JORGE, UM BRASILEIRO
J ORGE
UM BRASILEIRO
O SWALDO F RANÇA J ÚNIOR

Oswaldo França Júnior (1936-1989) nasceu
em Serro, MG.
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Antes de se tornar escritor, foi coronel
aviador.
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Oswaldo foi expulso da Aeronáutica por ter
sido apontado como subversivo pela
revolução de 64.
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Então, movido pela necessidade de
sobrevivência e de sustentar sua família,
tornou-se escritor.

Vale lembrar que França, ainda na ativa
militar, publicou artigos nos jornais da Arma.

Então, desempregado e preocupado com
sua família, reuniu um volume de contos e
foi tentar a sorte na Editora do Autor, do Rio
de Janeiro, então comandada por Rubem
Braga e Fernando Sabino.
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Rubem Braga gostou de seus textos, mas
alegou que “conto não vendia” e perguntou
se ele não teria um romance na gaveta.
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Não tinha, mas disse que sim e se apressou
a voltar a BH, onde escreveu, em poucos
meses, O viúvo, que foi publicado em 1965.
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A alta qualidade dos originais de Jorge, um
brasileiro, sua segunda obra, rendeu a
Oswaldo França, juntamente com Jorge
Amado e Guimarães Rosa, o maior prêmio
literário do Brasil em 1967, o Walmap.

Oswaldo França Júnior publicou 13
romances – sendo que Jorge, um brasileiro
foi roteirizado e filmado pelo cineasta Paulo
Tiago, bem como serviu de inspiração para a
série global “Carga pesada”.
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Em entrevista ao repórter Geneton Moraes
Neto, Oswaldo França contou o episódio
dramático em que se envolveu em 1961.

O seu Esquadrão, sediado em Porto Alegre,
não acatou as ordens superiores para
eliminar, por meio de bombardeio, o então
governador gaúcho Leonel Brizola, que
defendia a legalidade da posse do vicepresidente João Goulart no posto do
renunciado Jânio Quadros, em desafio aos
desejos das Forças Armadas.
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Isso, certamente, influiu na sua expulsão da
Aeronáutica. O então 1° Tenente França,
perto do final precoce de sua vida, foi
anistiado e reformado como Coronel
Aviador.

Mas, apesar de tudo, devemos a esse triste
episódio muito da existência da obra que
Oswaldo França Júnior nos legou.
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Os livros deste escritor mineiro tem
inúmeras abordagens, uma delas, que
encontramos nesta obra, diz respeito à
viagem.
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Sob essa perspectiva, podem ser
consideradas: a viagem literária, a viagem
pela memória, a viagem como deslocamento
no tempo e no espaço, a viagem como busca
da identidade, a viagem autobiográfica e
aquela realizada além das fronteiras.
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Todas essas variações são abrigadas pela
viagem literária, que engloba as demais.
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Em Jorge, um brasileiro (1967), há o
deslocamento do protagonista para o
interior do Brasil.
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Na medida em que conta sua história e traz
o carregamento para Belo Horizonte, fica
dividido entre a imagem grotesca e quase
caricatural da amante do patrão:
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“E fui fumando o cigarro da outra testemunha, e
pensando no senhor Mário que àquela hora
devia estar com a loura que se pintava com os
riscos grossos nos olhos, e dormia de boca
aberta”
e aquela de compromisso:
“Dei minha palavra. Dei minha palavra que esse
milho chegaria antes da inauguração”.
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A aventura tem início em Belo Horizonte, quando o
protagonista recebe a missão de buscar oito carretas
carregadas com trinta toneladas de milho.

As carretas estavam em Caratinga e não podiam seguir
viagem porque a chuva havia danificado as estradas, e
havia uma barreira na saída da cidade com policiais
impedindo que os motoristas seguissem viagem.

O prazo para as carretas estarem em Belo Horizonte era
de uma semana.
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Jorge, nosso herói-protagonista, não tinha como recusar
a missão.

Ainda que precisasse enfrentar seu antagonista: a chuva,
e tudo o que ela provocava.

A fim de bem executar sua perigosa jornada, Jorge
começa os preparativos.

Jorge retira o dinheiro necessário do cofre, sob protestos
do contador.
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O contador era um pequeno inimigo de Jorge e, por
interesses próprios, este faz com que Jorge assine um
recibo no qual aparece não só o valor retirado, mas
também uma ressalva de que tal retirada fora feita sem
notificação de seu fim.

