Metodologia de resolução de problemas como uma atividade de investigação Aula 4 Antonio Carlos Brolezzi http://www.brolezzi.com.br/cogeae/ [email protected] Quando se coloca a questão da resolução de problemas associada à criatividade, penso que se está estabelecendo um novo modelo de exercício da atividade inteligente. Os homens sempre imaginaram que a inteligência seria uma qualidade a mais que se poderia atribuir aos indivíduos como uma espécie de rótulo. Fulano é charmoso e inteligente, ou coisas do tipo. Ter charme ou beleza estaria na mesma categoria de ter inteligência. Bastaria olhar para uma pessoa, ou então fazer algum teste com ela para verificar sua inteligência. A campanha publicitária de um jornal de grande circulação certa vez satirizou essa idéia de que a inteligência seria uma característica aparente, colocando atores que faziam ar de inteligente, segurando o rosto com os dedos indicador e polegar, formando um L e levantando uma das sobrancelhas, por exemplo. O que é ser inteligente? A resposta a esta pergunta determina a forma de pensar sobre o que deve ser a educação. Por isso, é interessante ver como as concepções de inteligência variaram em cada época histórica. Estudos de inteligência: 1)Platão: idealizou a separação entre alma (imortal) e corpo (material) Platão (428 - 347 a.C.) As idéias de Platão influenciaram especialmente Santo Agostinho (354 - 430), para quem a mente era uma unidade com faculdades independentes: razão, memória, vontade e imaginação Platão (428 - 347 a.C.) Essas faculdades estão em perpétuo conflito. O homem é um ser em guerra consigo mesmo: a imaginação está de um lado, a memória do outro, a vontade e a razão não estão de acordo. Será que somos assim mesmo? Será que essas faculdades são mesmo tão distintas? Seja como for, a partir destas matrizes, esses conceitos estão em nossa cultura, na literatura, no cinema, nas propagandas de televisão. Com esta divisão em conflito das partes que comporiam o pensamento humano, surge a necessidade de dizer quem é que manda. Virá então o conceito moderno de inteligência, como algo que seria definidor do modo de pensar dos indivíduos. 2) Inteligência como um fator geral com função integradora de diversas habilidades intelectuais. O psicólogo francês Alfred Binet propôs em 1905 a primeira escala para avaliar diferenças intelectuais. Alfred Binet (1857 -1911) Da revisão dessas escalas surgiu o teste de QI – Quociente Intelectual Stanford-Binet. Esse modelo estimulou a visão da inteligência como a capacidade de processamento de informação ligada às habilidades necessárias para o sucesso acadêmico. Avaliavam-se os aspectos ligados às capacidades lógico-matemáticas e lingüísticas dos indivíduos. Alfred Binet (1857 -1911) Esta visão de inteligência como algo único, que pudesse servir para rapidamente classificar os indivíduos, incorporou-se a nossa sociedade. Imaginamos que podemos colocar todo mundo em uma fila única – dos mais inteligentes aos menos inteligentes. Claro, pensamos em colocar lá as pessoas, mas precisamos lembrar que também nós estaríamos na fila. Em que posição? Lá na frente ou lá atrás? Talvez nos colocássemos em um prudente meio termo, nem muito lá na frente nem muito lá atrás. Acima da posição mediana, se possível, sim. 3) Inteligência como um conjunto de aptidões independentes. Guilford (1897-1988) em 1959 elaborou um modelo para representar as categorias de funcionamento intelectual: capacidade de realizar operações, dar origem a produtos e manifestar conteúdos em nível intelectual. Esse modelo gerou os testes vocacionais e testes multifatoriais utilizados em seleção de pessoal. Modelo de inteligência de Guilford: 150 habilidades independentes resultantes da interação de 5 tipos de conteúdos, 5 tipos de operações e 6 tipos de produtos 4) Paralelamente surgiram desde 1928 propostas sobre inteligência social, tentando compreender a inteligência de uma forma mais ampla: processo cognitivo de captar e decodificar, com habilidade, informações providas pelo meio social e de apresentar estratégias comportamentais eficazes para atingir objetivos sociais, dentro de um contexto particular. 