XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
A ÉTICA COMO ELEMENTO INTEGRANTE DA FORMAÇÃO INICIAL
DOCENTE
Ana Lise Costa de Oliveira
PPGEDUC/UNEB
RESUMO
O processo educacional na contemporaneidade é permeado de vicissitudes e paradoxos.
Nunca se falou tanto da importância da educação; ao mesmo tempo em que convivemos
com ingerências, descaso com as instituições de ensino. Semelhante caso ocorre com a
ética, exige-se uma sociedade mais moralizadora, decente, enquanto convivemos com
diversos escândalos sociais. Assim, educação e ética são elementos fundamentais para a
humanidade poder reencontrar-se consigo mesma, evitando a tão vil barbárie apavorante
presenciada e/ou assistida nos noticiários midiáticos como escolas palco de chacinas,
professores assassinados por alunos enfurecidos, dentre outros. Ao propormos aqui
discutirmos sobre educação e ética, ousamos problematizar a formação inicial de
professores, visando (re) pensarmos as relações estabelecidas entre os agentes
educacionais, numa perspectiva mais humana, respeitando-se esta singularidade do ato
de educar. Sobretudo, urge que prestemos mais atenção nas relações dentro/fora da sala
de aula, dando relevo às relações éticas, que apesar de distantes muitas vezes de um
senso equilibrado, perduram nas ações dos que fazem a educação. Nesse sentido,
referendados numa pedagogia ética (Catão, 1995; Freire, 1996; Rios, 2009; Severino,
2011) e na ética de si Morin, 2011; Foucault, 2009), este artigo é um recorte de uma
pesquisa de mestrado em educação, que está sendo realizada numa universidade pública
do Estado da Bahia, sob tema “A dimensão moral e ética na formação inicial de
professores do Curso de Pedagogia”. Por meio do teste de associação livre de palavras,
amparados pela teoria das representações sociais, buscamos partilhar as representações
dos estudantes de pedagogia sobre a sua vivência ética no âmbito universitário.
Portanto, acreditamos que a dimensão ética na formação docente, se bem conduzida,
pode contribuir muito para a qualidade das relações e do trabalho docente no cotidiano
universitário e da escola básica.
Palavras-chave: ética e moral na educação; pedagogia universitária; formação docente
inicial
PARA INÍCIO DE CONVERSA: BREVE INTRODUÇÃO
A educação na atualidade tem se revelado bastante complexa e paradoxal. Essa
dinâmica se dá no contexto da contemporaneidade marcado como um tempo de
coexistências de modelos sociais que se complementam e/ou se excluem. Um exemplo
claro disso é a sociedade democrática, vivemos nela e sob o seu julgo, legalmente temos
dado passos largos, enquanto que no sentido prático essa democracia deixa muito a
desejar nas ações dos cidadãos, convivemos constantemente com descumprimento
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diário das leis que nos regem, na luta pela dignidade de pessoa humana nos aspectos
mais básicos como moradia, saúde, educação, cultura, segurança e assistência social.
Essa busca pela dignidade de pessoa humana se traduz num desejo fundante por
modelos sociais calcados em preceitos éticos. A ética ao longo da história da
humanidade sempre foi a sustento moral das sociedades. Hoje, mergulhados num clima
de perplexidades, onde se cogita a ausência daquela, estamos em busca de novos
referenciais éticos que nos (re) conduza a preservar/exercitar essa dignidade num
projeto comum, pela busca do bem e da felicidade, tendo com fio condutor o ideal de
coletividade.
Assim sendo, nunca se falou tanto da importância da educação, sendo que ao
mesmo tempo que convivemos com ingerências, descaso com as instituições de ensino.
Semelhante caso ocorre com a ética, exige-se uma sociedade mais moralizadora,
decente, enquanto convivemos com diversos escândalos sociais. Assim, educação e
ética são elementos fundamentais para a humanidade poder reencontrar-se consigo
mesma, evitando a tão vil barbárie apavorante presenciada e/ou assistida nos noticiários
midiáticos como escolas palco de chacinas, professores assassinados por alunos
enfurecidos, alunos agredindo colegas, ameaças e xingamentos a funcionários, dentre
outros. Precisamos da ética para dar novos rumos a sociedade e principalmente à
educação.
