Terapia por Contingências de Reforçamento Patrícia Piazzon Queiroz Instituto de Análise Aplicada de Comportamento – IAAC “Terapia por Contingências de Reforçamento é uma nomeação puramente descritiva. É um termo que foi elaborado sob controle exatamente daquilo que o Terapeuta Comportamental com orientação em Análise do Comportamento faz na interação psicoterapêutica, ou seja, lidar o tempo todo com as contingências de reforçamento que determinam comportamentos e sentimentos das pessoas.” (Guilhardi, 2007) A TCR é uma forma de psicoterapia (comportamental) que se baseia na Ciência do Comportamento (CC) e no Behaviorismo Radical (BR), ambos fundamentados nos trabalhos experimentais e conceituais de B.F.Skinner (19041990). Skinner não foi psicoterapeuta; portanto, não nos legou um modelo de processo psicoterapêutico. Suas contribuições permitiram, no entanto, generalizar dados, procedimentos e conceitos, gerados em condições de pesquisas conduzidas com rigor metodológico, para o contexto clínico. O que são as contingências de reforçamento? “O behaviorista radical não trabalha propriamente com o comportamento, ele estuda e trabalha com contingências de reforçamento, isto é, com o comportar-se dentro de contextos.” (Maria Amélia, 2000) “Contingências de reforçamento são unidades para análise e intervenção sobre os comportamentos e os sentimentos das pessoas. A contingência de reforçamento mais simples é composta por três termos, daí ser conhecida por tríplice contingência de reforçamento.” (Guilhardi, 2007, p.3) “O primeiro termo da tríplice contingência é o antecedente, o segundo é a resposta (da pessoa) e o terceiro é a conseqüência. Quando os três termos são conhecidos, e são determinadas as inter-relações entre eles (todos os três se influenciam reciprocamente e de modo dinâmico), pode-se dizer que comportamentos e sentimentos, por eles determinados, foram “explicados”.” (Guilhardi, 2007, p. 3) Sidman (1995, p.104 e 105) escreveu: “Esta é a essência da análise de contingências: identificar o comportamento e as conseqüências; alterar as conseqüências; ver se o comportamento muda. Análise de contingências é um procedimento ativo, não uma especulação intelectual. É um tipo de experimentação que acontece não apenas no laboratório, mas, também, no mundo cotidiano.” Pressupostos da TCR Os comportamentos e os sentimentos humanos são mutáveis. Podem ser alterados, desde que sejam alteradas as Contingências de Reforçamento das quais são função. Os déficits e excessos comportamentais podem ser alterados na direção desejada. Sentimentos aversivos podem ser substituídos por sentimentos bons e amenos; sentimentos bons, por sua vez, não se mantêm espontaneamente, têm que ser cultivados. E qual o instrumento fundamental de que dispõe o ser humano para produzir as mudanças que se fazem necessárias? Seu próprio comportamento. O ser humano pode ser sujeito e objeto de sua própria história. O conceito subjacente a tal conceituação central da TCR é o de comportamento operante. O homem atua no seu contexto e produz conseqüências – neste sentido, é sujeito ativo da construção de sua história –; a conseqüência que seu comportamento produziu, por sua vez, o influencia – neste sentido, torna-se objeto de seu desenvolvimento. (Guilhardi, 2007) “O terapeuta deve se preocupar com os comportamentos-problema e os sentimentos adversos apresentados pelo cliente, mas tem que encontrar e alterar as contingências das quais eles são função: elas, de fato, são o objeto de intervenção.” (Queiroz & Guilhardi, 2001, p.259) O psicoterapeuta que adota a TCR lida com sentimentos e comportamentos que são aversivos para o cliente, aqueles que o fazem sofrer, desenvolvendo novos repertórios de comportamentos e novos sentimentos, que tornam sua vida mais amena e feliz. A melhora do cliente consiste sempre no seu crescimento, o que se alcança pela instalação de comportamentos que produzem conseqüências que lhe são caras e pela ampliação de sentimentos amenos de satisfação, de alívio, de paz. (Guilhardi, 2007) O Papel do Terapeuta no Processo de Conscientização na Terapia por Contingências de Reforçamento “Comportamentos (e sentimentos) perturbados são causados por contingências de reforçamento perturbadoras, não por sentimentos ou estados da mente perturbadores, e nós podemos corrigir a perturbação corrigindo as contingências” (Skinner, 1995/ 1989, p. 102) Sentimentos “Eis a posição comportamentalista: volte aos eventos ambientais antecedentes para explicar o que alguém faz e, ao mesmo tempo, o que essa pessoa sente enquanto faz alguma coisa.” (Skinner, 1991b, p.103). Auto-conhecimento “Todo comportamento, seja ele humano ou não humano, é inconsciente; ele se torna ‘consciente’ quando os ambientes verbais fornecem as contingências necessárias à autoobservação” (Skinner, 1991, p.88). “O auto-conhecimento tem um valor especial para o próprio indivíduo. Uma pessoa que se ‘tornou consciente de si mesma’, por meio de perguntas que lhe foram feitas, está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento.” (Skinner, 1993, p.31) “diferentes comunidades geram tipos e quantidades diferentes de auto-conhecimento e diferentes maneiras de uma pessoa explicar-se a si mesma e aos outros” (Skinner, 1993, p. 146). Skinner (1980) esclareceu o papel que atribui aos sentimentos: “Para a maioria das pessoas, o comportamento seria um epifenômeno (um fenômeno secundário que acompanha um outro e é causado por este)... Quando eu chamo os sentimentos de “subprodutos” do comportamento parece ficar implícito que eles são epifenomenais. Uma expressão melhor é “produtos colaterais”. Os comportamentos e os sentimentos são ambos causados por histórias genética e ambiental em conjunto com a situação presente” Paradigma da Ansiedade A análise experimental do comportamento descreve da seguinte forma o paradigma da ansiedade: um estímulo sinaliza a apresentação de um estímulo aversivo e não há comportamento de fuga-esquiva possível, produzindo, na presença do estímulo préaversivo, estados corporais e supressão de comportamentos operantes vigentes. O estado corporal sentido sob estas condições pode ser chamado de ansiedade. História de Contingências Conhecer a história comportamental aumenta a probabilidade do cliente reavaliar as funções dos eventos. Muitas vezes, sem esta compreensão de como os eventos passaram a ter determinadas funções, o cliente se recusa a testar a realidade – se esquiva – e, assim, não avalia a real função atual daquela condição específica. Ou seja, a terapeuta pode ter que recorrer à história do cliente para compreender o desempenho atual e, daí, mostrar que o fato de o evento ter sido aversivo não significa que continue sendo. “É muito mais fácil mudar contingências de reforçamento do que restaurar vontade, reabastecer um reservatório de energia psíquica ou fortalecer nervos. Contingências de reforçamento são um tópico importante na análise experimental do comportamento, e o que está errado com a vida cotidiana no Ocidente é, precisamente, de competência da análise aplicada do comportamento.” (Skinner, 1987) Contatos [email protected] www.iaac.com.br