21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
III-134 - IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL EM UMA
EMPRESA DE CO-PROCESSAMENTO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS EM
FORNOS DE CI MENTO–ESTUDO DE CASO NA TECNOSOL COMÉRCIO E
SERVIÇOS LTDA.
Claudio Fernando Mahler (1)
Engenheiro Civil e Psicologo UFRJ. Doutor em Engenharia Civil pela COPPE/UFRJ, Pós
Doutorado, Instituto de Pesquisa de Sistemas Ambientais, Universidade de Osnabrück,
Alemanha, Coordenador do Projeto de Pré-tratamento de Lixo junto à Universidade de
Braunschweig e Min. Cien. Alemäo, Professor e Consultor pela COPPE/UFRJ.
Katia Montechiari Dantas
Engenheira Civil, UFRJ, M.Sc. (UFRJ), Consultora e Especialista da Escola
Politécnica/UFRJ,
Endereço (1): Caixa Postal 68506 – Programa de Engenharia Civil, COPPE/UFRJ; Centro de Tecnologia – Cidade
Universitária, Rio de Janeiro - RJ - CEP: 21945-970 - Brasil - Tel: (21) 9616-2968 - e-mail: [email protected]
RESUMO
Busca-se neste trabalho apresentar uma análise crítica da implantação de um Sistema de Gestão Ambiental,
segundo a norma ISO 14001, na Tecnosol Comércio e Serviços Ltda., empresa parceira da Holdercim Brasil
S.A., grupo do ramo cimenteiro. A empresa Tecnosol tem por atividade principal o co-processamento de
resíduos industriais no forno de clinquerização da Fábrica de cimento Alvorada no município de Cantagalo,
Rio de Janeiro. O co-processamento nas indústrias de cimento visa a utilização dos resíduos como
combustível alternativo nos fornos de clinquerização e como mistura incorporada ao clínquer, principal
composto na produção do cimento.
Este trabalho descreve as etapas de implantação de um Sistema de Gestão Ambiental e as dificuldades
encontradas na sua implementação. Conjuntamente, foi realizado um levantamento dos principais problemas
que a atividade de co-processamento traz ao meio ambiente. Foram realizadas entrevistas e questionários com
funcionários, departamento médico e gerência da empresa. A preocupação do estudo, se refere, basicamente, a
descrever as etapas da trajetória percorrida pela Tecnosol Comércio e Serviços Ltda. para implantação de um
Sistema de Gestão Ambiental (SGA) na Fábrica de Cimento de Cantagalo – RJ, visando a sua certificação,
segundo os critérios da ISO 14001, analisar as dificuldades encontradas na implantação do SGA e descrever as
preocupações ambientais e os resultados obtidos com este tipo de atividade.
PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Industriais, Co-Processamento, Sistema de Gestäo Ambiental, ISO 14001,
Fornos de Cimento.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho se concentra no estudo dos resíduos industriais, um dos mais volumosos e também mais
perigosos, pois, quando dispostos de maneira inadequada, podem contaminar ar, água, solo e,
consequentemente, as pessoas que moram nas regiões vizinhas. Em todo o mundo são mais de 6 bilhões de
habitantes que produzem cerca de 30 bilhões de toneladas de resíduos por ano. “Estima-se que na região
metropolitana de São Paulo, 75% das indústrias geram cerca de 3,25 milhões de toneladas de resíduos
industriais por ano, sendo 376.000 toneladas consideradas tóxicas. Destes resíduos tóxicos, 20% são tratados
normalmente por incineração, 21% são armazenados em diversas formas e 31% são aterrados”
(HANNA,1996).
Devido à escassez de áreas adequadas para disposiçäo dos resíduos e as limitadas possibilidades de
incineração controlada e segura, começou-se a buscar soluções alternativas para a eliminação de resíduos.
Uma alternativa econômica é a incineração de resíduos em fornos para produção de cimento. Esta alternativa,
denominada por co-processamento de resíduos, traz benefícios para ambas as partes, representando para as
cimenteiras uma economia, pela substituição de combustíveis por resíduos de alto poder calorífico e
representando para as empresas geradoras, uma opção segura para a destinação final de seu lixo. Apesar de
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muito utilizado em outros países, o co-processamento não é muito difundido no Brasil e os órgãos de
fiscalização ambiental do país têm preocupações quanto a liberação deste tipo de atividade devido aos
impactos ambientais e aos riscos à saúde dos trabalhadores.