Depois, Jorge organiza o serviço na garagem dos
concreteiros, pois não queria problemas enquanto
estivesse ausente.
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Em seguida, antes de ir à rodoviária, vai ao encontro de
Sandra, moça com quem vinha saindo, para romper o
relacionamento.

Ao fazer isso, Jorge corta – ainda que metaforicamente –
ligações com sua cidade natal, pois não quer que nada o
impeça de cumprir sua missão.

No momento da partida, Jorge está determinado,
afirmava para si mesmo que iria trazer os caminhões
para Belo Horizonte no prazo certo, nem que tivesse que
puxar um por um no ombro.
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A primeira etapa da jornada Jorge fez de ônibus, contudo
este sofre um acidente perto de Coronel Fabriciano.

Neste ponto, a narrativa é repleta de lembranças da
Sandra, do senhor Mário, da amante do senhor Mário.

Jorge continua a viagem de trem, vai de Coronel
Fabriciano até Governador Valadares.

Neste trecho, além das lembranças, Jorge faz várias
reflexões.
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
É também nessa segunda etapa, na viagem de trem, que
Jorge vivencia a primeira aventura:

Jorge comanda um comboio de cinco caminhões, que
tem como objetivo levar material para um hotel o qual
está sendo construído bem no meio da ilha do Bananal.

Para chegar a esse hotel, o comboio passa por uma
estrada completamente deserta.

Ao chegarem ao destino, encontram Fefeu, um antigo
companheiro que tinha sido preso por roubo.
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Como uma coisa leva a outra, Fefeu dá início a mais uma
camada narrativa anterior à do episódio do Bananal.

Conversa puxa conversa, e o narrador (Jorge) esclarece
que, na época da construção de Brasília, Fefeu liderou
um lock out (greve) de caminhoneiros para receberem
pagamentos atrasados.

A narrativa retorna ao caso do Bananal e descobre-se
que Fefeu foi preso por ter roubado uma correia de
ventilador para o seu caminhão, que havia quebrado.

Fefeu alega ter sido obrigado a fazer isso.
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O zelador não quis ceder uma correia para Fefeu, que,
inconformado, tentou pegar a força.
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O zelador se irritou e chamou um soldado que prendeu
Fefeu.

Voltamos a narrativa principal e Jorge chega a
Governador Valadares.

Lá, ele procura Altair, antigo companheiro da época em
que havia trabalhado na Rio-Bahia.
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Altair agora é dono de uma próspera oficina, e está
casado e com dois filhos.
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Altair recebe Jorge com bastante empolgação, convida-o
para jantar e dentre conversa vai, conversa vem,
relembram a aventura que vivenciaram juntos na época
da Rio-Bahia, com destaque para as visitas que eles
faziam à casa das prostitutas.

Para essas visitas, eles precisavam de dinheiro, o que faz
Jorge lembrar-se dos lugares em que o pagamento
sempre atrasava.
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A narrativa dá outro salto: a conversa vai para um plano
mais remoto, para o período em que ele havia
trabalhado na Brasília-Acre.
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Lá havia atraso de pagamento, mas a Companhia era
boa, fornecia até óleo e gasolina para os caminhões.

Inclusive, mesmo depois de 46 dias, o senhor Mário
apareceu lá com um caminhão que tinha ido para o
conserto.
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O narrador fala da satisfação que ele tinha em trabalhar
para o senhor Mário, que trazia até presentes — cervejas
e camisas — para os empregados.
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Faz parte desse plano narrativo o acidente com o
Jocimar, que estragou um caminhão.

Depois de transitar pela Brasília-Acre, a narrativa volta
para a Rio-Bahia, com o caso do Altair com a dona Olga.
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O Altair, segundo o narrador, era o maior namorador da
Rio-Bahia, e cismou de ficar com a dona da casa de
prostituição, a dona Olga.
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Quando ele a conquistou, ele é que parecia o dono da
casa: fazia as contas, recebia o dinheiro, organizava tudo.
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Quando o romance com Dona Olga chegou ao fim, a
narração retorna à aventura principal, que se encontra
em Governador Valadares.

