Hidropsia fetal não imune: breve revisão da etiologia e fisiopatologia Am J Med Genet 2012;Part A 158A:597-605 Hospital Regional da Asa Sul – Neonatologia Orientadora: Dra Marcia Pimentel Residentes: Juliana Ferreira Gonçalves R1 Marília Bahia R3 Brasília, 16/3/2013 INTRODUÇÃO • Hidropsia fetal ocorre devido ao acúmulo excessivo de líquido fetal em pelo menos duas cavidades serosas (abdome, pleura e pericárdio) ou no tecido corporal (edema subcutâneo) • Geralmente reconhecido pela primeira vez por exame ao ultrassom no 1º ou 2º trimestre de gestação • Coleções significativas podem ser facilmente identificadas pelo ultrassom porém quantidades pequenas podem não ser detectadas INTRODUÇÃO Suspeita de hidropsia • Diminuição dos movimentos fetais • Polidrâmnio • Pré eclampsia •Placenta maior ou igual a 5 mm de espessura INTRODUÇÃO • No passado a maioria dos casos de hidropsia era causada por iso-imunização. • Declínio significativo no número de casos desde a década de 1970 após uso da profilaxia • Atualmente a hidropsia fetal não imune (NIHF) constitui até 90% de todos os casos de hidropsia fetal descritos INTRODUÇÃO HIDROPSIA FETAL NÃO IMUNE (NIHF) • Pode ser considerada a fase terminal de uma ampla variedade de distúrbios • Indica comprometimento fetal significativo e está associada a altas taxas de mortalidade perinatal e morbidade neonatal INTRODUÇÃO FISIOPATOLOGIA • Trata-se de um desequilíbrio da regulação do movimento dos fluidos entre o vascular e o espaço intersticial (Figura 1) • O extravasamento dos fluidos através da circulação capilar é compensada pelo sistema linfático e pela reabsorção de fluidos pelos capilares • A NIHF é resultado de um aumento da produção de fluido intersticial ou de uma obstrução do retorno do fluido para o sistema linfático INTRODUÇÃO CAUSAS: Doenças cardiovasculares (21,7%) • Alterações cromossômicas (13,4%) • Anormalidades hematológicas (10,4%) • Infecções (6,7%) • Massas intratorácicas (6%) • Displasias de vasos linfáticos • Causas placentárias • Malformações de trato urinário • Erro inato do metabolismo • Distúrbios gastrointestinais • Idiopática (17,8%) ORIGEM DOS LÍQUIDOS FETAIS • O equilíbrio dos fluidos do feto difere do equilíbrio dos fluidos em adultos devido a porcentagem de água presente no corpo 8 semanas de gestação- feto com 90-95% de água Diminuição gradual no decorrer da gestação RN de termo- 70% de água (Figura 2) ORIGEM DOS LÍQUIDOS FETAIS • A maior parte dos fluidos chega a circulação fetal através da placenta materna e pequena quantidade de fluido atravessa a parede uterina cruzando o córion e o âmnio para o líquido amniótico • O acúmulo de água no feto está ligado a pressão hidrostática e osmótica envolvendo diversas substâncias como sódio, bicarbonato, aminoácidos e outros ORIGEM DOS LÍQUIDOS FETAIS • Movimentos de fluidos entre o espaço vascular e intersticial são reguladas por meio de filtração de fluido através da parede capilar -> Equação de Starling (ilustra o papel das forças hidrostática e oncótica) (Figura 3) • Se a filtração capilar é maior do que a capacidade de remoção de fluidos pelo sistema linfático há expansão do espaço intersticial fetal levando a edema fetal progressivo e eventualmente a hidropsia FUNÇÃO LINFÁTICA • O sistema linfático começa a se desenvolver a partir da 6ª semana de gestação Formação do sistema linfático: • Confluência de numerosos capilares venosos sacos linfáticos capilares linfáticos recrutamento de células musculares lisas desenvolvendo válvulas nos capilares conexão dos vasos linfáticos com os sacos linfáticos passando