O Futuro da Indústria: para além do debate da desindustrialização José Carlos Cavalcanti Depto. de Economia da UFPE http://jccavalcanti.wordpress.com http://twitter.com/jccavalcanti [email protected] C.E.S.A.R., 04 de outubro de 2012 Slides em => http://www.creativante.com.br/download/FI.pptx Argumentos a serem defendidos: - O debate sobre desindustrialização é um debate estagnante; - O que estamos enfrentando é a combinação de dois complexos fenômenos: globalização da indústria de transformação e a internacionalização do P&D corporativo; - O que precisamos hoje é de uma Agenda Tecnoeconômica para “Making Value”, mais que “Making Things”. “O Brasil não é para principiantes” é uma frase que é atribuída ao poeta e compositor Antonio Carlos Jobim – Tom Jobim, e que remete (pelo menos no sentido “academicamente” aceito) ao entendimento de que o país é repleto de complexidades que podem revelar armadilhas para os neófitos (ou estrangeiros desavisados), e que, por esta razão, não tolera análises simplistas. Brazilian Economic Data Brazilian Economic Data PIB (R$ 3.530.871,48)(milhões) 2011 Agropecuária Indústria 5,46% 27,53% Extrativa mineral Transformação 14,60% Produção e distribuição de eletricidade, gás e água Serviços Comércio Serviços de informação Construção Outros serviços Atividades imobiliárias e aluguel Administração, saúde e educação públicas Intermediação financeira, previdência complementar Transporte, armazenagem e correio Fonte: Ipeadata (2012) 67,01% 2011: 14,60% Fonte: Bonelli, Regis e Samuel de Abreu Pessôa (2010). “Desindustrialização no Brasil: Um resumo da evidência”. Texto para Discussão 7. Centro de Desenvolvimento Econômico da FGV/RJ. Brazilian Economic Knowledge Ecosystem (BEKE): USP/FGV-SP/UNICAMP UFRJ/FGV-RJ/PUC-RJ • Existe, de fato, um debate sobre “Desindustrialização” no Brasil; • Este debate se insere no debate da “Agenda de Competitividade” do Brasil; • Mas que “Agenda de Competitividade” é esta? • A questão competitiva frequentemente se expressa a partir (1) do aumento da concorrência dos produtos importados – notadamente manufaturados – e (2) da mudança na composição da pauta de exportações; • No primeiro caso, porque existe o receio de que parte substancial da produção doméstica venha a ser substituída por importações, fenômeno tipicamente associado à desindustrialização; • No segundo caso, porque existe a suspeita de que um aumento na participação dos produtos básicos, e redução dos industrializados, seja o resultado de perdas de competitividade na produção destes bens; • Nessa vertente o Brasil estaria perdendo participação nas exportações de produtos industrializados devido à expansão das exportações de países com câmbio mais competitivo (Bonelli, 2011). Mudança na Composição da Pauta de Exportações Aumento dos Básicos Diminuição dos Manufaturados Aumento dos Manufaturados Evolução do Emprego no Brasil (2003 a 2010) 2500000 2000000 2003 2004 1500000 2005 2006 1000000 2007 2008 500000 2009 2010 0 Tradeables Non-Tradeables -500000 Fonte: Autor, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED/Ministério do Trabalho e Emprego utilizando o saldo líquido de empregos gerados. • Qual é o histórico das Agendas da Competitividade? • Desde a II Guerra Mundial o Brasil adota, quase que sem interrupção, exemplos (alguns bens sucedidos, outros não) de “políticas para aumentar a competitividade”: são as chamadas “Políticas Industriais e de Comércio Exterior” => I – De forma geral, orientamo-nos inicialmente a partir da lógica do processo de substituição de importações (redução do coeficiente de importação da economia e a expansão da capacidade produtiva do país); II – Passando para deslocar o eixo central de preocupação da expansão da capacidade produtiva para a questão da competitividade. O papel e a distribuição de