Altair consegue para Jorge uma carona num caminhão
que ia para Caratinga, onde estavam as carretas
carregadas de milho.
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Durante a viagem no caminhão, vem novamente a
lembrança dos tempos na Rio-Bahia.
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O narrador conta como ele desmobilizou a equipe ao
final da obra, e como teve duas rodas de um caminhão
roubadas ali mesmo em Governador Valadares.
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Afinal, o dono do posto onde os caminhões deviam estar
sendo vigiados acabou providenciando novas rodas e
pneus para que Jorge pudesse seguir viagem para Belo
Horizonte com seus nove caminhões desmobilizados.

A narrativa regressa à viagem principal e chega a
Caratinga.
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Lá, iniciam-se os preparativos para a luta crucial, que
deve começar.

Os caminhões são vistoriados, os defeitos são reparados.
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Jorge volta a Governador Valadares para ver a
possibilidade de embarcar a mercadoria pela estrada de
ferro, ou seja, de trem.
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Diante da negativa do chefe da estação, Jorge verificou a
viabilidade de passar por uma estrada alternativa, e foi
desaconselhado por uma pessoa que tinha feito o
percurso havia pouco tempo.
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
Mas, teimoso, Jorge resolve ir assim mesmo.

Então, Jorge reúne seu pessoal para dar instruções e
explicar como eles chegariam a Ipatinga.
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O Oliveira manifesta seu medo nesse momento, o
momento do perigo, prefere recuar quando prosseguir é
difícil.

O perigo é real, mas o Oliveira é considerado um fraco,
uma pessoa a quem não se deve dar ouvidos.
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
Na saída do comboio, o herói comete um erro na
passagem de marcha, na presença de um outro
motorista.

Aquilo estraga o dia de Jorge e funciona como um
presságio. Outro presságio foi o quase atropelamento de
uma criança.

O acontecimento enseja o abandono da aventura
principal para o narrador contar o caso de um
atropelamento em que ele havia matado um homem e
fugido em Brasília.
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
Dois erros e uma transgressão na partida da luta maior.

O narrador reflete que uma jornada trabalhosa deve
apresentar as dificuldades logo de início, para não deixar
o empreendedor acomodado:
Tem coisa difícil que você começa, que já no começo dá trabalho,
e você então já começa com disposição para ir até o fim. E tem
coisa difícil que começa sem trabalho, e aí seu corpo se
acostuma, e você fica torcendo para a coisa não apertar, e
quando aperta, você está mole e então reclama. e foi desse
modo naquela estrada depois de Inhapim.
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
As dificuldades começaram então a se apresentar.

A estrada estreita e lamacenta fazia o motorista ter de
descer a todo momento para ver se dava passagem, ou
alguém tinha de ir à frente nas curvas para sinalizar se
algum carro viesse em sentido contrário.

Num determinado local, um carro carregado de carvão
atrapalhava a estrada, com problema no motor de
arranque.

Teve de ser empurrado.
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
Quando havia água na estrada, eles tinham que descer e
marcar o lugar da estrada depois de um exame do local
com os pés.

Já noite, a carreta de Jorge prendeu num barranco, e
tiveram que pernoitar ali.

O dia seguinte quase todo foi gasto com o corte do
barranco para as carretas passarem.

O narrador começa a se preocupar com o cumprimento
do prazo, e admite que a sua procura pode não dar
resultado:
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Olhei para a estrada estreita e enlameada e, e pensei que a gente
tinha levado um dia para passar uma curva, e que faltavam cinco
dias para a tal inauguração, e eu não estava com certeza se
chegaríamos a tempo. E digo que tem hora que dá vontade de
você se convencer que, às vezes, por mais força que você faça, as
coisas podem não acontecer como você quer.

Em seguida um mata-burro exigiu reforço, o caminhão de
Jorge atolou na saída de Bugre, e uma ponte suspeita
deteve o comboio.

Teve de ser feito um desvio por dentro do rio, que não
estava muito cheio.
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Quase dois dias de interrupção. Jorge começa a acreditar
que a missão seria cumprida:
Fiz a conta e faltavam três dias para a data que o senhor Mário
havia marcado para entregar aquele milho. Pensei e achei que a
gente ia chegar no dia certo. Que era até capaz da gente chegar
antes, porque de Ipatinga a Belo Horizonte a estrada era
asfaltada e nova.