próximo das principais veias, realizando a drenagem de fluidos FUNÇÃO LINFÁTICA • A albumina, presente na linfa, retorna para a circulação reduzindo assim o fluxo intersticial de proteína, o que impede o acúmulo excessivo de fluidos nos tecidos. • Alterações na concentração de albumina alteram a pressão oncótica e podem levar ao acúmulo de líquido intersticial • A pressão de saída do sistema linfático tem relação direta com o controle de fluidos e, normalmente, é igual à pressão venosa central FUNÇÃO LINFÁTICA • O aumento da pressão venosa central reduz a taxa de fluxo linfático (retorno de fluido para o sistema vascular) • Uma variedade muito grande de distúrbios cursa com aumento da pressão venosa central levando, consequentemente, a hidropsia. BALANÇO DO LÍQUIDO AMNIÓTICO • Valores do Líquido amniótico (LA): – Início da gestação maior que volume fetal – IG 20sem. LA = volume fetal (400ml) – IG 30sem. ½ volume fetal – Termo ¼ volume fetal • Mecanismo de balanço do LA: – Ainda incerto • Influxo e efluxo de água e solutos da placenta para o feto? BALANÇO DO LÍQUIDO AMNIÓTICO • Métodos de mensuração de volume: – Índice do líquido amniótico (ILA) – Medida do saco profundo • Composição do LA : – Similar ao fluído extracelular do feto – Controlado pelo rins fetais e pela placenta Desordens Hidropsia PAPEL DA CIRCULAÇÃO FETAL Vários mecanismos tentam explicar as alterações provenientes de mal formação cardíaca congênita: pressão venosa fetal. (Figura 4) Alteração de fluxo: diminuição do volume ejetado, devido ao aumento da pressão de saída pelo ventrículo direito, diminuindo o tamanho dos vasos sanguíneos pulmonares. Aumento oxigenação pulmonar: diminuição da resistência vascular pulmonar e do fluxo sanguíneo pelo ducto arterioso, levando a edema pulmonar. PAPEL DA CIRCULAÇÃO FETAL TGA(transposição das grandes artérias): o fluxo de sangue rico em O2 para coração e cérebro diminui, ocasionando regime de hipóxia. O aumento da pressão sistêmica e uma complacência ventricular limitada levam a uma insuficiência cardíaca congestiva, culminando em NIHF. FOP atenua a severidade e o grau de hidropsia. PAPEL HIPOXIA FETAL Em situação de hipóxia, há desvio do fluxo sanguíneo dos rins para cérebro, coração e adrenais (órgãos nobres), ocasionando dano tubular renal. Com isso, ocorre ativação do sistema renina- angiotensina: vasoconstrição em vasos umbilicais. Diminuição da produção de albumina pelo fígado fetal, secundária à baixa perfusão. PAPEL HIPOXIA FETAL (Figura 5) Os efeitos da asfixia fetal dependem da idade gestacional. No final da gestação a sensibilidade renal à AVP(arginina-vasopressina) aumenta, em função aumento progressivo expressão gênica da aquaporina-2 (AQP2). AQP2 é um agente facilitador da AVP canal regulado. CONCLUSÕES Ainda podem existir outros mecanismos fisiopatológicos capazes de explicar a NIHF. Porém, muitos estudos ainda são realizados em animais, o que dificulta a compreensão do tema. O conhecimento sobre a etiologia e patogenia da NIHF permitirá uma intervenção mais precoce e bem sucedida para obter melhor prognóstico. ABSTRACT HIDROPSIA FETAL NÃO IMUNE Estudando juntos! Hidropsia fetal Jefferson Guimarães Resende, Paulo R. Margotto Entre as principais causas temos as alterações cromossômicas (Síndrome de Turner é a mais comum), hipoplasia pulmonar, hérnia diafragmática, disfunção cardíaca, quilotórax fibrose cística do pâncreas, obstruções do trato urinário, síndrome nefrótica, doenças do metabolismo, hemoglobinopatias (a mais comum é a talassemia alfa homozigótica). Vários tipos de nanismo e