado instrumento que amplia e modifica a sua forma de ação. Esses instrumentos acabam transformando a natureza e o próprio comportamento humano. O signo é constitutivo do sujeito, com ele representamos algo, evocamos ou tornamos presente o que está ausente, como a palavra, o desenho, os símbolos nacionais e outros. Para Vigotski, a unidade dialética – inteligência prática e signos – em crianças pequenas podem operar de forma independente, mas “no adulto humano esse sistema constitui a verdadeira essência no comportamento humano complexo” (VIGOTSKI, 2007, p. 11). Por meio da linguagem e das significações nas relações com o outro a criança reelabora internamente as formas culturais de ação e pensamento, assim como as significações e a nomeação, pelo uso das palavras que foram com ela compartilhadas, chamado de internalização, ou seja, um processo interno de reelaboração de uma operação externa, uma atividade interpsicológica – entre pessoas que se transforma em intrapsicológico – no interior da pessoa – individuação - o que caracteriza a abordagem histórico-cultural (VIGOTSKI, 2007). Para Vigotski (1982), a relação entre o pensamento e a palavra é um processo que passa por transformações, “pensamento e palavra se articulam dinamicamente na prática social da linguagem” (p. 104). As palavras são produzidas na dinâmica social, seus significados não são estáticos. No processo de elaboração do significado da palavra, o indivíduo promove imagens e associações, comparações, inferências, para apreender o seu sentido (VIGOTSKI, 1982). Para Fontana (2005) de acordo com Vigotski e Bakhtin o estudo das relações entre escolarização, atividade mental e desenvolvimento da criança é uma atividade cognitiva que é ao mesmo tempo, “intersubjetiva e discursiva” (FONTANA, 2005, p. 11). Embora Vigotski (1988) mencione diferenças entre aprendizado e desenvolvimento, considera que esses dois processos caminham juntos, imbricados um no outro, desde o primeiro dia de vida. O aprendizado provoca e impulsiona o desenvolvimento. Por isso, a posição teórica por nós adotada parte do princípio que o aprendizado da criança se inicia muito antes do período escolar. Portanto, a aprendizagem escolar nunca parte do zero. Toda a aprendizagem da criança na escola tem uma pré-história. Os sujeitos elaboram conceitos e relações entre as palavras a partir do meio e da cultura do lugar social em que vivem. Na escola, cabe ao docente desenvolver não uma única capacidade de pensar, mas muitas capacidades particulares de pensar em campos diferentes, permitindo que o aluno estabeleça relação, pois não é um sujeito “privado de palavras”, de significados, de vivências e de experiências (BAKHTIN, 1986). Durante o desenvolvimento a criança passa por várias etapas de evolução do pensamento, uma delas é quando realiza o maior descobrimento de sua vida, “cada coisa tem seu nome” – a nomeação. Neste momento, e a partir dele, a linguagem passa a ser intelectual e o pensamento passa a ser verbal (VIGOTSKI, 1982, p. 92). Nessa fase a criança sente a necessidade da palavra e tenta apropriar-se do signo pertencente a cada objeto, o signo, nesse caso, serve para nomear e se comunicar com o outro, descobrindo então a função simbólica da linguagem. Podemos considerar a nomeação como o primeiro conceito geral da criança, um momento evolutivo de intersecção do pensamento e a linguagem, em função, do domínio dos meios sociais de pensamento – a linguagem (VIGOTSKI, 1982). Na aprendizagem escolar, caracterizada pelo conhecimento formal, as relações são intencionais e planejadas, possibilitando o contato sistemático com os sistemas organizados de conhecimento que fornecem elementos para a elaboração dos conceitos científicos, diferentemente do aprendizado pré-escolar que é espontâneo e imediato. Porém, além da sistematização temos que levar em conta de que o aprendizado escolar promove modificações no desenvolvimento da criança e para tanto, é necessário o entendimento do conceito de zona de desenvolvimento proximal como o espaço entre o nível de desenvolvimento real, determinado pelo que a criança já sabe e o nível de desenvolvimento potencial, determinado 4 pela mediação do “outro” - do professor ou dos colegas - para auxiliar a resolução dos problemas (VIGOTSKI, 1982). A escola é uma criação histórica, uma realização cultural das sociedades letradas que acompanha o ser humano em todo o seu percurso de desenvolvimento e contribui para a capacidade de operação com categorias abstratas, independente da vivência pessoal concreta, liberta da percepção imediata, contribui também, para a consciência sobre os próprios processos de pensamento e regulação intencional da tarefa em curso, ou seja, promove “transformações no