competências no Brazilian Economic Knowledge Ecosystem (BEKE) a) UFRJ (1922) + USP (1934): inicialmente Processos de Formação Econômica e Social do Brasil; depois Análises das Políticas Industriais e de Comércio Exterior, bem como do Papel do Estado no Desenvolvimento Econômico do Brasil; O papel e a distribuição de competências no Brazilian Economic Knowledge Ecosystem (BEKE) b) FGV (1944): inicialmente indicadores econômicos e depois estudos de produtividade e crescimento => Políticas Horizontais (RJ): - Desenvolvimento Institucional; Estrutura Tributária; Legislação Trabalhista; Sistema Educacional e Marco Regulatório. O papel e a distribuição de competências no Brazilian Economic Knowledge Ecosystem (BEKE) c) PUC-RJ (1965): História Econômica Brasileira e depois Macroeconomia e Economia Monetária; Papéis relevantes do BNDE (1952) e do IPEA (1964), da FINEP (1967) e BC (1964) nos estudos sobre Desenvolvimento Econômico Brasileiro. O papel e a distribuição de competências no Brazilian Economic Knowledge Ecosystem (BEKE) d) UNICAMP (1966): História Econômica Brasileira e depois ??? Ironias à parte: - Bloco 1 => Competitividade Setorial – “Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira” (1993); Cadeias Produtivas Integradas (2002/03); PITCE (2004); PDP – I (2008); PDP – II (2011)/Plano Brasil Maior; O papel e a distribuição de competências no Brazilian Economic Knowledge Ecosystem (BEKE) d) UNICAMP (+ recente): - Bloco 2 => Sistemas Nacionais de Inovação: Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de C&T&I; Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas; P&D&I em Áreas Estratégicas; C&T&I para o Desenvolvimento Social. O papel e a distribuição de competências no Brazilian Economic Knowledge Ecosystem (BEKE) e) UFRJ + UNICAMP + IPEA (Ano 2.000 +): Estratégias Empresariais + Políticas Públicas Estratégicas (papel do Prof. ABC). Mais recentemente: competitividade setorial (incentivos setoriais, como fatores, tecnologia), e perspectivas do investimento. (*) Financial Sector BEKE O papel e a distribuição de competências do Advanced Technology Addictive Knowledge Ecosystem (ATAKE) Premissas: 1) O que estamos enfrentando é a combinação de dois complexos fenômenos que se retroalimentam: globalização da indústria de transformação e a internacionalização do P&D corporativo; “No Brasil, 10 grupos respondem por 70% da venda de software” (Concentração nesse segmento é maior que no resto do mundo, mostra estudo exclusivo da IDC). Fonte: Valor Econômico, 24/09/2012 Fonte: Valor Econômico, 10/12/2010 O papel e a distribuição de competências do Advanced Technology Addictive Knowledge Ecosystem (ATAKE) Premissas: 2) Dadas nossas deficiências estruturais (e falta de protagonismo), o que tem restado a este ecossistema é “plugar” na globalização da indústria de transformação e “cooperar” com a internacionalização do P&D corporativo; O papel e a distribuição de competências do Advanced Technology Addictive Knowledge Ecosystem (ATAKE) Premissas: 3) O que hoje interessa a este ecossistema é “agregar valor” de modo que fatias dos “bolos” da globalização da indústria de transformação e da internacionalização do P&D corporativo fiquem aqui no Brasil. O quê precisamos fazer? • Precisamos sair da “agenda defensiva” (“BEKE”) e avançar para uma “agenda ofensiva” (“ATAKE”); • Precisamos reconhecer que o que estamos fazendo até então pode ser transformado em uma “agenda ofensiva”; • Precisamos “catequisar” esta “agenda ofensiva”. Como fazer? • Em primeiro lugar, precisamos criar e popularizar os novos (nossos ou não) paradigmas/metodologias tecnoeconômicos de reflexão: Ex: a Trindade Essencial (Ecossistema + Plataforma + Arquitetura); a Equação do E-Trabalho (Crowdsourcing + Cloudsourcing = Online Labor Markets) e outros; A “Trindade Essencial” Arquitetura Ecossistema Plataforma 2012 Como fazer? Pisano, Gary P. and Willy C. Shin (2012). “Does America Really Need Manufacturing?” Harvard Business Review. March. Como fazer? • Em segundo lugar, precisamos olhar com cautela “certos nacionalismos” que se manifestam através de políticas de “conteúdo nacional” (pré-sal, certificados, etc.) e arroubos de “estatismo”; • Em terceiro lugar, diminuir o excesso de burocracia (que só agrega custos de transação): editais de inovação; legislações complexas (Decreto No 7.174, Lei No 12.349, Portaria No 950, e outras). 