DAS POLÍTICAS ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO DE ADULTOS
LÓGICAS DE ACCÃO, SENTIDOS E MODOS DE APROPRIAÇÃO
LOCALMENTE PRODUZIDOS
João Eduardo Rodrigues Martins
Tese de Doutoramento em Sociologia
Volume II
Maio de 2013
1
DAS POLÍTICAS ÀS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO DE ADULTOS
LÓGICAS DE ACCÃO, SENTIDOS E MODOS DE APROPRIAÇÃO
LOCALMENTE PRODUZIDOS
João Eduardo Rodrigues Martins
Maio de 2013
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Doutor em Sociologia, na
especialidade de Sociologia da Cultura, do Conhecimento e da
Educação, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor
Casimiro Manuel Marques Balsa.
2
Declaro que esta Dissertação é o resultado da minha investigação pessoal e
independente. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia.
O candidato,
____________________
Lisboa, .... de ............... de ...............
Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a
designar.
O orientador,
____________________
Lisboa, .... de ............... de ..............
3
Anexos II
Índice
1. Pedido de autorização para entrevistar técnicos EFA no CFPA………………..
7
2. Guião de entrevista A – Aplicado a formadores EFA…………………………..
8
3. Guião de entrevista B – Aplicado a técnicos dos CNO…………………………
13
4. Entrevista 1 – S.C. - Mediadora e Formadora do módulo Aprender com
Autonomia num curso EFA na Associação para a Democracia…………………...
15
5. Entrevista 2 – F.E. – Formador da área de competência-chave de Matemática
para a Vida num curso EFA na Associação para a Democracia…………………
83
6. Entrevista 3 - D.G. – Formador da área de competência-chave de Cidadania e
Empregabilidade num curso EFA na Associação para a Democracia…………….
107
7. Entrevista 4 – M.S. – Formador da área de competência-chave de Linguagem
e Comunicação num curso EFA no CNO na Associação para a Democracia……
149
8. Entrevista 5 – E.M. – Formador da área tecnológica de Recepção e
Encaminhamento num curso EFA na Associação para a Democracia………….....
192
9. Entrevista 6 – L.G. – Formador da área de competência-chave de Inglês
num curso EFA na Associação para a Democracia………………………………..
213
10. Entrevista 7 - C.A. – Formadora da área tecnológica de Animação e Lazer
num curso EFA na Associação para a Democracia……………………………...
244
11. Entrevista 8 – A.A. – Formadora da área tecnológica de Tratamento de
Plantas e Animais num curso EFA na Associação para a Democracia…………....
271
12. Entrevista 9 – P.P. – Formador da área tecnológica de Higienização dos
Espaços e Equipamentos num curso EFA na Associação para a Democracia…….
293
13. Entrevista 10 – Adel. – Formadora da área tecnológica de Lavandaria e
Tratamento de Roupa num curso EFA na Associação para a Democracia………..
311
4
14. Entrevista 11 – P.Q. – Formadora da área tecnológica de Aquisição,
Armazenamento e Conservação de Produtos num curso EFA na Associação
para a Democracia…………………………………………………………………
377
15. Entrevista 12 – D.S. - Formador da área tecnológica de Cuidados Básicos
de Saúde num curso EFA na Associação para a Democracia……………..............
372
16. Entrevista 13 - L.G. – Formadora da Prática em Contexto de Trabalho e
Atendimento Personalizado num curso EFA num curso EFA na Associação
para a Democracia…………………………………………………………….…...
393
17. Entrevista 14 – R.B. – Formador da área tecnológica de Cozinha num curso
EFA da Associação para a Democracia…………………………………….……..
408
18. Entrevista 15 – Formador da área de competência-chave de Tecnologias da
Informação e da Comunicação num curso EFA na Associação
para a Democracia………………………………………………………….……...
428
19. Entrevista 16 – P.S. – Coordenadora do CNO na Associação para a
Democracia…………………………………………………………………….…..
457
20. Entrevista 17 – N.D. – Presidente e Director do CNO na Associação para a
Democracia…………………………………………………………………….......
491
21. Entrevista 18 – Mediadora e Formadora do módulo Aprender Com
Autonomia num curso EFA no CFPA……………………………………………..
517
22. Entrevista 19 – F.E. – Formador da área de competência-chave de
Matemática para a Vida num curso EFA no CFPA…………………………...…..
549
23. Entrevista 20 – V.P. – Formador da área de competência-chave de
Tecnologias da Informação e da Comunicação num curso EFA no CFPA…...…..
590
24. Entrevista 21 – A.S.C. Formadora da área de competência-chave de
Tecnologias da Informação e da Comunicação num curso EFA no CFPA…….....
622
25. Entrevista 22 – C.V. – Formadora da área tecnológica de Alimentação,
647
5
Higiene e Saúde num curso EFA no CFPF…………………………………...…...
26. Entrevista 23 – B.C. – Formador das áreas de competência-chave de TIC e
Matemática para a Vida em cursos EFA no CFPA………………………...……...
669
27. Entrevista 24 – M.N. – Formadora da área tecnológica e da área de
competência-chave de TIC em cursos EFA no CFPA………………………..…
691
28. Entrevista 25 – R.G. – Formadora da área tecnológica de Animação
Sociocultural num curso EFA no CFPA…………………………………….…….
717
29. Entrevista 26 – M.M. – Formador da área tecnológica de Logística, Armazém
e Práticas Administrativas num curso EFA no CFPA……………………….…….
738
30. Entrevista 27 – B.S. – Formador de Cidadania e Empregabilidade no CNO
do CFPA…………………………………………………………………………...
789
31. Entrevista 28 – J.M. – Técnico de RVCC no CNO do CFPA…………………
824
32. Entrevista 29 – A.F. – Técnica de RVCC no CNO do CFPA…………...…….
843
33. Entrevista 30 – A.J. – Técnica de RVCC no CNO do CFPA………………….
861
34. Registos de observação participante……………………………………….......
881
35. Excertos da primeira reunião do curso EFA de Bar……………………….......
887
6
1. Pedido de autorização para entrevistar técnicos EFA no CFPA
Ex.mo Senhor Director do Centro de Formação
Profissional
Assunto: Solicitação de autorização de entrevistas a formadores EFA
Data: 10 de Outubro de 2011
O meu nome é João Eduardo Rodrigues Martins, sou docente da Faculdade de Economia da
Universidade do Algarve e aluno de doutoramento em Sociologia, na Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Estando neste momento a desenvolver o
projecto de tese de doutoramento sobre Políticas Públicas, no âmbito do programa “Novas
Oportunidades”, a partir do trabalho realizado pelos formadores dos cursos EFA, vinha por
este meio solicitar a sua autorização para entrevistar os mediadores e formadores dos cursos
EFA, de nível B3, a decorrerem sobre a tutela do vosso Centro de Formação. O projecto de
investigação sociológica intitula-se “Das Políticas às Práticas de Educação de Adultos: Lógicas
de Acção, Sentidos e Modos de Apropriação Localmente Produzidos” e o meu interesse pelo
trabalho dos formadores que trabalham para o Centro de Formação Profissional do Algarve
deve-se ao facto do modo de investigação do projecto em causa passar por um estudo de
casos organizacionalmente diversificados, tendo também como objectivo a compreensão do
trabalho formativo em organizações como as Escolas, Associações de Desenvolvimento Local e
Entidades Privadas. Solicitava assim a sua melhor colaboração no sentido de eu poder
contactar os formadores para lhes pedir autorização para a realização de entrevistas.
Garantindo desde já o anonimato e a confidencialidade de todos os eventuais participantes,
agradeço desde já a atenção dispensada para este assunto.
Com os melhores cumprimentos
João Eduardo Rodrigues Martins
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2. Guião de Entrevista A – Aplicado a formadores EFA
A presente entrevista tem como objectivo a recolha de informação sobre o trabalho dos
formadores de adultos no âmbito dos cursos EFA. O presente estudo enquadra-se na
realização de uma tese de doutoramento em Sociologia na Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa sobre as Políticas Públicas de
Educação e Formação de Adultos no âmbito da Iniciativa Novas Oportunidades.
Assegura-se a todos os entrevistados o anonimato e a confidencialidade em relação à
informação facultada e agradece-se desde já a sua disponibilidade para a situação de
entrevista.
Questões de introdução:
- Quais as suas habilitações literárias?
- Qual a sua profissão?
- Que funções exerce no curso EFA?
- Exerce mais alguma função na organização onde trabalha?
- Trabalha em mais alguma organização? Se sim, faz o quê?
Bloco Temático A – A relação à actividade profissional
- Descreva-me a sua trajectória profissional desde que começou a trabalhar.
- A entrada no trabalho da formação como é que aconteceu? Como é que se deu o início
da sua actividade como mediadora/formadora nos cursos EFA?
- Como é a vida de um mediador/formador que faz a sua actividade nos cursos EFA?
- Considera que ser mediador/formador EFA é uma profissão?
- No seu caso, considera-se profissional da formação?
- Como são as condições laborais e institucionais de quem trabalha nos cursos EFA?
(vínculo profissional, condições remuneratórias e de pagamento, recrutamento para as
acções de formação)
- Alguma vez pensou em abandonar a actividade como mediadora/formadora?
- Se tivesse outras oportunidades profissionais mudava de actividade?
- Como vê o papel dos cursos EFA na sua vida profissional futura?
8
- Sente-se reconhecida no seu trabalho como mediadora/formadora?
Bloco Temático B – A relação ao trabalho pedagógico
- Quais são as dificuldades que sente no seu trabalho como mediadora/formadora de
educação e formação de adultos nos cursos EFA?
- Quais são os aspectos gratificantes da tua actividade como mediadora/formadora?
- Como é que tem funcionado o trabalho curricular em torno dos temas de vida com os
teus colegas de formação?
- Como é feita a articulação entre a formação de base e a formação profissionalizante
nesse trabalho entre os formadores? Como é que se costuma processar?
- Qual é a sua opinião sobre a forma como o trabalho de articulação curricular tem
decorrido?
- Qual é o seu posicionamento face ao currículo integrado em torno dos temas de vida?
- Qual é a sua opinião sobre essa forma de trabalho pedagógico?
- Costumam planificar os temas de vida?
- Como é que surgem os temas de vida?
- Como é que se faz essa planificação?
- Os formadores costumam aderir às reuniões de planificação ou há dificuldade em
mobilizá-los para reunir?
- As reuniões de planificação são importantes para o funcionamento do curso? Em que
medida?
- A planificação é cumprida na prática?
- Como se processa o trabalho pedagógico em torno da evidenciação e da validação de
competências dos formandos?
- Sente alguma dificuldade nesse trabalho de levantamento de indícios, de evidências e
na validação das competências? Os seus colegas formadores apontam alguma
dificuldade a esse nível?
- Em termos pedagógicos faz mais um trabalho com o grupo, faz mais um trabalho
individualizado, como é que isso se passa? Os seus colegas de formação têm uma ideia
de como é que fazem?
9
- Na sua opinião quais os princípios que devem orientar o trabalho pedagógico dos
formadores num curso EFA?
- Sente alguma dificuldade na aplicação prática dos princípios pedagógicos prescritos
para o modelo dos cursos EFA? E como é que isso passa com os seus colegas de
formação?
- Que competências considera essenciais para exercer a sua actividade como
mediador/formador EFA?
Bloco C – A relação aos outros significativos no trabalho
Perspectivas dos formadores sobre os adultos formandos:
- Descreva-me o trabalho formativo com os formandos EFA. Como é que costuma
decorrer esse trabalho.
- Encontra dificuldades na realização desse trabalho pedagógico com os formandos?
- Descreva-me o perfil dos formandos que frequentam este curso EFA?
- Há diferenças ao nível do empenhamento dos formandos face à formação?
- E em relação à aprendizagem como é que tem sido o desempenho dos formandos?
- Qual a importância do perfil dos adultos formandos no funcionamento do trabalho
pedagógico de um formador EFA?
- Costuma haver conflitos no espaço da formação? Se sim, Descreva-me algumas
situações em que isso tenha acontecido.
- Considera que todos os formandos evidenciaram as competências nas diferentes áreas
de competência-chave ao nível requerido para um curso B3?
Perspectivas dos formadores sobre a relação de trabalho colegial:
- Como acontece o trabalho com os teus colegas de formação?
- Consideras que existe um trabalho partilhado ou é um trabalho que se faz de forma
individualizada?
- Com que frequência é que costuma encontrar os seus colegas de formação?
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- E em que momentos é que isso acontece?
- Está satisfeita com a forma como decorre o trabalho com os seus colegas de formação?
- Na sua opinião há algum aspecto do trabalho de formação com os seus colegas da
equipa pedagógica que ache que seria benéfico melhorar?
- Sente diferenças no empenhamento do trabalho dos colegas para pôr em prática o
modelo EFA?
Perspectivas dos formadores sobre a relação às entidades formadoras:
- Que tipo de relação mantém com a entidade formadora?
- Vê-se como trabalhadora da entidade onde faz o trabalho de formação?
- Identifica-se com a forma como a entidade perspectiva a formação EFA?
- Se lhe aparecesse outra oportunidade de trabalho saia da entidade para onde trabalha?
- Sente reconhecida pela entidade pelo trabalho que desempenha?
Perspectivas dos formadores sobre a variação interorganizacional do trabalho
pedagógico
- Na sua opinião os cursos EFA funcionam de forma diferente consoante as entidades
em que eles acontecem? É a mesma coisa um curso EFA funcionar numa associação
como o CFPF, uma entidade privada de formação profissional ou numa escola pública?
- Se há diferenças em que aspectos é que estas se manifestam?
- Como é feito o recrutamento dos formandos? Acha que difere a forma como este é
feito noutras entidades?
- E o trabalho pedagógico dos formadores com os formandos acha que há diferença na
In Locco do trabalho? (Por ex: Intervenção na comunidade, trabalho em sala de
formação, trabalho de construção curricular, colocação em estágios profissionais,
acompanhamento pessoal e pedagógico dos formandos )
- Como é feita a avaliação dos formandos no curso EFA que está decorrer?- A avaliação
dos formandos é feita da mesma forma em todas as entidades de formação que levam à
prática os cursos EFA? (Avaliação difere no IEFP, na Escolas ou em Entidades privadas
de formação profissional?)
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- O trabalho da mediadora pode diferir nas diferentes entidades onde o mesmo trabalha?
- Em sua opinião de que modo é importante o trabalho do mediador num curso EFA?
Bloco D – Relação à Iniciativa Novas Oportunidades e aos Cursos EFA
- Qual é a sua opinião em relação à Iniciativa Novas Oportunidades?
- Os seus colegas costumam falar sobre isso? O que costumam comentar sobre o
assunto?
- Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na vida dos adultos
formandos? Em que aspectos da sua vida?
- O que acha da opinião de que a Iniciativa Novas Oportunidades promove o
facilitismo?
- O que em sua opinião poderia ser melhorado na Iniciativa Novas Oportunidades?
- Qual é a sua opinião sobre os cursos EFA?
- Acha que os cursos EFA têm efeitos na vida dos formandos em termos da sua vida
futura?
- O que em sua opinião poderia ser melhorado no funcionamento dos cursos EFA?
- Qual é o balanço que faz do curso EFA que está a decorrer na Associação Para a
Democracia?
Questões de identificação:
Sexo:
Idade:
Estado civil:
Profissão do pai (especificar a função exercida):
Profissão da mãe (especificar a função exercida):
Nível de escolaridade da mãe:
Nível de escolaridade do pai:
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3. Guião de Entrevista B – Aplicado a técnicos dos CNO
A presente entrevista tem como objectivo a recolha de informação sobre o trabalho dos
formadores de adultos e os Profissionais de RVCC no âmbito dos cursos EFA e dos
CNO. O presente estudo enquadra-se na realização de uma tese de doutoramento em
Sociologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa sobre as Políticas Públicas de Educação e Formação de Adultos no âmbito da
Iniciativa Novas Oportunidades. Assegura-se a todos os entrevistados o anonimato e a
confidencialidade em relação à informação facultada e agradece-se desde já a sua
disponibilidade para a situação de entrevista.
Questões de introdução:
- Quais as suas habilitações literárias?
- Qual a sua profissão?
- Que funções exerce no CNO?
- Exerce mais alguma função na organização onde trabalha?
- Trabalha em mais alguma organização? Se sim, faz o quê?
Bloco Temático A – A relação à actividade profissional e ao trabalho de
formação/rvcc no CFPF
- Descreva-me a sua trajectória profissional desde que começou a trabalhar.
- A entrada no trabalho da formação como é que aconteceu? Como é que se deu o início
da sua actividade no CFPF?
- Quais são as dificuldades que identifica no seu trabalho como técnico no CNO?
- Quais os aspectos gratificantes da sua actividade no CNO?
- Fale-me um pouco do perfil dos adultos que frequenta o CNO?
- Como é que são seleccionados os adultos que entram em processo?
- Esse trabalho com os adultos coloca-lhe alguns problemas?
- Na sua opinião os CNO funcionam de forma diferente consoante as entidades em que
eles acontecem? É a mesma coisa um CNO funcionar numa associação de
Desenvolvimento Local, o IEFP, uma entidade privada de formação profissional ou
numa escola pública?
- Se há diferenças em que aspectos é que estas se manifestam?
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Bloco B – Relação à Iniciativa Novas Oportunidades
- Qual é a sua opinião em relação à Iniciativa Novas Oportunidades?
- Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na vida dos adultos
formandos? Em que aspectos da sua vida?
- O que acha da opinião de que a Iniciativa Novas Oportunidades promove o
facilitismo?
- De que forma as metas estabelecidas pela ANQ condicionam o seu trabalho no CNO?
- E como é que a Direcção do CNO perspectiva essa exigência das metas?
- O que é que poderia ser melhorado na Iniciativa Novas Oportunidades?
- Como tem sido a relação do CFPF com as instituições estatais que regulam a Iniciativa
Novas Oportunidades?
- Há mais alguma coisa que lhe ocorra que ache que possa ser importante abordar para
compreender a relação do seu trabalho ou da relação do CFPF com a Iniciativa Novas
Oportunidades?
Questões de identificação:
Sexo:
Idade:
Estado civil:
Profissão do pai (especificar a função exercida):
Profissão da mãe (Especificar a função exercida):
Nível de escolaridade da mãe:
Nível de escolaridade do pai:
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4. Entrevista 1 – S.C. – Mediadora e Formadora do módulo Aprender Com
Autonomia num curso EFA na Associação para a Democracia.
Entrevistador – Começava por perguntar quais são as suas habilitações literárias?
Entrevistada – Sou licenciada em Gestão de Empresas e tenho uma Pós-Graduação em
Educação de Adultos.
Entrevistador – E qual a profissão da Sandra?
Entrevistada – Nós aqui na APD, a profissão é basicamente Técnico de
Desenvolvimento Local depois depende dos projectos a que estamos, em estamos a
trabalhar no momento e ai a função pode ser mais específica no caso do curso EFA sou
Mediadora.
Entrevistador – E que funções que exerce no curso EFA, é Mediadora só?
Entrevistada – É, Mediadora e formadora no módulo Aprender com Autonomia.
Entrevistador – Provavelmente foi um módulo mais de início.
Entrevistada – Mais no início, sim. E agora tenho o último dia e meio de formação
com eles para fazer a avaliação do curso.
Entrevistador – Portanto estava-me a dizer que exerce mais funções aqui na APD
para além da função da mediação.
Entrevistada – Neste momento sim, neste momento, o projecto em que estou inserida é
o curso EFA a cem por cento e é como mediadora, mas aqui ninguém faz só uma coisa,
não é? Portanto, eu também faço parte da direcção e enquanto elemento da direcção
também tenho outras funções, mas mesmo as pessoas que não são da direcção
acumulam sempre outras funções.
Entrevistador – Perguntava também se trabalha em mais alguma organização?
15
Entrevistada – Não, só na APD.
Entrevistador – Ia-lhe perguntar algumas questões em relação à sua actividade
profissional e pedir para me descrever a trajectória profissional desde que
começou a trabalhar? Para ter uma ideia do seu trajecto.
Entrevistada – Pronto eu acabei a licenciatura em noventa e cinco e tinha trabalhado no
Verão, sempre enquanto estive na universidade. No Verão trabalhava nos CTT, nos
correios ao Balcão, atendimento ao público depois quando acabei o curso ainda
trabalhei também esse Verão, acabei em Junho, até Setembro ainda trabalhei também
nos CTT depois durante um ano estive numa empresa de jardinagem construção e
manutenção de jardins e depois vim para a APD, portanto o percurso também não é
grande.
Entrevistador – E aqui na APD começou a trabalhar com que função?
Entrevistada – Comecei em noventa e seis de início através de um estágio profissional
do Instituto de Emprego, comecei num projecto, que tínhamos um, como é que aquilo se
chamava, Sabor e Arte, um festival Sabor e Arte em que organizámos durante uns
meses workshops, seminários, exposições e eu comecei por dar apoio nesse projecto,
depois logo a seguir passados três, quatro meses apareceu um outro programa de apoio a
empresários que era o programa RIME que apoiava financeiramente a criação de novas
empresas ou modernização de novas empresas e nós ai fizemos, a APD fez uma parceria
com o CERA e a Associação para a Democracia era a entidade que recepcionava
candidaturas dos empresários e então a minha função era recolher as candidaturas,
analisar verificar se estava tudo ok, os pedidos de reembolso depois os empresários
submetiam à CCDR, portanto tudo isso passava pela APD e eu fiquei a gerir esse
programa.
Entrevistador – E a entrada no trabalho da formação como é que aconteceu
especificamente?
Entrevistada – Paralelamente ao programa RIME a APD tinha a decorrer também
numa altura programas de formação profissional, projectos de formação profissional.
16
Pode-se dizer que seriam os EFA antigos, portanto eram programas de formação
profissional dum ano, ano e meio através do Instituto de Emprego e tivemos outro o
primeiro em que eu participei era pela Segurança Social, um programa que era o Inter
Pares em que dava formação profissional que não era escolar mas que tinha uma
componente, era exactamente o que é hoje um EFA só que não tinha certificação escolar
nem profissional, portanto a pessoa fazia o curso e tinha um certificado da formação
mas tinha uma componente profissional e uma componente escolar, não tinha era a
certificação que tem hoje em dia, não é? Isso é que é diferente, mas o funcionamento era
muito idêntico, não havendo a certificação escolar, não tinha obrigatoriamente aqueles
módulos da Linguagem e Comunicação da Matemática, mas tinha módulos que nós
considerávamos na altura úteis, Português teve sempre, tínhamos Higiene e Segurança
no Trabalho, Mediação de Conflitos, portanto tínhamos módulos que nós achávamos
que eram importantes e depois tinha a componente toda profissional e eu fiquei na
altura, depois a par do RIME que não me ocupava a tempo inteiro, fiquei a apoiar um
colega que estava a coordenar um projecto desses de formação profissional, depois
houve outro e mais outro e mais outro e depois eu fui ficando ligada a área da formação
Entrevistador – E a entrada nos cursos EFA, como é que…
Entrevistada – Cursos EFA, pronto eu fui ficando ligada a área da formação dentro da
APD depois em dois mil e cinco se não estou em erro dois mil e cinco dois mil e seis
tínhamos o nosso primeiro curso EFA e eu ai fiquei, fiz a candidatura e depois fiquei a
fazer a coordenação desse curso, e este é só o nosso segundo curso EFA, portanto
também não tivemos muitos.
Entrevistador – O primeiro era um B3 também?
Entrevistada – Era um B3.
Entrevistador – Como é que é a vida do mediador que faz a sua actividade nos
cursos EFA?
Entrevistada – É um bocadinho complicado, porque é uma permanente mediação de
conflitos, estes cursos, têm muitos conflitos, as pessoas passam o dia inteiro, são
17
pessoas que não estão habituadas a estudar nem a estar fechadas numa sala, portanto
passam o dia inteiro, sete horas por dia fechadas e depois quando são pessoas do mesmo
local que já se conheciam isso não facilita pelo contrário prejudica, portanto as pessoas
já tem confiança umas com as outras e o que leva às vezes a uma falta de respeito mais
facilmente do que quando não se conheciam de lado nenhum, não é?
E aqui, neste curso todas as pessoas são daqui, moram cá, não são originárias daqui a
maioria mas já moram cá há alguns anos, portanto a grande, a maior parte deles
conheciam-se e depois há uma grande diferença de idades que por um lado é vantajoso
mas por outro lado também cria ali alguns constrangimentos, portanto a pessoa mais
velha no inicio do curso tinha cinquenta e três e a mais nova tinha dezoito e estas
diferenças depois também não tem sido fáceis de gerir.
Entrevistador – Mas, que tipos de conflitos é que costumam acontecer? Recorda-se
de alguma situação?
Entrevistada – Sim é assim, o problema é que os conflitos não são nada do que não
vêem de nada de grave ou seja, elas conseguem, digo elas porque o grupo neste
momento, começaram vinte formandos, depois ficaram dezasseis, estabilizou com
dezasseis, tinha dois rapazes no início e agora ficou um, portanto houve um que
desistiu, esta pessoa este rapaz que desistiu foi problemas de saúde e o médico proibiu-o
de continuar a formação. Problemas Neurológicos. Portanto quando eu digo elas,
porque a maioria são mulheres e também noto que é mais fácil haver conflitos com
grupos de mulheres do que quando existem homens, os homens não são tão
conflituosos, todos os problemas que têm surgido são de pequenas coisas ou seja de
quase nada, é do diz que disse, porque ela disse, porque ela fez, porque, e daqui nascem
situações que depois dá conflito grave, mas nada surgiu de coisas importantes, tudo o
que tem havido tem sido de pequenas coisinhas, que depois empolgam, assim de repente
e gera confusão.
Entrevistador – Ok.
Entrevistada – Mas é tudo na base do diz que disse, e depois quando, quando vamos a
fundo, vamos averiguar e afinal não foi nada daquilo que a pessoa disse, ou que não
pretendeu dizer aquilo e que foi interpretado de maneira diferente.
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Entrevistador – Ia-lhe perguntar se considera que ser mediadora, mediador,
formador dum curso EFA, se é uma profissão?
Entrevistada – É uma profissão, mas tem que se estar bem preparado ou seja tem que
ser alguém com algumas capacidades e algumas competências nomeadamente ser
assertivo, ter alguma boa dose de paciência também porque é preciso estar em
permanente gestão de conflitos com o grupo, sim é uma profissão, mas não é uma
profissão fácil.
Entrevistador – E no seu caso, considera-se profissional da formação? Se eu lhe
perguntasse qual é a sua profissão?
Entrevistada – Isso é uma questão difícil para todos nós aqui na APD, isso é engraçado
quando tenho de preencher uma ficha qualquer e tenho que preencher qual é a minha
função, isso depois também diverge nos projectos a que estou, portanto neste momento
se eu preencho uma ficha qualquer no médico ou em qualquer sitio, para adquirir
qualquer coisa, uma amizade, uma revista, vamos imaginar eu neste momento ponho
formador, que é o que eu sou neste momento, mas é uma dificuldade que tenho sempre,
porque se ponho técnico de desenvolvimento local, as pessoas não sabem o que é que é
isto, enquanto se eu ponho formadora, já mais ou menos sabem. Portanto, neste
momento considero que sou formadora, mas já tenho estado em projectos aqui com
duração de três quatro anos e dizer que não sou formadora, sou técnica.
Entrevistador – Ok, e em termos das condições laborais, institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, questão do vínculo profissional, que tipo de vínculo é que
vocês têm?
Entrevistada – Nós aqui na APD, eu que já estou cá há muitos anos desde noventa e
seis já sou efectiva, não é? Pertenço ao quadro e nós neste momento, somos trinta, a
trinta de Abril éramos 38 colaboradores efectivos, tínhamos cinco ou seis a recibo
verde, e depois duas estagiárias, o resto são tudo pessoas que já pertencem ao quadro,
portanto a equipa em Janeiro desde ano, fizemos vários contratos de pessoas que
entraram o ano passado a recibo verde e que nós gostamos do desempenho e este ano
em Janeiro fez-se, eu quando digo nós é porque eu pertenço à direcção e depois tenho
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este, acabo por falar em nome, nome de nós da direcção da APD, mas pronto em Janeiro
fizeram-se contratos a três ou quatro pessoas que já estavam cá do ano anterior, mas a
grande maioria de nós tem, pertence ao quadro.
Entrevistador – Sim, e em termos dos formadores que trabalham no curso EFA?
Entrevistada – Formadores, todos os formadores internos que podem participar no
curso participam, portanto nós temos, quando não temos formadores cá dentro é que
recorremos aos externos, portanto nós temos uns quantos elementos da APD que estão a
participar no curso EFA, enquanto formadores, o formador de Linguagem e
Comunicação que se aposentou agora em Janeiro, aposentou-se em Fevereiro que saiu
no dia 31 de Janeiro era formador interno, mas aposentou-se e continuou ligado ao
curso, portanto para não mudarmos de formador ele ofereceu-se voluntariamente para
continuar a trabalhar no curso, ainda está a dar aulas, temos o formador de Informática
que é interno, formador de Inglês que é interno, formadora de Cidadania que é interno,
só não temos da Matemática, temos porque nós temos um CNO, temos o Centro Novas
Oportunidades, então acabamos por ter as pessoas cá dentro também, não é? Portanto o
formador de Inglês é também formador no Centro Novas Oportunidades, de Língua
Estrangeira, de Inglês e Francês, este formador que eu referi de Linguagem e
Comunicação que se aposentou era formador no CNO também de Linguagem e
Comunicação e de Espanhol, Língua Estrangeira, a formadora de Cidadania é
formadora no Centro de Novas Oportunidades de Cidadania, portanto temos uma equipa
cá dentro, então sempre que há pessoas internamente, não vamos buscar lá fora, só
vamos buscar para aquelas áreas em que não temos cá dentro ninguém formado.
Entrevistador – E neste momento no vosso curso EFA, quantos formadores
externos têm?
Entrevistada – Tenho que ir contar, vou contar os formadores da área tecnológica que
são, foram da APD, ora formadores externos, onze. Onze formadores externos.
Entrevistador – Portanto e quer dizer que os internos terão um vínculo à
organização, não é?
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Entrevistada – Todos os internos pertencem ao quadro da APD.
Entrevistador – Da APD e os externos, são recrutados?
Entrevistada – São recrutados no exterior a recibo verde porque fazem só aquele
módulo de formação, a portanto o único, o único vínculo que têm connosco é virem
fazer aquele módulo de formação.
Entrevistador – Alguma vez pensou em abandonar a actividade como mediadora
ou como formadora?
Entrevistada – Não, é uma área que eu gosto.
Entrevistador – Se tivesse outras oportunidades, mudava de actividade?
Entrevistada – Eu gosto muito de trabalhar com os adultos, aprende-se muito com as
pessoas, mesmo no curso EFA, que são cursos complicados por causa da permanente
mediação de conflitos e são cursos muito longos, portanto as pessoas também, por
exemplo o nosso já tem um ano, já tem treze meses de duração, portanto já se nota
algum cansaço por parte dos formandos, não é? Portanto já chegou ao ponto em que eles
estão desejando que isto acabe e também é complicado gerir a disponibilidade dos
formadores, portanto é um curso muito longo, em que de início se faz um cronograma,
mas que depois estão sempre a surgir alterações constantes. Quase diariamente há
alguém que não pode, mais das pessoas externas porque internamente, pronto uma ou
outra situação mas conseguimos gerir, quando estamos a contar com formadores
externos que também têm outras actividades, estamos em permanente alteração do
cronograma e em permanente gestão e trocas com este e trocas com o outro e é preciso
assegurar todos os dias diariamente sete horas de formação e isto não é fácil gerir isto,
só por si isto não é fácil, é uma gestão complicada e conseguir bons formadores nas
áreas também, também envolve alguma pesquisa e contactos com outras entidades.
Sempre que tivemos um formador com quem tínhamos trabalhado e tínhamos gostado
do seu trabalho, nós depois recorremos a essa pessoa, não é? Mas por exemplo este
curso EFA é de uma área completamente diferente e que nós não tínhamos ainda feito
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quase nada e então foi necessário recrutar pessoas que, com quem trabalhamos pela
primeira vez.
Entrevistador – E como é que vê o papel dos cursos EFA na sua vida profissional
futura?
Entrevistada – Não vejo continuidade dos cursos EFA no Algarve, portanto acho que
não vou ter futuro nos cursos EFA, só por isso, porque pelos vistos o financiamento
acabou, não abriram candidaturas este ano, quando era suposto abrir, quando abriu no
resto do pais, no Algarve não abriu e daquilo que sei, não há financiamento para
continuar a abrir, portanto não prevejo futuro profissional nos cursos EFA.
Entrevistador – Sente-se reconhecida no seu trabalho como mediadora,
formadora?
Entrevistada – Há dias que sim, há dias que não, depende, sim eu acho que tenho um
bom relacionamento com eles, eu tento não ser muito a mãe que esta ali
permanentemente a dar-lhes colinho, porque as pessoas precisam crescer, não é? Mas
estou todos os dias, estou com eles todos os dias estou presente, várias vezes ao longo
do dia, portanto o curso não decorre aqui, às vezes a informática decorre aqui na APD
porque os computadores estão aqui, as aulas de informática são aqui, o resto nós
alugamos uma sala de formação aqui no centro da vila e vou lá todos os dias várias
vezes, mesmo agora de manhã estive lá entre as nove e as nove e meia, no início da
tarde vou outra vez, tento acompanhar sempre o curso e estou em permanente contacto
com os formadores, posso não estar lá, não consigo estar lá as sete horas por dia como é
óbvio, nem tenho que estar, o formador foi contratado para ministrar a formação e a
responsabilidade dele é aquelas três horas ou quatro horas estar com os formandos não
é? Portanto também não tenho que estar presente até porque acho que isso incomodaria
a formação normal, o decorrer normal dos trabalhos.
Entrevistador – Quando diz que às vezes sim se sente reconhecida, às vezes não,
isso tudo quer dizer que…
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Entrevistada – Por exemplo quando há situações de conflito entre eles uma pessoa
sente-se um bocado cansada e afinal que trabalho é o meu não é? E afinal o que é que
tem servido? E isso nós vemos muito nas nossas reuniões de equipa pedagógica,
portanto não sou eu mas também os outros formadores às vezes ficam, mas afinal o que
é que nós andamos a fazer, quer dizer parece que ainda no outro dia, na semana passada
chamámos a atenção sobre que não podem fazer isto, não podem fazer aquilo, uma
semana depois já estão outra vez a discutir, já armaram outra vez confusão e nesses
momentos uma pessoa sente um bocado, que trabalho é este? Não é? Estas pessoas não
mudam?
Entrevistador – E quando diz que tenta não ser a mãe?
Entrevistada – Não andar, é assim, há pessoas que estão, que estão um bocado como
direi, não estão bem psicologicamente e há pessoas que gostam de chamar a atenção,
que nós sentimos todos, toda a equipa, que as pessoas têm aquelas atitudes para chamar
a atenção e aí eu vou falando com essa pessoa, não é? Mas não vou todos os dias
perguntar como é que está hoje? Então está bem hoje? Como é que se sente hoje? Não
faço isso, não sei se faço bem se faço mal, mas quero também que as pessoas ganhem
alguma autonomia, não é? E que não se encostem um bocado ali na bengala que eu sou,
eu tenho problemas, que há pessoas que se põem sempre nessa posição
permanentemente, portanto eu, eu sou assim ou eu fiz isto porque tenho problemas,
tenho problemas na minha vida, tenho problemas de saúde e portanto vocês têm que
aceitar isto. E isto não, eu não aceito isto. Portanto, toda a gente tem problemas não é? E
portanto isto não pode ser uma bengala permanente os problemas que eu tenho, as dores
de cabeça que eu tenho, porque as senhoras a partir de uma determinada idade têm
muito esta frase: ai, eu hoje não consigo fazer isso por causa da minha cabeça. Eu não
aceito isto. Poderei, aceitar uma ou outra vez, não é? É normal que as pessoas um dia ou
outro tenham dor de cabeça agora durante treze meses terem dores de cabeça todos os
dias quando se confrontam para realizar um determinado trabalho, isto não é aceitável,
não é? E há pessoas que se encostam um bocado nisto e ficam ali à espera de colinho
todos os dias e isto é uma fase porque não acho bem, as pessoas têm de crescer, têm que
desenvolver e têm que lutar, têm que batalhar por aquilo que querem, não se podem
todos os dias encostar aos problemas que eu tenho lá em casa, porque quando nós
entramos no local de trabalho temos de deixar os problemas lá fora não é? Não é fácil
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fazer isto, mas as pessoas ao longo de catorze meses têm de ir, têm de ir fazendo isto,
não é?
Entrevistador – Em relação ao trabalho pedagógico? Quais são as dificuldades que
sente no seu trabalho, quer como mediadora, quer como formadora, no aprender
com autonomia, dos cursos de educação e formação de adultos? Quais são as
dificuldades com que se confronta?
Entrevistada – O Aprender com Autonomia é muito para o trabalho em equipa,
portanto para que eles possam, saber trabalhar não é? Mas também trabalhar em equipa
e isso é a parte mais difícil, portanto são pessoas que não estão habituadas a trabalhar
em equipa, nós temos algumas pessoas que nunca na vida trabalharam e têm quarenta,
cinquenta anos e agora de repente estão em situação de que têm que trabalhar com os
outros, ouvir as ideias dos outros, dar razão aos outros e isso não é fácil, porque são
pessoas que estão habituadas a fazer tudo sozinhas, de que ninguém lhes disse nada,
ninguém lhes deu ordens e agora de repente, têm que fazer aquilo que o formador diz e
ainda por cima trabalhar em grupo e acatar as ideias dos outros, quer dizer que a delas
podem ou não ganhar e isso também tem gerado alguma situação de mau estar, nalguns
formandos, coisas muito simples, por exemplo, escolher a capa de um trabalho, há um
ou dois que fazem não é? Isto num grupo de quatro, cinco pessoas, têm ideias e depois a
outra pessoa fica amuada, porque a sua capa não foi escolhida e porque teve trabalho a
fazer a capa e não aceita, pronto é uma democracia não é? E que as pessoas votam e que
é eleita a que os outros consideram melhor, Não é?
Estas simples coisas, às vezes geram amuos que duram dias, as pessoas não aceitam que
a sua ideia não tenha prevalecido e isto tem sido, neste grupo, o outro curso EFA que
tivemos não foi tanto, no outro tinham outros problemas, este o problema maior tem
sido de facto o trabalhar em equipa.
Entrevistador – Há alguma dificuldade que se recorde no seu trabalho com os
formandos?
Entrevistada – É mais esta.
Entrevistador – Os seus colegas costumam comentar isso?
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Entrevistada – De quê?
Entrevistador – Os formadores.
Entrevistada – Os formadores EFA, do curso EFA? Do quê? Do trabalhar em equipa?
Entrevistador – Não, das dificuldades que eles podem ter no âmbito do trabalho
com os formandos?
Entrevistada – É mais, toda a gente tem este problema, que é o facto de não acatar
opiniões. Eu dou-lhe um exemplo concreto, às nove horas estive lá com eles e uma
formadora, que já terminou o módulo dela, esteve a apoiar o tema de vida, o último
tema de vida e deixou, ontem esteve cá e deixou comigo os testes que eles fizeram no
último dia com ela, as avaliações e a avaliação do tema de vida, que é individual,
formado a formando e agora estive lá e dei a elas para lerem e assinarem, porque os
formandos devem ler e assinar e dizer se concordam ou não, e uma das formandas,
quando eu lhe dei olhou para aquilo e disse logo: “Não concordo nada com isto!”
E o que é que a formadora tinha escrito: “Deve controlar o seu estado emocional!” Que
é uma pessoa que não está nada bem psicologicamente, mas não têm estado ao longo do
no curso, tem estado a fazer tratamento psiquiátrico, e a formadora na avaliação
escreveu isto, portanto, diz que sim senhor desenvolveu o trabalho bem, que foi positivo
que é uma pessoa que trabalha bem, mas que realmente não está estável e pronto só o
facto de ler ali aquilo, a, ficou logo revoltada: “mas quem é esta pessoa para me dizer
isto! Não têm nada que me dizer isto”. Pronto eu já sei que vai ficar o dia inteiro
chateada.
Entrevistador – E os aspectos, os aspectos gratificantes da sua actividade como
mediadora, formadora, os aspectos gratificantes da actividade?
Entrevistada – É conhecer estas pessoas, conhecer e aprender, porque também se
aprende não é? As pessoas, com a actividade porque nós pelo facto de termos que gerir
tudo isto, temos que desenvolver também competências, não é? Somos obrigados a
desenvolver competências e a rever aquilo que aprendemos de gestão de conflitos, não
é? É uma permanente actualização, nós aqui na APD fizemos há alguns anos formação
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de mediação de conflitos para todos os colaboradores e eu dei-me conta que passados
dois ou três meses do curso EFA ter começado, lá fui eu pegar no livrinho que tinha,
que o formador da altura, foi o autor e lá fui eu pesquisar outra vez no livrinho que tinha
para me relembrar aquilo que tínhamos falado e das técnicas e tudo mais. E aprende-se,
aprende-se muitas coisas com as pessoas, não é? Porque algumas podem não ter
trabalhado mas sabem muitas coisas da vida, não é? E aprende-se sempre.
Entrevistador – Como é que têm funcionado o trabalho curricular em torno dos
temas de vida entre os formadores? Como é que isso tem funcionado?
Entrevistada – Tem funcionado bem, é assim, quem está a dar a matéria que possa
ajudar, apoiar um tema de vida entra e apoia, portanto nem todos os formadores têm
participado, também há módulos pequeninos de vinte e cinco horas, não é? Que um
formador chega cá, da vinte e cinco horas e vai-se embora e pode não estar nada
relacionado com o tema de vida que está a ser desenvolvido, mas tem funcionado bem,
fizemos três temas de vida, agora no dia um de Julho temos a apresentação do terceiro, e
este último tema todos os formadores que estavam no activo participaram, todos.
Depois há outros que podem não participar na elaboração do tema de vida mas que
disponibilizam a sua formação, sei lá, para fazer uma visita que é necessário para
recolher informação para aquele tema de vida, para disponibilizar uma sessão para vir
para a internet para pesquisar informação, para passar os trabalhos a limpo, portanto
pode haver alguém que a sua matéria não acrescenta nada no tema de vida mas que
disponibiliza horas para que seja elaborado e que ajuda no português, na correcção nos
trabalhos, etc.…
Entrevistador – Quais foram os temas de vida que foram trabalhados?
Entrevistada – O primeiro foi, Hábitos de Vida Saudável, em que eles depois foram
divididos em subgrupos. E um trabalhou as questões da droga e da toxicodependência
outro as questões da alimentação saudável, exercício físico e o outro, o outro subtema
não me recordo, o segundo tema de vida teve a ver com o Património de São Brás de
Alportel, em que eles também foram subdivididos em quatro grupos, quatro mini grupos
e construíram um blogue sobre o concelho de São Brás de Alportel e o património,
portanto o património do concelho, este património não é apenas os monumentos, os
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monumentos também não existem muitos, não é? Mas o património cultural, tudo as
lendas, as receitas, a história do concelho, as festas, as festividades, portanto porque é
que existe uma determinada procissão, o presépio de São Brás de Alportel, tudo isso,
recolherem informação que está num blogue acessível a qualquer pessoa, portanto
qualquer pessoa que tenha internet pode aceder ao blogue e é um blogue em permanente
construção, eles criaram-no, toda a informação, fotografias que recolheram, está lá, mas
quem quer aderir, pode continuar a colocar informação e está em permanente
actualização e tem sido, é muito interessante o blogue e tem sido visto, portanto nós
temos um controlador de onde é que são as visitas, tem sido muito visto, numa série de
países e eles estão cheios de orgulho desse trabalho, o último tema de vida este terceiro
que será a apresentação no dia um de Julho é sobre a Empregabilidade, técnicas de
procura de emprego, como é que se deve apresentar numa entrevista, onde é que se
procura emprego, portanto eles criaram uma base de dados com sites e instituições onde
procurar emprego e fizeram um filme, fizeram um filme em que eles é que são os
actores e todos participam, em que é tudo aquilo que aprenderam, eles vão
demonstrando ao longo do filme, por exemplo: estão duas pessoas no computador, a
imaginar que estão a procura de emprego, então vem alguém e diz: Olha eu estava aqui
com atenção, não vá a este site, vá aquele outro. Depois há uma situação em que há duas
entrevistas distintas, uma pessoa que se porta muito mal na entrevista, que faz aquilo
que não se deve fazer e a outra que faz tudo correctamente, depois também tem
legislação laboral, portanto, no filme também aparece, eles também tiveram agora a dar
esse módulo, a diferença entre um contrato a termo, um contrato sem termo, um recibo
verde, os direitos que as pessoas têm, em qualquer uma destes contratos, em qualquer
um destes contratos, os deveres que têm, e, e eles criaram um guião e depois fizeram o
filme que vai ser a apresentado no âmbito do tema de vida.
Entrevistador – Ok
Entrevistada – E a par disso vão fazer também um livro, aliás qualquer um, a não ser o
blogue, o blogue é que não teve, mas o primeiro tema de vida e este agora também vai
uma manual com todas estas técnicas.
Entrevistador – Eles costumam fazer intervenção na comunidade? Ou seja
costumam de sair da sala de formação?
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Entrevistada – Sim, nós temos, agora um dos últimos temas que é os módulos que
acabou agora, foi animação e lazer, com uma formadora na área do teatro então todos
prepararam, a formação toda foi feita baseada num projecto de animação, portanto,
foram divididos também em grupos, pequenos e cada grupo teve que preparar um
projecto de animação para um público que eles escolhiam, ou idosos ou crianças ou
jovens, e depois foram fazê-los nas instituições, fizemos em lares, em creches, foram a
instituição desenvolver o trabalho que tinham planeado, portanto, as cinquenta horas
foram todas isso, desenvolver, pensar num projecto desenvolvê-lo, fazê-lo e avaliá-lo.
Entrevistador – A articulação curricular entre os formadores costuma decorrer
mais na formação de base, os da profissionalizante também entram?
Entrevistada – Sim, por exemplo agora na apresentação do tema de vida no dia um,
eles estão a ter também um módulo com um cozinheiro, tiveram já a produção de
alimentar de pastelaria, outros tipos de alimentação, queijos e bebidas e etc.… e agora
estão a dar o último módulo com ele, que é mise en place, então eles vão aproveitar o
último tema de vida e vão fazer, também já têm feito, não é a primeira vez, vão cozinhar
aqui, vão fazer bolos e bolinhos e bolachas e patês e vão comprar queijos, isto tudo de
acordo com a formação que deram com ele, quer dizer vão comprar, vão elaborar a lista
e depois nós aqui na APD é que adquirimos, não é? E depois da apresentação do tema
de vida, vai haver um lanche com as mesas preparadas por eles, com tudo que
aprenderam. E neste módulo de mise en place, eles também tem ido a restaurantes e
hotéis, conhecer como é que se põe uma mesa para um casamento, para uma festa mais
requintada, os vários tipos de copos, os vários tipos de talheres para que é que servem,
como é que se serve à mesa, portanto eles têm, têm ido a restaurantes, tudo aqui em São
Brás, tem ido aqui, conhecer.
Entrevistador – Qual é a sua opinião sobre a questão do currículo integrado em
torno dos temas de vida?
Entrevistada – Hum.
Entrevistador – Ou seja como é que se posiciona fase a esse tipo de trabalho?
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Entrevistada – É interessante, eu acho que é interessante e obriga a uma articulação
entre os formadores e os formandos gostam sempre, portanto, resulta num produto final,
que lhes dá muito orgulho e nesse sentido é bom, se bem que dá um bocado trabalho
articular tudo isto, não é? Portanto fazer a planificação, quem é que dá as horas, quem
vai fazer o quê? Depois articular com o formador de informática, ajuda aqui, o de
português ajuda ali, mas eu acho que o resultado final compensa, portanto vale a pena
dá um bocado de trabalho, mas, mas acho que é bom.
Entrevistador – Que dificuldades é que costumam de surgir nesse trabalho de
articulação?
Entrevistada – É mais as horas que os formadores têm que dar, porque todos acham
que precisam das suas horas para dar os seus conteúdos e para poder validar as suas
competências, não é? Isto a nível das áreas de competências chave e então estão todos
com pressa e com a necessidade de validar as suas coisas, então terem que
disponibilizar quatro ou cinco sessões para o tema de vida às vezes ficam: “Mas eu não
posso esta semana, eu preciso de dar isto, eu preciso de fazer aquilo, eu preciso de fazer
aquele trabalho, eles tem que acabar o relatório, não posso!” E isto é…, eu tenho que
andar um bocado a insistir com alguns formadores, não mas desculpa, mas tem que ser,
logo dás isso a seguir, agora nesta fase eles estão quase a acabar o tema de vida, tens
que corrigir os trabalhos, tens que parar com a tua matéria. Por exemplo neste último
tema de vida, não se sentiu tanto isso, porque todos os formadores das áreas de
competência chave já tinham as suas coisas validadas, os seus trabalhos, os seus
critérios de evidência já cumpridos, portanto já estavam um bocadinho mais aliviados
disso, então já participaram com mais horas no tema de vida. Mas eu notei muito isso
no primeiro, porque ainda era o primeiro era o início, não é? Então eles estavam com
pressa, com medo que as horas não chegassem e então ter que estar a disponibilizar
algumas horas, nalguns casos ainda foram muitas para o tema de vida, ficavam um
bocado aflitos.
Entrevistador – Costuma planificar temas de vida?
Entrevistada – Sim, sim.
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Entrevistador – Como é que isso costuma acontecer?
Entrevistada – Normalmente a planificação, primeiro decide-se com o grupo de
formandos, qual é que vai ser o tema de vida, eles é que escolhem e entre eles tem que
decidir, portanto, neste caso, neste curso logo no início discutiram-se várias hipóteses
dos temas de vida, então ficou mais ou menos alinhavado do que é que seria do curso
todo, não é? Portanto, da primeira ideia para o primeiro tema de vida, ficaram logo
outras ali em banho-maria, digamos assim, para depois serem utilizadas, então não foi
muito difícil. O segundo tema de vida já foi, eles já não foram buscar ideia anterior
porque entretanto tiveram outras ideias por causa de desenvolverem o primeiro, também
viram como é que era, então mudaram um bocadinho para o segundo tema de vida, o
terceiro ficou logo, digamos assim decidido que seria a empregabilidade, porque era o
final do projecto e portanto fazia sentido que fosse empregabilidade, técnicas de procura
de emprego, legislação, etc.… fazia sentido quando eles fossem para o mercado laboral
já trabalharem esta matéria, mas eles é que decidem quais são os temas, quais são os
subtemas também dentro daquele tema então podem, é evidente com o apoio dos
formadores, não é? Dentro desse tema então podem trabalhar isto, trabalhar aquilo,
vamos lá pensar mais o que podemos trabalhar e eles próprios vão dando ideias, depois
os grupos são tirados à sorte, foram sempre tirados à sorte, os mini grupos depois dentro
com papelinhos da sorte para não haver confusão, porque se não depois escolhiam
sempre os mesmos parceiros, não é? Que é natural, mas não queremos isso, queremos
que eles todos trabalhem uns com os outros, não foi difícil.
Entrevistador – Costumam fazer reuniões de planificação, então?
Entrevistada – Sim, reuniões pedagógicas sim, depois de ser definido o tema de vida,
então que actividades é que são necessárias para desenvolver para chegar a este
produto? Qual é o produto final que se quer ter, ou seja quando se, qual é que vai ser a
apresentação? O que é que vai ser apresentado? Vai ser um filme, vai ser um teatro, vai
ser um livro, vai ser um PowerPoint, vai ser uma exposição fotográfica, o que é que se
pretende que saia daqui? Depois já de ter o produto final então que passos é que nós
temos que dar para conseguir chegar a esse produto final. No primeiro tema de vida fezse uma exposição aqui na sala de exposições da APD em que o grupo da alimentação
saudável, construiu uma roda de alimentos, com alimentos mesmo, com a carne, com o
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peixe, com o queijo, com o iogurte, o leite, os legumes frescos, os cereais, pão, fomos
adquirir as coisas de manhã, construiu-se a roda, depois é evidente que os produtos
foram-se estragando e tivemos que ir retirando os alimentos à roda e substituindo por
outros de plástico, mas nos primeiros dias tiveram mesmo os alimentos reais e aí, pronto
foi planificado. E que formadores é que poderiam entrar, o formador de matemática
para desenhar a roda lá com as percentagens dos alimentos, desenhar uma roda gigante
numa cartolina com as percentagens, não é? Isso foi ele que apoiou, depois a formadora
de nutrição com os alimentos dentro de cada componente da roda e foram adquirir as
coisas com ela e tudo mais. A, portanto fazem-se reuniões mas funcionamos muito por
e-mail.
Entrevistador – Ok.
Entrevistada – Por troca de e-mails, isto hoje é fantástico, esta facilidade.
Entrevistador – Na sua opinião, os formadores costumam aderir às reuniões de
planificação ou se há dificuldades?
