ANÁLISE DO AMOR SOB A PERSPECTIVA DA
CONTINGÊNCIA SKINNERIANA
por Thiago de Almeida
(Psicólogo e pesquisador do IPUSP –
Departamento de Psicologia Experimental)
Home page: www.thiagodealmeida.com.br
Questionamentos
Passado muito tempo desde que a
Psicologia tenha se firmado enquanto
uma
ciência
que
enfoca
o
comportamento, o que ela tem a nos
dizer
sobre
o
amor
e
seus
desdobramentos?
 É possível analisá-lo sob a perspectiva
da tríplice contingência skinneriana?
 Em caso afirmativo de que forma?

Primeiro problema
Discorremos, em psicologia, sobre a
aprendizagem, personalidade e emoção.
Abordamos técnicas e métodos, mas, com
exceção da abundante literatura de autoajuda, pouco encontramos sobre o amor,
sistematizado em seus processos e em suas
formas. Apesar disso, nunca dele se falou
tanto. Tido como algo indispensável à
felicidade individual, que se deveria aprender,
cada qual aspira ao amor, a tal ponto que ele
se tornou praticamente uma procura constante
no cotidiano das pessoas.
Segundo problema
O behaviorismo radical corresponde a uma
filosofia da psicologia que afirma ser o objeto de
estudo científico da psicologia o comportamento,
sendo esse suscetível a uma explicação plausível que
produza a possibilidade de previsão e de controle. O
"amor" não é, para o Behaviorismo Radical, um termo
técnico, mas sim um fenômeno complexo que se
dispõe a uma interpretação. Isso significa
basicamente que não está contido em nenhuma de
suas proposições que se referem a resultados
experimentais, mas que diz respeito aos mesmos
processos em um nível superior de complicação.
Definição
Um conjunto diversificado de sentimentos, distintas
instâncias comportamentais e múltiplas classes de
respostas encobertas que, embora ocorrendo com uma
grande variabilidade topográfica, estão funcionalmente
relacionadas entre si, por meio do compartilhamento de
estimulações
que
acabam
contribuindo
para
caracterizá-lo. São inerentes ao ser humano, tendem a
se perdurar e possuem inúmeras formas reconhecidas
de manifestação. Assim, em termos comportamentais,
o amor pode ser interpretado como um resultado
especial das contingências que afetam as relações
interpessoais. Nesse sentido, é conspicuamente
multideterminado, dada a complexidade de variáveis
independentes envolvidas (Almeida & Mayor, 2006).
Distinção entre ato de amor e amor para Skinner
Skinner (1980, p. 132) faz distinção entre ato de amor e amor
como um estado. Assim:
“Afinal”, diz Frazier, “o que é amor se não reforçamento positivo?”
“Ou vice-versa”, diz Burris.
“Eles estão ambos errados”, afirma Skinner “deveriam ter dito um
ato de amor”.
"Amor como um estado" é uma disposição para agir em relação
ao outro de maneiras reforçadoras, mas "sem atentar para
nenhuma contingência" ("Without attention to any contingencies").
No amor agimos para agradar e não para ferir, para ser genuíno e
não para ser sedutor – "mas, não agimos para mudar
comportamento" ("we do not act to change behavior"). Sem
dúvida, nós mudamos comportamento, uma vez que é mais
provável que atuemos de maneiras reforçadoras quando
acabamos de ser tratados dessas mesmas formas. Ação
recíproca pode aumentar gradativamente, sem que isso envolva
um contrato (nenhum dos parceiros diz “Eu vou amá-lo mais se
você me amar mais”).
Posteriormente, Skinner em 1991 nos coloca que…
“Se podemos dizer que eros é primariamente uma
questão de seleção natural, e philia, de
condicionamento operante, então ágape significa um
terceiro processo de seleção: evolução cultural.
Ágape deriva de uma palavra que significa ser bem
vindo ou, como define o dicionário, “ser recebido com
alegria”. Ao demonstrar que estamos contentes
quando uma pessoa se une a nós, reforçamos a
união. A direção do reforçamento é invertida. Não é o
nosso comportamento, mas o comportamento daquele
que amamos que é reforçado. O efeito primeiro é
sobre o grupo. Ao demonstrar que sentimos prazer
pelo que outra pessoa fez, nós reforçamos o fazer, e
assim fortalecemos o grupo”.
Alguns conceitos relacionados...
Embora o estudo do amor, enquanto
um fenômeno específico, não seja foco de
estudo da AC, podemos utilizar das
ferramentas e dos instrumentais desta
para entendermos os bastidores dos
relacionamentos amorosos.
Existem muitas formas de se
interpretar o amor dentre os vários
modelos teóricos existentes.
“Os homens agem sobre o mundo, modificam-no, e
são modificados pelas conseqüências de suas ações.
Certos processos, em que o organismo humano
compartilha com outras espécies alteram o
comportamento de tal forma que ele obtém um
intercâmbio mais seguro e útil com um ambiente
particular. Quando o comportamento apropriado tem
sido estabelecido, suas conseqüências trabalham por
meio de processos similares, aumentando a sua força.