As indústrias cimenteiras da região onde se localiza a empresa estudada e que realizam o co-processamento
vêm sofrendo, desde 1993, investigações constantes para avaliação dos riscos dessa atividade, realizadas pelas
Secretarias Estadual e Municipal de Saúde, pela FIOCRUZ, através do Centro de Estudos da Saúde do
Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH) e pelo Ministério Público do Trabalho, face às denúncias de
problemas ambientais e riscos para a saúde dos trabalhares. Devido às constantes preocupações do órgão de
fiscalização ambiental e às suas fortes ligações com as questões ambientais, a empresa Tecnosol Comércio e
Serviços Ltda. decidiu implantar um Sistema de Gerenciamento Ambiental, de acordo com a Norma ISO
14001.
As organizações de vários portes estão inseridas em um cenário que tem mudado com muita rapidez. Isto
tem levado a uma crescente busca de elementos que possam melhorar os níveis de desempenho e
competitividade entre as empresas. Entre as mudanças observadas, constatou-se uma maior preocupação por
parte das organizações quanto à imagem que o cliente e a comunidade fazem de seus produtos e/ou serviços,
envolvendo um maior grau de conscientização e cobrança quanto aos impactos e danos que suas atividades
causem ao meio ambiente, visando melhorias na qualidade ambiental de uma maneira global.
A série de normas ISO 14000 fornece ferramentas e estabelece um padrão para implantações desses sistemas
de gestão, visando a melhoria do sistema produtivo e a correção de falhas detectadas. Muitas empresas, no
Brasil, mesmo não se preocupando com a certificação, têm introduzido os conceitos de gestão ambiental às
práticas gerenciais do seu empreendimento. Na tabela 1 abaixo é apresentada a expectativa de crescimento do
número de certificados ISO 14001 no Brasil, de 1997 até 2000 comparados com os números reais observados:
Tabela 1: Tendência de evolução da certificação ISO 14001 no Brasil
ANO
1997
1998
1999
2000
22
90
200
500
23
91
172
__
Nº de Certificados
Total Previsto (1)
Nº de Certificados
Total Emitidos (2)
Fonte: (1)Revista Meio Ambiente Industrial, nº 9, Nov./Dez. 1997 e (2)INMETRO
Observa-se que em levantamento realizado pela ISO em dezembro de 1999, o Brasil está longe de alcançar o
Japão, que é o primeiro colocado, com 3.015 certificações ISO 14001, tendo somente 172 certificados
emitidos, 1,2% em relação ao total concedido no mundo, mas ainda assim, a taxa de crescimento de
certificações do Brasil é a 13ª do mundo. A tabela 2 apresentada a seguir mostra um levantamento das cem
primeiras certificações de acordo com a ISO 14001 emitidas no país.
Este trabalho descreve as etapas de implantação de um Sistema de Gestão Ambiental e as dificuldades
encontradas na sua implementação. Conjuntamente, foi realizado um levantamento dos principais problemas
que a atividade de co-processamento traz ao meio ambiente. Foram realizadas entrevistas e questionários com
funcionários, departamento médico e gerência da empresa. A preocupação do estudo realizado, se refere,
basicamente a:
1.