Nesse sentido, o texto que nos propomos discutir nesse painel, é fruto de uma
pesquisa de mestrado em andamento, do qual apresentaremos aqui resultados
preliminares, mais imprescindíveis para uma investigação no campo educacional atual
no sentido de atualizarmos as discussões pertinentes ao campo da Didática e das
Práticas de ensino no país. Essa pesquisa nasceu de nossas vivências formativas no
âmbito da docência universitária, no contexto da formação inicial de pedagogos. Os
estudantes em sua maioria queixosos, tem-nos revelado que sua formação está mais
pautada na mera instrução dos saberes, enquanto que se vive muito pouco experiências
contextualizadas e humanizantes, por que não dizer éticas. As práticas docentes
apresentam contradições oriundas dos modelos de educação diversificados, que
coexistem nas universidades. Percebemos que a ética no contexto da formação de
professores deve ser um campo interessante de investigação, ao qual nos enveredamos e
estamos focados na busca da trilha das relações éticas vivenciada pelos estudantes de
pedagogia no seu contexto formativo na universidade.
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Ao propormos aqui discutirmos sobre educação e ética, ousamos problematizar a
formação inicial de professores, visando (re) pensarmos as relações estabelecidas entre
os agentes educacionais, numa perspectiva mais humana, respeitando-se esta
singularidade do ato de educar. Sobretudo, urge que prestemos mais atenção nas
relações dentro/fora da sala de aula, dando relevo às relações éticas, que apesar de
distantes, muitas vezes, de um senso equilibrado, perduram nas ações dos que fazem a
educação. Neste XVI ENDIPE, objetivamos através de nosso estudo contribuir para a
ressiginificação do processo de formação docente, concebendo a ética como elemento
fundamental e integrador da Didática e das Práticas de ensino e da aprendizagem no
contexto da pedagogia, bem como a influências desta na atuação dos professores por
uma maior qualidade da escola básica, principalmente no que concerne a formação ética
de crianças e jovens. A seguir discutiremos os conceitos teórico-metodológicos básicos
que conduzem nosso trabalho, bem como a análise preliminar dos achados da pesquisa,
seguido das considerações finais.
TEMATIZANDO A DIMENSÃO ÉTICA NO ENSINO SUPERIOR: AS VISÕES
DE ESTUDANTES, PEDAGOGOS EM FORMAÇÃO
A temática que centraliza nossos estudos diz respeito à dimensão moral e ética
na formação inicial de professores do Curso de Pedagogia de uma universidade pública
do Estado da Bahia. Especificamente nessa discussão nos propomos a lançar nosso
olhar sobre a dinâmica relacional no processo ensino-aprendizagem dos estudantes de
pedagogia que estão se preparando para atuarem na gestão e docência da escola básica.
Para tanto, faz-se necessário que abordemos inicialmente os conceitos-chave que
norteiam a nossa interpretação, nossas visões acerca de nossa problemática de estudo.
Nesse sentido, os conceitos principais que dão sustento ao trabalho são: ética e moral,
pedagogia universitária e formação docente inicial.
Educar no contexto contemporâneo constitui-se um dos grandes desafios da
humanidade. Dentre os inúmeros desafios um deles se concentra na necessidade de
formação de sujeitos ético-morais, capazes de exercer com consciência autônoma a sua
cidadania. Ao longo da história da humanidade os termos moral e ética, de origem
semelhante significando modo de ser e costumes, foram configurando perspectivas
distintas. Para Vásquez (2001), Santos (2004), La Taille (2006) e Rios (2009) a Ética é
teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. A moral representa
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o conjunto de regras de conduta que determinam o modo de ser das pessoas e por
isso tem um caráter eminentemente prático. Se constitui num conjunto de
prescrições, normas, leis que orientam as ações e relações dos indivíduos em
sociedade, tendo um caráter normativo e prescritivo. Já a ética é a reflexão crítica
do agir moral, tem cunho teórico e reflexivo, pois procura validar ou não o agir
moral com base em critérios, julgamentos de valor pelos quais o ser humano passa
ao se deparar com as situações do seu cotidiano. É o olhar agudo que procura
descobrir os fundamentos dos valores que orientam as condutas dos sujeitos. A
moral por assim dizer é imperativa, enquanto a ética é mais crítica.