5) Howard Gardner estudou na Universidade de Harvard. Trabalhou com o desenvolvimento da criatividade em crianças e adultos, principalmente o desenvolvimento artístico e suas relações com outras áreas do conhecimento. Seu interesse por criatividade iniciou em 1970 quando estudou por que a criatividade é alta em Howard Gardner crianças pequenas e depois diminui conforme elas (11 de julho de 1943 ) crescem. Concluiu que as crianças aos poucos vão ganhando confiança em suas habilidades de linguagem e passam a não precisar mais se comunicar nãoverbalmente, como através da arte. Howard Gardner Ao invés de preocuparse com testes de inteligência, Gardner buscou informações sobre como pessoas em todo o mundo desenvolvem habilidades importantes para seu modo de vida. Seu livro de 1983, Estruturas da Mente, foi um chamado para muitos educadores. Ao invés de preocupar-se com testes de inteligência, Gardner buscou informações sobre como pessoas em todo o mundo desenvolvem habilidades importantes para seu modo de vida. Seu livro de 1983, Estruturas da Mente, foi um chamado para muitos educadores. Gardner propôs uma visão pluralista do intelecto humano (retomando Guilford) Propõe uma nova definição de inteligência: “Uma inteligência é a capacidade de resolver problemas ou de criar produtos que sejam valorizados dentro de um ou mais cenários culturais”. Em sua teoria das inteligências múltiplas, estabelece sete competências humanas: • • • • • • • • • • • Inteligência Lingüística; Inteligência Musical; Inteligência Lógico-Matemática; Inteligência Espacial (percepção visual e manipulação de formas tridimensionais); Inteligência Corporal-Cinestésica (movimentos corporais, dança, mímica); Inteligência Interpessoal (conhecimento social); Inteligência Intrapessoal (auto-conhecimento, análise interior). Machado (1995) acrescenta outra habilidade, a competência pictórica, associada às artes visuais. O próprio Gardner vai depois sugerir outra inteligência, associada a ecologia: inteligência naturalista. Nesta nova concepção de inteligência, a mobilização para a ação é muito importante. Ou seja, não é inteligente apenas aquele que parece inteligente, por que se enquadra em algum estereótipo de inteligência Trata-se de saber usar essa inteligência nos momentos em que ela é solicitada. Para essa mobilização dar certo, é preciso romper o divórcio eterno imposto por Platão, a separação entre alma e corpo, entre emoção e razão. 6) James, em 1884, realiza os primeiros estudos da emoção (percepção das alterações fisiológicas que ocorrem no corpo como base da experiência emocional) Estados emocionais necessitam de capacidade intelectivas específicas para a decodificação dos estados emocionais e todas as informações por eles produzidas. Daí, a influência do intelecto na leitura dos estados emocionais e, por outro lado, para a influência das emoções sobre as funções cerebrais. 1990: Salovey e Mayer propõem a inteligência emocional: “habilidade de monitorar sentimentos e emoções pessoais e alheias, realizar discriminações entre elas e usar essas informações para guiar os próprios pensamentos” Daniel Goleman 1996: Daniel Goleman: a inteligência emocional rege a maior parte das relações e experiências cotidianas e, diferentemente das aptidões acadêmicas, permitiria que as pessoas obtivessem êxito em suas atividades cotidianas. (seriam as inteligências intrapessoal e interpessoal de Gardner) Inteligência emocional Cinco habilidades básicas: autoconsciência, auto-motivação, autocontrole, empatia e sociabilidade. Inteligência emocional: construto de natureza cognitiva, cujo elemento primordial de sua constituição seriam as informações de cunho emocional produzidas pelo próprio indivíduo quando experimenta emoções e as organiza em forma de sentimentos, bem como informações oriundas do meio social fornecidas pela expressão de emoções e sentimentos dos outros. Penso que a inteligência emocional, por incorporar o aspecto social, é mais adequada para representar a própria noção de inteligência de Gardner. Afinal, é a parte emocional, a percepção do outro, que permite resolver problemas e propor soluções para problemas valorizados socialmente. Por isso, acho fundamental que consideremos que as questões emocionais estão bem mais presentes na resolução de problemas do que inicialmente poderíamos pensar. Principalmente, quando a gente tem medo de errar, ou baixa auto-estima para considerar que nossas respostas estão adequadas. Você tem 24 moedas de mesma aparência, sendo 23 de peso igual e 1 mais pesada. Utilizando apenas uma balança de dois pratos, descobrir, com o menor número de pesagens, qual a moeda de peso diferente. Pode-se dividir a História da Matemática em duas etapas: a matemática pré-helênica e a matemática abstrata, ou matemática propriamente dita, que é aquela que nasceu com os gregos antigos. Vamos evoluir um pouquinho, e pegar uma balança digital? Temos dez sacos abertos com 10 moedas em cada um. Sabemos que as moedas deveriam pesar 10 gramas cada uma, mas um dos sacos possui somente moedas falsas que pesam 9 gramas cada uma. Como descobri-lo, utilizando uma balança graduada o menor número de vezes?