descrever as etapas da trajetória percorrida pela Tecnosol Comércio e Serviços Ltda. para implantação de
um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) na Fábrica de Cimento de Cantagalo – RJ, visando a sua
certificação, segundo os critérios da ISO 14001;
2. analisar as dificuldades encontradas na implantação do SGA;
3. descrever as preocupações ambientais com este tipo de atividade, segundo Relatório de Inspeção
realizado na empresa, através de solicitação do Ministério Público do Trabalho;
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Tabela 2: Cem primeiras certificações ISO 14001 no Brasil por estado e setor
ESTADOS
1
5
4
TOTAIS
1
São Paulo
Rio de Janeiro
1
Eletro-mecânico
1
Automotivo
3
1
Sta. Catarina
Rio G. Sul
1
4
23
1
1
10 13
1
1
3
7
1
1
7
12
8
9
5
7
1
Eletro-eletrônico
1
Químico-farmacêutico
1
Serviços
1
Mineração
4
Bebidas
1
Siderúrgico
2
Papel e celulose
1
Tratamento resíduos
1
Material Fotográfico
Rio G. Norte
1
Pernambuco
1
Paraná
Esp. Santo
1
Pará
Ceará
2
Minas Gerais
Bahia
1
Goiás
Alagoas
Petroquímico
Amazonas
SETORES
1
1
6
1
1
1
4
2
1
1
3
1
1
1
Florestal-madeira
1
3
1
2
1
2
1
Naval
1
1
Construção Civil
1
Embalagens
1
1
Saúde
1
1
Vidros Planos
1
1
1
1
2
3
45 100
Têxtil
TOTAIS
6
2
5
1
1
1
12 2
3
1
1
8
9
Fonte: Adaptado da Revista Meio Ambiente Industrial, n°° 18, maio/jun. 1999
METODOLOGIA
Para desenvolver a pesquisa, foram realizadas visitas periódicas mensais à Fábrica, onde todas as etapas do
processo de implantação do SGA na empresa foram acompanhadas. Isto permitiu uma avaliação das fases,
desde a primeira reunião para conscientização e preparo, realizada em janeiro de 1998, até a certificação, em
dezembro de 1999. Fez-se também, um amplo rastreamento de informações e dados, divulgados em revistas,
jornais, boletins informativos e consultas a sites da Internet. Foram ainda consultados: os dois últimos
Relatórios de Auditorias Ambientais realizados nas empresas Holdercim e Tecnosol por consultorias
independentes, onde se pôde constatar a melhoria do seu desempenho ambiental e o Relatório de Inspeção
realizado nas Indústrias Cimenteiras de Cantagalo (1999) que realizam co-processamento de resíduos
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industriais, solicitado pelo Ministério Público do Trabalho e realizado pela equipe do CESTEH ( Centro de
Estudos de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana).
A ATIVIDADE DE CO-PROCESSAMENTO
O co-processamento de resíduos industriais em fornos de cimento é um caso especial de incineração. A alta
temperatura do forno, superior a 1400 ºC e o elevado tempo de permanência dos gases na zona de queima do
forno asseguram a completa destruição do resíduo. A Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente do
Estado do Rio de Janeiro (FEEMA) licenciou a atividade e foi a partir daí que a Tecnosol desenvolveu todos
os preceitos legais do SLAP- Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras e obteve a Licença Estadual
de Operação. As principais preocupações dos órgãos ambientais quanto à utilização de resíduos em fornos de
produção de clínquer são com os limites de emissão de efluentes gasosos e com os critérios básicos de
reaproveitamento de energia (substituição de combustível). O co-processamento não é uma solução para todo
e qualquer tipo de resíduo, pois algumas substâncias podem ocasionar problemas técnicos e operacionais ao
forno. Existem dois grupos de materiais que são aceitáveis para o processo:
•
•
Resíduos substitutos de matérias primas: são aqueles que possuem características semelhantes às
matérias primas utilizadas na fabricação de cimento e que depois de processados são incorporados ao
produto.
Resíduos substitutos de combustíveis: resíduos com significativo poder calorífico e que substituem os
combustíveis tradicionais, utilizados para alimentação do forno.
Os resíduos processados na Fábrica são divididos em quatro grupos:
1.
2.
3.
4.
Resíduos sólidos trituráveis: são resíduos com menos de 60% de umidade. Exemplo: Borra de tinta,
borra de retífica, borra de fosfato, torta de filtração, etc.
Resíduos sólidos não trituráveis: são resíduos sólidos que quando passam pelo destorroador ou moinho
não conseguem ser moídos, nem triturados. Seu tratamento requer temperatura superior a 1000ºC,
Exemplo: sacos, tecidos, plásticos, madeira, etc.