Nesse sentido, a moral e a ética representam como molas propulsoras no
desenvolvimento de valores e das condutas dos sujeitos cidadãos. No contexto
educacional ambas auxiliam na formação de valores de crianças, adolescentes, jovens e
adultos, principalmente num contexto onde a descrença nos valores morais tem cada dia
mais se agravado. Para Bauman (1997), Puig (1998), Piaget (1994), Goergen (2005a;
2005b; 2007) ato de educar para uma formação ética constitui-se como um dos grandes
desafios da contemporaneidade. Sobretudo o maior dos desafios é a formação de uma
consciência moral nos sujeitos que supere a fronteira do dever, sustentado nas normas
prescritivas e heterônomas e se alcance enfim o estágio de autonomia, no qual a vontade
e o questionamento aliado ao cultivo de valores possam contribuir para o
desenvolvimento moral dos sujeitos, inclusive sua capacidade de fazer escolhas.
No que se refere ao conceito de pedagogia universitária Cunha e Soares (2010)
definem-na como um espaço de conexão de conhecimentos, subjetividades e cultura no
qual se exige um conteúdo científico, tecnológico e artístico, altamente especializado
orientado para a formação de uma profissão. No caso especifico da formação de
professores, o contexto universitário precisa ser a base que vai lastrear as atuações dos
estudantes em formação. Sobretudo a valorização do espaço de vivências das práticas
associadas a uma didática intervencionista de bases mediadoras, a fim que se forme
profissionais preparados para lidar com o cotidiano e a realidade educacional vigente.
Nesses termos, tomamos como referência García (1999) e Brzezinski (2008)
onde a formação inicial docente é vista como sendo “a formação pré-serviço feita em
instituições especializadas” não se resume a treino e considera de máxima importância
que os sujeitos adultos devem contribuir para o processo da sua própria formação,
transformando as experiências significativas em marco para o seu saber-fazer e suas
futuras aprendizagens. Em resumo, a formação apresenta-se-nos como um fenômeno
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complexo e diverso, e é entendido em três grandes aspectos: como realidade conceitual
e seus sentidos polissêmicos, como uma dimensão pessoal de desenvolvimento humano,
e como a capacidade de formação que respeita a vontade dos sujeitos.
Dessa forma podemos compreender que esta é a fase em que o profissional
docente se prepara para desenvolver reflexivamente habilidades e atitudes e
paralelamente construir sua identidade profissional. Nesse sentido, adotamos a premissa
de que a formação inicial de professores deve ser feita na universidade, lócus do
universo onde se constrói a teoria, o método, se vivencia a ética e a autonomia. Formarse na universidade é mais do que profissionalizar-se, uma vez que o sujeito nesse
âmbito desenvolve-se enquanto profissional e como pessoa. Então defendemos que a
ambiência universitária é o lócus mais propenso ao desenvolvimento profissional,
sobretudo no caso da formação inicial docente. Mais do isso defendemos também uma
educação ética voltada para a formação integral dos profissionais professores em suas
dimensões instrumental, afetiva e política.
Adentrando na esfera metodológica da pesquisa esta é fruto de um estudo
qualitativo, baseado na teoria das representações sociais, que está sendo desenvolvida
numa universidade pública do estado da Bahia; mais precisamente o lócus de pesquisa
encontra-se num Curso de Pedagogia localizado na região semi-árida da Bahia, onde
procuramos investigar a temática realizando um teste de associação livre de palavras
com estudantes concluintes (oitavo e nono semestres). Participaram desta etapa 43
estudantes, com idade entre 17 a 50 anos, em sua maioria professores em exercício, que
gentilmente concordaram em responder a seguinte consigna: “levando em conta sua
vivência como estudante da universidade, que palavras ou expressões lhe vêem
imediatamente à mente quando você ouve a expressão ética no processo ensinoaprendizagem?”. Por cerca de uma hora, durante um dos horários das aulas, gentilmente
cedido pelos professores, os estudantes responderam numa folha de papel que nos foram
entregues. Em seguida, foi solicitado pelo pesquisador que relatassem um pouco sobre a
vivência deles no tocante ao convívio de sala de aula e como se viram, se sentiram ao
participarem desta etapa da pesquisa. O material escrito e as falas dos estudantes foram
registrados em diário de bordo da pesquisadora onde serviram para a análise dos dados
que serão revelados neste estudo.
