Saúde na conjuntura atual Maria de Fátima Siliansky de Andreazzi CEBES-RJ, Agosto de 2015 Frente: como surgiu, objetivos • Crescimento após 2010 • Articulação inicial: em torno da ADIn que questiona as Organizações Sociais • Defesa direito constitucional a saúde e do sistema público, estatal, gratuito e de qualidade • Caráter suprapartidário, articulação de organizações da sociedade civil, movimentos sociais, grupos de pesquisa, indivíduos. • Funciona por consenso • V Seminários Nacionais Privatização da saúde • Multifacetado • Ao lado do crescimento apoiado pelo estado, de planos privados de saúde • O SUS ampliava sua histórica parceria com o setor privado na prestação de serviços com a privatização da gestão de unidades e programas através dos chamados “novos modelos de gestão”: Fundações de direito privado, EBSERH, Organizações Sociais Novos modelos criados pelo estado seriam privatização? • Para responder – Caracterizar a crise estrutural do capital na contemporaneidade, dentro de um contexto internacional e nacional e seus impactos sobre os sistemas de saúde universais. Duas grandes explicações para a crise • Financeira – solução controle do capital financeiro, investimentos produtivos ▫ Crítica: dividir burguesia em frações financeira e industrial de serviços com interesses divergentes. Deposita confiança em mudanças de perspectiva das chamadas “elites” (que devem ser convencidas, etc) • Estrutural – tendência decrescente da taxa de juros – desvio financeiro como consequência (crise de realização), políticas anticíclicas não fazem mais efeito mas dívida pública importante locus de especulação. ▫ Contradição política: grande burguesia financeira X demais classes; nações oprimidas X nações opressoras Superexploração dos trabalhadores e das nações oprimidas (semicolônias) através dos mecanismos do comércio desigual, da dívida pública e da precarização do trabalho assalariado e manutenção do trabalho pré-capitalista (acumulação por espoliação) Solução passa pelas massas – povos, trabalhadores Importância da indústria de bens • Inovações – produtividade decrescente • Grandes empresas • Concentração – 15 multinacionais dominavam a indústria em 2004 • Harvey (2004) – Atividades de P e D concentradas nos EUA –superproteção as patentes. Nova onda de inovação em como principais candidatos a biotecnologia e a tecnologia médica. Anos 1990 e 2000 – constituição do grande capital nos serviços de saúde • Superprodução industrial – medicamentos e equipamentos • Mudanças tecnológicas na área de serviços tecnologias de automatização, informação e comunicação: ▫ Concentração de capital nos laboratórios de análises clínicas ▫ Concentração de capital como cadeias de hospitais ▫ Logística de serviços como área de expansão de capital ▫ Expansão do managed care. 100 largest corporations in revenues (2004) • • • • 1 Wal-Mart stores 5 General Electric 7 Conoco Philips 17 Cardinal Health • 25 Pfizer US 258 billion US 134 billion US 99 billion US 56 billion US 46 billion • Source: Global Policy Forum 2008 – após crise financeira • Ranking diferente aumentando a participação de seguradoras de saúde, mantem-se indústrias com linhas de equipamentos biomédicos de alta complexidade e Cardinal. • 1 Wal-Mart Stores US 378 billion • 7 ING Group US 201 billion • 10 Conoco Philips US 178 billion • 12 General Electric US 176 billion • 14 AXA US 162 billion • 22 Allianz US 140 billion • 35 American International Group US 110 billon • 79 Procter and Gamble US 76 billion Evolução temporal do complexo médico-industrial (anos 90-) • Concentração nos seguros – • Concentração nos serviços – redes de hospitais, laboratórios e clínicas de Imagem; redes de comercialização de medicamentos (farmácias) • Internacionalização das empresas de serviços • United Health Group – atuava em 40 países • Consequências: ▫ Katz – “aumento da pugna distributiva” ▫ Marx – concentração do capital industrial e do capital comercial – briga pela parcela da mais-valia “Inovações” derivadas da nova pugna • Indústria – se desloca em direção ao serviço – maior estabilidade e controle da demanda ▫ Hemodiálise (Frensenius), PBM, empresas de diseasemanagement (Eli-Lilly - diabetes) • Seguro – se descola em direção ao serviço para controlar e estabilizar custos – verticalização, rede própria • Serviço – se desloca em direção ao seguro para garantir demanda – planos próprios de hospitais (Assim) • Capital financeiro– Aceleração da sua expansão do capital financeiro para todos os ramos da produção e direitos de propriedade cruzados (Conglomerados) Papel dos organismos financeiros internacionais especialmente do Banco Mundial • Organizar do ponto de vista econômico, político e ideológico a espoliação das semicolônias – mecanismo da dívida • Fomentar e abrir caminhos para os mercados – privatizações sob o argumento do mercado melhor alocador de recursos e competição para melhor eficiência e qualidade; soberania do consumidor • REFORMA DO ESTADO – ajuste fiscal permanente (dívida pública como