Pós Graduação UFF : Educação Especial e Inclusiva. Altas Habilidades/Superdotação e Surdez: nova área de investigação Aluna: Nívea Maria Ximenes de Matos Prof.: Dra.Cristina Maria Carvalho Delou Interprete: Francis e Rodrigo Ao longo do tempo nos acostumamos a estudar as altas habilidades/superdotação sem a associação com a deficiência. Ao mesmo tempo, os estudos sobre os mais diferentes tipos de deficiências não incluem as questões relacionadas às características de altas habilidades/superdotação que este público da Educação Especial possa apresentar. Exceto no caso da deficiência intelectual, que está localizada no lado oposto ao da superdotação na curva de distribuição normal da inteligência, todas as pessoas que apresentem algum tipo de deficiência sensorial, física ou múltipla podem apresentar concomitantemente altas habilidades/superdotação. Ninguém coloca em dúvida o talento de Beethoven. Ouvinte de nascimento, Beethoven é considerado um compositor de grande respeito e dos mais influentes em todos os tempos. Aos 46 anos de idade (1816), estava praticamente surdo, mas nem assim deixou de produzir uma obra excepcional. Esta pesquisa trás o relato de dois estudos de caso, envolvendo pessoas surdas identificadas com altas habilidades/superdotação. Trata-se de um menino com Surdez bilateral profunda associada a um quadro de Autismo e Superdotação e uma mulher surda também identifica com altas habilidades/superdotação. O primeiro caso ainda encontra-se em fase de investigação. Matriculado para um programa bilíngue, na ARPEF, o menino começou a apresentar mudanças comportamentais significativas, como: ausência do contato visual, olhar distante com movimentos estereotipados, ou seja, sintomas próprios do autismo. Contudo, quando a mãe o ensinava a ler aos 7 anos, ela descobriu que ele já lia palavras isoladas. Sua memória é especial. Ele sempre estudou em escolas regulares, com turmas pequenas e com muito apoio dos profissionais. João Finamore possui um diagnóstico de Surdez bilateral profunda associada a um quadro de Autismo e Superdotação. João chegou a ARPEF (Associação de Reabilitação e Pesquisas Fonoaudiologia) Foi inserido no programa de reabilitação bilíngue no ano 2000. Iniciou a comunicação nas duas línguas. A interação sempre foi realizada através das duas línguas a língua portuguesa escrita e língua de sinais. Deste pequeno começou a apresentar mudanças comportamentais significativas, como: se isolar do mundo que acerca, ausência do contato visual, olhar distante e com movimentos estereotipados, ou seja, sintomas próprios do autismo. Em 2010 iniciamos com uma nova proposta linguística para João. O objetivo principal era realizar um trabalho dinâmico através de LIBRAS que viesse a favorecer a comunicação entre pares, dando significação e sentido por meio da língua de sinais, substituindo a datilologia que era usada como sua única forma de comunicação. João é atendido por uma Surda nativa na Língua de Sinais e uma fonoaudióloga proficiente nesta língua. Esta proposta em trio tem como objetivo a circulação de língua da forma mais natural possível. Durante este tempo, João mostrou evolução e diminuiu as estereotipias e as ecolalias (LS), já respondendo à historia e a algumas perguntas objetivas. Algumas características que mostra João fazer parte do quadro de superdotação: •Tem uma memória muito especial. Sempre se lembra de onde guardou as coisas, sempre acha muito rápido o que procura nos livros e dicionários. •Com 7 anos (época em que estávamos ensinando ele a ler) João não tinha um canal de comunicação (não olhava nos olhos das pessoas) o que impossibilitava o aprendizado. • Já sabia ler muitas palavras isoladas. Aprendeu a ler sozinho. •Desde muito pequeno sempre se interessou por revistinha em quadrinhos (gibis) e acho que ele já estava lendo. •Também adora dicionários (de qualquer idioma) e fica manuseando em casa como se estivesse estudando. •Usa o computador com muita facilidade: pesquisa na internet, lê revistinhas, navega por diversos sites, seleciona os sites do seu interesse e me mostra, interage com jogos infantis e outras atividades ligadas ao computador; •Nossa comunicação é através de LIBRAS e escrita. Acho que ele domina o português escrito e sabe palavras isoladas em outros