Utilização de imunossupressores e agentes biológicos nas pneumopatias intersticiais associadas às colagenoses. Ronaldo A. Kairalla Disciplina de Pneumologia - InCor Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – Brasil Núcleo de Tórax – Hospital Sírio Libanês SBPT - 11º Curso Nacional de Atualização em Pneumologia 19 a 21 de Abril de 2012, Rio de Janeiro Sem conflito de interesses Ronaldo A. Kairalla Disciplina de Pneumologia - InCor Facuildade de Medicina da Universidade de São Paulo - Brasil DIP em Colagenoses Imunossupressores • Azatioprina: ES, PM/ASS. SS, AR • Ciclofosfamida: ES, LES, PM/ASS • Micofenolato: ES, PM/ASS • Metotrexate: AR, ES • Ciclosporina-Tacrolimus: PM/ASS DIP em Colagenoses Imunossupressores • Quando são utilizados? – Poupadores de corticóide – Doenças resistentes • Pneumologista: – Indicações – Manejo das drogas – Efeitos colaterais – Pneumopatia secundária DIP em Colagenoses Imunossupressores • Azatioprina – Análogo da purina – Metabol. hepática e hemáceas - 6-mercatopurina (ativo) – Enzima - tiopurina metiltransferase (TPMT) – Deficiência da TPMT > risco de toxicidade (1:300) – Dose: 50 mg/dia (início) – 2 a 3 mg/Kg/dia – Toxicidade: hepática, GI, hemato, infecções – Monitorização: enzimas hepática e hemograma, cada 2 semanas no 1O mes, a seguir mensal. Meyer et al. Clin Chest Med, 2010. DIP em Colagenoses Imunossupressores • Ciclofosfamida – Alquilante sintético – Metabolização hepática e renal – Dose • Oral: 2 mg/Kg/dia (pela manhã) • EV: 750 mg/m2 (início) até 1g/m2 (hidratação prévia) – Toxicidade: bexiga, hemato, infertilidade, infecções oportunistas (P. carinii),, cancer? – Monitorização: hemograma frequente (leuco ~ 3500), urina 1, função renal. Meyer et al. Clin Chest Med, 2010. DIP em Colagenoses Imunossupressores • Micofenolato – Inibidor da via das purinas – Metabolização intestinal Ácido Micofenólico (ativo) – Dose • MMF: 1,5 a 3 g/dia, em 2 doses • MMF entérico: 1080 a 2160 mg/dia, em 2 doses – Toxicidade: GI, hemato, infecções oportunistas, cancer? - melhor tolerado – Monitorização: hemograma frequente, função renal Meyer et al. Clin Chest Med, 2010. DIP em Colagenoses Imunossupressores • Metotrexato – Análogo do ácido fólico – Metabolização hepática – ativo por 7 dias – Dose: 7,5 mg/semanal (início), 25 mg/semanal (máx) • Ácido fólico: 1 mg/dia ou 5 mg no dia seguinte. – Toxicidade: GI, hepática, hemato, pulmonar, – Monitorização: hemograma enzimas hepática, função renal, Meyer et al. Clin Chest Med, 2010. Miopatias Inflamatórias Tratamento Miopatias Inflamatórias Tratamento • Não há estudos prospectivos randomizados • Maioria dos pacientes - corticosteróides como droga inicial – 50% resposta (Schwarz MI et al. Medicine 1976) • Azatioprina – associada ao CE – melhor (Bunch TW. Arthritis Rheum. 1981) • Ciclofosfamida – opção para azatioprina • Ciclosporina – resistênca • Metotrexate – pouco utilizado Fathi. Semin Respir Crit Care Med 2007. Kalluri. Clin Chest Med, 2010 Miopatias Inflamatórias Tratamento - CE + Azatioprina 16/08/2009 17/02/2010 Miopatias Inflamatórias Tratamento - CE + Azatioprina 06/09 12/09 04/10 08/10 CVF(L) 0,66 1,31 1,93 2,16 VEF1 (L) 0,55 1,03 1,5 1,74 CPT (L) 1,88 2,45 3,07 DCO 5,1 6,7 7,0 Miopatias Inflamatórias Tratamento - Ciclofosfamida • 17 pacientes – refratários ou agressiva • Ciclo (300–800 mg/m2) + Pred • Melhora em 11 • Bem tolerado Yamasaki et al. Rheumatol, 2007. Miopatias Inflamatórias Tratamento - Ciclofosfamida Miopatias Inflamatórias Tratamento 1995 Evolução longo prazo 2008 Ciclosporina DIP refratária – PM (ASS) Kotani et al. Clin Rheumatol, 2011 Miopatias Inflamatórias Tratamento - Tacrolimus TACROLIMUS TREATMENT OF ANTISYNTHETASE-ASSOCIATED