Mia Couto
”Há este mosaico, não tanto de raças,
mas de culturas, das culturas que
estão a marcar parte de uma coisa
que é ainda só um projecto:
a moçambicanidade.”
Importância
• um dos autores mais importantes de
Moçambique
• o escritor moçambicano mais
traduzido
• publicado em mais de 20 países e
traduzido em alemão, francês,
espanhol, catalão, inglês e italiano
• escritor inventivo e inovativo
Sempre presentes
• moçambicanidade – multiplicidade
etno-cultural
• linguagem
• humor
• realismo
• animismo
Vida
• 1955: nasce António Emílio Leite Couto na cidade
de Beira (Moçambique), de pais portugueses
• aos 14 anos: publica os primeiros poemas no
Notícias de Beira
• 1972: começa a cursar medicina
• 1975: ... mas acaba por tornar-se diretor da
Agência de Informação de Moçambique (AIM), da
revista Tempo e do jornal Notícias (até 1985)
• 1985: volta à Universidade para cursar biologia
• Hoje: biólogo no Parque do Limpopo (cooperação
de Moçambique, África do Sul e Zimbabué)
Autor prolífico e variado
• Começou escrevendo poemas, genre
que depois parece ter largado
• Crônicas, romances e contos
Bibliografia
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1983:
1986:
1988:
1990:
1992:
1994:
1996:
1997:
1998:
1999:
1999:
Raiz de orvalho (poemas)
Vozes anoitecidas (contos)
Cronicando (crônicas)
Cada homem é uma raça (contos)
Terra sonâmbula (romance)
Estórias Abensonhadas (contos)
A Varanda do Frangipani (romance)
Contos do Nascer da Terra (contos)
Mar Me Quer (romance)
Na Berma de Nenhuma Estrada (contos)
Vinte e Zinco (romance)
• 2000: O Último Voo do Flamingo (romance)
• 2001: O Gato e o Escuro (romance)
• 2002: Um Rio Chamado Tempo, uma Casa
Chamada Terra (romance)
• 2003: O Fio das Missangas (contos)
• 2003: O País do Queixa Andar (crônicas)
• 2004: A Chuva Pasmada (romance)
• 2005: Pensatempos. Textos de Opinião
(crônicas)
• 2006: O Outro Pé da Sereia (romance)
• 2006: O beijo da palavrinha (romance)
• 2008: Venenos de Deus, Remédios do Diabo
(romance)
• 2009: Antes de nascer o mundo (romance)
• 2009: E se Obama fosse Africano? e Outras
Interinvenções (crônicas)
Contexto
• 5° Período literário, de Consolidação,
de 1975 a 1992
– “finalmente passar a não haver dúvidas
quanto à autonomia e extensão da
literatura moçambicana” (PL)
• independência
• temas: patriotismo, libertação
nacional, heróis da luta
1983: Raiz de orvalho
• abre caminho a temas até aí
impensáveis e contribui para o fim
do monolitismo da instituição
literária moçambicana
• Vozes anoitecidas, em 1986, segue
pelo mesmo caminho e intensifica o
desenvolvimento
1986: Vozes anoitecidas
• provoca polémica e estabelece uma
aceitabilidade para a livre criatividade da
palavra e a inclusão de temas tabus, como o da
convivência das raças e mistura de culturas e
crenças
• fica conhecido em Portugal e em outros países
• traduzido logo para inglês e italiano
• moçambicanidade
– combina africano (banto e negro), português
(europeu e branco), chinês, indiano, goês (indiano
e português), árabe (muçulmano)
• talvez mais do que qualquer outro país africano de
língua portuguesa
Vozes
• 12 contos
• prefácios de José Craveirinha e Luís
Carlos Patraquim (poetas)
• Craveirinha: Couto mostra a
combinação de culturas sem cair no
exotismo ou folclorismo
• O próprio Couto diz ter criado as
estórias a partir de acontecimentos
reais, depois transformados em outra
realidade pela escrita
Quatro elementos importantes
1) linguagem
2) humor
3) realismo
4) animismo fantástico
1) Linguagem
• linguagem inovadora que imita a fala das pessoas
• explora o potencial do português, remodelando a
estrutura
• inovadora tanto no nível da sintaxe quanto no do
léxico
• a pressão das línguas africanas sobre a norma
européia ajuda a criar uma “norma”
moçambicana
• PL: “típica de escritores colonizados ... que
procuram afirmar uma diferença ... no interior da
língua do colonizador”
– James Joyce, João Guimarães da Rosa, José Luandino
Vieira
Caraterísticas
• O dia em que explodiu Mabata-bata
• “economia”: elisão (de verbos, consoantes,
pronomes...)
• inclusão de elementos desnecessários (ex.:
duplicação de equivalentes)
– Deve ser talvez, Nada não falou
• escrita
– Os bois estão aqui, perto comigo
vs. Os bois estão aqui perto, comigo
• não só sintaxe como também metáforas
– Vens pousar quem, ndlati?
> Vens matar quem, pássaro?
• Deve ser foi um relâmpago, os todos rios, matar-lhe
2) Humor
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construído através de vários elementos:
de intriga
de situação
de narração, do modo de contar
– vocabulário, metáforas, imagens
• da enunciação
– sintaxe não-normativa, usada pelo povo
– escolha das palavras, pontuação, pausa etc.
• “Era a Rosa. Subtítulo: a Caramela.”
• de linguagem
– sintaxe e léxico
• de personagem
Humor de personagem
• linguagem, comportamento, histórias que contam,
nomes próprios
• De como vazou a vida de Ascolino do Perpétuo
Socorro:
• APS: indo-português que se comporta e fala de uma
maneira engraçada
• ”Epifane, sagrada esposa. Contudo, porém, trinte
anos di casamento.”
• “Qui tém, homem? Essetragô sapéu de nosso. Não
obstante, quem qui vai pagar?”
• nomes próprios: funcionam como cartões de
apresentação
– cómico em si mesmo ou por ser contraditório com
caraterísticas do personagem
– Ascolino do Perpétuo Socorro; Rosalinda – gorda
3) Realismo (social)
• descrições exatas, reais, concretas,
rápidas
• pobreza, escassez, carências
• crítica social
• ”A velha estava sentada na esteira, parada na espera do
homem saído no mato. As pernas sofriam o cansaço de
duas vezes: dos caminhos idosos e dos tempos
caminhados.
A fortuna dela estava espalhada pelo chão: tigelas,
cestas, pilão. Em volta era o nada, mesmo o vento estava
sozinho.
O velho foi chegando, vagaroso como era seu costume.
Pastoreava suas tristezas desde que os filhos mais novos
foram na estrada sem regresso.”
4) Animismo
• fantástico, das crenças tradicionais
> realismo animista
– realismo mágico sul-americano
• Gabriel García Marquez
– corvo vomitado
(O último aviso do corvo falador)
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Vozes anoitecidas