CASO CLÍNICO: Doença Bolhosa INTERNOS: CARINA LASSANCE HANS KRONIT Coordenação: Luciana Sugai Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS/SES/DF) www.paulomargotto.com.br IDENTIFICAÇÃO E.V.N., 5 anos, feminino, branca, natural de Brasília- DF, procedente de Santo Antônio do Descoberto. Queixa principal: Dor no tornozelo há 8 dias. HDA Pai relata que, há cerca de 8 dias, criança se queixou de dor em MIE sem comprometer deambulação. Há 6 dias, observou edema no tornozelo esquerdo associado à dor e rubor local. Procurou o HRAS, onde o pai comentou a respeito de lesão no hálux do membro acometido, o que não foi valorizado. Por suspeita de lesão ortopédica, foi transferida para o HBDF. Foi realizada tomografia de terço inferior do MMII esquerdo e posicionada tala-gesso, pois a Ortopedia apoiou a hipótese diagnóstica da Pediatria do HRAS. Permaneceu com o membro imobilizado por 3 dias retornando após esse período com febre não aferida e piora da dor. Ao remover a tala-gesso, notou-se edema importante do membro, associado à hiperemia e lesões bolhosas disseminadas. Foi encaminhada para o HRAS, supondo tratar-se de uma complicação por varicela. Após avaliação a DIP cogitou estafilococcia sendo iniciado tratamento com Clindamicina e Oxacilina por recomendação da CCIH do HBDF. HDA Revisão de sistemas - Nega alterações no hábito intestinal - Nega alterações na diurese Antecedentes fisiológicos Mãe nega intercorrências durante a gestação.Quanto à criança, nasceu de parto normal, a termo, com 3185 g, de peso, 49 cm de estatura, 34 cm de PC e não chorou. Não foi amamentada até o sexto mês, começou a tomar leite de vaca aos 4 meses, não tem alergias, consome a dieta da família e recebeu todas as vacinas indicadas. O DNPM ocorreu normalmente. HDA Antecedentes patológicos Não registrado Antecedentes familiares Mãe: 30 anos, G2 P1 A1, saudável. Pai: 32 anos, alergia medicamentosa-perguntar qual Não havia registro sobre outros familiares Condições de moradia Casa de alvenaria com 2 cômodos. Não há rede de esgoto nem animais. EXAME FÍSICO BEG, edemaciada e hidratada. Os outros dados não foram registrados AR: MVF, sem RA FR: 28 irpm. ACV: RCR, 2T, BNF, sem sopros FC: ? Abdome: semi-globoso, RHA +, sem visceromegalias, sem outros dados Extremidades: boa perfusão, edema de MMII E, quente, eritematoso até raiz da coxa, pulsos pediosos D e E presentes. Linfonodos: sem dados Oroscopia: sem alterações Otoscopia: não realizada SNC: sem alterações CONDUTA Solicitada hemocultura Iniciada antibioticoterapia RESULTADOS DE EXAMES Hemograma e bioquímica Leu : 26 900 {67 seg, 12 bas, 18 linf, 00 mon, 03 eos} Hg: 9,2 Ht: 28 VCM: 76,3 HCM: 24,8 CHCM: 32,6 Plaquetas: 170 000 Uréia: 21 Creatinina: 0,5 CPK: 597 LDH: 455 TGO: 59 TGP: 46 CKMB: 14,8 ERISIPELA Infecção de derme com importante comprometimento linfático Natureza predominantemente estreptocócica, sobretudo do grupo A.Porém, eventualmente, pode ser pelos grupos B, C e G. Há casos descritos de erisipela por estafilococos, mas o mais provável é que se estabeleça secundariamente ou que seja celulite. O início se dá após a perda de barreira cutânea. Fatores de risco incluem tinea pedis, insuficiência venosa, DM, tromboflebite, trauma, desnutrição, abuso de álcool ou drogas e infecções respiratórias nos casos de erisipela de face. ERISIPELA QC: - Eritema vivo e intenso com edema doloroso, de bordas bem delimitadas, que avança rapidamente sobre a pele circunvizinha. - Qdo o processo é intenso, surgem bolhas e, até mesmo, necrose com ulceração posterior. - É acompanhada de linfangite e linfoadenopatia regional aguda, seguida de fenômenos gerais (febre, mal-estar, calafrios e outros). Tratamento : A maioria não precisa de internação, a não ser se tiver alguma comorbidade Pelo baixo custo e eficácia: penicilina procaína Alternativas: cefalosporinas de primeira geração, ampicilina, eritromicina e amoxacilina –clavulanato. CELULITE - É a denominação para o mesmo processo quando atinge a hipoderme - Embora seja predominantemente estreptocócica, inclui Staphylococcus, H. influenzae (celulite facial na infância), pneumococos, pseudomonas e outros. - Celulite por anaeróbios e gram – são mais comuns em diabéticos e imunodeprimidos CELULITE QC: é semelhante ao da erisipela, mas o eritema é menos vivo e as bordas são mal-definidas. Diagnóstico diferencial: tromboflebite (pernas), angioedema, herpes zoster (face) e erisipelóide (mãos) Celulite hemorrágica, descrita em pacientes diabéticos e imunodeprimidos, caracteriza-se por área de hemorragia dérmica e bolhas, e o TNF alfa parece ser o responsável pelo dano vascular. CELULITE Tratamento: repouso com elevação do membro, analgesia antibioticoterapia sistêmica, que deverá ser parenteral nos casos intensos e localizados na face, devendo-se considerar as possibilidades etiológicas na escolha do tratamento. Nos casos que se suspeita de estafilococos (desde que não seja MRSA), além das drogas para erisipela, podese usar oxacilina (100 a 150 mg/Kg/dia), EV, de 4 em 4 horas, ou cefalotina (100 a 150mg/Kg/dia), EV de 4 em 4 horas ou de 6 em 6. Nos casos de celulite hemorrágica,é ainda indicado o uso de corticóides sistêmicos. ABSCESSO E FLEIMÃO - Quadros agudos, em geral, estreptocócicos, porém, eventualmente estafilococos, com localização hipodérmica - Há eritema, edema e calor com fenômenos gerais (febre, calafrios, vômitos, etc) - No abscesso, há tendência à circunscrição e supuração, enquanto no fleimão, a tendência é difusão. - Tratamento : compressas mornas, antibióticos orais e drenagem. ERISIPELÓIDE - QC: dor, eritema escuro e edema mal delimitado, às vezes com bolha. - Situa-se, em geral, na mão após trauma com espinha de peixe ou osso. - Seu agente: bastonete gram + (Erysipelothrix insidiosa) - Período de incubação: 1 a 2 dias. - Infecção pode ficar localizada ou invadir corrente sanguínea (septicemia) - Tratamento de escolha: penicilina, mas tb pode ser cefalosporina, eritromicina e estreptomicina. - Pode ser considerada uma doença ocupacional, pela alta incidência entre açougueiros e peixeiros. ANGIOEDEMA Edema, em geral volumoso, que acomete principalmente hipoderme São pontos de eleição os lábios, língua, pálpebras e genitália Localização grave: laringe, pela asfixia Em geral, não há prurido As lesões aparecem abruptamente e desaparecem em horas, mas podem durar dias TROMBOFLEBITE É inflamação da veia com formação de trombo e conseqüente oclusão Causas: injúrias da parede venosa, como traumas, injeções esclerosantes ou infecção por continuidade. São mais comuns em veias varicosas e pós-partos ou cirurgias, sendo mais raras em doenças malignas e infecciosas e na insuficiência cardíaca Ocorre quase sempre nas extremidades inferiores Quando na safena ou nos ramos superficiais, caracterize-se por lesões eritêmato-nodulares ou por cordão infiltrativo em trajeto venoso. Há dor moderada com edema. HERPES ZOSTER QC: dores nevrálgicas seguidas pelo surgimento de uma vesícula com base eritematosa. A erupção é unilateral, seguindo o trajeto de um nervo (distribuição dermatômica), mas raramente ultrapassa a linha mediana. Surgem de modo gradual, levando de dois a quatro dias para se estabelecerem totalmente. Por fim, surgem crostas e o quadro evolui para a cura em duas a quatro semanas.