CASO CLÍNICO – GEMECS Lucila Parente e Paulo Roberto Id: N.L.A, masculino, 42anos, fotocopiador, em união estável, natural de Icó, procedente de Fortaleza. Q.P : “feridas na boca”, dores no corpo , lesões nos olhos e fraqueza. HDA: paciente relata ser hígido até que, ha mais de um ano, começou a apresentar dor em todo o dorso , que não sabe caracterizar , e que melhorava com o uso de AINE. Cerca de um mês após o início do quadro, procurou um ortopedista que solicitou radiografias e exames, que deram bico de pato, escoliose e anemia. Foi encaminhado para um clínico que prescreveu sulfato ferroso e pediu para retornar em 6 meses. No retorno, apresentou exames com problemas no fígado e foi encaminhado a um hepatologista, que realizou exames e constatou função renal alterada. Foi encaminhado a um nefrologista que indicou a realização de diálise por uma IRC HDA: Foi feita US abdominal de vias urinárias antes da primeira seção. Relata também que há cerca de 6 meses começou a apresentar lesões ao redor dos olhos, que não doem mas coçam um pouco. Utilizou um medicamento homeopático que não sabe especificar, que piorou a coceira e passou a ter secreção nos olhos. Há cerca de 1 mês, passou a apresentar aftas em língua e boca que não cicatrizavam e, há aproximadamente 3 semanas, evoluiu para lesões periorais. Relata que apresenta dor em cintura escapular e pélvica há mais de um ano, em articulações, e fraqueza proximal que migrou para cima. Atualmente não consegue realizar ações básicas (pentear o cabelo, se vestir, se alimentar),necessitando de auxílio. HDA: Formigamento e dormência em mãos e pés. Auxílio para se levantar. Consegue deambular, mesmo lentamente. Dor em articulação piora com o movimento e é mais forte a noite. Nega febre, náuseas, vômitos e tosse,nesse período. HPP: refere-se que já teve sarampo, caxumba e catapora. Relata cirurgia há 8 anos por fratura no braço. Relata alergia a camarão. Nega DM, HAS, tireoidopatias, cardiopatias e asma. Hábitos: ex-tabagista,fumou dos 15 aos 17 anos, cerca de meia carteira por dia. Ex- etilista(17-42anos) socialmente. Nega uso de outras drogas. HPS: casa de alvenaria, água e esgoto encanado, não cria animais,calendário vacinal desatualizado, esposa mantém um salão de beleza em casa com uso de compostos químicos fortes. HF: Mãe viva,85anos, HAS Pai faleceu aos 85 anos por DA + falência múltipla dos órgãos. Filho teve leucemia com 2 anos causado por veneno para inseto,mas foi curado. Irmã tem HAS. História familiar de constipação intestinal. IOA: -geral: relata astenia,adinamia,fadiga. Relata perda de peso de 14kg nos últimos 8 meses(passou de 94kg para 78kg em 6 meses) -cabeça e pescoço: NDN -neurológico: relata fraqueza e insônia -cardiovascular, respiratório e genito-urinário: NDN IOA: -gastrointestinal : relata dificuldade de se alimentar por dor em úlceras orais , nega disfagia , pirose, epigastralgia . Relata constipação de 10 dias, necessitando de medicamento para evacuar ,há 3 meses. -osteoarticular e muscular: fraqueza , dor em articulações , as metacarpofalangeanas , edema em joelho e tornozelo há cerca de 4 meses. -hemato-infeccioso : presença de ulcerações em boca com odor fétido , sugestivo de infecção secundária Exame físico : Presença de lesões verrucosas peri-orbital e de lesões com crostas hemáticas com sinais de infecção secundária em comissura labial. Odor fétido provindo da boca. AC: RCR,2T,BNF,sem sopros. FC: 117bpm AP:MVU+, sem RA. PA: 130x85mmhg Abdome : plano, flácido, timpânico, traube livre, indolor a palpação. Neurológico: tônus muscular normal, trofismo diminuído em braço,pares cranianos normais. Exames complementares: US de abdome: sem alteração evidente. US de aparelho urinário: alteração leve de ecotextura de parênquima. Gasometria art: ph: 7,407; pcO2: 37,2; pO2: 63,1; SO2 : 91,8 ; HCO3- :22,9 lact:1,7 Exames Complementares: Biópsia de pálpebra: secção de pele com discreta acantose e discreta hiperceratose, na derme superficial há discreta exsudação linfohistocitária perivascular. Osteopenia do colo do fêmur. US vias urinárias: rins de tamanho normal,mas com alterações da ecogenicidade ,sugestivo de doença parenquimatosa; presença de coleção em iliopsoa,com conteúdo líquido e com séptos,visto em região inguinal esquerda,não doloroso a compressão; presença de coleção em musculatura do iliopsoas a direita, de menor tamanho que o esquerdo, laminar e dolorosa a compressão profunda HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS? SARCOIDOSE DEFINIÇÃO “Sarcoidose é uma doença granulomatosa multisistêmica caracterizada pela presença de granulomas não caseosos nos órgãos envolvidos.” “A Sarcoidose é uma doença sistêmica crônica que se caracteriza pelo acúmulo de linfócitos e fagócitos mononucleares em determinados órgãos, de maneira a formar granulomas não-caseosos que causam desarranjos em suas estruturas teciduais. EPIDEMIOLOGIA 64/100.000 em países desenvolvidos Negros possuem evolução mais grave da doença, com comprometimento músculoesquelético, hepático, de medula óssea, uveíte crônica e lesões cutêneas. Afeta adultos jovens preferencialmente na faixa etária dos 25 aos 40 anos, sendo rara na infância. Mulheres são um pouco mais acometidas na proporção de 1,2 para 1. ETIOLOGIA PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA AGENTES AMBIENTAIS AGENTES INFECCIOSOS ALELOS DE HLA CLASSE II BERÍLIO, ZIRCÔNIO E ALUMINIO Rhodococcus equi SUSCEPTIBILIDADE E PROTEÇÃO POEIRAS ORGÂNICAS E INORGÂNICAS Mycobacterium tuberculosis PROFISSIONAIS DA SAÚDE, FOTOCOPIADORES, MECÂNICOS. Nocardia LINHAGENS DE VÍRUS E FUNGOS PATOLOGIA O granuloma sarcoídeo é granuloma imunológico, constituído pelo arranjo concêntrico de células epitelióides. Os granulomas compostos por histiócitos de citoplasma amplo e eosinofílico, núcleo vesiculoso de aspecto oval ou torcido e nucléolo proeminente Os granulomas são envolvidos por fibras de colágeno, possuem células de Laghans e corpúsculos asteróides IMUNOLOGIA A reação consiste fundamentalmente na interação entre macrófagos e linfócitos T/CD4. MONÓCITO MACRÓFAGO (SANGUE) (TECIDO) AÇÃO DE MACROFÁGOS SOBRE ANTÍGENO SUBSTÂNICA ANTIGÊNICA APRESENTADA AO TCD4 COM O INTERNALIZADA MHC II CONTINUAÇÃO DE ESTIMULO ANTIGENICO RECRUTAMENTO DE MAIS CÉLILAS MONONUCLEADAS INFLAMATÓRIAS LIBERAÇÃO DE CITOCINAS (IL-2,INF GAMA, TNF ALFA) FORMAÇÃO DE GRANULOMA IL-2, INF-γ, TNF-α, IL-12, IL-15, IL-18, que favorecem a compartimentalização das células inflamatórias, culminando na formação do granuloma propriamente dito. TIPOS DE APRESENTAÇÃO ASSINTOMÁTICA DESCOBERTO EM EXAME DE ROTINA COMO RAIO X DE TORÁX ADENOPATIA HILAR BILATERAL SIMÉTRICA COM OU SEM INFILTRADO PULMONAR AGUDA CRÔNICA FEBRE, ASTENIA, ANOREXIA QUEIXAS RESPIRATÓRIAS TOSSE E DISPNÉIA SEM SINTOMAS GERAIS SISTÊMICOS LESÃO SÉRIA DE ORGÃOS AFETADOS MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS Sintomas dependem dos órgãos acometidos pela doença: Pulmão Olhos Pele e músculo