EXAME DAS FUNÇÕES MENTAIS
(A)
Profª. Melissa Rodrigues de Almeida
Psicopatologia II – DEPSI-UFPR
Avaliação psicopatológica
• Avaliação estruturada de sinais e sintomas, que permite a
geração de hipóteses diagnósticas ou diagnósticos específicos
• Realizado por profissionais da área de saúde mental
• Observação, entrevistas, relato de terceiros, escalas de
avaliação, testes psicológicos e neuropsicológicos
• Entrevistas
ANAMNESE
EXAME DO ESTADO MENTAL
APARÊNCIA GERAL E COMPORTAMENTO
• Postura geral
– passiva ou ativa, arrogante, indiferente, confuso, inibido
ou desinibido, desconfiado, irônico, cooperante ou não...
• Nutrição
• Movimentação
– inibido, agitado, agressivo, inquieto
• Modo de vestir
– roupas e acessórios, cores, maquiagem
• Expressão facial
• Postura corporal
EXAME DA CONSCIÊNCIA E SUAS ALTERAÇÕES
CONSCIÊNCIA
NEUROLÓGICA E REFLEXIVA
CONSCIÊNCIA NEUROLÓGICA
• Estado cíclico (sono-vigília) do nível geral de atividade
do sistema nervoso, com variações quantitativas.
• Capacidade de responder a estímulos e
reconhecimento de si e da realidade.
– Sono e sonhos são variações normais da consciência
neurológica
• Essencial para avaliação das outras funções mentais
•
Alterações quantitativas da consciência neurológica
 OBNUBILAÇÃO
 Diminuição branda da claridade da consciência neurológica
 Queda da atenção e sensopercepção, pequena sonolência,
desorientação
 PRESENTE EM
 Início de quadros orgânicos cerebrais, psicoses sintomáticas,
reações exógenas a SPA, traumatismos cranianos
 AVALIAÇÃO
 Pesquisar orientação no tempo e espaço
 Observar aparência geral e postura para avaliar grau de
sonolência
 Insistir com perguntas para avaliar se há compreensão de seu
sentido
 Mini-exame do Estado Mental e Escala de Coma de GLASGOW
Alterações quantitativas da consciência neurológica
 ESTUPOR
 Rebaixamento global da consciência neurológica,
necessidade de estímulos intensos para reações primitivas
 Incapacidade de ação espontânea, com inibição da
psicomotricidade e da vontade
 PRESENTE EM
 Evolução de quadros orgânicos cerebrais, psicoses
sintomáticas, reações exógenas, estados depressivos
graves, tumores intracranianos, epilepsia (pós-convulsão),
reação aguda ao estresse, fadiga extrema, conversões
 AVALIAÇÃO
 Observa-se sonolência e lentificação psicomotora intensa
 No contato verbal praticamente não responde a perguntas
 Escala de Coma de GLASGOW
Alterações quantitativas da consciência neurológica
• COMA
• Abolição total da interação entre o indivíduo e o meio
• Perda total da atividade voluntária
– PRESENTE EM
– Grau mais grave de quadros orgânicos cerebrais, reações
exógenas, doenças somáticas graves, coma induzido por
anestesia
– AVALIAÇÃO
• Observar condição postural (posição horizontal,
relaxamento, ñ reflexos)
• Aparência, movimentos oculares, instalação súbita ou lenta
• Escala de Coma de GLASGOW
Alterações qualitativas da consciência neurológica
 DELIRIUM
 Disfunção transitória no metabolismo cerebral, reversível, com início agudo
 Sinais prodômicos: obnubilação, irritabilidade, inquietação psicomotora,
diminuição da memória e orientação, ilusões e alucinações visuais,
psicomotricidade aumentada ou diminuída, variações circadianas, labilidade
emocional, distúrbios de comportamento, pensamento e humor,
despersonalização e/ou desrealização
 10 a 15% de pacientes hospitalizados por condição médica geral apresentam
delirium em algum momento
 PRESENTE EM
 Tumor cerebral primário, traumatismo craniano, infecção, acidente vascular,
distúrbios fisiológicos, metabólicos, endócrinos, deficiências nutricionais,
abstinência de drogas, intoxicações por metais pesados
 AVALIAÇÃO





Pesquisar orientação no tempo e espaço, sonolência ou perplexidade
Observar condição postural (posição horizontal, relaxamento, ñ reflexos)
Fundo branco: pode ter alucinações visuais e Globo ocular
Mini-Exame do Estado Mental e Escala de Coma de GLASGOW
Insistir com perguntas para verificar se seu sentido foi apreendido