Entrevistada – Isso é a maior dificuldade, sim, é a maior dificuldade, as reuniões são
marcadas sempre, eu vejo sempre, quem é, a disponibilidade das pessoas, antes de
marcar a reunião, depois tento marcar para o dia que é melhor para toda a gente e
sempre ao final do dia, claro, porque, os formadores internos estão cá na In loco, mas
também estão a desenvolver o seu trabalho, os formadores externos temos que marcar
ao final do dia, porque tem as suas actividades, a maioria vem, mas há sempre um ou
outro que não pode vir e não se consegue agendar um dia em que possa toda a gente vir,
então, já se tem feito reuniões, faz-se a reunião e que quem poder estar está e quem não
poder, não está. E quem não está eu depois quando estou na sessão seguinte passo a
informação.
Entrevistador – E, quais são as razões porque eles não podem estar presentes?
Entrevistada – Alguns deles são professores e então têm aulas, alguns são formadores
à noite também noutras entidades, é, normalmente por motivos laborais e também já
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tivemos casos em que as pessoas estavam de férias, portanto nem sequer estavam cá,
estavam ausentes.
Entrevistador – E na sua opinião as reuniões de planificação, são importantes para
o funcionamento para o curso EFA?
Entrevistada – São, são importantes se bem que hoje em dia, eu noto isso em relação
ao anterior curso que tivemos, portanto, com a facilidade de e-mail e toda a gente ter email e depois eu quando mando uma coisa, normalmente, mando para toda a gente,
quando o assunto diz respeito a todos, mando, vai para o grupo todo, e isso depois toda
a gente responde para toda a gente, então acabamos por fazer, consultas de ideias,
digamos assim, por e-mail, o que ajuda bastante, portanto não temos feito também
tantas reuniões porque utilizamos muito este meio, depois quem não pode estar na
reunião, eu estou com a pessoa, depois quando venho ministrar a formação e passo a
informação e discutimos, então, por exemplo, na planificação do tema de vida, onde é
que podes entrar, aqui também podes ajudar um bocadinho, qual é o dia que podes
ajudar, vamos ver o cronograma, qual o dia que podes ir para a internet …
Entrevistador – Ok.
Entrevistada – E acabamos por funcionar assim.
Entrevistador – A planificação é cumprida depois na prática?
Entrevistada – Não, há ajustes, eu acho que dos três temas de vida, ainda, não houve
nenhum, estamos a falar de tema de vida ainda?
Entrevistador – Sim, sim.
Entrevistada – Não houve nenhum, que a planificação se mantivesse depois daquele
que foi feito, não é? Porque uma coisa é planificar dois meses depois, quando se chega à
conclusão dois ou três meses depois o tema de vida, quer dizer houve pessoas que,
houve formadores que de início não estavam a pensar ajudar em determinada matéria e
depois também deram a perninha, não é? Ou houve um determinado trabalho que não
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estava a pensar ser feito e depois se acabou por fazer ou uma determinada visita que até
não se estava a pensar que seria necessária e que se fez, ou houve outra que por exemplo
se tinha pensado planear e depois acabou por não se fazer, porque foram ver outras
instituições e já não foi necessário ir àquela, portanto não há nada, não houve nada que
não se alterasse, ligeiramente, não é? Não foram alterações profundas.
Entrevistador – Em termos do trabalho pedagógico em torno da evidenciação e da
avaliação de competências dos formandos, como é que isso se processa?
Entrevistada – Hum, pois cada formador tem a sua forma, o seu método pedagógico,
por exemplo na componente tecnológica, que é muito mais prática, muitos deles o que
fazem é uma avaliação prática, portanto uma pessoa depois, vai fazer aquela prática que
foi ensinada e é avaliada, quase todos os módulos tiveram da área de competência
tecnológica, testes de avaliação, de zero a vinte, pontuados de zero a vinte, a par disso
tiveram todos, trabalhos. Portanto trabalhos individuais ou trabalhos em grupo, que
contam também para a nota final. Portanto temos uma grelha de avaliação e ou só se faz
um teste ou só se faz um trabalho ou fazem-se testes e trabalhos ou fazem-se trabalhos
práticos, demonstração daquilo que foi aprendido, estou-me a lembrar por exemplo das
áreas com os enfermeiros que fizeram-se avaliações práticas do que é que foi ensinado,
tivemos um módulo de desenho de decoração de espaços, o trabalho final foi pegarem
numa folha de papel e fazerem um projecto de um departamento de uma zona da casa,
não é? Ou zona da casa ou eles é que inventavam podia ser de um hotel, podia ser de um
lar, em que eles a faziam a decoração daquele espaço, que eles decidiam e aí não, não
houve teste, portanto a formadora avaliou, e depois no final do módulo, esse projecto,
com a formadora de aquisição e armazenagem, conservação de produtos, fizeram
também trabalhos práticos, portando ela deu muito a questão das bactérias, então
fizeram mesmo experiências, com o microscópio, com bactérias, e então depois analisar
aquilo tudo, o que é que existe, o que é que não existe, nos frascos, portanto vedarem
frascos e depois abrirem, quando não estavam bem vedados o que é que formavam,
então a avaliação também foi feita por aí, por essa prática, depois um relatório que eles
fizeram, depois nas áreas de competência chave temos a informática que é as
evidências, os critérios são validados, tudo com base na prática, não é? Durante a
formação, durante as aulas nas sessões o formador vai verificando o que eles sabem
fazer. Depois temos a matemática, o formador faz muitas fichas de evidência de
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competências ou seja, dá os conteúdos programáticos e depois está quase semanalmente
a fazer fichas de validação de competências daquilo daqueles que deu, portanto usa
muito isso. O formador de português, cada um tem o seu método, o formador de
português usa também textos de reflexão, sobretudo para validar os critérios, trabalhos
individuais, trabalhos em grupo, é mais por ai, não é tanto por fichas, portanto trabalhos
que eles fazem e cidadania também é parecido com o português. O formador de inglês é
tudo mais na prática, portanto gravações, áudio, de eles a falarem e ouvirem, portanto
ele põe a correr a cassete de inglês para eles depois traduzirem, portanto, é base, com
base mais na oralidade, também na escrita, mas usam muito a oralidade.
Entrevistador – Se sente alguma dificuldade neste trabalho de levantamento de
indícios de evidências para a validação de competências?
Entrevistada – Não, temos uma ou duas, o grupo é muito bom. A nível de
competências é dos melhores grupos que nós temos tido e aqui estou a considerar
também os grupos que eu falei de início de formação profissional que não eram cursos
EFA, mas que eram os digamos, que, os avôs dos cursos EFA. Desde que eu estou na In
Loco que apanhei todos estes grupos de formação, de formação mais longa, não é? De
formações profissionais com mais de um ano, este grupo é o grupo que tem formandos
com mais capacidades, mais competências, portanto a esse nível é um grupo muito bom,
muito bom. Têm uma ou duas pessoas que têm mais dificuldades, claro, mas, dos
dezasseis formandos, os três, os quatro que saíram também eram bons, foi uma pena que
saíssem, porque podiam fazer isto muito facilmente, são pessoas com capacidades, não
tem sido difícil, a não ser estes dois ou três casos, são pessoas que não conheciam um
computador, não sabiam sequer como é que se ligava e que nunca tiveram Inglês,
portanto a dificuldade maior tem sido no Inglês e na Informática e no Português, na
Linguagem e Comunicação, portanto haviam pessoas que não tinham hábitos de leitura,
nem de escrita e que escrevem com alguma dificuldade, portanto são duas três pessoas
nestas três áreas, nas outras não. Na componente tecnológica, não tenho tido problemas
com ninguém, é como eu lhe digo é um grupo muito bom a nível de capacidades, dos
melhores.
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Entrevistador – E, do seu trabalho, por exemplo no módulo, de Aprender com
Autonomia, sente alguma dificuldade por vezes em identificar as evidências, isso
suscita-lhe por vezes dúvidas, como é que…
Entrevistada – Hum, não. Como eu referi à bocado é mais a questão do trabalhar em
equipa, esse sim tem sido a pedra de Aquiles, neste curso, portanto eles nunca, há
grupos, portanto dentro do grupo grande, há grupinhos, é natural, portanto em qualquer
situação destas, na escola, na universidade as pessoas têm afinidades e portanto no
grupo há subgrupos não é? Mas o grupo grande funcionar como grupo, por exemplo
para a realização dos temas de vida tem funcionado muito bem, funcionam super bem,
têm tido excelentes resultados, trabalham muito bem, nunca houve problemas no âmbito
do tema de vida, mas depois durante a formação, para outras, na situação do dia-a-dia,
de estar em sala já tem havido problemas, aí não conseguem funcionar como grupo,
porque uma olhou e aquela disse, estão-se a rir de mim e portanto, é muito complicado
estarem sete horas por dia em sala, gera estas confusões porque estão-se a rir, estão a
dizer e estão a falar e se calhar é de mim e não sei quê e isto tem sido complicado, mas
depois quando é para trabalharem mesmo, o facto é que eles não podem estar sem fazer
nada sete horas por dia, portanto só ouvir o formador a falar, a expôr, não pode ser,
portanto tem que sempre haver trabalhos, tem sempre que estar a trabalhar, porque
senão gera confusão, quando é para trabalhar em conjunto, agora fizeram o filme,
lindamente, conseguiram filmar todos à primeira, parecem profissionais, montaram o
filme num instante, está pronto, a apresentação é só dia um de Julho e o filme já esta
pronto há uma semana. Trabalharam muito bem, mas o estar em sala e o relacionaremse enquanto grupo corrente, nunca se conseguiu que eles fizessem isso.
Entrevistador – E em termos do trabalho pedagógico costuma trabalhar mais com
o grupo, como um todo ou costumam fazer um trabalho mais individualizado,
como é que isso costuma acontecer?
Entrevistada – Costuma ser, há momentos em que são trabalhos individuais, até porque
depois para validar as competências no portefólio, não é? Os portefólios são individuais,
mas a grande maioria é trabalhos em pequenos grupos e em que nalguns momentos, no
início se deixava que eles formassem os grupos, não é? No início mesmo da formação,
depois começámos a ver que eles escolhiam sempre as mesmas pessoas, portanto já
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estavam a criar afinidades, então não era isso que se pretendia queríamos que eles
trabalhassem todos uns com os outros, não é. Porque eles quando forem para o mercado
de trabalho não escolhem com quem vão trabalhar, têm que lidar com toda a gente, não
é? Trabalhar com toda a gente, têm colegas e não podem escolher os colegas de trabalho
e nesse sentido começamos a formar, pequenos grupos, mas escolhidos pelos
formadores, o que nem sempre eles acataram muito bem esta decisão, houve alguns
formandos que em determinados momentos não queriam trabalhar com aquela pessoa e
viram-se obrigados, mas tiveram que ultrapassar.
Entrevistador – Na sua opinião pessoal, quais são os princípios que devem orientar
o trabalho pedagógico dos formadores que trabalham num curso EFA? Algumas
orientações que ache importantes?
Entrevistada – Eu acho que os formadores têm que ir sempre ministrar formação para
um curso destes, tendo em conta duas coisas, primeiro, são um grupo de adultos, não é?
Um conjunto de pessoas adultas que, se por um lado não se pode tratar enquanto
crianças, porque não o são, por outro lado também tem que se ter algum cuidado na
autonomia que se lhes dá, ou seja não podem, tem que haver regras, portanto as regras
não são só para as crianças, tem que haver regras com adultos também, porque senão
eles depressa perdem o respeito e ultrapassam isso tudo, nós tivemos uma formadora
isto é um exemplo, que já no final da formação, só teve cinquenta horas de formação e
já no final da formação, começou a tratá-los por tu, ora isto não se pode fazer, depressa
eles a trataram por tu a ela, e foi-se o respeito, portanto, ela começou a não dar conta
deles, portanto ela mandava-os fazer uma coisa e eles, ai, não me apetece ou não quero
depois mandava trabalhar uns com os outros, ai eu com ela não quero trabalhar, quer
dizer isto não pode ser, nós não obrigamos ninguém, dentro da formação e é um bocado
aqui também dentro da In loco, funcionamos um bocado assim, portanto, ninguém tem
que tratar por doutor nem por engenheiro, nem por nada disso, mas tem que haver
respeito e o facto de tratar os formandos por tu está-se a dar logo um bocado de
autorização que nos tratem também por tu e portanto começaram a tratá-la por tu e ela
não disse que não e isto criou para eles uma relação de proximidade, que lhes permitiu
depois recusar fazer coisas, porque, pronto estamos todos aqui, andamos todos juntos na
escola, somos todos amiguinhos e portanto tu mandas, mas aqui não mandas nada e eu
posso fazer o que entender, não é? E isto nas duas últimas duas, três sessões que ela teve
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com eles, gerou alguma tensão, porque ela depois saiu daqui, ficou um bocado, afinal
isto trabalhar com adultos não era aquilo que eu pensava. É uma pessoa que é
professora, e ela vinha a pensar que trabalhar com adultos era um bocadinho diferente
do que trabalhar com crianças e que não era preciso, impor tanto respeito, porque com
as crianças, é preciso mas com os adultos, estava no meio de pessoas adultas, pessoas
igual a ela e portanto podiam ser todos, todos iguais, não é? Realmente toda a gente
sabe coisas, mas aqui neste, nesta situação é preciso manter algum formalismo, também
para eles verificarem, pronto, aqui não estamos todos ao mesmo nível e vocês aprendem
comigo e eu aprendo convosco, mas atenção, quer disser, quem coordena a sessão sou
eu, não é? E isso foi um bocadinho complicado. Mas como eu lhe disse aqui temos
muito essa facilidade de relacionamento, não estamos naquela posição e tento que não
haja formador nenhum que contratemos que seja assim, que chegue aqui, eu sou o dono
da sabedoria e portanto, eu estou aqui para vos ensinar e vocês não sabem nada, mas
também não pode ser o contrário, não é? Também não se pode permitir que depois haja
abusos e isso aconteceu, portanto por um lado é preciso perceber que estamos com
adultos, não é? E que são pessoas que já sabem muito da vida. Portanto tem que se ter
em conta também que as pessoas, já sabem, por outro lado é preciso, também manter
algum respeito e ser assertivo, alguma assertividade, porque senão, depressa eles
ultrapassam as regras todas e não há respeito.
Entrevistador – Tem, tem alguns casos em que os colegas de formação, façam uma
modalidade de formação, mais transmissiva, em vez de ser uma abordagem mais
pelas competências centrada em torno dos temas de vida? Tenham uma tendência
para fazer de outras formas?
Entrevistada – De outras formas quem? Como na escola? Estar ali a ministrar?
Entrevistador – Por exemplo.
Entrevistada – A ensinar não, acho que não, deixe-me aqui olhar para os formadores,
acho que não, acho que neste, é assim, todos os formadores das áreas de competências
chave, são formadores com muita experiência na educação de adultos e em cursos EFA
e em centros de novas oportunidades, portanto já há muitos anos que não funcionam
assim, portanto já estão nessa engrenagem, mesmo das competências e do conhecimento
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que as pessoas, têm quando cá chegam, portanto pode não ser um conhecimento ao
nível formal das matérias dadas na escola ou matérias constantes no, nos referenciais,
mas são pessoas que já sabem muito, não é? E basta conduzir a pessoa naquele sentido,
não é? Portanto sabe matemática, a pessoas pensa que não sabe, mas sabe, porque já
pintou a casa, já comprou mosaicos para, portanto já teve de pensar numa área, sabe o
que são percentagens, vai as compras sabe quais são os descontos, o que é que aquilo
significa, portanto só tem que se conduzir a pessoa naquele sentido, dizer: isso que você
conhece chama-se isto, na linguagem matemática, portanto nas áreas de competência
chave, não temos problema nenhum, que são cinco formadores, já com muita
experiência na educação de adultos e, e nos referenciais de competência portanto estão
perfeitamente a vontade. Os formadores da área tecnológica, alguns tinham experiência
na educação de alunos e em cursos EFA, alguns tinham, mas outros não, são professores
da escola, ou enfermeiros ou enfermeiras que nunca tinham trabalhado com cursos EFA,
que estão habituados a dar formação, mas que não eram no âmbito dos cursos EFA e
esses sim foi necessário introduzi-los aqui no esquema, no esquema de avaliação de
competências e dos temas de vida, mas não houve ninguém que chegasse ali e foi tudo
pela prática, mesmo os enfermeiros, portanto legislação laboral, é um exemplo. Estão a
ter agora, era o tema ou era o módulo que mais me preocupava que era, normalmente é
muito expositivo e a legislação, quer dizer, a legislação para estas pessoas, cinquenta
horas de legislação trabalhadora, isto vai ser um desastre e então, antes do formador vir,
claro tive uma reunião com ele e ele era um formador já reformado, não é? Aposentado
não é? Lá dos seus, das suas actividades, como advogado, e que está muito habituado a
dar formação para adultos, mas que não é cursos EFA, portanto é para empresários, para
outros, outros advogados, outro tipo de público que está mesmo interessado na
legislação pura e dura. Aqui não podia vir com essa abordagem expositiva, seria um
desastre, então tive que reunir com ele e disse logo, isto aqui vai ter que ser muito
baseado na prática, portanto dá uma determinada componente do código de trabalho, ok
então vamos fazer simulações, aconteceu isto, isto e isto, o que é que vocês fariam, a
que, a que artigos é que vocês recorriam, qual é que vocês acham, que seria a solução?
E então tem estado a correr bem, porque ele tem feito isto, portanto tem, dá lá a parte do
conteúdo do trabalho, da ética e da deontologia etc. explica aquilo tudo, mas depois
fazem trabalhos em cartolina ou em grupos ou individuais, em que, para cada situação
em grupo discutem qual seria a solução mais, por exemplo: uma pessoa foi despedida
numa determinada situação, um empregador tem razão, o trabalhador tem razão, vale a
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pena ir para o tribunal de trabalho, não vale, o trabalhador não tem razão nenhuma e o
caso fica por aqui encerrado, portanto o que é que acham? E tem estado muito a discutir,
portanto mais na prática. É evidente que todos os módulos têm alguma componente
dispositivo, não é, para introduzir o conteúdo do módulo, tem que haver, mas depois
tem sido, tenta-se sempre que haja prática. Não é possível também sempre, por
exemplo, aqui nas áreas de confecção, produção alimentar, vá, tivemos cinco módulos
de produção alimentar, não podem estar todos os dias a cozinhar, não é? O curso
também não tem disponibilidade financeira para estar a adquirir materiais para dezasseis
pessoas cozinharem, porque depois não é só para um grupo ou dois ou três, não é? Não
se vai cozinhar só para um, não se vai cozinhar só um bolo, pronto quando se faz bolos,
tem que se fazer vários, como fizeram no módulo de pastelaria, tem que se fazer uma
série deles, porque eles tem que praticar, não é? Não ficam dois ou três a fazer um bolo
e os outros ficam a ver, todos têm que praticar, portanto não é fácil. O curso também
não tem verba suficiente para estarem todos os dias a praticar e isso seria o ideal, não é?
Quando se adquirem ingredientes não podem ser em quantidades ínfimas, tem que ser
para toda a gente trabalhar e, e isso é, torna as coisa um bocado complicadas, porque aí
tem que passar mais tempo em sala, o que para eles também não é fácil.
Entrevistador – Falou aí nos formadores que têm experiência em formação de
adultos, depois os que não tem, considera que isso faz diferença, no trabalho nos
cursos EFA?
Entrevistada – Sim, nós o que tentamos sempre é que os formadores já tenham
experiência de cursos EFA, não apenas de educação de adultos, mas de cursos EFA,
para que já percebam um bocadinho também o que é que são os temas de vida, o que
são os referenciais, validar competências, etc. Porque é uma lógica diferente doutras
formações, não é? A pessoa pode ter a experiência de formação em cursos, mas que é
despejar aquela matéria toda para quem esta interessado e pronto. Não é validar
competências, mas também às vezes aparecem-nos pessoas que pelo curriculum e por
aquilo que sabemos das pessoas, são muito boas tecnicamente, pronto, não tem a
experiência de educação de adultos, mas pronto, vão tê-la aqui, e temos de a enquadrar.
Portanto não é apenas pela experiência que tem nos cursos EFA, mas também por
aquilo que nos parece a nível de competência profissional naquela área e aí a pessoa
pode não ter experiência, mas parece-nos uma pessoa tão boa naquela área que então
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ficamos com ela, por exemplo a formadora de decoração de espaço é uma professora
aqui da EB2/3, a, mas é uma pessoa que têm uma galeria, que dá, faz workshops de
pintura e que eu já tinha ouvido falar imenso dela, de professores que tiveram aulas com
ela e então convidamo-la e ela como são vinte e cinco horas lá conseguiu encaixar nos
seus afazeres ela não tinha experiência nenhuma nos cursos EFA, nunca tinha, ela têm
experiencia de educação de adultos, porque ela dá aulas a professores a colegas. E dá
aulas a alunos, a miúdos, mas também tinha educação de adultos, não eram é cursos
EFA, portanto tivemos que a enquadrar aqui, mas foi uma mais-valia, portanto ela não
tinha experiência, mas ela foi uma mais-valia no curso, naquela área ela é muito boa, e
fez vinte e cinco horas todas de prática e levou-os a galerias, portanto eles tiveram
oportunidade de fazer coisas e conhecer sítios que não conheciam e que ela lhes
transmitiu isso, portanto o ser formador e ter experiência em cursos EFA é bom, mas
não é o único critério.
Entrevistador – Que competências é que considera essenciais para exercer a sua
actividade como mediadora e formadora de cursos EFA?
Entrevistada – Primeiro tem que ser uma pessoa com alguma capacidade de
assertividade depois saber um bocadinho de gestão de conflitos, estas duas para mim
são as principais isto pensando nos formandos. Depois a nível da gestão também,
porque é uma gestão continua, que há imenso trabalho para fazer, no âmbito do curso,
portanto é o programa informático, é o SIGO, é a gestão do cronograma, é o contactar
com formadores, seleccionar formadores, seleccionar formandos, eu digo isto porque eu
participei em tudo, desde o lançamento, desde a candidatura, a divulgação, o contacto
com entidades para nos enviarem formandos, a sessões de divulgação no Instituto de
Emprego com pessoas do Instituto de Emprego, com empresários, contabilistas, para
divulgarem pelos clientes, fizemos de tudo um pouco e eu participei em tudo isso, mas
também porque isto aqui, a APD é um sitio diferente, não é? Porque uma entidade
formadora que lança um curso EFA e que vá contratar um mediador, o mediador não faz
nada disto, é mediador e pronto. Nós aqui não, portanto estamos desde a concepção
mesmo até a avaliação, portanto vou estar em tudo. Já estou a fazer instrumentos, a
preparar instrumentos de avaliação, nesta fase estamos no contacto com as entidades
estagiárias para definir os planos individuais de estágio, etc. Que até fazem o que
estamos agora, mas eu já estou também a fazer inclusive instrumentos de avaliação
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portanto eu estou em tudo, quando eu digo a capacidade de gestão, provavelmente
noutra entidade, se calhar o mediador não terá que ter tanto, aqui, temos que ter, porque
quem está desde o início faz selecção de formandos de formadores, cronograma e gere
tudo isto e o SIGO e etc., dossiers pedagógicos e tudo o mais têm que ser alguém que,
que conhece bem a legislação da formação e de preferência também que, que a nível de
coordenação de formação, experiência a nível de coordenação, porque apesar de haver
um coordenador, o coordenador não está a tempo inteiro, não é, portanto não está todos
os dias e é preciso alguém que esteja e o mediador está diariamente no curso, não é.
Entrevistador – Descreva-me um pouco o perfil dos formandos que frequentam os
cursos EFA no vosso caso, que tipos de formandos é que…
Entrevistada – Que tipos de formandos, portanto pessoas todas desempregadas como é
óbvio, não é, algumas desempregadas desde sempre, portanto nunca trabalharam e
outras desempregadas, enfim algumas poderei dizer mesmo que nunca quiseram
trabalhar, portanto sempre viveram assim, outras pessoas desempregadas recentemente
e sem emprego, não é, portanto um caso triste da vida, ficaram desempregadas, portanto
temos os desempregados profissionais por assim disser e os desempregados por
circunstâncias que lhes foram alheias, estas pessoas desempregadas que nunca fizeram
nada, algumas este curso despertou-lhes o interesse e uma oportunidade de mudar de
vida, afinal eu quero trabalhar, afinal eu não quero viver dependente do meu marido
para o resto da vida, outras não, outras vieram para este curso, porque como tinham ido
para um de jardinagem, de administrativo ou de outra coisa qualquer, foi um curso que
apareceu aqui em São Brás e portanto foi-se inscrever, a depois temos as pessoas
desempregadas que ficaram por circunstâncias alheias a sua vontade, ficaram mais
recentemente e essas sim, não estavam habituadas a estar nesta posição e agarraram isto
como uma grande oportunidade de se voltarem a inserir no mercado de trabalho e estas
pessoas são muito mais empenhadas, dedicadas, motivadas, depois, neste curso é
que…estou aqui a pensar temos pessoas, não temos aquelas pessoas que nós dizemos
que são os papa cursos, ou seja quando vieram para aqui não vinham de uma rotina de
cursos, não vinham, mas que neste momento temos três ou quatro pessoas que o
objectivo que têm é seguirem, irem fazer outro curso de nível secundário, ou seja,
gostaram de estar aqui catorze meses a receber a bolsa e a aprender e aumentar as
competências e ficarem com o 9ª ano e agora a seguir querem fazer o 12º ano. Se por
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um lado isto não está correcto porque se a vontade era só fazer o 9º ano, por outro lado
isto também serve para dar um pulo na sua vida. Portanto há pessoas que não estavam
habituadas a estudar, que nunca mais tinham pensado voltar à escola, agora pelo facto
de estarem aqui, de fazerem o 9º ano, já estão com vontade de ir mais além e temos
pessoas que já falam, duas ou três jovens que, que já falam em ir para a universidade,
porque sentiram-se valorizadas e com competências suficientes para ingressar, para ir
mais além, portanto para continuar a estudar e para ir mais além, isso são as mais
jovens, as mais velhas é evidente que o que querem é uma carteira profissional para
irem trabalhar.
Entrevistador – Falou aí na questão dos papa-cursos. Pode-me tentar explicar um
pouco melhor essa ideia?
Entrevistada – São as pessoas que fazem curso atrás do outro sempre a procura da
bolsa, não é, aqui quando fizemos a selecção tentamos que isso não existisse, portanto
tentamos que não tivéssemos pessoas que, que vivem disso e portanto eu penso que
isso, isso agora acaba, Porque já não vai haver tantos cursos financiados e portanto isso,
mas sabemos que ao longo dos anos destes anos em que houve financiamento para
estes, houve pessoas que atrás de um curso faziam outro, faziam outro e faziam outro e
iam saltando de curso em curso, independentemente da área de formação que fosse, não
estavam interessados na área, estavam interessados era estar integrados num curso e
receberem a bolsa e enquanto estão ali, não estão a fazer outra coisa, têm a bolsa não é
um valor muito, muito baixo, portanto, considerando estes formandos ainda estão
recebendo o IAS completo, mais subsídio de refeição mais subsidio de deslocação caso
venham de fora e ainda se colocarem os filhos em, em unidades, creches, jardins de
infância ainda têm subsídio de acolhimento, portanto eu acho que isto a, para quem não
estava habituado a ter nada, isto é óptimo, porque nós vamos trabalhar e ninguém nos
paga a deslocação, nem ninguém nos paga o acolhimento de uma criança. Se temos que
pôr o filho para podermos ir trabalhar a entidade patronal não nos paga nada disto,
portanto eles estão numa espécie de almofada financeira o que depois desagrada e a
seguir tentam estar noutro curso e noutro curso e noutro curso.
Entrevistador – Uma pessoa que receba todos esses apoios na totalidade pode
chegar aí a que valores?
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Entrevistada – Olhe o IAS são 419,22€, o subsidio de refeição são 4, 27€ por dia ronda
se não faltarem os 90,00€ por mês o subsidio de deslocação são 12,5% do IAS que dá
por volta de 50,00€ para quem recebe o máximo. Para quem é de cá da vila, por
exemplo não recebe nada, porque não se desloca, portanto poderá ir no máximo até aos
50,00€ e o subsídio de acolhimento vai no máximo até 209,00€, portanto temos
formandos a receber 800,00€ por mês, é evidente que depois têm que pagar o passe
mensal, esse dinheiro não fica todo para eles, não é e têm que pagar a creche isto é, este
pagamento é mediante recibo, portanto não podemos pagar nada que não seja, na
verdade eles gastaram, só que são hábitos que se criam depois as pessoas, por exemplo
nesta área, saiam daqui com a carteira profissional com o 9º ano, vão trabalhar num lar,
numa unidade de cuidados continuados, num centro de saúde, etc. Vão ganhar o quê?
500€, 600€ não mais do que isso e já será um bom ordenado, não é? Com o 9º ano e
uma carteira profissional não ganharão muito mais do que isto, têm que continuar a
colocar o filho na creche, têm que, por exemplo se mora em São Brás e arranja um
trabalho em Faro, têm que se deslocar ou pagar o autocarro ou ir no seu carro, o que é
que acontece, já não têm uma entidade formadora que lhes paga o acolhimento nem a
deslocação ou seja já acham que vão ganhar mal, já não querem ir, porque aos 500€
descontam a creche, descontam o subsídio de transporte, já não querem ir, portanto
acham que já não estão a ganhar bem, não é, portanto, por um lado isto é uma maisvalia para o formando poder frequentar a formação que isto seja tudo pago, por outro
lado isto também cria maus hábitos, porque depois não se inserem no mercado de
trabalho, porque depois tem estes custos e então não estão para ir só ganhar 500 ou 600
euros e ter que pagar estas coisas, a entidade patronal depois não paga isto, não é? Isto
depois também cria um bocado estes vícios, porque durante os catorze meses tiveram
numa situação, realmente de alguma comodidade.
Entrevistador – E ao nível de empenhamento dos formandos sente que há
diferenças?
Entrevistada – Há diferenças há, pessoas muito empenhadas, temos pessoas, este grupo
como eu referi, tem pessoas muito capazes, a grande maioria dos formandos são pessoas
muito capazes, com muitas competências e que são capazes de ir mais além, portanto
não só o 9º ano, mas o 12º e ir mesmo para a universidade, mas nem todos trabalham da
mesma forma, portanto há pessoas com mais dificuldade que trabalham bem, há outras
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que têm grandes capacidades e trabalham bem, mas há outras que também, que podem,
que podiam ir mais além, portanto se trabalhassem mais tinham feito isto com muito
mais, com uma avaliação, muito superior ao que tem, porque se encostaram um bocado,
portanto temos algumas pessoas que são capazes de dar mais. Temos uma formanda que
posso dizer que há cerca de dois meses foi um bocado apertada, portanto foi: ou você
muda ou não vai ter as coisas validadas, porque é uma pessoa que é capaz, mas que se
encostava aos outros e chegava atrasada todos os dias e com a desculpa que estava a
tomar, alias, é verdade que está a tomar, com a desculpa que está a tomar comprimidos
para a depressão e então depois tinha sono de manhã e então de manhã chegava sempre
atrasada, mas era todos os dias, dez, onze da manhã, e foi chamada várias vezes a
atenção até que um dia foi mesmo formal, foi escrito em acta, ou muda ou não vai
continuar na formação. É que nem sequer vai continuar, portanto é excluída da
formação, esta atitude não pode continuar, mudou do dia para a noite, agora é das
primeiras a chegar, empenhada, dedicada, porque é assim, porque é uma pessoa que é
capaz, ela é capaz desde do inicio que se soube que ela era capaz e toda a gente dizia,
mas ela é capaz, porquê que ela não dá mais, mas teve que chegar a uma situação em
que foi muitas vezes chamada à atenção, quase diariamente era chamada à atenção até
que foi um momento muito formal, mesmo formal, uma reunião aqui com o
coordenador, comigo ficou tudo por escrito ela assinou, ou muda de atitude ou para a
semana já não esta cá e isto vai ser avaliado mês a mês, mês a mês vamos avaliar a sua
continuidade cá, e mês a mês eu reúno-me com ela e digo; este mês portou-se bem, vai
continuar mais um mês, portanto ela não sabe, o que é que vai acontecer no mês a
seguir, porque mês a mês é que eu lhe vou dizer e vamos-lhe fazendo a avaliação,
falando com os formadores e vamos fazendo a avaliação, empenhadíssima ou seja ela
não têm feito mais do que aquilo que deveria ter feito desde o início do curso, ela é
capaz, mas também teve problemas na vida pessoal e encostou-se um bocado a isso.
Entrevistador – E em relação as capacidades dos formandos, há diferenças?
Entrevistada – Há, há diferenças, temos duas ou três pessoas excelentes, mesmo nesse
nível que eu digo, podem continuar e ir para a universidade, que darão ou se não forem
se não continuarem a estudar, darão excelentes profissionais, muito bons mesmo, depois
temos a maioria boa, que é bom a nível de competências depois temos duas pessoas
com mais dificuldades, não a nível das competências profissionais, isso não há
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problema nenhum, mas mais a nível, a nível cognitivo, têm algumas dificuldades
mesmo, a português na, na informática, não lidam bem com o computador.
Entrevistador – Já falámos na questão dos conflitos, não é? E a minha pergunta é
se costuma haver conflitos no espaço da formação?
Entrevistada – Sim, costuma, mais do que seria o desejável, mas o normal para estes
cursos, nada de extraordinário ou seja nada que não seja o normal.
Entrevistador – Considera que todos os formandos evidenciaram competências de
diferentes áreas de competências chave ao nível requerido para um B3?
Entrevistada – Hum, hum
Entrevistador – Como é que isto se costuma passar?
Entrevistada – Sim, eu, como eu estava a dizer temos duas formandas que revelam
mais dificuldades, não é que não sejam capazes, mas têm sido várias vezes, pronto os
formadores têm puxado por elas e andaram um bocadinho adormecidas durante este
tempo ou seja, como eu referi a maior dificuldade é o português, o inglês e a
informática, a informática até que se tem um bocadinho esforçado mas depois
encostam-se nalgumas sessões, quando as coisas vão mais além, não é, quando é preciso
mais, de evidenciar mais competências, quando é preciso outro nível de atenção “ai eu
não consigo, ai hoje a minha cabeça, hoje não dá, hoje não percebo nada disto” e o que
é que fazem em vez de tentarem, a continuarem a batalhar, na sessão seguinte faltam e
isto levou que chegasse agora ao final, falta um mês de formação, depois vão para
estágio, que tivéssemos três pessoas que ainda não têm os trabalhos todos de
informática apresentados, porquê? Porque faltam. Portanto perante uma sessão que, que
estão a dar um conteúdo novo e que não se sentem muito à vontade, saiem daqui e na
sessão seguinte faltam. Estas três pessoas, fiz uma reunião na semana passada com estas
três pessoas, com as coisa assim, vocês não vão validar, portanto ou aproveitam as
sessões que têm até ao fim, e uma delas já tinha, entregou nesse dia ao formador vários
trabalhos que tinha na pen, todos têm uma pen, no inicio da formação compramos uma
pen para cada, portanto ela tinha vários trabalhos na pen, a outra disse mesmo que, eu
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sei que, que estou atrasada, porque tenho-me descuidado e, e a outra voltou a desculparse que pronto essas coisas, a minha cabeça, quando o formador puxa mais por mim, pois
eu não consigo, realmente o formador disse que sim, que é verdade, não pode com
aquela formanda não pode puxar muito porque tem que ir devagarinho porque se ela
percebe que se ele puxa mais um bocadinho, ela mentalmente desorganiza-se e
bloqueia, portanto é a formanda com mais dificuldade e tem que ser, com ela tem que
ser de maneira diferente, porque ela também, computadores também não percebia e esta
formada é, temos duas formandas com mais dificuldade e esta que, a desculpa que usa,
portanto encosta-se muito à desculpa de eu nunca tive informática, eu nunca tive inglês,
eu não leio, eu tenho dificuldade a português e portanto, pronto, eu tenho dificuldade, eu
tenho dificuldade e há um ano que se encosta, eu tenho dificuldade, e os formadores:
mas você é capaz basta fazer, esforce-se, fazer só que este esforço, esforce-se não pode
ser diário, porque senão ela bloqueia, portanto quanto mais puxamos por ela, têm que
ser com muito cuidado, têm que ser de uma forma não muito evidente, porque se ela
sente que está a ser pressionada, bloqueia, isto é mesmo assim, então tem sido difícil,
validar esta esta formanda nestas três áreas, nas outras não, na componente profissional
ela esta a vontade, trabalha bem, aqui tem sido mais esta, esta complicação porque ela
bloqueia mesmo, portanto sente-se pressionada e bloqueia.
Entrevistador – Em relação ao trabalho com os colegas de formação como é que
acontece o trabalho, com os colegas, com os outros formadores, no seu caso?
Entrevistada – Como é que acontece, como assim?
Entrevistador – Por exemplo, se considera que existe um trabalho partilhado ou
um trabalho que se faz de uma forma mais individualizada. Como é que isso se
processa?
Entrevistada – Hum, há soluções em que eles estão a ministrar a formação e têm lá os
conteúdos para dar, para validar e portanto estão, têm autonomia para isso, não é? Estão
autónomos, mas eu estou sempre a par do que é que eles estão a fazer, que matérias é
que estão a dar, passa tudo inclusive por mim, não é? Portanto, todas as impressões,
todas as cópias, todos os trabalhos, eu vejo, portanto sei o que é que eles fizeram em
cada e depois temos a questão do tema de vida que ai é tudo partilhado. Nas sessões de
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formação, pronto há autonomia da parte dos formadores porque eles têm um referencial
para dar, têm aquelas validações para fazer e os conteúdos para cumprir e pronto há
alguma autonomia. E aí posso dizer que há algum trabalho individualizado, no sentido
de preparar a sessão, não é? Portanto cada um prepara a sua sessão, não estou em cima
do que é que eles estão a preparar, chamo é sempre a atenção, como expliquei no caso
da legislação, têm que ser muito prática, não é? E com todos os formadores é muito
prática e às vezes faço sugestões dos conteúdos e eles às vezes também me sugerem a
mim as coisas, olha agora em matemática vou dar isto assim e assado, se calhar devias
de falar com o formador de informática para fazer os gráficos na aula dele, portanto eu
vou dar isto, depois vê lá se o formador de informática, se o colega pode fazer, pode
complementar com isto, aquilo e aquele outro, portanto não sou eu apenas a dar
sugestões, mas eles também dão sugestões, olha era importante ir visitar um sitio assim
e assado, não achas que se possa visitar, não queres fazer o contacto?
Entrevistador – E entre os próprios formadores, como é que esse trabalho costuma
acontecer?
Entrevistada – Os formadores aqui na APD é tudo muito articulado, porque estamos
todos cá dentro, toda a gente se conhece, portanto diariamente nos cruzamos nos
corredores e vamos falando, olha eles estão a fazer isto estão a fazer aquilo, contigo vão
fazer aquele outro E não apenas comigo, quando eu digo isto é entre os colegas todos,
porque estamos todos cá dentro, não é? E aí estão todos os formadores das áreas de
competências chave, excepto um, o de matemática, depois a nível das áreas de formação
tecnológica, ai já não há tanta articulação entre eles, não é? Aí tenho eu que fazer a
ponte, porque eles não, só se conhecem das reuniões Alguns por acaso são professores
aqui na EB2/3 e são colegas uns dos outros e conhecem-se, portanto de outras e alguns
até chegaram cá por referência destes mesmos colegas. Conheciam e “olha tenho um, há
um formador lá na escola dessa área assim e assado que é bom, e portanto alguns
chegaram cá através de outros que já se conheciam, mas nível da formação, não há
muita articulação entre eles, tenho eu que estar por trás, porque eles também não se
vêem, não é? a não ser nas reuniões e nas trocas de e-mails, que fazemos uns com os
outros.
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Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta nesse sentido que é, quais são os
momentos que eles contactam, os formadores internos?
Entrevistada – Estamos diariamente uns com os outros.
Entrevistador – Uns com os outros, não é? E os externos têm mais dificuldades?
Entrevistada – Nas reuniões, nas reuniões de equipa, na apresentação do tema de vida,
que também vêem, não é? E, por exemplo eles organizaram um lanche aqui quando
estavam no módulo de pastelaria, foram todos convidados a vir, não era apresentação de
tema de vida nenhum, foi uma coisa organizada por eles, foram todos convidados a vir,
a houve outro formador que organizou na EB2/3 um pequeno-almoço mas no âmbito lá
com os alunos dele e convidou os formandos a ir e convidou os colegas a irem, e
fizemos, os formandos organizaram um almoço de Natal, em que foi toda a gente, estão
a organizar agora um almoço de fim de curso, portanto para toda a gente também, eles é
que organizam e ai, pronto os formandos, os formadores estão todos em contacto uns
com os outros. Mas os momentos a nível de trabalho são nas reuniões pedagógicas, na
apresentação dos temas de vida, e nas trocas de e-mails temos todos os emails uns dos
outros e os assuntos são sempre, como eu lhe disse é, sempre que existe um assunto que
diz respeito a todos o e-mail vai para toda a gente.
Entrevistador – Sente-se satisfeita com a forma que decorre o trabalho com os seus
colegas de formação?
Entrevistada – Sim. Eu acho que neste curso tivemos muito bons formadores, só fiquei
insatisfeita com uma pessoa, que foi a primeira vez que trabalhamos com ela e não
gostei, não gostei nem eu, nem os formandos, podia ser só eu, mas não, isto é, os
próprios formandos não gostaram, e foi a única pessoa que eles não gostaram também, é
assim, há formandos que não gostam de um formador, mas uma avaliação ou duas
negativas, quando existem catorze ou quinze positivas eu não posso tomar isto em
grande consideração, não é? Porque alguma coisa é que se passou provavelmente uma
questão pessoal. Se há quinze boas avaliações e uma avaliação negativa e a minha
também é positiva, portanto é uma questão pessoal, não vou ter isso em grande conta,
mas aqui neste caso não, portanto eu não gostei e os formandos também nenhum
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gostou. Portanto alguma coisa aqui não correu bem, e já tive oportunidade de dizer isto
à pessoa e não será mais contratada por nós e nem recomendada por nós, portanto foi
uma experiência, também foi um módulo pequenino, foi uma experiência que passou e
foi a única, de resto não, todos muito empenhados, trabalhadores, a tentarem dar o seu
melhor, realmente este foi do leque todo enorme de formadores com que trabalhamos
foi o único caso, que me recorde.
Entrevistador – Na sua opinião, no aspecto do trabalho de formação com os colegas de
equipa pedagógica o que acha que seria benéfico melhorar? Alguma coisa que se
pudesse melhorar, melhorava o desempenho do funcionamento do curso?
Entrevistada – Hum, mais disponibilidade, que eu sinto às vezes que há formadores
que tentam agarrar tudo e portanto, todas as oportunidades que têm que ir fazer
formação, não sei depois quais são os motivos que estão por de trás disso, não é? Nem
me compete avaliar isso a, mas às vezes sinto isso, portanto a pessoa agarra tudo, não
diz que não a nada e depois está atarefadíssimo, têm mil e uma coisas e depois não
consegue vir à reunião, ou não consegue alterar um dia, porque já tem a agenda cheia e
portanto aquele dia em que era preciso fazer uma outra actividade qualquer, a pessoa
não pode dispensar, depois não tem outro dia para agendar e isso têm sido a, talvez o
problema maior com os formadores, com alguns formadores é evidente, com alguns
casos pontuais não com todos, portanto seria, seria bom que as pessoas quando
assumem este compromisso, tivessem consciência que era por um período prolongado e
que avaliassem a sua inteira disponibilidade para participar nisto. E isso nem sempre se
verifica, portanto apesar de depois as coisas correrem e não houve dia nenhum que
ficassem sem formação, nem hora nenhuma, portanto conseguiu-se sempre mesmo a
última da hora alguém que não podia vir, conseguiu-se sempre ajustar e alguém foi
sempre assegurar a formação, portanto nunca houve dia nenhum dramático, às vezes
sinto isso, mas também porquê? Porque há muitos formadores internos, Não é? Que
estão aqui diariamente, portanto, não vem alguém que era, suposto vir, alguém aqui
assume a sessão, até porque nunca se têm a sessão, só uma sessão seguinte planeada,
não é? Têm-se sempre algumas sessões, portanto, não é amanhã que vou dar formação
tenho que ir dar esta tarde, pronto tudo bem, a coisa já estava planificada, não há
problema nenhum e isso também, além de outras, essa também é uma vantagem de ter
formadores internos, esta sempre alguém disponível para ajustar.
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Entrevistador – Pode-me explicar um pouco melhor essa ideia dos formadores
agarrarem tudo ou quererem agarrar tudo, o que é que isso significa
concretamente?
Entrevistada – Eu sinto que às vezes há formadores que não dizem que não a convite
nenhum, de entidade formadora, nenhuma entidade formadora ou de escolas, etc.…E
acabam por assumir mais compromissos do que aquilo que conseguem dar resposta e
depois não conseguem, por exemplo, participar em todas as reuniões, ou responder aos
e-mails logo naquele preciso momento em que é era preciso dar resposta, ou entregar a
avaliação logo naquele dia, porque entretanto estão cheios de trabalho noutro sítio
qualquer, tem sido um ou outro caso pontual mas dá-me ideia que, que isto deve de
acontecer muito. Portanto quem já faz muita formação é convidado e quem é bom, não
é? É convidado a intervir noutras acções e eu acho que as pessoas deveriam sempre ser
profissionais ao ponto de, eu tenho ou não tenho disponibilidade para assegurar isto? O
que é que isto implica? Implica reuniões, implica a apresentação do tema de vida, por
exemplo, não é, os formadores não recebem por vir cá, não é, então implica planificar as
coisas, enviar atempadamente para ser impresso, uma das coisas que eu pedi logo no
início do curso foi: Toda a gente tem que enviar o material para ser impresso e
fotocopiado, dois três dias antes de ir dar a aula, não precisa antes, mas dois, três dias
antes têm que enviar, porque eu posso não estar na entidade, posso ter serviço fora, não
me podem mandar as coisas às cinco da tarde para o outro dia às nove da manhã, porque
eu posso não ter tempo de as tratar. Porque é tudo impresso aqui, os formadores não
precisam de imprimir nada, enviam tudo e a gente aqui trata de tudo, testes, fichas de
avaliação, fichas de diagnóstico, enfim tudo, é tudo enviado é tudo impresso aqui, mas
não pode ser feito em cima da hora e de início tinha alguns formadores que apesar de eu
ter dito isto, ai, ontem não tive tempo, não tive tempo o fim-de-semana agora, só agora
é que conseguiu. Pronto isto denota que as pessoas não conseguem dar resposta a tudo o
que têm. E isso pode prejudicar as actividades.
Entrevistador – Na sequência do que esta a dizer, quer dizer que isso reflecte-se no
empenhamento dos formadores?
Entrevistada – Não, no nosso caso não, são pessoas empenhadas na mesma, depois
reflecte-se é na disponibilidade para fazer as coisas atempadamente, não é que depois,
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eu não tenho caso nenhum grave, portanto também, até parece que tenho mas não tenho,
a não ser um ou outro caso pontual, tive avaliações na escola não consegui, só agora é
que consigo mandar, pronto também são situações pontuais, mas há formadores que
quando eu peço para alterarem datas, olha o formador tal não pode vir naquele dia, nem
naquele, nem naquele dia, não podes alterar? E já há pessoas que me dizem é caramba
mas esta sempre a pedir para mudar. Porquê que aceitam tanta coisa? E isto depois
reflecte-se também nos colegas, não é? Que se disponibilizam para mudar, mas que às
vezes se chateiam também de andar sempre a alterar a sua vida porque o outro, por
motivos de exteriores ao curso EFA não podem assegurar os dias que tinham
planificado.
Entrevistador – Em relação à sua relação com a entidade formadora neste caso a
associação APD, que tipo de relação é que mantém com a entidade?
Entrevistada – Eu sou da casa, Não é. Essa pergunta aqui! Sou da casa, estou cá há
muitos anos, faço parte da direcção e portanto acho que ai, só posso dizer que a relação
é boa, não é, não, acho que será mais ajustável a outras situações que não a minha, não
é.
Entrevistador – Identifica-se com a forma como a entidade perspectiva a formação
EFA?
Entrevistada – Sim, nós aqui a, sempre tivemos também a perspectiva de, é evidente
que isto também pode ser noutras entidades formadoras nós, nós não somos o exclusivo,
não é. Espero eu, de aproveitar esta oportunidade para aumentar mais as competências e
a empregabilidade do território em que trabalhamos. Portanto não é só chegar aqui
despachar este curso EFA que foi aprovado e pronto e ponto final paragrafo, sei lá eu
tenho andado com um grupinho de formandos que quer criar a sua própria empresa de
apoio domiciliário, tenho andado com eles numa série de sítios, desde Segurança Social,
Instituto de Emprego, chamei aqui o director do Instituto de Emprego, nós também
temos depois relações com estas entidades que nos tornam este acesso mais fácil.
Portanto, temos contactos com pessoas da Segurança Social, falamos com eles, fui lá
com os formandos interessados, fomos lá uma reunião para saber, a nível da Segurança
Social o que é que é necessário a, entretanto apareceu aqui uma, um projecto também de
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uma criação de uma unidade de apoio domiciliário numa candidatura ao PRODER outro
programa que nós gerimos. Este grupo de formandos que temos interessado, têm que
contratar um director técnico, porque não são licenciados na área de assistência social e
este é um dos requisitos, eu quando soube que havia uma promotora de, ao PRODER
interessada e que vai ser directora técnica porque é licenciada e que quer abrir a
empresa, mas que precisa de trabalhadores, o que é que fiz, falei com uns, falei com
outros, juntei-os e para ver se era possível abrir a empresa em conjunto ou como
entendessem, pois isso aí, eu já não me meto, não é, ou como sócios ou ambos serem
sócios ou ela abrir a empresa e contrata-los a eles, enfim a partir dai, eles tiveram que se
orientar e agora andam ai em negociações a portanto o facto de, de estar uma entidade
que tem todos estes conhecimentos e todos estes contactos na minha opinião torna, a,
para os formandos este curso diferente, não é. Porque agora numa entidade formadora
normal, que é só entidade formadora dão as coisas, dão matéria, fazem o curso, pronto
como deve de ser, mas é só o curso. Também os pus em contacto com os meus os
colegas do PRODER também tiveram uma reunião com eles para saberem se era ou não
elegível e sendo elegível que apoios é que teriam, portanto temos feito todo este esforço,
que eu penso que noutra entidade, não, não ou não teriam essa preocupação ou não
teriam, mesmo tendo essa preocupação, provavelmente não teriam essa facilidade,
portanto conheço bem o director do centro de emprego, telefonei-lhe e ele veio logo cá,
fez uma sessão para eles a dizer que, que apoios é que o Instituto de Emprego dava para
a criação de empresas e fez a sessão para toda a gente, depois o meu colega o presidente
da APD conhece bem pessoas da Segurança Social que também ligados a esta área
também telefonou e pronto num instante fomos lá com os formandos, portanto isto são
vantagens, que nós temos.
Entrevistador – Sente-se reconhecida pela entidade, pelo trabalho que
desempenha?
Entrevistada – Sim, nós falamos muito, ainda ontem à noite estive, o nosso presidente
está fora uma semana e tal, está no estrangeiro ontem já estava em Lisboa, ontem à noite
já estava em Lisboa, a e estivemos a falar imenso tempo no Messenger sobre,
exactamente sobre a formação, dos contactos que fiz ontem, ontem estive com a
formadora de prática em contexto de trabalho, fomos visitar algumas entidades que vão
acolher formandos, para saber um bocadinho mais sobre o estagio, agora à tarde vamos
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outra vez e tive a falar com ele sobre os contactos que fizemos, porque também destes
contactos nasceram outras oportunidades, portanto há IPSS onde nos vamos colocar,
que nos pediram formação, vocês fazem formação então, nós precisamos de formação
para as nossas colaboradoras, nesta e nesta área, façam-nos uma proposta e então de um
contacto que fiz ontem de um, três já tinham nascidos, e o de ontem surgiu mais outra
proposta de para fazermos formação e ai está também o facto de sermos uma entidade
diferente, não é. Tivemos ontem à noite imenso tempo a falar sobre, como ele não está
cá á uma semana, sobre como é que o grupo estava, o que é que estamos a fazer, o tema
de vida como é que está, está, como é que está, está a andar, não está a andar, os
contactos com as entidades, portanto mesmo ele não estando cá falamos diariamente
sobre, sobre, sobre a formação.
Entrevistador – Portanto se lhe aparecesse outra oportunidade de trabalho, não
pensaria em sair da entidade para onde está a trabalhar?