tosse seca, dispnéia, dor torácica dor ocular, distúrbios da visão dores articulares, mialgias Sintomas neurológicos e cardíacos são raros e, se existentes, prenunciam doença grave. Síndrome de Löfgren Febre + irite + adenomegalia hilar bilateral + eritema nodoso Associada a curso benigno da doença, com resolução espontânea em 90% dos casos MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS O quadro radiológico pulmonar é classificado em cinco estádios: 0- normal; I- adenopatia hilar bilateral II- adenopatia hilar bilateral associada a infiltrado pulmonar; III- infiltrado pulmonar sem adenopatia; IV- fibrose pulmonar. Os estádios não são necessariamente cronológicos. MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS A tomografia computadorizada do tórax é superior à radiografia para demonstrar adenomegalias mediastinais e o envolvimento do parênquima pulmonar MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS A doença cutânea ocorre em percentual que varia de 20 a 35% dos casos, possibilitando o diagnóstico precoce pela facilidade de realização da biópsia para o exame histopatológico. O quadro de lesão eritematosa, infiltrada, centrofacial é denominado lúpus pérnio, de difícil tratamento e que pode levar a quadros desfigurantes A sarcoidose cutânea pode apresentar-se sob inúmeras formas: lesões máculopapulosas, nodulares, em placas, eritêmatoacastanhadas, única ou múltiplas A infiltração das cicatrizes e tatuagens por granulomas epitelióides pode ocorrer como manifesta- ção inicial da sarcoidose ou associada a doença sistê- mica preexistente O eritema nodoso é manifestação inespecífica da doença, pois não se observa o granuloma epitelióide histopatologicamente. Outras manifestações inespecíficas são o eritema polimorfo, o prurigo e as calcificações DIAGNÓSTICO Devido à diversidade do quadro clínico, o diagnóstico de sarcoidose deve ser consolidado após a exclusão de outras possíveis doenças, principalmente as de origem infecciosa. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL PARA SACOIDOSE CUTÂNEA ACHADO HISTOLÓGICO DE GRANULOMA NÃO CASEOSO Hanseníase DIAGNÓSTICO Lúpus vulgar Micoses profundas QUADRO RADIOLÓGICO COMPATÍVEL QUADRO CLINICO COMPATÍVEL Sífilis Granulomas de corpo estranho Infiltrações linfocitárias. DIAGNÓSTICO Teste de KveimSiltzbach Consiste na inoculação intradérmica no paciente suspeito de homogeinizado das células do baço, fígado ou linfonodos, extraídas de paciente com sarcoidose. Observam-se, tardiamente (quatro semanas), ao exame histológico do local da inoculação, os granulomas epitelióides. Trata-se de teste clássico, porém de uso restrito, pois, embora ainda possa ser usado, o antígeno não é comercialmente disponível, e poucos centros ainda estão engajados em sua produção e validação Há a possibilidade de falsopositivos entre os doentes com hanseníase tuberculóide, tuberculose, doença de Crohn, retocolite ulcerativa, linfomas e artrite reumatóide. DIAGNÓSTICO TOMOGRAFIA COMPUTADO RIZADA • SARCOIDOSE PULMONAR RESSONÂNICI A MAGNÉTICA CINTILOGRAFIA COM GÁLIO • ACOMETIMENTO NEUROLÓGICO, MUSCULAR, VISCERAL E DE GLÂNDULAS LACRIMAIS • SARCOIDOSE CARDÍACA RELAÇÃO COM OUTRAS ENFERMIDADES A sarcoidose é freqüentemente associada a doenças auto-imunes: Especialmente o lúpus eritematoso e a esclerose sistêmica Dermatomiosite Síndrome de sobreposição esclerose sistêmica-polimiosite Hepatite auto-imune Síndrome de Sjögren Doença celíaca Doença de Addison Síndrome poliglandular