Resíduos líquidos: são materiais que possuem percentual de particulado menor que 10% e
granulometria inferior a 4 mm. São estocados em tanques que fazem parte da planta de alimentação de
líquidos e são tratados e dosados através de bombas e queimadores na zona de queima do forno,
objetivando a destruição térmica e/ou aproveitamento energético. Exemplo: Poliol, estireno, etc.
Resíduos pastosos: são assim chamados quando o percentual de particulado é maior que 10% e menor
que 40%, com umidade acima de 60%. São estocados em tanques e transportados para o forno através de
bombas. O material é introduzido no forno em um ponto onde a temperatura é superior a 1100 ºC.
Exemplo: Lodo de ETE (Estação de Tratamento de Esgoto).
IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS E NA SAÚDE DOS TRABALHADORES
De acordo com o Relatório de Inspeção (1999):
“A produção de cimento é processo industrial com aspectos de agressão ambiental conhecidos, principalmente
concentrados na questão da emissão de gases ácidos e de grande quantidade de material particulado, carvão e
fuligem em várias e diferentes etapas do processo produtivo.”
“Uma importante e atual discussão na comunidade científica encontra-se na preocupação mundial a respeito da
contaminação do meio ambiente com poluentes orgânicos, principalmente pela grande parte desses poluentes
serem compostos organoclorados de grande persistência no meio ambiente e alta bioacumulação, sendo por
isso também denominados poluentes orgânicos persistentes (POP’s). Neste grupo, as Dibenzo-p-dioxinas
policloradas (PCDD’s) e os Dibenzofuranos policlorados (PCDF’s) são as substâncias mais tóxicas já criadas
pelos seres humanos.... As duas principais fontes de geração destas substâncias são os processos da indústria
química e processos térmicos. O PCDD/f’s que são gerados nos processos térmicos se distribuem no meio
ambiente via ar, principalmente adsorvidos nas partículas em suspensão.”
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AS DIFICULDADES ENCONTRADAS NA IMPLATAÇÃO DO SGA
As principais dificuldades encontradas pela Tecnosol para implantação do Sistema de Gestão Ambiental de
acordo com a norma ISO 14001, descritas resumidamente a seguir e constatadas através de entrevistas com a
Coordenadora do Meio Ambiente e a Médica do Trabalho da empresa, além das observações feitas in loco
compreendem:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Os limites que o SGA da Tecnosol incorporaria, já que existe uma interface de trabalho com a Holdercim,
que não está implantando um SGA, embora esteja investindo e assumindo alguns compromissos com o
meio ambiente.
A relação da Tecnosol com as empresas transportadoras, que se responsabilizam por trazer os resíduos até
as instalações da Fábrica, e o modo como isto é feito.
Os tambores metálicos são as únicas embalagens que saem do processo e devem ser controladas, pois as
outras embalagens são queimadas ou devolvidas ao cliente.
A conscientização e treinamento dos funcionários de chão de fábrica, tendo em vista o seu baixo nível de
escolaridade.
Assim, de acordo com item anterior, o levantamento dos aspectos e impactos ambientais mostrou uma
dificuldade muito grande, por parte dos funcionários, em termos de entendimento das definições e
conceitos deste requisito.
O levantamento das normas técnicas que são referenciadas em leis e diretrizes, já que a norma passa a ter
caráter obrigatório. A empresa tinha idéia de que as normas têm caráter voluntário.
A comunicação externa com as comunidades vizinhas foi um outro item difícil de ser implementado no
SGA.
O controle operacional, pois o forno rotativo tem controle automatizado e opera sob a responsabilidade da
empresa Holdercim.
O requisito estrutura e responsabilidade, pois não houve um esclarecimento na prática quanto aos
significados de função, autoridade e responsabilidade.
A falta de controle no SGA sobre o nível de contaminação do cimento por metais. A Holdercim tem um
controle de qualidade para o produto e possui laboratórios próprios que colhem, periodicamente, amostras
do clínquer e do cimento, para ensaios específicos. Qualquer resultado negativo implica em condutas de
adequação do cimento. A auditoria externa questionou e cobrou que o SGA da Tecnosol apresentasse
registros do controle de qualidade .