Entrevistada – Seria uma coisa que me custaria imenso, porque a APD é um bocado,
isto fora o curso EFA, não tem nada a ver com o curso EFA, a APD já faz, é a minha
segunda casa e muitas vezes a minha primeira casa, portanto muitas vezes acabo por dar
prioridade a APD em vez da família que também não está correcto e isto, estou a tentar
mudar isso. Seria uma coisa que me custaria bastante, ter que sair daqui, se bem que
desde que cá estou, portanto vim em noventa e seis, sempre soube que isto não era
emprego para a vida, ao contrario das pessoas que entram para um emprego e pensam
que aquilo vai ser para a vida, eu sempre tive consciência que não era para a vida,
portanto uma associação sem fins lucrativos a gente nunca sabe o dia de amanhã e se no
momento tenho projecto, eu sei que quando acabar aquele projecto posso não ter um
projecto a seguir, portanto há quinze anos que estou cá e à quinze anos que sei que isto é
um emprego precário, sempre tive consciência disso a, mas gostei tanto e considero a
APD uma escola, portanto é aqui que eu tenho aprendido, na universidade aprendi
algumas coisa teóricas mas realmente a prática tenho aprendido aqui e depois aqui nós
temos uma vantagem que é nunca estamos só numa área, portanto eu estou neste
projecto, faço aquilo e depois vou para outro projecto, vou fazer outra coisa, estamos
em constante aprendizagem, o que também é cansativo e stressante, não é. Agora
aprendemos a legislação de uma coisa, depois vamos aprender a de outra, e depois
aprender de outra, estamos sempre a aprender ou seja nunca nos tornamos profissionais
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exclusivos daquela matéria e muito longe daquela matéria, porque estamos sempre a
deixar aquilo e a avançar para uma outra coisa e a aprender uma outra coisa qualquer,
completamente diferente, por outro lado dá-nos uma bagagem enorme e isto realmente
tem sido a escola da vida se bem que tenho consciência de que nunca sei o dia de
amanhã, quando acabar o curso EFA, que acaba já agora, não sei, ainda, se vou ou não
ter enquadramento nalgum projecto, e há quinze anos que é assim, e tenho consciência
que isto está a ficar cada vez mais difícil, não é, portanto os financiamentos estão a
acabar, nós, somos, com os estagiários neste momento somos quarenta, tenho perfeita
consciência que isto não vai, a poder continuar para quarenta pessoas. Mas pronto se
tiver que dar o salto para outro sítio, acho que já levo uma bagagem e muitas
competências para isso.
Entrevistador – Esclareça-me só uma dúvida, o seu vínculo contratual é…
Entrevistada – Pertenço ao quadro.
Entrevistador – Ao quadro. Isso quer dizer que têm um vínculo definitivo?
Entrevistada – Definitivo, sim.
Entrevistador – Portanto…
Entrevistada – Mas isso aqui não é? Não é revelante.
Entrevistador – Pois estão dependentes dos projectos?
Entrevistada – Dos projectos, é assim, o vínculo é definitivo e estamos quase todos
com vínculo definitivo, os quarenta colaboradores, estamos trinta e dois se não me
engano, depois temos estagiárias, temos uma pessoa que está, não é estagiária, mas é
quando se está a fazer o doutoramento, temos uma bolseira e depois temos três ou
quatro pessoas a recibo verde porque estão a fazer trabalhos num projecto que é agora o
projecto pontual e é um determinado serviço mas que sabemos que é três quatro meses e
depois vai terminar, mas somos trinta e duas pessoas que pertencem ao quadro, em
qualquer empresa isso seria significativo, ou seja, digamos que é uma, uma garantia,
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não é. Aqui não, aqui eu tenho plena consciência e penso que as outras pessoas também
terão, que pertencer ao quadro é bom porque tem direito a subsídio de desemprego
ainda, não é? Mas não dá garantia nenhuma, porque eu sei que a entidade não tem, se
não houver projecto para me pagar, para me enquadrar, não têm mínima capacidade de
me pagar o salário, portanto, sei que, o ser, pertencer ao quadro não é uma garantia que
vou ficar cá para toda a vida, não é, nem pouco mais ou menos.
Entrevistador – E, e em relação ao que estava aí a dizer que trabalhar na APD é
diferente. Tenho aqui algumas perguntas que podem ir nesse sentido. Na sua
opinião os cursos, em relação aos cursos EFA, funcionam de forma diferente,
naquilo que conhece, nas entidades onde eles acontecem?
Entrevistada – Sim, há entidades, havia, não sei se agora ainda há, por exemplo, que eu
conheci, que a entidade formadora tinha a sede em Lisboa e o curso decorria cá no
Algarve, então eles contratavam os formadores à distância e a mediadora estava cá
sozinha a dar conta do recado todo, não tinha apoio de lado nenhum, isto aconteceu com
pessoas que eu conheci, nas reuniões da DREALG e não sei quem, que faziam, as
pessoas queixavam-se disto, e os próprios formadores diziam que não conheciam
ninguém, portanto conheciam o mediador, os formadores diziam que não conheciam
ninguém, ninguém da entidade patronal, não é, da entidade que os contratava, portanto
era só a mediadora que estava sozinha cá em baixo, a mediadora ou o mediador a tentar
gerir um curso e ninguém aparecia, depois havia bolsas em atraso, ninguém justificava
nada, isto não pode acontecer, na minha opinião isto não pode acontecer, não pode
haver uma entidade formadora de um curso EFA à distancia, que se dê um modulo de
formação de vinte horas ou de vinte e cinco horas à distancia, tudo bem, agora um curso
de catorze meses, com sete horas diárias em que as pessoas estão todos os dias em
formação, todos os dias a precisar de acompanhamento e que é preciso saber as
necessidades e, e haver uma permanência, não é, portanto têm que se ir diariamente ao
curso ver o que é que aconteceu, está tudo a correr bem e esta articulação entre os
formadores, isto não pode ser feita a distância, não pode funcionar, quer dizer se calhar
o curso, os cursos fazem-se e chegam ao fim tem avaliação e toda a gente fica com o
certificado, pronto, mas na minha opinião isto não, não é um trabalho com qualidade.
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Entrevistador – E será diferente de fazer um curso EFA na APD, no IEFP ou
numa escola por exemplo?
Entrevistada – Não sei.
Entrevistador – Em termos da forma como o curso funcionará?
Entrevistada – Hum, hum
Entrevistador – Daquilo que, que conhece…
Entrevistada – Hum, eu acho que há coisas poderão ser uma mais-valia, por exemplo,
no IEFP, que já tem formadores com muitos anos, formadores internos, com muita
experiência, por exemplo o curso de cabeleireira é evidente que um curso de
cabeleireira no IEFP, não será um curso igual na APD, portanto um curso no IEFP terá
muito mais qualidade, porque têm os equipamentos, têm os materiais, já têm as infraestruturas e também já tem o pessoal com muitos anos de experiência, portanto, acho
que aí, há entidades que por esses motivos já têm, terão necessariamente um nível
superior ao nosso. Fazer um curso sem infra-estruturas para nós. Nós por exemplo,
fizemos aqui há uns anos um curso de brecha, brecha é pedra, aqui de São Brás e
tivemos imensa dificuldade, para arranjar estaleiros, os materiais, tivemos que adquirir
tudo de novo, não é, enquanto se se vai fazer o curso no instituto de emprego que já lá o
há todos os anos é evidente que já têm todos os materiais, podem ir comprando mais
coisas, consoante os cursos, podem ir, não apenas os básicos, mas todos os cursos
podem ir acrescentando mais, portanto é outras qualidade que nós, qualidades a nível de
equipamento e de infra-estruturas que nós não temos, mas depois há outras coisas que
eu acho que para nós também são uma mais-valia, não é, todos estes contactos que
temos com as entidades.
Entrevistador – Por exemplo no vosso caso ao nível do recrutamento, dos
formandos e dos formadores, como é que isso se passou?
Entrevistada – Ao nível dos formandos fizemos divulgação, no Instituto de Emprego,
nós a, Junta de Freguesia, Segurança Social, Rede Social, Câmara, cafés, fomos aí a
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todas as pastelarias e cafés colar cartazes, os jornais locais, daqui, o padre, o padre na
missa, é uma boa fonte de informação, se bem que ele aqui em São Brás nem sempre
está disposto a colaborar, mas quando colabora é porreiro, porque a dizer coisas na
missa aquilo passa para muita gente a, e fomos aos cafés que tem mais, que nós
conhecemos, onde tem mais adesão, Junta, a Junta também tem a rede de voluntariado,
e uma grande parte veio mesmo através do Centro de Emprego, portanto nós
contactamos com o Centro de Emprego que têm um pólo aqui em São Brás, vem cá a
técnica alguns dias da semana e, e pronto falei com o director, falei com ela e depois,
encaminhou as pessoas para cá e fizemos sessões, depois este, a nossa selecção de
formandos teve várias fases e como nós arrancamos com o curso com base numa
parceria, um protocolo parceria com uma empresa, que ia construir aqui uma unidade de
cuidados continuados, aqui do outro lado da APD, aqui a seguir ao parque de
estacionamento, ia ser construída uma unidade de cuidados continuados que a Câmara
cedeu o terreno gratuitamente a essa empresa e a candidatura já foi feita, vamos formar
pessoas para ir trabalhar para esta empresa, acontece que a empresa não teve
financiamentos do banco para a construção, portanto isto andou aqui uns meses mau, até
que o banco, até que a empresa deixou mesmo cair a ideia porque não teve
financiamento, portanto aquilo que era a empregabilidade directa, deixou de ser e a
partir desse momento começamos a procurar entidades que lhes possam dar trabalho,
não é? Mas que já não será o emprego directo, porque aqui, eles acabavam o curso e
iam direitinhos para a empresa, porque o prazo de construção exactamente, coincidia
com o termino do curso, portanto, calhava tudo bem, mas o banco não deu o dinheiro,
não emprestou o dinheiro, e a empresa não pode construir, e só para acrescentar que na
selecção, portanto um empresário, um dos sócios gerentes da empresa esteve na
selecção dos formandos. Como iam ser todos empregados dele, nós convidamo-lo e ele
também gostaria, não é? Participou na selecção das pessoas, portanto, foi feito a dois, a
nossa Associação e a Vilolivinha, portanto, a empresa chama-se Vilolivinha.
Entrevistador – E em termos do recrutamento dos formadores?
Entrevistada – Recrutamento dos formadores, primeiro vimos internamente quem é
que temos que tenha competências para isto, não é, habilitações, internamente e
disponibilidade, portanto quem internamente pode fazer isto que tenha disponibilidade
para assegurar, portanto vimos aqui entre nós aqui na direcção e depois contactamos
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com os colegas todos, se gostariam e teriam disponibilidade para, quem pode, sim
senhora, pois quem não pôde, tivemos que arranjar formadores externos, e também
tínhamos áreas aqui em que não temos ninguém, por exemplo enfermeiros, não temos
ninguém, nutricionistas, não temos ninguém, a área da lavandaria não tínhamos
ninguém que tivesse experiência nesta área, cozinha, não temos aqui cozinheiro nenhum
que seja formador, nem advogado, portanto tivemos que recorrer a estes formadores
externamente, mas os externos foi só depois de avaliar internamente, quem é que pode
assegurar o quê, não é, e aí falamos com todas as pessoas que nós achávamos que
poderia assegurar, algumas pessoas aceitaram, os que ficaram. Outras até tínhamos
mais, mas pessoas que disseram, que neste momento não tinham a mínima oportunidade
de agarrar isso, estou cheia de trabalho, não posso. Tudo bem, aí avançou-se com os
formadores externos.
Entrevistador – E em termos do trabalho dos formadores com os formandos, se
acha que é diferente esse trabalho que se faz na APD de outro tipo de entidades,
que levam a prática dos cursos EFA?
Entrevistada – Hum, eu não posso avaliar o que é que se faz noutras entidades que não
conheço, não é, portanto custa-me um bocadinho estar a falar de outras entidades,
porque eu não sei o trabalho que fazem, isto seria também a, enfim, a poder estar a
desvalorizar o que as outras fazem. Posso dizer é o trabalho que nós fazemos, agora
avaliar o que os outros fazem, não posso saber, a não ser, neste caso como eu referi de
situações que sabíamos que existiam de cursos que funcionavam aqui quase
autonomamente com entidades privadas que não ponham cá os pés. Isto tivemos
conhecimento, sim.
Entrevistador – E em termos da avaliação dos formandos no curso EFA que esta a
decorrer, como é que é feito a avaliação?
Entrevistada – Hum, todos os módulos, quando acabam um módulo eles fazem a
avaliação dos formandos, uma ficha de avaliação que eu posso mostrar, que avalia
desde o desempenho daquele formador, até às condições em que decorre a formação, às
condições de ambiente, o espaço, os materiais pedagógicos utilizados, a iluminação, o
ruído, o conforto térmico, essas coisas todas e uma componente da avaliação da
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entidade formadora, portanto têm estas, têm quatro componentes, três componentes,
avaliam o formador e prestação daquele formador naquele modulo, avalia as condições
que foi realizada a formação e avaliam a entidade formadora no acompanhamento
daquele módulo, isto cada módulo que acaba eles preenchem uma ficha de avaliação.
Entrevistador – E em relação nas áreas da competência chave?
Entrevistada – Também preenchem na mesma a ficha da avaliação, portanto a ficha de
avaliação é preenchida para avaliar qualquer um dos formadores.
Entrevistador – E alguma avaliação específica, tendo em conta os referências de
competências chave e as competências que estão previstas.
Entrevistada – Dos formandos para o formador?
Entrevistador – Não, dos formadores em relação à avaliação dos formandos?
Entrevistada – Eu estava a falar da avaliação dos formandos em relação aos
formadores, a avaliação dos formandos, sim. Os formadores também tem todos uma
ficha, acaba o módulo tem todos uma ficha para avaliar o formando, além disso é
diferente os formadores da área de competência chave, a ficha é igual para todos, mas
depois há outra avaliação que é diferente, formadores da área de competência chave e
formadores da área de competência tecnológica, áreas de competência tecnológica como
eu já lhe disse, tínhamos, temos uma grelha de avaliação em que é pontuado oitenta por
cento, portanto de um a vinte, oitenta por cento para testes, trabalhos práticos,
demonstração prática, trabalhos de grupo ou trabalhos individuais, portanto, esta nota,
vale oitenta por cento, dez por cento para o comportamento, dez por cento para
assiduidade e pontualidade, isto não existia assiduidade e pontualidade, tivemos que
implementar mais ou menos a meio do curso, porque é para diferenciar e para valorizar,
pontuar, criar uma diferença entre quem não se metia em conflito nenhum, em zaragata
nenhuma e que levava e que era esforçado, trabalhador e motivado e entre quem
chegava diariamente atrasado ou que faltava imenso, portanto a assiduidade,
pontualidade, então estes vinte por cento foram criados a meio do curso para valorizar
quem realmente tinha estas preocupações.
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Entrevistador – Quando estava a dizer, desculpe estar a interromper, quando que
está a dizer que não existia...
Entrevistada – No início era só a nota do teste, o trabalho prático, os trabalhos
desenvolvidos, era a nota que o formador dava a esse conjunto de coisas, era a nota
final, isto não na formação tecnológica, era a nota final que o formando tinha. Mais ou
menos a meio do curso deduzimos que essa nota afinal valia só oitenta por cento e que a
assiduidade, pontualidade valia dez por cento, e que o comportamento valia dez por
cento.
Entrevistador – Quer dizer que vocês têm autonomia para decidirem esses
critérios?
Entrevistada – Sim, portanto numa reunião pedagógica decidimos pontuar, também dar
nota ao comportamento e a assiduidade e pontualidade de forma a que quem não tinha o
comportamento, ou correcto ou quem não conseguia, porque temos duas ou três
formandas que não, nunca conseguem chegar a horas, chegam, o curso começa as nove,
nove e dez, nove e um quarto, durante um ano, houve uma que melhorou, essa que eu
falei a bocadinho, foi apertada, essa agora chega antes da hora, chegava às onze da
manhã, agora chega antes da hora, as outras duas ou três, que sempre chegaram às nove
e dez, continuam a chegar às nove e dez, não, é, está-lhes lá, não se conseguiu mudar,
portanto, é apontado, criamos uma ficha de atraso que também não existia, para os
formadores anotarem os minutos de atraso, mesmo no intervalo algumas também iam
para o intervalo e com a desculpa que tinham demorado imenso tempo para servir o
pequeno almoço, vinham dez ou quinze minutos depois da hora do intervalo, do limite
marcado pelo formador e então também foi criada na mesma altura uma ficha de
marcação de atrasos, portanto com os nomes deles e cada formador anota os minutos de
atraso, isso depois é somado e descontado na bolsa no final do mês, dá uma trabalheira
imensa, estar a descontar os minutos, mas teve que ser, porque depois também se
geraram, também houve conflitos por causa disso, portanto isso motivou conflitos então
ela chega todos os dias às nove e dez e recebe o mesmo que eu no final do mês, então
também vou chegar às nove e dez, o meu filho também fica na cama mais dez minutos,
que as pessoas depois também não percebem, não querem perceber que a avaliação que
vão ter no final também não é a mesma de que aquela pessoa vai ter, não é, portanto, eu
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não vou recomendar uma formanda a uma entidade prestadora de serviços, ou alias até
posso recomendar se a formanda tiver um bom desempenho, mas vou dizer: atenção que
esta pessoa não consegue nunca chegar a horas, portanto é boa trabalhadora mas vocês
tem que ter aqui alguma atenção a pontualidade desta pessoa.
Entrevistador – E em relação a avaliação da formação de base?
Entrevistada – Competências chave, as áreas de competência chave, portanto os
formadores fazem, desenvolvem trabalhos práticos, quer seja textos, individuais ou em
grupo, que eles depois usam para validar as competências, portanto o formador de
português tem que validar o resumo de um livro, ok, então toda a gente vai ler um livro
à escolha e depois sugeriu vários livros, e depois vai fazer a avaliação de um livro com
x paginas, é um exemplo, portanto ele ai lê e depois avalia e avalia ou não o critério.
Entrevistador – E em termos dos tempos em que a avaliação é feita difere da
formação base da formação tecnológica?
Entrevistada – Sim, a formação base é ao longo do curso todo, não é, portanto ao longo
do curso todo os formadores vão necessariamente ter que ir validando competências,
não o podem fazer todo no último mês. Então ao longo de todo o curso vão dando
conteúdos e vão validando competências, vão fazendo trabalhos e isso vai, logo para o
portefólio e vai logo validado, nos módulos de tecnológica, há módulos de vinte e cinco
e há módulos de cinquenta horas, necessariamente têm que ser avaliados naquele
momento com o formador, não é, não vão ser avaliados a posteriori, portanto o
formador que está tem que ministrar o módulo no final já sabe que vai ter que avaliar,
tem é autonomia, portanto nós aqui damos autonomia para que eles avaliem como
entenderem, pode ser um trabalho prático, pode ser um trabalho de grupo, pode ser uma
reflexão individual, pode ser um desenho como foi no caso da decoração de espaços, um
projecto, pode ser um teste, podem fazer dois testes se quiserem dividir o conteúdo a
meio, também podem fazer dois testes.
Entrevistador – Há alguma razão especifica para que a avaliação se faça de forma
diferente na formação de base e na formação tecnológica?
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Entrevistada – É, nalguns casos é diferente, portanto nos casos em que há testes de
avaliação é diferente, nos casos em que eles avaliam a prática ou em que avaliam um
determinado trabalho que eles fizeram, ai acaba por ser igual às áreas de competência
chave, não é, que avaliam trabalhos e validam critérios. Agora há módulos em que, os
formadores preferem fazer uma ficha de avaliação e pontuar de zero a vinte, porque a
formação tecnológica, nós aqui internamente e em equipa pedagógica decidimos avaliar
de zero a vinte, enquanto nas áreas de competência chave ou está validado ou não está
validado. Aqui para criar também alguma diferenciação de empenho e motivação e
porque eles estudam, portanto as áreas de componente tecnológica, as áreas de
competência chave não, não tem que estudar nada, têm é que produzir trabalhos, e
muitas vezes têm que o fazer fora da formação, nas áreas de competência tecnológica,
eles pronto, tem lá os materiais todos e estudam, e lêem.
Entrevistador – Mas há alguma obrigatoriedade de, por exemplo, introduzir essa
nota quantitativa de zero a vinte?
Entrevistada – A nota quantitativa é obrigatória na PCT, na prática em contexto de
trabalho, aí sim há uma nota quantitativa, de resto não há, não tem que ser quantitativa,
pode ser satisfatória, pode ser quantitativa.
Entrevistador – Portanto, foi uma decisão…
Entrevistada – Foi uma decisão, sim, sim.
Entrevistador – PCT é o estágio?
Entrevistada – É o estágio, é. Aí sim, ai o manual diz que tem que haver uma nota
quantitativa.
Entrevistador – Em relação ao trabalho da mediadora, considera que pode diferir
em diferentes entidades?
Entrevistada – Sim, por exemplo aqui, já disse, que tenho uma grande autonomia e que
estive desde o início nas, na preparação da candidatura, as negociações com a
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Vilolivinha as negociações com a Câmara, e vou estar até, espero eu, até ao final a
fechar tudo, relatórios finais, saldos finais a nível financeiro, depois também tenho uma
ligação com a parte financeira. Mas isso é aqui dentro, aqui na APD, portanto, nos
outros cursos EFA, não tem nada disto. A decisão de pagamentos a formadores também,
como eu sou da Direcção ligada à parte financeira, até nisso eu estou, não é? Olha este,
formador precisa, já está mesmo a precisar, o pagamento das bolsas, paga-se as bolsas
amanhã, paga-se as bolsas depois, imagino que isto noutra entidade, o mediador não
tem, não tem nada a ver com isto, não é. Portanto cada um faz o seu trabalho, não tem
nada a ver com a parte financeira, eu preciso de estar a ver permanentemente o saldo da
conta, faço os contactos com o POPH, hoje por acaso vou ter que telefonar, a para saber
quando é que pagam, quando começa a chegar a altura das bolsas e não temos dinheiro,
começo a fazer pressão junto ao POPH, não é. Nem sempre funciona, não é. Aliás acho
que nunca funciona, mas é todo um trabalho que eu faço, que outra, outra pessoa não o
faria, não é, mas que, isto é uma política um bocado, aqui interna. Nós os formadores de
projecto também temos estas responsabilidades, e como o coordenador do curso EFA é
o presidente, que muitas vezes esta ausente, eu acabo, quando ele não esta, tenho que
assumir tudo isto, não é. Portanto, faço isto mais enquanto no papel de coordenador e
não de mediador, não é. São tarefas que acumulamos aqui dentro da APD que não é de
maneira nenhuma, será assim noutras entidades.
Entrevistador – Portanto considera que o seu envolvimento é maior que talvez…
Entrevistada – Sim, sim maior, talvez não, de certeza absoluta, portanto eu estou, estou
em tudo deste a selecção de formandos, formadores, fazer o cronograma, preparar os
temas de vida, a fazer a listagem das coisas que são para adquirir, já tenho ido ao
supermercado com o cozinheiro comprar o queijo, a carne para a confecção das coisas,
sei lá, tudo isso, comprar materiais, comprar as coisas, temos ali as coisas para a
exposição, tivemos que comprar um, para o primeiro tema de vida, uns capelines
enormes, fui eu que fui a Faro à procura dos capelines e trazer, não me parece que
noutras instituições, quer dizer um mediador deve fazer uma requisição do que é
necessita e pronto, mas nós aqui fazemos tudo.
Entrevistador – Considera que na sequência do que esta a dizer, que é importante
o trabalho do mediador num curso EFA?
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Entrevistada – Sim, é fundamental, um curso EFA não pode existir sem ter alguém,
diariamente presente e que faça a articulação entre os conteúdos e entre os formadores e
a gestão de tudo isto, não é.
Entrevistador – Em relação à Iniciativa Novas Oportunidades, qual é a sua opinião
em relação a Iniciativa das Novas Oportunidades?
Entrevistada – Tem vantagens e tem desvantagens, na minha opinião há vantagens
porque dá uma oportunidade a pessoas que provavelmente já não teriam nada, já não
regressariam à escola, que já não iriam fazer formação nenhuma e há pessoas dentro
destes cursos, há formandos que merecem esta oportunidade porque não estudaram,
porque tiveram que ir trabalhar, ou porque foram mães muito cedo, mães ou pais, ou
porque os pais não os deixavam, temos tido casos desses, pais que não deixavam ou
porque as condições em que viviam não permitiam, quer financeiras, quer local, porque
temos pessoas que moravam em sítios onde não havia escola, portanto não tinham a
mínima hipótese de ir estudar, mas que no entanto ao longo da vida aprenderam muitas
coisas e isso é uma mais valia existir para poder validar as competências destas pessoas,
que as têm, que realmente as têm e isto eu acho que é uma coisa que surgiu que é muito,
muito boa para estas pessoas porque também sentem-se valorizadas, afinal aquilo que
aprenderam, não estudaram, mas aquilo que aprenderam vale alguma coisa e
aprenderam alguma coisa. Mas muitas pessoas têm a ideia que não sabem nada, que
aquilo que sabem não é nada e que os doutores é que sabem tudo e que eles, pronto, são
um zero à esquerda, e muita gente sai destas formações eu quando digo, não é só cursos
EFA é, portanto eu antes estava no CNO antes de ir para o curso EFA estive uns anos
no CNO a é muito bom para a auto-estima destas pessoas e muitas vezes serve de
trampolim para as suas vidas, quer profissional, quer escolar, as pessoas depois acabam
por ir estudar mais, ou acabam por, podem não ser estudantes, num ensino normal ou
seja terem mais anos de escolaridade, mas depois procuram formação, não é, afinal eu
quero saber mais sobre isto e estão atentas depois às oportunidades de formação, para
algumas pessoas, isto é, é muito bom. No entanto quando eu quando digo que também
há desvantagens é preciso ter atenção, muita atenção na selecção dos formandos e isto
aqui em relação aos cursos EFA, para não se cair no erro de exactamente seleccionar
aquelas pessoas cuja vida tem sido isto nos últimos anos, portanto dum curso passam
para outro e passam para outro com uma espécie de encosto, porque a, a bolsa acaba por
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não ser pequena, porque não tem que fazer grande esforço, a e aí desperdiçam-se
oportunidades, portanto há pessoas que poderiam estar no lugar dessas que teriam, que
aproveitariam muito melhor que essas que estão ali, como estavam noutra coisa
qualquer, portanto desde que lhe pagassem qualquer coisa, não é. E isso tornou-se um
bocado um vício, um vício das bolsas, eu penso que isso agora também vai mudar,
primeiro porque os cursos começam a ser em menor número e depois porque aqueles
que existem, a bolsa vai diminuir para metade, aliás já diminuiu para metade.
Entrevistador – Os seus colegas costumam falar sobre esta questão em relação a
Iniciativa das Novas Oportunidades?
Entrevistada – Colegas formadores? Sim, nós falamos aqui internamente, falamos
sempre sobre isso, não é. Também temos um Centro Novas oportunidades, portanto
acaba por ser conversa, quase diária aqui entre nós.
Entrevistador – Há alguma coisa que se surja, que queira …
Entrevistada – Há coisas que, há coisas muito mal, por exemplo agora, muito mal quer
dizer, há que ponderar bastante bem a decisão e a regra, por exemplo agora, uma nova
regra no Instituto de Emprego, por um lado não esta mal, mas que é preciso ver caso a
caso, que é toda a gente que está desempregada e que não tenha as habilitações a nível
do 12º ano, obriga-nos a ir para um Centro Novas Oportunidades, ou para um curso
EFA ou para o que quer que seja, obrigam-nos a se inscrever, para a Iniciativa de Novas
Oportunidades, eu por um lado compreendo isto, portanto se uma pessoa está
desempregada, então têm que se qualificar mais para se poder voltar a integrar no
mercado de trabalho, mas isto e depois gera problemas, depois temos pessoas aqui que
estão obrigadas, que não querem saber disto para nada, que estão desmotivadas e que
estão de contra vontade, e o que é que fazem? Atacam os profissionais e estragam os
grupos de formação, portanto temos tido casos desde que isto agora começou, casos
muito, muito graves, enquanto antes não. Vem inscrever-se, quem quer, não é? E
portanto a gente sabe que está a trabalhar com uma pessoa que quer, uma pessoa até
pode vir para aqui fazer o RVCC, não tem perfil é encaminhada para outra coisa, mas
aquela pessoa procurou melhorar as suas competências. Obrigarem estas pessoas que
nunca fizeram nada, que não querem, pessoas que já são profissionais do desemprego,
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que vivem dos biscates que a verdade é esta, portanto não querem trabalhar em lado
nenhum, querem continuar com a sua vidinha e viver fora deste esquema, viver no
esquema delas, obrigarem-nas a estar aqui contra vontade, termos que cumprir prazos
para as ter, ou seja temos um mês para as pormos no diagnóstico, um mês para as por
em processo, pronto temos os prazos todos para a fazer, quando as próprias não querem,
com a ameaça do Instituto de Emprego, com a ameaça que lhe cortam o subsídio de
desemprego, ou com a ameaça da Segurança Social que lhes cortam o rendimento social
de inserção é péssimo para quem está depois com estas pessoas, porque não querem
saber de nada, estão contra vontade, tornam-se agressivas, e muitas vezes ameaçam,
porque pensam, não, as pessoas não conseguem, há pessoas destas que não conseguem
separar o que é que é Instituto de Emprego, o que é que é Segurança Social, o que é que
é APD, então se me cortam o subsidio da Segurança Social, se me cortam o rendimento
mínimo a culpa é vossa, porque disseram que eu não ai às aulas e isto depois gera aqui
alguma tensão, não é, que não é fácil, portanto é preciso algum cuidado, nesta
obrigatoriedade, o que eu sinto, quando estou no centro de novas oportunidades é só do
que eu assisto, às vezes estou ali no secretariado e vejo as pessoas a chegar e a pedir
informações, a era preciso alguma sensibilização, já que existe agora esta regra, dos
técnicos do Centro de Emprego que encaminham estas pessoas para a saber se as devem
encaminhar ou não, que há pessoas que nos aparecem aqui, por exemplo, licenciadas no
estrangeiro, que não se devem inscrever no Centro Novas Oportunidades, devem é ir, a
procurar reconhecer as suas habilitações, não é. Habilitações superiores, não é connosco
e não, está desempregado centro de novas oportunidades, pronto, as pessoas vem cá,
depois coitadas, chegam aqui muitas vezes não sabem falar muito bem português,
mandaram-me para aqui, foi o centro de emprego, agora mandaram-me para aqui, agora
não tenho transporte, agora tenho que ir a pé, tenho que ir de bicicleta, agora mandaramme para aqui outra vez, agora vocês mandam-me para a Segurança Social ou vocês
mandam-me para a Universidade do Algarve, para reconhecer competências, quer dizer
as pessoas acabam por sentirem-se um bocado empurradas de um lado para o outro,
portanto eu acho que devia haver alguma formação, tal como já houve no passado para
os administrativos das escolas secundárias, por causa dos certificados do decretolei/357, também deveria haver para, os técnicos do Centro de Emprego para saberem
exactamente para onde é que devem encaminhar, porque, eu por exemplo às vezes estou
ali na fotocopiadora e chega alguém e não esta ninguém no secretariado eu vou falar
com a pessoa e a pessoa vem um bocado perdida e vem, depois eu dizer à pessoa, olhe
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mas isso não é aqui, mas foi para aqui que me mandaram, está aqui a carta, está aqui a
dizer Associação Para A Democracia, mas nós aqui não podemos fazer nada por si, eu
custa-me isto, olhe não é aqui é noutro sitio, portanto não devia, deve de haver
articulação entre as entidades, mas isto já é problema antigo, não é. Portanto, as pessoas
acabam por ser empurradas de um lado para outro, por exemplo a Segurança Social
também existe lá a regra, só pode ter rendimento mínimo quem está num sítio qualquer
destes, para aumentar as suas qualificações, ou na escola ou no centro de novas
oportunidades em qualquer coisa, portanto é obrigatório, tem lá a regra deles que é
obrigatório, toca de mandar para cá toda a gente, porque os técnicos coitados é aquilo
que tem que fazer, é aquilo que os mandaram fazer, as pessoas chegam cá, a maior parte
não tem perfil nenhum, não sabem ler, não sabem escrever, e não querem saber,
portanto há pessoas que tudo bem e até estão dispostas, mas há outras que nem querem
saber e chegam aqui agressivas, chateadas, aborrecidas, porque não querem saber nada
disto e agora mandaram-me para aqui, depois as pessoas não têm perfil, a gente faz o
diagnostico, ok, não tem perfil, tem que ir para um curso EFA da escola secundaria e
agora mandam-me para a escola, as pessoas sentem-se empurradas, portanto, não estou
a culpar a Segurança Social nem os técnicos da segurança social, mas devia de haver
uma concertação entre todas as entidades, para se decidir o que é que se vai fazer com
estas pessoas, porque, não é obrigá-las, por e simplesmente elas não vão fazer nada, até
podem ficar aqui mas não vão fazer nada e vão a andar é a estorvar um bocado, quem
realmente quer fazer alguma coisa, temos tido aí, muitos no Centro Novas
Oportunidades que depois incomodam os restantes colegas e que os outros se saturam
de aturar isto e que se vão embora, quando eram pessoas capazes, portanto isto não
melhora nada, com estas pessoas, estas pessoas não vão fazer nada, não vão melhorar
nada, vão é incomodar depois os outros e vão andar aqui aborrecidas e portanto tem que
haver uma articulação para se decidir o que é que se faz com estas pessoas. Não é que
estas pessoas sejam deixadas como estão, também não é isso, mas se calhar também não
é esta a forma de as enquadrar na sociedade de novo, portanto foram vícios durante
muitos anos que foram adquirindo e que agora de repente, têm que fazer coisas que elas
não estavam nada habituadas a fazer, se não fizerem cortam, também não pode ser
assim.
Entrevistador – Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades têm efeitos na
vida dos adultos, formandos?
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Entrevistada – Tem, para quem quer, tem.
Entrevistador – Em que aspectos é que…
Entrevistada – Aos que procuram depois mais formação que gostam, da aprendizagem,
que valorizam a auto-estima, adultos que progridem no local de trabalho, na entidade
patronal, têm mais escolaridade, mas eu acho que acima de tudo é a nível pessoal da
auto-estima, as pessoas fazem o portefólio, no final apresentam-no ao júri e reuniram ali
a formação da sua vida, e afinal sabem fazer tanta coisa daquelas áreas, sim e aprendem
e conhecem outras pessoas, não é, isto é um bocado como o EFA, não é. Estarem em
contacto, apreenderem com os formadores, os formadores apreendem com eles,
apreendem com os colegas, conhecem outras pessoas, sim.
Entrevistador – E a nível da empregabilidade, tem uma ideia dos efeitos que isso
pode ter?
Entrevistada – Nós aqui é uma, quando eu digo nós é a nível da APD e Centro Novas
Oportunidades, não tivemos ainda a oportunidade de fazer essa avaliação ou seja era
uma coisa que gostaríamos muito de fazer mas que implica tempo e recursos, quer
recursos humanos, quer recursos financeiros, que será contactar todas as pessoas que já
passaram por aqui, saber o que é que isso mudou, isso era uma coisa que nós
gostaríamos muito de fazer, mas para isso, precisávamos que a equipa tivesse
disponibilidade, coisa que não existe, porque as metas são muito difíceis de alcançar,
mesmo trabalhando como a equipa trabalha, que é muito duro, não se conseguem atingir
as metas, portanto não há disponibilidade para pôr pessoas durante duas a três semanas
a fazer contactos telefónicos e também não há dinheiro, não é, porque depois não há
projecto nenhum que pague isso, portanto acha-se bem que se faça mas depois ninguém
assume esses custos, portanto nós não temos capacidade para isso.
Entrevistador – Quando falou que é difícil alcançar as metas isso quer dizer o quê?
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Entrevistada – O Centro Novas Oportunidades tem metas para alcançar, x adultos, x
inscrições, x pessoas em diagnóstico por ano, x pessoas em processo e x pessoas
certificadas a nível do básico e nível do secundário.
Entrevistador – E vocês sentem dificuldade nisso?
Entrevistada – Muita dificuldade, ninguém nunca atinge as metas, nós somos o centro
do Algarve que tem sempre as melhores metas, mas muito longe do que seria, do que é
estipulado.
Entrevistador – Em que medida é que sentem que as metas podem afectar o vosso
trabalho?
Entrevistada – Muito, primeiro porque toda a gente trabalha imenso, não é. Portanto é
noites, é durante o dia, é um esforço enorme para toda a equipa, depois porque ao não
atingirmos as metas, estamos sujeitos a cortes no financiamento, dinheiro que já
gastámos, não é. Porque isso é avaliado, é avaliado no final do projecto, ou seja, já
todos os custos foram gastos não é, está tudo pago, quando passado seis meses depois
do projecto ter encerrado vão avaliar as metas e dizem, não atingiu as metas x, não
houve financiamento, para uma entidade sem fins lucrativos…
Entrevistador – Como é que são definidas as metas?
Entrevistada – As metas é a ANQ que define, como é que são, não somos nós.
Entrevistador – Vocês não têm intervenção a esse nível?
Entrevistada – Não, várias vezes fomos contactados e vêm, perguntam e fazemos
avaliações e inquéritos e vêm fazer também avaliações que a própria ANQ encomendou
e fazemos sempre as recomendações, mas a ideia que temos é que nunca nada…
Entrevistador – E que forma é que isso pode manifestar o trabalho dos
profissionais?
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Entrevistada – Excesso de trabalho, e a situação de precariedade e incerteza, não é?
Porque agora o Passos Coelho também com esta história toda das Novas Oportunidades,
portanto, o pensamento que existe aqui hoje, a ideia que existe hoje, pronto nós temos,
candidatura até Dezembro, para o ano não sabemos se vai abrir, as candidaturas são
sempre um ano ou dois, só houve um ano que foram dois, dois anos é sempre de ano a
ano, e as candidaturas baseiam-se sempre nas metas atingidas no ano anterior, portanto
no desempenho da entidade e podemos ou não ter mais financiamento para o ano
seguinte, ou podemos até ter cortes no ano anterior, não é. No orçamento do ano
anterior que já está executado e que será um prejuízo para a entidade, já nos aconteceu.
Já nos cortaram um ano trinta e cinco mil euros para uma entidade como a nossa, é um
buraco, ainda temos ai, é um buraco enorme, estamos a viver dias muito complicados e
também às custas de todos esses cortes.
Entrevistador – Este, este ano ainda vai vir?
Entrevistada – Até Dezembro.
Entrevistador – Sim, e para cursos EFA?
Entrevistada – Cursos EFA, não abriu candidaturas no ano passado, portanto abriu
para o país inteiro excepto para o Algarve, para as regiões do objectivo 1, não abriu,
nem, nem para o Algarve, nem zona de Lisboa, não sei se era abrir este ano, que, o que
sei, que não é oficial, é que não há dinheiro para mais.
Entrevistador – O que é que acha da opinião de que a Iniciativa Novas
Oportunidades promove o facilitismo?
Entrevistada – Não, poderá promover nalgumas entidades, acredito que sim, nalgumas
entidades para cumprir as tais metas, facilitem, os portefólios as validações, não tenho
dúvida, aliás nós temos conhecimento de algumas pessoas que nos chegam cá e dizem a
forma como é que fizeram, fazem por exemplo um B, o básico num sítio, depois vem
para aqui fazer o 12º ano, e dizem, isto não tem nada a ver e pedem outra vez a
transferência para outro sítio, aqui internamente posso-lhe garantir que não, não
facilitamos nada.
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Entrevistador – E em termos da…
Entrevistada – Conseguimos, deixe-me só acrescentar, conseguimos ser o Centro com
metas mais aproximadas do que é exigido, mas não se deve ao facilitismo, deve-se ao
trabalho árduo da equipa, que noutros sítios trabalham aquelas horas por dia e pronto
acabou-se, os funcionários aqui não.
Entrevistador – Na sua opinião o que é que podia ser melhorado na Iniciativa
Novas Oportunidades… para um melhor funcionamento?
Entrevistada – Estas coisas todas que eu lhe tive a dizer acerca da articulação entre as
entidades, isso era fundamental e ouvirem realmente as entidades que estão no terreno,
isso também e deixarem as entidades fazerem o trabalho com mais qualidade, porque é
assim, nós até gostaríamos e temos ideia de qual devia de ser o processo de
reconhecimento de competências, um processo como deve ser, mas é impossível fazer
aquilo que gostaríamos, porque não atinge, agora ficamos longe das metas e como nós
gostaríamos então seria um, uma ínfima parte do que eles pretendem, nós não podemos
correr esse risco, não é. Portanto, como nós gostaríamos de fazer as coisas, não temos
capacidade de as fazer, porque não temos tempo, não há tempo, não há, o ano passa
muito depressa, e não existe o tempo suficiente para os profissionais e os formadores
trabalharem com os adultos como gostaríamos e como nós achamos que seria o
processo ideal para que isto servisse de, para que isto fosse ainda mais útil para os
adultos, portanto, isto poderia ser ainda muito melhor para os adultos, se houvesse
tempo para trabalhar com eles de outra forma, não há. Porque as metas são muito
apertadas e é uma correria constante e mesmo assim não se conseguem atingir.
Entrevistador – Quando referiu que seria necessário ouvir as pessoas no terreno, o
que é que isso quer dizer?
Entrevistada – Quando eles fazem avaliações, quando fazem inquéritos a sensação que
nos dá é que muitas vezes aquilo não serve para nada, as coisas continuam na mesma ou
pioram ainda, as metas ainda são mais altas, as regras ainda são mais apertadas, quando
o que se pretendia era exactamente, não é que não haja regras, não é que não haja metas,
mas as coisas deveriam funcionar de outra forma, quando eu digo deveriam ouvir,
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porque é que quando eles estabelecem estas coisas, as regras e as metas e tudo o mais e
a forma de funcionamento, porque é que não chamam as entidades que já trabalham no
terreno, que conhecem realmente as dificuldades deste público, não é? Ouvir, como é
que deve ser a melhor forma de trabalhar com esta gente, porque a sensação muitas
vezes que nos dá é que eles, quem desenha isto está nos gabinetes, não tem contacto
com as pessoas, não sabe como é que as pessoas são, qual é a realidade em que vivem
estas pessoas e depois aparece tudo desajustado daquilo que acontece no terreno.
Entrevistador – Nesse caso está-se a referir à ANQ?
Entrevistada – A ANQ neste, pronto pode ser a ANQ sei lá, por exemplo a DREALG
aqui no Algarve tem feito um bom trabalho, Direcção Regional de Educação, ou seja
cria grupos e reuniões, a periódicas entre os CNO e cria grupos de CNO, por zonas,
litoral a serra a pronto, eles até deram um nome engraçado a isso e faz a seminários e
workshops periódicos entre os CNO para partilharem ideias e experiências e põem
mesmo, pronto grupos de profissionais, quatro ou cinco profissionais de vários CNO
como é que vocês fazem isto, como é que vocês fazem aquilo, como é que vocês
validam aqueloutro, para as pessoas partilharem a sua experiência e a DREALG tem
apostado bastante nisso, tem feito um bom trabalho, agora o que era importante era que
as pessoas quando vão para estas reuniões, os técnicos depois, ponham tudo a
descoberto ou seja nós aqui, temos passado um bocado mal nesses workshops, porque
pomos tudo a descoberto, ou seja não camuflávamos, ou seja, não dizemos, lá corre
tudo bem, não, temos este problema, este e este e este e muitas vezes as técnicas vêm
frustradas destes encontros, porque nos outros sítios é tudo uma maravilha, e então não
houve, aquilo poderia ser discutido, olha eu tenho este problema, vocês não têm, não,
não tenho, nós acabamos muitas vezes por ficar também mal, junto da ANQ porque
muitas vezes a ANQ está presente ou um representante da ANQ está presente nestas
coisas e nós acabamos sempre por ser uma entidade que, está sempre a, a bater na ANQ
quando sabemos que as outras entidades também têm estas opiniões, só que depois na
frente não assumem e isto depois também gera algum desconforto para nós, porque só
nós é que assumimos e porque depois também a relação depois torna-se um bocadinho
complicada, não é, com as entidades.
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Entrevistador – Para terminar em relação aos cursos EFA mais especificamente,
qual é a sua opinião sobre os cursos EFA?
Entrevistada – Eu acho que eles devem continuar, mas havendo, a selecção dos
formandos devia de ser feita de uma outra forma, não sei bem como é que seria, mas era
bom que fosse um processo mais prolongado em que desse para conhecer as pessoas,
nós fizemos aqui há uns anos um projecto, na altura era permitido essas coisas, agora já
está tudo formatado, já não existe grande liberdade que era, em sala fazer selecção dos
formandos, ou seja, durante um período experimental os formandos estavam em sala
verificávamos competências fazíamos trabalhos, trabalhos de equipa, e servia como préselecção de formandos e eu acho que isso podia ser uma forma, porque fazer a selecção
mesmo que eu acho que foi de forma cuidadosa que nós fizemos, várias fases não foi só
a APD, foi a empresa também, nós não conseguimos conhecer as pessoas na fase de
selecção, não é. Porque as pessoas dizem que sim senhora é esta área que sempre
quiseram trabalhar na vida que é este o seu futuro, que gostam muito de trabalhar com
pessoas acamadas, gostam muito de idosos, que já cuidaram dos avôs, que já isto, que já
aquilo, quer dizer passado três meses, nós reparamos que a pessoa tanto está neste curso
como podia estar num de jardinagem, que se tivesse vindo ao de jardinagem teria digo
exactamente que gosta muito de plantas e que gosta muito de trabalhar no campo e que
gosta muito de agricultura, mas isso no processo de selecção mesmo com algumas horas
e com algumas fases, não se consegue despistar, e deveria haver um outro formato de
selecção dos formandos, portanto deveria ser, os programas deviam pagar porque as
entidades também não têm capacidade financeira para aguentar isto, não é? E porque
também não há formando nenhum que venha para formação em sala durante dois meses
por exemplo, sem receber nada, sem saber sequer se vai ficar no curso, portanto isto
teria que haver uma componente financeira a apoiar isto, mas deveria ser feita num
outro formato, e depois é, vale ou não a pena os cursos EFA, tudo depende dos
formandos que lá estão, sem dúvida alguma que para algumas pessoas que lá estão, vale
a pena, tal como vale a pena o Centro Novas Oportunidades, mas não posso dizer que
cem por cento das pessoas que lá estão vale a pena, que há pessoas que estão aqui e que
estavam noutro sitio qualquer se lhes pagassem também quinhentos euros.
Entrevistador – No vosso caso como é que os formandos chegaram ao vosso curso
EFA, vieram alguns do CNO?
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Entrevistada – Alguns do nosso CNO, alguns do Centro Novas Oportunidades, alguns
de outros CNO de Loulé do NERA alguns pelo Instituto de Emprego, que encaminhou,
depois pessoas que viram por ai publicidade e que se vieram inscrever.
Entrevistadores – Eles fazem algum balanço de competências inicial, ou isso?
Entrevistada – Não, isso era feito antigamente, agora já não, antigamente fazia-se logo
uma, um júri no início com a validação das competências inicial, agora isso já não
existe.
Entrevistador – Basicamente todos nas mesmas circunstâncias, não é?
Entrevistada – Sim
Entrevistador – Não são posicionados de forma diferente?
Entrevistada – Não
Entrevistador – Como se fazia…
Entrevistada – Sim, fazia-se.
Entrevistador – E nos CNO eles já vêm com algum perfil identificado quando vêm
dos CNO?
Entrevistada – Não, do CNO é só encaminhado para o curso EFA, se a pessoa está
desempregada é feito o diagnóstico, se prefere fazer um processo à noite, para arranjar
trabalho ou se gostaria era de ir fazer um curso e ter uma carteira profissional e se está
disposto a isso, eu quando estava no CNO e que estive como formadora e depois como
técnica de diagnostico havia pessoas que eu achava que tinham mesmo perfil para EFA
e depois que nos diziam, não eu não quero ficar presa a um curso durante um ano e
meio, porque eu quero estar disponível para trabalhar, portanto que eu quero fazer o 9º
ano à noite ou o 12º ou aquilo que seja porque quero trabalhar, quando aparecer
qualquer coisa eu quero trabalhar, eu não quero estar agarrado a nada disso, eu só quero
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mesmo o 9º ano ou o 12º ano, não quero carteira profissional nenhuma, não quero nada
e havia pessoas que tinham mesmo perfil para vir para um curso EFA.
Entrevistador – Quando os formandos vêm encaminhados dos CNO para o vosso
curso EFA, isso quer dizer que no diagnóstico de encaminhamento, chegou-se à
conclusão que não tinham perfil para fazer um percurso?
Entrevistada – Não, não, podem ter perfil mas a pessoa por estar desempregada, opta
por ir, para, para um curso EFA, não quer dizer que não tenha perfil para RVCC, eu
digo que neste curso temos pessoas que podiam estar perfeitamente a fazer um processo
de RVCC de nível secundário.
Entrevistador – Acha que os cursos EFA têm feito diferença na vida dos
formandos?
Entrevistada – Sim.
Entrevistador – Na sua vida futura?
Entrevistada – Sim, têm, quer a nível de aumentar a auto-estima, não é, ficam com
uma qualificação, percebem, ao validar as competências, aprenderam coisas, percebem
que algumas já sabiam, têm contacto com uma série de realidades que não conheciam,
sei lá, as instituições, a quantidade de, como exemplo, de instituições que nós, que eles
foram conhecer, que eles não sabiam que existiam, e muitas aqui em São Brás, que eles
nunca tinham ido, nunca tinham ido ao Museu do Trajo, aqui de São Brás, é um
exemplo. Ouviam falar muito mal da Misericórdia, que lá se fazia isto e aquilo aos
idosos, fomos lá visitar, adoraram, gostaram, portanto são os mitos que se fazem, que as
pessoas nunca foram, nunca viram, fomos a sítios aqui no âmbito do património, fontes,
ao Moinho do Bengado, que é um Moinho recuperado, ninguém conhecia o Bengado
que fica aqui na estrada, eu também não conhecia, mas não sou de cá, ninguém tinha
ido, portanto as pessoas descobriram uma série de coisas que, que se não tivessem vindo
para aqui nunca tinham feito, tiveram contacto com uma série de entidades, por
exemplo, legislação laboral, tem cinquenta horas de legislação laboral, ficam a saber
imensas coisas, que não faziam a menor ideia, vão ter a oportunidade de estagiar, ficam,
75
alargam muito o conhecimento que tinham, alargam as competências, têm uma carteira
profissional, têm o 9º ano, podem continuar a estudar, podem ir trabalhar, sim, sem
dúvida nenhuma isto e é na minha opinião é uma mais-valia, para qualquer um dos
formandos.
Entrevistador – E o que é que poderia ser melhorado no funcionamento dos cursos
EFA a partir desta sua experiência de trabalho?
Entrevistada – A selecção de formandos, pode ser melhorada, rever a questão do
pagamento das bolsas e dos acolhimentos e de transporte e isso tudo para não criar uma
dependência, porque depois as pessoas vão para o mercado de trabalho e essa não é a
realidade no mercado de trabalho, portanto, isso deveria ser tudo ponderado outra vez.
Entrevistador – Desculpe interromper, quando diz rever a bolsa, em que sentido?