Tireoidite Doença de Graves Diabetes mellitus insulinodependente Vitiligo Trombocitopenia. É crescente o número de relatos de casos da sarcoidose desenvolvendo-se após tratamento com interferon alfa nos casos de hepatite C, mas também seguindo-se o tratamento de neoplasias TRATAMENTO EXTENSÃO CORTICÓIDES SÃO A PRIMEIRA OPÇÃO DE TRATAMENTO GRAVIDADE DEVE-SE CONSIDERAR PARA O TTT SINTOMAS POSSIBILIDADE DE PROGRESSÃO DA DOENÇA ÓRGÃOS ACOMETIDOS AINES / CLOROQUINA/ CICLOSPORINA (IMUNOSSUPRESOR / INFLIXIMABE TRATAMENTO Sarcoidose cardíaca Sarcoidose neurológica Ocular não responsiva à terapia tópica Hipercalcemia maligna TERAPÊUTICA SISTÊMICA Sarcoidose pulmonar estádio II ou III A análise sistemática do uso de corticoesteróides (orais ou inalatórios) na sarcoidose pulmonar revelou que há melhora radiológica nos estádios II e III após período que varia de seis a 24 semanas de tratamento, com discreta melhora na função pulmonar. Embora haja benefício a curto prazo, é questionável se os corticoesteróides alteram a progressão da doença pulmonar. TRATAMENTO TRATAMENTO PROGNÓSTICO A evolução da sarcoidose varia de acordo com a duração da doença, sua gravidade e os órgãos envolvidos. Duração da doença 1a2 anos 3a5 anos 60% dos casos associados a depressão A síndrome de Löfgren, idade inferior a 40 anos e o estádio I ou II da sarcoidose pulmonar A raça negra, o número elevado de órgãos acometidos, o estádio III da sarcoidose pulmonar e o lúpus pérnio QUESTÕES (Secretaria de Estado da Saúde - ES (SESA/ES) 2013) Com relação à sarcoidose, assinale a opção correta. A. A presença de eritema nodoso descarta o diagnóstico de sarcoidose. B. É doença sistêmica que não cursa com manifestação osteoarticular. C. É doença que pode cursar com manifestação articular inflamatória de joelhos e tornozelos. D. Adenopatia hilar bilateral é achado improvável na sarcoidose. E. A presença de uveíte descarta o diagnóstico de sarcoidose. QUESTÕES (Cbmerj – 2008 / Residência para médico broncoscopista) No uso clínico do lavado broncoalveolar (LBA) pode-se afirmar que: A) na sarcoidose é predominantemente linfocítico com relação CD4:CD8 normal ou diminuída. B) na Fibrose Pulmonar Idiopática é predominantemente linfocítico com relação CD4:CD8 elevada. C) isoladamente tem papel diagnóstico definitivo na Fibrose Pulmonar Idiopática. D) achado de 5% ou mais de células de Langhans permite o diagnóstico de Granuloma Eosinofílico. E) isoladamente não permite avaliação prognóstica e terapêutica na Sarcoidose. QUESTÕES (SECRETARIA DE SAÚDE DE PERNAMBUCO PROCESSO SELETIVO À RESIDÊNCIA MÉDICA) Todas abaixo são manifestações extrapulmonares da sarcoidose, EXCETO: A) eritema nodoso. B) poliartrite. C) hipocalcemia. D) linfadenopatia hilar. E) fadiga Há hipercalcemia, devido a produção de 1,25diidroxivitamina D produzido pelos granuloma sarcosídeo, gerando vasoconstrição nos rins e insuficiência renal. OUTROS RELATOS DE CASO http://sbpt.org.br/sarcoidose-marco-2014-13721372/ http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0365-05962002000600011&script=sci_arttext REFERÊNCIAS http://www.medicinaclinica.ufc.br/index.php/casos-clinicos/43-caso-clinico-1008.html http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-37132008000900013&script=sci_arttext http://www.jornaldepneumologia.com.br/PDF/Suple_209_71_completo_SUPL02_JBP_20 12_.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962007000600010 CASO CLÍNICO – GEMECS Lucila Parente e Paulo Roberto