ANÁLISE CRÍTICA DO PROGRESSO ALCANÇADO
Um dos maiores benefícios da introdução do sistema para a empresa foi a realização do levantamento dos
impactos ambientais e do mapeamento dos riscos. Isso permitiu uma revisão de suas operações e uma
avaliação da sua situação frente às exigências da legislação. A empresa pôde ter uma visão dos seus pontos
fortes e fracos e assim atuar nas áreas potenciais de melhoria. A direção da empresa se sentiu mais segura
frente às exigências dos órgãos fiscalizadores e do Ministério Público. Não foi possível avaliar outras
empresas concorrentes que realizam o co-processamneto neste polo cimenteiro, mas certamente a Tecnosol se
encontrava mais preparada para atender às exigências feitas pela equipe de avaliação indicada pelo Ministério
Público. Outro benefício constatado se refere ao fato de que as relações comerciais melhoraram após a
certificação, proporcionando inclusive a abertura de novos mercados. A imagem da empresa também
melhorou com a certificação. Os clientes antigos continuaram com uma satisfação maior e novos clientes
surgiram a partir do aumento da confiabilidade na empresa. Um dos indicadores dessa proposição é a
quantidade total de resíduos co-processados anualmente na fábrica. Até o mês de agosto já haviam sido
processadas 13.482,06 toneladas de resíduos e a previsão para a quantidade total processada até dezembro de
2000 é de 20.000 toneladas.
Como previsto inicialmente a certificação trouxe ganhos financeiros para a empresa. A divulgação da
certificação foi divulgada, predominantemente junto aos clientes, sendo que isso foi um fator predominante
para o aumento da competitividade da empresa. A direção da empresa declarou que alguns clientes deixaram
outras empresas concorrentes e passaram a co-processar seus resíduos na Tecnosol sabendo de sua certificação
ISO 14001.
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O gráfico a seguir mostra a evolução da produção até o mes de agosto de 2000.
Figura 1: Gráfico de resíduos co-processados pela Tecnosol
RESÍDUOS CO-PROCESSADOS
TONELADAS
20000
15000
10000
Real
5000
0
Previsão
1997
1998
1999
2000*
ANO
( * O valor real para o ano 2000 foi contabilizado até o mês de agosto )
Outro progresso alcançado com a implantação do SGA foi a introdução de melhorias no processo de produção
e isso aconteceu a partir da preocupação de não ocorrerem vazamentos durante o descarregamento, mistura e
transporte do resíduo até o forno. Novos equipamentos foram projetados e outros instalados. Os objetivos e
metas da empresa prevêem investimentos a serem feitos pela Holdercim em torno de U$ 1,5 milhão de dólares
em melhorias de infra-estrutura, como construção de laboratório próprio, compra de equipamentos
automáticos, ampliação das instalações de resíduos pastosos para aumentar a capacidade de processamento,
etc. Muitas dessas mudanças ocorreram a partir da implantação do SGA, quando uma melhoria começou a
estimular outra. A partir daí, a direção da empresa observou que seu planejamento estratégico já havia
incorporado os aspectos ambientais, contemplando assim os compromissos assumidos na Política Ambiental.
Com relação às variáveis ambientais medidas e monitoradas no SGA, pode-se avaliar uma redução
considerável nos consumo de água e uma redução menos expressiva no consumo de energia elétrica devido,
provavelmente, à introdução de novos equipamentos. Esta redução de consumo não teve valores monetários
significativos pois o consumo de água e luz já era considerado pequeno pela empresa. Uma grande
preocupação do sistema está relacionada às emissões da chaminé do forno de clínquer. A grande melhoria
alcançada em relação a esse item foi a redução das partículas sólidas totais em suspensão. Algumas Auditorias
Ambientais anteriores à implantação do SGA, já haviam levantado a necessidade de correção do problema,
pois os valores medidos vinham regularmente excedendo os limites estabelecidos pela FEEMA. O SGA veio a
fortalecer a cobrança de ações corretivas e a mudança do filtro eletrostático para o filtro de manga foi a
solução encontrada para resolver o problema. Antes, o valor encontrado para essa variável girava em torno de
300 mg/Nm³. Em 1999 com a instalação do filtro de manga, esse valor caiu para uma média de 16 mg/Nm³,
sendo o limite permitido de 70 mg/Nm³.