plano cognitivo, intelectual, dos sujeitos” sobre os quais a instituição escolar atua, para tanto “a leitura e a escrita e as disciplinas científicas constituem conteúdos escolares fundamentais” (OLIVEIRA, 1996, p. 99). O conceito tem história, não existe isolado, é um processo dinâmico do pensamento, realizando uma função de comunicação, ou de significado, compreensão, ou resolução de problemas. Mas a elaboração de conceitos e o pensamento abstrato aparecem somente quando se chega à puberdade e não está ao alcance dos pré-adolescentes, pois aprender palavras e nomear objetos não leva por si só a formação do conceito, embora, a palavra é um instrumento para a comunicação e é determinante no processo de elaboração conceitual (VIGOTSKI, 1982). Assim, para Vigotski (1982) “o conceito é impossível sem palavras, o pensamento em conceitos é impossível sem o pensamento baseado na linguagem” (p, 132). O ponto central e fundamental de todo o processo de elaboração conceitual, “é o uso específico da palavra, a utilização funcional do signo como meio da formação de conceitos”, podendo assim, ser considerada a causa psicológica da mudança intelectual entre a infância e a adolescência (VIGOTSKI, 1982, p. 132). Metodologicamente, os dados da pesquisa foram obtidos através de audiogravação, fotos e transcrição posterior, com anuência dos professores, pais e alunos. No texto não utilizaremos nomes para preservar a identidade dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Fragmentos das aulas de História e da reunião de ATPC retirados do diário de campo Na sala de aula de História (em 12/03/2014) Durante uma reunião de ATPC (em 08/04/2014) (1)Profª. – A Pré- História aconteceu há muito tempo Profª de História. - Eles não conseguem entender sobre atrás, milhões de anos atrás. o tempo. Como eu posso fazer para que eles (2)Aluno:- A minha avó nasceu há muito tempo atrás. entendam? Não sei mais o que fazer!!!!! Eu já tentei (3)Profª. – Mas, é muito, muito tempo atrás, a sua avó explicar que a Pré- História aconteceu há muito tempo não deve ter um século (100 anos), eu poderia encher atrás, milhões de anos atrás. Na avaliação, uma das a lousa de pontinhos e cada pontinho, corresponderia a alunas participante das aulas desenhou uma fogueira um ano e não daria para chegar a Pré-História, porque para o período Paleolítico e escreveu fogo; para o período Neolítico desenhou um vaso e escreveu ao são bilhões de anos atrás [...]. (20)Profª. – Na avaliação, quero que vocês desenhem lado: vaso de cerâmica, até aí ... tudo bem! Mas, para a Idade dos Metais desenhou um chuveiro com água os objetos relacionados aos períodos estudados. escorrendo e escreveu ao lado: chuveiro. Durante a Na aula seguinte, após a avaliação (em 26/03/2014) correção não coloquei como errado, mas apenas (1)Profª. - Por que você desenhou um chuveiro na sua interrogações. avaliação? (2)Aluna – Ah! O homem evoluiu, no começo, ele era Na ATPC seguinte a professora confessou-me seu igual ao animal, e ele melhorou! desalento: (em 16/04/2014) (3)Profª. – Então, o homem pré-histórico começou a Profª. de História - Os alunos não conseguem escrever ficar parecido com nós? A Idade dos Metais é o final da correto! A avaliação que eu dei sobre a Pré-História Evolução Humana? veio cheia de erros ortográficos, não conseguem (4)Aluna – É! (afirmou com um gesto de cabeça). construir uma sentença, realizar separação silábica (separam as vogais da sílaba para dividir a palavra). Fragmentos da Aula de Ciências retirados do diário de campo (em 11/04/2014) (1)Prof. - O que seria declive? Olhem lá fora! (Nesse (3)Prof. – Olhe lá fora! (Insiste o professor) momento, o professor solicita que os alunos olhem (4)Aluna – Têm altos e baixos. Dá pra ver as para fora da janela. A escola localiza-se no alto de uma montanhas. colina, no final da cidade e na parte de trás dela é (5)Prof. – Aqui temos diferença de altitudes. Então, o possível olhar as plantações na encosta da colina). que seria altitudes? (2)Aluno – São os objetos? (6)Aluno – As árvores, o solo. 5 (7)Outro aluno – O pasto, os animais, a cachoeira. (8)Prof. – Nas montanhas, no alto delas estamos no topo e depois, vem o declive até chegar embaixo, no solo (a explicação é seguida de gestos do professor). (9)Prof. - Vamos dar um exemplo, isso mesmo, a cachoeira fica no baixo ou no alto? (olha para o aluno que falou cachoeira). (10)Mesmo Aluno – No alto! (11)Prof. – A cachoeira é a queda do curso d’água de um ponto no alto que vai para um ponto no baixo. Por isso, a água cai. Na cachoeira temos dois pontos de altitudes diferentes, o alto onde começa a queda d’água e o baixo onde a água cai e continua o seu curso. (12)Prof. – Onde a água cai? (13)Alunos – No baixo! (14)Prof. – Voltando [...] temos também, a influência do mar com relação ao vento e a salinidade. No mar tem sal? (15)Aluno – Tem sim! (16)Aluna – Você já foi no mar? (pergunta ao colega). (17)Aluno – Já! Adorei! (reponde para a colega). (18)Aluna – Eu não conheço. (19)Prof. – Porque tem sal no mar? (20)Aluno – Porque os homens da caverna pegaram um pacote sal e jogaram lá no mar. Eles subiam nas árvores! (21)Alunos – Rsrsrrsrr (os alunos próximos dão risada da fala do colega, mas o professor prosseguiu). (23)Prof. – Oh! Alguém falou aqui para mim que no mar tem sal! Existem alguns países em que a água é muito salgada e precisa dessalinizar deixando a água com bem pouquinho sal. (36)[...]Outra Aluna – O polvo vive na água? (37)Prof. – Ele vive no mar. (38)A mesma aluna – A professora de História estava com dúvida de como os peixes se reproduzem. (39) Alunos – Como eles têm peixinhos? (40)Prof. – Tem o macho e tem a fêmea. Eles têm um cortejo, eles “dançam” e formam os casais, é o “namoro” dos peixes. Cada espécie tem um tipo de cortejo, esse cortejo não é a cópula. Não há acasalamento. Os peixes escolhem um lugar seguro para depositar os ovos. A fêmea deposita os ovos em pedras ou em buracos e o macho derrama o sêmen sobre os ovos para a fecundação e para protegê-los. (41)Alunos – Por isso, ela não sabia, é diferente! (42)Aluno – Não tem aparelho reprodutor? (43)Prof. – Eles possuem para formar o sêmen e os ovos, mas não para a cópula. Uma tentativa de compreender os processos de elaboração conceitual dos alunos: algumas considerações O estudo possibilitou observar que a linguagem em circulação na sala de aula possibilita o encontro e confronto de sentidos pelos alunos e professor(a) permitindo espaços para elaborações e (re)elaborações dos conceitos ensinados. É interessante notar que em História os alunos estão aprendendo sobre a Pré-História, sobre os primeiros humanos a viverem na Terra e a forma de utilização dos objetos (instrumentos) em cada período histórico. Na aula de Ciências, os alunos buscam na memória, conhecimentos adquiridos em aulas de História como se o homem pré-histórico tivesse feito o mar salgado e preparado para os homens atuais. Essa tentativa de estabelecer relações entre os conceitos estudados, no entanto, não foi percebida pelo professor de Ciências por desconhecimento do conteúdo que estava sendo trabalhado nas aulas de História. Sendo assim, o professor não dá a importância necessária à fala desse aluno e continua o seu questionamento e explicação. Nesse episódio, interessa ao professor de Ciências discutir os conceitos de declive, altitude e salinidade da água, no entanto, é interessante notar as relações que os alunos estabelecem com o que haviam estudado na disciplina de História. Inclusive a dúvida que a professora tinha em relação à reprodução dos peixes que o professor explica, prontamente. Independente do fato de a professora de História ter-me enfatizado a grande dificuldade dos alunos em ler e escrever, nesse primeiro momento da aprendizagem do conceito isso não influenciou no processo de elaboração. No entanto, destaca-se que para a consolidação do aprendizado e para a formação de conceitos é necessário que o aluno aprenda e utilize as funções da linguagem que se concretizam na e pela escrita. Percebe-se que esse já é um processo complexo que parte de um conteúdo específico e sobre o qual o conhecimento vai sendo elaborado pelo discente, pela mediação docente, num processo dinâmico que pode e deve despertar reflexões críticas que ampliem o horizonte de saberes de todos os envolvidos na aula. Destacamos que a dificuldade em ler e escrever amplia a complexidade dessas elaborações para os alunos. Nesse sentido, a escola tem papel relevante e fundamental no desenvolvimento das funções psicológicas superiores dos sujeitos participantes de uma sociedade letrada. Cabe a ela promover transformações cognitivas nos sujeitos que por ela passam. 6 Referências Bibliográficas: BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986. FONTANA, R. A. C.; CRUZ, M. N. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Ed. Atual, 1997. FONTANA, R. A. C. Mediação Pedagógica na Sala de Aula. 4ª ed. Campinas, S P: Autores Associados, 2005. MATERIAL DE APOIO AO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno do Aluno Ciências. Ciências da Natureza. Ensino Fundamental – Anos Finais 5ª Série/6º Ano, v. 1, Governo do Estado de São Paulo, 2014-2017. MATERIAL DE APOIO AO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno do Professor Ciências. Ciências Naturais. Ensino Fundamental – Anos Finais. 5ª Série/6º Ano. v.1. Governo do Estado de São Paulo. 2014-2017. OMETTO, C. B. C. N. 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