ASCENSÃO DA BURGUESIA: MERCANTILISMO (Séculos XVI e XVII); REVOLUÇÃO INGLESA (1688); INDEPENDÊNCIA AMERICANA (1776); REVOLUÇÃO FRANCESA (1789) Novo sentido de vida: Livre iniciativa + competição e individualismo; Apogeu do Liberalismo burguês; Extinção dos privilégios seculares da nobreza; “Fim das barreiras” rígidas entre as classes sociais. Art. 11 da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão: A livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo o cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente. Começava a “aventura da palavra escrita” = surgiam escritores + obras + público leitor + veículo divulgador das obras (imprensa). Outros efeitos: Esforço de alfabetização popular empreendido pelos “revolucionários”; Todo o cidadão passou a ter acesso (direito) à leitura, até pela necessidade de conhecer as proclamações do novo regime; Surgimento de um novo público leitor = mais numeroso e diversificado (consumidor). Escritores livres do regime de mecenato = obra = mercadoria de ampla aceitação. O Romantismo coincidiu com a democratização da arte, gerada sobretudo pela Revolução Francesa, tornando-se a expressão artística da jovem sociedade burguesa. Entretanto, o movimento manteve uma relação contraditória com a nova realidade. Filho da burguesia, mostrou-se ambíguo diante dela, ora a exaltando, ora protestando contra seus mecanismos. Mito do bom selvagem de Rousseau; Movimento Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto), em 1770 na Alemanha = valorizando o folclórico, o nacional e o popular em oposição ao universalismo clássico. Os cantos de Ossian = culto à Idade Média. Publicação (1774) do romance (em forma epistolar = cartas) Os sofrimentos do jovem Werther , de Goethe = exacerbação da imaginação e transbordamento das paixões. CARACTERÍSTICAS Liberdade de criação: o escritor romântico recusa os padrões da arte clássica que sempre esteve sujeita a regras, padrões e modelos, usa o verso livre, mistura os gêneros literários e obedece aos estímulos de sua interioridade. Individualismo e subjetivismo: o artista romântico trata dos assuntos de uma forma pessoal, de acordo com o modo como vê e sente o mundo; dizemos que sua arte é subjetiva porque expressa uma visão particular da realidade. A ideologia burguesa centrou-se nas liberdades do homem e nas infinitas possibilidades de autorealização do indivíduo. Sentimentalismo: entre o artista romântico e o mundo é sempre mediada pela emoção. Qualquer que seja o tema abordado - amoroso, político, social -, o tratamento literário revela grande envolvimento emocional do artista. Assim, os sentimentos tornam-se mais importantes do que a racionalidade e são, conseqüentemente, a medida da interioridade de cada pessoa, medida de todas as coisas. a relação Idealização: a extrema valorização da subjetividade leva muitas vezes à deformação. O escritor romântico, motivado pela fantasia e pela imaginação, tende a idealizar vários temas, acentuando algumas de suas características. Assim, a pátria é sempre perfeita; a mulher é vista como virgem delicada, frágil e submissa, uma espécie de anjo inatingível; o índio (no Brasil) é tratado como herói nacional, cheio de virtudes e habilidades. Para compor essa idealização, a linguagem é marcada por descrições minuciosas, com uso constante de adjetivos, comparações e ampla metaforização. Fusão do grotesco e do sublime: o conceito grego de belo, que perdurou tantos anos na arte de orientação clássica, é abandonado pelos românticos, que defendem a união do grotesco (o feio) e do sublime (o bonito). Assim, apesar de sua tendência idealizante, o Romantismo procura captar o homem em sua plenitude, enfocando também o lado feio e obscuro de cada ser humano. O culto à natureza: o código preferido pelo autor romântico não é o cultural mas o natural. Ele se sente fascinado pela poderosa força da natureza: é atraído pelas altas montanhas, pelas florestas impenetráveis, pelos mares imensos, pela placidez dos lagos, pelo murmúrio dos riachos, pelo canto dos pássaros. A natureza assume, diante do torturado espírito romântico, o papel de confidente para as horas melancólicas, a mãe que protege o filho