Entrevistada – Por exemplo a bolsa agora vai passar para metade, já passou, já saiu a
legislação, portanto os cursos que começam agora só já recebem a metade, eu concordo
com isso, a porque se a pessoa quer aprender e está disposta, eu vou estudar, ninguém
paga nada para ir estudar, não é, ninguém me pagou, quando nós andamos na
universidade ninguém nos pagou nada, portanto tivemos que fazer um esforço ou os
nossos pais ou quem quer que seja, para lá andar, portanto isto para que, para evitar a
subsidiodependência e para evitar os tais papa cursos, não é, que atrás de um curso vem
outro e outro e outro, onde estão a ganhar, estão a ganhar razoavelmente para o
ordenado em que está, é assim não podemos considerar, eu não posso considerar que
quinhentos euros é um bom ordenado, por exemplo eu não sei o que fazia com
quinhentos euros, mas estas pessoas nunca tiveram um ordenado superior, portanto
quinhentos euros para eles, sem descontos ainda por cima, mais subsídio de
acolhimento e, se deslocarem, transporte, isto é uma maravilha, porque com este nível
de qualificação nunca ganharam mais do que isto, não é, portanto para mim isto seria
um péssimo ordenado, uma migalha, para estas pessoas não, é óptimo, não é? Porque
nunca teriam a oportunidade de ter um ordenado superior, o que faz com que depois
queira fazer outro curso, ou vem de outro curso, porque é confortável, estar a receber
este valor e estar o dia todo e ainda por cima estão a fazer o 9º ano, uma carteira
profissional e conhecer pessoas e conhecer entidades, estão numa situação muito
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confortável e o empenho não tem que ser muito, ou seja, não tem que dar muito de si e
no final do mês tem os quinhentos euros garantidos, não é, e se não houver grandes
confusões têm os catorze meses garantidos, enquanto num posto de trabalho ficam seis
meses à experiência e depois podem-se ir embora, têm que batalhar, tem que trabalhar
aqueles seis meses, não é, aqui também por contingências da entidade formadora ou seja
a entidade, o financiamento da entidade formadora, está condicionado ao volume de
formação, também leva muitas vezes a que, nalgum momento poderíamos ter expulso
um formando e é preciso muito cuidado, porque depois o financiamento também
diminui e a renda da sala de formação e os formadores e, os formadores não, os
formadores são à parte, mas a renda da sala de formação, todos os custos inerentes a
água, luz, etc., os computadores que foram adquiridos no inicio da formação tudo isso
está a ser pago não é. E em vez de vinte formandos ficarmos com doze, porque
expulsamos, três ou quatro que se portaram mal, às tantas não conseguimos pagar os
custos da formação, portanto, isto também não devia de ser assim, portanto o
financiamento da entidade formadora, a parte que diz respeito à componente de
financiamento da entidade formadora, que é realmente para os custos da formação não
deveria ser indexada ao volume, não devia, porque depois estamos sempre a pensar, e o
formando desiste, que culpa é que nós temos que o formando desiste e a entidade
formadora é que apanha com a talhada, porquê? A sala da formação está preparada para
vinte, não é, se há dois formandos que foram embora, que culpa é que nós temos que os
formandos tenham ido embora. Um emigrou, uma desistiu logo passado um mês porque
o curso começou numa época má, começou em Maio, final de Maio, final de Maio esta
gente arranja toda trabalho ai nos cafés e nos restaurantes a ganhar mil euros por mês,
esquecem-se é que passado dois meses já não tem nada, outra vez, mas tivemos uma
formanda que desistiu logo, porque foi, começou a trabalhar aqui num bar, num café
numa esplanada à noite portanto trabalhava até às três, quatro da manhã no outro dia
seguinte não conseguia ir à formação, portanto faltou um mês seguido porque estava a
trabalhar, e depois nós dissemos, olha ou isto ou, assume isto e vem, assume que está a
fazer horas à noite, porque isto era tudo em esquemas alternativos, agora se assume que
continua na formação, então é para estar aqui às nove da manhã, não é para chegar às
dez, nem às onze, nem ao meio dia, que se deitou às quatro da manhã, portanto, fomos
nós que não agarramos a formanda, eu acho que não, ela desistiu logo, ela desistiu, ela
começou nisto logo passado quinze dias, três semanas depois de começar o curso, um
mês depois desistiu, outro formando ficou doente, teve um problema no cérebro,
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portanto teve que ser operado e não sei quê, prontos também, ele coitado era das
pessoas mais empenhadas que nós tínhamos, mas teve um azar, pronto teve um azar,
correu no momento da formação, continua desempregado e está numa situação de
extrema precariedade, não têm direito a nada, coitado, pronto ele não têm culpa de lhe
ter acontecido aquilo, não tem direito a segurança social, não têm direito a nada, porque
estava desempregado já tinha acabado o subsidio de desemprego, não têm direito a
nada, rigorosamente nada, depois a esposa trabalha, mas a esposa trabalha a quinhentos
euros por mês também, mas têm contrato, portanto não têm direito a rendimento de
inserção social, dois filhos, aqui ficou sem bolsa, porque tivemos que o excluir da
formação, porque deu um número de faltas, os médicos depois também não, não o
aconselharam, porque o problema era no cérebro, aconselharam a não continuar,
portanto nem ele têm culpa de isto acontecer e ele não têm direito a nada e vive com
grandes dificuldades, nem a entidade formadora tem culpa que isto tenha acontecido, no
entanto a entidade formadora está a ser mensalmente lesada no financiamento e a renda
da sala de formação é a mesma que era no início, no início, não é.
Entrevistador – Quantos formandos eram no início?
Entrevistada – Vinte.
Entrevistador – Vinte, e agora actualmente?
Entrevistada – Agora estão dezasseis.
Entrevistador – Dezasseis, dois homens e mulheres?
Entrevistada – Eram dois homens e dezoito mulheres.
Entrevistador – Sim e em termos de esses homens, quantos estão agora?
Entrevistada – Um, o outro foi o que teve o problema na cabeça.
Entrevistador – Pois e essa questão do corte de financiamento pode afectar a
relação da formação?
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Entrevistada – Pode, porque é assim, nós temos sempre que ponderar muito bem, se
vamos ou não excluir o formando da formação, não é, portanto há um formando que
num determinado momento me faltou ao respeito, eu se não houvesse implicações
financeiras provavelmente aquele formando tinha sido excluído naquela hora, não é, e aí
temos que pensar muito bem, vamos ou não excluir esta pessoa, não é, porque a renda
da sala continua a ter que ser paga, e se vamos excluindo formandos, isto só aconteceu
com uma pessoa, mas vamos excluindo formandos, então como, o que é que fica para a
entidade, isto não pode ser assim, a entidade formadora não pode estar condicionada ao
volume de formação, isto não faz sentido, os custos são aqueles no início, custos fixos,
estejam dez ou estejam vinte é evidente que há coisas que não são as mesmas, o número
de fotocopias a tirar não é o mesmo, não é, mas a renda da sala continua a mesma, o
ordenado do mediador continua o mesmo, o ordenado do coordenador continua o
mesmo, não vamos diminuir o ordenado do coordenador, por vinte formandos ganhas
isto para dez ganhas aquilo, portanto isso não existe, não é.
O seguro da sala contínua o mesmo, portanto, há despesas que são reduzidas, o seguro
do formando, pronto dá-se baixa daquele formando, diminui, não é.
Entrevistador – Sente que os formandos percebem isso?
Entrevistada – Não, nós nunca dissemos isso, exactamente para não criar uma, para
que isso não seja um motivo de, como é que direi, de, em que eles se sintam superiores
nisso, não é? Que sintam que têm ali uma vantagem, não, nunca, nunca referimos isso.
Entrevistador – Há mais alguma coisa que acha que deveria ser melhorado nos
funcionamentos dos cursos EFA?
Entrevistada – Talvez diminuir as horas de formação, o diário, sete horas por dia é
muito para estar em formação, não sei, não tenho solução para isso.
Entrevistador – Mas sente que isso levanta problemas, as sete horas?
Entrevistada – Sim, são muitas horas para estarem fechados numa sala, nós, tentamos
sempre que as formações sejam práticas, que haja saídas, que haja visitas, mas não é,
não podemos andar a fazer catorze meses visitas, não é, nem em formação prática, não
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se consegue, também é preciso os formadores têm que cumprir aquele referencial e
portanto também têm que estar em sala com eles, não é, E sete horas por dia é
demasiado, eu sei que existe a possibilidade de fazer seis horas por dia, existe também
essa possibilidade, só que depois ai também demora muito tempo e lá está, demora
muito tempo o volume de formação, a entidade, o financiamento está associado ao
volume de formação, quer dizer eu não posso por um curso a demorar vinte meses e
com o volume de formação é o mesmo, são os vinte formandos na mesma vez aquelas
horas de formação, não é, mas os custos fixos aumentam porque a renda da sala, já não
são catorze meses são vinte meses o ordenado do mediador já não é catorze já são vinte,
o seguro das instalações já não são catorze, já são vinte, percebe? Os custos fixos são os
mesmos, eu não consigo estender por isso é que nós optamos por fazer catorze meses,
para conseguir pagar os custos fixos naqueles meses, que são mais reduzidos, porque
estender isto a vinte meses, a entidade, não o financiamento, porque existe um valor
hora, portanto a candidatura é associada a um valor hora, que é três euros e oitenta e
cinco e a entidade recebe este valor por hora de formação assistida pelo formando e
acabou, ponto final, não interessa se é em vinte e quatro meses, se é doze.
Entrevistador – Como é que é pagamento aos formadores, quanto é que eles
recebem e se é variável?
Entrevistada – É trinta euros à hora.
Entrevistador – Sim e ganham todos o mesmo?
Entrevistada – Formadores externos, ganham todos o mesmo, trinta euros à hora.
Entrevistador – Sim e noutras entidades, isso é variável?
Entrevistada – É variável, isto é o máximo permitido, era o máximo permitido, agora
diminuiu, quando fizemos a candidatura era o máximo permitido para este nível de
formação, nível 3, também era o nível 3 que agora também já não é. Era o máximo
permitido, nós fizemos a candidatura pelo máximo e foi aprovado e portanto pagamos o
máximo a toda a gente, excepto aos formadores internos que ai não recebem nada a
mais, não é.
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Entrevistador – Por exemplo em relação ao IEFP é capaz de ter?
Entrevistada – O IEFP paga a dezanove, vinte, acho que é dezanove.
Entrevistador – A última questão, qual é o balanço que faz do curso EFA que está
a decorrer actualmente na Associação?
Entrevistada – Estou muito contente com o desempenho de algumas pessoas, muito
mesmo, e estou, seriamente convicta que vão arranjar trabalho, que vão estagiar e que
vão ficar nas entidades, outros poderão não ficar nas entidades, porque as entidades não
estão neste momento a recrutar ninguém, não é, mas tenho a certeza que no momento
em que haja oportunidade que as chamarão se elas não tiverem noutro sítio, a, é uma
área em que apesar da Vilolivinha não ter sido construída e não ter emprego directo,
mas é uma área em que não vai haver falta de oportunidades de trabalho, quem quiser
trabalhar, vai arranjar trabalho, já estão a ser construídas imensas entidades de cuidados
continuados, estão a aumentar o número de lares, a portanto é uma área, apoio
domiciliário está a aumentar, portanto a população idosa está a crescer, portanto nesse
aspecto foi uma boa escolha, esta área de formação, nesse sentido acho que vai haver
oportunidade de trabalho para quem quiser trabalhar, sei que nem todas vão trabalhar
porque acho que estão com vontade de continuar a estudar e elas já o afirmaram, agora
recentemente, provavelmente não vão trabalhar nesta área, mas quem, quem quiser vai,
vai com certeza ter oportunidade, depois há sempre o, o lado negativo dos cursos, geram
sempre cansaço, não é, que passado um ano eles estão cansados e nós também, são
aquelas quezílias constantes por nada, agora as coisas têm estado calminhas, mas as
coisas que existem, as confusões que existem, são tudo de nadas e isso cansa, cansa
estar sempre a chamar a atenção, as pessoas que chegam todos os dias dez minutos
atrasadas, durante um ano todos os dias, então, nove e dez, não chegou a horas, isto é
cansativo, passado um ano e um mês, não é, que já vamos com treze meses, eu já não
estou á espera que estas pessoas chegam dez minutos atrasadas mudem, falta um mês,
não vão mudar, são é assim, tiveram sanção na bolsa, foram repreendidas uma serie de
vezes por todos os formadores que estão de manhã, não é, Porque isto só se verifica de
manhã, depois do almoço não, às duas horas da tarde está toda a gente, mas de manhã é
complicado, portanto, isto é cansativo, estar durante um ano a chamar à atenção sobre as
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mesmas coisas, as mesmas pessoas não melhoraram, algumas melhoraram, mas as
outras não melhoraram, continuam a fazer exactamente igual, continuam a chegar todos
os dias àquela hora e assumem que não conseguem fazer de outra maneira, assumem,
não consigo mudar isto e isso cansa e uma pessoa fica, afinal o que é que eu fiz de mal,
será que eu podia ter feito de outra maneira, e é sempre possível fazer melhor, não é,
Portanto acredito que, que haja quem faz melhor, alguém saberá sempre dar uma dica
para fazer melhor, ou ao longo dos anos vamos sempre aprendendo e no seguinte,
vamos sempre fazendo melhor, portanto há momentos muito desesperantes e quando há
as confusões, que depois eu tento saber o porquê que aquilo foi, afinal não foi nada,
uma pessoa nem um bocadinho do que disseram que disse e depois vão buscar assuntos
pessoais da vida pessoal de cada um, porque são todos daqui toda a gente conhece as
famílias uns dos outros e arranjam confusões por causa de coisas que não interessam
nada na formação, que não se passaram na formação, não conseguem deixar aquilo no
lado de fora, e esses dias em que isso acontece eu fico completamente desmotivada,
cansada. Mas pronto são aqueles, aqueles momentos em que eu acho que também faz
parte de qualquer trabalho, quando as coisas não correm exactamente como
sonhávamos, nós sentimos desmotivados fora isso eu acho que, que o curso correu bem,
tivemos muito bons formadores, como eu lhe disse só há uma formadora que eu não
gostei, gostei muito de conhecer aqui formadores que, que souberam transmitir, que
tinham os conhecimentos, trabalharam bem com eles, que eles gostaram muito de
trabalhar e é a nível de competências o melhor curso que tivemos até hoje, de pessoas
assim com esta, com este perfil.
Entrevistador – Continuava a apostar nesta modalidade de formação?
Entrevistada – Sim
Entrevistador – No curso EFA.
Entrevistada – Sim, sim,
Entrevistador – Acha que vale a pena?
Entrevistada – Mas com…se possível com algumas mudanças.
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Entrevistador – Ok, agradeço bastante.
5. Entrevista 2 – F.E. – Formador da área de competência-chave de Matemática
para a Vida num curso EFA na Associação para a Democracia.
Entrevistador – Quais são as suas habilitações literárias?
Entrevistado – Portanto, eu sou licenciado em Matemática - Via Ensino.
Entrevistador – E a sua profissão?
Entrevistado – Sou docente.
Entrevistador – Docente de…
Entrevistado – De Matemática. De 3º ciclo e Ensino Básico.
Entrevistador – Que funções é que exerce no curso EFA?
Entrevistado – No curso EFA exerço a função de formador de Matemática para a Vida.
Entrevistador – Só dá essa área de competência chave?
Entrevistado – Neste curso EFA só. Tenho também experiência como formador de
TIC, e também já fui, já desempenhei o cargo de mediador, de curso EFA e, do
Aprender com Autonomia também.
Entrevistador – Portanto está-me a dizer isso noutros cursos?
Entrevistado – Noutros cursos em que já leccionei também.
Entrevistador – E noutras entidades?
Entrevistado – Noutras entidades, exactamente.
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Entrevistador – Neste momento exerce mais alguma função na organização de
onde trabalha? Começava por lhe perguntar se trabalha nalguma organização em
específico?
Entrevistado – Eu sou funcionário do Ministério da Educação, portanto estou colocado
numa escola pública e fiz o pedido de acumulação para trabalhar aqui na APD neste
curso EFA, portanto para além, aqui na APD, para além de formador não exerço mais
nenhum cargo.
Entrevistador – Ok, qual é a escola que o Fernando…
Entrevistado – EB aqui no agrupamento de escolas José Belchior Viegas em São Brás
de Alportel, e estou nas duas escolas, na Escola Básica e na Escola Secundaria.
Entrevistador – Tenho aqui um primeiro conjunto de questões que diz respeito à
actividade profissional e uma primeira questão, ia pedir ao Fernando para me
descrever a sua trajectória profissional desde que começou a trabalhar.
Entrevistado – Ora bem, eu comecei, eu sou licenciado há onze anos, comecei a
trabalhar só depois de ser, de finalizar a licenciatura, comecei por exercer a minha
actividade só em escolas públicas, no entretanto, houve anos em que eu não consegui
obter colocação em ensinos públicos e então fui conseguindo praticar, fazer a prática
lectiva em alguns ensinos semi-privados e privados, desde 2002 que estou ligado aos
EFA, portanto em diferentes entidades, em diferentes tempos, fui sempre
acompanhando cursos de educação e formação de adultos como lhe disse, como
formador de Matemática para a Vida, como mediador e mais tarde como formador de
TIC.
Entrevistador – Essa entrada no trabalho da formação como é que ela aconteceu?
Entrevistado – Inicialmente por necessidade, pela necessidade financeira, pronto como
lhe disse houve anos da minha carreira que não obtive colocação no ensino público e
tive que procurar alternativas e uma das alternativas encontradas foi de facto a formação
de adultos.
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Entrevistador – E em relação ao…disse-me ainda há pouco que foi também
mediador, como é que aconteceu essa entrada na mediação?
Entrevistado – Foi uma oportunidade que surgiu na altura a não lhe sei precisar agora
qual foi a entidade, já foi a alguns anos, penso que foi a primeira mediação que eu fiz
foi na Fundação da Juventude, era formador, como lhe disse, surgiu a oportunidade de ir
substituir um mediador de um curso EFA, aceitei o desafio, e a partir dai fiz algumas
mediações.
Entrevistador – Perguntava também ao Fernando, como é que é a vida de um
formador que faz a sua actividade dos cursos EFA, tendo em conta a sua
experiência, como é que é a vida de um formador EFA?
Entrevistado – Quando me pergunta como é a vida, como é que é a prática profissional
ou que eu me alargue um bocado mais?
Entrevistador – A prática profissional, como é que é isso de ser formador EFA?
Entrevistado – Ser formador, ser formador EFA, ou não, mas especificamente EFA, na
minha opinião é obrigatoriamente um part-time, porque ninguém pode viver da
formação, porque nunca sabemos quando recebemos, nunca sabemos, nunca podemos
contar com esse dinheiro, digamos assim, só pode ser uma acumulação, a juntar isso a
uma outra actividade qualquer, enquanto formador nos cursos EFA eu faço com muito
gosto, confesso, a educação e formação de adultos é uma área que, que me desperta
bastante interesse, faz-se com relativa facilidade, os adultos, por norma estabeleço com
eles uma boa relação, há uma relação de empatia, nunca tive problemas de maior, eles
na minha área em concreto, na Matemática para a Vida há sempre uma reticência inicial
pela maior parte deles, mas depois acaba por ser ultrapassada e trabalha-se bastante bem
com eles
Entrevistador – Quando o Fernando está a dizer que há uma reticência inicial isso
deve-se a…
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Entrevistado – Em relação à área de competência-chave propriamente dita, portanto a
matemática tem sido ao longo, foi ao longo de muitos anos um bicho papão do ensino e
muitos deles, face ao insucesso escolar da altura, vêem inicialmente a matemática como
sendo aquela área que poderá levantar logo de início alguns problemas na sua presença
nos cursos EFA mas depois isso acaba por ser ultrapassado.
Entrevistador – Na sequência do que o Fernando estava a dizer ainda há pouco,
coloco-lhe uma questão que é se considera que ser formador EFA é uma profissão?
Entrevistado – Não, de forma alguma, como lhe disse, não pode ser uma profissão,
para ser uma profissão tê-lo-ia que ser a tempo inteiro e não o pode ser porque as
políticas de financiamento, as políticas de gestão das entidades não permitem que no
final do mês o formador tenha o seu vencimento garantido, portanto de forma alguma
poderá ser uma profissão.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta também, nesse sentido, se pessoalmente
se considera profissional da formação?
Entrevistado – Ainda assim considero-me, faço, desempenho essas funções com muito
profissionalismo na minha opinião, com muito gosto, como já lhe disse, portanto
considero ser um profissional nesse âmbito, ainda que não considere ser uma profissão.
Entrevistador – Claro, se lhe perguntasse qual era a sua profissão, o que é que…
Entrevistado – Professor.
Entrevistador – Em termos das condições a laborais e institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, pode tentar explicar um pouco melhor esse tipo de
condições, os vínculos profissionais as condições em termos de pagamento, como é
que isso…
Entrevistado – Bom, em termos de vínculo profissional não existe, portanto os
formadores trabalham a recibo verde, fazem um contrato de prestação de serviços, não
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existe qualquer tipo de vínculo para além daquele, daquilo, aquilo que esse contrato
obriga.
Entrevistador – As condições remuneratórias…
Entrevistado – As condições remuneratórias ao longo dos anos, os honorários têm
vindo a piorar, muito, se me permite opinar, muito porque as entidades se pautam, ou
têm como referência o Instituto de Emprego e Formação Profissional, que é uma
entidade que alberga se calhar a maior fatia da formação e que paga muito mal aos
formadores, portanto, as entidades extra, que não são Instituto de Emprego, muitas
acabam por se pautar por valores do Instituto de Emprego que tomam como referência e
que é na minha opinião, muito, muito baixo.
Entrevistador – Em termos do recrutamento dos formadores para as acções de
formação, como é que isso se processa?
Entrevistado – Eu penso que as entidades tendem em valorizar muito a experiência dos
formadores, essencialmente e depois acabam por ser, isto acaba por ser um meio muito
pequeno e os formadores acabam por ser conhecidos aqui e ali e quando uma entidade
os procura para ser formador num determinado curso EFA, é porque já tem referências
ou porque já conhecem, ou então porque recebeu o curriculum e lhe foi enviado e de
facto comprova que já é experiente nesse, nessas funções.
Entrevistador – Alguma vez pensou em abandonar a actividade como formador,
neste caso como formador EFA, especificamente?
Entrevistado – Não, confesso que não, nunca pensei, mas espero que nunca, mesmo
não querendo abandonar, que terá os dias contados, por uma questão de financiamento,
por falta de financiamentos, creio que não durará muito mais.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta nesse sentido, se tivesse outras
oportunidades profissionais mudava de actividade?
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Entrevistado – Bem, uma vez que esta não é uma actividade a tempo inteiro, mesmo
que mudasse de actividade profissional, poderia sempre tentar conjugar essa actividade
profissional com a formação e educação de adultos, seria para mim, se me perguntasse,
se seria factor decisivo para eu abandonar, não, tentaria sempre conciliar.
Entrevistador – Portanto a formação…
Entrevistado – Com a actividade profissional propriamente dita.
Entrevistador – E, e já tocou nesse aspecto também que eu vou agora introduzir,
mas como é que vê o papel dos cursos EFA na sua vida profissional futura?
Entrevistado – Bom, a gente aprende sempre com as experiências, com aquilo que as
experiências nos proporcionam e de facto estes anos todos a leccionar nos cursos EFA
permitiu tomar conhecimento de múltiplos, portanto conhecimento que eu não tinha e
em múltiplos aspectos e que foi condicionando a minha vida e com certeza que
continuará a condicionar e posso-lhe falar em termos de conhecimento de programas em
grupos que eu desconhecia e com a prática nos cursos EFA, acabei por vir a conhecer,
portanto há sempre factores que condicionam.
Entrevistador – E em termos do seu, têm percepção do que pode ser o seu futuro
profissional? Como é, qual é o papel dos cursos EFA, que hipótese tem em ser o
seu, a sua trajectória da vida futura?
Entrevistado – Como eu lhe disse, eu creio que os, cursos EFA, que tenham uma
duração de vida muito mais longa, portanto, não são, não tenho grandes expectativas em
relação a isso.
Entrevistador – Mas como o Frederico me esta a dizer que não tem grandes
expectativas, baseado em podemos esperar…
Entrevistado – Portanto, digo isto crendo que o período de vida dos cursos EFA está-se
a extinguir, vai acabar brevemente, portanto não creio que seja uma prática profissional
que dure muito, muito mais tempo.
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Entrevistador – Portanto está-se a referir também às políticas da formação?
Entrevistado – Nos termos que elas existem actualmente, portanto estou a falar muito
particularmente, pensando no financiamento, portanto temos, eu da minha prática creio
que muitos dos adultos que frequentam este tipo de acções, frequentam porque são
remunerados por isso e quando essa questão deixar de existir, haverá com certeza muita
dificuldade na angariação de formandos por um lado e haverá com certeza muita
dificuldade e eventualmente a impossibilidade das entidades poderem levar a cabo
acções deste género.
Entrevistador – Perguntava-lhe também se se sente reconhecido no seu trabalho de
como formador?
Entrevistado – Com certeza, com certeza, essencialmente pela avaliação que os
formandos fazem do trabalho do formador, que é contemplada nas acções que decorrem,
nas acções EFA e também pela própria entidade.
Entrevistador – Portanto, vê-se também reconhecido pela própria entidade?
Entrevistado – Exactamente. O facto de uma entidade, o facto de trabalharmos para
uma entidade e voltarmos a ser convocados para uma outra acção, eu penso que isso é
um factor de reconhecimento do trabalho que foi feito anteriormente.
Entrevistador – Em relação ao trabalho pedagógico o que costuma realizar, quais
são as dificuldades que sente no seu trabalho, como formador de educação e
formação de adultos nos cursos EFA, quais são as maiores dificuldades que sente
no seu trabalho no dia-a-dia?
Entrevistado – As maiores dificuldades, sinceramente, não sinto grandes dificuldades,
portanto como lhe disse, no início do curso há sempre essa reticência face a matemática
que é preciso combater junto dos adultos, ultrapassada essa fase, depende, varia de
grupo para grupo, como é lógico, mas ultrapassado essa fase as coisas correm
relativamente bem, não sinto, sinceramente grandes dificuldades ou pelo menos
dificuldades significativas de registo, não sinto.
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Entrevistador – Recorda-se de algum exemplo que me possa dar em termos de…
Entrevistado – Sim, posso olhando para trás e pensando no aspecto mais negativo que
me recordo, eventualmente as relações que se estabelecem entre adultos, porque
estamos a falar de adultos que muitas vezes estão há décadas afastados da escola,
digamos assim, e de repente se vêem confinados a quatro paredes, um grupo de quinze,
dezassete, vinte adultos, que se vêem confinados a quatro paredes, e isso ao fim de
algum tempo a começa a gerar, ou começa a ser propício a que haja alguns conflitos
entre eles e muitas vezes as relações interpessoais que eles estabelecem, não são
melhores e eventualmente um constrangimento será o facto, o gerir esses conflitos.
Entrevistador – É uma coisa que, que costuma acontecer?
Entrevistado – Que é normal acontecer e que também se resolve relativamente bem,
mas de facto costuma ocorrer.
Entrevistador – Em relação aos aspectos gratificantes da sua actividade como
formador, quais são os aspectos que…
Entrevistado – Como lhe disse o reconhecimento por parte dos adultos de facto alguém
os fez mudar de opinião face a matemática é um grande, uma grande mais-valia para
mim, e depois ver a mudança que grande parte deles a, grande parte deles atravessa,
desde que começa o curso até que acaba, o desenvolvimento pessoal, o desenvolvimento
académico também, como é óbvio e muitas vezes o desenvolvimento cívico, a parte
cívica, a atitude cívica das pessoas, que no inicio, desde o início até ao fim se vê que é
um aumento gradual, pronto e imenso.
Entrevistador – Ok, em termos do, do trabalho articulado em torno dos temas de
vida com os seus colegas de formação, como é que isso tem funcionado?
Entrevistado – Funciona relativamente bem, normalmente a articulação dos trabalhos é
feito, em reunião de equipa pedagógica e não é difícil chegar a um consenso sobre a,
quem faz o quê, e essencialmente o ir de encontro entre a área de competência chave e
às actividades que se propõe ser como produto final, depois do tema de vida, não, não
90
tem nada de complicado, por norma com consenso e alguma rapidez conseguimos a
fazer essa planificação, digamos assim.
Entrevistador – Portanto, faria uma apreciação de forma positiva do modo
como…
Entrevistado – Sim.
Entrevistador – E como é que é articulação entre os formadores da formação base
e da formação profissionalizante?
Entrevistado – Bom por vezes é, por vezes é inexistente, felizmente outra vezes não,
porque, por norma as pessoas, os técnicos da parte profissionalizante, portanto não têm
formação pedagógica e eles próprios consideram que estão um bocadinho a margem ou
tem considerado ao longo do tempo que estão um bocadinho a margem daquilo que é
um tema de vida e que deve de ser da exclusiva responsabilidade das áreas de
competência chave, mas eu penso que nos últimos tempos a partilha têm sido feita e
eles têm percebido que de facto também são parte integrante nesse processo e têm
contribuído.
Entrevistador – O Frederico está-se a referir a este curso concreto?
Entrevistado – Estou-me a referir não só a este curso em concreto, aquilo que têm sido
a minha experiência, quer que me refira só, só a este?
Entrevistador – Não, não.
Entrevistado – Eu estou-lhe a falar no geral.
Entrevistador – Aproveitava para perguntar no caso particular aqui desde curso?
Entrevistado – Neste caso em particular, os formadores da profissionalizante, que
foram muitos e muitos deles não tinham experiência ainda em cursos EFA, mas eu
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penso que foram, desde o início foram-se integrando relativamente bem e contribuindo
também para as tarefas no desenvolvimento do tema de vida.
Entrevistador – Qual é o seu posicionamento face a esse currículo integrado em
torno dos temas de vida? Qual é a sua opinião pessoal sobre essa forma de
trabalho?
Entrevistado – Eu penso que é muito positiva, é um trabalho conjunto para um fim
comum, e vejo isto com muito bons olhos, muito sinceramente.
Entrevistador – Alguma dificuldade que costuma surgir?
Entrevistado – Não.
Entrevistador – Costuma planificar temas de vida?
Entrevistado – Sim.
Entrevistador – Pode-me dizer como é que isso costuma acontecer?
Entrevistado – Por norma depois dessa reunião de equipa pedagógica, aquilo que eu
estou habituado, a metodologia a que estou habituado a ver utilizar e a utilizar é de facto
depois da reunião da equipa pedagógica fazer circular por email uma grelha da
planificação do tema de vida em que cada um vai, em que cada formador vai mencionar
as actividades e critérios de evidência a trabalhar, que já foram previamente
estabelecidas na reunião e enriquecer entretanto mais alguma coisa que tenha, surgido
da reflexão que fez.
Entrevistador – Como é que costuma surgir os temas de vida?
Entrevistado – Bom, o primeiro tema de vida por norma é quase imposto pela entidade,
pela mediadora, digamos assim, porque este é um sistema novo para os adultos que o
frequentam, por mais que, que sejam esclarecidos do funcionamento do curso EFA
inicialmente é lhes muito difícil, portanto o primeiro tema de vida, mesmo que seja uma
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sugestão acaba por ser logo a sugestão aceite pelos adultos, para ser trabalhada, a partir
do momento em que eles percebem, interiorizam aliás, a forma de trabalhar, os temas de
vida seguintes são de facto escolhidos pelos adultos e faz-se um levantamento, peço
desculpa, faz-se um levantamento de algumas hipóteses e a partir dai, seleccionam uma.
Entrevistador – Quando surge depois, a partir dai é que surge a reunião de…
Entrevistado – Da equipa pedagógica para poder ser planificada.
Entrevistador – E nestas reuniões como é que costuma, como é que esse processo
costuma acontecer?
Entrevistado – Ora bem, o tema de vida é mencionado, é dito pela mediadora por
norma ou pela formadora de cidadania, é normalmente quem tem o papel mais activo
nesse aspecto e a partir do tema de vida e daquilo que já foi conversado com os adultos
sobre o que será o produto final, o que se espera fazer, cada um dos formadores tenta na
sua área de competência chave, arranjar estratégias e contributos e articular esses
contributos possíveis com outros colegas.
Entrevistador – Os seus colegas formadores costumam aderir a reunião de
planificação ou sente que há dificuldades em mobilizar?
Entrevistado – Não, costumam aderir.
Entrevistador – Sim, na sua maioria?
Entrevistado – Sim, na maioria costuma aderir.
Entrevistador – E em termos de planificação se alguma coisa é comprida na
prática como é que sente isso?
Entrevistado – Sim, eu de facto sinto que é cumprida.
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Entrevistador – Em relação ao trabalho pedagógico em torno da evidenciação da
validação de competências dos formandos, como é que esse trabalho se processa,
no seu caso como formador de Matemática para a Vida?
Entrevistado – Bom, eu trabalho muito com materiais escritos e de facto, não é difícil,
acabar por ver e as evidências por parte dos adultos, portanto, é feita inicialmente uma
contextualização do critério que se pretende trabalhar, é feita uma explicação, são feitos
alguns exemplos, depois parte-se, costumo partir para a parte da aplicação e
consolidação, do conteúdo, digamos assim, que foi exposto e por norma funciona
relativamente bem, acaba por ser, relativamente fácil evidenciar critérios.
Entrevistador – Sente alguma dificuldade nesse trabalho de levantamento de
indícios e de evidências de competências?
Entrevistado – Não, sinceramente não sinto.
Entrevistador – E dos seus colegas de formação, há alguém, recorda-se de alguém
que levante alguma dificuldade a esse nível nas outras áreas?
Entrevistado – Sim, por vezes há colegas que comentam que de facto em um ou outro
adulto é difícil, não, não pela evidência propriamente dita ou pelo critério propriamente
dito, mas muitas vezes pela falta de trabalho das pessoas e da falta de empenho ou
desmotivação ou porque é uma área que de facto não lhes diz grande coisa, mais nesse
sentido, não porque o critério seja complicado de fazer evidenciar aos adultos.
Entrevistador – Em termos pedagógicos, no seu caso costuma fazer mais um
trabalho com o grupo mais a nível individualizado, como é que costuma gerir
essa…
Entrevistado – Costumo fazer um trabalho mais individualizado, muito embora haja
sempre momentos também de trabalho em grupo, mas essencialmente o trabalho é
individualizado. Como lhe disse trabalho com muito material escrito que eles fazem
com, individualmente.
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Entrevistador – Sente alguma dificuldade de fazer essa gestão e trabalho mais
individualizado?
Entrevistado – Não, não.
Entrevistador – Em relação aos princípios que na sua opinião devem de orientar o
trabalho pedagógico dos formadores num curso EFA, quais são os princípios na
opinião do Fernando que deveria orientar…
Entrevistado – Bom, a gente não pode, quando planificamos por exemplo um tema de
vida, temos que ter obviamente sempre em conta aquilo que é o referencial de
competência-chave e o seu conteúdo a e a par do referencial tem que haver sempre, uma
postura de abertura de flexibilidade de, não sei mais o que lhe dizer, muito
sinceramente, portanto temos, temos que ter de facto uma paciência e uma insistência
junto dos adultos que têm que ser referência, porque, se há uma determinada postura
demasiado rígida os adultos reagem mal, portanto têm que haver alguma abertura
alguma persistência, alguma tolerância para que as coisas funcionem bem.
Entrevistador – Em relação à aplicação dos princípios a orientadores do modelo
dos cursos EFA, sente alguma dificuldade na aplicação prática desses princípios no
modelo EFA a e como é que isso passa com os seus colegas aqui na formação?
Entrevistado – Sinceramente eu não sinto dificuldades na aplicação dos princípios do
modelo e creio que é um, é a minha opinião, creio que é um sentimento generalizado,
não creio que haja dificuldades na aplicação.
Entrevistador – O Fernando já explorou um pouco a esta questão, vou explorar
um bocadinho melhor, que competências é que considera essenciais para exercer a
sua actividade, como formador, nos cursos EFA?
Entrevistado – Como lhe disse, as características fundamentais na minha opinião são
de facto ter muita paciência, ter conhecimentos científicos como é óbvio nas áreas de
competência que leccionam, ser muito persistente, ser tolerante, agir de forma única,
não ter diferentes comportamentos, de, portanto, como explicar, não ter diferentes
95
posturas face a atitudes semelhantes, temos que ter, temos que nos pautar por ter uma
linha única, porque senão é sempre um pretexto para daquela vez agiu assim agora já
não está a agir e isso gera logo muito conflito, mas essencialmente é isso, é preciso
estabelecer uma relação de confiança com os adultos para que possamos ser respeitados
e aceites.
Entrevistador – Sobre os formandos ia pedir que me descrevesse um pouco o perfil
dos formandos que frequentam este curso EFA.
Entrevistado – Este curso EFA, bom, por norma os cursos EFA são grupos de pessoas,
grupos muito heterogéneos e este não é excepção, este curso EFA é composto
essencialmente por elementos do sexo feminino, entre parêntesis, o que geralmente é
muito complicado de gerir, e é composto por pessoas desde a faixa etária dos vinte,
vinte e cinco até aos cinquenta anos e por norma os cursos EFA que eu tenho, em que
eu tenho leccionado são sempre grupos muito heterogéneos quer em termos de faixa
etária quer em termos de conhecimentos por parte dos adultos.
Entrevistador – E ao nível do empenhamento dos formandos face a formação a
consta algumas diferenças?
Entrevistado – De curso para curso ou de pessoa para pessoa, neste curso?
Entrevistador – De pessoa para pessoa.
Entrevistado – Neste curso de pessoa para pessoa, há sempre adultos que têm mais brio
naquilo que fazem consequentemente mais empenho e outros menos, mas eu não posso
dizer que tenho alguém que não se empenhe, felizmente, mas tenho pessoas muito
empenhadas a trabalhar neste curso EFA.
Entrevistador – E em relação a aprendizagem como é que têm sido o desempenho
dos formandos ou das formandas?
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Entrevistado – No geral satisfatório e com algumas excepções, em que o
aproveitamento tem sido muito satisfatório, aproveitamento não, não sei se será o termo
correcto, mas em que o desempenho é de facto muito satisfatório.
Entrevistador – Estou-me a lembrar ainda há pouco o Fernando estava a dizer que
os cursos EFA, um dos motivos que podiam não continuar, poderia dever-se ao
facto de os formandos virem para a formação por causa do…
Entrevistado – Da bolsa?
Entrevistador – Do rendimento…
Entrevistado – Sim, sim
Entrevistador – Sente isso?
Entrevistado – Há situações, há situações em que sim isso é notório, as pessoas estão
porque têm aquela compensação no final do mês, ou melhor, estão porque se não
estiverem não têm essa compensação, acontece.
Entrevistador – E em relação ao perfil dos adultos que frequentam os cursos EFA,
sente que esse perfil influência, pode influenciar o funcionamento do trabalho
pedagógico dos formadores?
Entrevistado – Sem dúvida, todo o trabalho pedagógico é feito em função dos adultos
que temos à frente, digamos assim e considera-se também o perfil deles, portanto temos
que orientar o nosso trabalho em função do perfil, também, e claro que influencia.
Entrevistador – Ainda sobre uma questão que abordou ainda há pouco, a questão
de, estava-me a dizer que, como são grupos femininos, isso pode ter algumas
particularidades.
Entrevistado – Exactamente.
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Entrevistador – Pode-me explicar um pouco melhor?
Entrevistado – Bom eu não sei se isto têm alguma justificação científica, mas de facto
quando o grupo é maioritariamente feminino é mais propício a que ocorram conflitos,
os conflitos são mais evidentes, os conflitos ocorrem mais vezes, sinceramente não
consigo explicar porquê mas de facto nos grupos em que há mais elementos masculinos
é menos frequente isso acontecer, ou pelo menos é menos expressivo, são menos
expressivos esses conflitos.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta que era se, se havia conflitos no espaço
da formação?
Entrevistado – Ocorrem sempre, muitas vezes resolvem-se na hora, mas eu não creio
que possa dizer que tenha leccionado nalgum curso EFA não tenha havido algum
conflito, eu penso que isso é, se dissesse isso mentiria.
Entrevistador – E lembra-se de alguma situação específica que possa ter ocorrido?
Entrevistado – Há bem pouco tempo neste curso EFA ocorreu a primeira e única,
único, primeiro e único episódio ao longo da minha sessão, das minhas sessões de
matemática para a vida em que duas adultas de facto começaram, num desentendimento
verbal a e foi complicado de gerir, acabou em bem, mas foi uma situação dessas em que
explodiram e no final do curso, é mais propicio a que isso aconteça, porque as pessoas
começam a estar já um bocadinho cansadas, também são menos tolerantes entre elas e
estão a ver a luz ao fim do túnel, estão a ver a formação prática em contexto de trabalho
a chegar e então qualquer coisinha acaba por ser pretexto para explodir.
Entrevistador – No seu caso considera que todos os formandos evidenciaram as
competências em relação ao curso, nas diferencias áreas de competência a nível
requerido para um B3?
Entrevistado – Bem, eu posso-lhe falar nas áreas, na área de competência de
Matemática para a Vida, a nível do B3, todos eles evidenciaram, evidências, critérios
peço desculpa, para que todas as unidades sejam validadas, uns evidenciaram
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logicamente mais do que outros, mas todos reúnem as condições mínimas para serem
validados na área de Matemática em B3.
Entrevistador – Quando diz que uns evidenciaram mais que outros como é que
isso?
Entrevistado – Como é que isso se processa na prática? É um exemplo muito simples é
proposta uma determinada actividade em que se pretende trabalhar, um critério x, e há
de facto adultos que evidenciam esse critério que, que se pretendia, que se pretende ver
evidenciado e há outros que vão mais além, a por uma questão de iniciativa, de
curiosidade, acabam por fazer mais alguma coisa, colocar mais alguma pergunta, com a
ajuda do formador vão mais além e acabam por evidenciar eventualmente um ou outro
critério mais.
Entrevistador – Em relação ao trabalho com os seus colegas dos cursos EFA como
é que acontece esse trabalho com os seus colegas da formação?
Entrevistado – Não sei se percebi
Entrevistador – Considera que é um trabalho, partilhado, um trabalho mais de
forma individualizada?
Entrevistado – Bom, o momento de partilha é de facto esse em que se reúne a equipa
pedagógica, aí sim, há de facto muita partilha, muita troca de ideias, muita reflexão,
para além desses momentos o trabalho passa a ser de facto individualizado, se bem que
há um ou outro momento em que, sem ser formalmente, portanto sem ser em reunião
pedagógica eu possa trocar opiniões e experiências com um ou outro colega, mas em
equipa pedagógica de facto trabalha-se forma partilhada, tirando isso, esse momento,
não, de forma individualizada.
Entrevistador – Portanto com que frequência é que a os colegas costumam- se
encontrar?
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Entrevistado – Eu não lhe quero mentir mas neste curso EFA penso que foi de dois em
dois meses a e sempre que se justifique a equipa reúne.
Entrevistador – Portanto são esses de dois em dois meses as reuniões de
planificação, não é?
Entrevistado – Não propriamente, portanto eu estou se a memória não me trai, este
último tema de vida, desde que inicio até que acabou o produto foi cerca de três meses e
meio e a ultima reunião que foi feita, foi feita de facto no início do tema de vida, em que
foi feito o balanço do tema anterior e a planificação do actual a e há cerca de quinze dias
foi feita uma nova reunião, que nada tem a ver com a planificação ou outro decorrer em
que propriamente dito, não se que justificou a reunião embora se tenha tratado também
desse assunto, mas porque havia necessidade de reunir, de ver algumas questões que
estavam, inerentes ao curso e reunimos também.
Entrevistador – Está satisfeito com a forma como decorre esse trabalho com os
colegas de formação?
Entrevistado – Sim
Entrevistador – E há alguns aspectos desse trabalho de formação com colegas no
âmbito da equipa pedagógica que acha que seria benéfico melhorar nalguma coisa
que ocorra?
Entrevistado – Bom, sempre que há um trabalho partilhado, esse trabalho é uma maisvalia para a planificação do tema de vida e do trabalho da equipa pedagógica,
eventualmente seria na minha opinião, enriquecedora haver mais momentos desses, mas
o que acontece é que de facto a, a maioria dos formadores não é formador de profissão,
como lhe disse, e todos esses momentos que reunimos, também são momentos não
renumerados às vezes torna-se complicado a abandonar a nossa profissão para vir
reunir, é complicado e às vezes impossível, vir reunir porque seria uma mais-valia,
portanto se o motivo de facto não, se não houver um motivo muito valido para que a
equipa reúna, por norma não reúne.
100
Entrevistador – Sente diferenças na sua experiência quer neste curso, quer
noutros, como esteve a dizer, sente diferenças no empenhamento do trabalho dos
colegas para pôr em prática o modelo EFA? E como é que isso pode manifestar?
Entrevistado – Eu penso que isso é uma filosofia, da entidade, é, passa muito pelo
mediador do curso, logo à partida e pelo coordenador e depois a é uma filosofia própria
da entidade a há entidades que de facto têm uma visão mais profissional das coisas e
incutem-na a quem trabalha com eles e há outros que são um bocadinho mais liberais,
não, não gostaria de disser menos profissionais, mas são um bocadinho mais liberais, e
aí da azo a que de facto o trabalho seja mais individualizado e mais desprendido.
Entrevistador – E quando diz desprendido?
Entrevistado – Cada um trabalha por si, não há tanta partilha entre a equipa
pedagógica, cada um faz o seu trabalho e depois no fim, cada um dá a sua sentença,
digamos assim, não há um trabalho partilhado, se houver, se tiver que haver
responsabilidades, em algum aspecto menos positivo, sinceramente, todos a terão,
porque ninguém trabalhou de forma partilhada.
Entrevistador – E em relação à entidade formadora, neste caso a APD, que tipo de
relação têm com a entidade?
Entrevistado – Eu mantenho uma relação boa, já trabalho com a APD há alguns anos,
também em cursos de educação e formação de adultos, considero bom.
Entrevistador – E vê-se como trabalhador da entidade?
Entrevistado – Tentamos vestir sempre a camisola da entidade para a qual trabalhamos
a sim, a minha resposta é sim.
Entrevistador – Portanto tinha uma pergunta nesse sentido, se, se identifica com a
forma como a entidade perspectiva a formação EFA?
Entrevistado – Sim
101
Entrevistador – Alguma coisa que lhe ocorra quando?
Entrevistado – Não, eles perspectivam formação EFA de forma igual à minha, são
rigorosos, são exigentes, fazem, o que se faz faz-se bem, portanto, identifico-me.
Entrevistador – Sente-se reconhecido pela entidade do trabalho que desempenha?
Entrevistado – Como lhe disse há momentos, o facto de uma entidade voltar a
convocar um formador numa nova acção, eu entendo isso como reconhecimento do
trabalho que foi desenvolvido antes e como isto têm acontecido na In Loco, sim, sintome reconhecido.
Entrevistador – Ok, tinha aqui algumas questões sobre a diferença como se pode
trabalhar ou não, nas diferentes entidades, nas diferentes organizações que, que
promovem formação EFA e a questão é se na opinião do Fernando, os cursos EFA
funcionam de forma diferente consoante as entidades onde elas acontecem?
Entrevistado – Sim, funcionam, como lhe disse há pouco, tem a ver com a filosofia da
própria entidade, mas funcionam de forma diferente, num aspecto mais, mais humano,
em termos de procedimento, portanto as regras são cumpridas em todas elas, pelo
menos em todas as entidades por tenho passado, o modelo não é alterado, mas de facto
no aspecto humano, as coisas funcionam de forma diferente e consequentemente o
trabalho, também progride de forma diferente, não sei se me faço entender…
Entrevistador – Quando, se está aí a referir ao aspecto humano?
Entrevistado – Entre o mediador e formandos, e entre mediador e restantes elementos
da equipa pedagógica, portanto há situações em que o mediador é de facto mais
próximo, e eu penso que é um factor importante e de sucesso, quando há uma maior
proximidade junto das duas partes e há outras entidades para as quais eu já trabalhei em
que há, há um distanciamento demasiado e as coisas funcionam menos bem, porque há
um distanciamento e então não se partilham alguns momentos, alguns constrangimentos
que possam ocorrer, que podem gerar depois situações mais complicadas por exemplo.
102
Entrevistador – Em relação ao recrutamento dos formandos acha que esse
recrutamento pode deferir de entidades para entidades?
Entrevistado – Sim, eu penso que pode deferir, se me pergunta como, eu penso que
isso é os critérios provavelmente serão feitos em função de dois aspectos essenciais,
primeiro o tipo de, o perfil de saída de curso EFA, poderá com certeza ajustar-se o perfil
dos formandos aquilo que é esperado deles no final da formação e segundo eu penso
que é muito condicionado com a procura dos formandos pelo curso, portanto se houver
poucos, poucas inscrições, a selecção será com certeza muito condicionada, portanto
penso que se houver muitos, muitas inscrições aí sim, poderá funcionar melhor o
recrutamento.
Entrevistador – Em relação ao trabalho pedagógico dos formadores, será diferente
trabalhar na APD no IEFP ou numa escola?
Entrevistado – Sim é diferente, sim, essencialmente pela questão de proximidade,
como eu lhe digo e a filosofia da entidade.
Entrevistador – E em termos da avaliação, como é que ela, como é que ela foi feita
aqui, no seu caso?
Entrevistado – No final de cada tema de vida é feito, um, é feito e apresentado aos
formandos uma grelha de avaliação do tema de vida individualmente e eles depois de
ouvidos, concordam ou não, no caso de concordarem de facto assinam a ficha de
avaliação que é feita pelo formador.
Entrevistador – E em relação, nas outras entidades a avaliação pensa que se pode
fazer de forma diferente?
Entrevistado – Eu de facto, tenho, da minha experiência tenho visto esta forma de agir
é igual para todas, todas elas têm agido desta forma.
103
Entrevistador – Estava aqui numa pergunta, que de certa forma já falou disso
também, que é o trabalho do mediador, se, se pode diferir nas diferentes
entidades?
Entrevistado – Sim.
Entrevistador – E se considera que, que é importante esse trabalho do mediador
no curso EFA?
Entrevistado – Difere com certeza, muitas vezes difere, tendo em conta aquilo que a
sua formação académica, eu penso que isso é fundamental, e a segunda pergunta era,
desculpe?
Entrevistador – Era, era se é importante esse trabalho do mediador no curso EFA?
Entrevistado – É essencialmente, fundamental, a questão da gestão de conflitos, passa
sempre pelo mediador, por exemplo e haverá outros aspectos, como lhe disse, muitos
dos adultos estão no curso porque há uma compensação financeira e é sempre momento
de algum constrangimento quando chega aquele dia do mês, que era suposto eles terem
recebido a bolsa e não receberam, portanto, aí a acção do mediador, têm que ser
imediata e é sempre necessária e depois na gestão de conflitos com, na questão da
angariação de entidades de estágio, portanto o trabalho do mediador é fundamental.
Entrevistador – Tinha aqui um conjunto de questões, em relação à Iniciativa
Novas Oportunidades, qual é a sua opinião em relação à Iniciativa Novas
Oportunidades?
Entrevistado – Muito positiva, é de facto, vejo com muito bons olhos, penso que
poderá melhorar, penso que melhoria se, por parte da Agência Nacional da Qualificação
houvesse uma maior proximidade, um acompanhamento mais, mais in loco, digamos
assim, mas vejo com muito bons olhos.
Entrevistador – Os seus colegas costumam falar sobre isso, houve alguns
comentários em relação a essa questão?
104
Entrevistado – Sabe, eu acho que ainda há muita, ainda se faz muita distinção entre
Iniciativa de Novas Oportunidades e curso EFA ou iniciativa, associa-se muito a
Iniciativa Novas Oportunidades ao Centro Novas Oportunidades, pronto, eu penso que
essa é ainda a ideia generalizada de forma que ninguém comenta muito, para a maioria
das pessoas, eu penso que a iniciativa é uma coisa os cursos EFA são outra, não, fazem
parte da iniciativa.
Entrevistador – Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na
vida dos adultos formandos?
Entrevistado – Tem, sem dúvida, se pensar nos cursos EFA nesse tipo de, de parte
integrante da iniciativa é de facto muito gratificante ver as mudanças que muitas vezes
ocorrem, pessoas que eram a introvertidas, que não conheciam, não tinham grande
conhecimento de vida, acabam por de facto tornar-se mais sociáveis, arranjarem
emprego, viverem uma vida com mais qualidade, portanto, eu penso que é fundamental,
a nível da valorização pessoal e da procura de emprego essencialmente.
Entrevistador – Tenho aqui uma questão, gostava de ouvir o Fernando, que é, o
que acha da opinião de que a Iniciativa Novas Oportunidades promove o
facilitismo? Costuma, portanto ouve este discurso? Como é que se posiciona?
Entrevistado – Esse é um tema polémico, bom, eu penso que depende de quem
promove as acções da iniciativa, de facto tenho tido a sorte de as entidades para as quais
eu tenho trabalhado não terem essa postura do facilitismo, portanto eu não concordo
com ela, da minha experiência, de facto não são condições, são condições diferentes de
quem, de quem frequenta três anos pelo menos para obter o 9º ano no ciclo, do 3º ciclo
para obter o 9º ano ou seis anos para obter o 9º ano e é de facto, são de facto condições
diferentes, de quem frequenta os doze anos de escolaridade para obter o 12º ano, mas
também temos que pensar que são pessoas com percursos de vida, que actualmente não
lhes permitem conseguir a qualificação escolar de outra forma, portanto, se, não, não
acho que haja facilitismo, acho que as regras tem sido cumpridas e concordo com elas.
Entrevistador – Há alguma coisa que lhe ocorra que poderia ser melhorado na
Iniciativa? Ainda há pouco estava a falar da questão da proximidade…
105
Entrevistado – Eu penso que, que eu posso parecer demasiado materialista e, mas de
facto não o sou eu penso que aquilo que poderia melhorar é de facto a gestão financeira
desta iniciativa porque pode, volto a dizer, pode parecer materialismo da minha parte,
mas de facto causa, é provavelmente o que causa mais constrangimentos na prática,
porque lidamos com adultos a porque os adultos têm compromissos estabelecidos,
financeiros também, porque não se, somos seres humanos e acabam por não saber
separar as coisas, portanto quando alguma coisa financeira que tenha aspectos
financeiros corre mal, acaba por afectar todo o trabalho, acaba por afectar a postura do
formando, acaba por afectar o trabalho do formador e todo o grupo de formandos
também, eu penso que uma, uma gestão a outro nível por parte das entidades e do
programa, não sei, poderia de facto, valorizar a iniciativa e o trabalho dos cursos EFA.
Entrevistador – E, e sobre os cursos EFA especificamente, agora não tanto sobre a
iniciativa mas mais os especifico sobre os cursos EFA, qual é a sua opinião sobre os
cursos EFA?
