Sistemas Locais de
Produção:
Estratégias de desenvolvimento
local baseadas na inovação
Prof. Wilson Suzigan,IE/UNICAMP
Roteiro da Exposição
1. Desenvolvimento local: Sistemas, Arranjos,
Clusters, Aglomerações, Pólos...
2. Por que Sistemas locais?
3. Sistemas que evoluem com o ambiente
competitivo
4. Novos fatores de competição
5. Inovação é fator crucial e tem características
sistêmicas
6. Elementos para políticas públicas: tipologia de
SLPs
7. Políticas para SLPs: diretrizes gerais e
diferenciação segundo o tipo de sistema local de
produção
8. Instrumentos e medidas de políticas
1. Desenvolvimento local: Sistemas,
Arranjos, Clusters, Aglomerações, Pólos
Quando se pensa em desenvolvimento local
pensa-se em sistemas de produção com várias
denominações: sistemas produtivos locais,
arranjos produtivos locais, clusters,
aglomerações ou pólos industriais.
Deixando de lado questões conceituais ou
discussões semânticas, considero mais
adequado trabalhar com o conceito único e
simples de Sistema Local de Produção (SLP)
para tratar de desenvolvimento local, e vou
justificar porque.
2. Por que sistemas locais?
Porque tratam-se de estruturas de produção que se
caracterizam como sistemas complexos nos quais:


Operam vários subsistemas de: produção, logística e
distribuição, comercialização, desenvolvimento
tecnológico (P&D, laboratórios, centros de pesquisa),
instituições de apoio, e onde
Fatores sociais, econômicos, institucionais e geográficos
estão tão fortemente entrelaçados que é praticamente
impossível tratá-los separadamente.
Distinções entre sistemas resumem-se a graus de
desenvolvimento, de integração da cadeia produtiva, de
articulação e interação entre agentes e instituições
locais, e de capacidades sistêmicas para a inovação.
3. Sistemas que evoluem com o ambiente
competitivo
Os SLPs evoluem conforme muda o ambiente
competitivo. Essa evolução pode ser:


meramente adaptativa, ou
pode sofrer descontinuidades em função de eventos
que mudam a trajetória de evolução.
Exemplos de eventos: inovação tecnológica radical;
introdução de novas formas de organização industrial; novas
estratégias
de
comercialização;
novas
formas
de
coordenação; mudanças institucionais; novas formas de
inserção nos mercados.
3. Sistemas que evoluem com o ambiente
competitivo (cont.)
Trajetória estilizada: da competição baseada em
preço baixo e volume elevado de produção para a
competição baseada em diferenciação de
produto.
O ambiente competitivo atual, caracterizado por
novos fatores de competição, é um desses
eventos que podem mudar a trajetória de
evolução dos SLPs. Que fatores são esses?
4. Novos fatores competitivos
O ambiente competitivo globalizado tornou-se
mais turbulento, sob influência das tecnologias
de informação e comunicação:

mercados mudam mais rapidamente

novos padrões de consumo são criados

os ciclos de vida dos produtos são mais curtos

os sinais de mercado são mais difíceis de captar e

muitas vezes as novas tendências não são
compatíveis com a estrutura produtiva do SLP.
4. Novos fatores competitivos
Nesse ambiente não é possível sobreviver com estratégias
meramente adaptativas. São necessárias estratégias mais
agressivas:

de informação, de modo a saber exatamente o que o mercado
quer, e ser estrategicamente capaz de antecipar eventos

de marketing e comercialização

de inovação em produtos e processos

da qualidade total

de redução do tempo de resposta aos sinais de mercado

de logística e distribuição (sistemas especializados)
 Para isso é necessário desenvolver novas capacitações e
competências específicas ou, em outras palavras,
desenvolver a capacidade de inovação do SLP tendo
em vista valorizar o produto local.
5. Inovação é crucial e tem caráter
sistêmico
A natureza da competição, portanto, impõe a
necessidade de os SLPs se tornarem mais capazes
de inovar.
Porém é preciso inovar não apenas em produtos e
processos mas no sistema local como um todo,
ou seja:

na busca por informações sobre características da
demanda, tipologias de produtos, tendências de mercados e
outras.
 Um caso exemplar: a empresa Pesquisa & Produto,
que opera no sistema local de produção de calçados
infantis de Birigui, SP;
5. Inovação é crucial e tem caráter
sistêmico (cont.)