Dessa forma o teste de associação livre, conforme Abric apud Sá (1996)
corresponde a uma técnica de caráter espontâneo que permite o acesso de maneira
rápida aos elementos que constituem a estrutura de uma representação social do objeto
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de estudo. O referido teste foi aplicado e dos 43 estudantes que responderam foram
geradas 257 palavras, tendo como estímulo indutor a expressão “ética no processo
ensino aprendizagem na universidade” sobre o qual evocaram as seis primeiras palavras
que lha vieram a mente. No processo de análise organizamos as palavras em campos
semânticos, agrupando-as pelo critério de proximidade e familiaridade semântica, ou
seja de seus significados, alcançando dessa maneira o conteúdo das representações. As
justificativas dadas pelos sujeitos, registradas em diário de bordo da pesquisadora foram
analisadas também para reforçar as respostas, a luz da metodologia da análise de
conteúdo, conforme BARDIN (2009).
Sendo assim, tendo o total de 257 palavras evocadas pelos sujeitos, 80 delas
foram diferentes. Nesse conjunto identificamos palavras com freqüência muito alta e
com freqüência muito baixa, por exemplo, a palavra compromisso tendo sido citada 31
vezes e a palavra politização, dentre outras, citada apenas uma vez. Ressalta-se que para
construir os campos semânticos excluímos as palavras com muito baixa freqüência e
pouco evocadas, definindo um ponto de corte obtido a partir da média aritmética das
freqüências de todas as palavras evocadas. Essa média gerou um valor do qual
aproximamos para 3,2125, do qual, por critério matemático arredondamos para 3,0.
Com esse critério passaram a integrar os campos semânticos as palavras com frequência
igual ou maior que 3, comportando um total de 15 palavras.
Durante o processo de categorização conforme Bardin (2009) além do critério da
familiaridade semântica consideramos as justificativas das respostas no contexto da
formação, bem como a leitura do objeto de estudo. A partir daí categorizamos criando
unidades significação. No processo de análise agrupamos as palavras em três categorias,
a saber: ethos técnico, ethos afetivo, ethos social.
A primeira categoria, ethos técnico, é constituída pelas palavras competência,
conhecimento, planejamento, profissionalismo, qualificação, assiduidade e capacidade.
Ao fazer a leitura dessas palavras pudemos perceber que a palavra competência aparece
como o carro-chefe, de onde se aglutinam outras palavras que traduzem a uma
representação que sugere uma visão da ética no processo ensino aprendizagem
associado a técnica, ao domínio da ciência, dos fundamentos pedagógicos. A
constituição de uma ética voltada para os princípios, regras e normas supõe uma
necessidade de apreender primeiramente um conteúdo, para depois exercitar a ética no
contexto pedagógico. Isso se traduz na força das palavras que sustentam esse bloco onde
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o foco se dá aprendizagem de um saber técnico, associado um modelo aplicacionista de
formação docente.
Nesse sentido, pensar a ética no processo ensino-aprendizagem implica aceitá-la
imersa num contexto da instrumentalidade, o que requer dos pedagogos em formação,
investir num modelo que Contreras (2002) chama de aplicacionista, que caracteriza uma
formação docente hegemônica baseada na racionalidade técnica, no domínio e a
irredutibilidade técnica e na autonomia ilusória. Tal modelo se confirma com a fala de
um dos partipantes “a competência é fundamental, é preciso primeiro dominar, saber
dos conteúdos para se ter uma ética mais fundamentada” (P12). Nesse sentido, percebese com clareza a valorização do domínio e a irredutibilidade técnica e a autonomia
ilusória, reafirmando a dimensão da instrumentalidade. Além disso, é preciso estar bem
capacitado cognitivamente para se exercer a ética com autonomia; mesmo que essa seja
exercida sob uma ótica heterônoma, uma vez que ética se submete à técnica, ao saber
científico próprio da pedagogia.
No entanto, na segunda categoria denominada de ethos afetivo, nota-se uma
afirmação da dimensão afetiva, realçando a pessoalidade dos sujeitos. Isso está posto no
conjunto de palavras que contemplam os valores imprescindíveis para uma ética
vivencial, nascidas da relação entre os sujeitos do processo educativo. Ela, a categoria
citada, revela valores que se somam a vivência da ética no processo ensinoaprendizagem dos quais aparecem por evocação: respeito, responsabilidade, ética,
dedicação e liberdade. Os sujeitos apontam que os valores são a porta de entrada para o
exercício da ética e reconhecem a importância, desta para o seu contexto de formação e
atuação, na medida em que creditam que o curso de pedagogia precisa considerar essa
dimensão emocional que leve em consideração a pessoa dos estudantes.