Entrevistado – Como lhe disse, eu gosto muito de trabalhar com adultos e eu tenho
muito boa opinião sobre os cursos EFA, são uma mais-valia de facto, porque para além
da qualificação escolar eles têm oportunidade de serem integrados no mercado de
trabalho, é verdade que uns ficam no mercado, apenas no período de estágio, mas
também é verdade que há historias de sucesso e acabam por ficarem empregados nos
locais em que são colocados a estagiar ou noutros, mas na área, portanto eu vejo, eu
concordo com, com os cursos EFA e sou completamente defensor.
Entrevistador – E o que é que o Fernando acha que podia ser melhorado? No
funcionamento dos cursos EFA?
Entrevistado – No funcionamento dos cursos EFA, sinceramente não me ocorre nada.
Entrevistador – Em relação ao curso, que agora está, está a terminar, qual é o
balanço que faz do curso EFA que aqui decorreu na APD?
Entrevistado – Muito positivo, muito positivo.
106
Entrevistador – Ou seja, se tivesse oportunidade de voltar a trabalhar num
dispositivo deste tipo?
Entrevistado – Voltaria com certeza.
Entrevistador – Ok, pronto, chegamos ao fim, eu agradeço-lhe bastante.
6. Entrevista 3 – D.G. – Formador da área de competência-chave de Cidadania e
Empregabilidade num curso EFA na Associação para a Democracia.
Entrevistador – Começava por perguntar as tuas habilitações literárias?
Entrevistada – Licenciatura em sociologia.
Entrevistador – E qual é a tua profissão?
Entrevistada – Neste momento sou formadora, não só do Centro Novas Oportunidades
mas também formadora em cursos EFA quer no nível Secundário, quer no nível Básico,
portanto no nível Básico, formação na área da Cidadania e Empregabilidade, no
Secundário, na área de Cidadania e Profissionalidade.
Entrevistador – E nesses cursos que estás a trabalhar, é tudo aquilo na
Associação?
Entrevistada – Não, na Associação para a Democracia foram dois EFA básicos, um
deles está a terminar neste momento, mas no primeiro EFA que fiz aqui, também era
mediadora do curso, era não só mediadora, como também era formadora, no nível
Secundário EFA, essencialmente na entidade NERA, na área da Cidadania e
Profissionalidade, mas ai só mesmo formação, só mesmo como formadora dessa área.
Entrevistador – E esse curso já terminou?
107
Entrevistada – Este terminou o mês passado, portanto estamos, já dei dois cursos a
nível Secundário no NERA, um de Higiene e Segurança, de Técnicos de Higiene e
Segurança no Trabalho e este último é de Técnicos de Gestão, TAG.
Entrevistador – Portanto ambos cursos EFA?
Entrevistada – Sim, EFA Secundário e também já dei um EFA Básico no NERA e dois
aqui na In Loco, nestes últimos anos, mas também a minha experiência a nível de cursos
EFA têm sido noutras entidades, na ASMAL, na ANJAF, a, no Centro de Emprego de
Faro, pronto foram essas as entidades que, Básicos, nestes foram só Básicos, Secundário
só mesmo no NERA.
Entrevistador – E exerces mais alguma função na organização onde trabalhas?
Entrevistada – Sim, na Associação para a Democracia, também sou formadora do
RVCC do Centro Novas Oportunidades, o RVCC, na área de Cidadania e
Empregabilidade.
Entrevistador – E neste momento trabalhas em mais para mais alguma
organização?
Entrevistada – Não, terminei o NERA agora, portanto…
Entrevistador – Ok, portanto ia-te pedir queria tentar perceber um pouco melhor
a tua trajectória profissional e que me descrevesses a trajectória profissional desde
que começaste a trabalhar.
Entrevistada – Nestas áreas, após o curso, após o curso de sociologia?
Entrevistador – Sim, sim.
Entrevistada – Após o curso de sociologia, fui trabalhar para um projecto que se
chamava “A Par e Passo” que nesta altura que fui trabalhar para a EXISTIR para a
associação EXISTIR em Loulé, que tinha uma parceria com a associação In Loco. O
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projecto “A Par e Passo” tinha como objectivo, a integração de públicos com
problemáticas desde a deficiência mental, a doença mental, deficiência motora e mental,
jovens à procura do 1º emprego e a mulheres desempregadas de longa duração,
portanto, este projecto “A Par e Passo” foi no âmbito do EQUAL, foi um projecto que
foi desenvolvido por uma parceria constituída pela In Loco, EXISTIR, ASMAL,
Câmara Municipal de São Brás e a Associação dos Corticeiros; organizou-se, das várias
actividades que houve no projecto uma delas era, a formação em Desenvolvimento
Pessoal e Social e eu como trabalhava na EXISTIR fiquei com o grupo, que fazia parte
do público da EXISTIR que eram pessoas, que são pessoas com deficiência, neste caso
era só mesmo deficiência motora, não muito profunda, não muito grave, porque eram
pessoas que tinham alguma mobilidade e depois houve este período de formação e
depois houve também a prática em contexto de trabalho durante algum período e tentouse a integração de algumas delas, cada um, portanto a EXISTIR, eu que estava pela
EXISTIR trabalhava com este público. A APD trabalhava com as mulheres
desempregadas de longa duração. A ASMAL trabalhava com os doentes mentais e a
Câmara Municipal trabalhava com os jovens, havia portanto uma divisão nessa parceria,
a depois desse projecto o projecto terminou, a APD iniciou aqui um curso EFA, foi o
primeiro curso EFA da APD, e eu fiquei então como mediadora e formadora durante um
ano e pouco, depois de terminar esse projecto, surgiu outro projecto que era o “São Brás
Solidário”, eu ainda fiz parte da primeira fase do projecto “São Brás Solidário”, no
entanto depois a necessidade de uma pessoa no Centro das Novas Oportunidades, no
RVCC e passei para, eu para RVCC, no primeiro momento estive como profissional,
depois passei para formadora a nível Básico, porque na altura ainda não havia o
Secundário, quando o Secundário iniciou, portanto RVCC Secundário, eu passei então
para a para o nível Secundário e pronto dou algum apoio que é necessário, há uma certa
polivalência também, se for necessário fazer outros tipos de, desempenhar outro tipo de
funções dentro do Centro Novas Oportunidades, também o faço, e entretanto no meio
disto foi acontecendo alguns cursos EFA para essas entidades que eu já mencionei.
Entrevistador – Como é a vida de um formador que faz a sua actividade nos cursos
EFA, se te perguntasse isto assim?
Entrevistada – Por muito que eu às vezes reclame e deves ter visto que ali na
apresentação do tema de vida que elas fizeram algumas observações a meu respeito, que
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eu chego e dou murros e dou uns berros, por muito que, que às vezes me irrite com os
grupos, porque, também não são grupos fáceis, dá-me muito prazer, eu dá-me, eu muito
honestamente, dá-me mais prazer dar formação a grupos EFA do que propriamente a
formação do RVCC Secundário, porque sente-se que há pessoas, não são todos, se
calhar metade num grupo, mas há pessoas que aproveitam muito daquilo que lhes é
passado e mais do que estar ali com muitas questões teóricas a nível do, tentando
obedecer aquilo que o referencial realmente diz e pede, eu tento obedecer, sim, seguir
um pouco, seguir dentro do possível o referencial mas também tento passar à minha
maneira e da minha maneira de ver a vida, algumas coisas a e sobretudo canalizá-los,
como eles já são pessoas adultas com filhos, muitas vezes são vidas muito, muito
complicadas, tento sobretudo passar a mensagem que eles devem de investir nos filhos
deles, por exemplo às vezes a gente esta a fazer, peço para eles fazerem um trabalho,
preocupo-me em ensinar a dizer-lhe como é que se faz uma introdução, como é que se
faz o trabalho, como é que se faz a conclusão, que se deve fazer um índice e depois
digo-lhes sempre não se esqueçam de que vocês aos vossos filhos devem de ensinar a
fazer um trabalho escolar assim, porque é sempre uma mais-valia para eles aprenderem,
tento que aquilo não seja só um momento de formação, de passagem de conhecimentos
e conteúdos, mas também que eles aproveitem alguma daquelas coisas para poderem
ajudar mais os filhos, porque a gente sabe perfeitamente que os miúdos na escola a,
aliás isto é a minha opinião, mas que embora a escola seja igualdade de oportunidades e
a escola é igual para todos, a gente sabe que não é assim, e portanto há que dar aos
miúdos instrumentos para que eles consigam avançar, e eu tento fazer muito isto com
eles, não só na altura da formação para eles próprios mas também para que fique
qualquer coisa, eu gosto por exemplo muito mais que estar a ler livros porque é um
público que a nível teórico é muito complicado aguentar a três horas numa sala, aliás, eu
vejo por mim, estou três horas numa formação e já estou incomodada, portanto sete
horas nos cursos EFA diariamente durante catorze meses é muito difícil, é, tenho que
me pôr no lugar deles, portanto é difícil e a solução passa muito também pela parte
prática dos trabalhos, portanto, eu passo muitos filmes, filmes que eu considero que
transmitem mensagens e peço para que eles façam reflexão daqueles filmes que vêem e
realmente depois, é engraçado porque quando se lêem essas reflexões, dentro do
possível que as pessoas conseguem fazer, há sempre qualquer coisa que fica, percebe-se
que há qualquer coisa que fica, pelo menos eles percebem que eu já tinha visto este
filme, mas nunca tinha visto desta forma e realmente, um exemplo é aquele filme
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“Favores em Cadeia” que eu dou muito na área da cidadania, porque a gente tem a
mania de dizer, há a gente não consegue mudar o mundo, não, se todos fizermos um
bocadinho a gente consegue mudar e passo muito esse filme, realmente às vezes eles
dizem, pois é, realmente é verdade, se a gente, eu já tinha visto este filme mas agora
estou a ver isto com outros olhos, realmente se a gente fazer um bocadinho, não é
preciso muito, é um bocadinho, se todos fizerem, a gente muda alguma coisa, portanto
eu passo mais para as coisas práticas do que propriamente por trabalhos ou por fichas ou
por testes ou pronto, os testes não entram nos EFA, não é, pelo menos nas áreas de
competência chave, mas mais do que isso é pensar, é o pensar sobre as coisas.
Entrevistador – Falaste ainda há pouco da questão que fizeram a referência aos
berros, que é difícil este curso, queres tentar explicar um bocadinho melhor?
Entrevistada – Porque, quando eles fazem, é assim eu nunca, a nível destes cursos já
sei, tenho sabido histórias em que as coisas às vezes se complicam, eu nunca tive
problemas nenhuns, mas é verdade que eu também quando abro os olhos e prego uns
berros, toda a gente fica mais, ficam mais calmos, no entanto, as nossas divergências, as
minhas e deles, com este grupo também tive algumas, elas são resolvidas ali, a gente
chateia-se e depois, aquilo passa, aliás alguns formandos nunca houve assim problema
nenhum, com um ou outro houve, houve problemas que não são problemas, são aquelas
coisas inerentes à formação, mas aquilo dos murros e dos berros é quando as coisas
começam, depois de eu dizer várias vezes como é que uma coisa deve de ser feita, ou
pelo menos já planificaram como é que vão fazer o trabalho, já decidiram como é que
vão fazer, e aquilo vai-se enrolando e depois há um dia que eu tenho que gritar, quando
eu grito, depois aquilo em dois segundos é feito e é daí que eles dizem um bocado
aquilo e tal mas penso, mas é assim, noto que no final das coisas, eles estão orgulhosos,
como estavam, ficam contentes também pelo apoio que sentiram e eu também me sinto
orgulhosa, porque vejo que há ali de facto um avanço, progrediram, há pessoas que
progridem muito, que avançam muito, depois disto, se eles irão fazer alguma coisa, isso
já é outro assunto, se depois vão conseguir integrar-se no mercado de trabalho, no
manter a assiduidade, porque há pessoas que tem alguma dificuldade com isso e acho
que não é aos quarenta anos que se consegue mudar alguém neste aspecto, não é! Mas
pronto, mas, não sei se respondi.
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Entrevistador – Consideras que ser formador EFA é uma profissão, no teu
entender?
Entrevistada – Eu acho que devia de ser uma profissão, neste momento não é? É assim,
depende das pessoas, eu vou falar por mim, neste momento não é uma profissão só, não,
eu sou formadora, isto é a minha profissão, o EFA é uma vertente dessa profissão, mas
acho que a continuar os cursos EFA, penso que há pouca possibilidade, não é? Só
haverá na escola, a, penso que deveria ser uma profissão, porque isto é a formação EFA
é completamente uma formação da escola, eu, as pessoas para ministrarem o curso EFA,
têm que ter alguma prática de lidar, profissionalizar-se na educação de adultos, por
exemplo, já tenho passado por cursos em que encontrei pessoas que não, formadores,
que não é, não estou aqui a falar mal dos formadores, mas são pessoas que passaram a
vida na escola, depois reformaram-se e decidiram ganhar mais alguma coisa e ir dar um
EFA, e vêm com a metodologia da escola, que não, a meu ver, não resulta, porque é
como eu já disse, são adultos, adultos com poucos hábitos de leitura, com poucos
hábitos de escrever, com poucos hábitos de tudo, neste aspecto a nível escolar e
portanto, quando apanham uma formação que aquilo é escrever e escrever, não resulta,
porque eles ao fim de algum tempo, estão completamente esgotados, porque a vida
deles não tem sido nem ler, nem escrever, tem sido a fazer coisas, ou pelo menos não
fazem coisas, é mais prático e então a profissionalização ou um formador EFA deveria
ser uma profissão, sim, para, no sentido de adquirir estas competências de formação e
educação de adultos, eu acho que nem toda a gente tem perfil, eu não estou aqui a dizer
que sou boa, ah! Eu acho é que toda a gente não tem perfil para ministrar um EFA e
muito menos quando se entra para esta vertente do mandar, do escrever, porque não, eu
no meu ver não resulta, as pessoas, os adultos têm que ter coisas para fazer, e têm que
perceber que aquilo que eles sabem da vida deles servem-lhes para ali e o professor, e
muitas vezes as pessoas que foram professores da escola, não vêem, não são piores, até
acho que são pessoas muito competentes, se calhar não trazem esta ideia, portanto, acho
que a ser profissional de formação, ser um formador profissional EFA traria as suas
vantagens, penso eu.
Entrevistador – Ok, no teu caso, consideras-te profissional da formação?
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Entrevistada – Sim, considero-me, aliás, eu como já disse também eu prefiro a
formação EFA do que RVCC, porque o RVCC no fundo é, sou formadora de Cidadania,
mas não há propriamente sessões de formação, há uma explicação do referencial,
explica-se às pessoas o que é que se pretende, o que é que o referencial pretende que
elas evidenciem, não há propriamente uma formação, digamos, no sentido pleno da
palavra. No EFA há possibilidades de formação, sim e eu prefiro mais porque, pelo
menos tento dar o meu melhor, tento ir buscar o meu melhor e talvez, tento pensar e
depois de falar com eles, de perceber quais são as lacunas que existem e tento colmatar
essas lacunas, com alguns conhecimentos que é aqueles que eu sei, aqueles não sei, vou
a procura deles para tentar transmitir ou pelo menos trazer pessoas às vezes há, por
exemplo não aconteceu aqui, aconteceu em outro lado, eu não tenho qualquer
conhecimento de contabilidade, pronto para mim contabilidade sou um zero à esquerda,
no entanto eu penso que saber preencher um IRS, saber as rubricas que são necessárias
ser preenchidas, as responsabilidades que as pessoas têm neste país, isto também é
cidadania, isto é importante, as percentagens que as pessoas podem, por ai fora, isto é
cidadania, então pedia a um amigo meu que é contabilista que fosse fazer três horas de
formação, e que foi muito engraçado e que foi muito produtivo, porque toda a gente
preencheu os IRS, toda a gente simulou aquela, para além de ele estar a falar, depois
houve uma simulação, toda a gente, aquilo ficou para sempre, não sei, mas no entanto
eu tentei passar essas coisas práticas do dia-a-dia, mais do que, por exemplo a nível dos
cuidados básicos de saúde, eu não, também não é muito a minha área, mas pronto, já
também pedi uma amiga minha enfermeira que fosse falar um bocadinho, noutros
cursos, não tem a ver com este, este agora da APD tinha essas partes, mas há outros
cursos de outras áreas que não têm e tento sempre arranjar alguém que possa ir falar, já
pedi a um amigo meu advogado para ir falar dos direitos dos trabalhadores e dos
contratos e daquelas coisas todas, portanto, dá-me algum prazer, dá-me mais gozo que
isso aconteceu, quando isso acontece.
Entrevistador – Em relação às condições laborais e institucionais de quem trabalha
nos cursos EFA, em relação ao vínculo profissional, condições laborais, como é que
isso se passa, no teu caso?
Entrevistada – No meu caso é na APD tenho um contrato de trabalho, pronto, tenho
um salário mensal, todos os descontos que são devidos e tudo isso. A precariedade só se
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coloca no sentido de estar subjugada, digamos assim, a um projecto que só, que é o
projecto das Novas Oportunidades, quando o projecto acabar, acabou-se; porque
provavelmente a APD, na altura, a APD funciona assim procura sempre manter as
pessoas nos seus postos de trabalho, manter as pessoas na entidade, o projecto acaba, se
houver possibilidade de a pessoa ir para outro projecto, vai. Agora pode acontecer, não
haver projectos aprovados, portanto se não houver projectos aprovados, a situação é
mesmo ter que sair, ter que ir embora. Relativamente ao NERA trabalho com, com
recibos verdes, portanto, também não pode ser de outra forma, a, trabalho com recibos
verdes dentro do normal, que é previsto, que se sabe que acontece nos projectos, é pago
portanto, a renumeração é paga mediante, algum tempo depois do recibo passado, mas a
gente sabe que isso acontece em todo o lado, portanto, não sinto dificuldades nisso,
embora haja, haja pessoas, pessoas que só fazem, só dão cursos EFA realmente devem,
estão numa situação um pouco mais complicada que a minha, não é.
Entrevistador – Ok, alguma vez pensaste em abandonar a tua actividade como
formadora, ocorreu alguma vez no trajecto?
Entrevistada – Às vezes sim, aqueles dias em que me irrito aqui na sala de formação,
chego lá dentro e digo assim, estou farta desta gente, não quero saber mais disto, mas é
naquele dia, no momento, agrada-me, ainda me agrada aquilo que faço.
Entrevistador – E se tivesses outras oportunidades profissionais mudarias de
actividade?
Entrevistada – Eu só mudaria de actividade e só sairia da APD, exactamente por aquilo
que eu já disse, porque há, apesar de ter um contrato de trabalho, há uma precariedade,
porque eu estou ligada a um projecto, e se esse projecto acaba, acaba também o meu
emprego, e também como eu já estou numa idade que já é muito difícil arranjar
emprego, é obvio que se me surgisse uma oportunidade mais segura, embora a gente
também saiba que agora, nem tudo é seguro, nada é seguro, mas mudaria nesse sentido,
porque só, apenas por isso, porque é sempre uma instabilidade viver, o projecto
continua, depois haverá algum projecto, não haverá algum projecto, é só, é só por isso, a
minha mudança só se, neste momento só poderá existir ou acontecer numa situação em
que eu tenha mais garantias, mas exactamente, mas é assim, se eu tivesse vinte e poucos
114
anos, se calhar nem se punha esta questão, a minha questão é só mesmo pela idade,
como tenho quarenta e sete, qualquer dia tenho cinquenta, será muito difícil conseguir
arranjar um emprego, infelizmente, não é? Mas é só mesmo por isso.
Entrevistador – Ok, vou seguir o exemplo que estás a dizer, como é que vês o papel
dos cursos EFA na tua vida profissional futura?
Entrevistada – Hum, como?
Entrevistador – Se tu olhares para a frente, como é que os cursos EFA se podem
enquadrar?
Entrevistada – Ao ver, existir oportunidade de fazer mais, de ser formadora em mais
cursos EFA, está sempre aberta essa possibilidade e como mediadora também porque já
tenho alguma experiência disso, no entanto, tendo em conta o panorama actual, que se
pensa que não, aliás este ano já não houve financiamento para os cursos EFA, sobretudo
para as entidades privadas, não é. Portanto, deve ser muito difícil porque depois de
entrar na escola, isso já não me é permitido, porque eu não tenho habilitação, eu tenho
habilitação própria, suficiente ou própria, nem sei bem a terminologia, mas está os
professores, não é? À minha frente estão os professores todos que estão desempregados,
portanto, se houver oportunidade, sim, aproveito a oportunidade porque também gosto,
mas o panorama que vejo é esse, é que se calhar dificilmente haverá mais cursos EFA
não sei, não faço ideia.
Entrevistador – Sentes te reconhecida no teu trabalho como formadora?
Entrevistada – Sim, mas reconhecida como? A nível da instituição, da entidade?
Entrevistador – Aos vários níveis…
Entrevistada – É assim, essencialmente sinto-me reconhecida pela alegria que eles
ficam depois de acabarem o, sobretudo os trabalhos destes temas de vida, e fico
contente porque participei, consegui participar de alguma forma nesse trabalho e dar
algum apoio, é essa forma, e quando vejo por exemplo, encontro as pessoas muitas
115
vezes, encontro outras pessoas de outros cursos, pelos quais já passei, e estão bem, estão
empregadas e às vezes vem-me dizer assim, ai, lembra-me tanto daquilo que você me
dizia sobre isto ou sobre aquilo, pequenas coisas como estas, fazem com que eu me
sinta reconhecida pelo meu trabalho, ainda há pouco tempo aconteceu-me, encontrei
uma antiga formanda e ela disse-me, ai, você não calcula o que aquilo me ajudou,
exactamente por causa dos trabalhos, o que aquilo me ajudou a fazer os índices e as
introduções e conclusões, porque a minha filha agora anda no 8º ano ou no 9º e tem que
fazer trabalhos da escola, e eu estou sempre a ajudá-la, e pronto, acho que isto, mais do
que estarem a fazer, estar a um papel assinado e com cruzinhas, que essas avaliações
que são feitas depois nos finais das formações, com as cruzinhas não me dizem nada, é
isto que depois, o que eu encontro no dia-a-dia, das pessoas que vou encontrando e ver
as pessoas empregadas e, e às vezes até fico a olhar para, porque tanta gente, não é?
Fico a olhar, então já não se lembra de mim, e eu, ai também, qual era o curso, aonde é
que era, há já sei quem é, pronto, ok, e vejo as pessoas a trabalhar, e fico contente, acho
que isso é o maior reconhecimento.
Entrevistador – E em termos das dificuldades que sentes no teu trabalho como
formadora de educação e formação de adultos, nos cursos EFA, quais são as
maiores dificuldades que tu costumas encontrar?
Entrevistada – Mas a nível da logística, ou de as pessoas…
Entrevistador – A nível do trabalho com…
Entrevistada – Com os adultos, com os formandos? As grandes dificuldades são a falta
de assiduidade que eles têm, a pontualidade, depois entram e lidar com isto é difícil, às
vezes, a desmotivação, muitas vezes que eles também sentem, porque são problemas,
são pessoas com muitos problemas, são pessoas que, algumas vítimas de violência
doméstica, outros vivem financeiramente com muitas dificuldades, eu acho que as
maiores dificuldades, são exactamente ajudar ou pelo menos apoiar, nos problemas que
vão aparecendo todos os dias em relação a cada pessoa, e eu até nisso já tive que mudar
um bocado também, porque eu no início levava estes problemas todos para dormirem
comigo, e não dormia, eu dormia com estes problemas todos e tive que começar a
desligar-me um pouco, porque senão ficava, apanhava uma depressão, mas eu acho que
116
os grandes obstáculos é exactamente a desmotivação, os problemas sociais que estas
pessoas estão envolvidas e depois a gente às vezes não percebe, eles recebem pouco,
recebem aquela bolsa, têm problemas financeiros, mas depois, aparecem com um
telemóvel topo de gama, a uma pessoa até fica assim a olhar, e quer dizer e depois ao
fim de quinze dias já não têm dinheiro para comer e depois, é tudo isto e depois, isto
também se reflecte a nível dos conflitos, que é um, mas eu acho que os conflitos depois
que surgem têm tudo a ver com outras coisas que não é propriamente o facto de estarem
ali, os maiores, um obstáculo grande é os conflitos, é gerir estes conflitos todos que
também às vezes acabam por ser desgastantes, não é? Porque as pessoas de vez
enquanto são uns e depois já é o outro com o outro, há semanas, todas as semanas há
qualquer conflitozinho, porque depois às vezes torna-se desgastante ao fim de muitos
cursos EFA isto começa a desgastar um pouco, mas essencialmente, para mim são estes
os obstáculos, os problemas.
Entrevistador – E quais são os aspectos, gratificantes na tua actividade como
formadora? Já tiveste ainda à pouco a falar.
Entrevistada – Sim, é exactamente ver que as pessoas conseguem com estas
formações, algumas, poucas, infelizmente, são menos, são menos do que aquelas que eu
estaria ou esperaria que fossem, mas é realmente as pessoas conseguirem-se integrar no
mercado de trabalho, é as pessoas, muitas delas, às vezes entram para as sessões, para as
formações em estados depressivos, com depressões ou clinicamente reconhecidas, não
é? E que depois vão melhorando ao longo da formação, a última, as últimas que eu tive,
agora, agora no NERA, impressionou-me a primeira vez que, o primeiro dia de
formação, eu olhei para aquela senhora, nova, quarenta anos, e estávamos a falar do,
quem é que vota, e ela disse-me assim, eu nem tenho cartão de eleitor, digo eu assim, eu
não acredito, você não tem cartão de leitor, não, bom depois eu comecei lá com o meu
discurso todo, das vantagens que, que tínhamos de ter um cartão de eleitor, e votarmos e
aquelas coisas todas, e depois passado da semana seguinte ou na outra, já não me
recordo, vem ela, olhe, é só para lhe disser que já fui tirar o meu cartão de eleitor, que é
para você não, que eu disse assim, quem não tirar o cartão de eleitor até ao final de,
acho que foi isto que eu disse, até ao final do curso eu vou chumbar e ela, ai, mas foi na
brincadeira, e ela depois disse-me assim, já fui tirar o cartão de eleitor para você não me
chumbar e tal e eu disse, pronto então já pode-se considerar, quase passada, e pronto
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mas, é no fundo também a gente perceber que disse, serve para as pessoas para
pensarem nas coisas e fazerem depois qualquer coisa e há assim varias situações deste
tipo de sentir que se muda qualquer coisa, eu tive uma senhora também, são poucos os
exemplos, também é verdade, mas tive uma senhora uma vez, foi o primeiro curso EFA
da In Loco, chegou aqui, começou a chorar, porque não sabia nada, porque tinha levado
a vida toda em casa, porque o marido era muito bom para ela mas ela levou a vida a
cuidar dos filhos, do marido, e não sabia nada, não era capaz de nada, bom, entrou no
grupo. Foi a pessoa que eu vi com uma evolução, quer dizer não foi só obra minha, foi
obra do curso em si, de todos os formadores, foi a pessoa que eu vi com uma evolução,
é pá, extraordinária, ela sai do curso ela já se vestia doutra forma, já tinha outra, outra
abertura, neste momento ela está a trabalhar numa qualquer coisa de turismo rural ali
perto de Santa Margarida e ai há tempos também a encontrei e ela disse-me assim, olhe
se não fosse o inglês que eu aprendi naquele curso, com o professor Luís eu nunca tinha
arranjado este trabalho, digo assim, boa Elsa, assim é que é, Célia, assim é que é Célia,
portanto eu acho que isto é as partes gratificantes, não sei se estou a fugir à questão?
Entrevistador – Não, estás de encontro de aquilo que eu te ia perguntar, em termos
do trabalho curricular em torno dos temas de vida a com os teus colegas de
formação, como é que isso funciona, como é que tem funcionado?
Entrevistada – É assim, normalmente os temas de vida são decididos pelo grupo de
formandos, não é? Depois entre formadores procura-se de alguma forma, criar um
conjunto de actividades, cada um, actividades que permitam responder ao seu
referencial e depois no fundo é participando no tema de vida, como é que eu vou
explicar isto, por exemplo, depois isto é feito uma planificação, todos tem conhecimento
dessa planificação e normalmente há um período tablado para que essas coisas, para que
as coisas aconteçam, por exemplo, neste tema de vida, participei a nível das pesquisas
sobre as técnicas de procura de emprego, o formador de legislação laboral participou
com, a parte da legislação laboral e os contratos de trabalho e por aí fora, normalmente
depois a informática colabora no sentido ou as TIC, ou o formador de TIC colabora no
sentido da formatação dos textos, da colocação de imagens, o último tema de vida eles
fizeram um blogue, foi muito trabalhado, o formador de TIC, realmente ai teve uma
grande participação, mais do que por exemplo eu, eu tive na parte da pesquisa de
terreno, porque eles fizeram um blogue sobre São Brás e história, pronto vários temas, a
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história, a gastronomia, por ai fora, portanto eu estive mais da parte do terreno a tentar a
recolher a informação, depois essa informação foi toda tratada com o professor de
linguagem e comunicação, e depois toda colocada no blogue, mas o blogue foi todo
organizado pelo formador de TIC, portanto a coisa funciona um pouco assim por partes,
mas que se tentam interligar.
Entrevistador – E a articulação da formação base e formação profissionalizante,
esse trabalho dos formadores, como é que isso costuma?
Entrevistada – Eu acho que há uma dificuldade, a parte profissionalizante integrar a
parte académica, porque são pessoas mais práticas, portanto, a parte profissionalizante é
uma parte muito mais pratica, não é? E, e muitas vezes, a não ser que o tema de vida
seja escolhido em função da parte profissionalizante, o que se procura também fazer,
não é? Porque se, isto é o que eu penso, porque se o tema não for escolhido muito para a
parte profissionalizante é muito difícil a parte profissionalizante conseguir entrar, a não
ser, naqueles momentos que os formadores dão metade da sua sessão para que seja feito
os trabalhos de, do tema de vida, nesta último tema de vida aconteceu que num dos
capítulos, num dos capítulos entre aspas, o trabalho era a imagem de apresentação,
portanto a formadora de atendimento entrou bastante no sentido de dar informação,
pronto e a formadora de animação, penso que se chama animação, também entrou um
pouco no sentido de dar concelhos sobre a forma de representar, como é que eles
deveriam fazer, como é que, pronto, mas eu penso que não é, não é muito fácil, ou o
tema está muito voltado para a parte profissionalizante e depois é assim os temas de
vida, normalmente duram, três meses, não é? Dois meses, três meses há partes
profissionalizantes que são formações de trinta horas, e portanto ou cinquenta e nunca e
não conseguem chegar, portanto é um bocado, eu acho que é difícil, a
profissionalizante.
Entrevistador – Ainda sobre a questão da articulação curricular, quer na
profissionalizante como acabas de dizer quer na formação de base, que
dificuldades, é que se costuma sentir, tu costumas com os teus colegas comentar?
Entrevistada – A nível do grupo?
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Entrevistador – A nível dessa articulação, em torno do tema de vida.
Entrevistada – Eu acho que isto dos temas, muito honestamente, eu acho que os temas
de vida, não se acredita muito neles e é muito difícil esta articulação, normalmente, fica
mais para a formação de base e, por exemplo, o Rui da cozinha, é um, um formador que
está desperto para isto, lá está, é a tal questão de profissionalizar os formadores EFA ou
haver, ser formador de EFA como profissão, há pessoas e se calhar ai, já estamos a falar
de outra coisa que é um referencial de determinados cursos, têm uma parte
profissionalizante de profissões muito especificas, pronto, e pessoas que se calhar às
vezes, embora tenha competências para dar essa formação, não estão habituados a dar
uma formação deste género, se calhar vão dar uma formação assim de higiene, vamos,
por exemplo vá o Rui, o Rui não que é um caso diferente, porque o Rui esta habituado a
dar ali nos CEF na escola, e é diferente, mas o Rui sendo cozinheiro, para um
cozinheiro que de repente vai dar um EFA, não é, isto deve de ser muito complicado,
porque ele não percebe este esquema, para um jardineiro que vai entrar num curso de
jardinagem, que vá dar a parte, deve de ser muito complicado entrar neste esquema da
articulação é isso é que eu sinto, é que a parte profissionalizante como é tudo, se calhar,
depende dos cursos, por exemplo, naqueles cursos de crianças, de auxiliares de
educação de infância é mais fácil, porque a, a psicologia é muito à base de, embora a
parte prática seja prática mas também a formação base dos formadores da parte pratica é
mais teórica, não é? A parte psicologia da criança disto e daquilo, portanto há, mas
quando é um curso mais técnico, que é, por exemplo, este não é, estou a falar técnico
aqui no sentido de apoio à comunidade e a familiar, e aos jovens e apoio, assistência e
apoio à comunidade; por exemplo, há muitos enfermeiros, a dar o curso e os
enfermeiros, não querendo aqui, não estou a pôr aqui em causa as competências de
ninguém, agora há enfermeiros que já estão habituados aos cursos EFA e sabem como
isto funciona, mas há enfermeiros que não, estão e chegar de novo e pedir-lhes a eles
para fazer uma participação num tema de vida, eles começam a andar a nora, porque
nem sabem muito bem do que é que estamos a falar, isto, eu acho que a dificuldade vem
daí, percebes? Já é, tem a ver com o próprio processo, acho que isso é que é difícil.
Entrevistador – E falaste ainda há pouco que as pessoas não acreditavam muito no
tema de vida, queres-me explicar melhor isso?
120
Entrevistada – É a parte profissionalizante, que não faz, isto na, mas é tudo um
problema de base, de base no sentido de serem pessoas com actividades muito
específicas, não estão habituados a estar neste esquema EFA e quando lhes falam num
tema de vida, eles não sabem muito bem o que é e para que é que serve, e muitas vezes
isso torna difícil, por exemplo eu no NERA, trabalhei com pessoal da parte
profissionalizante no básico e no secundário, mas são pessoas que estão muito
habituadas a trabalhar em EFA, a parte profissionalizante, portanto era muito fácil esta
articulação, quando são pessoas que não estão habituadas a trabalhar em EFA, esta
articulação, o tema de vida não lhes faz sentido, mas para quem que isso serve? É
mesmo, porque não é fácil explicar isto, então mas como é que eu vou entrar ai? É pá
temos que imaginar e pensar um bocado, não é? Como é que eu vou entrar ai? Então se
calhar, por exemplo ali naquela apresentação que a gente fez, foi prática mas baseada
em tudo em coisas teóricas e apenas a parte da imagem e apresentação é que entrou,
mas, por exemplo, na altura já não estavam a ter mas imaginemos que eles estivessem a
ter na altura aquele, um módulo que tem a ver com as posturas na cama, e não sei quê e
o formador até poderia pensar em entrar ali naquela apresentação, mas como é que eu
fazia isso, se calhar era fácil, era pensar um pouco sobre, se a gente tiver, estar a
trabalhar com uma pessoa e mostrar como é que se volta a pessoa na cama, e por aí fora,
e agora vou dizer um disparate, e se deixar cair a pessoa, o que é que pode acontecer em
termos de legislação laboral ou de seguro como é que isto funciona, não é? Podia, tem
que haver ideias mas normalmente, o que se diz é, ai então como é que a minha área vai
entrar aí? É difícil a minha área entrar aí, pronto e realmente para pessoas que se calhar
não estão dentro do esquema e por isso é que eu digo a continuar os cursos EFA, e para
que eles continuem, não é para mim, eu não estou a falar que sou eu que queira
emprego, mas para que eles continuem de uma forma séria, se calhar sim, haver pessoas
mesmo com experiência, dar o EFA ou pelo menos abertas a essa experiência, não é?
Porque seria mais, teria mais sucesso, penso eu.
Entrevistador – Costumam planificar os temas de vida? Estavas a dizer ainda à
pouco…
Entrevistada – Em reunião faz-se uma planificação, faz-se um, lança-se o desafio e
depois cada um vê como é que, dentro daquele tema de vida, qual é a participação que
pode ter, e assinala e identifica as suas actividades.
121
Entrevistador – Os formadores costumam aderir as reuniões de planificação ou há
uma dificuldade para as reunir, como é que isso acontece?
Entrevistada – Eu acho que há dificuldades em reunir os formadores, muito.
Entrevistador – E mantendo a tua opinião, isso pode-se dever a quê?
Entrevistada – Porque as pessoas tem outros trabalhos, às vezes, normalmente procurase fazer, fazer-se com que as reuniões sejam depois das cinco e meia da tarde, mas há
pessoas que depois, é assim, os formadores, os formadores que são exteriores e
sobretudo da parte, aqui na APD normalmente a parte da formação de base é feita pelos
formadores da casa, mas os formadores, os formadores da área profissionalizante são
todos de fora, um é de Tavira, outro é de Olhão, outro é não sei da onde, quer dizer,
conseguir juntar este pessoal todo é muito complicado, porque há pessoas que trabalham
por turnos e depois no dia em que uma trabalha por turnos a outra não, é muito difícil,
se calhar, eu não tenho aí os dados disso, nem sei se a Sónia tem, mas se calhar em cada
uma das reuniões dos formadores, porque eu não conheci os formadores todos, conhecia
o Rui, conheci aquela formadora no outro dia, não conheci os formadores todos,
portanto eu acho que há uma grande dificuldade também por isso, porque as pessoas
também tem outros trabalhos, porque não são só formadores, são outras coisas também
e portanto…
Entrevistador – Sentes na tua opinião que as reuniões de planificação, essas
reuniões de planificação são importantes para o funcionamento do curso?
Entrevistada – Sim.
Entrevistador – E em que medida é que?
Entrevistada – Porque, primeiro porque nessas reuniões podes discutir um pouco
também a situação de cada formando, não é? E isso é importante, saber como é que,
como é que as coisas estão a correr, e depois essa planificação ajuda muito a organizar o
trabalho, porque, é assim, na minha área de cidadania, eu sei que tenho que trabalhar o
122
tema de vida, mas também tenho que trabalhar o referencial, procuro dirigir algumas
actividades do tema de vida, algumas actividades do tema de vida que se adequam ou
que esteja de acordo com o referencial, mas há outras que não estão, mas as outras, as
outras partes do referencial também tem que ser trabalhadas por mim, não é, e portanto,
nós planificando, eu sei que durante três ou quatro semanas tenho que trabalhar tema de
vida, deixo a minha parte feita a partir dai começo a fazer as minhas actividades de
acordo com o resto do referencial que falta, e isto roda mais ou menos para todos os
formadores, não é? Acontece a mesma coisa para todos os formadores, se não há uma
planificação e uma articulação, eu acabo por ficar seis, dois meses ou três meses a
trabalhar no tema de vida, faço tudo com os formandos e a minha parte do referencial
fica por ser feita, e, não, quer dizer, mas quem sou eu, por exemplo para dar formações
sobre, sobre TIC ou sobre outra coisa qualquer ou estar a redigir os textos, portanto faz
sentido que seja o formador de Linguagem e Comunicação que, que corrija os textos,
que dê indicações de como é que se constroem as frases de como é que se constroem
textos, até porque isso faz parte do referencial dele, a construção de textos a opinião, por
ai fora, portanto a articulação é importante nesse sentido, não sei se já estou perdida?
Entrevistador – Não, e a planificação habitualmente achas que é comprida na
prática?
Entrevistada – Não, a planificação é difícil cumprir na prática, porque depois é assim,
os formandos têm ritmos muito lentos e os ritmos são muito diferentes e às vezes um
grupo já quase que tem tudo feito e o outro ainda vai por metade, e depois os outros,
pronto isto aqui, entra um pouco um dos critérios de cidadania que é ajudar aos outros,
ponho um grupo a ajudar ao outro grupo para terminar o trabalho, portanto a
planificação, é uma planificação tenta-se cumprir normalmente depois nos últimos dias
a coisa anda sempre a correr, mas acho que isso já é cultural, não é? Nos últimos dias,
faz-se tudo, pronto, normalmente foi estabelecido, Sexta-Feira seria a apresentação do
tema de vida, houve dois meses, durante esses dois meses tentou-se planificar a coisa de
forma a que ela acontecesse, é verdade que as filmagens e essas coisas todas foi feito na
última semana, portanto andou ai tudo a fugir, não é? Poderia já ter sido feita, mas
pronto e agora ainda não acabou e depois aquela que trazia a máquina faltava e depois a
maquina veio, mas não trazia o cabo, bom estas coisas todas, portanto é difícil, a
planificação é uma planificação.
123
Entrevistador – Como é que se processa o trabalho pedagógico em torno, da
evidenciação e da avaliação de competências dos formandos, como é que isso
costuma acontecer, no teu trabalho, na tua área?
Entrevistada – Na minha área, procuro o referencial de cidadania não é? Não é muito
fácil, porque tem ali alguns critérios que eu própria tenho alguma dificuldade perceber,
como é que as pessoas vão evidenciar, aqueles critérios, por exemplo um deles é, este
não é o melhor exemplo, mas como é que é, conhecer dispositivos de concertação
social, é assim, só se eu mandar fazer uma pesquisa sobre isto, não é, e isto aqui não há
muito a fazer, como é que é, ter iniciativa e capacidade de empreendimento, é assim isto
não é nada que se prove, não é? Porque uma das coisas dos cursos EFA é ter as provas
das evidências e como é que eu faço uma prova destas, então tenho que recorrer a
algumas estratégias, por exemplo, fotografias, há um dos temas que é ambiente, tem a
ver com o ambiente, pronto então vamos lá fazer aqui um guia de reaproveitamento e de
reutilização de materiais e então já tem acontecido e é assim, tragam pacotes de leite,
garrafões, garrafas, por ai fora e agora cada um de vocês vai fazer qualquer coisa com,
reutilizando este material, depois cada um tem a iniciativa e a capacidade e a
criatividade de fazer qualquer coisa. É pá e a prova que eu tenho às vezes é tirar uma
fotografia e mandar e ir levar para o dossier ou para o portefólio e uma pessoa faz uma
pequena reflexão sobre aquela actividade, como é que correu, se tinha pensado que
aquilo podia ser feito, o problema do plástico no ambiente, o que é que os plásticos
fazem enquanto agentes de poluição e é desta forma que, os filmes também já disse,
utilizo muito os filmes e depois peço para fazerem tipo uma reflexão dando exemplos da
sua vida, coisas que possam ter acontecido relacionadas com a história que se viu, no
outro dia, esta questão dos dispositivos de concertação social, para mim não é fácil,
falar por exemplo dos sindicatos, o código de trabalho por ai fora, passei aquele filme e
como um dos temas, também, as horas que se tem que fazer tem a ver com igualdade de
oportunidades, passei aqui um filme que é o “Terra Fria”, não sei se conheces, sobre
uma rapariga que vai para uma mina de carvão trabalhar e é assediada e que depois leva
o sindicato… pronto, pedi para eles verem o filme e dali ver qual era o papel dos
sindicatos no filme, naquele caso não foi nenhum e qual deveria ter sido, ver quais são
os artigos do código de trabalho que tinham sido violados e o que é que se podia fazer,
124
depois isto sempre por escrito, não é? Portanto, normalmente textos, era esta a resposta
ou não?
Entrevistador – Era, quais as dificuldades que poderias ter a esse respeito?
Entrevistada – Dificuldades?
Entrevistador – Do levantamento?
Entrevistada – As dificuldades muitas vezes são realmente, que as pessoas não são
criativas e depois tornar isto criativo é difícil, não é? E durante toda a formação, temos
que ir arranjando situações para ver se realmente este critério é evidenciado em algum
momento, pronto e as vezes é, e outras vezes não é, mas é como tudo, não é? Mas é ir
tentando trabalhar, muitas vezes as dificuldades, realmente são, é, isto é nos primeiros
tempos, é a construção dos textos, porque as pessoas já estão há muitos anos sem
escrever e têm muita dificuldade em escrever e muitos erros, no fina, do curso já se vai
notando uma melhoria, porque entretanto já tiveram Linguagem e Comunicação,
portanto já e também já leram bastante ou pelo menos muito mais do que aquilo que
liam e portanto o ler faz com que se consigam ser, fazer textos, construir textos
engraçados e fazer trabalhos engraçados e depois como eles vão adquirindo outras
competências também a nível de TIC eles também vão aplicando na área de
competência chave de cidadania, portanto as dificuldades também vão sendo
ultrapassadas à medida que vão entrando as outras áreas de formação, pelo menos é
aquilo que eu sinto, um pouco, mas a, pronto, é há pessoas que têm mais dificuldades
obviamente que outras para demonstrar esses critérios e há que arranjar outras
estratégias, mais que não seja responder perguntas, então agora estão aqui as
informações, tente a partir das informações que são dadas, responder a estas perguntas,
porque os adultos são diferentes e nem todos os métodos são utilizados, nem todos são
utilizados para todas, não é? Há que diversificar um pouco.
Entrevistador – Em termos do teu trabalho pedagógico, fazes mais trabalho de
grupo, mais trabalho individualizado, como é que isso costuma?
125
Entrevistada – Grupo, sempre grupo, raramente faço trabalhos individuais, a não ser
que seja assim coisas muito específicas, do tipo a e ainda voltando ao referencial e ai
sim pessoas que de alguma forma não conseguiram fazer o texto, ou não conseguiram
fazer o trabalho sobre determinado critério do referencial e ai depois fazem
individualmente, não, mas normalmente trabalho em grupo, sim.
Entrevistador – Na tua opinião quais são os princípios que devem orientar o
trabalho pedagógico dos formadores num curso EFA? Falavas ainda há pouco da
questão da profissionalização, esta pergunta vai um pouco ao encontro disso, quer
dizer quais são os princípios que tu achas que para um curso EFA, deveriam
orientar o trabalho dos formadores?
Entrevistada – Sim, para começar, sim. Uma profissionalização, um outro princípio,
penso que seria, os formadores, como é que eu, isto não é fácil, motivar os formandos,
isto não é fácil, motivar os formandos não é fácil, dar-lhes confiança, fazer com que, ter
a coragem de lhes dizer a eles, por isso é que eles às vezes também dizem que eu sou
má, ter a coragem de dizer às pessoas que eles não sabem fazer, a honestidade, a
honestidade no sentido de a gente não tapar, é assim, porque as pessoas já viveram uma
vida e muitas vezes a gente sabe que os portugueses são um pouco assim, portugueses,
isto se calhar também é um estereótipo, mas os portugueses também são um pouco
assim, a gente habitua-se um pouco aquela questão de compadrio, do coitadinho e tenha
pena de mim e quando os adultos chegam aqui e a gente tem aqui um, um exemplo que
é uma das formandas, eu sou coitadinha, eu não consigo aprender e portanto não
consigo e não consigo e dói-me a cabeça e vou-me embora, e eu no outro dia sentei-me
aqui com ela, até foi coisas da minha área e disse como é que é, vai fazer ou não vai
fazer isto, ah eu não consigo, então é assim, você quer perder o curso por causa disto?
Não quer, ah pois se for preciso eu perco, digo eu assim, pois é, mas minha amiga,
quem está aqui a pagar isto sou eu e eu não lhe admito que você ande aqui a ganhar o
dinheiro ao fim do mês, quando sou eu e os outros todos portugueses que estão a pagar
isto, portanto, ou você faz isto ou estamos mal, mas é porque eu dói-me a cabeça, quer
um comprimido, eu dou-lhe um comprimido, mas depois você vai fazer, ela fez, mal, é
verdade, mas ela fez e muitas vezes eu também digo é a frontalidade um dos princípios
deve de ser e não vamos tapar isto, ai coitadinho, não é coitadinho, você é capaz de
126
fazer isto e o desculpar às vezes, muitas coisa, não, penso que não é bom, está pergunta
olha é muito difícil de eu estar a responder a isto dos princípios.
Entrevistador – Estavas ainda há pouco a falar da questão, é muito difícil motivar
os formandos e sobre como é que isso…
Entrevistada – Como é que isso se faz?
Entrevistador – Como é que isso acontece? Quando estavas a dizer isso estavas-te a
referir a que aspectos?
Entrevistada – Motivá-los às vezes a continuar a terminar um curso, motivá-los a estar
na sala e portanto, por isso é que eu jogo muito com a parte prática porque eles quando
estão na parte pratica, estão muito mais motivados, fazem as coisas, estão mais activos,
é o valorizar o trabalho, muito pouco que ele seja, é valorizar, acho que são formas que
se encontram para ir motivando e fazendo com que eles procurem melhorar, cada vez
mais.
Entrevistador – Sentes que há pessoas que não estão motivadas?
Entrevistada – Há sim, há pessoas que, muitas vezes, continua a haver, por exemplo
esta senhora que eu estava a falar, ela não estava minimamente motivada e foi difícil e
tudo que foi feito com ela foi arrancado a ferros, mas sim, as pessoas não, por vários
motivos, não se encontram motivadas muitas vezes para fazer este tipo de cursos, vem é
para ganhar o dinheiro. Agora o importante é, e um dos princípios será esse, a gente já
sabe e não é mentira nenhuma vamos chamar os bois pelos nomes, muitas pessoas vem
para os cursos EFA, formandos para ganhar dinheiro e eles dizem, isto não é mentira
nenhuma, eles dizem e portanto, ok a gente parte desse principio, sim, mas já que cá
estão vão fazer alguma coisa e mostrar que são capazes de fazer, e não deixar que eles
se encostem a essa situação do ganhar dinheiro que é por exemplo o que, o que eu às
vezes faço com ela, é assim, porque ela, é por isso, mas espero que seja só por isso,
portanto toca a fazer as coisas e muitas vezes no final até depois eles acabam por dizer,
afinal isto foi bom, aprendi com isto, isto foi bom, não foi só pelo dinheiro, mas, é
difícil, às vezes sinto algumas dificuldades em, em motivar, é verdade.
127
Entrevistador – Que competências é que tu consideras essenciais para exercer a
tua actividade como formadora no curso EFA?
Entrevistada – Gostar de estar com os outros, ter alguma capacidade de empatia,
colocar-se também no lugar dos outros, é importante, partir do princípio que eu não sei
tudo e não sei quase nada e que eles também tem muito para me ensinar, dentro da sala
a quem manda sou eu, e isso é um ponto assente desde o primeiro dia, dentro da sala
quem manda sou eu, partilhar e apoiar e desenvolver trabalhos, somos todos, ajudar
somos todos uns aos outros, a mandar, que manda sou eu, porque senão começa a haver
algumas confusões, também e mas acho que é muito, é importante isso, é ser frontal é
ser verdadeira, é não mentir, porque às vezes acontecem situações e por exemplo, não vi
os trabalhos, eu não lhes minto, não vi porque não deu para ver, não me apeteceu, a
verdade foi está, não me apeteceu ver estes trabalhos e amanhã vou tentar vê-los,
formadora isto é assim, assim, não sei, isto não é a minha área mas vou ver e amanhã eu
sei fazer sopa, vocês sabem, portanto é assim, vocês sabem umas coisas e eu sei fazer
outras, há coisas que eu não sei fazer e portanto vou ver, e vocês é a mesma coisa
quando vocês não souberem vão ver como é que se faz, e depois a gente pode partilhar
isso aqui, portanto sobretudo acho que é a honestidade também é o mostrar, que é
assim, não sou eu aqui o dono da verdade, quem manda sou eu, mas eu não sou o dono
da verdade, vocês também sabem, também tem alguma verdade, também tem alguns
conhecimentos que me podem ensinar a mim e eu posso ensinar outras coisas e há
coisas que eu não sei e quando há coisas que eu não sei, eu digo que não sei, não estou a
inventar, às vezes até digo assim, eu isso não sei, sei outras coisas, isso não sei, amanhã
ou na próxima sessão eu digo como é que se faz e tento cumprir isto, vou ver e vou a
procura e vou perguntar a quem saiba e depois numa outra vez, volto e digo como é que
é, portanto acho que é assumir muitas vezes isso é, é mostrar, é elogiar quando há que
ser elogiado é destacar pelo positivo as pessoas que trabalham, porque não é preciso de
dizer nada depois aos que não trabalham, porque eles percebem, não é? Se eu elogiar só
os que fazem, os outros não ouviram o nome deles, sabem que não são eles, portanto
acho que, a honestidade, frontalidade, assumir que não é o dono de todo o conhecimento
e estar aberto para que possam também aprender e aprende-se também muita coisa com
os adultos, é o facto de ter capacidade de empatia e é o gostar de estar com as pessoas,
no fundo é gostar de estar com as pessoas.
128
Entrevistador – Quando tu sublinhas ai a questão do quem manda sou eu, a isso
deve-se a alguma questão em especial do trabalho com o grupo, o que é que tu?