13 de junho 2011 Fatores que concorrem para acreditar que a Indústria de Transformação -ITr ainda importa • A globalização da ITr contribui para a emergência da nova classe média global; • A proliferação do livre comércio ajuda a abrir a porta para rápida globalização da ITr; • O exponencial crescimento da infraestrutura digital está expandindo oportunidades para novos entrantes e aumentando a pressão para as firmas existentes; Fatores que concorrem para acreditar que a Indústria de Transformação -ITr ainda importa • Grandes empresas da ITr estão perdendo suas posições de liderança a uma taxa crescente; • A proliferação do comércio e acesso global à tecnologia digital têm sido os motores chave da expansão e desagregação das cadeias de suprimento de hoje; Fatores que concorrem para acreditar que a Indústria de Transformação -ITr ainda importa • O protecionismo cresceu em resposta à crise econômica global e pressão política; • À medida que o comércio expandiu e as cadeias de suprimentos se desagregaram, países e empresas estão crescentemente expostos à volatilidade da moeda; • A arbitragem das taxas de trabalho está desaparecendo. A Competição Futura: Recursos, Capacidades e Política Pública • A infraestrutura necessária para possibilitar a ITr florescer e contribuir para o crescimento do emprego crescerá em importância e sofisticação e será desafiadora para países desenvolverem e se manterem; A Competição Futura: Recursos, Capacidades e Política Pública • A competição entre nações para atrair IDE – Investimento Direto Estrangeiro crescerá dramaticamente, elevando os stakes para países e complicando os processos de decisão para as empresas; A Competição Futura: Recursos, Capacidades e Política Pública • A crescente competição por recursos materiais e escassez alterarão fundamentalmente as estratégias de recursos dos países e empresas, e servirão como catalizadores para avanços significativos em ciências dos materiais; A Competição Futura: Recursos, Capacidades e Política Pública • Estratégias de energia limpa suportáveis e políticas efetivas de energia irão ser uma prioridade para industriais e fazedores de políticas, e servirão como um importante diferenciador de países e empresas altamente competitivos ; A Competição Futura: Recursos, Capacidades e Política Pública • A habilidade de inovar, a um passo acelerado, será a mais importante capacidade diferenciando o sucessor de países e empresas no futuro; • Capital humano talentoso será o recurso mais crítico diferenciando a prosperidade de países e empresas; A Competição Futura: Recursos, Capacidades e Política Pública • O uso estratégico de política pública para possibilitar desenvolvimento econômico intensificará resultando numa competição entre nações por efetividade de política, colocando um prêmio na colaboração entre fazedores de políticas e líderes empresariais para criação de resultados win-win; Em resumo, o Brasil representa 3% do PIB Mundial. Precisamos olhar para o mercado dos “97% restantes”. Se não começarmos a pensar assim, os “globalizadores” continuarão a fazer o papel deles ... Obrigado! Perguntas José Carlos Cavalcanti http://jccavalcanti.wordpress.com http://www.creativante.com.br http://twitter.com/jccavalcanti [email protected]