dos desconcertos do universo e a amante desencadeadora de inspirações. O resultado dessa comunhão é humanização ou divinização da natureza, que, através de seus fenômenos, indica estados de espírito e sentimentos: o rugir do mar pode corresponder à angústia de uma alma solitária, a chuva à tristeza, e assim por diante. Imaginação e fantasia: o mundo romântico transcende o real e se abre para o mistério, o sobrenatural. Fechados em si mesmos, perdidos numa realidade incômoda e brutal para a sensibilidade, os românticos se entregam ao princípio da fantasia. Devaneiam, criam universos imaginários, exóticos, onde encontram a “luz” e a “alegria” que a sociedade burguesa não lhes oferece. Desligados, muitas vezes, dos níveis concretos da vida social, elaboram obras onde predomina um idealismo alienante. Valorização do passado: a inadequação do “eu” interior com a realidade circunstante leva o homem romântico a sentir nostalgias de algo distante no tempo e no espaço. A fuga no tempo remete (na Europa) à Idade Média, época de paixões violentas e espontâneas, berço das nacionalidades européias. A fuga no espaço leva-o à procura de paisagens agrestes, de lugares selvagens, de povos ainda não conspurcados pela civilização. No plano individual, a valorização do passado se dá através do reconhecimento da infância, como representante de um mundo ingênuo, puro, um “paraíso perdido”, uma época de ouro na qual as criaturas eram felizes. Nega-se, portanto, o presente hostil e causador de sofrimentos. Religiosidade: mais comum entre os primeiros românticos, a tendência espiritualizante do Romantismo, embasada no cristianismo, significa uma nítida reação ao racionalismo e ao materialismo do século anterior. A vida espiritual é enfocada como ponto de apoio ou válvula de escape diante das frustrações do mundo real. Mal-do-século: o “mal-doséculo” origina-se basicamente de dois fatores. Um deles é a idéia aceita pelos românticos de que o espírito humano busca sempre a perfeição, a totalidade, o absoluto, o infinito. Ora, sendo humanos, somos incapazes de atingir esse estado. A constatação dessa impossibilidade gera a angústia responsável pelo mal-do-século. Outro fator é o desajuste do indivíduo na sociedade burguesa que se mostrava muito prática e objetiva para o gosto dos românticos. Ansiando por uma plenitude espiritual, social e material impossível, o romântico sente-se desajustado, enxergando a si próprio e aos seus contemporâneos como seres fragmentados, reduzidos a simples “peças” da engrenagem social. . É uma tradução aproximada do termo spleen, que surgiu na Inglaterra e esteve muito em moda na Europa desse período. Esta expressão designa a sensação de insatisfação, angústia, melancolia e até uma obsessiva atração pela morte, que passa a ser encarada como solução definitiva para os males da existência. Byronismo: essa atitude, relacionada ao poeta inglês Lord Byron, foi amplamente cultivada entre os românticos brasileiros da segunda geração, isto é, entre os anos 50 e 60 do século XIX. Traduzse num estilo de vida que inclui a boêmia, voltada para o vício, para os prazeres da bebida, do fumo e do sexo, e numa forma particular de ver o mundo, caracterizada pelo egocentrismo, narcisismo, pessimismo, angústia e, por vezes, pelo satanismo. Condoreirismo: trata-se de uma corrente de poesia políticosocial que ganhou repercussão entre os poetas da terceira e última geração romântica no Brasil (anos 70 do século XIX). Influenciados pelo escritor francês Victor Hugo, os poetas condoreiros defendiam a justiça social e a liberdade. Na Europa, tornaram-se defensores da classe operária, denunciando a exploração a que estava submetida; no Brasil, lutaram pelo fim da escravidão e pela República. CONTEXTO HISTÓRICO: CHEGADA DA FAMÍLIA REAL ABERTURA DOS PORTOS FUNDAÇÃO DO BANCO DO BRASIL PRIMEIRA BIBLIOTECA FUNDAÇÃO DE FACULDADES IMPRENSA RÉGIA MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA INDEPENDÊNCIA D. PEDRO I LITERATURA COMO MISSÃO: Compromisso com a pátria (Nacionalismo Ufanista); Contribuição para a grandeza da nação; Retrato de sua bela paisagem física e humana; Revelar todo o Brasil, de forma positiva, criando