Entrevistada – Eu quando digo quem manda sou eu, é assim, não deixo a planificação
da sessão, por exemplo, está feita, portanto não há que fugir a ela, pode-se fazer varias
coisas mas aquilo que é para mim falar nesse dia, é para se cumprir, as regras da sala
sou eu, estão feitas e eu mando e portanto não quero telemóveis em cima das mesas, não
quero ninguém e aqui quem manda sou eu, portanto este tipo de coisas não permito, não
se come dentro da sala, e aqui quem manda sou eu, e eles têm que ter, porque os
telemóveis é um desassossego, quando eles estão com os computadores para fazer
pesquisas, é o facebook o dia todo, quer dizer e aqui quem manda sou eu, ponho-me
atrás deles prego um grito e eles desligam o facebook, eu já disse é pá é assim, eu não
sou parva, e vocês comecem a ser espertos, porque vocês são todos meus amigos no
facebook, e eu vou lá dentro e só vejo publicações vossas no facebook há dois minutos
três minutos, portanto acabou o facebook, portanto neste sentido quem manda sou eu, é
neste sentido, há regras que foram estabelecidas por eles, mas depois eu faço cumpri-las
e não há telemóveis, não há facebook, não há historias destas, acabou, revistas, coisas
assim deste género, é neste sentido, portanto as regras aqui foram feitas por todas e
quem manda agora aqui sou eu e contra aquilo que eu estou a dizer não, não há, não se
faz, não há telemóveis, nem mensagens, quando se põem assim com as mensagens,
parecem miúdos, parecem moços pequenos, às vezes até me dá vontade de rir.
Entrevistador – Pedia-te para me descreveres o perfil dos formandos que
frequentam os cursos EFA, os tipos de formandos?
Entrevistada – Desempregadas, pessoas desempregadas, algumas delas que nunca
trabalharam, ou tiveram experiências muito temporárias, muito curtas, pessoas com uma
instabilidade emocional muito grande, facilmente choram, facilmente entram em
depressão, pronto, pessoas que constantemente, isto eu não consigo perceber, muitas
doenças, sempre muitas doenças, em todos, muitas doenças, nem sei bem explicar isto,
estão sempre a ir ao médico e portanto, mas isto é geral, eu também vou ao médico, mas
há sempre muita gente doente, instabilidade emocional muita e portanto choram com
muita facilidade, entram em conflito com muita facilidade, mas isso é tudo, acho que
também é uma questão de não saber gerir as emoções, problemas de afecto porque são,
129
há pessoas que tem historias incríveis, que eu, de vida que eu nunca me passava pela
cabeça que pudesse existir, violência domestica e não só e outras a pessoas que são
abandonadas pelo pai, pela mãe, nunca conheceram os pais é muito, pessoas, já apanhei
ex-presidiárias porque foram acusadas de homicídio de um filho, pronto, há muita,
perfil aliás, perfil é o perfil que, são pessoas público-alvo, com problemas sociais e
portanto, apanha-se e vê-se todo o tipo de pessoas, mas com perfis sempre muito dentro
desta vertente de problemas sociais graves, alguns deles bem graves e não há grupo
nenhum que eu não tenha e pronto e depois, é assim isto é a maioria, depois há ali três,
quatro, cinco pessoas que têm vidas normais entre aspas, não é? Tiveram o azar, a
infelicidade de num determinado momento estarem desempregadas e depois foram, foi
o último recurso, foi ou porque realmente nunca puderam estudar e agora estão
desempregadas e têm esta possibilidade e vem fazer o curso, sim, mas, há pessoas que
acho que o perfil é essencialmente esse, depois há pessoas de classes sociais mais
baixas, com empregos muito precários ou outras nunca trabalharam, pessoas com
instabilidade emocional muito forte, são, com dificuldades em gerir conflitos, com uma
carência afectiva muito forte, essencialmente parece-me que, que, que é isto.
Entrevistador – Ao nível do empenhamento dos formandos face a formação, notas
que há diferenças a nível de empenhamento?
Entrevistada – Sim, há. Por exemplo as pessoas que já estiveram empregadas, que
estão nesta situação de desemprego e que o centro de emprego mandou-as ou indicoulhes o curso EFA, são pessoas muito mais empenhadas, pessoas que levaram uma vida
de trabalho, uma vida mais activa, são pessoas muito mais empenhadas e que não tem
problemas afectivos e financeiros, são pessoas mais empenhadas, depois as outras todas,
pois aquilo varia, pois conforme a coisa anda lá em casa, assim se empenham mais ou
assim se empenham menos, portanto são pessoas que vivem, não conseguem abstrair-se,
da sua realidade de forma a empenhar-se para ver se conseguem, outra realidade não, é
muito difícil e mas nota-se, nota-se que dentro dos grupos, nota-se que há diferenças
entre as pessoas não, por exemplo apanhei no NERA um grupo de adultos e de jovens, o
grupo era constituído por adultos trinta e tais, quarenta anos e jovens, e eu logo pensei,
no início pensei, bom isto vai ser uma mistura explosiva, não é? Porque os mais velhos
não vão ter paciência para os mais novos, correu bem, havia lá uma ou outra coisa, mas
correu bem, mas os mais jovens apesar de tudo, ter sido malta que abandonou a escola,
130
ou antes de acabar o 9º ano, portanto isto era tudo miúdos, rapazes e raparigas com vinte
anos, que ingressaram no curso, muito motivados e muito, faziam tudo, mais as
raparigas do que os rapazes, os rapazes acho que nenhum deles acabou, desistiram, as
raparigas sim, mais empenhadas sim que os outros, só que as outras, depois aquilo até
tornou-se um bocado competitivo, vocês por serem mais novas, não pensem que a gente
por ser mais velhas vai ficar atrás, e então, as outras pessoas também se acabaram por
empenhar, mas nota-se um pouco, sim nota-se diferenças no empenho das pessoas.
Entrevistador – Falaste ainda há pouco dos formandos que vão para a formação só
por causa de receber a bolsa, vocês notam isso?
Entrevistada – Sim. Claro que sim.
Entrevistador – E achas que isso tem reflexos a nível da relação à formação…
Entrevistada – De trabalho?
Entrevistador – Em relação a formação.
Entrevistada – Pois há pessoas que têm, pronto depois lá vem a questão da
assiduidade, da pontualidade, muitas vezes eles depois também, é assim, estes cursos
começam às vezes, estes começou com vinte, vinte acabou com dezasseis, entretanto
quatro, foram ficando, ficaram pelo caminho, um foi por questões de saúde não teve
culpa, coitado, porque foi uma coisa bastante grave, mas depois é assim, muitas vezes
eu oiço a conversa, a gente agora acaba este curso e vai fazer outro, já andavam ai há
tempos, ai há tempos andavam elas a ver no Centro de Emprego se havia um curso de
Secundário que pagassem bolsa, e às vezes é o que eu digo, minhas amigas, é assim, eu
fiz um curso e fui eu todo que o paguei, se calhar vocês ficavam mais contentes e
faltavam menos se vocês pagassem. Eu acho uma coisa mal nestes cursos, que há
realmente pessoas que entram para os EFA com sentido de realmente só receber o
dinheiro e quando desistem deveriam ser obrigadas a repô-lo, fosse como fosse, porque
não há responsabilização por parte das pessoas, as pessoas não são responsabilizadas
por assumirem aqui um compromisso e depois ao meio do curso lembram-se e vão se
embora, os que ficam são aqueles que acabaram por se motivar e, e ficaram realmente,
131
há um ou outro que vai ficando por arrasto, não é? Mas na verdade acho que há muita
gente que procura estes cursos para ganhar dinheiro, aliás alguns são conhecidos por
subsídio cursos, não é? Por aí a mas penso que sim, que há muita gente que se aproveita
disso.
Entrevistador – E em relação à aprendizagem como é que tem sido o desempenho
dos formandos? Dentro deste curso que agora está a terminar?
Entrevistada – Evoluíram bastante, havia pessoas com muitas dificuldades, evoluíram
a nível da expressão oral, a nível da expressão escrita, porque havia de facto pessoas a
escreverem com muitos erros ortográficos e melhoraram bastante, mesmo na construção
dos textos, verificou-se uma evolução ao nível das opiniões também, ao nível de, já do
relacionamento entre grupos, melhorou, mas a coisa, às vezes basta ali uma coisinha
qualquer para aquilo explodir, mas melhorou, parece-me assim em termos, falando do
grupo de uma forma geral, houve uma evolução positiva.
Entrevistador – E notas que há diferenças em termos do desempenho deles?
Entrevistada – Sim, mesmo ali na apresentação do tema de vida, toda a gente
participou, mas houve pessoas que tiveram, participaram pouco, porque também não,
por exemplo uma delas que é esta que, que eu estava a falar, eu disse-lhe a ela, olhe, é
assim, isto não vai acontecer o mesmo que aconteceu no outro tema de vida, você
encostou-se às suas colegas do grupo e eu não vou deixar que isso aconteça desta vez,
portanto ou você pensa em fazer alguma coisa ou estamos mal, a e ela fez, fez pouco,
mas fez, mas depois andava com o papel atrás de mim, está a ver o que é que eu fiz, já
fiz isto, eu disse, eu estou a ver, no fim eu vou avaliar isso, e participou nas filmagens,
foi uma coisa que ela disse, que nunca ia participar, ai eu não faço isso, eu não faço
figura de parva, e eu disse, então a gente vai ver se não faz, e ela participou nas
filmagens e depois naquele dia veio-me dizer assim, está a ver como eu também
participei nas filmagens, pois eu vi, está ali a prova viva que você participou, mas tem
sido difícil com ela, mas realmente, mas mesmo com ela, penso, eu acho que há sempre
uma evolução, porque as pessoas acabam por conviver e embora venham para o
dinheirinho, algumas delas, também juntam o útil ao agradável, aqueles que vieram só
mesmo pelo dinheiro, entretanto não aguentam a pressão e vão embora, porque há
132
coisas, eu normalmente, todos os cursos onde tenho passado o curso nunca acaba com
as pessoas que começou, raramente, secundário já é diferente, há uma diferença
substancial entre o publico do básico e o publico do secundário, embora muitas vezes as
pessoas até sejam das mesmas idades mas talvez porque os do secundário passaram, uns
já pelo 9º ano e outros frequentaram o 10º, 11º, e portanto, os grupos do secundário
nunca ninguém desistiu, foi o grupo começou com vinte, terminou com vinte, este
ultimo começou com dezoito, terminou com dezassete, porque uma das raparigas que
por acaso até é deficiente motora, conseguiu arranjar um emprego na Câmara Municipal
de Faro através das cotas da deficiência e ora ela tinha que aproveitar, não é? Porque a
situação dela não lhe permitia outra coisa, mas o secundário e o público, o público do
secundário é um publico mais responsável por aquilo que anda ali a fazer, pronto não,
trabalhadores, não faltam, são assíduos, são diferentes, depois o básico, falta às vezes,
sei lá, o hábito de, da escola, o hábito das regras.
Entrevistador – Em tua opinião, qual é a importância de perfil dos adultos
formandos no funcionamento de trabalho pedagógico do formador EFA? Se achas
importante o perfil dos formandos?
Entrevistada – Formandos com um perfil, motivados para o curso, com interesse em
querer saber mais, seria muito mais fácil, não é? Só que muitas vezes, os cursos EFA,
são constituídos por público, não que queira vir para o curso, mas sim que são enviados
pelo Centro de Emprego, porque são pessoas que estão a receber o subsídio de
desemprego, muitas delas às vezes fazem aqueles biscates, e depois vão-lhe tirar o
biscate para vir para o curso, e eu acho que há um erro à partida neste, na definição
porque os programas que pagam o curso EFA, eles impõem um perfil, teoricamente eu
acho que faz todo o sentido, mas aquilo não corresponde à nossa realidade, quem o fez,
parece que não conhece muito bem a realidade onde vivemos e é assim, mas já temos
tido pessoas aqui a fazer o RVCC, porque precisavam do secundário, e não conseguiram
entrar no secundário do IEFP a acho que era no IEFP porque não obedecem ao perfil do
que é definido pelas medidas que financiam os EFAS, são públicos carenciados, por aí
fora, Como este rapaz não obedecia, nunca conseguiu entrar e ele neste momento fez o
RVCC e está a tirar arquitectura, porque ele, o pai era construtor e ele precisava do
alvará para ser construtor e tinha que tirar um curso qualquer, não sei se era orçamentos,
medições, era um curso qualquer, ligado à construção, e não conseguiu entrar e ele até
133
chegou aqui um dia ao pé de mim e disse-me assim, quer dizer eu não consigo fazer o
secundário, porque não sou pobre, não consigo fazer um curso EFA porque eu não sou
pobre, mas ele ia tirar partido disto, porque era aquilo que ele queria, era aquilo que ele
pretendia, agora, se calhar puseram lá pessoas, que o curso se calhar acabou com meia
dúzia de pessoas, eu acho mal nos cursos EFA, é isto, é que de facto o perfil que está
traçado, não digo que as pessoas carenciadas, todo aquele perfil que esta traçado pelas
medidas, não sejam merecedoras de terem uma oportunidade, sim, mas não é assim, ou
pelo menos dêem a oportunidade a que os outros também que são menos carenciados
que entrem, porque estas pessoas levam normalmente isto até ao fim, que são, às vezes,
nos grupos aqueles tem mais sucesso, são, porque é uma coisa que eles querem, agora
quando estamos a falar de públicos carenciados, são pessoas que já tem tantas carências
e quando não têm algumas das suas satisfações básicas satisfeitas, o que é que interessa
a ela um curso? Nada. A gente vai para lá e recebe o dinheiro, não é? Elas nem sequer
pensam que isto poderá ser uma mais-valia, e eu penso, o problema esta na definição
das medidas, porque se não for um publico assim, pronto, não se faz o curso, e muitas
vezes o que é que isto dá, dá juntar, é depois difícil gerir, porque é, como eu já disse
também há bocado, são pessoas que tem uma instabilidade emocional muito forte que
depois todas juntas isto é explosivo e não conseguem perceber que será uma mais-valia,
é, eu acho que ai o erro, não sei se é erro, não quer dizer que é erro, mas acho que a
falha dos cursos EFA é essencialmente isso, é que há um perfil traçado já à priori, que a
ideia é boa, porque sim, acho que as pessoas devem ter uma oportunidade, mas não é
esta assim, seria outra, talvez um curso EFA que pessoas em situação de carência como
não sei bem a terminologia das medidas, sim, mas se calhar cursos mais práticos,
mesmo práticos só, em que fosse de vez em quando, porque são pessoas que não
trabalham há muitos anos, elas perderam a prática do trabalho, têm dificuldade a todos
os níveis, portando se calhar um curso sim, mas mais pratico, mesmo tipo prática em
contexto de trabalho, com algum tutor, um formador de vez enquanto a lá ir e a explicar
e a falar e não sei que, mas se calhar era mais produtivo que, apesar de algumas pessoas
frequentarem os cursos EFA e depois ficarem a trabalhar, muitas vezes não ficam no
ramo do curso, vão arranjar emprego para outro sítio e outras nem se quer integram no
mercado de trabalho, porque falta-lhes tudo o resto, não é? Pronto e depois há outras
coisas que tem a ver com os transportes e com, tem a ver com todas essas logísticas que,
está à parte, mas eu penso que o problema, o grande problema dos cursos EFA é esse, o
perfil, um perfil já delineado que muitas vezes essas pessoas não, isto é como o RVCC,
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o RVCC não é para todos, o referencial da forma como está feito não, não está, não é
acessível a todas as pessoas e depois as pessoas vêem publicidade na televisão, vá ao
Centro Novas Oportunidades e faça reconhecer a as suas competências e tenha o 12º
ano e depois há pessoas que vêm e pensam que, que chegam aqui e levam o certificado
para casa porque não tem a noção do que é o referencial, que é difícil, que eu própria
tinha alguma dificuldade em fazer a área de sociedade, tecnologia e ciência, teria que
ser com muita pesquisa, eu não sei como é que funciona um frigorífico, não faço ideia,
não foi coisa, nem uma máquina de lavar roupa, nunca me passou tal coisa pela cabeça e
portanto, o referencial, o RVCC não é para toda a gente, assim como os EFAS também
deveria ser para toda a gente, ser para toda a gente sim e por isso não ter esses requisitos
de princípio, que é ou estar desempregada há muitos anos ou, ou ser situação
económica, porque depois há pessoas que até não estão desempregadas há muitos anos e
até não estão em carência económica muito elevada, mas que são pessoas que se vê que
sabem aproveitar o curso, têm vontade e que queriam, mas depois não podem entrar no
curso porque de facto as condições não, não as coloca naquela dimensão do carenciado
e acho que isso ai falha um pouco.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta que de certa forma tu já abordaste que
é, costuma haver conflitos no espaço da formação? Se sim podes descrever alguma
situação que possa ter acontecido, não sei se te lembras de alguma situação agora
deste curso?
Entrevistada – Deste curso no outro dia, a Sónia teve que lá ir, não foi comigo, teve
que lá ir porque uma quis bater na outra, porque a outra fazia, cada vez que uma falava a
outra fazia bzzzzzz, e a que falava entendeu que a outra lhe estava a chamar de cobra
venenosa por causa do bzzzzzz e então levantou-se para ir bater na outra e então houve
uma que se teve que meter no meio e a outra agarrou no pescoço, depois a Sónia teve
que lá ir e então conseguiu-se perceber que o bzzzzzz não é cobra venenosa, é choques
eléctricos e pronto uma vez tive um, mas isso foi comigo, levantou-se uma de uma
cadeira com uma garrafa de água cheia para ir bater na outra, há coisas e discussões
daquelas às vezes valentes, a situação assim má foi só mesmo essa da garrafa, mas
entretanto no curso que em fiz mediação também houve ali umas situações de quase
pancadaria, há assim umas coisas para animar as sessões.
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Entrevistador – É uma questão que costuma acontecer?
Entrevistada – Sim, pelos que eu tenho passado sim.
Entrevistador – Em relação ao trabalho com teus colegas de formação como é que
costuma acontecer esse trabalho, dos colegas formadores, consideras que é um
trabalho partilhado? Que se faz mais de forma individualizada, como é que…
Entrevistada – Só mais partilhado na altura dos temas de vida, pronto, mais ou menos
do que eu já falei, da planificação, das actividades, porque depois fora, à parte dos
temas de vida há pouca, há pouca partilha nesse sentido.
Entrevistador – E com que frequência se costumam encontrar?
Entrevistada – As reuniões normalmente são marcadas de mês a mês, há sempre,
procura-se fazer uma.
Entrevistador – Estás satisfeita com a forma como corre o trabalho com os teus
colegas de formação? O que é que te ocorreria dizer sobre isto, sobre esse trabalho
que se faz em conjunto ou…
Entrevistada – Sim, dentro da medida do possível e pronto, do que é parte realmente
do tema de vida mais, na forma geral toda a gente faz o seu trabalho, participa, claro que
depois é assim no final sobra sempre mais para um, não é? Mas normalmente é a
cidadania, mas isto acho que já está institucionalizado, por onde eu tenho passado, é
com a cidadania que se organiza o tema de vida, pronto, mas não, isso também não
causa problemas.
Entrevistador – E há algum aspecto de trabalho de formação com os teus colegas
da equipa pedagógica que achas que seria benéfico melhorar? O que é que tu
achas que se podia melhorar, que seria importante para o vosso trabalho?
Entrevistada – Exactamente essa articulação entre as áreas profissionalizantes nos
temas de vida, seria, interessante, mas também é o que eu já disse a, às vezes os
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módulos da área profissionalizante são tão poucos, tem tão pouco, tempo que não
conseguem acompanhar o tema de vida, eu por exemplo sinto grandes problemas nessa
articulação mas quando necessito de ajuda mais dentro da área de formação de base, se
tenho algumas dificuldades ao nível de português, de construção de texto, depois peço
ajuda ao formador de Linguagem e Comunicação. Se há por exemplo qualquer coisa
que eu, eu gostasse de fazer, que necessite do inglês pois falo, eu não tenho problemas
em falar e pedir ajuda mas se calhar mais no TIC em que, é que á mais esta articulação
com TIC porque eu também sou assim um bocado avessa com os computadores e por
isso, há mais talvez com o formador de TIC, mas avalio de uma forma positiva essa
articulação.
Entrevistador – Sentes algumas diferenças no empenhamento do trabalho dos
formadores, em relação aos cursos EFA e mesmo à forma com que procuram pôr
em prática o modelo EFA, se ao nível do empenhamento notas diferenças?
Entrevistada – Noto diferenças, é assim, vejo que quando há formadores mais
experientes a nível dos EFA, eu não diria empenhamento, mas se calhar o conhecimento
do processo, quando há formadores mais experientes em EFA, é por exemplo muito
mais fácil é mais, é mais fácil porque também quem não conhece o processo e não é um
processo fácil de se perceber, as pessoas que entram de repente dentro de um processo
destes é difícil ou tem que estar muito disponíveis para perceber isto e muitas vezes não
há tempo, não é? Portanto eu penso que quanto mais experiência as pessoas têm nesta
área dos EFA melhor, é possível fazer um trabalho melhor, não tem a ver com o
empenhamento, se calhar uma pessoa que venha de fora e estou a falar essencialmente
da área profissionalizante, que nunca tenha entrado num processo destes, ele até pode
ser muito empenhado, mas se não perceber bem como é que o processo se passa, é
difícil, não é? Pronto é um bocado, acho que o problema está ai, voltamos sempre à
questão se deveriam ser profissionais ou não, se calhar sim.
Entrevistador – Em termos da relação às entidades formadoras, quer dizer no teu
caso a relação com a APD, que relação é que tu manténs com a entidade?
Entrevistada – Se calhar coloca-se mais na vertente do NERA, porque esta relação aqui
na In Loco, empregada da APD sou funcionária, colaboradora da APD, pronto, com o
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NERA estou lá, vou lá prestar alguns serviços ao nível da formação é uma relação boa,
penso que gostam do meu trabalho, se não também já não tinham, não me tinham
chamado já as vezes que me chamaram, também uma entidade também disponível para
qualquer problema que surja para resolver, é boa.
Entrevistador – Portanto vês-te como trabalhadora, no teu caso da APD e em
relação ao NERA como é que tu?
Entrevistada – Presto alguns serviços, presto alguns serviços no âmbito da formação,
esporadicamente, e penso que agora, acho que acabou mesmo.
Entrevistador – E identificas-te com a forma como a APD perspectiva a formação
EFA?
Entrevistada – Sim, porque, as pessoas que estão a frente da coordenação do EFA e a
mediação são pessoas que também já tem alguma, já passaram por experiências EFA e
sabem e conhecem bem o processo, como é que, como é que este processo se
desenvolve, e portanto, estamos sempre, estamos de acordo com as várias, aliás e todos
os formadores que já passaram por outros EFA, portanto, lá está, é mais fácil, porque
toda a gente conhece o processo, como é que as coisas se fazem e torna-se mais fácil,
desenvolver um trabalho, melhor.
Entrevistador – E portanto perguntava se te sentes reconhecida pela entidade, pelo
trabalho que desempenhas, neste caso da Associação para a Democracia?
Entrevistada – Sim sinto-me, penso, quer dizer ainda não me disseram assim
directamente mas a chefe no outro dia encontrou-me ali depois da apresentação e disseme, ah está muito giro, e então, assim por escrito ninguém me disse nada, mas parece
que sim.
Entrevistador – E para terminar essa questão, se te aparecesse outra oportunidade
de trabalho saias da entidade para onde trabalhas?
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Entrevistada – É aquela questão que eu já disse, o meu problema é só estar a afecta a
um projecto que eu não sei quando é que vai terminar e tendo em conta a minha idade,
outra oferta que me desse uma perspectiva mais duradoura pois, provavelmente sim,
mudaria.
Entrevistador – Na tua opinião dar formação e tu já trabalhaste em várias
entidades, não é? Se os cursos EFA funcionam de forma diferente consoante as
entidades do modelo da competência tu sentes diferenças, sentiste essas diferenças?
Entrevistada – Não…
Entrevistador – Se é a mesma coisa como funciona aqui na associação?
Entrevistada – No NERA, na ANJAF, na ASMAL, não, funciona mais ou menos da
mesma maneira, as únicas diferenças que há de facto é quando se vai, quando se vai
para um curso EFA onde os formadores já estão mais dentro do processo a coisa corre
lindamente, não quer dizer que corra de outra forma, não é? Mas por acaso não, é tudo
mais ou menos pode variar os papéis, formulários, aquelas exigências a pronto não, mas
basicamente são todos iguais, sim.
Entrevistador – E como é que é feita a avaliação dos formandos do curso EFA que
está aqui a decorrer, como é que tu fizeste isso?
Entrevistada – É uma avaliação qualitativa, é feita mediante os trabalhos feitos e os
critérios evidenciados, portanto, dentro dos trabalhos feitos o critério é ou não validado,
e depois de validar, de se validarem os critérios às vezes eu não, não consigo validar
todos, mas também penso que não é, em cada unidade, cada um, portanto, o referencial,
a área de competência chave de Cidadania e Profissionalidade tem quatro dimensões,
não é? E dentro dessas dimensões há critérios que devem ser validados, se talvez dentro
de um ou outro eu não consiga validar um critério, não é por isso que o formando deixa
de ser validado na área, não é, mas tem que evidenciar e essas evidencias vão todas para
o portefólio, para que se tiver que se provar que realmente aquele formando foi
validado, por que fez e demonstrou as suas competências, está o portefólio como prova.
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Entrevistador – E em termos da periocidade?
Entrevistada – As validações normalmente, isto também, isto é, isto às vezes é que
varia, estes mecanismos variam entre entidades, nós, normalmente as avaliações são
feitas por nós nos temas de vida, as avaliações mais, portanto o tema de vida tem
sempre uma avaliação e essa, e essa é feita após os temas de vida, normalmente as
avaliações do que serve, as actividades que evidenciam onde eles demonstram as
restantes competências, só são feitas à medida que eles vão fazendo os trabalhos, não
há, pelo menos não faço, periodicamente não faço, agora no final de cada tema de vida,
sim há uma validação, há uma avaliação do tema de vida.
Entrevistador – Consideras importante o trabalho do mediador do curso EFA?
Entrevistada – Ai é muito importante.
Entrevistador – E em que aspectos é que isso pode…
Entrevistada – Na resolução dos conflitos que surgem dentro da sala, da sessão, na
resolução de problemas que possam entre os formadores e os formandos, toda a parte da
organização, por exemplo da organização e da planificação das saídas, das visitas de
estudo, digamos assim, mas isso, no apoio, no fundo o mediador serve quase como um
psicólogo, aliás, não sei se a Sónia foi entrevistada, é eu fui mediadora num curso e
costumo dizer, eu nunca mais fui a mesma pessoa, arrasaram comigo, e ela deve de ter
dito a mesma coisa, eles conseguem arrasar com uma pessoa, porque, é tanto problema,
tanto problema, ouve-se tanta história de vida, mas de, tão irreais, tão surrealistas que,
que é desgastante, mas acho que o mediador aguenta, porque se o mediador tiver um
bom papel ele aguenta, consegue aguentar os formandos dentro do curso, porque,
realmente a Sónia é muito mais paciente do que eu e muito mais meiga a falar e tudo,
realmente a Sónia passou aí, uns maus momentos porque, porque toda a gente, toda a
gente quer falar com a Sónia, eles querem todos falar com a Sónia, portanto aquilo às
vezes parecia um confessionário, saia um ia falar com a Sónia, depois saia outro, mas
isto é assim, é geral para todos os cursos que eu tenho passado, é o mediador é a mãe,
que, a mãe e o pai e é desgastante realmente.
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Entrevistador – Ok, e consideras que o trabalho da mediadora pode diferir ou se
difere nas entidades onde tens trabalhado? Há diferentes formas de fazer este
papel de mediador?
Entrevistada – Eu, das experiencias que tenho tido, não, normalmente são pessoas que,
que realmente dão muito apoio, depois também depende dos grupos, não é, há grupos
mais problemáticos do que outros, mas são pessoas que desempenham esse papel,
profissão, realmente do ouvir, de ajudar, de apoiar, muitas vezes a e pronto e choram e
não, não acho diferença, acho que as pessoas que tenho conhecido como mediadores
tem mais ou menos o mesmo perfil e tem desempenhado mais ou menos o mesmo
papel.
Entrevistador – Vamos entrar aqui no último bloco, que é em torno da iniciativa
das novas oportunidades e aos cursos EFA, qual é a tua opinião em relação a
Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistada – Em relação aos EFA?
Entrevistador – Em geral, a Iniciativa em geral…
Entrevistada – Acho que é uma iniciativa muito positiva, porque há de facto pessoas e
aqui estou a falar mais ao nível das Novas Oportunidades voltadas para o RVCC
porque, pronto, os cursos EFA são uma vertente que é sem duvida importante para, mas
lá está, para as pessoas que estão desempregadas e pode ajudar muito, porque há
pessoas que nunca tiveram oportunidade de estudar, e está é a oportunidade única que
elas tem de ter o 9º ano e acho que isso é muito positivo, relativamente às Novas
Oportunidades mas na parte do RVCC apesar daquilo, do mal que se fala do RVCC, e
também acredito que se calhar possa haver algumas partes menos sérias, relativamente a
isso, mas o RVCC em si enquanto ideia é muito positivo porque há de facto pessoas
com muitas competências e que devem ser reconhecidas e a elas dadas uma certificação
escolar em função dessas competências, não são todas, e este processo do RVCC é para
essas pessoas, têm passado por aqui pessoas, que aprendi imenso com elas, porque aliás
põem, põem os meus conhecimentos a um canto, às vezes até, estou-me a lembrar de
um senhor de Tavira que passou por aqui e eu até fiquei, eu até me senti intimidada a
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fazer a correcção do trabalho do senhor, porque foi um homem com uma experiência de
vida e com tantos conhecimentos, ele tinha sido preso pela PIDE, ele, foi ele que fundou
a rádio Gilão, ele participou no 25 de Abril, bom, ele tinha a nível politico, ele tinha uns
conhecimentos que eu tinha que ler aquilo e pensar, bom o que é que eu vou fazer, não
vou fazer nada porque se ele me perguntar alguma coisa disto eu não lhe sei dizer, não
é, portanto estas pessoas sim, depois há outra parte que é a questão das metas que se tem
de cumprir e portanto, há pessoas com menos perfil, que também entram nestes
processos e de alguma forma são, são levados a fazer com muita anotação e agora
desenvolva aqui e agora desenvolva ali e não seria talvez o processo para estes, talvez
um EFA secundário, que as pessoas depois dizem que não vão, porque não tem tempo,
porque não estão para andar na escola, confundem a escola com isto, portanto a
iniciativa, a ideia da Iniciativa das Novas Oportunidades é positiva e é boa, deu
oportunidade a muitas pessoas a realizarem um sonho, e a certificarem competências
que realmente elas tem e que, que lhes permitiu tirar o secundário que era um sonho que
elas tinham na vida delas, porque muitas vezes não puderam estudar, tiveram que
trabalhar, assim como os EFA também, mais os EFA, neste caso estou a falar mais os
EFA secundário, que os EFA secundário dentro da Iniciativa Novas Oportunidades acho
que são muito, são excelentes, pelo menos, eu só tive duas experiências e foi no NERA,
mas pessoas muito interessadas, cursos bem estruturados, bons formadores, e penso que
eles saem de lá bem preparados, quem quiser, bem preparados para uma vida activa, o
básico já é diferente porque é assim, parece-me que as pessoas que entram no básico,
apesar de só poderem ir para o básico porque não tem o 9º ano, não é? Passaram por
processos de vida a um pouco diferentes, não sei bem o que é que explica estas
diferenças mas, mas há diferenças.
Entrevistador – E os seus colegas costumam falar sobre a Iniciativa, o que é que
eles costumam comentar?
Entrevistada – Quais colegas?
Entrevistador – Colegas de trabalho
Entrevistada – Sobre…
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Entrevistador – Sobre a Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistada – A gente no CNO, no Centro Novas Oportunidades estamos todos de
acordo, não é? Trabalhamos todos na iniciativa, estamos todos de acordo, eu realmente
foi uma questão que ainda não coloquei acerca, não sei, muito honestamente não sei o
que eles dizem a isso.
Entrevistador – Não, porque falaste aí da questão do mal que se diz em relação à
iniciativa…
Entrevistada – Estou a falar de fora.
Entrevistador – De fora?
Entrevistada – Daquilo que a gente ouve falar de fora, não é? Ai agora vais tirar, ai
isso, isso escreves três folhas e está feito, ai não sei que, ai para quem estudar agora vaise às Novas Oportunidades e traz-se o certificado, eu estou a falar de fora, aqui o
pessoal de dentro, não, nunca tentei saber, mas estou a falar de fora, sim.
Entrevistador – De fora, portanto, tens uma ideia desses discursos que estás a
dizer?
Entrevistada – Sim, tenho amigos meus por exemplo falam mal, mal, depois há outra
parte, há aquela parte de amigos meus que já passaram pelo processo, ah não isso não é
bem assim, pronto porque eu fiz e tive que fazer e é difícil e não, pronto e tudo aquilo
que o processo é, mas sim, oiço muita gente a falar mal.
Entrevistador – O que é que achas da opinião que a Iniciativa Novas
Oportunidades promove o facilitismo? Qual é a tua opinião sobre isso?
Entrevistada – É assim, eu acho que não promove o facilitismo, não quer dizer que se
calhar possa existir lugares que o façam, não é? Não ponho as mãos no fogo por
ninguém, falo por exemplo por nós, mas também sou suspeita porque estou no Centro,
falo por nós, falo por Centros que conheço, e trabalhos que tenho lido, de processos de
143
RVCC, é assim depois porque isto também é assim, isto não é objectivo, é subjectivo os
formadores tem a sua subjectividade, eu dos outros Centros o trabalho dos outros
Centros que conheço, normalmente vou mais ver a parte da cidadania, não é? É o que
me interessa mais, não vejo diferenças, agora é assim pode haver ali uma perspectiva
que eu considere que é mais uma coisa e o outro formador do outro Centro considere
que é outra, mas basicamente e de forma geral, todos os portefólios que tenho visto de
outros Centros até porque a gente vê quando vai às reuniões, não me parece que fuja
muito da nossa forma de trabalhar, e penso que não se facilita, não é esse facilitismo que
consta, agora é assim, há algum problema é às vezes conseguir detectar as trapalhices
que os adultos fazem, porque há muito portefólio, na internet, disponível na internet, e
eles às vezes enganam, só que é assim, eu nas sessões refiro muito isso, é aquilo que
vocês sabem fazer eu também sei, e portanto eu também sei ir ver se aquilo veio da
internet ou não, é pá e às vezes, pronto, apanha-se uma coisa ou outra, mas o
facilitismo, que se, daquilo, dos Centros que eu conheço, não existe esse facilitismo,
não digo que não haverá noutros, não sei, não posso discutir esse assunto, mas não
penso que seja facilitismo que se diga, ao nível dos cursos EFA, é assim eles têm que
fazer a demonstração das competências, agora, cada formando é um formando, se me
perguntarem neste caso se a formanda tal é igual à formanda tal, não é, ah, mas fizeram
ambas o processo, fizeram dento das suas competências e das suas limitações,
conseguiram demonstrar uma muito mais que a outra, mas ambas conseguiram, mas
também a escola, permite que se passe com três disciplinas, três disciplinas a chumbar,
não é? E muitas vezes a pronto, lá aquelas, aquela legislação de os alunos com
dificuldades, portanto, também vamos falar que na escola há facilitismo, se vermos
assim, pois estamos todos no, no facilitismo, mas penso que não.
Entrevistador – Estamos quase a acabar, na tua opinião o que é que podia ser
melhorado na Iniciativa Novas Oportunidades, na iniciativa em geral?
Entrevistada – Não haver estabelecimento de metas porque as metas, podem levar ao
facilitismo, as metas é que podem levar ao facilitismo, nem todos são, não passar a ideia
que toda a gente tem perfil para fazer o RVCC ou mesmo para entrar em cursos EFA,
não, não limitar as medidas dos EFA pelo menos dos básicos às pessoas com carências,
aquelas limitações que existem porque às vezes há pessoas que não estão
desempregadas há muito, que não obedecem aquelas condições, mas que tem muitas
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competências e que podem levar um processo até ao fim, o estabelecimento de metas
nos RVCC é horrível, portanto não, assim é difícil que não haja, às vezes facilitismo ou
que não possa haver não é? No centro que se vê a uma determinada altura, não atingir as
metas e assim as pessoas não podem ser vistas por metas e estes processos não podem
ser vistos por metas, há que haver outra coisa qualquer para depois darem o
financiamento, também percebo a questão das metas é, então o que é que aqueles gajos
estão lá a fazer, se não conseguem certificar pessoas, não é? Portanto eles vão ter que
fazer estas para a gente dar o dinheiro, eu percebo esta parte, mas há que perceber é que
estamos a lidar com pessoas também e, e não é fácil, fazer uma coisa séria, não é fácil
atingir metas, porque, num ano fazer, certificar, penso que agora as nossas os
certificados do secundário são noventa, num ano fazer noventa certificados, não é fácil,
parece um número baixo, mas não é. Certificar noventa pessoas a nível Secundário é
muito difícil e a gente não vai conseguir, portanto, é isto devia, essencialmente esta
questão das metas.
Entrevistador – Quando dizes que ter metas pode levar ao facilitismo, podes-me
explicar um pouco melhor isso, como é que?
Entrevistada – Se as pessoas tiverem que cumprir uma meta de cem certificados, se
não conseguir sabe que vai deixar de ser financiado, o que é que se faz? Vou ficar eu
sem comer? Vamos então lá levar esta malta e ter cem certificados, e aí se calhar vamos
entrar, aí se calhar tem que se entrar pelo facilitismo, não é aquele total de dar
certificados, mas se calhar não é o exigir tanto, penso que, acho que esse é o problema.
Entrevistador – Sobre os cursos EFA, qual é a tua opinião sobre os cursos EFA?
Nos cursos EFA em específico?
Entrevistada – A nível de facilitismo?
Entrevistador – A nível do funcionamento, a tua opinião sobre a existência dos
cursos, os seus objectivos, como é que funciona?
Entrevistada – Sim, pronto no fundo, já foi, resumindo é um pouco isto, penso que são
muito positivos, porque dão uma oportunidade às pessoas de terem uma certificação a
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nível do básico quer a nível do secundário, muitas vezes pessoas que não tiveram a
oportunidade de estudar, agora por estarem em situações de desemprego, é uma forma
de, até se calhar conseguirem outro tipo de emprego e ao mesmo tempo, adquirirem
algumas competências que lhes podem ajudar, que as podem ajudar a encontrar outros
empregos, no entanto, portanto, penso que, mesmo o processo em si está bem
estruturado, a questão dos temas de vida porque um tema de vida bem desenhado pode
ser muito engraçado, pode ser a muito criativo, muito dinâmico, às vezes até pode fazer,
pode criar algum bem a nível da comunidade, eu lembro-me no outro que a gente fez no
Natal, o tema de vida tinha a ver com os problemas sociais em São Brás de Alportel, e
nós fizemos uma campanha de recolha de comida, e de roupa, e depois distribuiu-se
pelas pessoas necessitadas, portanto ouve ali, algo produtivo, portanto a estrutura penso
que sim, mesmo a nível da parte profissionalizante, não conheço todos, nem conheço os
cursos em si, mas acho, penso que há, eles conseguem estruturar isto de forma haver um
conhecimento, um pequeno conhecimento de cada um daqueles conteúdos, também é
bom o contexto em prática, a prática em contexto de trabalho é útil e às vezes ajuda as
pessoas a integrarem-se no mercado de trabalho, penso que o que falha é realmente
aquelas medidas que estabelecem que têm que ser aquele e não outro, porque depois
para o outro às vezes não há ou às vezes pode haver o RVCC mas às vezes as pessoas
não tem também perfil para fazer o RVCC e portanto acho que, que ao nível dos EFAS
é essa.
Entrevistador – Achas que os cursos EFA têm efeitos na vida dos formandos? Em
termos da sua vida futura?
Entrevistada – Não tem na maioria, tem numa minoria, que era aquelas pessoas que já
faziam qualquer coisa há anos, há uma parte que depois sim, consegue se calhar ir mais
além, mas é, é aquela parte que eu digo que não, que talvez falhe aí, para aquele perfil
que as medidas, teria que ser dado outro tipo de formação e não, não o EFA, o EFA tem
que ser para aquelas pessoas que realmente já tiveram hábitos de trabalho, tiveram
algumas experiências nesse sentido, tiveram depois o problema de ter ficado
desempregado ou mudar de terra ou qualquer coisa assim, e que necessitam da
escolaridade mínima para fazer qualquer coisa e então aí sim, agora para aquelas
pessoas que nunca trabalharam que, que não tem hábitos de estar sentados numa sala,
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embora seja muito para voltado muito para este tipo de público, acho que não é o mais
viável, não sei se me consigo fazer entender.
Entrevistador – Na tua opinião o que é que podia ser melhorado no funcionamento
dos cursos EFA assim da tua experiência profissional, do teu contacto com os
cursos, o que é que se poderia melhorar, para melhorar o funcionamento dos
cursos EFA?
Entrevistada – Melhorar o funcionamento dos cursos EFA em que sentido?
Entrevistador – Na forma como eles funcionam? Se há algum aspecto que queiras
destacar.
Entrevistada – Acho que uma forma de melhorar os cursos EFA era a formação não ser
de sete horas em sala, é horrível, porque a gente também tem que pensar em nós,
catorze meses, sete horas todos os dias numa sala é antipedagógico, o mal, olhe o mal
dos cursos EFA começa aí, é anti-pedagógico, é um, se calhar dos motivos de tanto
conflito, porque sete horas dentro de uma sala, para pessoas que não estão habituadas a
cumprir horários de trabalho, nem tarefas de rotina, sete horas sentado depois, às vezes
ao pé de pessoas que elas não gostam, é muito complicado e isso era uma coisa, sete
horas em sala, sete horas ou um mês em sala, três meses em pratica de contexto de
trabalho, um mês em sala, aí sim, penso que seria mais produtivo.
Entrevistador – Que balanço é que fazes do curso EFA que está a terminar na
Associação?
Entrevistada – Duvido que, não sei mas isto só posso falar daqui a um mês e tal, eles
agora vão para prática em contexto de trabalho, penso que alguns vão ficar a trabalhar,
uns seis ou sete irão ficar a trabalhar, dois ou três irá ser oferecido um posto de trabalho
e eles vão dizer que não querem, porque é com o autocarro e muita confusão, problema,
outros que não, não vão ficar, decididamente não vão ficar porque não…
Entrevistador – Quando dizes que não vão ficar…
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Entrevistada – Não vão ficar a trabalhar na empresa, não vão ficar com contrato de
trabalho.
Entrevistador – E achas isso, porque?
Entrevistada – Porque vão mostrar que realmente não estão voltados para trabalhar,
pronto, lá está, são aquelas pessoas, tenho quase a certeza, não o posso dizer, só posso
dizer isto daqui a um mês, aquelas pessoas que realmente nunca trabalharam ou que
nunca tiveram um emprego, tiveram sim dois meses aqui, um mês ali, três meses noutro
lado, de certeza mesmo, acho que não, não vão ficar, não vão ser integradas, portanto
isto já é estruturante, não é? Isto já se percebeu, se calhar era bom fazer um estudo sobre
isto, de não fica e quem é que fica, da experiência que eu tenho dos cursos EFA as
pessoas que ficaram a trabalhar, foram de facto pessoas, que foram habituadas a
trabalhar, tiveram vários anos da sua vida a trabalhar e depois houve azares e foram
porque aqueles que trabalham um mês agora, dois meses ali, três meses noutro sítio, não
ficam, porque é sempre muita, é difícil eu por exemplo o último curso EFA que dei aqui
o de São Brás, ficaram dois a trabalhar, mas aqueles dois já iam trabalhar de qualquer
forma, só precisavam mesmo do 9º ano, porque os outros já, pronto, depois uma
conseguiu também trabalhar em Loulé, mas porque realmente tinha o 9º ano, que eu me
lembre ficaram, um, dois, três, quatro, quatro a trabalhar, quatro, cinco, a, outra está a
tirar um curso secundário, quatro, o resto não, os cursos EFA o que é que pode ser
melhorado é o tipo de curso, não haver tanto, talvez voltar o curso mais, vocacionar para
as necessidades da comunidade.
Entrevistador – Estás-te a referir à área?
Entrevistada – Mas isso também é previsto nas candidaturas, não é? Porque eles só
são, há vários cursos mas os cursos só são aprovados quando realmente se prove que há
necessidade daquelas funções na comunidade, sim, pronto por ai se calhar não disse,
não dei a melhor sugestão, mas essencialmente acho que os cursos deviam ter uma
duração em sala mais curta, não ser pago tanto dinheiro, porque também agora penso
que já cortaram e as bolsas são muito mais reduzidas, e, porque a estrutura em si do
curso não, a estrutura a nível de conteúdos e da forma como está pensado, penso que
não, não mexeria muito.
148
Entrevistador – Ok, agradeço-te.
7. Entrevista 4 – M.S. – Formador da área de competência-chave de Linguagem e
Comunicação num curso EFA e no CNO da Associação para a Democracia.
Entrevistador - Começava por algumas questões de identificação e perguntava-lhe
as suas habilitações literárias?
Entrevistado - Portanto a minha formação é de Letras, concretamente de Literaturas e
Línguas Modernas na vertente de Estudos Portugueses-Espanhóis, e tenho também uma
pós-graduação que foi feita, na Universidade de Sevilha, que tem haver aqui mais com o
nosso trabalho de educação adultos, educação comunitária e etc. Portanto venho dessas
áreas.
Entrevistador - E qual é a sua profissão?
Entrevistado - Neste momento estou reformado.
Entrevistador - E a que exercia?
Entrevistado - Aqui na APD, eu sou um dos membros fundadores, e isto, já trabalhava
antes de a APD existir, no antigo projecto Radial, portanto fiz muita coisa como todos
nós aqui, mas estive mais ligado sempre, aos vários processos de formação de adultos
que a APD teve, e sobretudo aí na zona Serrenha, trabalhámos com os vários programas
de conservação dos T.P.C., das escolas-oficinas, portanto esses programas vindos da
administração e que visavam no seu conjunto a formação de adultos, na vertente de
criação de emprego, etc., sobretudo nos meios mais carenciados, e portanto trabalhei
nisso quase, quase uns 25 anos, mais recentemente no CNO, na parte do Secundário, até
Fevereiro, e no EFA, ultimamente era o que estava a fazer.
Entrevistador - Referiu-me aí que, essas seriam as funções que exerceu, aqui na
APD. Fazia mais alguma coisa fora da In APD?
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Entrevistado - Às vezes, muito pontualmente, o tempo nunca, o tempo aqui era sempre
pouco, mas onde era convidado para fazer alguma formação fora, em algumas entidades
e nesse âmbito, fiz várias coisas fora, em África por exemplo, várias vezes, em
Moçambique, na Guiné, etc, sempre com adultos, portanto, mas maioritariamente, o
meu trabalho foi aqui, realmente.
Entrevistador - Que função é que exerce no curso EFA que agora esta a terminar?
Entrevistado - Eu sou o responsável por uma das três áreas das competências chave,
como sabe, são as Linguagem e Comunicação, Matemática para a Vida e a Cidadania,
além depois outros módulos específicos, e a minha área é, sendo das Letras, é a da
Linguagem e Comunicação, que é uma das áreas de competências chave.
Entrevistador - Ao nível dos cursos EFA, deu formação para mais alguma
entidade?
Entrevistado - EFA, não, EFA foi só aqui.
Entrevistador - Tinha aqui uma questão, que vai no sentido do que me estava a
dizer, que era para me descrever um pouco a sua trajectória profissional, desde
que começou a trabalhar.
Entrevistado - Comecei a trabalhar há muitos anos, foi uma carreira de 43 anos de
trabalho, fiz várias coisas. Não sou daqui do Algarve e vim para cá em 86, fez agora 25
anos, quando fui convidado justamente pelo, hoje meu cunhado que na altura não o era,
Alberto Mello, quando ele iniciou o projecto Radial, funcionava na ESE, que estava
ainda na fase de instalação, e portanto que era um projecto de intervenção no interior, e
foi aí que eu comecei a lidar com estas coisas da educação de adultos. Porque, antes
disso eu vivia no Norte, talvez, muitas das pessoas daqui vêm de lá de cima, trabalhei
em várias coisas, trabalhei em muitas empresas, várias. Estive ligado à educação,
cheguei a estar, portanto, trabalhei em escolas também e estive ligado informalmente e
voluntariamente a outros aspectos da educação, mas, portanto, digamos assim que
150
sempre fui um bocado multifacetado, e só nestes últimos 5 anos praticamente é que se
foi mais sistematizado nesta…
Entrevistador - E como é que se deu essa entrada, no contacto com os cursos EFA?
Como é que surgiu essa questão?
Entrevistado - Nós já conhecíamos, não é, a associação já tinha sido responsável por
uma, mas eu nesse não tive intervenção e surgiu agora a oportunidade deste, foi lançado
até na perspectiva de realmente numa área, que oferece grandes hipóteses de
empregabilidade, ao contrário de muitos que sabemos que se fazem por aí, que cuja
saída profissional é duvidosa. E este surgiu nesta área que nos foi proposta, e parecianos realmente uma boa oportunidade, e à partida, naquilo que se faz hoje em dia na
formação profissional, uma coisa com saída garantida, digamos assim.
Entrevistador - Tentando perceber melhor um pouco a especificidade do trabalho
de um formador nos cursos EFA, se eu lhe perguntasse como é que é a vida de um
formador que faz a sua vida na actividade dos cursos EFA, o que é que…
Entrevistado - Essa é uma resposta, a uma pergunta interessante, mas de resposta
comprida, mas pronto. Eu suponho que há várias abordagens, várias posturas, há as
pessoas que estão na formação, que sejam ela numa escola formal, ou seja nestas,
informal com composturas diferentes. Portanto há as pessoas que fazem as coisas assim
digamos porque daquilo é o seu emprego, é o que puderam arranjar, há pessoas que
fazem isso porque durante algum tempo pelo menos acreditam na causa, há pessoas que
fazem isso porque gostam realmente e gostam da partilha digamos assim, de saberes, e
há muitas posturas, e tenho encontrado muitas, a minha, o que eu lhe posso dizer é que
realmente é uma coisa que me, de que gosto particularmente. Gosto muito de estar com
as pessoas, gosto de lhes transmitir aquilo que posso, e que eu sei que é útil, mesmo não
parecendo, mas é útil na vida de qualquer pessoa, e sobretudo fazer qualquer coisa, para
que se mude um bocadinho este panorama que temos no país. Não é só cá, é um caso
geral pelo que conheço, mas cá particularmente, interessa mais porque é o meu país,
realmente, que é ver o estado calamitoso em que está aquilo a que hoje se chama
cidadania, em geral, o cidadão, portanto, a pessoa que capaz de reflectir sobre as coisas
que vê, que tem alguns conhecimentos diversificados, portanto, capaz de fazer análises,
151
capaz de ser um bocadinho mais interventor e isso eu penso que é qualquer coisa que
cada vez temos menos, ou, dito de outra maneira, cuja falta se nota muito. Eu costumo
dizer muitas vezes que realmente nós não temos massa crítica para tomar um certo tipo
de atitudes, e esta é uma questão política se quiser, mas não temos massa crítica para
tomarmos certos tipos de posições que eu acho que o pais precisava que fossem
tomadas, mas realmente não há cidadãos para isso, pode parecer uma leitura muito
extremista e muito negativa, mas é realmente a minha visão do que temos neste
momento e, portanto, eu encaro estas formações, como uma oportunidade também para
alterar um bocadinho isso, embora, evidentemente, as alterações são mínimas, mas
contínuo a acreditar que alguma coisinha, lá fica, portanto, eu não reduzo a minha
intervenção apenas ao tema científico, digamos assim, específico da minha área. É
óbvio que é importante que as pessoas saibam se exprimir com clareza, que saibam
escrever minimamente qualquer coisa, que sejam capazes de lerem qualquer coisa e
saberem o que é que estão a ler, as tais competências básicas, isso tudo é importante,
mas é importante passar um bocadinho além disso, ou seja uma perspectiva do que é o
hoje, daquilo que vivem, do sítio onde vivem e ter outra postura digamos assim, cívica
se quiser, portanto é assim que eu vejo, a formação. E no caso do EFA não tenho razão
nenhuma para não vê-la desta forma. Devo dizer-lhe até que sou pouco canónico, ou
seja que me passa um pouco ao lado, daquilo que são os referenciais de competências
com as quais devo dizer-lhe que não estou de acordo e posso-lhe explicar porquê,
evidentemente tenho que manter algumas coisas como são porque são básicas em
termos de competências, mas aquilo para mim, realmente não é referencial, neste ponto,
deste ponto de vista na formação de cidadãos. É apenas instrumental, eu tenho aspectos
instrumentais que poderão ajudar, em si próprio não é referencial, enquanto formação de
cidadãos, isso é a perspectiva que eu tenho, portanto não sei se estou a responder
exactamente ao que me perguntou, mas essa resposta não é fácil!
Entrevistador - Falou aí de início, sobre as diferentes posturas que contacta…
Entrevistado - Sim…
Entrevistador - Pode tentar explicar um pouco melhor como isso se concretiza?