Daí a pouco, furou um pneu traseiro da carreta do
Toledo.
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
O Toledo era um tipo mais delicado, meio extravagante,
que usava calças apertadas em cima e boca-de-sino em
baixo, e camisa de manga comprida colorida e botinhas
de salto alto.

Tinha um jeito esquisito de andar, como se estivesse
apagando cigarros com o pé.

De todos, era o que tinha mãos mais finas, e fazia um
esforço tremendo para trocar o pneu da carreta.
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
As mãos finas do Toledo remetem o narrador novamente
à pedreira em Brasília, onde ele havia atropelado o
homem.

Segundo o sócio do senhor Mário, candidato a
trabalhador de pedreira não pode ter mãos finas, porque
pau-de-arara de mãos finas era cantador ou ladrão.

Tornando à aventura principal, Jorge reflete que daqueles
motoristas ali com as carretas, o de mão mais delicada
era o melhor deles. E isso era engraçado.
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
Chegando a Ipatinga, Jorge tenta usar um estratagema
para passar na barreira, que estava com a guarda
abaixada e dois policiais tomando conta com ordem para
não deixar ninguém passar sem autorização.

Jorge tenta convencer um dos guardas de que as oito
carretas continham material para ser entregue no
acampamento da Companhia que estava consertando as
estrada.

Em vão.
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
Jorge tenta intimidar o guarda ameaçando passar a força,
mas este reage puxando a arma.

Jorge volta a Ipatinga para tentar conseguir uma ordem
com o delegado, que ele conhecia da outra vez que
estivera lá, quando o ônibus batera num caminhão.

Não consegue nada, e resolvem tentar outro caminho.

Volta a assaltar Jorge a preocupação com o cumprimento
de sua missão:
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E faltavam três dias para a data que o senhor Mário tinha falado
como sendo o limite para entregar aquele milho, e fiquei com
medo de não dar. E a distância era pouca, um quase nada.

Saindo de Timóteo, o carro do Fábio fica sem óleo de
freio.

Eles têm que consertar e arranjar um pouco de óleo de
cada uma das outras carretas para abastecer a que ficara
sem.

Mais adiante, aparece uma ponte com desnível em
relação à estrada, nova parada para reparos.
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
Mais paradas para consertar um radiador e um semieixo.
E o herói começa a esmorecer diante dos perigos da
jornada:
Saí fazendo as contas na cabeça de quanto a gente ainda poderia
demorar. E havia trechos em que não estávamos indo nem a
dois, três quilômetros por hora. Era aquela vagareza, passando
devagar nas curvas, devagar nas subidas, nas descidas. E
parando. E vendo se as rodas iam atolar naquela lama que
aparecia na frente. E medindo o tamanho do buraco que a água
estava encobrindo. (...) E ficando com aquele medo nas horas em
que sentíamos os pneus derrapando.
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
O inimigo é associado às trevas, ao inverno, à confusão, à
desordem; o inimigo é a chuva, que deforma o mundo e
barra os movimentos do herói.

Mas ele vai em frente, até chegar a Dionísio, onde uma
ponte danificada segurou irremediavelmente o grupo,
enquanto os homens da prefeitura tentavam consertá-la.

No momento em que a missão está definitivamente
comprometida, ocorre o idílio, o divertimento do herói
com a donzela que ele encontra no bar de beira de
estrada, que se oferece a ele.
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
A sedução da moça faz o herói esquecer seu fracasso,
prendendo-o ao local de obstáculo intransponível.

E o herói esqueceu que havia uma ponte que devia ser
consertada para seu grupo passar. O prazo já estava
vencido:
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No dia seguinte, quando olhei a ponte e vi que não ia dar para
ficar pronta, e o “mestre” me perguntou qual era mesmo o peso
que a gente levava, eu disse, e falei que ali nunca tinha passado
carro com um peso daqueles. E não liguei de não dar para passar
naquele dia. E aquilo era coisa que eu nem sabia como era. Já
estávamos atrasados cinco dias, e o “mestre” falou que naquele
dia não ia dar, e eu nem com raiva fiquei.

No dia seguinte, a ponte ficou pronta, e o herói se
despediu da donzela, com muitas promessas de que ia
voltar para vê-la.
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
E, após alguns atoleiros, o grupo chega a São Domingos
do Prata.