uma literatura autônoma que expressasse a alma da jovem nação. A natureza tropical e o índio Valores românticos europeus & adequação às aspirações ideológicas dos escritores brasileiros; Oposição a dominação cultural (artística) portuguesa; Exotismo = natureza exuberante e original; Princípios artísticos atualizados com o que de mais moderno havia na Europa Valores formais procedentes do universo europeu X Temática nacional (a cor local): INDIANISMO; SERTANISMO (OU REGIONALISMO); CULTO À NATUREZA; NACIONALISMO UFANISTA; BUSCA DE UMA LINGUAGEM LITERÁRIA BRASILEIRA. No bom selvagem francês sedimentou-se o modelo de um herói que deveria se tornar o passado e a tradição de um país desprovido de sagas exemplares (Idade Média). O nativo – ignorada toda a sua cultura – converteu-se no herói exemplar, feito à imagem e semelhança de um cavaleiro medieval.Assumiu-se a imagem exótica que as metrópoles européias tinham dos trópicos, adaptando-a à visão ufanista. Acima de tudo, o índio representava, na sua condição de primitivo habitante, o próprio símbolo da nacionalidade. Além disso, a imagem positiva (idealizada) do indígena permitia às elites orgulhar-se de uma ascendência nobre que as ajudava na legitimação de seu próprio poder. O Regionalismo: resultado da “consciência eufórica de um país novo”, procurou afirmar as particularidades e a identidade das regiões, na ânsia de “tornar literário” todo o Brasil. Entretanto, permanece na superfície como uma moldura, já que a intriga romanesca é urbana (folhetim). Além disso, os autores usavam uma linguagem citadina e culta. A DIVISÃO EM GERAÇÕES 1ªGeração = Nacionalista Autores: Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias Modelos poéticos: Chateaubriand e Lamartine TEMAS: O Índio A saudade da pátria A natureza A religiosidade O amor impossível 2ª GERAÇÃO INDIVIDUALISTA OU SUBJETIVISTA Autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire Modelos poéticos: Byron e Mussett = TEMAS: A dúvida O tédio A orgia A morte A infância O medo do amor O sofrimento O satanismo 3ª GERAÇÃO = LIBERAL, SOCIAL OU CONDOREIRA Autores: Castro Alves Modelos poéticos: Victor Hugo TEMAS: Defesa de causas humanitárias Denúncia da escravidão Amor erótico ORIGENS O romance, por relatar acontecimentos da vida comum e cotidiana, e por dar vazão ao gosto burguês pela fantasia e pela aventura, veio a ser o mais legítimo veículo de expressão artística dessa classe. O romance narra o presente, as coisas banais da vida e do mundo, numa linguagem simples e direta. Tanto na Europa quanto no Brasil, o romance surgiu sob a forma de folhetim, publicação diária, em jornais, de capítulos de determinada obra literária. Assim, ao mesmo tempo que ampliava o público leitor de jornais, o folhetim ampliava o público de literatura. Inicialmente, os folhetins publicados no Brasil eram traduções de obras estrangeiras de autores como Victor Hugo, Alexandre Dumas, Walter Scott e outros. O sucesso do folhetim europeu em jornais brasileiros possibilitou o surgimento de vulgares adaptações. Até que, em 1844, sai à luz o romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Ao escrever um folhetim, o artista submetia-se às exigências do público e dos diretores de jornais. Além disso, os folhetins não podiam criticar os valores da época, reivindicar o verdadeiro humanismo, pois obrigatoriamente tinham que se sujeitar aos valores ideológicos do público, constituindo-se assim numa arte de evasão e alienação da realidade. 1º HARMONIA = Felicidade = Ordenação social burguesa 2º DESARMONIA = Conflito = Desordem = Crise da sociedade burguesa 3º HARMONIA FINAL = Estabelecimento da felicidade definitiva da sociedade burguesa, com o triunfo de seus valores Flash-back narrativo: volta no tempo para explicar, por meio do passado, certas atitudes das personagens no presente. O amor como redenção: oposição entre os valores da sociedade e o desejo de realização amorosa dos amantes = o amor é visto como único meio de o herói ou o vilão romântico se redimirem e se “purificarem” = solução: em muitas casos: a morte. Idealização do herói: ser dotado de honra, de idealismos e coragem = põe a própria vida em risco para