Entrevistado - Oiça, é delicado eu dizer isso, porque ao dizer isso, seria quase tentado
ou levado a dizer ou interpretado como, o que acha que aquele que é bom e aquele que é
152
mau, quer dizer, estava, não é propriamente isso, que quero fazer, até porque correria o
erro de cometer erros, de portanto não é uma questão taxionómica, portanto, estar a
classificar, mas estas posturas eu creio que são posturas que existem, eu sei que as
pessoas que vêm, aqui por acaso, nós normalmente temos algum cuidado e de uma
maneira geral a coisa tem corrido muito bem, mas que conheço outros âmbitos de
formação e as próprias escolas, quer dizer, e vejo isso, a postura da pessoa que está ali
porque é o seu emprego, acabou, e vai lá e debita e percebeu, percebeu, não percebeu,
acabou, faço sumário e fiz a minha parte e o resto não é comigo, e há outros níveis de
empenhamento. Há pessoas que têm outra perspectiva, realmente, que se empenham de
outra maneira, empenham-se seriamente para que aquilo que estão a fazer, seja útil, seja
apreendido, seja um instrumento ao serviço das pessoas e da sua qualidade de vida e por
aí adiante, da sua formação. Portanto eu acho que, isto é mais ou menos geral, nos
processos educativos, sejam eles formais ou não formais.
Entrevistador - Acha que ao nível dos cursos EFA essas diferenças ao nível de
empenhamento que esta…
Entrevistado - Acho que ainda existe, acho que sim.
Entrevistador - E acha que pode ter algum efeito ao nível da prática pedagógica e,
algum reflexo de alguma forma como se trabalha nos cursos?
Entrevistado - Eu penso que tudo aquilo que fazemos, tem sempre uma influência
qualquer, algures, aquela história antiga de uma borboleta bater as asas aqui pode gerar
não sei o quê do outro lado do mundo, ou seja, é a velha imagem da pedra que cai no
lago e que vai fazendo ondinhas e por aí adiante. E portanto, a maneira como nos
estamos seja no que for não é indiferente, e no caso concreto duma formação deste tipo,
uma pessoa que está ali com a função de formador, que é o título dado, quer queiramos
quer não, é uma referência e as pessoas por muito limitadas que possam ser, por muitas
limitações que possam ter, mas percebem perfeitamente quem é que têm na frente, se é
alguém que sabe o que está a fazer, que gosta do que está a fazer, e que comunica de
uma certa forma, que isto está tudo ligado, ou se é alguém que esta ali só porque aquilo
é pago a X há hora, e, é um complemento interessante para o seu salário ou então vive
disso, sabemos que há profissionais disso só fazem isso e não fazem outra coisa. E
153
portanto arranjaram ali o seu nicho e tal, e portanto a postura é muito mais desligada, as
pessoas percebem isso, portanto nessa medida, acho que há uma relação de causa-efeito,
evidente, a, não nos podemos desligar dessa ideia, é dessa prática, dessa realidade,
melhor dizendo, quer é assim, a nossa postura seja onde for nunca é indiferente, quando
estamos a fazer qualquer coisa, nomeadamente em comum, ou seja, a partilhar com
outros, a maneira como estamos, não é indiferente e portanto isso tem sempre, há
sempre ondas de choque positivas ou negativas, mas há sempre. Portanto para mim é
uma questão determinante, a maneira como se está na postura, e sei que há posturas
diferentes, como penso que saberá também, porque está ligado à docência como se
pressupõe e sabe que com certeza que isto é assim.
Entrevistador - No seguimento do que estava a dizer, tinha aqui uma questão que
é: considera que ser formador EFA é uma profissão?
Entrevistado - Pode ser, para muita gente, mas do meu ponto de vista e para ser até
coerente com tudo o que lhe acabei de dizer, é mais ou menos como me perguntarem, a
um padre se ser padre é profissão ou até outra coisa qualquer, portanto eu acho que pode
ser uma profissão para muita gente e bem-feita enquanto profissão, mas acho que é mais
do que isso, acho que é uma coisa que exige uma certa dose de paixão, porque estar com
as pessoas, como sabe, certamente, pessoas que têm vidas desgraçadas a maior parte,
vidas familiares pessoais, percursos terríveis etc. em certos momentos é quase e eu não
sou propriamente atreito à religião no sentido tradicional mas o nosso papel é muitas
vezes quase, quer dizer se estarmos nisto com esta perspectiva, de tudo aquilo que eu
disse para trás, a nossa postura, somos vistos como um bocado, como em muitos casos,
como uma bóia, de salvação, digamos assim, a expressão é um bocado forte, as pessoas
continuam a viver nos seus esquemas e tal e orientam-se, mas em muitos momentos
somos nós que as ouvimos realmente, somos nós que tentamos perceber até através das
suas próprias dificuldades em operacionalizar este ou aquele conceito ou tema e não sei
quê e percebemos através disso, dessa percepção que temos daquela pessoa, isso muitas
vezes abre caminho a que acabemos por estar a falar de coisas que não têm nada a ver
uma, ou seja, sobre esses aspectos eu uso um bocado, vou utilizar uma imagem, as
imagens são muito grosseiras, mas pronto, um bocado confessores, também desse ponto
de vista, portanto, não é tanto assim profissão, embora possa ser realmente, mas se é,
mesmo do ponto de vista do ser uma profissão, é qualquer coisa que exige muito mais
154
do que chegar ao escritório, fazer o seu trabalhinho e depois fechar a porta e ir-se
embora, porque estamos realmente a lidar com pessoas, e pessoas que têm problemas e
que nos põem problemas, com os quais temos de ligar, problemas de indisciplina, de
incumprimento vário, variadíssimos incumprimentos, variadíssimas incapacidades, etc.,
portanto e lidar com isto, nem sempre é pacífico. Há pessoas que o fazem assobiando
para o lado, pessoas que o fazem há moda de antigamente, isto aqui é assim e ponto
final, eu é que mando, há pessoas que tentam perceber um bocado aquilo, mesmo
impondo regras, tem de ser, naturalmente, mas tentando perceber o que é que está na
nossa frente, e é uma coisa que nos questiona todos os dias. Não há dia nenhum que
praticamente, nos dias de formação, etc., quando há um ou outro acontecimento menos
agradável, isso acontece a miúdo, em que uma pessoa não se põe em causa, não se
questiona. Para nos é também, portanto também desse ponto de vista, para nós é um
formador ser posto em causa, não só nos seus conhecimentos mas na sua postura, na
maneira como resolve as coisas, representa também uma oportunidade e um processo de
crescimento pessoal ou seja há aqui uma reciprocidade que ultrapassa e muito na minha
opinião, ultrapassa e muito o exercício de uma mera profissão, portanto uma pessoa que
vá com todo o respeito evidentemente que vai para a obra e está ali a assentar tijolos e a
medir o tamanho da janela e tal e pronto, isso não exige uma grande, grandes
preocupações da ordem metafísica ou por aí adiante, isto não, isto tem outras
exigências. Eu não sei se lhe estou a responder, se não me estou a afastar muito das
questões…
Entrevistador - Não, está ser interessante, é uma questão que me interessa
compreender melhor, tinha ainda uma questão nesse sentido, quer dizer ia
perguntar se ser formador EFA seria uma profissão e agora era mais específico, se
no seu caso, se perguntasse se se considera profissional da formação como é que
olharia para isso?
Entrevistado - Sou profissional ou fui profissional na medida em que nestes 25 anos, os
últimos 25 anos foi o que eu fiz, pronto aqui na APD penso eu, devo de ser a pessoa que
tem mais horas de formação tem ou teve, portanto, sobre esse aspecto fui um
profissional, ainda hoje mesmo estando já retirado continuei a fazê-lo voluntariamente
portanto, não tinha que fazê-lo, podia ser substituído, ofereci-me mesmo para este curso
EFA , ofereci-me para isso e não ganhava mais por causa disso, tinha um salário aqui e
155
ponto final. Ao contrário do que as pessoas possam pensar que eu vinha ganhar mais X,
mas não, aqui, aliás o próprio regime dos formadores internos como sabe não…não são
pagos. Portanto, o valor é para a entidade e acabou, aliás, ainda por cima é menor do
que o do formador externo, não se entende bem porquê mas é assim. Portanto, sou um
profissional ou fui um profissional na medida em que esse foi o meu trabalho. Não sou
um profissional no sentido restrito do significado do profissional na medida em que
tenho uma perspectiva um bocadinho mais abrangente que expliquei suponho e do que é
intervir nestas coisas.
Entrevistador - Em relação às condições laborais e institucionais de quem trabalha
nos
cursos
EFA,
a
questão
dos
vínculos
profissionais,
das
condições
remuneratórias e de pagamento como é que isso se processa?
Entrevistado - Aqui não tenho nada a dizer pelo seguinte, enquanto membro da
associação APD, tinha o meu salário regular e pronto. E sei lá em vez de estar a fazer
outra coisa qualquer, tinha o EFA uma vez por semana, portanto, numa casa em que eu
conheço muito bem, uma casa que eu ajudei a criar, na qual trabalhei na formação desde
o início e portanto, é um bocadinho diferente do que eu ir dar formação a outro lado,
como já o fiz várias vezes, e pronto a relação era amistosa, mas pronto a relação de ir lá
uma vez por semana, por mês, de 15 em 15 dias ou quando fosse, estar, em termos de
posturas com as pessoas foi sempre a mesma, mas com a entidade era uma coisa muito
formal, relativamente distante, tinha reuniões com os formadores de vez em quando, em
que se debatia um bocadinho o caso deste, daquele e daqueloutro, e onde depois ao fim
do mês ia receber o cheque e pronto, ficava por ai. Claro que aqui é diferente.
Entrevistador - Portanto, no seu caso aqui tinha um vínculo contratual, com a
Associação, não é?
Entrevistado - Tinha, tinha. Portanto era um formador interno. Aliás, como há mais
colegas nessa situação.
Entrevistador - Durante este percurso que me esteve a relatar, alguma vez pensou em
abandonar a actividade como formador?
156
Entrevistado - Não, tive muitos momentos de cansaço, aquilo que nós dizemos
vulgarmente, “Estou farto”. Situações que não têm nada a ver com a formação, que uma
pessoa tem de aturar, de irritações que uma pessoa apanha por causa de A, B ou C, que
não se porta como devia, que não respeita como devia ou que chega atrasado
sistematicamente, pronto, aquelas coisas. De ter muitas vezes de fazer alguns exercícios,
que se de complacência e de água benta, porque se trata ao fim ao cabo da vida das
pessoas, e por tanto ter algum cuidado, etc. mas isso também coincidiu porque eu
enquanto estava no EFA, na primeira fase até Fevereiro, isto começou em Maio do ano
passado, eu estava no CNO, um trabalho a tempo inteiro, e a maior parte das sessões há
noite, primeiro tinha o EFA, portanto, há muitos momentos em que uma pessoa, é um
cansaço enorme, e depois passado horas, e horas e horas e horas a ver trabalhos,
sobretudo isto tem mais a ver com o CNO, e a ler coisas absolutamente espantosas, e a
ver como a nossa querida língua é tratada e etc., e há alturas em que uma pessoa apetece
atirar a chaleira ao ar, e dizia isso muitas vezes, apetece-me pegar nestes papéis todos e
fazer um auto de fé ali fora chamar as pessoas, venham cá, temos aqui uma festa hoje.
Portanto, esses momentos, esses picos aconteceram a mim, eu penso que devem
acontecer a quase toda a gente, que não temos estaleca de santos, eu pelo menos não
tenho. Mas abandonar a actividade, isso foi coisa que nunca me passou pela cabeça, até
porque é uma coisa que eu gosto muito de fazer, continuei a fazer voluntariamente,
portanto, isto dir-lhe-á alguma coisa.
Entrevistador - Tinha aqui uma pergunta, o seu caso específico, vou fazê-la de outra
forma, e a pergunta era como é que viu o papel dos cursos EFA na sua vida profissional
futura não faz sentido no seu caso uma vez que se reformou?
Entrevistado - Estarei disponível penso eu, se alguém me convidar e se for coisa que
eu possa fazer, portanto o facto de estar retirado, não quer dizer que não faça coisas que
faço e até tenho bastante que fazer, mas se algum dia surgir a oportunidade ou alguém
precisar acho que, olhe o que tenho que fazer para contabilizar, mas se tivesse condições
fá-lo-ia outra vez.
Entrevistador - Voltaria a trabalhar nos cursos EFA?
157
Entrevistado - Voltaria, se tal fosse necessário e realmente e se estivesse
disponibilidade.
Entrevistador - Uma última pergunta relativa a estas questões para entramos noutro
conjunto de coisas, sente-se reconhecido no seu trabalho como formador?
Entrevistado - Às vezes sim outras vezes não, a maior parte das vezes senti, não posso
falar no plural, mas quase, quase acho que poderia, mas pronto. Muitas vezes sinto
realmente que as pessoas estão-se perfeitamente nas tintas para o que a gente diz e que
tanto se lhe interessa estar ali como não estar, foram para ali naquele velho esquema
com que as pessoas vão para os cursos, isto desde 86 que é assim, desde que começaram
a chegar os fundos, em que a formação é vista como um emprego, é um sítio onde se vai
ganhar uma bolsa, não vai mexer muito na cabeça e tal, e entretanto está ocupada e está
a ganhar algum, portanto esta postura de base que nós sabemos tem sido alimentada ao
longo destes, desde a nossa integração, desde 86, há 25 anos, portanto, essa postura das
próprias pessoas que vêm para a formação, não todas, mas boa parte delas, gera essa
insatisfação de quem está ali realmente com algum sentido de missão, chamemos-lhe
assim, à falta de outra, portanto e muitas vezes realmente uma pessoa não se sente nada
reconhecido, quer dizer quando eu digo a uma pessoa que sistematicamente chega
atrasada, eu tenho uma conversa com ela e até lhe digo como é que pode resolver o
problema e tentar perceber porque que é assim e etc, e até lhe dou umas dicas, e se fizer
isto assim, tente, portanto e a pessoa diz ”muito obrigado formador e tal”, portanto eu
vou tentar e durante uns dias anda ali realmente e está a funcionar, ao fim de duas ou
três semanas está outra vez tudo na mesma, e depois as pessoas sabem quer dizer, eu
não posso estar a começar, as 9:05h chega um, as 9:10h chega outro, as 9:15h chega
outro e outro chega sempre as 9:20h, outro vem sempre as 9:30h e não outro não sei o
quê. Uma pessoa pensa assim e não sei o quê? Além do mais é uma falta de respeito e
de educação, pronto, começa logo por aí, e portanto, essas coisas fazem-nos às vezes
desacreditar da forma como somos vistos, ou seja, o retorno que a gente quer, que eu
quero, além de ver as pessoas a evoluírem um bocadinho nas suas áreas de
conhecimentos, é evoluir também no sentido da cidadania, que passa por estas coisas e
quando a gente não vê isso, é difícil falar em reconhecimento, pronto. Portanto, às
vezes, estou sentado, há sessões em que penso que as coisas fluem, que há ali uma
energia positiva, há outras que por mais esforços que haja parece que não há ali
158
nenhum. Mas ontem por exemplo tive a ver, tive uma última sessão com eles, tive
anteontem uma sessão, estivemos a fazer as avaliações, e eu, claro eles ficaram muito
zangados comigo porque eu fiz-lhes uma avaliação diferente daquela que é o habitual,
que é as cruzinhas, aquele sistema que não serve para coisa nenhuma, mais uma coisa
incongruente do processo e eu disse, vocês põem umas cruzinhas, mas depois há aqui
esses espaços em branco, aqui e no fim etc., eu quero a vossa opinião por escrito, vão
pensar em cada uma destas coisas, e expliquei o que que é que está aqui é isto, isto e
isto e vão escrever aquilo que pensam, se tiverem mal a dizer digam a vontade porque
cá para mim eu quero-vos ver a pensar sobre isto. “Ai formador está mau, nunca
ninguém nos fez isso, aquilo e ah…” porque as pessoas têm uma resistência muito
grande a pensar mas fizeram e eu estive a lê-las ontem e fiquei surpreendidíssimo,
realmente, eu pensei que as pessoas não estiveram a fazer propriamente favores e no
geral a avaliação que tive é um sinal de reconhecimento alto afinal não foi tudo assim
tão, agora, não é evidente, não é uma coisa que a gente sinta todos os dias. Há dias que
sim, as coisas correm bem porque há algum assunto interessante ou porque se arranja
uma voltinha a dar e portanto, e as pessoas até gostam e a gente sente-as agarradas, e
pronto, há outros dias que não, quando temos que estar a tratar de coisas puras e duras,
por exemplo, a gramática portuguesa é uma coisa que ninguém acha piada nenhuma,
não é? Sobretudo quando nunca a deu ou a pouca que deu já não faz ideia do que aquilo
é, pronto e o português fia fino, muito fino, sobretudo se a pessoa tiver um nível de
exigência. Penso que a matemática será mais fácil, porque realmente 2 e 2 são 4, e um
triângulo mede-se assim, um quadrado mede-se assado e soma-se e já esta não há outra
forma de o fazer, o português não, a escrita, a expressão tem muito que se lhe diga.
Entrevistador - E quais são as dificuldades que sente no seu trabalho como
formador de educação e formação de adultos?
Entrevistado - Tenho dificuldade de duas ordens, uma pessoal, desde logo, que é a
seguinte, por muita experiência que possamos ter, por muito que possamos ler, nunca
estamos preparados para enfrentar tudo aquilo que nos vai aparecer, portanto há sempre
momentos em que nós não estávamos a espera, a nossa experiência toda e a nossa
formação toda, e auto formação e formação especifica, escolar, académica, etc., não nos
preparam para todas as eventualidades que temos de enfrentar. É um caminho muito
longo que se vai construindo, e umas pessoas vão atingindo digamos assim um grau de,
159
não diria perfeição porque isso, não sei que palavra usar, mas no geral proficiência se
quisermos e outras menos, portanto há níveis, portanto essa é uma dificuldade que eu
tenho que reconhecer. Outra dificuldade tem a ver essencialmente com as pessoas que
são aquilo a que se chamam os destinatários, o público-alvo que vem para a formação,
nomeadamente para cursos EFA, como para qualquer outro. Sabemos que a grande
motivação, a maior em para aí em 90 ou 95% dos casos são as pessoas que vêm para a
formação porque é o sitio onde vão estar sem grande esforço e ganhar algum, que não é
tão pouco como isso, uma pessoa ganha ali quinhentos e tal euros por mês, e depois se
tiver mais subsídios, aqui há pessoas que ganham seiscentos e tal euros por mês, ora
hoje como esta a vida, é óptimo, bom e há pessoas que sabemos também que são
profissionais da formação, há os profissionais enquanto formadores e há os profissionais
enquanto formandos que já fizeram N, e também sou bastante critico sobre isso, e
portanto essa postura dificulta obviamente, essa é uma dificuldade real. Que é um
bocadinho a história que se conta, da piada que se conta do escuteiro que quer fazer uma
boa acção do dia em que ajudou a atravessar uma velhinha que estava numa esquina de
uma rua, mas ela não quer ir para o outro lado, mas ele tem de fazer a boa acção e
arrasta-a, mas ela não queria nada ir, ela queria estar ali, estava ali a ver passar as
pessoas só, mais nada, e muitas vezes nós temos esse, quase esse papel de quase obrigar
as velhinhas a atravessar a rua porque elas não querem, não é aquilo que elas querem,
elas só querem aquilo por uma razão muito específica, tão ocupadas, sobretudo
mulheres, mulheres que passam o dia metidas em casa, nos cafés e que têm uma vida,
enfim, um bocado, pobre, uma vida interior, portanto aquilo é o convívio, o ganhar
algum, o aprender alguma coisa, nalguns casos é verdade, noutros não é, tanto pode
fazer um curso destes de apoio à comunidade e não sei o quê ou outro qualquer, ou de
geriatria, ou como de pastelaria ou não sei o quê, portanto e essa, é realmente eu penso,
que essa é a maior dificuldade, se juntarmos a isso o baixíssimo nível de preparação em
termos, não estou a falar em termos de capacidades, mas preparação, escolar, desde
logo, e até intelectual, pronto, que as pessoas consomem, nós sabemos, de que é que se
alimentam em termos intelectuais, não é, das bisbilhotices das telenovelas, daqueles
concursos perfeitamente aberrantes que temos, quer dizer, o seu universo mental é esse,
podem ter uma vida desgraçada, mas estão preocupadíssimas com o véu que levava a
noiva do príncipe não sei quantos, isso ai, sabemos isso, não é, portanto, esse substrato
mental, e eu não estou a culpar as pessoas disto, isto é fruto, isto tem razões para ser
assim, mas é uma realidade, portanto isso dificulta e de que maneira, quer dizer há mais
160
qualquer coisa a somar, há postura habitual do porque é que se vai para a formação,
estas são barreiras reais a um processo de formação consequente e ultrapassar isto, dar a
volta a isto, é qualquer coisa que eu ainda penso que ainda que ainda está por fazer.
Entrevistador - Em termos dos aspectos gratificantes da sua actividade como
formador de certa forma já falámos um pouco nisto…
Entrevistado - EFA?
Entrevistador - EFA.
Entrevistado - Há vários, como digo fiquei ontem muito comovido quase quando li
aquelas avaliações que eles fizeram, e foi a primeira vez que eles fizeram uma coisa
daquelas porque normalmente não fazem isso com ninguém, às vezes fico muito
sentido, no sentido positivo, tocado digamos assim pela maneira de como as pessoas me
falam, às vezes fico muito gratificado por pequenas actividades que fazemos, e que eu
vejo que as pessoas, por exemplo, posso dar-lhe assim um exemplo muito rápido, estar a
ler, isso nem sequer faz parte dos conteúdos programáticos, não tem nada a ver com
isso, quer dizer, para eles saberem que há mais coisas debaixo do sol além do que a
gente lê no Correio da Manhã e no Crime. Por exemplo vamos ler aqui uma poesia da
Florbela Espanca ou do Fernando Pessoa, claro que, aquilo é duro, sobretudo se falamos
no Fernando Pessoa, ninguém percebe, é óbvio, nem é esperável ou exigível que
perceba, seja capaz de fazer uma interpretação de uma coisa daquelas, mas é possível
fazer isso com elas e eu fiz isso várias vezes e eu reparei que nesses momentos quando
estava a fazer isso com elas, até escrevi no quadro, não sou muito adepto das
tecnologias, aí sou um bocado da velha guarda, gosto muito do quadro, e agora vamos
lá olhar para isto, vamos ler aqui, o que é que isto quer dizer, palavra a palavra quase,
agora vamos lá procurar o significado dessa palavra, que significados é que ela tem, não
tem só tem um, tem mais, o que é que acham que encaixa aqui, vamos ler isto assim, e
chegamos ao fim e temos uma leitura daquilo que à partida era algo de impenetrável.
Eu, recordo com muita, com uma alegria, digo-lhe, momentos como este por exemplo, e
eu vi toda a gente, toda a gente, que me parece uma criança a quem deram um
brinquedo novo, que descobriu qualquer coisa, uma magia, portanto as letras também
têm isto, e isso é uma coisa que me gratifica muito, eu fazia isso com alguma
regularidade, às vezes até escolhia coisas mais acessíveis, portanto, que são mais
161
entendíveis e tal, e depois as pessoas até diziam “aí isso explicado por si até parece
fácil”, pronto mas estão a ver é assim que se faz, muitas vezes pediam-me, e começavame a pedir para contar histórias, às vezes lia estratos de bons autores de uma maneira
geral. Fazer o velho ditado de antigamente para uma pessoa treinar a escrita, isso aí ia
buscar aos textos estratos, pautas portuguesas, por exemplo, o que eu acho que tem a
ver com e depois discutir aquilo, essas coisas todas, eles adoraram, claro ficavam
sempre muito chateadas quando eu depois lhes dizia “agora não se esqueçam do que
estivemos aqui a discutir e a vossa opinião vão ter de a pôr por escrito isso, isso conta
para as validações que têm de ser feitas, pronto aí o caldo entornava-se, mas naquele
momento, era mesmo quase de magia, havia ali alguns que cumpriam, regularmente elas
cumpriam, mas vamos ler e tal, vamos contar essas histórias e tal. Eu sei que vocês
gostam de estar a ouvir histórias mas não podem ouvir todos os dias, tanto vê isso, isso
são momentos únicos, é o lado luminoso digamos assim, se quiser, da coisa.
Entrevistador - Como é que tem funcionado o trabalho curricular em torno dos
temas de vida com os seus colegas de formação?
Entrevistado - Bem, embora eu tenha sido pouco interventivo, reconheço, houve
colegas que trabalharam muito mais, eu trabalhei aquelas partes específicas só, portanto
as recolhas que faziam, os textos que tinham de fazer etc. E depois trabalhava com eles,
mas na parte da organização, do produto final, fizeram agora um filme, foi uma coisa
notável, que admirou toda a gente, aí a minha intervenção foi muito reduzida, devo
confessá-lo, portanto não posso falar muito disso, porque houve colegas, mas a minha
colega Daniela sobretudo, foi uma pessoa que teve aí um papel mais preponderante e eu
fiquei mais um bocado na retaguarda e mais em termos de, mais específicos, portanto,
não, não posso, não tive uma intervenção da qual possa falar.
Entrevistador - E em relação a essa articulação em torno dos temas de vida e da
formação de base e formação profissionalizante, como é que isso se costuma
processar, como é que sentiu essa questão?
Entrevistado - Houve, eles aqui trabalharam 3 ou 4, há formações em que eles
trabalham muitos, mas acho que aqui foram só 3. O primeiro tinha a ver com o viver
com qualidade, portanto tinha tudo a ver com a área de formação, o segundo tinha a ver
com a questão do património de S. Brás, conhecer a sua terra, não tinha exactamente a
162
ver com o tema com… com a área da formação, o terceiro tinha a ver isso sim com o
não com a área especifica da formação mas sim uma coisa muito concreta que é as
questões da procura de emprego, lançar-se no mercado de trabalho etc. e para mim isso
liga-se tudo porque digamos são coisas que mesmo não tendo a ver, realmente, só o
primeiro tema é que tinha a ver com os conteúdos da formação, as questões da
localidade etc., as questões da terceira idade, etc, saúde e por aí em diante e sim tinha
haver os outros não tinham praticamente mas, acho eu que fazem parte desse, algo
envolvente de preparar as pessoas para e este último foi realmente, ultrapassou todas as
expectativas, que eles fizeram, foi notável.
Entrevistador - Como é que se posiciona face esse currículo integrado em torno dos
temas de vida, qual é a sua opinião sobre essa, essa questão?
Entrevistado - Mais uma vez, se calhar vou-me repetir, porque eu olho para isso como
olho para a postura dos formadores, depende muito de como forem conduzidos, porque
eles podem estar tematicamente associados aos conteúdos da formação, aos objectivos
digamos, profissionais, ou não, tudo depende da maneira de como forem conduzidos, ou
seja, qualquer uma, qualquer seja a área temática escolhida, estando ou não, estando
mais ou menos ligada aos aspectos de conteúdos de curriculares, dos objectivos da
formação, portanto, mas qualquer coisa pode ser trabalhada, tendo por objectivo
realmente, a formação de cidadãos. Portanto, uns com uns aspectos mais técnicos,
outros com menos técnicos, mas dependem muito de como isso é pegado, portanto, eles
podem ter tudo a ver com a formação e ser um flop dependendo de como lhe pegar.
Entrevistador - Quando me disse dependendo de como lhe pegar?
Entrevistado - Como for conduzido o processo, é um bocadinho, tem a der um bocado
com as posturas perante a formação e ao formador. Aquilo o que se faz porque se tem
que fazer, portanto, ou aquilo que se faz, mas que é feito com alguma paixão, pronto e
que se consegue ver um bocadinho pra além da obrigação de fazer aquilo porque faz
parte do programa, e havendo esse olhar, as coisas mudam substancialmente, quer, quer
tematicamente haja uma ligação mais próxima ou menos próxima, portanto é para mim
é sempre a questão da postura ou como lhe pegam nisso. Não sei se estou a responder.
163
Entrevistador - Em termos ainda dos temas de vida como é que eles costumam
surgir?
Entrevistado - Normalmente estes surgiram por escolha das pessoas, foram eles que
escolheram, tanto quanto sei.
Entrevistador - Depois para trabalhar essa questão costumam planificar os temas
de vida, como é?
Entrevistado - Sim, isso faz-se.
Entrevistador - Como é que isso se costuma processar?
Entrevistado - Faz-se, passa por uma reunião prévia de formadores e portanto estamos
a pensar normalmente um colega de, a Daniela, normalmente, a de cidadania é que tem
feito isso mais a coordenação também, a coordenadora com quem já falou a Sónia,
portanto isto vamos, isto o tema é este, falar com as pessoas e se elas estão de acordo,
elas é que sugeriram, e portanto, supomos que vai ser importante haver este tipo de
actividades, fazer este tipo de actividades, fazer isto, fazer aquilo, fazer aquele outro, a,
tem sido bastante consensual, embora lhe diga que tenha havido níveis de intervenção
diferentes e o meu nível de intervenção nisso foi muito mais reduzido que outros
colegas, portanto trabalhar muito mais afincadamente, nomeadamente a colega da
cidadania.
Entrevistador - E os formadores costumam a aderir às reuniões de planificação ou
sente que há dificuldade a mobilizar os formadores para reunir?
Entrevistado - Às vezes há alguma dificuldade, porque, seja porque há muitos
formadores externos, as pessoas têm as suas vidas e depois é preciso estar sempre a
mudar porque agora não pode, a mim agora não me dá jeito, depois há outros que tem
uma intervenção muito mais pontual também, bastantes módulos e há coisas que fazem
parte de, são curriculares mas são coisas de sei lá oito horas e não sei o quê quer dizer
para estar a obrigar as pessoas a vir cá, as pessoas vêm de longe e não sei o quê,
portanto nem sempre houve essa regularidade que provavelmente deveria haver em
termos de equipa, de grupo, de um afinar de pontos de vista e parâmetros, penso que
isso deveria ter sido, deveria ter ocorrido com mais frequência. Mas compreendo que
164
também é muito difícil por causa das circunstâncias de cada um, e para nós as pessoas
aqui internas da casa não têm grande problema, mas somos a minoria, somos 3 e mais 2
colegas que fizeram uma intervenção pontual, de resto é tudo gente de fora, alguns de
longe, e têm os seus trabalhos etc., essas reuniões alargadas recordo-me de muito
poucas e depois há algumas pessoas que têm muito pouco dizer, realmente, uma pessoa
que vem fazer um modulo de 8 horas, 14 horas ou não sei o quê, quer dizer, além de
falar, ou poder falar eventualmente, no que é que está a fazer, que é pouco, é pouco em
termos de tempo, quer dizer a visão que tem do conjunto é necessariamente muito mais
reduzida do que a pessoa que está ali a tempo inteiro ou seja o percurso todo não é.
Entrevistador - Considera ainda no seguimento do que me está a dizer se essas
reuniões de planificação se são importantes para o funcionamento dum curso
EFA?
Entrevistado - Eu penso que são, porque digamos assim, tal como lhe dizia há pouco a
propósito do papel do formador, da postura, a pessoa, o formador é uma referência
enquanto está ali, pró melhor e pró pior, mas é uma entidade e um programa e a maneira
como ele é aplicado são também uma referência e quanto melhor organizados eles
estiverem evidentemente os resultados são outros, e é importante que as pessoas
percebam, os chamados destinatários, percebam, que aqui, há uma linha, de coerência,
de continuidade, o que no fundo isto tudo, ou seja, não é cada um faz o que lhe apetece.
Portanto é importante que haja uma linha de frente comum, e isso e as idiossincrasias
são cada uma tem a sua, sabemos, e a forma de ver também é muito diversa, portanto, é
importante que haja pelo menos relativamente aquilo que estamos a fazer em conjunto
embora sejam individuais, é um projecto conjunto, é bom que haja alguma coerência e
sob esse ponto de vista acho que os encontros deveriam ser mais frequentes, e portanto,
para dar um pouquinho mais de consistência a essa frente comum, nós fizemos o que foi
possível fazer, penso eu. Ainda acho que a coisa não correu, não houve grandes, não
houve grandes flutuações.
Entrevistador - Quanto à planificação, acha que ela é depois cumprida pela
prática, como é que as planificações são feitas, como é que isso se processa?
Entrevistado - Aquilo que foi planificado em termos nomeadamente dos temas de vida,
isso foi feito, tanto quanto, mesmo no primeiro, tudo aquilo que foi assente, foi
165
cumprido. Eu recordo-me das coisas que trabalhei mais com eles, foi isso, um tema que
foi o património, eu sei, eu fiz visitas com eles, preparei com eles, houve depois o
retorno disso e portanto isso foi na altura que foi planeado, quer em termos de cada
módulo, quer em termos do conjunto de actividades, tanto quanto eu sei, é como lhe
digo, tanto quanto eu sei, foi cumprido, pelo menos naquilo que eu estive ligado, mais
ligado, foi.
Entrevistador - Como é que se processa o trabalho em torno da evidenciação e da
validação de competência dos formandos, das evidências das competências?
Entrevistado - Aquilo tem de ser foi feito e para isso tivemos de recorrer ao referencial,
aos referenciais, eu tenho aqui, aí temos, eu pelo menos na minha área tenho que fazer
uma certa ginástica, porque aquilo, os termos em que está, está completamente
escolarizado, e nos termos em que está posto na maior parte dos casos, não se adapta à
realidade das pessoas, de modo que eu tenho que estar a fazer interpretações e têm de
fazer actividades que eu acho, que eu acho, que me parece que podem corresponder um
bocadinho ali aos critérios ao B1 ou ao B2 ou B3 ou não sei o quê. Tenho que fazer um
bocado a quadratura do círculo, mas aí tem a ver com instrumentos que eu acho que não
são adequados para este tipo de coisas, portanto, mas é por ali que temos de aferir, as
validações têm de ser dadas de acordo com aquilo.
Entrevistador - Quando diz que o referencial esta um pouco escolarizado?
Entrevistado - Completamente…aquilo é um referencial de competências, aquilo é um
referencial de conhecimentos, não vamos falar do secundário que esse então é, mas
basta olhar para ele, eu tenho aqui, mas se o conhece não vale a pena evidentemente, é
capaz de produzir textos e não sei o quê e não sei que mais, é capaz de reconhecer o
discurso directo e o discurso indirecto, e não sei o que não sei que mais, obviamente, as
pessoas podem ter imensas competências na vida e que não passam por aí, portanto,
como é que vamos fazer esta junção, isto não é exactamente aquela ideia base, por isso
que eu acho que era muito interessante que falasse com o Alberto, isto não corresponde
exactamente a essa ideia de educação de adultos, tem outra, outra dimensão que não
exactamente esta, foi reduzido a isto, e agora aguentem-se.
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Entrevistador - Considera então que essa dimensão escolarizante está muito
presente?
Entrevistado - Presente, completamente presente.
Entrevistador - E no seu caso como é que costuma fazer para se relacionar com
isso, face à necessidade de trabalhar? Como é que costuma proceder?
Entrevistado - Como deu para ver trabalhamos muito a partir de textos, e a partir de um
texto eu posso trabalhar com uma quantidade de coisas, como sabe não é, desde as
questões da gramática, por exemplo, as conjugações verbais, que é uma coisa que é
estruturante, no nosso discurso, sobretudo no escrito, não se pode passar ao lado, mas se
eu pegar num bom texto seja ele qual for e a partir daí trabalhar essas questões que estão
no referencial, ou muitas delas, não todas, mas algumas, bastante até, e portanto, e era
isso que eu fazia, eu fazia muito, e havia sessões em que nem sequer pegava em textos,
e era mesmo para gramática, tirava extractos de alguns aspectos que são fundamentais,
quer dizer, os a com H e sem H, que era um drama desgraçado, os H estão sempre ao
contrario, continua a ser um drama, os conjuntivos que já ninguém sabe o que é, mesmo
a níveis de escolaridade já avançada, o panorama é o mesmo, tenho essa experiencia e
portanto, não é muito diferente, mas que são coisas realmente, são traves mestras e elas
são pedidas, realmente, pelos referenciais. Tento normalmente trabalhar nisso a partir de
textos. A análise, o texto, depois eles têm de saber interpretar um texto, têm de saber
resumir, tem de saber captar as ideias base que lá estão, isso são tudo coisas que estão
no referencial. Mas isto era as coisas que eu fazia andava na altura, já na minha quarta
classe eu fazia coisas desse tipo, e depois no segundo ano, que é hoje o sexto, e no
quinto que é hoje o nono, era já obrigado a fazer isso, portanto e a nossa escola tinha
outra…não tinha exactamente o modelo por inteiro, mas são coisas de natureza escolar,
completamente, eu não posso construir uma frase com princípio, meio e fim, por mais
pequena que seja, para dizer uma coisa qualquer. “Hoje fomos visitar o moinho de
Alencar, e falamos com o senhor fulano tal, que nos contou isto e aquilo e aquilo e
aqueloutro, etc. Portanto, aqui numa frase destas nos temos quase tudo, quer dizer, nos
temos a conjugação verbal correcta, nós temos o discurso directo e o indirecto, temos a
pontuação pronto, um drama, esta lá tudo, isto faz parte da formação escolar, de base.
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Entrevistador - Ainda nesse sentido sente alguma dificuldade na identificação do
levantamento de indícios, evidências, na validação das competências e se esse seu
trabalho com os formandos são alguns aspectos?
Entrevistado - Sabe, também, a partir de uma certa altura, penso eu, com algum treino,
e depois as coisas começam a funcionar já quase de uma forma automática, e portanto,
eu já sei que isto corresponde, pra mim, que eu também lhe digo, aí sim, eu não eu não
estou seguro de que essa interpretação que eu faço seja aquela que a ANQ quer, mas
também lhe digo, é uma coisa que me tira o sono, se quiserem vir falar comigo podem
vir que depois eu explico-lhes, e digo-lhe o que tenho a dizer, mas portanto eu penso
que, aquela interpretação é pelo menos, pra mim faz sentido e portanto, tento adequar,
as coisas de que vamos falando, nos vários itens, não a todos, porque alguns, não são
aplicáveis. Por exemplo há um que, é capaz de não sei o quê, é capaz de autocorrecção,
quer dizer, mas quem, se a pessoa não sabe, não sabe acabou, não vai autocorrigir coisa
nenhuma, há coisas assim da ordem do absurdo, para mim, e depois outras coisas têm
outro tipo de linguagens, quer dizer, outras linguagens, a linguagem corporal, a
linguagem gestual, mas são coisas tão, como é que se dá isso, portanto há algumas
coisas dessas que passo por cima, por exemplo; olha lá as questões da linguagem
metafórica, explicar o que é uma metáfora, o que é a linguagem metafórica num texto,
portanto a gente fazia essas coisas, mas claro que, evidentemente que isso é feito de
uma forma apoiada, as pessoas têm que ter ajuda para isso, porque se eu perguntar aí a
um aluno do 9º ano da escola ou do 12º até, que eu já apanhei vários, noutras coisas,
quer dizer, também disso sabem tanto como, infelizmente é o deserto, portanto.
Entrevistador - Em termos do seu trabalho pedagógico, se faz um trabalho mais
com o grupo, se faz um trabalho mais individualizado como é que isso costuma
acontecer?
Entrevistado - Eu falo para toda a gente, o que digo é para toda a gente, e digo muitas
vezes, as vezes sou um bocado repetitivo, porque sei que há níveis diferentes de
atenção, pontualmente ou quando é preciso, sento-me ao pé deles, de uma pessoa, ou
duas ou três e discutimos, enquanto o outros estão a fazer e tal, isso eu faço, portanto é
misto, quer dizer, maioritariamente falo para toda a gente, estar ali, para cada individuo,
nem há tempo para isso. Mas sempre que necessário estamos sentados, 2, 3 ou 4,
depende. Agora há uma coisa que eu estou aqui a dizer, não sei se tem a ver com as suas
168
perguntas ou não, uma coisa que, desde logo, matam um pedaço estes processos, que é o
facto de se meterem pessoas, tem as suas contradições, tem os seus conflitos, etc, sete
horas por dia na sala, ninguém aguenta isso. Mesmo provavelmente sabe pela sua
experiencia docente, quer dizer ao fim de uma hora, não sei se tinha aquelas aulas
compridas e uma hora e meia ou de três horas, ou não sei o quê, isto quer dizer, ao fim
de meia hora a atenção já, e estamos a falar de estudantes que só fazem isso, não tem
assim em principio grandes preocupações, outras, para além de passar cada frequência,
mais não sei o quê. Ora agora estar com pessoas que já perderam completamente o
ritmo da escola e tudo, e metê-las 7 horas dentro de uma sala, é uma violência. Até sob
esse aspecto eu acho que a coisa esta mal concebida, isto teria muito mais sentido, um
processo misto, portanto, de actividades concretas de terreno e depois momentos, assim,
na sala, para tratar de questões mais teóricas e etc., porque eu não posso exigir, e eu
normalmente tinha sempre as manhãs, 4 horas ninguém aguenta.
Entrevistador - Em termos ainda em relação ao trabalho pedagógico dos
formadores num curso EFA, na sua opinião quais são os princípios que devem
orientar o trabalho de um formador num curso com esta especificidade?
Entrevistado - Acho que são os mesmos de qualquer outra área de formação, acho que
tem de haver a tal paixão pela coisa, e tem de haver um princípio ético, óbvio, e aquilo a
que se chama também claro, faz parte de um exercício de qualquer actividade que é a
ideia deontologia, não é? Portanto, acho que não da para andar a brincar.
Entrevistador - E em relação às competências que considera essenciais para
exercer a sua actividade como formador EFA. Se perguntar quais as competências
que considera fundamentais?
Entrevistado - Fundamentais? Desde logo há aquelas competências específicas,
portanto, de carácter científico, aí uma pessoa tem de saber do que esta a falar. Até
porque daí vai depender muita coisa, portanto a preparação formal, acho que é
indispensável. Ao mesmo nível ponho a capacidade de comunicar, portanto de saber
transmitir, nós sabemos que há bons professores e maus professores, há professores que
sabem muito e que são uma desgraça, que deviam é estar metidos nos gabinetes a
investigar e não deviam por os pés numa sala de aula e sabem que se farta, mas aqui na
aula é um terror por e simplesmente porque eles não sabem comunicar, pronto. Aqui é a
169
mesma coisa, o que se põe aqui põe-se para qualquer outro nível, pronto, a preparação
técnica é evidente, até porque uma pessoa que não está preparada vai estar a balbuciar, e
eles notam isso logo. Portanto, é uma questão de ter a postura, implica uma certa
segurança do que se está a fazer e isto é isto tem a ver com a preparação e depois há o
tal, o saber estar, que eu acho que é fundamental, portanto, a maneira de como se fala
com as pessoas, a maneira como se impõe, eu não tenho medo dessa palavra e muita
gente não gosta dela, mas tem de ser, na minha opinião, claro, a maneira como se impõe
regras, que é uma coisa que as pessoas não têm de uma maneira geral, estes, estes
públicos, a maneira como se impõe ou como se faz sentir que os princípios daquilo que
a gente chama, a educação, não é a educação de adultos é a educação mesmo o sentido
do chazinho, sem isso, é difícil nós entendermo-nos. E portanto, o formador, digamos
que tem que entender essa polivalência, e mesmo tendo-as, isso não o isenta de ter
chatices. Essas chatices são uma inerência da coisa, portanto, agora não as tendo.
Entrevistador - Quando refere aí chatices…
Entrevistado - Chatices, aquelas decorrentes do próprio processo, que é o tipo que é
malcriado, o tipo que responde mal, o tipo que está sempre a interromper, é o outro que
diz “isto não faço”, esse tipo de coisas, isto é uma seca, isto não sei o quê, aqueles
comentários, os diálogos, aquelas coisas todas que nós sabemos, que interrompem, e
como é que a gente lida com isso? Aí, e realmente temos um poder, mas temos que
saber exercê-lo, quer dizer uma pessoa, o formador tem logo à partida o poder, é a
pessoa que tem o saber, é a pessoa que manda, pronto ali, agora esse exercício do poder,
tem que se tem que ser conduzido com base em princípios dos quais já falei, portanto,
tem uma ética nisso, porque senão é apenas repressão, é uma coisa que eu não acho
particularmente interessante, não é, acho tão interessante como a falta de respeito,
portanto, esse equilíbrio.
Entrevistador - Pedia-lhe para me descrever um pouco o perfil dos formandos que
frequentam os cursos EFA?
Entrevistado - Há um pouco de tudo, desde, nós temos ali pessoas, com muitas
capacidades, nós assim de grupos de formação variada e dos vários tipos de grupos de
formação que tivemos, acho que este é um dos grupos melhores, portanto alunos de
qualidades, de capacidades, há ali gente muito capaz. Agora, a postura, digo
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maioritariamente, é essa, em vez de estar em casa, em vez de estar não sei o quê vou pra
ali, sempre me entretenho, vou conviver, e vou ganhar um salário que noutro lado
qualquer não ganho, sobretudo com as habilitações que eu tenho, pelo menos durante
um ano e tal, ou seja, mas isto é em todos os processos de formação em que eu estive e
foram muitos, posso-lhe dizer, o ponto de partida era um bocado isso. Claro que há uma
ou outra pessoa que até se interessa pelo tema, digamos assim, e até gosta. E depois
claro compete-nos a nós mudar um bocado isso, ao longo do processo, porque essa é a
postura, é ocupação, uma ocupação remunerada, é o sair de casa sobretudo para as
mulheres, elas têm o marido, os filhos, e depois elas queixam-se muito que não têm
tempo para fazer o trabalho, porque têm de cozinhar, e eu digo-lhes sempre, isto é uma
escolha vossa, vocês quando foram às entrevistas disseram, juraram que amavam isto,
religiosamente, portanto, agora têm que aguentar, portanto, tem de arranjar, já sabem
que têm de se organizar. “Mas a comida que eu tenho que fazer para o meu marido
porque ele não faz nada”, minha senhora, tem de arranjar um espacinho pra si, portanto
isso também lhes faz, penso eu, para muitas delas. Portanto, há de tudo, mas a posição,
penso eu que a posição maioritária, infelizmente continua a de ser essa, a formação é
um escape, por algum tempo, aliás muita gente nem sequer fale em bolsa de formação,
falam do ordenado, para muitas pessoas a formação é um emprego durante um X tempo
e ponto final, outras não, há pessoas que tentam realmente, sendo minoritária e há
pessoas que são muito, também temos aqui pessoas muito capazes, tenho lá umas moças
novas que são, aliás no outro dia tive a falar com algumas delas e disse-lhes vocês
deviam de continuar a estudar que é uma pena ficarem por aí, etc. Elas têm capacidade
para isso, não sei se o farão, ou não, mas capacidade para isso têm, há uma tendência
muito grande também para as pessoas se encostarem, por exemplo eu evito de uma
maneira geral os trabalhos de grupo, isto de alguma maneira, estamos a falar dos perfis
e das pessoas, só quando tem mesmo de ser, mas evito-os ao máximo, porque eu já sei
como é que é, há uma pessoa que trabalha e depois há três ou quatro que estão mais ou
menos a fazer cera à custa do trabalho daquela, mas na escola é a mesma coisa, na
universidade é a mesma coisa de certeza, por aí adiante, ou era, não sei agora como e
daí eu evitar porque eu acho que as pessoas se devem esforçar, já que estão ali e ainda
por cima estão a ser pagas, e digo-lhes muitas vezes, oiçam, é o meu dinheiro, eu estou
a pagar parte dos meus impostos, é para vos pagar, é um luxo, a, estão a ver, vocês estão
a ter uma formação, estão a ter uma carteira profissional, estão a ter uma escolaridade,
têm acesso ao mercado de trabalho e aqui nesta área têm-no garantidamente e ainda por
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cima estão a ser pagas por isso, portanto, o mínimo que eu posso fazer é exigir alguma
coisa. Esta é uma coisa que as pessoas não gostam muito, esta parte não gostam,
realmente, não gostam porque não é a postura não é essa, criou-se e infelizmente criouse e muitos políticos falam muito nisso, uns falam disso de uma maneira mais ou menos
sensata e outros falam disso de uma maneira mais tola, a questão que anda aí muita
coisa do facilitismo, a coisa está em cima da mesa, na escola e fora da escola e por
muito que nos doa, isso faz parte do problema, isso é verdade. Portanto, nós temos
fomentado, muito, e muitos programas de formação que têm havido desde 86, mais
concretamente desde 87, quando começaram a chegar os fundos do Fundo Social
Europeu, sobretudo, o fundo que financia a formação, sobretudo esses, as pessoas
realmente habituaram-se, encostaram-se completamente e acho que a todo este
processo, as coisas de formação que têm havido, claro que uma pessoa que passa por
um processo de formação alguma coisa leva, eu acredito, quero acreditar nisso, algumas
levam claramente e até mudam a sua vida, mesmo aquelas que não mudam a sua vida
pelo menos ouviram outro tipo de coisas, conheceram outro tipo de coisas que aqui ou
acolá lhes pode servir para alguma coisa, manifestar-se de alguma forma, mas o que é
facto também é que se criou realmente um vício, criaram-se vícios tremendos ao longo
deste tempo e muitas entidades têm fortes responsabilidades nesse estado de coisas,
entidades de formação e entidades financiadoras, repare, nós estamos fartos de ter
auditorias, os problemas que nós temos são “N”, mas eu nunca tive um auditor dentro
da sala de formação a dizer; “Posso ir assistir à sua sessão?” “Quero sentar-me aí e
quero ver o que faz.” Isso é que era de ver, eu nunca vi isso em 25 anos, nunca. Vêem é
perguntar pelos papeizinhos, documento da factura x que corresponde ao coiso tal, sabe
como é isso com certeza. Portanto, nós alimentamos um bocado este ambiente de
““laissez-faire, laissez-passer” um bocado, portanto e isso é perverso, porque foram
milhões e milhões que se gastaram e não sei qual é o retorno que o país tem disso,
retorno em termos da tal criação de massa crítica, e aí, em muitas linhas eu acho que me
afastei um bocadinho.
Entrevistador - Não, não tem importância nenhuma, tinha aqui uma pergunta
ainda relacionada com essa questão que é, se considera portanto, o perfil de
adultos que me esteve a descrever, se depois tem efeito o trabalho dos formadores?
172
Entrevistado - De vez em quando tem, eu tenho aquilo que, digamos, eu tenho um
esquema, uma maneira de olhar para a formação, enfim, que foi sendo construída ao
longo deste tempo, e tenho coisas para mim que eu considero que são fundamentais, na
formação de uma pessoa, nomeadamente, quando se esta a falar nesta área concreta e
portanto eu sigo isso, claro que muitas vezes dou-me conta de que há este ou aquele
aspecto que eu tenho de retomar porque afinal aquilo que eu pensava que era claro, não
foi nada claro, quando eu depois vejo os resultados alto, tenho que voltar aqui, e isso
tem a ver com os perfis e tem a ver naturalmente também com, eventualmente com
formas menos claras de passar digamos assim aquilo que são os conteúdos, mas penso,
não me posso eximir disso, muitas vezes sou obrigado a fazer algumas inflexões, mas
penso que tem a ver maioritariamente com o perfil das pessoas e que têm uma enorme
dificuldade, oiça para ler um edital da câmara por exemplo, o que lá está, uma notícia de
jornal, o que é que isso quer dizer, além do que está aí dito assim, o que é que está por
detrás disso, o que é que esta aí, este esforço ninguém o faz, infelizmente as pessoas não
o fazem.
Entrevistador - E ao nível do empenhamento, nota diferenças no empenhamento
dos formandos face à formação?
Entrevistado - Há sim, há níveis completamente diferentes, eu tenho aqui pessoas e eu
já não estou a falar de capacidades, da maneira como se empenham, há ali pessoas que
se empenhassem com as capacidades que tinham, eram brilhantes, só não são porque
não se empenharam, pronto. O que não quer dizer que não o tenham feito, tudo bem,
mas, eu tenho pessoas e nós fomos andando e dando coisas, e íamos fazendo trabalhos e
não sei quantas, e isto é para, do referencial de competências, expliquei-lhes aquilo
tintim por tintim, o que é que isto quer dizer, porque houve uma altura em que
começaram por dizer “ ai porque ele é muito exigente, acha que temos que aprender o
português que se aprende na universidade e não sei o quê, e não sei que mais”, eu
quando ouvi isso, aliás ouvi isso por detrás, não me foi dito, aí é, peguei num referencial
e fiz fotocópias, hoje vamos estudar aqui o referencial de competências, porque eu estou
convencido, porque acho, tenho a mania que vão sair daqui um grupo de literatos, ora
vamos lá ver, estão a ver, começar aqui pelo “A” e isto e aquilo, o que é que isto quer
dizer. Estão a ver, as coisas que vos dou, que eu vos falo, correspondem a competências
que são pedidas para fazerem o 9º ano, e que eu tenho de validar e que terão de mas
173
mostrar, portanto acabou a conversa da exigência, e eu tinha pessoas que agora
chegaram ao fim e tinham os portefólios prontos, impecáveis, porque iam regularmente,
conforme iam fazendo, já passo aí, está aqui é a pessoa de que eu lhe falava, portanto,
pessoas que agora no fim tinham tudo feito e tudo organizado e outras pessoas que nas
últimas sessões, não houve sessões, é para as pessoas porem os dossiês em dia. Havia
pessoas que não tinham nada! Diz um bocado de empenhamento e não era por falta de
capacidade, e eu todas as sessões dizia “oiçam, não deixem atrasar os trabalhos, porque
depois no fim vão andar aflitos”, até pareço bruxo, como se costuma dizer, eu já sei que
as coisas são assim, portanto, há empenhamentos diferentes, ao passo que há outras
pessoas completamente impecáveis, impecáveis, correcção, postura, já assim de adulto,
com alguma consistência, portanto, há de tudo.