O protagonista se conforma com a ideia de que não
conseguiu cumprir a missão, que seu ato de heroísmo
era impossível. E assume sua condição humana, o real
está ali:
E íamos devagar e já estávamos atrasados seis dias. E não havia
outro meio de ir. E não senti mais raiva disso. E sabia que se
fosse possível, iríamos chegar em Belo Horizonte com as oito
carretas. E isso me pareceu que bastava.
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
A entrada triunfal da comitiva na avenida Antônio Carlos,
em Belo Horizonte, mais de nove horas da noite, é uma
espécie de exaltação do herói, que não cumpriu um
desígnio superior e impossível, mas que, assumindo sua
condição humana, consegue terminar vivo sua grande
luta.

O não cumprimento da missão
transformarem-se em seu retorno.
faz
as
coisas
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
O chuveiro estava estragado. A cama onde ele sempre
dormia tinha sido interditada verbalmente pelo senhor
Mário.

Transgredindo a ordem, ele dorme nela assim mesmo. A
chave da Kombi, o vigia a entrega a ele dizendo que não
podia entregar, por ordem do senhor Mário.

Até o contador, criatura insignificante, havia-se
magnificado para cobrar dele notas e acerto de contas.
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
Aí começa a se efetivar a libertação do herói, que já se
havia delineado nas pequenas transgressões anteriores,
da cama, do chuveiro e da Kombi.

Ele agride o contador, e o joga contra a porta da sala do
senhor Mário, que estava vazia, e aquele pedaço de
merda quebra a porta de entrada do espaço da
dominação.

O pedaço de merda é o homem que toma conta do
patrimônio do patrão.

O supremo gesto de libertação é a conquista da rainha.
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
Jorge se dirige à casa do senhor Mário, para esclarecer
tudo definitivamente.

O patrão não se encontra lá; apenas sua mulher, dona
Helena.

A confirmar a ruptura ocorre a sedução da consorte do
dominador:
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O cabelo dela brilhava ali perto do meu rosto, naquela sombra da
sala, e eu olhei e vi sua boca, e era uma boca que parecia que
tinha bebido água. E tornei a apertá-la, e enfiei minha língua lá
dentro de sua boca, e digo que nunca beijei uma mulher como
aquela.

O ato final do herói foi sair dali, dirigir-se à garagem dos
concreteiros, pegar suas coisas, colocar dentro de suas
duas bolsas, e abandonar o local.

Definitivamente?
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
Uma das características da narrativa oral é a
possibilidade de se fazer a pergunta: o que aconteceu
depois?

Pode-se imaginar então que há um Jorge em um ponto
qualquer a recontar sua história, ou a inventar alguma,
ou a reproduzir outra que ouviu de alguém.
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
Foco narrativo

Narrado em 1ª pessoa.

O narrador se dirige ao leitor, como ouvinte.
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
Espaço

Principal: Belo Horizonte, pois a personagem
sai de BH com destino a Caratinga e retorna
a BH.

Secundária: Todos os lugares por onde Jorge
conta já ter passado. Lugares presentes nas
histórias secundárias.
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
Tempo

A narrativa se desenvolve no período de
aproximadamente 15 dias.

O tempo, contudo, que o autor enfatiza,
retrata a década de 1960, período de
inauguração de Brasília; bem como o Golpe
Militar, de 1964, e o AI-5, de 1968.

O tempo retratado pelo autor aparece na
obra através de algumas metáforas, de
algumas situações que Jorge vivencia.
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
Estrutura

A história vai do começo ao fim de uma vez
só.

Não há capítulos.

O narrador “fala” com o leitor, que “ouve”.
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
Estrutura

A narrativa diversas vezes é interrompida
para que Jorge conte outra história que, por
meio de algo dito na atual, o fez lembrar.
Depois, contudo, ele retoma a narrativa
principal.

O romance não tem um encerramento
pontual, fica por conta do leitor.
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
Linguagem

Por se tratar de um relato oral, temos forte
presença da linguagem coloquial.

Há grande presença de períodos compostos,
formados por frases bastante longas e com o
uso exagerado de conjunções, que muitas
vezes são iguais.

Há vários desvios na norma culta, pois se
tem o retrato da oralidade.
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
Personagens

Jorge: narrador-personagem, que resgata
várias vivências de sua vida. É consciente de
sua função de caminhoneiro, representa o
brasileiro trabalhador.
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