atender aos apelos do coração ou da justiça = em algumas obras assume as feições de “cavaleiro medieval”. Idealização da mulher: são desprovidas de opinião própria, são frágeis, dominadas pela emoção, obedientes às determinações dos pais e educadas para o casamento. AUTORES & OBRAS Joaquim Manuel de Macedo [1820 - 1882] Principal romance: A Moreninha [1844] Relato sentimental da ligação entre dois jovens, presos a uma promessa infantil: Carolina e Augusto. Importância da obra: desperta no público o gosto pelo romance ambientado no Brasil. Importância de sua obra: na concretização de investidas pela liberação e autonomia da literatura brasileira, abre caminho para que outros autores possam expressar melhor a nossa realidade. Projeto nacionalista: revelar o Brasil em termos geográficos e históricos e a tentativa de criar uma língua brasileira. Romances urbanos: retratam a sociedade carioca da época, principalmente suas camadas mais abastadas. Compreendem desde textos estereotipadamente românticos, como a mesma velha história do casal cujo amor só se realiza após superados certos obstáculos, até indícios de investigação psicológica por meio de dramas morais causados pelo conflito entre as convenções sociais e a sentimentalidade individual. Estão nesse grupo: “Senhora” - “Lucíola” “A pata da gazela” - “A viuvinha”, entre outros. Romances regionalistas: buscam construir um painel de diversas regiões do Brasil: a ação se desenvolve no pampa sulino (“O gaúcho”), no interior do Rio de Janeiro (“O tronco do Ipê), no de São Paulo (“Til”) ou no sertão cearense (“O sertanejo”). O autor vê as regiões “de fora”. Não está interessado em revelar o essencial de um mundo diferenciado do litoral. Romances regionalistas: Integra as regiões ao corpo de uma nação centralizada, sob o comando das elites imperiais. Resultado: literatura mítica, celebratória dos encantos regionais, porém insuficiente para descrever as peculiaridades e o atraso das províncias periféricas do país. Romances históricos e indianistas: Procuram reconstruir episódios históricos ou ambientar fatos fictícios em épocas passadas, em busca de uma interpretação das origens da nossa nacionalidade. Objetivo: representar poeticamente, isto é, miticamente, as nossas origens e a nossa formação como povo. Romances históricos e indianistas: Resultado: “triunfo da imaginação e da fantasia” - desejo ideológico de mostrar um Brasil glorioso, positivo, com problemas que nunca ultrapassam a dimensão pessoal dos personagens. SERTANISTAS ROMÂNTICOS O regionalismo de Alencar abriu uma rica veia para o surgimento de escritores menores, todos eles sertanistas, ou seja, preocupados em revelar o Brasil não-litorâneo, não-europeu, o Brasil rural. O ponto de partida dessa literatura geralmente é o ufanismo, e neste sentido as manifestações sertanistas dificilmente adquirem maior autenticidade poética ou documental. Há uma intenção realista, inclusive, mas é um realismo que se detém em exterioridades: descrições da natureza, um que outro acento lingüístico particular da região, os costumes. Todavia esta busca de realismo é prejudicada na construção dos personagens, que obedecem aos esquemas românticos do folhetim. BERNARDO GUIMARÃES (1825-1884) Principais obras: “O seminarista” “O garimpeiro” - “A escrava Isaura” Características da obra: inserida no regionalismo romântico iniciado por Alencar - Estrutura de folhetim Valorização do passado - Utilização de uma linguagem oral - Tentativa abolicionista (A escrava Isaura). VISCONDE DE TAUNAY (1843 - 1899) Principais obras: “Inocência” retirada de Laguna” - “A Características da obra: precisão de detalhes e da paisagem sertaneja Estrutura romântica e acessórios realistas - Equilíbrio entre ficção e realidade, valores românticos e valores da realidade bruta do sertão, linguagem culta e linguagem regional. FRANKLIN TÁVORA (1842-1888) Principais obras: “O Cabeleira” “O matuto” - “Lourenço” Características da obra: valorização do regional - Projeto de uma “literatura do Norte” Oscilação entre romantismo e realismo - Análise do cangaço: oscilação entre a análise objetiva e o recurso idealizante [“O Cabeleira”]. MARTINS PENA MARTINS PENA (1815-1848) MARTINS PENA foi o criador da comédia brasileira no teatro. Seus textos são comédias de costumes, ou seja, dedicam-se ao retrato caricatural e humorístico dos hábitos sociais. O autor inicialmente optou por apresentar a vida na roça como fonte de riso, mas acabou por se concentrar na sociedade carioca da época, em que funcionários públicos, comerciantes, militares, especuladores, contrabandistas debatiam-se atrás de lucro e ostentação. Seus diálogos são vivíssimos, explorando equívocos e trocadilhos, além de constituírem um registro farto do português coloquial da época. Em algumas de suas comédias, Martins Pena chega a uma crítica social mais contundente, tocando em questões como o contrabando de escravos e a corrupção administrativa e judiciária do país. [Painel dos tipos humanos do Rio de Janeiro do século XIX - análise cômica dos costumes rurais e urbanos - linguagem coloquial] UM CASO À PARTE ROMANCE DE COSTUMES MANUEL ANTONIO DE ALMEIDA (1831-1861) Único romance: “Memórias de um sargento de milícias” NARRATIVA DE COSTUMES: os hábitos, a moda, o folclore, a religiosidade das classes populares do século XIX desmascaramento moral da sociedade. O verdadeiro romance de costumes do Romantismo brasileiro, pois abandona a visão da burguesia para retratar o povo em toda a sua simplicidade. O romance é o documento de uma época, descrita com malícia, humor e sátira: o período de D. João VI no Brasil. Personagens caricaturizados Acontecimentos que desmentem as aparências das pessoas - situações cômicas ausência de tragédia humana. PREDOMÍNIO HUMOR SOBRE DRAMÁTICO DO O ROMANCE PICARESCO Romance picaresco: [Origem: século XVI na Espanha] Centrase nas aventuras de um pobre que via com desencanto e malícia, isto é, de baixo, as mazelas de uma sociedade em decadência. Mundo em que a brutalidade e a astúcia traziam as máscaras da coragem e da honra. O pobre no seu afã de sobreviver, transforma-se em pícaro, servindo ora a um ora a outro senhor e provando com o sal da necessidade a comida do poderoso. Ao pícaro é dado espiar o avesso das instituições e dos homens: o seu aparente cinismo não é mais que defesa entre vilões encasacados. DESTRUIÇÃO DO ROMANTISMO Obra que fere a “sensibilidade romântica” na figura de seu herói. Comparado aos modelos românticos, Leonardinho é um anti-herói, um herói picaresco, aquele que está à margem da sociedade, que a vê sob outro ângulo, de baixo para cima. Isso se percebe a partir das origens de Leonardinho: “filho de uma pisadela e de um beliscão”. Aspecto revolucionário da narrativa: a construção do personagem central. Leonardo é uma espécie de marginal, vadio e meio estúpido. Isto subverte o sistema literário do folhetim, que exige heróis excepcionais, e subverte os próprios valores da sociedade. A vida de Leonardo se dá na dimensão da malandragem, como diz o crítico Antônio Candido: “quando Leonardo esgota todas as possibilidades de aventuras picarescas, só lhe resta o casamento e o emprego de soldado.” No Romantismo, o casamento é o começo da felicidade; em “Memórias de um sargento de milícias” é o fim de tudo. COSTUMES MORAIS ORDEM = MAJOR VIDIGAL DESORDEM = LEONARDO O relato constrói o antagonismo entre ambos até as últimas páginas. Até que o Major aceita dar um posto para o malandro Leonardo, dentro das milícias, em troca dos favores amorosos de Maria Regalada; e o marginal passa a sargento. Assim, NÃO há diferença entre ORDEM e DESORDEM MORALIDADE E AMORALIDADE , pois é muito fácil passar de um lado a outro. TRATA-SE DE UM DESMASCARAMENTO QUE O AUTOR DE “Memórias de um sargento de milícias” FAZ DA SOCIEDADE BRASILEIRA. No “desmascaramento moral” reside a essência do REALISMO de Manuel Antônio de Almeida. Um realismo que tem seus limites: o desmascaramento não ocorre através de análises psicológicas, à maneira de Machado de Assis, e sim através do humor rápido, impreciso, sem refinamento (anedótico). Precursor do Realismo: objetividade e descrença nos valores sociais. Pontos de contato com o Romantismo: o estilo frouxo, a linguagem por vezes descuidada e o final feliz do romance: Leonardo se regenera, enquadrase nas milícias e casa-se com a viúva Luisinha.