instrumento de especulação, abrir espaço par ao mercado através da privatização - gerencialismo) Projeto para saúde do Banco Mundial (1987, 1993, 1995) • • • • Co – pagamentos no setor público Focalização – pacote básico (custo-efetividade) Crescimento dos seguros privados de saúde Descentralização (desresponsabilização, facilitador dos pontos acima colocados) • Neo desenvolvimentismo – cresceu orçamento público para fomento do setor privado Projeto do Banco Mundial foi implantado no Brasil? • • • • • Subfinanciamento? Focalização´? Crescimento dos seguros privados de saúde? Descentralização? Co pagamentos? Como novos modelos de gestão se adequam ao projeto BM? • Econômico – ▫ Permitem o co pagamento, dupla porta de entrada, as unidades públicas empresariais, o plano de negócios além de fomentar os seguros privados em locais onde o mercado é pequeno por problemas de escala dos serviços mais complexos. ▫ Facilitam o ajuste fiscal – flexibilidade ▫ Permitem a financeirização ▫ Contrarestam a crise de superprodução - Facilitam a penetração de empresas, inclusive de capital estrangeiro (quarterização) • Político –exacerbam o deficit democrático: nepotismo, clientelismo, coronelismo, corrupção (neopatrimonialismo) Lutas e resistências na conjuntura atual. • Reforma sanitária – virtuosa combinação da formulação acadêmica com o movimento social vivo. • Questões pós Constituição ▫ Hipertrofia do trabalho institucional na gestão do SUS X redução da politização da saúde ▫ Privilegiamento do controle social como espaço fundamentalmente de consensos ▫ Adaptação as políticas de ajuste ▫ Despolitização da gestão ▫ Perda do caminho (programa máximo) – transição para socialismo Propostas da Frente - Defesa incondicional do SUS público, 100% estatal, universal, de qualidade e sob a gestão direta do Estado e contra todas as formas de privatização e parcerias público-privadas; - Alcançar um mínimo de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Saúde, garantindo o investimento público e o financiamento exclusivo da rede pública estatal de serviços de saúde, cumprindo o aprovado pela 14ª Conferência Nacional de Saúde; - Pela eliminação do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal para despesa com pessoal na Saúde e aprovação do PLC nº 251/2005, que aumenta o gasto com pessoal para até 75% dos recursos financeiros destinados à saúde (aumentando teto da Lei de Responsabilidade Fiscal); - Pelo fim da Desvinculação das Receitas da União e dos Estados (DRU e DRE); - Eliminação de todos os chamados “novos” Modelos de Gestão e pela revogação das Leis (federais, estaduais e municipais, conforme a situação) que deram origem às Organizações Sociais, às Fundações Estatais de Direito Privado, à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares e suas subsidiarias e aquelas que permitem e/ou preveem as Parcerias Público-Privadas; - Extinção dos subsídios públicos aos Planos Privados de Saúde; -- -Pela implantação do Plano de Carreira Nacional do SUS para os servidores das três esferas de governo, com isonomia de vencimentos e estabilidade no trabalho, com base no regime estatutário (RJU). - Mudança do modelo “médico assistencial privatista” centrado no atendimento individual e curativo, subordinado aos interesses lucrativos da indústria de medicamentos e equipamentos biomédicos; - Defesa da integralidade da assistência à saúde, através do fortalecimento da atenção básica com retaguarda na média e alta complexidade; - Apoio aos laboratórios estatais para pesquisa básica e produção de medicamentos; - Assistência farmacêutica plena com responsabilidade das três esferas de governo, estruturada nos três níveis da rede pública de acordo com a competência de cada um dos entes federados, atendendo em todos os níveis de atenção à saúde com profissionais treinados e qualificados para tal fim. O Programa “Farmácia Popular e Saúde não tem Preço” deve ter suas ações e recursos financeiros destinados à estruturação da assistência farmacêutica e da rede pública; - Contra o uso dos agrotóxicos em consonância com a defesa da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, assim como pela preservação e uso racional dos recursos provenientes da natureza e contra toda e qualquer forma de intervenção que agrida o meio ambiente, especialmente aquelas que perpetuam as desigualdades nos espaços urbanos e rurais e que atentam contra a saúde e a dignidade humana em seus aspectos sociais e culturais; - Defesa da Seguridade Social, possibilitando políticas sociais intersetoriais que assegurem os direitos relativos à Saúde, Previdência, Assistência Social, Educação, Trabalho e Moradia; - Desafios na interpretação da crise e suas alternativas • Estado de bem estar social no Brasil (nas semicolônias)? • Descentralização e controle social sem efetiva democratização da sociedade (terra, grande capital, informalidade, extrema desigualdade social) tem significado reforço do coronelismo no campo e das formas de controle de populações pobres nas cidades?