Outra variável importante no sistema é a medição do nível de exposição dos funcionários a agentes químicos e
ruído. Antes do SGA, esse monitoramento era realizado precariamente e após a implantação foi introduzida
uma rotina de medições e exames. Essas avaliações mostraram que não há atividades ou operações insalubres
por exposição a agentes químicos. Quanto ao ruído, várias mudanças ocorreram favorecendo aos
trabalhadores. Como exemplo, pode-se citar a prensa de tambores metálicos, cujas medições no seu entorno
apresentaram índices altos de ruído. Como o SGA cobrava a introdução de ações corretivas, o motor da prensa
foi acondicionado em outro local diminuindo a poluição sonora no ambiente de trabalho.
A maioria dos funcionários, quando questionados, responderam que se sentiam valorizados e envolvidos com
os compromissos ambientais assumidos pela empresa. A maioria achou que as condições de trabalho
melhoraram e que se sentiram mais seguros e esclarecidos quanto aos riscos do ambiente de trabalho. A
conquista pela certificação envolveu a todos e trouxe um sentido de equipe, aumentando assim a motivação
pelo trabalho.
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CONCLUSÕES
A fase mais delicada de todo o processo foi a transição entre a implantação e a implementação, porque no
início, parecia que estava sendo realizado um grande levantamento sobre o que é necessário atender em termos
de legislação e sobre os principais pontos fracos da empresa; mas depois, na fase de implementação, foi
necessário inserir tudo isso no dia a dia da empresa. Na fase de implantação, algumas dificuldades começaram
a conduzir a equipe a constantes análises críticas. Como exemplo, pode-se citar o levantamento de aspectos e
impactos ambientais. Apesar do mesmo ter sido detalhadamente realizado o processo conduziu a uma
indagação: será que a metodologia escolhida permitiu avaliar com clareza os impactos ambientais mais
significativos? A empresa ganhou uma não-conformidade com a primeira metodologia adotada (falta de
significância nos critérios de avaliaçäo dos quesitos) e depois teve que substituí-la já que a norma deixa livre
esta escolha. Todos esses detalhes foram criando um amadurecimento para a equipe de implantação e a
situação passou a ser vista da seguinte maneira: o retrato da empresa naquele momento tinha que ser
verdadeiro e a significância de valores era essencial para a tomada de decisões. No entanto, uma observação
pôde ser constatada nesta fase. No critério “preocupação das partes interessadas”, os valores considerados
foram muito subjetivos devido ao contato da empresa com as comunidades vizinhas ter sido deficiente. O que
se temia é que a grande vontade de implantar e certificar o sistema, conduzisse a distorções ou acomodações
de situações, onde caberia uma pesquisa das reais considerações da comunidade. As partes interessadas, têm
que ser consultadas, principalmente quando a metodologia pondera valores para suas opiniões. As consultorias
contratadas, na maioria das vezes, não fazem este tipo de levantamento e os valores acabam sendo arbitrados,
tornando a avaliação extremamente subjetiva neste aspecto.
Durante a implementação, a rotina de trabalho vai melhorando muito, mas o que se pôde observar é que o
trabalho do(a) Coordenador(a) Ambiental é fundamental para que a empresa tenha um SGA eficiente. Um
coordenador que não tenha realmente consciência e embasamento nas questões ambientais, irá apenas cumprir
burocraticamente as exigências da legislação. Quando for necessário continuar aplicando os treinamentos,
implementando melhorias e divulgando o sistema, não terá suficiente capacidade para motivar os
colaboradores. Se não houver uma crença nas questões básicas que prega, tudo parecerá uma grande
burocracia, com rotinas a cumprir. Um bom sistema de gestão com certeza dependerá do nível de
conscientização da alta administração da empresa, mas fundamentalmente, daqueles que têm que “fazer a roda
girar”. É imprescindível a realização freqüente de palestras com vídeos e a divulgação de melhorias e
inovações em jornais e cartilhas internas. A relação com as cidades vizinhas também é importante e o canal de
comunicação deve ser constantemente fortalecido.