Alterações qualitativas da consciência neurológica
 ESTADO CREPUSCULAR
 Estado de desestruturação da consciência neurológica, mas com
conexões relativamente coordenadas, de curso breve, início súbito,
com amnésia anterógrada. Em geral, com experiências delirantes e
alucinatórias (temas cósmicos, religiosos, políticos)
 Pouco confuso, perplexo, com afetividade indiferente às
circunstâncias atuais
 PRESENTE EM
 Epilepsia, Histeria dissociativa, Intoxicações por drogas
 AVALIAÇÃO





Pesquisar orientação no tempo e espaço
Observar condição postural, sonolência, perplexidade
Insistir com perguntas para verificar se seu sentido foi apreendido
Mini-Exame do Estado Mental e Escala de Coma de GLASGOW
Teste do fundo branco e Teste do globo ocular (alucinações visuais)
CONSCIÊNCIA REFLEXIVA
• Consciência psicológica ou ‘consciência do eu’
• O “todo momentâneo da vida psíquica” (Jaspers)
• Atividade de grande complexidade, envolve todas as
funções mentais e é enraizada na consciência neurológica
• É subjetiva (interioridade da vivência) e objetiva (processo
racional de algo, saber)
• Auto-reflexão: consciência de si
• Consciência ética: definição de nosso dever moral
• Inconsciente
Alterações da Consciência Reflexiva
• DESPERSONALIZAÇÃO E DESREALIZAÇÃO
• Vivências de estranheza de si mesmo e do mundo
circundante, respectivamente.
– PRESENTE EM
• Fase aguda da esquizofrenia, depressões, abuso
de drogas alucinógenas, transtorno de pânico
Alterações da Consciência Reflexiva
• CRISE DE IDENTIDADE
– Vivência de desorientação e confusão do indivíduo
com o que ele é e ao seu mundo.
– Comum em adolescentes
Alterações da Consciência Reflexiva
• ESTADOS DE ÊXTASE
• Vivências de afastar-se de si mesmo, condição que
desliga pessoas dos limites de sua personalidade
– PRESENTE EM
• Psicoses esquizofrênicas, transtornos dissociativos histéricos,
mania, estados epilépticos, êxtase místico praticado por
religiosos
• MUTAÇÃO DA PERSONALIDADE
• Vivência de mudança interior e profunda de sua
personalidade, como se fosse outra pessoa
– PRESENTE EM
• Esquizofrenia e neuróticos sugestionáveis
Alterações da Consciência Reflexiva
• TRANSFORMAÇÃO DA PERSONALIDADE OU
TRANSITIVISMO
• Vivência de ter sofrido uma transformação em outra pessoa
• Mais radical e grave que mutação de personalidade
– PRESENTE EM
• Transtornos esquizofrênicos, Transtornos decorrentes de perturbações
fisiológicas cerebrais e gerais.
• POSSESSÃO
• Vivência de sentir-se tomado ou possuído por espíritos
estranhos, em especial o demônio, que controlam sua mente
e corpo, com comportamento e movimentos estereotipados
– PRESENTE EM
• Psicoses esquizofrênicas, transtornos fóbicos, transtornos dissociativos,
intoxicação por drogas
EXAME DA ATENÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES
ATENÇÃO
ATENÇÃO
 É uma atividade psíquica de base que produz a capacidade de
concentração sobre determinados estímulos experimentados e que
foram capazes de ensejar uma ação mental em sua direção. Integrada
a outras funções como consciência neurológica, orientação e
memória.
 Estímulos sensoriais, cognitivos ou afetivos
 Pode ser espontânea ou voluntária
 Alterações acentuadas em quadros lesionais e disfuncionais orgânicos e
brandas em quase todos os transtornos.
 Influências de fatores intrapsíquicos e exógenas (alimentos, medicamentos,
drogas)
AVALIAÇÃO
 Observação (Vigilância – hipervigil ou hipovigil)
 Sequência de letras (Tenacidade)
 Cálculos (Concentração)
Alterações da Atenção
 DISTRAÇÃO
 Dificuldade para concentrar a atenção sobre um estímulo mais significativo
(desatenção ou distraibilidade)
 Pode ocorrer por excesso de concentração (aumenta atenção voluntária e
diminui espontânea) ou por falta de concentração (diminui atenção voluntária
e aumenta espontânea)
 HIPOPROSEXIA
 Redução acentuada da atenção, de forma global (espontânea e voluntária), em
geral, com aumento da fadiga, dificultando percepção de estímulos ambientais
e a compreensão.
