Distúrbios hidroeletrolíticos Luiza Ivete Vieira Batista Distúrbios hidroeletrolíticos Desidratação: • Isonatrêmica • Hiponatrêmica • Hipernatrêmica. Distúrbio do sódio. Distúrbio do potássio. Distúrbio do cálcio. Distúrbio do magnésio. Introdução A água é o principal componente do organismo humano representando cerca de 60 a 80% do peso corpóreo de acordo com a idade do indivíduo. Principais compartimentos: LEC e LIC Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 1: lactente de 6 meses, levado a serviço de urgência com quadro de diarréia líquida amarelada, ± 10x dia, sem muco ou sangue, associado a vômitos e febre. Diminuição da diurese. Ao exame de entrada mostrou-se com mucosas secas, olhos encovados, choro sem lágrimas, sede intensa, irritabilidade, sinal da prega cutânea. PA normal para a idade, FC: 120 bpm. Diagnóstico e conduta? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta: TRO • Cças < 12 meses: 50 a 100 ml após as evacuações • Cças > 12 meses: 100 a 200 ml. Distúrbios hidroeletrolíticos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA DESIDRATAÇÃO E GRAVIDADE CLÍNICA Nível de consciência T de enchimento capilar Pulsos periféricos Elasticidade da pele Olhos Fontanela bregmática Mucosas FC PA Débito urinário Hidratado Alerta < 2 seg Cheios Normal Normais, com brilho Normal Úmidas Normal para a idade Normal para a idade Normal para a idade Desidratação de algum grau Desidratação grave (choque) Irritabilidade / muita sede Deprimido 2 a 3 seg > 3 seg Finos Impalpáveis Diminuída Diminuída Fundos, sem brilho Fundos, sem brilho Funda Funda Secas Secas para a idade ou para a idade Normal ou para a idade ou para a idade para a idade ou ausente para a idade Adaptado Eisencraft, A P et al. Doença Diarréica aguda e desidratação. In: Abramovici & Waksman, Pediatria . Diagnóstico e Tratamento, 1a ed, Cultura Médica, Rio de Janeiro, 2005 Grau de desidratação Leve Moderada Grave Perda de peso 5% 6 a 10% > 10% Déficit de fluido 50 ml/Kg 60 a 100 ml/Kg > 100 ml/Kg Condição geral da criança alerta Irritada com sede Deprimida, comatosa e pele fria Qualidade do pulso radial normal Fraco, taquicárdico Fraco ou ausente Qualidade da respiração normal profunda Profunda ou rápida sede leve moderada Intensa mucosas normais secas Muito ressecadas lágrimas presentes diminuídas Ausentes olhos normais profundos Muito profundos pele Retração rápida Retração lenta Retração muito lenta (>2seg) Débito urinário normal reduzido Oligúria ou anúria Distúrbios hidroeletrolíticos Verificar o índice de retenção de soro: após a 1a hora: IR= Δpeso/volume administrado x 100 Se IR entre 10 e 20, tentar segunda hora Se IR < 10: gavagem ou hidratação parenteral Distúrbios hidroeletrolíticos Evolução: vômitos, débito urinário sem melhora. Conduta? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta: • Dosagem de Na: normal (130-150mEq/l) desidratação isonatrêmica ou isotônica. Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta: • Sinais de choque? • Não: fase de reparação ou expansão • Solução 1:1 SF 0,9% e SG 5%: 100 ml / Kg em 2 horas. Se necessário: mesma solução: 50ml/Kg em 2,5 horas. • Solução cristalóide: SF 0,9% ou Ringer: 20ml/Kg em 20min + reavaliações: FC, pulso, PA e diurese. Dextro a cada hora. Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta: • Sinais de choque? • Sim: volume: acesso venoso ou intraósseo • SF 0,9% 20ml/Kg em bolus. Reavaliação a cada 15 min: PA, diurese, DU, perfusão • Dopamina/ Dobutamina • Dopamina: SG 5% 100ml + 6 ml de dopa: 1microgota/Kg/min = 5 microgramas/Kg/min • Dobutamina: SG 5% 100ml + 2,4 ml de dobuta: 1mocrogota/Kg/min = 5 microgramas/Kg/min Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta: • Manutenção: regra de Holliday & Segar: 24h • Calorias: • Até 10 Kg: 100 cal/Kg • De 10 a 20 Kg: 1000cal + 50cal/Kg que ultrapasse os 10Kg • Acima de 20 Kg: 1500cal + 20cal/Kg que ultrapasse os 20Kg • Eletrólitos: • Na: 2,5 a 3 mEq/100cal/dia • K: 2,5 a 3 mEq/100cal/dia • Glicose: 8 gramas ou VIG: mg/Kg/min • Volume: 1 cal = 1 ml Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta: • Reposição: repor perdas anormais da criança • Estimativa inicial: 50 ml/Kg/dia • SG5% + SF 0,9%: 1:1 • Reavaliações a cada 6 horas. • Se hiponatremia: SG5% + SF0,9%: 1:2 Distúrbios hidroeletrolíticos E se o paciente fosse uma criança desnutrida? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta na criança desnutrida: • > qtde de água corporal: LIC e LEC, LIV (hipoalbuminemia, hiperaldosteronismo); DC, FRP e RFG. • Na p, Na corporal total (Na LIC) • K LIC, nl ou plasma • Portanto: rehidratação mais LENTA: risco de intoxicação hídrica na fase de expansão • Fase de manutenção:70-80% das necessidades hídricas de uma criança eutrófica com o peso equivalente • Hiponatremia: tratar se Na < 120 mEq/l Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 2: Criança deu entrada em serviço de urgência infantil com quadro de diarréia, mostrando sinais de desidratação com mucosas secas, oligúria, rebaixamento do nível de consciência, perfusão periférica lenta. FC e PA ligeiramente aumentadas para a idade. • Criança recebendo expansão sem melhora do nível de consciência. Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 2: dosagem de Na sérico = 115 mEq/l HD: desidratação hiponatrêmica ou hipotônica. • Na sérico < 130 mEq/l (135mEq/l) • Osm: 2 x Na + Glicose/18 + Uréia/6 Distúrbios hidroeletrolíticos Hiponatremia: Quando desconfiar? Distúrbios hidroeletrolíticos Hiponatremia: Quando desconfiar? • Cefaléia, náuseas e vômitos • Progressão: alteração de comportamento e do nível de consciência. • Sinais de herniação cerebral: convulsões, coma, parada respiratória, midríase ou anisocoria, postura de decorticação. Distúrbios hidroeletrolíticos desidratação hiponatrêmica Distúrbios hidroeletrolíticos Hiponatremia: Como tratar? mEq Na = (130-Na atual) x 0,6 x P (Kg) (casos crônicos: 120) Ex: desidratação por diarréia com hiponatremia grave. NaCl 3%: vel máx:10ml/Kg/hora (5mEq/Kg/h) Casos crônicos: 2,5 mEq/Kg/h NaCl 3%= 15 ml de NaCl 20% + 85ml AD Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 3: lactente com quadro diarréico grave, apresentou-se à urgência com quadro de irritabilidade, agitação, mioclonias, hiperreflexia e hipertonia. Conduta? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta? • Dosagem de Na sérico: 150 mEq/l HD: desidratação hipertônica Na sérico > 145 mEq/l Distúrbios hidroeletrolíticos desidratação hipertônica Osmóis idiogênicos: desmielinização osmótica: mielinólise central pontina. Distúrbios hidroeletrolíticos Como tratar? Depende da causa: • Perda de água e sódio (GECA): • • • • • SF:SG 5% 1:1 – 50% de água livre Oferta baixa de água: • SF:SG 5% 1:2 – 75% de água livre Diabetes insípido nefrogênico: • SF:SG 5% 1:4 – 87,5% de água livre (tratamento agudo) Diabetes insípido central: • Acetato de desmopressina Sobrecarga de Na • SG 5%, uso de diuréticos ou diálise s/n Distúrbios hidroeletrolíticos Como tratar? Observações: • Correções rápidas de Na podem provocar edema cerebral • Fórmula para a correção de Na: Déficit de água livre (ml) = 4 ml x P (Kg) x alt desejada no Na sérico (mEq/l) Para uma queda de 1 mEq Na precisa de 5 ml/Kg de água livre (= 10ml/Kg de SF:SG 5% 1:1) Complicação: convulsão: edema cerebral NaCl 3% na velocidade de 1 ml/Kg/hora Casos graves: diálise. Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 4: criança deu entrada no serviço de urgência proveniente de posto de saúde de uma cidade vizinha com quadro de vômitos, dor abdominal, fraqueza muscular, confusão mental e arritmia cardíaca. Ruídos hidroaéreos bem diminuídos. Conduta? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta? • ECG de urgência: onda T achatada ou invertida, presença de onda U e inversão do segmento ST • Dosagem de K sérico: 2 mEq/l HD: hipocalemia K < 3,5 mEq/l Distúrbios hidroeletrolíticos Como tratar? Distúrbios hidroeletrolíticos Como tratar? • Retirar causadores: alcalose metabólica, diuréticos • Casos leves: reposição oral: KCl: 5 a 7,5 mEq/100cal/dia. • KCl xarope 6% (0,78mEq/ml) • Casos graves: K < 2,5: KCl 19,1%: 0,3 a 0,5 mEq/Kg em 30 a 60 min, monitorização. Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 5: criança abriu quadro de diarréia intensa com vômitos e desidratação grave, evoluindo com oligúria mesmo após expansões, mostrando discreto edema palpebral, FC e de PA por hipervolemia. Apresentando ao exame parestesias, fasciculações musculares, paralisias, arritmia cardíaca e convulsões. Conduta? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta? • ECG: onda T apiculada, alargamento de QRS, alargamento do intervalo QT. • Dosagem de K sérico: 7 mEq/l Distúrbios hidroeletrolíticos Como tratar? • K 6,5 mEq/L e sem alt no ECG • Suspender a oferta de K • Controles séricos a cada 12 horas • Corrigir distúrbios associados. Distúrbios hidroeletrolíticos Como tratar? • K> 6,5 mEq/l ou alt no ECG • • • • Suspender oferta de K Estabilizar miocárdio: Gluc de Ca 10% 1 a 2 ml/Kg Remover K corpóreo: resinas de troca: 1g/Kg 4-6h Restaurar o gradiente transcelular de K • Solução polarizante: 1 U insulina regular/ 4 g de glicose: 0,5 a 1 g de glicose/Kg IV em 15 a 30 min • Bic Na 3%: 1 a 2 ml/Kg IV lento se acidose metabólica • β2 inalatório Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 6: Criança deu entrada em PS com quadro de dor abdominal, vômitos, desidratação, poliúria e letargia. Conduta? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta? Dosagem de cálcio: 15mg/dl • Ca: 4 a 5 mEq/L ou 8 a 10mg/dl • Cai: 3,5 a 5 mg/dl Quando suspeitar de hipercalcemia? • Verificar doença de base: • • • • • Hiperparatireoidismo, hipertireoidismo Intoxicação por vitaminaD Tumores ósseos. Imobilização. Uso de diuréticos tiazídicos. Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta? • ECG: encurtamento do intervalo QT Tratamento: • Corrigir causa básica. • ↓ ingestão de cálcio e vitamina D • Não utilizar diuréticos tiazídicos e digitálicos. • Usar furosemida 1 a 2 mg/Kg/dose (4 a 6 hs) • Hidratação: ↑ excreção urinária de Ca • SF 0,9% ou Ringer: 20 ml/Kg a cada 20 a 30 min • Casos refratários: diálise • Hidrocortisona: inibe vit D: 10 a 20 mg/Kg/dia ou 3 a5 mg/Kg a cada 6 hs Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 7: Criança apresentando tremores, convulsões, irritabilidade, cãibras e hipertonia. Conduta? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta? Dosagem de cálcio: 6 mg/dl Quando suspeitar de hipocalcemia? • RN com hiperbilirrubinemia, hipoglicemia, desconforto respiratório, lesões cerebrais e anóxia. • Desnutrição e hipovitaminose D. • Hipoparatireoidismo. • ↑P, ↓Mg • Pancreatite aguda ou insuficiência renal. Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta? • Pesquisar: • Sinais de Trosseau e Chvostek. • ECG: prolongamento do intervalo QT e segmento ST. • Tratamento: • Gluconato de cálcio a 10%: 1 ml/Kg • Convulsão: 2 ml/Kg/dose EV (0,5 ml/Kg/min) • MONITORIZAÇÃO CONTÍNUA. • Manutenção: Gluc Ca 10%: 2 a 5 ml/Kg/dia Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 8: Criança com tremores, hiperreflexia, sinal de Chevosteck e Trosseau positivos, ataxia fraqueza muscular, apnéia, arritmias cardíacas. Conduta? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta: dosagem de magnésio: Mg < 1,4 mEq/l ou < 1,5 mg/dl Quando suspeitar de hipomagnesemia? • RN de mães diabéticas ou com toxemia gravídica, RCIU. • Hipervitaminose D. • PO de cirurgia cardíaca. • Ressecção maciça do intestino delgado. • ↓Ca consequente à ↓ Mg. Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta? • Pesquisar: • Sinais de Trosseau e Chvostek. • ECG: prolongamento do intervalo PR e QT e onda T achatada e invertida. • Tratamento: • Assintomático: • reposição oral com dieta e soluções de hidróxido de magnésio. • Reposição parenteral: 0,5 a 1 mEq/Kg/dia, EV ou IM. • Sintomáticos: MgSO4 50%: 0,05 a 0,1 ml/Kg EV ou IM. Se EV monitorar frequência cardíaca. Distúrbios hidroeletrolíticos Caso 9: Criança com sonolência, letargia, evoluindo com arreflexia e hiponia muscular. Conduta? Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta: dosagem de magnésio: Mg > 2 mEq/l Quando suspeitar de hipermagnesemia? • • • • RN de mães com toxemia gravídica. Uso de medicamentos com Mg. Insuficiência renal aguda. Hipotireoidismo. Distúrbios hidroeletrolíticos Conduta? • Pesquisar: • ECG: prolongamento do intervalo PR, alargamento do QRS, e onda T apiculada, BAV. • Tratamento: • • • • • Suprimir oferta de Mg. Hiperhidratação. Gluc Ca 10%: 2 ml/Kg EV lento. Diuréticos: furosemida. Diálise e EXT. Distúrbios hidroeletrolíticos Criança nefrótica e desidratação? Criança nefrótica e choque ? Criança com insuficiência renal e desidratação? TRO? Criança com insuficiência renal e choque?