Cláudia Cibele Bitdinger Cobalchini
CRP08/07915
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Chamam-se ritos de passagem as cerimônias
que marcam a passagem de um indivíduo ou
grupo de uma fase ou ciclo de vida para
outro. Desde o início dos tempos históricos,
sabe-se que todas as culturas e civilizações
criaram seus próprios ritos de passagem.
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São exemplos de ritos de passagem o
batismo e a primeira comunhão dos católicos
e o bar mitzvah dos judeus. Rituais como
esses ainda são praticados, mas o profundo
sentido iniciático que eles encerram perdeuse quase completamente.
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Esses ritos servem para solenizar certos
momentos da vida humana, como
nascimento, casamento e morte.
A necessidade de estabelecer mecanismos
que ajudem a passagem da infância para a
adolescência, e desta para a idade adulta, é
tão velha quanto a existência do homem na
Terra.
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Provavelmente, porém, sua maior função é
ajudar os jovens a superar a crise psicológica
que freqüentemente acompanha a mudança
de uma idade para outra – da infância para a
adolescência e desta para a idade adulta.
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Culturas de todo o mundo têm adotado, ao
longo dos séculos, aquilo que os
antropólogos chamam de “ritos de
passagem”: rituais que acompanham as
mudanças de lugar, idade, estado e posição
na sociedade, de modo a reduzir as
perturbações nocivas que tais mudanças
podem ocasionar.
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As modernas sociedades não fornecem mais
iniciações existenciais. O contato com a
natureza se dessacralizou, as viagens
transformaram-se em turismo de massa e
perderam suas virtudes transformadoras, as
provas físicas são meramente competitivas e
não mais associadas ao desenvolvimento
espiritual.
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A verdade é que hoje vivemos espremidos
entre o tempo que nos parece passar
depressa demais e um futuro incerto demais.
E só um presente vivido intensamente pode
fazer frente às intermináveis esperas de
quem vive entre a puberdade e o fim da
adolescência, uma faixa etária que pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente vai dos
12 aos 19 anos, embora dê sinais de que se
inicie cada vez mais cedo e se prolongue até
bem mais tarde.
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Sem ritos de passagem, os jovens buscam
substitutivos. Alguns se apegam às tradições
da vida civil, cumprindo à risca os rituais
típicos dos tempos de seus bisavós, tais
como a seqüência noivado – casamento com
o vestuário, a pompa e a circunstância de
outrora.
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Outros tomam o rumo oposto e se arriscam
em manifestações de selvageria,
mergulhando na droga, na delinqüência ou
no fundamentalismo religioso. Há quem fique
nas pequenas transgressões, como dirigir
sem ter carteira de habilitação ou colar nas
provas.
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Mas a atração pelo perigo às vezes ultrapassa
o limite da sensatez, como manter relações
sexuais sem preservativos, arriscando-se a
uma doença sexualmente transmissível ou
uma gravidez precoce.
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Por imprudência, rebeldia ou vontade de ser
adulto antes do tempo, aproximadamente
693.101 adolescentes se tornaram mães no
Brasil, de acordo com dados do Ministério da
Saúde. Na França calcula-se que dez mil
garotas engravidem a cada ano, nos Estados
Unidos o número chega a um milhão.
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Aposta-se no risco, no frenesi de viver. Em
alguns países europeus, jovens da periferia se
reúnem nas noites de sábado e “se divertem”
dirigindo numa rodovia, na contramão,
pisando fundo no acelerador. No Brasil, os
jovens de periferia “surfam” no alto dos
vagões de trem ou na capota dos ônibus. Nos
Estados Unidos, cerca de um milhão de
adolescentes, por ano, vão para a escola
armados.
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Outra vertente é a dos jovens que
concentram suas atenções no próprio corpo:
tatuagens, piercings e outros sinais
exteriores de ser parte de um grupo e de ter
escolhido passar por uma dor iniciática. Mas,
como essas marcas corporais dispensam a
mediação de uma cerimônia e também não
garantem nenhuma transformação interior do
indivíduo, não refletem nada além delas
mesmas.
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São meros adereços, permanecem no
domínio da aparência, ao contrário do que
acontecia há milhares de anos, quando a
necessidade de marcar a pele tinha origem na
submissão aos deuses, na resistência aos
maus espíritos ou simplesmente na dignidade
de ser um homem.
O “artesanato” corporal atinge limites
inimagináveis, como cortar a pele com lâmina
de barbear ou cacos de vidro, fazer o possível
para ficar com anorexia ou bulimia.
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Mudanças físicas;
mudanças psicológicas: responsabilidade,
experiências, conflitos;
mudanças sociais: identidade social, corpo
social, inter-relacionamento;
comportamento sexual: interesse sexual,
intercurso sexual;
fatos traumáticos: sentimento de perda, luto
pela infância perdida;
independência
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Ritos de passagem