 PRESENTE EM: transtornos depressivos, embriaguez aguda ou patológica,
intoxicações, demência, esquizofrenia, autismo, retardo mental, transtorno
cognitivo leve, epilepsia, estados de obnubilação da consciência neurológica,
paralisia geral.
 NÃO É distraibilidade
Alterações da Atenção
 HIPERPROSEXIA
 Prejuízo qualitativo da atenção voluntária e aumento quantitativo da atenção
espontânea, caracterizada por extrema labilidade de concentração, que leva o
indivíduo a se dirigir a diversos estímulos sensoriais, sem foco determinado.
 PRESENTE EM
 episódios maníacos, intoxicação por estimulantes, transtorno hipercinético da infância,
excitações passionais.
 APROSEXIA
 É a total abolição da capacidade de atenção, por mais intensos que sejam os
estímulos.
 PRESENTE EM
 estupor, traumas craniencefálicos, distúrbios metabólicos e tóxicos, retardo mental severo,
demências graves.
 AVALIAÇÃO




Observar atitude do paciente e adequação e rapidez nas respostas
Observar grau de distraibilidade e de fatigabilidade
Teste de Bourdon (trecho escrito sem separação para marcar todos os ‘a’ ou ‘n’)
Teste de Span de Dígitos (repetir série de dígitos – normal entre 6 e 7)
Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH)
•
F90 (Transtornos hipercinéticos)
– Grupo de transtornos caracterizados por início precoce (habitualmente
durante os cinco primeiros anos de vida), falta de perseverança nas atividades
que exigem um envolvimento cognitivo, e uma tendência a passar de uma
atividade a outra sem acabar nenhuma, associadas a uma atividade global
desorganizada, incoordenada e excessiva. Os transtornos podem se
acompanhar de outras anomalias. As crianças hipercinéticas são
freqüentemente imprudentes e impulsivas, sujeitas a acidentes e incorrem em
problemas disciplinares mais por infrações não premeditadas de regras que
por desafio deliberado. Suas relações com os adultos são freqüentemente
marcadas por uma ausência de inibição social, com falta de cautela e reserva
normais. São impopulares com as outras crianças e podem se tornar isoladas
socialmente. Estes transtornos se acompanham freqüentemente de um déficit
cognitivo e de um retardo específico do desenvolvimento da motricidade e da
linguagem. As complicações secundárias incluem um comportamento dissocial
e uma perda de auto-estima.
EXAME DA ORIENTAÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES
ORIENTAÇÃO
ORIENTAÇÃO
• É uma função mental complexa, que dá ao indivíduo a
capacidade de situar-se em relação si próprio e ao mundo, no
tempo e no espaço.
• É integrada à consciência, atenção, memória, sensopercepção,
emoções e sentimentos, humor.
– Pode ser alopsíquica (relativa ao tempo e espaço) e
autopsíquica (relativa a si próprio e ao ambiente circundante)
– Distúrbios podem ser globais ou focados em alguns setores
Alterações da orientação
 DESORIENTAÇÃO ORGÂNICA
 Decorre de fatores orgânicos, que compromete
funcionamento geral do cérebro. Geralmente alopsíquica.
 TIPOS
 Oligofrênica (retardo mental), Confusional (rebaixamento do nível
da consciência neurológica), Amnéstica (dificuldade da memória de
fixação/ retenção), Lacunar (lacuna de tempo na amnésia orgânica),
Demencial (perda da memória de fixação e das funções cognitivas)
 DESORIENTAÇÃO AFETIVO-VOLITIVA
 Decorre de fatores emocionais, alterações do humor e da
vontade.
 TIPOS
 Dissociativa (histérica, quadros neuróticos – conflitos psíquicos),
Apática ou abúlica (desinteresse do paciente em função de quadros
psiquiátricos – frieza ou inibição afetiva), Maníaca (perde noção de
fluência do tempo)
Alterações da orientação
 DESORIENTAÇÃO PSICÓTICA
 Desorientação em função de uma alteração dos
juízos, presente nos quadros em que
predominam os delírios. Geralmente é
autopsíquica.
 TIPOS
 Delirante (esquizofrenia), Dupla orientação
(orientação alo e autopsíquica preservada, mas
acompanhada de outra orientação em relação a sua
pessoa, psicoses esquizofrênicas), desagragação
(comprometimento grave que impede orientação
alo e autopsíquica)
 PRESENTE EM
 psicoses em geral e esquizofrenia em particular
 AVALIAÇÃO:
 Realizar pesquisa direta da orientação do paciente
em relação ao tempo e espaço em que se encontra
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