idiomas (por causa do uso de dicionários) •Entende frases do cotidiano, atende aos pedidos que são feitos através da escrita, mas tem muita dificuldade em dar respostas no plano subjetivo. Não sabe responder por quê? Como? O que você gosta? Etc. •Usa para se comunicar a escrita em português em primeiro lugar e a LIBRAS como segunda. •Tem um “banco de dados” na cabeça que pode nos surpreender sempre. Ele não nos permite saber a dimensão do seu conhecimento, mas parece ser bem extenso. O segundo caso, é de uma mulher que revela que duas pessoas disseram que ela seria superdotada. Depois de estudos sobre o assunto, ela revela que possui características comuns às pessoas com altas habilidades/superdotação. Ela diz que se sente diferente e que se destaca em grupos de surdos. Aos 6 anos já sabia ler e escrever e falar e o desenvolvimento cognitivo era de 9 anos segundo avaliação psicológica. Frequentou o ensino regular com ouvintes e o especial com surdos. Foi excelente aluna e atuava como mediadora dos colegas surdos. Sempre teve vontade de aprender, sempre foi curiosa, sempre precisava de mais. É a única doutora na família e atualmente é professora concursada em universidade pública federal. Ana Regina possui um diagnóstico de Surdez bilateral profunda e um quatro característico de Superdotação. Ao nascer, sofreu um traumatismo de parto, demorou dois dias pra nascer. Um ano depois, sua mãe descobriu que era surda, pois era muito esperta, muito atenta. seus pais pensavam que era ouvinte, mas se preocuparam porque não falava nada. Até que a mãe resolveu me levar ao médico, que fez exames e descobriu que era surda. Foi um choque. Isso foi quando tinha 1 ano de idade e a pensar disso se desenvolvi rápido. fez tratamento fonológico, para aprender a ler e escrever e ao mesmo tempo desenvolver a fala. Quando estava no 1º ano, nunca estava em grupos de surdos da mesma idade. sempre estava com surdos mais velhos, sempre a menorzinha da turma. Tinha 6 anos e os outros surdos tinham 11, 12, 13. A na época uma psicóloga fez uma avaliação e chegou a conclusão que apensar de ter 6 anos, mas seu desenvolvimento cognitivo era como se eu tivesse 9. pois já sabia ler, escrever e falar. Resolveram, então, que não podia continuar entre os surdos, e me mudaram para uma escola de ouvintes, ficava nos dois locais, porque queria ficar junto com os surdos, era com quem se identificava. Sempre preferia estar com os surdos a estar com os ouvintes. Na escola inclusiva. Havia surdos e ouvintes, mas entre os surdos, era a melhor. Sempre sabia responder tudo, sempre tirava 10. O professor explicava, e depois ajudava os outros surdos, sempre dava cola pra eles na prova. Segunda coisa: sempre tinha vontade de aprender mais, era curiosa, sempre deve vontade de aprender e não tinha fim, precisava sempre de mais. Quando a discriminavam, mostrava que era igual a eles. nunca aceitava ser considerada menos do que os ouvintes. Então, eles a respeitava e relacionáva bem. Quanto aos surdos, sempre que eles precisavam, ajudava. não era orgulhosa, não era pra mostrar que sabia. Era porque gostava. Mas às vezes, os surdos achavam exibida, mas não era isso, era porque já sabia ler, escrever, se desenvolveu mais rápido do que eles. Os surdos te dificuldade em ler e escrever, não possuíam informações. Então, Ana se apropriava do conhecimento e transmitia a eles. Os surdos também solicitavam isso. Às vezes era fácil, às vezes precisava explicar mais. Por parte dos surdos, não sofreu preconceito. Se os ouvintes tentassem a discriminar, mostrava que era igual a eles. Nunca sentiu inferior. Sempre amou a leitura. É como se os seus olhos procurassem frases o tempo todo, é uma necessidade. Sempre diz que se não existisse mais nada para ler, morreria. Assim, os resultados aqui apresentados mostram que é preciso estudar mais sobre a possibilidade de que alunos surdos possam ser simultaneamente pessoas com altas habilidades/superdotação. Identifica-los pode ajuda-los a alcançar os níveis mais elevados de ensino, contribuindo para que os surdos tenham maior escolaridade no Brasil. Nívea Ximenes .Professora de Libras graduada pela UFSC; .pós graduação em Educação Especial e Inclusiva .Professora de LIBRAS e experiência com crianças especiais na ARPEF [email protected]