ILD • 15 pacientes – 2 < 3 meses (excluídos) – refratários ou agressiva • Tacrolimus 2x/dia (0.075 mg/kg) – conc. plasmática de 5–20 ng/mL Wilkes et al. Arthritis Rheum, 2005. Miopatias Inflamatórias Tratamento - Tacrolimus TACROLIMUS TREATMENT OF ANTISYNTHETASE-ASSOCIATED ILD Wilkes et al. Arthritis Rheum, 2005. Micofenolato DIP – PM (ASS) • 4 pacientes – substituindo prednisona Morganroth et al. Arthritis Care Res, 2011 Miopatias Inflamatórias Tratamento Kalluri. Clin Chest Med, 2010 Miopatias Inflamatórias Tratamento • Habitualmente boa resposta • Pode ser demorada – insistir no tratamento – 2 anos • Nos casos sugestivos de Pneumonia em Organização – CE • NSIP – associar imunossupressor (Aza ou Micofenolato) • Falência –ciclosporina ou tacrolimus • Pneumonite Aguda – • pulsoterapia metilpred. – Imunoglobulina e plasmaferese Fathi. Semin Respir Crit Care Med 2007. Kalluri. Clin Chest Med, 2010 Síndrome de Sjogren Tratamento Síndrome de Sjogren Tratamento Azatiopriona • Poucos estudos controlados • Avaliar progressão das alterações pulmonares para tratar • Habitualmente CE + IS • Azatioprina é o mais utilizado Deheinzelin et al. Am J Respir Crit Care Med, 1996 Síndrome de Sjogren Tratamento Parambil et al. Chest, 2006 Síndrome de Sjogren Tratamento • Evolução a Longo Prazo sem Tratamento Davidson et al. Ann Rheum Dis, 2000. Síndrome de Sjogren Tratamento • Pacientes assintomáticos, com alteração tomográfica: avaliação cada 6 a 12 meses • Pacientes sintomáticos com progressão: iniciar tratamento – CE + IS • Hiperplasia nodular linfóide: geralmente não necessita de tratamento • Iniciado tratamento manter por 1 a 2 anos, caso haja resposta Carvalho et al. UpToDate, 2011. LES Tratamento • Pneumonia Intersticial Aguda – Metilprednisolona – Pulso de Ciclofosfamida – Micofenolato Kamen & Strange. Clin Chest Med, 2010 LES Tratamento • Shrinking Lung – Corticóide – Imunossupressor • Graus variados de resposta Kamen & Strange. Clin Chest Med, 2010 Esclerodermia Tratamento Dificuldades na avaliação de tratamento • Evolução lenta na maior parte dos casos • Mortalidade baixa • Pacientes podem ficar estáveis por vários anos • Resultados conflitantes • Poucos estudos a longo prazo > 1 ano • Subpopulações diferentes? Esclerodermia Tratamento Steen VD. Arthritis Rheum, 1994. Esclerodermia Tratamento Ciclofosfamida Latsi et al. Curr Opin Rheumatol, 2003. Esclerodermia Tratamento Ciclofosfamida • 158 pacientes • 79 Ciclo oral 2 mg/Kg/dia • 79 placebo • Seguimento 1 ano • Ganho de 2,5% CVF • DCO – não houve Tashkin, et al. NEJM, 2006 Esclerodermia Tratamento Ciclofosfamida EV seguida de Azatioprina • 45 pacientes • 22 Ciclo mensal 600mg/m2 (6 meses) + Aza 2,5 mg/Kg (6 meses) • 23 placebo • Tendência de melhora da CVF Hoyles, et al. Arthr & Rheum, 2006 Esclerodermia Tratamento Ciclofosfamida • 145 pacientes iniciais • 57 Ciclo oral 2 mg/Kg • 56 placebo • Tratamento 1 ano • Seguimento 2 anos • Perda do ganho após 1 ano Tashkin, et al. Am J Resp Crit Care Med, 2007 Esclerodermia Tratamento •NSIP biópsia pulmonar: Ciclofosfamida x ciclofosfamida + prednisona • 18 pacientes • 9 Ciclo 1g/m2 • 9 Ciclo 1g/m2 + Prednisona (60-10 mg/Kg/dia) • Tratamento por 1 ano • Seguimento 3 anos: sem diferença na mortalidade Domiciano et al. Clin Rheumatol, 2010. Esclerodermia Tratamento •NSIP biópsia pulmonar: Ciclofosfamida x ciclofosfamida + prednisona • Seguimento 3 anos: sem diferença na função pulmonar • Corticóide beneficia somente a lesão cutânea Domiciano et al. Clin Rheumatol, 2010. Esclerodermia Tratamento Ciclofosfamida: metanálise (estudos controlados) Nannini et al. Arthr Res Ther, 2008. Esclerodermia Tratamento Ciclofosfamida: metanálise (estudos observacionais) Nannini et al. Arthr Res Ther, 2008. Esclerodermia Tratamento •Ciclofosfamida - metanálise •Os autores concluem que o ganho é pequeno •Não são incluídos pacientes em progressão •Benefício indefinido Nannini et al. Arthr Res Ther, 2008. Esclerodermia Tratamento • Micofenolato Mofetil • 13 pacientes: • Micofenolato Mofetil 1g/dia • Resposta positiva para CVF, mas não para DCO Gerbino et al. Chest, 2008. Esclerodermia Tratamento • Micofenolato Mofetil • 17 pacientes: • Micofenolato Mofetil 1g/dia • Estabilização: Função Pulmonar e TC Zamora et al. Respir Med, 2008. Micofenolato DIP - ES • 14 pacientes – com tratamentos prévios CYC, AZA Simeón-Aznar et al. Clin Rheumatol, 2011 Esclerodermia Tratamento • 150 pacientes – 12 centros • MMF x Ciclofosfamida oral • 2 anos MMF x 1 ano CCF + 1 ano placebo • Objetivo primário: CVF em 2 anos Esclerodermia Tratamento Quando Tratar? • Deteriorização nos últimos 6-12 meses – PFP/TC • Doença extensa (PFP/TC) • Duração da doença < 5 anos • Scl-70 + • Vidro-fosco na TC – “NSIP” • Envolvimento cutâneo difuso? Latsi et al. Curr Opin Rheumatol, 2003. Esclerodermia Tratamento • Conclusão • Não são todos pacientes com envolvimento pulmonar que necessitam tratamento • Período de observação inicial • Ciclofosfamida pode ser benéfica em um subgrupo • Micofenolato Mofetil parece ser eficaz Artrite Reumatóide Tratamento Doença Intersticial • Não há estudos controlados • Evolução progressiva – UIP?? • Independente da doença sistêmica? • Relevância do tabagismo!! • Habitualmente são tratados: • Progressão clínica-funcional • Corticóide + IS • Pouca resposta – exceção BOOP Antin-Ozerkis et al. Clin Chest Med, 2010 Artrite Reumatóide Tratamento • 6 meses de seguimento com CE + IS Rojas-Serrano et al. Reumatol Clin. 2012 Agentes Biológicos • Drogas desenvolvidas para agir num objetivo específico da cascata inflamatória/imunológica • Vários medicamentos surgiram nos últimos anos, resultando num marco para o tratamento das DTC • Atualmente estão aprovados 2 grupos: – Inibidores de Citoquinas: fator de necrose tumoral (TNF), Interleucinas (IL-1 and IL-6) – Inibidores de Linfócitos Panopoulos & Sfikakis. Curr Opin Pulm Med, 2011 Agentes Biológicos • Inibidores de Citoquinas – Etanercept - receptor solúvel do TNF – Infliximab, Adalimumab, Golimumab Certolizumab -anticorpos monoclonais anti-TNF e – Anakinra - antagonista do receptor de IL-1 – Tocilizumab - anticorpos monoclonais anti-receptor de IL-6 • Inibidores de Linfócitos – Rituximab - anticorpo monoclonal anti-CD20 – Abatacept - agente anti- célula T (CTLA-4-Ig). Panopoulos & Sfikakis. Curr Opin Pulm Med, 2011 Furst et al. Ann Rheum Dis, 2011 Agentes Biológicos • Aprovados para – AR, ARJ, Psoríase, Espondiloartrites e Enfermidades Inflamatórias Intestinais. • Off-label: LES, Sjogren, Esclerodermia, Polimiosite, Vasculites... • Precauções: – Medicamentos com efeitos adversos – Ausencia de estudos controlados – Efeitos a longo prazo desconhecidos Panopoulos & Sfikakis. Curr Opin Pulm Med, 2011 Furst et al. Ann Rheum Dis, 2011 Anti - TNF • TNF: mediador proinflamatório que participa de várias condições inflamatórias, infecciosas e autoimunes. • Participa do desenvolvimento de imunidade durante infecções, mas, expressão aumentada pode desencadear inflamação cronica e autoimunidade. • + de 2 milhões de pacientes, principalmente com AR, já foram tratados: benefício evidente, efeito colateral aceitável. • Eficaz no comprometimento pulmonar?? Panopoulos & Sfikakis. Curr Opin Pulm Med, 2011 Furst et al. Ann Rheum Dis, 2011 Anti – TNF DIP - AR • Relatos iniciais isolados de eficácia em AR Vassalo et al. Chest, 2002 • Série de relatos de piora do quadro pulmonar Ionoue et al. Chest, 2003 Bargagli et al. Eur Respir J, 2004 Perez-Alvarez et al. Semin Arthritis Rheum. 