“Para mim a ética está ligada a valores humanos que são essenciais
para a formação das pessoas, aqui na universidade isso é importante
precisamos cuidar mais das relações afetivas, porque estamos aqui
neste curso nos preparando para formar pessoas e é preciso conhecer,
cuidar do nosso ‘eu’ também.” (P33)
“Respeito, responsabilidade pra mim são fundamentais para a
formação do pedagogo. Mas também vejo que essa dinâmica precisa
ser mais valorizada na sala de aula não só pelos professores mas
também pelos colegas.” (P 10)
Nesse sentido, registra-se que a legislação educacional vêm colocando em revelo
a temática da ética na educação escolar. Sobretudo, no que se refere especificamente ao
Curso de Pedagogia as Diretrizes Curriculares criadas pela Resolução CNE/CP (2006)
corroboram com as Diretrizes Nacionais para a formação de professores quando
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definem condições de ensino e de aprendizagem a serem observados no planejamento e
avaliação das instituições de educação superior, possibilitando que na formação inicial o
estudante de pedagogia precisa haver um repertório de informações e habilidades
dotado
de
conhecimentos
teórico-práticos
fundamentando-se
em
princípios
democráticos dentre os quais a ética.
O Estudante de Pedagogia trabalhará com um repertório de
informações e habilidades composto por pluralidade de
conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será
proporcionada no exercício da profissão, fundamentando-se em
princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização,
pertinência e relevância social, ética (grifo nosso) e sensibilidade
afetiva e estética. (Resolução CNE/CP nº1, Artigo 3º, 2006)
Todavia ressaltamos que se por um lado a temática da ética tem ganhado espaço
garantido nas leis, por outro no âmbito das relações humanas, no contexto pedagógico a
formação ética dos estudantes, muitos professores em exercício ainda deixa muito a
desejar, haja vista a comprovação nos discursos acima. O destaque para a vivência dos
valores humanos, sobretudo o respeito, palavra evocada 30 vezes, precisa ser mais
trabalhada em sua contretude, não apenas no discurso e na reprodução mecânica de
atitudes heterônomas. Savater (1998; 2005) salienta que não podemos perder de vista o
valor do ato de educar, ato este que não é neutro e tem por principio a formação
humana. Freire (1996, p.30) complementa necessidade de exercermos com naturalidade
e consciência autônoma uma conduta ética afirmando que: “o que me move ser ético é
saber que sendo a educação por sua natureza diretiva e política, eu devo sem jamais
negar meu sonho ou minha utopia aos educandos, respeitá-los.”
A última categoria, ethos social, assim foi denominada por considerarmos que a
natureza política da dimensão ética, uma vez que somos seres construídos
historicamente e nos é inerente o fato de agirmos tanto individual como socialmente, o
que pressupõe a premissa da sociabilidade. Nela os estudantes evidenciam as palavras
compromisso, diversidade e educação, sendo que a palavra compromisso foi a mais
evocada dentre todas as palavras geradoras no teste. Citada 31 vezes e sendo em muitos
discursos a palavra mais importante, demonstra-nos que a ética do ponto de vista dos
sujeitos está intimamente relacionada ao sentimento de atitude, de cumprimento de um
pacto dos indivíduos com o social, de reconhecimento de diversidade em seu pluralismo
de idéias, concepções e modos de ser e de conviver, revelando também um sentido
emancipatório do ato de educar, entendido no seu significado amplo de formar pessoas
mais cidadãs.