infecções perinatais crônicas, como Doença de Chagas, Parvovirose B19, Citomegalovírus podem levar a hidropsia. Anormalidades cardiovasculares e a alfatalassemia homozigótica tem sido relatados como sendo as causas mais freqüentes, seguido de anormalidades cromossômicas. Em 44% dos casos não se consegue determinar as causas. O prognóstico é ruim, principalmente se diagnosticada antes de 24 semanas de gestação e principalmente se associada com cariótipo anormal (cursa com uma mortalidade perinatal de 70 a 90%). Fukushima et al, em uma série de 214 casos, avaliados em um período de 27 anos, relataram uma mortalidade de 41,4% e sobrevivência intacta de 50%. O acompanhamento ecográfico é absolutamente necessário. Coleta de líquido amniótico e de sangue fetal para estudos genéticos e metabólicos podem elucidar a etiologia, ainda no pré-natal. Além do mais, informações ecográficas poderão rastrear malformações cardíacas e renais, por exemplo, como apoio importante aos cuidados do recém-nascido na UTI neonatal. Também a ecografia no pré-parto imediato poderá informar à equipe neonatal se deverá ou não haver necessidade de esvaziamento torácico e/ou abdominal, se houver dificuldades de reanimação na sala de parto. Prognóstico a curto e longo prazo de 214 casos de hidropsia fetal nãoimune Kotaro Fukushima, Seiichi Morokuma et al. Apresentação: Nathalia Bardal, Márcia Pimentel, Paulo R. Margotto Atualmente, quase todos os casos de hidropsia fetal são de origem não imune. As etiologias mais comuns são: de origem cardíaca (cardiopatia congênita, arritmias), cromossopatias, infeccções virais, anemia congênita e quilotórax congênito e quiloascite. O prognóstico destes RN continua ruim. A sobrevivência nesta série foi de 41,4% O prognóstico está relacionado com a causa (o higroma cístico foi a maior causa de morte nos recém-nascidos (RN) <22 semanas e se associou a anomalias estruturais/cromossopatias) e com a idade gestacional do diagnóstico (quanto mais precoce, pior prognóstico) Hidropsia fetal Jucille do Amaral Meneses. Apresentação: Nathalia Bardal, Márcia Pimentel, Paulo R. Margotto Conduta no pós-natal Equipe multidisciplinar Maternidade de Alto Risco UTI Neonatal Sala de parto Ventilação – geralmente intubação orotraqueal Punção de alívio do líquido pleural ou ascítico: melhora da ventilação (enviar para laboratório) Cateterismo Transfusão Conduta no pós-natal UTI Neonatal Ventilação: Surfactante, óxido nítrico Restrição hídrica Restrição de sódio Correção da anemia Drenagem pleural Tratamento do quilotórax: Consultem! -drenagem torácica – hipoalbuminemia e linfopenia -Octreotide: análogo da somatostatina (diminui absorção de lipídeos e triglicerpideos no ducto torácico) Octreotide como opção terapêutica para o quilotórax congênito: série de casos Autor(es): Shah D, Sinn JKH. Realizado por Paulo R. Margotto Anátomo Clínica: Hidropsia fetal Marcio Teixeira Campos, Carlos Roberto Garcia Filho, Marcos E. A. Segura, Paulo R. Margotto Caso Clínico: Hidropsia fetal não imune Giselle Duailibe Zanchetta, Elisa de Carvalho, Paulo R. Margotto Hidropsia Fetal não imune e doença fatal fulminante por infecção congênita por Citomegalovírus em Recém nascido prematuro Luciana do NM Carneiro, Maria Carolina G. Santos, Marina Mendes Vasco, Paulo R. Margotto Autópsia: Inclusões citomegálicas no pulmão (Figura a), mucosa gástrica e intestinal, tireóide, rins, adrenais e miocárdio ( Figura b). Pulmão Miocárdio Dra. Sandra Lins, Dra. Luciana Jatubá, Dr. Paulo R. Margotto, Dra. Fabiana Ferreira, Dra. Marília Bahia e Dra. Ana Lúcia Moreira