2011 Anti - TNF • 122 casos de DIP induzidas por Anti-TNF Perez-Alvarez et al. Semin Arthritis Rheum. 2011 Anti - TNF • 122 casos de DIP induzidas por Anti-TNF Perez-Alvarez et al. Semin Arthritis Rheum. 2011 Infliximab AR Anti – TNF DIP - AR • 367 pacientes DIP-AR: – 299 tratados com anti-TNF – 68 tratados com DMARDs Dixon et al Ann Rheum Dis, 2010 Anti – TNF DIP - AR • Não deve ser utilizado para o tratamento da DIP-AR • Na presença de NIP-AR, anti-TNF deve ser utilizado com precauções. Dixon et al Ann Rheum Dis, 2010 Anti – TNF DIP - ES • Relatos de eficácia no controle da lesão de pele. • Não há estudos consistentes quanto a DIP-ES Phumethum et al. J Rheumatol, 2010 Rituximab • Anticorpo monoclonal humano contra CD20 • Aprovado para um uso em Linfoma, recentemente em AR. • Relatos de eficácia em DIP relacionadas a DTC. • Relatos de lesão pulmonar induzida pelo Rituximab Panopoulos & Sfikakis. Curr Opin Pulm Med, 2011 Furst et al. Ann Rheum Dis, 2011 Rituximab DIP retratária DLCO CVF Keir et al. Eur Respir J, 2012 Miopatias Inflamatórias Tratamento - Rituximab • RTX – anti CD20 • 11 pacientes – refratários ou agressiva • RTX – 1000 mg dias 0 e 14 • Melhora em 7 • 1 óbito por infecção Sem et al. Rheumatol, 2005. Rituximab DIP refratária – PM (ASS) CVF DLCO Força Muscular CPK Marie et al. Respir Med, 2012 Rituximab Esclerodermia • Poucos estudos avaliando a resposta sistêmica ao tratamento Phumethum et al. J Rheumatol, 2010 Rituximab DIP - ES • Relatos isolados de resposta pulmonar: TC e funcional NcGonagle et al, Rheumatol, 2008 Yoo. Rheumatol Int, 2010 Rituximab DIP - ES • 14 pacientes seguidos por 1 ano – Melhora do Escore de Rodnan, CVF e DCO Daoussis et al, Rheumatol, 2010 Rituximab DIP - PM • 11 pacientes – refratários ou agressiva • RTX – 1000 mg dias 0 e 14 • Melhora em 7 • 1 óbito por infecção Sem et al. Rheumatol, 2005. Rituximab P Linf – SS • Relato de caso- recusa de CE, intolerancia AZA Swartz et al. J Clin Rheumatol, 2011 Rituximab DIP - AR • Eficácia nos sintomas sitêmicos comprovada. • Quanto à DIP, não há definição. Panopoulos & Sfikakis. Curr Opin Pulm Med, 2011 Furst et al. Ann Rheum Dis, 2011 Rituximab Pneumonite Secundária • 121 casos relatados até Jun 2010 Hadjinicolaou et al. Rheumatology (Oxford). 2012 Rituximab Pneumonite Secundária • 121 casos relatados até Jun 2010 Hadjinicolaou et al. Rheumatology (Oxford). 2012 Rituximab Linfoma Outros Agentes Biológicos • Anakinra - antagonista do receptor de IL-1 – Aprovado para AR, Espondilite e ARJ • Tocilizumab - anti-receptor de IL-6 – Aprovado para AR e Castleman • Abatacept - agente anti- célula T (CTLA-4-Ig) – Aprovado para AR e ARJ Não há relatos de uso em DIP ou de efeitos colaterais pulmonares Panopoulos & Sfikakis. Curr Opin Pulm Med, 2011 Furst et al. Ann Rheum Dis, 2011 Tocilizumab Pneumonite Secundária • 4 casos relatados até Jun 2010 Hadjinicolaou et al. Rheumatology (Oxford). 2012 Kawashiri et al. Rheumatol Int. 2010 Agentes Biológicos no Comprometimento Pulmonar das DTC • Conclusões – Rituximab parece ser o medicamento com maior potencial. – Anti-TNF pouco efetivo, efeitos adversos. – Devemos estar atento ao surgimento de novas drogas – eficácia e efeitos adversos pulmonares. – Uso off-label deve ser feito com cautela DIP em Colagenoses Tratamento – Individualizar o tratamento, pela doença e tipo de acometimento pulmonar – Em geral um período de observação pode ser feito – Nas formas mais sintomáticas/progressivas: tratamento agressivo – manter 1 a 2 anos – Lembrar de: Aspiração Crônica, Tabagismo e Exposições