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“Viver a ética é ter compromisso com a vida, com a minha formação
aqui nesse curso, formar também meus alunos para que sejam pessoas
dignas, que possam respeitar a diversidade que tem em nosso país,
nisso sim acredito como exemplo ético que eu como professora posso
dar a educação” P 8
Nesse ínterim, Severino (2011) a relação da ética com a educação se dá
principalmente em atribuir a esta última a tarefa essencial à construção da cidadania. À
educação encharcada de sentido filosófico e ético cabe investir nas forcas
emancipatórias que permitem um olhar crítico sobre as condições da dinâmica social,
desvelando as injustiças, as denúncias e a sensação de indiferença e inércia diante da
degradação dos direitos humanos, e todas formas de exploração e exclusão social. Alem
disso, é pela mediação de sua consciência subjetiva que o homem pode intencionalizar
sua prática, uma vez que essa consciência elabora sentidos sendo capaz de sensibilizarse a valores. É essa sensibilização ética com relação a valores que precisa ser fomentada
tanto no processo de formação de professores, quanto nas escolas de ensino básico.
Sobretudo, Morin (2011) e Foucault apud Marcondes (2009) complementam que é
preciso que se valorize uma condição humana onde os sujeitos possam assumir sua
condição de autonomia, traduzida numa autoética ou ética de si, reconhecendo uma
ética
da
práxis
na
dialética
egocentrismo/altruísmo,
homo
sapiens/demens,
reconhecendo no outro, simultaneamente a diferença e a identidade.
CONSIDERAÇÕES INCONCLUSIVAS
Os nossos esforços nesse trabalho almejaram anunciar a premissa de perceber a
ética como elemento integrante da formação inicial docente. Em síntese, o teste de
associação livre revelou-nos que as representações dos estudantes de pedagogia,
professores em exercício reconhecem a importância da ética em seus processos
formativos. Pelas palavras mais evocadas ficou claro nas representações dos sujeitos da
pesquisa a existência de uma ética encharcada de um ethos que por sua vez é sustentado
na tríade competência-respeito-compromisso. Para tanto, Catão (1995), Galeffi (2009),
Pereira (2010) e Rios (2009) defendem a existência de uma pedagogia ética vivencial,
sustentada numa didática mediadora e dialógica, de valorização da dignidade da pessoa
humana, do curso de pedagogia como lócus privilegiado de formação de professores
mais autônomos e consequentemente crianças e adolescente e jovens mais autoéticos;
não descartando os saberes formais da competência, mais resvalando o direito de
aprender na convivência com o respeito e o compromisso com uma universidade e
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escola básica articulados em prol de uma educação democrática e de qualidade, capaz
não só de formar bons profissionais, mas também cidadãos éticos, reconhecendo sua
condição humana com uma consciência autônoma mais próxima da coletividade e do
bem comum e que principalmente sejam capazes de assumir suas escolhas.
Ressalta-se que, se para nós ainda fica clara a noção da importância da dimensão
ética no processo de formação humana, não fica evidente as formas didáticas de como
educar para a ética, de como despertar nos educadores e educandos essa sensibilidade
ética. Essa didática por uma pedagogia ética ainda é um vir a ser, embora já haja sinais
de seu nascedouro, inserida num paradigma emergente e dialógico, segundo assinala
Farias (2009) Diante disso inúmeras são as indagações: a ética é realmente um conteúdo
ensinável? Como inserir a ética nos currículos escolares? Como formar educadores para
uma educação ética? Seria a ética um conteúdo disciplinar? Que valores, normas seriam
referenciados para se ter parâmetro ético, diante da diversidade ideológica e cultural, da
frivolidade do tempo, da descartabilidade das verdades? Diante desse turbilhão de
questionamentos, o que denuncia o caráter inconclusivo desse trabalho e na revelação
dos dados em andamento, compreendemos que inserir a ética no contexto pedagógico
das instituições educativas não é uma tarefa fácil.
Por fim, nos resta assumir a incerteza desse futuro de uma educação ética,
sobretudo na formação de professores, onde ainda não sabendo ao certo o caminho a
seguir, mas essas evocações apontadas pelos nossos sujeitos da pesquisa no deixam
pistas, onde só uma certeza temos até então: o direito de fazer nossas escolhas, uma vez
que nos dias de hoje, como assinala o filosofo Edgar Morin, a ética não tem pitolo
automático. Isso implica assumir riscos! Aqui seguimos lutando por uma pedagogia
ética para além de doutrinamentos e/ou relativismos e cada vez mais apostando na
autonomia dos sujeitos, sendo a educação superior unida a escola básica, a base para
promoção do reencontro do saber com a própria humanidade que o criou, consolidando
então bem comum e os ideais da coletividade.
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Junqueira&Marin Editores
Livro 2 - p.005381
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a ética como elemento integrante da formação inicial