nas formas de organização industrial (operação em
redes, subcontratação, terceirização, grupos de empresas
com empresa líder, pequenas empresas autônomas,
fornecedores especializados), que condicionam a divisão do
trabalho, as interações ou ações coletivas, e a governança do
sistema.
 Casos virtuosos: Nova Serrana, MG, Limeira e Birigui,
SP (divisão de trabalho); Votuporanga, SP (governança:
agente coordenador; central de compras de insumos;
interações: qualidade, redução de custos, centro
tecnológico);
 Casos negativos: Franca, SP (governança: G 30 x
grandes fornecedores); Votuporanga: governança:
oligopólio de fornecedores.
5. Inovação é crucial e tem caráter
sistêmico (cont.)

na comercialização: formas de inserção nos mercados
interno e internacional (vendas diretas, redes próprias,
vendas para grandes varejistas nacionais/internacionais)
que limitam a criatividade e dificultam o desenvolvimento
de marcas próprias
 Exemplos negativos: Franca, SP e Vale do Sinos,
RS: algumas grandes empresas exportadoras se
definem como “compradas”, não desenvolvem produtos
próprios.
 Exemplos positivos: Birigui, Jaú e Franca (SP):
empresas criativas, que buscaram inserir-se de forma
independente nos mercados interno e internacional por
meio de canais e marcas próprios, ou
de forma
consorciada (consórcios de exportação).
5. Inovação é crucial e tem caráter
sistêmico (cont.)

na rede de instituições locais de apoio:
associações de classe, centros tecnológicos e de
formação profissional, prestadoras de serviços
empresariais especializados (informação, participação
em eventos, capacitação gerencial, certificações,
registros de marcas e patentes, etc).
 Dois casos exemplares: Votuporanga (CEMAD - Centro
Tecnológico de Formação Profissional da Madeira e do
Mobiliário)
e
Nova
Serrana
Desenvolvimento Empresarial).
(CDE
-
Centro
de
MÓVEIS EM VOTUPORANGA/SP
Informação Tecnológica
Gestão da
Produção
Diagnósticos, propriedade industrial,
editoração, registros, publicações,
prospecção tecnológica, estudos de
viabilidade e outros
Tempos e métodos,
qualidade e meio
ambiente
Desenvolvimento
Tecnológico
Prototipagem,
desenvolvimento e
redesign de produtos
Assessoria Técnica
e Tecnológica
ISO 9000, planej. e
desenv. de métodos de
produção, otimização de
plantas, sist. de
segurança do trabalho e
outros
CEMAD
Cursos
─ Básico: aprendizagem industrial e
construção de móveis
─ Técnico: técnico em movelaria e design
de móveis
─ Formação continuada: metrologia, custos
industriais, desenho técnico, programador e
operador centros usinagem CNC, CAD
Assistência
Técnica e
Tecnológica
Ensaios Laboratoriais
Cerca de 20 tipos de testes
e ensaios aplicados tanto a
móveis de madeira como de
metais.
CALÇADOS EM NOVA SERRANA/MG
SINDINOVA
Consórcio de
Exportação
Show-room
Permanente
do Calçado
SEBRAE/APEX
Balcão COMEX
Laboratório de
testes físicos
Centro de
Modelagem
CDE
Balcão SEBRAE/MG
Cursos
─ PATME
─ Linhas crédito e
financiamento
─ Orientação p/
abertura de Novos
Negócios
─ Projeto CTO/SENAI
─ Curso de Pesponto
─ Faculdade de Nova Serrana
─ CEFET: Escola Técnica de
Calçados
─ Atualização e Prática de
Negócios
─ ETFG: Escola Técnica de
Formação Gerencial
Serviços
Núcleo de
Atendimento
Tecnológico
─ Assist. Jurídica
─ Medicina do Trabalho
─ Negociações Coletivas
─ Participação em Feiras
─ Registro de Marcas e
Patentes
─ Palestras Técnicas e
Seminários
─ Sistema de Proteção ao
Crédito
6. Elementos para políticas públicas:
tipologia de SLPs
É preciso inovar também nas políticas públicas:
devem ser adequadas ao tipo de SLP e à sua fase de
evolução. A partir de uma metodologia de mapeamento e
caracterização de SLPs, desenvolvemos uma tipologia de
sistemas locais segundo sua importância para a
economia local (regional) e para o respectivo setor
(classe de indústria CNAE 4 dígitos). São quatro tipos
básicos de sistemas locais:
Importância para o setor
Reduzida
Importância
local
Elevada
Reduzida
Vetor de
desenvolvimento
local
Embrião de sistema
local de produção
Elevada
Núcleos de
desenvolvimento
setorial-regional
Vetores avançados
Fonte: Suzigan, Furtado, Garcia e Sampaio, 2003
7. Políticas para SLPs: diretrizes gerais e
diferenciação segundo o tipo de sistema
local de produção
Com base nessa tipologia, propomos que as
políticas para SLPs sejam elaboradas:

Com foco na inovação em sentido amplo, i. e.
abrangendo o sistema em seus vários sub-sistemas e
instituições e estimulando processos de aprendizado e
acumulação de conhecimentos;

obedecendo a diretrizes gerais, e

com metas diferenciadas segundo o tipo de SLP.
7. Políticas para SLPs: diretrizes gerais e
diferenciação segundo o tipo de sistema
local de produção
Diretrizes gerais:



Programas de apoio de acesso fácil e disponíveis a
qualquer SLP que se enquadre nas condições
estabelecidas;
Benefícios a serem concedidos por meio de concorrência;
Criar, em órgão público ou organização não
governamental, banco de dados e informações sobre os
SLPs já identificados, de modo a ajudar os atores locais
na preparação de projetos que habilitem o sistema local
a concorrer aos benefícios;
7. Políticas para SLPs: diretrizes gerais e
diferenciação segundo o tipo de sistema
local de produção
Diretrizes gerais

(continuação):
Oferecer condições para que os protagonistas locais –
empresas, empresários, trabalhadores, entidades públicas
e privadas e o tecido associativo formal ou informal –
utilizem a sua capacidade de mobilização em favor do
desenvolvimento. Isto significa que a política não pode e
não deve substituir-se aos atores locais, como deve evitar,
sob risco de fracasso antecipado, medidas que possam
entorpecer ou atrofiar o desenvolvimento autônomo do
sistema local e de suas forças sociais. Em qualquer política
para SLPs, o protagonismo das empresas e instituições
locais deve preponderar.
7. Políticas para SLPs: diretrizes gerais e
diferenciação segundo o tipo de sistema
local de produção
Diretrizes gerais


(continuação):
Exigência de contrapartidas dos atores locais, seja na
forma de uma fração de recursos locais para os
recursos públicos alocados, seja por meio de ações
complementares;
Medidas e instrumentos diferenciados conforme o tipo
de SLP.
7. Políticas diferenciadas segundo o tipo
de SLP
Núcleos de desenvolvimento setorial-regional
Sistemas desse tipo, de modo geral:





têm história longa e de rápido desenvolvimento
têm capacidades produtivas muito mais desenvolvidas que
suas funções comerciais e tecnológicas
estão em muitos casos aprisionados, na competição, pelo
binômio quantidade elevada/preços baixos
 As políticas nesse caso deveriam visar a formação de
capacidades técnicas superiores e de forças comerciais
autônomas de modo a:
superar a dependência nos canais e nas formas de
comercialização, e
promover desenvolvimento de produtos, fixação de marcas,
registro de patentes, design, certificações da qualidade e
outras.
7. Políticas diferenciadas segundo o tipo
de SLP
Embriões de sistemas locais de produção
Os SLPs do tipo embrião de sistema local, por serem
incipientes, demandam menos recursos, mas oferecem
maiores riscos. Seus subsistemas de produção,
comercialização, distribuição, desenvolvimento tecnológico e
instituições de apoio ainda estão por desenvolver.


 As políticas, nesse caso, deveriam:
atuar no estímulo ao desenvolvimento simultâneo das
capacidades produtivas, comerciais, técnicas, organizacionais
e institucionais
estimular a realização de estudos de mercados capazes de
identificar nichos de mercados, evitando a simples expansão
da capacidade produtiva local em direção à competição por
meio de preços baixos e degradação da qualidade.
7. Políticas diferenciadas segundo o
tipo de SLP
Vetor de Desenvolvimento Local
Os vetores de desenvolvimento local constituem
sistemas que já superaram o estágio embrionário, têm
grande potencial, e na maioria dos casos ainda não têm
os problemas dos núcleos de desenvolvimento
regional/setorial.
Para esses, as políticas deveriam ajudá-los a:


desenvolver capacidades técnicas superiores (P&D,
marcas próprias, design, patentes, certificações da
qualidade), e
identificar mais facilmente novas oportunidades.
7. Políticas diferenciadas segundo o
tipo de SLP
Vetores Avançados
Os sistemas do tipo vetores avançados são sistemas
inseridos em estruturas econômicas diversificadas e
integradas. São comuns em regiões metropolitanas.
 Políticas para esses vetores deveriam buscar
mobilizar os próprios recursos locais avançados que
constituem o tecido econômico circundante e que
diferenciam esses vetores dos outros tipos de
sistemas locais de produção.
8. Instrumentos e medidas de políticas
Variam conforme os objetivos em cada tipo de sistema
e sobretudo de acordo com os problemas evidenciados
em cada caso. De modo geral, estudos de casos
tendem a mostrar problemas relacionados a:




mudanças decorrentes de crises e outros eventos que
afetam a evolução do sistema local;
especialização produtiva local, que tem vantagens e
desvantagens;
logística e infra-estrutura, que afetam a produção e a
distribuição;
grau de integração local da cadeia produtiva, que
condiciona as possibilidades de interações locais;
8. Instrumentos e medidas de políticas
(cont.)





instituições de apoio ineficientes ou inexistentes,
sobretudo para formação profissional, pesquisa e
desenvolvimento tecnológico;
governos locais pouco atuantes, principalmente na ação
política com instituições de fora do sistema;
fraco espírito de cooperação e problemas de coordenação
ou governança, que dificultam o associativismo e ações
coletivas mais efetivas;
deficiências de capacitação gerencial e administrativa que
implicam custos elevados e ineficiência operacional;
deficiências também de capacidades técnicas superiores:
estruturas próprias de P&D, desenvolvimento de produtos,
design, registro de patentes, marcas próprias,
certificações;
8. Instrumentos e medidas de políticas
(cont.)





sistemas de comercialização: problemas de subordinação
a redes varejistas ou agentes de exportação vs. autonomia
por meio de canais próprios de comercialização, que
condicionam a capacidade de criar novos produtos e fixar
marcas próprias;
dificuldades de acesso a informações sobre produtos e
tendências de mercados;
deficiências da qualidade, devido ênfase maior no produto
final do que na cadeia produtiva;
carências de serviços técnicos e profissionais
especializados, e
insuficiência de financiamento em condições e prazos
adequados.
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Vetor de Desenvolvimento Local