A empresa não admitiu, mas um ponto crítico observado no sistema foi o requisito comunicação. A
comunicação interna foi melhor gerenciada, mas a comunicação externa não ficou bem estabelecida. A
empresa não se empenhou em esclarecer e divulgar para as comunidades vizinhas os compromissos ambientais
assumidos e até mesmo o fato de ter conseguido a certificação de acordo com a ISO 14001. A concentração da
divulgação foi focada nos clientes, autoridades municipais e na Vigilância Sanitária. Não houve programação
para as comunidades e municípios vizinhos que mostrassem a nova ótica de gestão da empresa. Seria
importante a participação da empresa em programas de educação ambiental nas comunidades, com o objetivo
de esclarecer a população sobre as principais questões ambientais levantadas, segundo denúncias locais, ao
Ministério Público. Não houve promoção ou participação em eventos locais e nem visitas das comunidades
vizinhas às instalações da fábrica.
Os principais impactos ambientais levantados no SGA são o manuseio de resíduo perigoso e descaracterizado,
risco de contaminação do ar, solo e corpos d’água, riscos ergonômicos e riscos de explosão e incêndio. Esses
impactos mais significativos foram analisados e ações foram tomadas para resolvê-los. A equipe não deixou de
atacar nenhum ponto considerado crítico no sistema. A maioria dos objetivos e metas propostos até a
certificação foram atingidos. O progresso conseguido com a monitoração de algumas variáveis ambientais não
impediu, no entanto, que um certo tipo de problema fosse detectado. Durante a implementação do SGA,
algumas medições de compostos tiveram valores além dos limites estabelecidos pela norma e isso fez com que
a Tecnosol enviasse comunicado à Holdercim cobrando as ações corretivas. A Tecnosol considera que o seu
Sistema de Gestão está em conformidade, pois realizou a ação necessária, mas o meio ambiente continuará a
sofrer agressões se as ações cabíveis não forem tomadas. E nesse caso, elas devem ser tomadas pela
cimenteira. Os auditores certificaram a empresa, mas e o seu desempenho ambiental? A norma não estabelece
requisitos absolutos de desempenho ambiental além de exigir a conformidade com as regulamentações
aplicáveis. Assim chega-se ao problema das dioxinas e furanos levantado no relatório do Ministério Público.
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As observações descritas a seguir mostram os pontos favoráveis sendo que algumas delas foram essenciais
para o sucesso da implantação e implementação do sistema:
a)
O grande comprometimento da alta administração da empresa favoreceu os trabalhos de implantação. A
crença efetiva na certificação foi muito grande e sua participação ativa no processo;
b)
Os recursos financeiros foram sempre disponibilizados e uma visão de futuro muito positiva fez com que,
os objetivos e metas da empresa incorporassem grandes melhorias. Os investimentos em instalações e
equipamentos foram acrescentados nos objetivos da empresa e serão realizados devido ao aumento do
faturamento;
c)
A disseminação de questões ambientais através da interface de trabalho fez com que a Tecnosol
influenciasse outras empresas (clientes, transportadoras, etc) a implantarem SGA’s, cumprindo portanto a
solicitação da Norma ISO 14001 no item 4.3.1. Não houve punições ou quebra de contratos, mas
cobranças sistemáticas, com relação aos problemas da interface de trabalho e isto surtiu efeitos positivos;
d)
A interface de trabalho com a Holdercim que, apesar das dificuldades relatadas no capítulo anterior,
atendeu a muitas das cobranças que o SGA da Tecnosol levantou, passando a ser também influenciada a
mudar seu comportamento ambiental, mesmo não optando por introduzir formalmente um SGA;
e)
O clima organizacional da empresa já era bom, antes da implantação do SGA, mas se tornou melhor. A
participação de todos foi essencial e isso proporcionou a união dos grupos e a motivação para a obtenção
do certificado.
AGRADECIMENTOS
À TECNOSOL COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, pelo apoio e atençäo constantes, ao doutorando da
COPPE/UFRJ Saulo Barbara pelas sugestöes na redaçäo final do artigo e ao CNPq pelo contínuo apoio ao
primeiro autor para o desenvolvimento de seus trabalhos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ABES – Trabalhos Técnicos
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21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e