Se por acaso, o ambiente se modifica, velhas formas
de comportamento desaparecem, enquanto novas
conseqüências constroem novas formas” (Skinner,
1957, p.1)
O amor e a tríplice contingência
A tríplice contingência é um paradigma
útil para trabalhar a questão da relação do
casal, e mesmo para aquelas pessoas que
sentem grande dificuldade em se vincular a
outro ser humano, porque decodifica uma
seqüência comportamental que eles ainda
não conseguem tatear. Dessa forma,
estaria a contingência de três termos
relacionada à estrutura, ao aparecimento e
as regras sob as quais se fundamentam os
comportamentos das pessoas.
Alguns exemplos
→beijar
(R)
→contato dos lábios (SR)
 SD(objeto
em
loja
de
departamento) →comprar (R)
→obtenção
de
algo
que
agradará o parceiro (SR)
 SD(parceiro)
Amor e Operações Estabelecedoras

Ainda o amor também pode estar relacionado
com o conceito de operações estabelecedoras.
 O conceito de operação estabelecedora se
refere a operação que altera a efetividade do
reforçamento
e
evoca
a
resposta
correspondente a sua produção (Michael,
1993).
 Algumas
operações
estabelecedoras,
modificando o potencial reforçador de
estímulos que se referem, em última instância,
a objetos ou eventos que fazem “bem” ao
parceiro, poderiam ser compreensivelmente
denominadas de reforçadores “amorosos”.
Amor: tatos e mandos
Para a Análise do Comportamento, "amor" se
refere ou qualifica igualmente um conjunto de
verbalizações e "sentimentos". Por exemplo, tactos
impuros como “- Estou apaixonado por você” são
emitidos sob o controle tanto de estimulações
provenientes de comportamentos que se caracterizam
como de um apaixonado, como também sob o
controle de operações emocionais relacionadas com o
reforçamento “amoroso”, que seria, no caso, a
correspondência na forma de beijos e abraços. Já
‘mandos’ referem-se a prática de reforçamento
específico, quando por exemplo, pede-se um beijo no
relacionamento interpessoal entre dois enamorados.
Outros questionamentos:
Embora o amor pareça corresponder a
uma espécie de um reforçamento intrínseco,
será que a manutenção de um relacionamento
é dada somente pela presença de elementos
como amor e satisfação, por exemplo? Como
se explicariam, então, casos comuns a todos,
como aqueles em que, não obstante a
evidente ausência destes fatores, a relação se
mantém? Ou ainda, situações comuns a todos
nós, em que o amor, a paixão e a satisfação
que cultivam com o parceiro são indiscutíveis,
no entanto, a estabilidade da relação é
inapelavelmente precária?
O amor e o reforçamento intermitente
Uma das respostas que poderia preencher
tais lacunas pode estar associada ao
reforçamento intermitente, pois somente o
amor, não é o único preditor de estabilidade
para relacionamentos amorosos (Cate, Levin
& Richmond, 2002). Embora, para Gottman e
Silver (1998), os fatores que podem fazer um
relacionamento dar certo ou se desintegrar
estão longe de serem óbvios.
Implicações do Reforçamento Intermitente
para os relacionamentos amorosos
No reforçamento em intervalo variável, ou intermitente,
o período de tempo compreendido entre um e outro
reforçamento modifica-se sempre. O reforçamento
intermitente é ocasional, não contínuo e não sujeito a tempo
(intervalo) nem razão. É o reforçamento mais comum no
dia-a-dia. O efeito do reforçamento em intervalo variável é
manter estável e elevada a freqüência do comportamento.
Logo, este esquema pode ser extremamente útil na
formação de hábitos. Dessa forma, quando as pessoas não
sabem quando lhes sobrevirá o reforço elas estarão sobre o
regime do reforçamento intermitente. Portanto, em se
tratando de relacionamentos amorosos, manter as pessoas
sob a égide do reforçamento intermitente (e.g. ora se vendo,
ora não; ora saindo juntos, ora não, etc) é um poderoso
conhecimento aliado se quisermos otimizar a qualidade dos
nossos relacionamentos.
A importância disso…
 Reprogramar
os
nossos
relacionamentos com vistas a
otimizá-lo,
e
compreender
a
psicodinâmica implícita nos mesmos;
 Gerar uma tecnologia que dê suporte
para a clínica e os problemas que
são encaminhados para ela.
Conclusão
A tentativa de caracterizar o amor em
uma perspectiva comportamental tem um
objetivo principal que é o de permitir o
entendimento e o correspondente manejo de
relações interpessoais amorosas, de forma a
torná-las mais adaptadas. Entender que o
amor tem uma forte relação com a produção
cultural corresponde a aceitar, também, o
importante papel que desempenha o terceiro
nível de seleção pelas conseqüências, que é
o
da
seleção
cultural,
no
seu
estabelecimento e manutenção.
Nesse sentido, a comunidade verbal
é responsável pelos repertórios verbais
que, de uma maneira quase inevitável,
leva
aos
padrões
de
relações
interpessoais amorosas de uma dada
sociedade. É claro que, para entender
suficientemente um repertório amoroso,
é preciso compreender também que
contingências verbais e não verbais
trabalham em conjunto.
A todos vocês…
Muito obrigado pela atenção e ….
Ao Amor… Sempre!!
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a análise do amor sob a perspectiva da tríplice contingência