Entrevistador - Costuma haver conflitos no espaço da formação, no âmbito dos
cursos EFA?
Entrevistado - Muitos, imensos, nas minhas sessões não houve assim muitos, mas eu
sabia e todos os dias ouvia, ainda por cima, eu partilho casa e não só, com a senhora
coordenadora que já entrevistou e falando com outros formadores e tal e há ali coisas,
quer dizer, coisas que não valem um caracol mas que as pessoas fazem disso, portanto,
com o tal olhar, o real, pelo binóculo ao contrário e havia e aqui houve, há em todos,
penso eu, e aqui houve imensos, pessoas que não se falavam, pessoas que se agrediam,
chegou a haver casos quase de pessoas terem que ser separadas fisicamente, por
maledicências, por diz que diz, porque diz que o marido e a outra diz que não sei o quê,
aquelas coisas. Nas minhas sessões raramente, porque eu notava que às vezes havia um
ambiente mais pesado entre A, B e C e também sei porquê que é, mas não, comigo
felizmente nunca houve assim grandes, atritos mas houve aí com fartura.
Entrevistador - E em relação, ao trabalho colegial, portanto com os colegas de
formação, como é que costuma acontecer esse trabalho com os colegas?
Entrevistado - Não há, quer dizer, nunca tive, trabalho com um colega nunca tive,
quando nos encontrávamos nas reuniões que tivemos, na altura dos temas de vida, da
mostragem dos produtos resultantes disso, conversávamos, trocávamos opiniões, mas
agora ter aquele trabalho conjunto, portanto essa multidisciplinaridade, que diga, o
formador disto trabalha com o formador daquilo, isso nunca se verificou, penso que
174
talvez nunca tenha havido necessidade para isso, para os temas de vida, provavelmente
deveria ter havido maior interacção até porque pois muitas coisas acabam por cair muito
com a minha colega Dafne, sim, mas ai é como lhe digo também tem muito a ver com a
disponibilidade de cada um. Mas eu nunca senti particularmente necessidade de, pronto,
para a matemática, a colega de matemática e faz e até acho que faz muito bem, eu já vi
coisas nos dossiês e tal, as pessoas dizem que gostam. Não tenho nada que intervir ali,
realmente, e vice-versa, parece portanto, digamos que temos uma relação civilizada e
não conflitual, de todo, isso é a minha percepção.
Entrevistador: - No seguimento do que me estava a dizer tenho aqui uma questão
que vai nesse sentido, se considera que esse trabalho é um trabalho mais
partilhado, ou se faz mais de forma individualizada?
Entrevistado - No meu caso, é mais individual, realmente, tem sido.
Entrevistador - E com que frequência é que costumam encontrar os colegas de
formação, nos cursos EFA?
Entrevistado - Os formadores, neste, é como lhe digo não foi, não foram muitas as
vezes, por questões de disponibilidade, por questões de agenda, porque as pessoas têm
realmente as agendas muito ocupadas e muita gente está no ensino, e portanto e estão
em reuniões e aquelas coisas, portanto eu não posso agora, não fiz essa contabilidade
das vezes que nos reunimos, não sei, não foram muitas, provavelmente como disse já,
deveria, deveriam ser mais, mas também constato que de uma maneira geral quando
conversamos, a nossa opinião sobre o funcionamento e até sobre as pessoas é mais ou
menos coincidente, portanto não há grandes divergências, tanto quanto eu posso
perceber.
Entrevistador - Ainda sobre esse trabalho, trabalho de formação com os seus
colegas de equipa pedagógica se acha que algum aspecto que podia ser benéfico
melhorar?
Entrevistado - Pois, há vários, há vários, desde logo, tentar criar equipas com mais
disponibilidade, o que é muito difícil, mas isso seria portanto, mais disponibilidade,
portanto para poder haver um contacto maior, para haver essa tal frente mais coerente,
mas é muito difícil dado o número de formadores, que intervieram aqui, é muito, muito
175
difícil fazer isso. Essa seria uma coisa do meu ponto de vista a melhorar, não sei da sua
viabilidade, mas seria certamente. Uma outra coisa, essa não depende de nós e parece
que ninguém está muito interessado em ouvir-nos, tem a ver com as instâncias
financiadoras e responsáveis até pelo programa, como sabe com a ANQ à cabeça e
depois com as direcções regionais e as escolas etc., porque tem sido, às vezes tem sido,
e há histórias em que o Kafka à vista disto é um menino de coro.
Entrevistador - E em que aspectos é que acha que isso poderia ser melhorado?
Entrevistado - Por exemplo, claro evidentemente, mas a administração não fala com os
cidadãos neste país, quando o faz. Por exemplo, a ANQ devia de ouvir as entidades,
parece que agora há uma iniciativa do novo ministro que quer ouvir os CNO, ou alguns
deles, pelo menos. Sei que a APD já foi contactada nesse sentido, é o primeiro sinal.
Eles fazem aqueles encontros, a Direcção Regional promove encontros, mas aquilo não
serve para coisíssima nenhuma, realmente, pronto, aquilo é, fazem porque está na
agenda, tem de ser feito, por ai, porque ninguém vai lá discutir coisas substantivas, e
depois há uma espécie de medo, isto tem muito a ver com os CNO também, não são uns
prós outros, quer dizer, eu não mostro o jogo etc., quer dizer, não sei porquê, mas
pronto. Portanto as políticas deveriam ser diferentes, portanto isto vem de cima. A ANQ
devia de rever os instrumentos que criou e deveria para isso ouvir as entidades e
pessoas, antes de pôr as coisas cá fora, mais ao menos como o Ministério da Educação
deveria ouvir os professores ou alguns pelo menos, antes de pôr cá fora os manuais e
outras regras, como sabemos, enfim, portanto, não há esse diálogo e daí resultam logo
confusões imensas no terreno, depois há questões logísticas de quem está a frente, e
depois as coisas se dependem da ANQ, mas depois em termos financeiros é o POPH,
não sei o quê, isso, sabemos casos aqui de uma história completamente de demência
pura, depois nós é que temos de resolver, e criam-se aí coisas absolutamente
desnecessárias que vêm sobrecarregar ainda mais aquilo que é a nossa tarefa, aquilo que
são as coisas substantivas e era isso que deveríamos dedicar as nossas energias e o
nosso tempo, mas não, temos de estar a tratar de questões que têm de ser resolvidas a
montante e que não são, e portanto, isso é uma coisa de toda a urgência, não sei durante
quanto tempo mais haverá disto, isto a torneira vai fechar como sabemos e portanto
estas coisas tendem a morrer, mas enquanto continuam era muito bom que houvesse um
esforço da administração, dos vários níveis da administração que têm responsabilidades
176
nos processos, desde os aspectos pedagógicos e conceptuais até aos aspectos financeiros
e que se pusessem de acordo porque nunca estão e isso cria-nos problemas desgraçados,
as coisas tão corriqueiras como o subsídio de transporte que se pode pagar, ou não se
pode pagar, não sei o quê, não sei que mais, até coisas, são coisas que não fazem
qualquer sentido, mas que nos colocam muitas vezes em situações dificílimas de
resolver, perante os formandos, por um lado, ou perante alguém que vem fazer uma
auditoria por outro, realmente estamos entre a espada e a parede e não há fuga, assumir
uma espécie de, uma imagem de, nós somos o recheio de uma sandes cuja parte de
baixo do pão é este público que temos que é problemático e a parte de cima é a maquina
administrativa que nos esmaga, portanto… E isso é qualquer coisa de básico, pensar
essas coisas.
Entrevistador - Quando me está a dizer que não há diálogo, vocês sentem isso?
Entrevistado - Aí, perfeitamente, ninguém lhe dá uma resposta por escrito hoje, tenho
uma dúvida telefono para o programa para o POPH e não sei o quê, mas pensa que
alguém lhe dá alguma resposta. Dificilmente lhe dizem alguma coisa por telefone, e por
escrito zero ou quase zero, ninguém se compromete, hoje, ou seja, aquilo que
antigamente era a palavra e que a gente até não precisava de papel nem basta dizer, o
senhor fulano disse-me isso faz fé e acabou, hoje isso não é verdade. E depois coisas em
que é preciso de uma resposta rápida para responder a uma situação, puf…é capaz de vir
no fim do ano, quando a coisa já acabou, mas depois vêm-nos pedir coisas a que não as
podemos responder, estamos fartos disso aqui nos vários programas de formação e aqui
no EFA também, portanto, não há articulação entre os vários sectores da administração
que são responsáveis por estes programas e quem diz o EFA diz outros, conheço vários
e… e sei que é assim, ou pelo menos era e eu não deixei de trabalhar assim há tão pouco
tempo como isso, portanto, e isso é uma das, como é que eu hei-de dizer, uma das
pechas melhores destas coisas, ainda por cima quando na outra ponta temos realmente o
chamado público com quem se trabalha, que é difícil, são pessoas com enormes
dificuldades e portanto, digo, e nós somos o fiambre dessa sandwich, ao menos foi cada
entidade…
Entrevistador - Tinha aqui uma pergunta que de certa forma já falou, que era se
sente diferenças no empenho no trabalho dos colegas para por em prática o modelo
EFA, mais especificamente para pôr em prática?
177
Entrevistado - Aqueles que eu conheço, com quem trabalhei e de quem estive mais
próximo, acho que não, acho que foram pessoas exemplares, digo-lhe, tanto é, houve
pessoas que eu nem sequer cheguei a conhecer, essas tinha, faziam 8 horas e não sei o
quê, portanto não tive praticamente contacto. Mas aqueles com quem tive mais
contacto, acho as pessoas muito, muito capazes, muito empenhadas e que só podem
merecer o meu respeito digo-lhe até o meu apreço, vários. Portanto e entre nós nunca
houve que eu me lembre e acho que ninguém se deve de lembrar disso, qualquer…
Entrevistador - E em relação à relação com a entidade, neste caso com a APD, que
relação é que mantém com a APD?
Entrevistado - Está a ver, como lhe disse, eu sou e contínuo a ser sócio da APD, eu sou
sócio fundador, já trabalhava naquilo que deu origem à APD, antes de ela existir.
Portanto, a minha relação é muito umbilical, digamos assim, eu continuo a fazer disto
um bocado a minha casa, continuo a ser sócio, continuo a colaborar, estou a fazer outros
trabalhos para a APD também, portanto o que não significa que esteja de acordo com
tudo o que cá se passa mas quer dizer, nós não temos todos que dizer amém a tudo, mas
isto para mim, já o disse a várias pessoas e posso-lhe dizer também, o trabalho que
desempenho aqui, esta casa foi a minha grande escola de formação. Muito mais do que
a formação académica e outras coisas, foi aqui, realmente, se eu hoje conheço algumas
coisas, devo a esta casa, por isso é qualquer coisa que eu acho que não poderei pagar,
não sei se isto explica.
Entrevistador - Identifica com a forma como a formação EFA é perspectivada aqui
na APD?
Entrevistado - Sim, é assim, nós estávamos ligados à formação e a outras e tal, nós
tentámos sempre, não quer dizer de maneira nenhuma que o tenhamos conseguido
sempre, mas sempre vimos a formação como uma área muito sensível e portanto,
sempre lhe dedicamos uma atenção muito grande, quando preparávamos as coisas,
quando pensávamos sobre elas, em certos processos que eu acompanhei, aí sim e como
era gente da casa, sobretudo, aí as reuniões eram, no caso do CNO, todas as semanas
reúne, eu tinha reuniões todas as segundas-feiras de manhã, bom, e noutros, noutros
processos, mas aí é possível, as pessoas estão todas aqui, não é? Portanto, é mais fácil,
mas devo dizer-lhe da que da minha experiência aqui na APD, acho que sempre
178
olhámos para a formação de uma forma muito séria. Não lhe posso dizer que foi a
melhor forma, que foi melhor do que a de ABC ou D, não posso, entrar por aí a fazer
comparações desse tipo, mas sei, sei porque é uma área em que eu trabalhei, que aqui
isso foi sempre encarado com uma seriedade muito grande, e portanto que as coisas
eram pensadas, e quando era preciso, eram corrigidas. Há coisas que foram mais bemsucedidas, outras foram menos bem-sucedidas, também temos de tudo, que é, acho
inevitável, agora quanto ao cuidado com a formação, como ela é preparada, estruturada
e pensada, há isso estou a vontade para lhe dizer que sim.
Entrevistador - Para terminar essa questão, sente-se reconhecido pela entidade,
pelo trabalho que desempenha?
Entrevistado - Eu suponho que sim, quer dizer nunca tive assim, tivemos as nossas
tricas como em todo o lado, não concordo com a colega do lado que por causa deste
adulto não sei o quê, não sei o que mais e às vezes discutir, olha não estou nada de
acordo como estás a fazer isso e essas coisas todas, outra coisa é o reconhecimento, isso
aí acho que sim, eu tenho que reconhecer, por exemplo, o trabalho imenso feito por esta
equipa do CNO, tenho que reconhecer o trabalho no caso do EFA, nas pessoas de quem
estou mais próximo, os formadores e não só e eu próprio acho que sou objecto de
reconhecimento, quer dizer, não ando ai a perguntar as pessoas se gostam de mim ou
não, mas eu tenho a impressão que o meu, a minha percepção é que acho que consegui
granjear alguma, enfim, algum reconhecimento, creio eu, mas obviamente nunca andei
ai a fazer um inquérito sobre isso… nem me ficava bem, não é?
Entrevistador - Na sua opinião os cursos EFA, funcionam de forma diferente
consoantes as entidades onde acontecem ou seja se é a mesma coisa um curso EFA
funcionar numa associação como esta, no IEFP, numa entidade…
Entrevistado - Há, isso, não tenho dúvidas. Isso não tenho dúvidas, não queria fazer,
fazer comparações, é um bocado, e eu sei que até aí pode ser, um tanto deselegante, mas
tenho consciência e isso é visível porque nós recebemos pessoas que passaram por
outros processos e por outras entidades, tem acontecido em vários, desde EFA a CNO
nas várias reuniões que uma pessoa participa nas outras entidades, que dá para perceber
algumas coisas, eu tenho a impressão, mas como lhe digo, é impressão, não posso
assegurar isto até porque não seria muito correcto da minha parte, mas eu tenho a
179
impressão que nem todas as entidades olham para a formação com o cuidado que a
formação merece ser olhada, e acho que há diferenças grandes.
Entrevistador - Como é que essas diferenças se podem manifestar, e há alguns
aspectos concretos que possa identificar?
Entrevistado - Eu estive ontem a falar com uma formanda, ontem não, anteontem,
depois da avaliação, foi a última que acabou de fazer a formação e ficou sozinha na sala
porque estava com algumas dúvidas e depois eu estive a conversar com ela, ela é uma
das pessoas que é brilhante de cabeça e que tem um comportamento assim um bocado
difícil às vezes e eu disse-lhe; “Olhe, o que é que está a pensar fazer agora que isto
acabou, vai trabalhar, não vai trabalhar, como é que é?” “Eu acho que vou mas gostava
mais de trabalhar mais na área de não sei o quê e tal e tal.” E quanto a estudar já pensou
nisso? Eu vim para este curso essencialmente porque eu queria fazer o 9º ano e se puder
vou querer continuar a estudar, mas não quero o RVCC. E não quer o RVCC porquê? E
se quer fazer o secundário, para começar, não demore muito tempo a decidir porque isto
está a acabar, portanto, tome uma decisão rápida, sobretudo aqui a formação para o
Algarve tem os dias contados, portanto veja lá, mas já agora não quer o RVCC porquê?
- Ah, porque eu andei lá em baixo para fazer o 9º ano e ao final de alguns dias desisti
logo. E depois referiu-me qual era o centro aqui, eu permito-me não o citar porque, por
razões, mas então, mas porquê? Porque eu pensei que ia aprender alguma coisa e tal e
não ia aprender nada. Eu sabia e aquelas sessões não interessavam nem ao menino
Jesus, portanto, eu não quero sequer ouvir falar em RVCC. E eu disse olhe, neste
momento se quer fazer isso o RVCC é o caminho mais curto, e você é uma pessoa que
tem capacidade e tem aqui à porta de casa um Centro, enfim, que até é reconhecido, que
tem pessoas, que você até conhece, que já trabalhou com elas, que já conhece e possolhe garantir que não é isso, ser for fazer isso ali, de certeza que à terceira ou a quarta
sessão não vai dizer isso que me está a dizer que aconteceu, portanto isto é um exemplo,
que se passou comigo anteontem. Portanto, depois contou algumas coisas que acho que
não vêm ao acaso, isto acho que responde de alguma forma ao que me esta a pôr, há
diferenças realmente. E eu já apanhei muita gente, sobretudo no secundário, no CNO, já
apanhei gente que veio de outros centros e gente que saiu daqui também, porque achava
que aqui era difícil, e que noutro lado era mais fácil, a porta está ali, mas apanhamos
muita gente, que vêm de outros e quer dizer, que nos contavam. E eu tive na minha área,
180
pessoas que muitas vezes apanhava a conversar, cria-se às vezes assim um clima
interessante e conversa-se e muita gente depois dizia: “Há bom, isto aqui é outra
conversa, estas coisas de que me está a falar eu nunca tinha ouvido falar nisso, não, não
nunca na vida.” Portanto, há indicadores que nos vão aparecendo e na maior parte deles
são-nos dados pelas próprias pessoas, portanto, eu não posso e sei, a pergunta anterior,
disse, a maneira como encaramos a formação, sei como fazemos, como lhe digo, não sei
se é a melhor, é melhor que a do lado de baixo e dali do lado, não sei, mas sei como o
fazemos.
Entrevistador - Em relação à avaliação, nos cursos EFA, no seu caso como é que
costuma fazer a avaliação dos formandos?
Entrevistado - Bom, eu tenho dois tipos de avaliação, uma que é pessoal, e essa não vai
para o papel, ou vai em parte, porque nós costumamos fazer aquelas fichas que conhece,
se há progressos, se não há, e tal e tal, se o formando ou se a formanda se empenhou ou
não se empenhou, se atingiu não sei o que e tal, chapa cinco, e, portanto essa eu tenho
de a fazer, e tento fazê-la com alguma verdade, e depois tenho a outra, que eu faço e que
decorre realmente do que eu faço com eles e depois tenho de traduzir em termos de
validação através do referencial e portanto, ao fazer este exercício eu estou obviamente
a fazer uma avaliação, tento ser tão rigoroso, quanto é possível ser-se nesta situação.
Porque se eu for usar o rigor, que um esquema de um instrumento como o referencial de
competências, tão escolarizado, exige e como a própria ANQ exige, rigor, se eu fosse
usar esse rigor e perante um instrumento destes, bom, chumbava quase toda a gente,
aqui e no secundário. Portanto, não pode ser assim, portanto tem de haver um
compromisso, entre aquilo que é pedido, por um lado, e aquilo que as pessoas são
capazes por outro, no meio está o nosso trabalho, tentar aproximar uma coisa da outra,
portanto a avaliação, que é um aspecto que sabemos que é fundamental em qualquer
processo seja ele qual for, mas a avaliação aqui é um bocado…tem estas variáveis,
sendo que elas não são muito admissíveis ou compatíveis, portanto exigem um grande
jogo aqui, de compreender, de perceber, de adaptar, é um esforço suplementar digo-lhe,
eu não sei se lhe estou a responder inteiramente…
Entrevistador - E em termos da periodicidade que costuma fazer a avaliação?
181
Entrevistado - Há aqueles períodos dos temas de vida e tal que têm os pormenores
próprios, é o tal formal, a outra a minha pessoal, essa é contínua, portanto percebo se a
pessoa está a andar ou não está, daí também como lhe disse há bocado de eu muitas
vezes voltar atrás, quando percebo que há aqui coisas que eu pensava que estavam mas
não estão, seja pronto, tento estar em cima. E há casos até em que, aquilo a que a gente
chama vulgarmente casos perdidos, isto, aqui não há, não há nada a fazer, acabou.
Temos, ou aceitamos assim como é, porque, portanto é uma pessoa que merece, e que
precisa e que até é aplicada e tal, mas não dá mais que isto, é que não vale
rigorosamente a pena estar a queimar muito as pestanas por causa disto, há casos desses,
e há assim casos das outras, que nós sabemos que têm capacidade mas, pende-lhes mais
para a preguiça, ai essas aí, essas aí temos logo umas conversas. Portanto sobre esse
aspecto há uma avaliação continua percebe, que não é, que não está transcrito em papel
nem, mas é uma situação que esta permanentemente em aberto.
Entrevistador - E na sua opinião considera que, de que modo é importante o
trabalho do mediador nos cursos EFA?
Entrevistado - É importante, é claro que é importante, uma pessoa que estabelece
pontes não é? e num processo destes, que tem a sua complexidade, que envolve muita
gente, onde, é um processo no qual a potencialidade do conflito está lá
permanentemente, portanto, o mediador é absolutamente fundamental. A pessoa que
estabelece pontes entre um grupo, entre uma equipa de formação, equipa de formandos,
estabelece pontes entre os próprios formandos, que têm de diminuir muitas vezes as
situações conflituais, é uma função, digamos assim, central, num processo destes.
Entrevistador - Acha que o mediador ou mediadora também pode, o trabalho de
mediador ou mediadora se pode diferir nas diferentes entidades onde o mesmo
trabalha, se tem algum conhecimento nisso?
Entrevistado - Aí tenho menos do que propriamente na parte da formação, mas como
lhe digo, quer dizer um bocado por arrasto, assim como eu penso que há formadores e
formadores, assim como penso que há entidades e entidades, acho que há mediadores e
mediadores. Ou seja, ou por vocação, ou pela natureza e pelo funcionamento da própria
entidade, assim serão eles também, portanto acho que as coisas não se podem dissociar.
Se a entidade, se o objectivo são números e sim gosta, provavelmente o mediador, terá
182
tendência a seguir esse caminho a não ser que seja realmente uma pessoas muito
empenhada e muito interessada por aquilo e que rema contra a maré, agora se tem um
ambiente propício evidentemente que está de outra forma, ou pode estar.
Entrevistador - Vamos entrar aqui no último conjunto de questões…
Entrevistado - Eu falo muito, peço-lhe desculpa, mas é que estas questões não são nada
lineares.
Entrevistador - Não tem importância, eu agradeço muito que seja que seja assim.
Entrevistado - É que depois para estar a escrever isto é uma chatice, eu sei que já o fiz.
Entrevistador - O último conjunto de questões é, são questões de carácter mais
geral se quiser mais abertas e começava por lhe perguntar a sua opinião sobre a
Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistado - Em geral?
Entrevistador - Em geral…
Entrevistado - Em termos da ideia, a ideia parece-me absolutamente, a sua premência,
a sua validade, a sua justiça, perecem-me indiscutíveis, realmente as pessoas, e estoume a reportar às Novas Oportunidades incluindo o antigo RVCC e os EFA e não sei o
quê. Nem todos tiveram a oportunidade de ter o seu percurso escolar como deve de ser,
e temos hoje pessoas com enormes capacidades profissionais, excelentes, pessoas com
conhecimentos, que muitas vezes pessoas saídas das universidades têm, portanto, e no
entanto porque só têm a 4ª classe, o segundo ano, o sexto ou sei lá o que é, quer dizer,
não tem qualquer reconhecimento social, portanto as Novas Oportunidades surgem
desde logo para mim com uma questão de justiça, num regime democrático, acho que é
uma conquista, num regime democrático que se preze, portanto aí sou um incondicional
apoiante e acho que isso pode ser realmente um instrumento de valorização dos
indivíduos e da criação de cidadãos. Para mim é absolutamente indiscutível, isso, um
político recentemente disse, que agora por acaso é nosso primeiro-ministro, falou do
que falou, da maneira como falou, quer dizer, este senhor independentemente das
nossas, não tem a ver, não são para aqui chamadas, antipatias ou simpatias político
183
partidárias, não tem nada que ver, tem a ver com aquela pessoa que disse aquilo, quer
dizer uma pessoa que disse uma coisa daquelas merecia que lhe dessem um par de
bofetadas, por e simplesmente não sabe do que está a falar, se soubesse do que estava a
falar nunca podia dizer uma coisa daquelas, isso é a minha posição. Agora, há uma
quantidade de equívocos neste processo, quando as pessoas falaram no facilitismo e nas
coisas que, andam aí a dar diplomas e não mais sei quê, não sei que mais, infelizmente
há razões para isso, ou seja, o processo que em princípio é um processo inatacável do
meu ponto de vista, a ideia enferma de debilidades várias, desde logo a maneira de
como é operacionalizada, é operacionalizada através de regras muitas vezes absurdas e
que ninguém entende e depois os instrumentos usados dos referenciais de competências,
nomeadamente o do secundário, como deve de conhecer imagino, aquilo é uma coisa,
aquilo é um susto, aquilo é um susto, portanto, não é possível, portanto, há aqui uma
inadequação absoluta entre objectivos ideais e operacionalização, instrumentos de
operacionalização e isso é terrível, isso mata o processo, tira-lhe verdade, eu gostava de
pôr, por exemplo um senhor ministro qualquer, metia-o comigo aqui sozinho e enfiavalhe o referencial de competências da minha área, meu caro amigo faça o favor de
responder a isto, e eu queria ver como é que ele se ia desenrascar, era capaz de trepar
pelas paredes, bom, as coisas não podem ser feitas assim, não é assim que se aferem
competências das pessoas que as têm, depois, há pessoas que não têm perfil, aquilo que
se chama o perfil, para aquilo, dados os níveis, mas ao mesmo tempo são-nos impostas
metas, quer dizer, há aqui um contra-senso total, que é, uma coisa que a ANQ, nós já
fizemos várias petições, nós já repetimos várias vezes, tempos, não há hipótese, não
ouvem. Portanto, há aqui uma série de incoerências cujo resultado não é bom para
ninguém, agora continua a ter virtualidades, claro que sim, há pessoas que saem desses
processos muito mais enriquecidas, vou usar um termo, um objectivo prático muito
concreto, são pessoas, gente função pública, precisam ter o 12º ano porque senão vêem
o seu lugar em risco, etc. temos imensos, temos e acho que ainda deve de haver,
portanto aquilo tem uma utilidade prática, evidente, uma aplicação prática. Agora
aquela pessoa fica mais preparada, pois não sei, algumas sim, chamadas as pessoas, que
nós dizemos, pessoas que têm perfil para isto e de certeza que saí enriquecida, do
processo, portanto isso, e isto era uma discussão longuíssima.
Entrevistador - Falou ai na questão da dificuldade com as metas?
184
Entrevistado - Ah, isso é horrível, porque nunca foram cumpridas, porque a ANQ
impunha, cada Centro, impunha para cada Centro, um número de validados, um número
de aprovados, por ano, X da básica, X do secundário, mesmo no EFA, por exemplo, pôr
alguém fora é tão difícil como numa escola hoje, expulsar um menino que deu uma
navalhada em alguém, e há pessoas que por exemplo não deveriam estar ali, acabou,
pelo seu, pela sua postura, pelo seu comportamento, por aquilo que demonstram que são
capazes ou incapazes, quer dizer não deveriam estar ali, também não há forma de e
depois sejam 10, ou 15 ou 20 ou 6, os esforços do formador é o mesmo, o esforço do
formador é o mesmo, mas como há aqueles rácios, como sabe, a hora de formação,
formando vezes formação, isso leva um corte, portanto o nosso trabalho é exactamente
o mesmo, tenha lá 5, ou tenha lá 20, é exactamente o mesmo, em termos de custos, a
ANQ está-se nas tintas para isso, portanto, a capitação essa, o olhar puramente
monetarista para estas coisas, economicista, que é outra coisa que eu queria dizer que,
desvirtua completamente as coisas, e muitas vezes temos de aguentar pessoas que
realmente não devíamos ter de aguentar, quer dizer, o lugar delas ou aquilo, elas têm
direito à formação, mas não é isto, é outro tipo de coisa, que não esta e uma pessoa tem
de aguentar, a salga com a ripa.
Entrevistador - Sente que, portanto, que a questão das metas tem influência sobre
o próprio trabalho?
Entrevistado - Claro que tem, muitas vezes sou obrigado a validar coisas que não
devia, sobretudo no RVCC e mesmo nos EFA também, porque senão era uma chatice.
Entrevistador - Sente que os seus colegas, quer ao nível dos cursos EFA ou mesmo
do CNO, sentem essa?
Entrevistado - Ah, sim, toda a gente diz, toda a gente sabe disso, isto é, isto é discutido,
quer dizer já nem é discutido porque já é um adquirido e portanto, isso é verdade.
Entrevistador - Sente que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na vida
dos adultos formandos aqui ao nível dos cursos EFA?
Entrevistado - Tem, acho que sim, para estas pessoas aqui que vão sair agora, estão a
entrar em estágio na segunda-feira, estão quase a acabar, eu quero crer que algumas
delas vão mudar a sua vida até em termos profissionais, mesmo aquelas que não o
185
fizerem em termos profissionais, algumas delas eu penso que isto lhes pode ter dado
energia por exemplo para continuar a estudar, eu penso que hoje são capazes de olhar
para o real com outro olhar, não quer dizer que deixassem de ou que deixem, os seus
habitozinhos, os seus viciozinhos, não, não é isso, a transformação não vai aí, não chega
até aí, mas que são pessoas que, algumas delas, parece-me evidente, já são capazes de
ter um outro olhar sobre as coisas e até de dizer alguma coisa, este filme que eles
fizeram agora e que a iniciativa foi deles, como resultado final, do último tema de vida,
eu fiquei completamente espantado e foram eles que fizeram aquilo. À vista de toda a
gente, isto era impensável a meio do ano passado, e mais, e conseguiram vencer, para
fazer aquilo, conseguiram vencer as suas divergências, que há muitas, entre eles, e
pessoas que quase nem se falam, o que é espantoso e foram eles, ora portanto, eu acho
que isto só é possível num processo destes, porque elas passaram por este processo,
quer dizer, passaram por este, podiam ter passado por outro qualquer, mas é porque
passaram por este, especificamente, e portanto elas ouvem coisas, elas vêm coisas que
noutros lados não veriam, não ouviriam, não seriam obrigadas a ter de conhecer, e isso,
como digo é o tal efeito da pedra que cai no lago e faz ondas não é? Mas não sabemos
até onde elas vão, isso é imprevisível de todo, mas que faz, faz.
Entrevistador - De certa forma já falou nesta questão que eu lhe vou colocar, acha
que a iniciativa, o que é que acha da opinião de que a Iniciativa Novas
Oportunidades promove o facilitismo?
Entrevistado - Por isso mesmo, porque começa logo por essa imposição absurda das
metas e do termos que ter X de alunos, X de formandos inscritos, e temos de ter X de
números de validações parciais, e X números de validações totais e tal, evidentemente
que isto desvirtua qualquer processo, sobretudo, neste caso, sobretudo no secundário em
que estamos a falar de um referencial que é extremamente difícil, extremamente difícil,
aquilo é escolar. Há uma outra coisa que é da vida pessoal, pode ser o caso da cidadania,
até é o que se aproxima mais, mas os outros, STC e Linguagem e Comunicação aquilo é
duro, é muito duro, portanto, isso era preciso tempo para trabalhar essas questões, e
tempo lectivo, puro e duro, porque eu vi o que aquilo pede, ora esse tempo não é nada,
portanto, quer dizer, mais uma vez estamos perante o compromisso de tentar alguma
seriedade, alguma qualidade, mas, os objectivos que nos são impostos, as metas, que
nunca nenhum Centro atinge, nós temos atingido, temos andado sempre lá próximo,
186
nalguns até ultrapassámos, mas é difícil, a maior parte dos Centros não chega lá sequer,
mas isso é um esforço brutal, mas uma coisa daquelas deveria dar-nos tempo para estar
com os adultos, porque trata-se de matérias, mesmo escolares, acabou. Sociedade,
Tecnologia e Ciência, aquilo é, física e química e mais não sei o quê, por aí adiante, na
minha área, coisas de língua e coisas, conceitos muito mais gerais que tem haver mais
com a comunicação social, a influência dos media na formação da opinião pública, são
coisas que exigem realmente já, reflexões grandes, não é? E que as pessoas, a gente não
pode exigir que elas tenham isso, isso não é ter competências, isso é ter conhecimentos,
realmente e portanto, e esse tempo não é dado, é-nos pedido é que no final tem que estar
senão levam um corte, isso é sempre, para quem está de cima e tem a faca e o queijo na
mão.
Entrevistador - Já tentaram junto da ANQ, alguma solicitação nesse sentido?
Entrevistado - Ui, a senhora que há bocado veio aqui, a senhora minha mulher, ela é
que lhe pode falar nisso. Que ela é coordenadora do CNO, fale com ela, isso ela então
fala, tantas vezes, eu tive uma vez uma pega tão grande, há quatro anos, por causa da
língua estrangeira, que vem lá, e o articulado do referencial, aparecem lá vários itens,
que nos diz “se o adulto é capaz de se expressar sobre o não sei o quê, em língua
portuguesa e/ou e barra ou, língua estrangeira”. Ora bem, se vou por aqui uma língua
estrangeira, esta gente, ninguém sabe, a não ser algumas pessoas aí da hotelaria,
dominam um bocadinho o inglês e tal, o resto, nem a maior parte dos nossos alunos que
vão para a universidade sabem, quanto mais, portanto eu até passei ao lado disso e até
começou a andar ai um zunzum “ai vocês não tratam da língua estrangeira, ai, meu
Deus, aí que seca e meca e pra qui e para acolá, eu sei o que vem escrito no documento,
por causa disso, eu não tenho nada que tratar, que lá diz e/ou, ora para mim e/ou, ainda
por cima vamos analisar isto em português, o que é que isto quer dizer? Quer dizer,
temos aqui uma disjunção, portanto pode ser, mas pode não ser, portanto eu opto por
não ser, porque se me vou meter aí, ninguém, ninguém consegue fazer isto, e lá vão as
metas. Bom, isto deu aí uma polémica desgraçada, até que um dia recebemos um ofício,
aliás não foi só aqui, aliás isso generalizou-se e a conversa chegou lá em cima,
evidentemente e recebemos um documento, que é um documento que deveria ser
emoldurado, que nos dizia, mandaram-nos isso por email e depois não sei se acabou por
vir formalmente, mas veio por email logo, das poucas vezes que nos responderam
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coisas, não, o adulto tem que ser proficiente na língua materna e numa língua
estrangeira. Diz e/ou, não, mas é “e ”, mas não, cá está e/ou, mas não corrigiram o
referencial. Proficiente, isso deu origem, eu recordo-me na altura que fiz uma coisa, mas
a ANQ sabe qual é o significado da palavra proficiência, sabe o que é que está a dizer,
quantas pessoas neste país, mesmo docentes, são proficientes na língua em que ensinam.
Eu falo algumas línguas além do português, e algumas enfim, acho que as domino
razoavelmente, mas estou longe de ser proficiente, mas muito longe, sou proficiente na
minha e, às vezes tenho dúvidas, mas o que é isto da proficiência, mas sabem do que é
que estão a dizer, claro que isso não foi respondido, bom, o que gente faz depois é assim
um proformazinho, a pessoa lê uma coisinha e tal, tenta traduzir, claro aquilo tá cheio de
erros, vou corrigir, corrigir e pronto, ou seja “albarda-se o burro à vontade do dono”,
evidentemente isto é uma mentira, é uma, pelo menos é uma inverdade, sob esse
aspecto, concreto, este é um caso concreto, do tal facilitismo nas outras coisas, não acho
que seja tanto assim, embora realmente há áreas que é muito difícil, as pessoas, é muito
difícil…
Entrevistador - Na sua opinião o que é que acha que deveria de ser mudado na
Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistado - Desde logo, como lhe digo, como lhe disse há bocado também, desde
logo o diálogo com as instituições que no terreno têm de lidar com isso, ou seja, as
entidades do terreno não podem, não devem ser consideradas meras extensões do
Estado, daquilo que o Estado não faz, portanto somos extensões, somo executores de
politicas para as quais nós não fomos consultados, para a definição das quais nos não
fomos consultados, essa é a primeira coisa, um diálogo, com quem está no terreno e
com quem tem experiência, já, e nalguns casos, longa experiência, do que é a formação
de adultos. Portanto, isso com certeza que evitaria uma quantidade de equívocos, as
coisas não podem ser, isto não é só neste caso, como nos outros, infelizmente, mas neste
caso concreto, as coisas não podem ser cozinhadas por meia dúzia de sábios, de
iluminados que da realidade, acho que conhecem relativamente pouco, além das
cadeiras dos gabinetes por onde andaram durante anos, e anos e anos, portanto há um
divórcio completo aí, e isso é desastroso, essa é a primeira coisa, e ao fazer-se isso
praticamente resolver-se-iam, não direi todos, mas uma grande quantidade de
problemas, ou seja pensar nessas iniciativas, mais uma vez, que eu subescrevo a sua
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existência, mas, repensá-las, à luz de uma maior participação, na sua concepção, de
instrumentos, etc., isto acho que deveria responder, depois de retirar destas coisas, esta
lógica puramente economicista, do curto prazo, da competitividade, da, se quiser, não é
assim, quer dizer as pessoas andam doze anos para fazer o ensino secundário, as que
não chumbam ano nenhum e depois mais uns quantos para complementarem a sua
formação, e terem outro nível de formação. Portanto, não se pode exigir a adultos que
deixaram a escola há, não sei quantos anos, que de repente, assim, em meia dúzia de
meses dêem conta de uma coisa que se chama referencial de competências, quer dizer,
alguma coisa aí tem de falhar pelo meio, por mais que se lhe diga. Portanto, essa para
mim é a pedra do toque, portanto, é a falta de diálogo, das entidades gestoras, seja
gestoras em termos pedagógicos, seja gestoras em termos financeiros, dos programas de
formação, a falta de diálogo com as entidades, que infelizmente estão reduzidas à
condição de executores, das politicas, deste ou daquele gabinete, e isto não é maneira de
tratar coisas destas e sobretudo a educação que é uma coisa básica, como sabemos não
é, portanto e acho que daí, logo vem, um grande mal.
Entrevistador - Sobre os cursos EFA mais especificamente, qual é a sua opinião
sobre os cursos EFA?
Entrevistado - Os cursos EFA, eu encaro-os com, numa lógica muito, muito
semelhante, os cursos EFA têm uma grande potencialidade, portanto, que é o facto de
serem profissionalizantes, as pessoas terem uma carteira profissional e terem uma
habilitação académica, o que me parece mais uma vez, em termos de objectivos,
excelente, agora depois as regras para a sua aplicação é que mais uma vez estão, são
muito distorcidas e depois acho que há também muitas vezes muito pouca selectividade
nos cursos que se aceitam, aceitam-se cursos, que nós sabemos perfeitamente que aquilo
não serve para nada, é para se dizer depois lá fora e dizer nas estatísticas que nós temos,
a nossa população está, como é que se há-de dizer, está formada. Está formada não, está
certificada, mais isso é outra história, entre o certificado e o formado vai uma diferença
muito grande, e portanto os cursos EFA padecem disso também, agora tem outras
virtualidades, para começar é o tempo, um ano e pouco é algum tempo, agora está mal
pensado, também nesse aspecto, é demasiado teórico, visto que realmente 7 horas
dentro de uma sala, é dose. A mim não me custa estar lá as 4 horas, porque gosto de
estar, e gosto de falar mas, depois, depois é uma seca, o esquema devia de ser outro,
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como houve no primeiro quadro comunitário e nos programas de CPC e coisas assim,
que nós tivemos vários, em que haviam uma grande componente de actividades práticas,
que eram pensadas, e havia de vez em quando, actividades fora de sala e aí as pessoas,
há uma rotatividade e não é não é feito esse apelo ao estar ali sentado e a ouvir,
“mamar” como na escola, portanto isso é outra falha grave.
Entrevistador - Acha que os cursos EFA têm efeitos na vida dos formandos, em
termos da sua vida futura?
Entrevistado - Claro, claro que tem, como creio que já disse, tem, por um lado aqueles
que acederem ao mercado de trabalho por essa via, por outro lado, mesmo aqueles que
não acedem ao mercado de trabalho, ficaram pelo menos, adquiriram pelo menos,
alguns conhecimentos, algumas competências e sobretudo, algumas capacidades para
olharem o mundo de outra maneira e isso pode fazer de hoje para amanhã, no imediato,
mas isso de hoje para amanhã pode fazer alguma diferença, porque eu acho que
ninguém sai incólume numa coisa destas, mesmo o/a pior dos piores, não saí incólume,
portanto aquilo há-de ter sempre um efeito qualquer. Pelas coisas que se ouviram e que
se gostou, ou por formadores que se conheceram, até por colegas que conheceram, por
relações que se estabeleceram, etc., por terem visto que há outras possibilidades, que há
mais coisas debaixo do sol, além daquilo que eu conheço aqui, em casa e no café e tal,
acho que é, é indiscutível para mim que isso é valorizador das pessoas e tem de ser
valorizado, portanto isso não pode ser menosprezado.
Entrevistador - Que balanço é faz nos cursos EFA que terminou agora na APD?
Entrevistado - Este, para mim, foi uma experiência muito rica, foi uma experiência que
nalguns momentos, nos tais momentos de, down, digamos assim estou arrependido de
me ter metido nisto e portanto, estava tão sossegadinho a fazer as minhas coisas e tenho
agora de estar a aturar estas chatices, mas faço um balanço em termos pessoais muito
positivo, acho que criei relações, não sei, a maior parte das pessoas são daí e agente háde se cruzar por aí, mas acho que criei algumas boas relações com algumas pessoas e eu
acho que isso só por si já vale a pena. Acho que percebi também que me ajudou também
a continuar este processo de perceber um bocado o país que temos, isto é uma forma
excelente de conhecermos o estado da nação, lidarmos com estas realidades. É uma
190
forma que não sendo única evidentemente, mas, nos dá, uma leitura muito aproximada
dalguns aspectos da vida colectiva.
Entrevistador - Quando se esta a referir a isso, pode especificar melhor?
Entrevistado - Posso, quando vejo o que é que as pessoas pensam de certos assuntos,
como se exprimem em relação a certas coisas, a quantidade de coisas que são, que eu
reputo pelo menos importantes para a vida, para a vida de todos nós e que as pessoas
não fazem nem ideia, ou então têm aquela postura de “não sei, não quero saber e tenho
raiva a quem sabe”, portanto isto dá-nos uma radiografia, e depois, é porque temos um
país que maioritariamente, cujos cidadãos são assim, não será por culpa deles, porque
temos um sistema a que leva que isto seja assim a, é chamada por geração espontânea, é
assim, e depois isso explica também, ou seja, é a pescadinha de rabo na boca, isto
depois também explica que tenhamos hoje o país que temos, com muitos dos problemas
que temos, porque justamente não temos a massa critica necessária para pôr algumas
coisas no lugar e isso precisa de pessoas esclarecidas. Mas o recente caso da Islândia,
mais paradigmático aí, não é? Que só foi possível, a revolução, que é uma autêntica
revolução, porque há um colectivo maioritariamente que está informado, isto aqui seria
impossível, falo da massa crítica, estou a falar disso. Portanto estas, o contacto com
estas realidades da formação permitem-nos ver isso também, se eu perguntar ali a uma
pessoa e disser “oiça lá, olha agora a agência de ranking não sei o quê, o que é isso de
uma agência de rating?“ Quer dizer, hoje em dia uma pessoa não saber o que isso é, é
quase um escândalo, não é? O que é? É um ladrão que nos está a esganar. Bom o
funcionamento daquilo é complicado, não se pode exigir que as pessoas aí se apercebam
que, que mesmo para nós, muitas vezes há coisas que a gente não percebe, mas é bom
que se fale nisso, que as pessoas acordem para essas realidades, porque elas sentem-no,
mas para mim não é normal, é habitual sim, mas não é normal enquanto cidadão que as
pessoas digam que o político A, B, C ou D, que se governou e que desviou não sei
quanto e corrupção, ah, bem fez ele, se não fizesse era parvo, eu não acho isto normal, e
no entanto isto é o habitual, portanto, daí eu falar da importância que isto tem em
termos de nos ajudar a perceber da nossa realidade colectiva. Isso para mim tem sido
riquíssimo, noutras e neste, tem sido, óptimo.
Entrevistador - Agradeço-lhe muito, este bocadinho.
191
8. Entrevista 5 – E.M. – Formador da área tecnológica de Recepção e
Encaminhamento num curso EFA da Associação para a Democracia.
Entrevistador – Começava por perguntar quais são as suas habilitações literárias?
Entrevistada – Sou licenciada em Marketing pela universidade do Algarve.
Entrevistador – E a sua profissão?
Entrevistada – Pois a minha profissão divide-se em duas profissões, sou formadora a
maior parte do tempo, portanto, neste momento, aquilo começou como um hobby, ou
como uma actividade secundária, ocupa já se calhar aí uns 70% do meu tempo, 60,
70%, para além disso, portanto, sou sócia gerente desta empresa onde nós estamos neste
momento que é uma empresa, portanto, que tem actividades distintas, tem um lagar de
azeite, tem o armazém de produtos agrícolas e a bomba dos combustíveis e o café e
também tenho juntamente com uma colega minha uma empresa de formação, portanto,
para além de dar formação para outras entidades, também tenho uma empresa nossa,
portanto é mais ou menos isto que eu faço.
Entrevistador – Que exerce no curso EFA?
Entrevistada – No curso, em todos os cursos EFA as únicas funções que tenho mesmo
exercido é mesmo só de formadora.
Entrevistador – E, portanto, é formadora em que área?
Entrevistada – Sou formadora, portanto nas áreas de Marketing, de Introdução à
Gestão, aquelas áreas de gestão, não a parte financeira mas a parte organizacional e de
recursos humanos, sou formadora também na área de Higiene e Segurança no Trabalho
porque sou técnica de nível cinco de Higiene e Segurança no Trabalho.
Entrevistador – E no caso do curso EFA da In Loco qual foi?
192
Entrevistada – Fui formadora do módulo de Recepção e Encaminhamento, portanto,
ligado mais para o atendimento ao cliente.
Entrevistador – Quantas horas é que eram?
Entrevistada – Cinquenta.
Entrevistador – Cinquenta. Tinha aqui uma questão que de certa forma já
respondeu, se trabalhava em mais alguma organização?
Entrevistada – Pois trabalho em mais duas.
Entrevistador – Ok.
Entrevistada – E entretanto também em termos de formação, portanto dou formação
para outras entidades, não é só para a APD, aliás, dou essencialmente, tirando a minha
empresa, dou essencialmente para o IEFP.
Entrevistador – E ao nível dos cursos EFA, tem trabalhado em mais cursos EFA?
Entrevistada – Tenho trabalhado em mais cursos EFA, neste momento, acabei a
semana passada um em Vila Real, e estou actualmente a dar formação noutro, Técnicos
de Apoio à Gestão, portanto estou a dar o módulo de Estrutura e Comunicação
Organizacional, no IEFP, em Vila Real.
Entrevistador – E é ao nível B3?
Entrevistada – Este aqui é a nível Secundário, 12º ano, o outro não, o outro era para o
9º ano, o que acabou há uma semana e tal.
Entrevistador – Ia-lhe pedir que me descrevesse a sua trajectória profissional deste
que começou a trabalhar, para eu ficar com uma ideia como é que isso?
193
Entrevistada – Ora bem, desde que comecei a trabalhar, então é assim, a minha
formação base é Turismo, tenho um bacharelato em Turismo, logo quando comecei a
trabalhar, comecei a trabalhar nessa área, portanto trabalhei aqui na Câmara Municipal
de Tavira, depois trabalhei numa agência de viagens, depois trabalhei numa imobiliária,
mas trabalhei na imobiliária na parte mesmo dos arrendamentos turísticos, portanto na
gestão dessa parte dos arrendamentos turísticos, depois entretanto foi quando voltei a
estudar, portanto fiz a licenciatura em Marketing e quando vim para aqui para a
empresa, portanto para a ALICER, isto foi em 1998, foi quando fiz também Formação
Pedagógica Inicial de Formadores e quando comecei a dar formação, portanto no Verão
de 1998 foi quando comecei a dar formação. A primeira entidade para que dei formação
foi a CEAL, depois comecei a dar, que eu acho que já não existe uma empresa de
formação que era a INIS em Faro, funcionava ali ao pé do mercado e depois para o
IEFP, pronto fiz, dei formação assim para várias entidades e pronto, o percurso
profissional foi mais ou menos isso, portanto aqui na ALICER, na gestão de empresa
acompanhando sempre com a formação profissional, depois acabei também por fazer
coordenação de acções de formação para a CNJ, Confederação Nacional de Jovens
Agricultores que é um trabalho que eu continuo a fazer, aqui por causa do ALICER nós
temos uma parceria com eles e também sou uma técnica reconhecida pelo IFAP para a
recepção das candidaturas agrícolas dos apoios aos agricultores e então começamos aqui
a fazer formação na área agrícola, portanto, cursos de ervas aromáticas, de agricultura
biológica, de vinicultura, portanto áreas assim e eu desses cursos fazia a coordenação e
continuo a fazer a coordenação da formação deles, portanto para a região, Alentejo e
Algarve e entretanto depois em 2007 criei uma empresa de formação e pronto e a minha
actividade desenvolve-se mais ou menos por aí.
Entrevistador – E como é que se deu a sua entrada como formadora nos cursos
EFA?
Entrevistada – Foi normal, é assim, comecei a dar formação essencialmente nos cursos
de aprendizagem mas depois à medida que, pronto nós trabalhamos, os coordenadores
precisam de um formador numa determinada área, nós temos qualificação para dar
formação nessa área e contactam-nos, é mais ou menos assim, é indiferente ser EFA ou
ser outra modalidade qualquer.
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Entrevistador – Colocava-lhe agora uma questão de forma mais aberta, se lhe
perguntasse como é que é a vida de um formador que faz a sua actividade nos
cursos EFA, o que é que me diria? O que é que lhe ocorre, como é que é
trabalhar…
Entrevistada – Que é movimentada, é assim, não é rotineira. Bem os cursos EFA,
temos, apanhamos, depende, há cursos EFA que são, que têm grupos de formandos
muito bons, há outros que, que nem por isso, o problema de dupla certificação seja ele
na modalidade EFA seja noutra qualquer, é que às vezes apanhamos formandos que
estão lá única e exclusivamente com o objectivo de concluírem a escolaridade que não
conseguiram fazer no ensino tradicional, portanto, às vezes, muitas vezes não estão para
serem técnicos de qualquer coisa que é a carteira profissional que o curso EFA lhes dá e
sim para concluírem a escolaridade e também a formação muitas vezes é vista assim
quase como o filho enjeitado, ou seja, se não sou bom aluno na escola, então vou fazer o
curso na formação porque lá consigo e essa ideia, eu também dou Formação de
Formadores e passo sempre, acho que é uma ideia errada, portanto, nem só, os
formadores não devem ter essa óptica, se nós damos formação temos que tentar fazer o
melhor possível o nosso trabalho e efectivamente damos notas aos alunos que as
merecem e os alunos também tem que, ou os formandos neste caso, também têm que
perder um bocado aquela ideia generalizada que na formação toda a gente consegue
passar porque a realidade também não é essa. Portanto como é que é a formação, o diaa-dia de um formador de um curso EFA? Apanhamos grupos muito bons de pessoas
muito motivadas com quem dá imensa vontade de trabalhar, apanhamos grupos muito
maus, pessoas que perturbam muito mais do que aprendem, que não querem aprender,
que estão completamente desmotivadas e que nos dão muito trabalho, há aqueles que
nós depois conseguimos dar um bocado a volta e conseguimos colocá-los a trabalhar e
há outros que efectivamente nunca se consegue, mas a formação, o dia-a-dia na
formação é sempre muito dinâmico, porque a formação é uma actividade muito
trabalhosa, é uma actividade que requer muito rigor.
Entrevistador – Ok, considera que ser formador EFA em sua opinião, ser
formador EFA é uma profissão?
195
Entrevistada – É. Ser formador é uma profissão como outra qualquer, sim é uma
profissão.
Entrevistador – E no seu caso, se lhe perguntasse se se considera profissional da
formação?
Entrevistada – Considero-me profissional da formação também, sem dúvida.
Entrevistador – Portanto apesar de se repartir pela…
Entrevistada – Apesar de me repartir pelas duas actividades, mas considero-me
profissional, não dou formação a tempo inteiro, mas dou formação com muito gosto e
dedico-me completamente à formação, quando estou a dar e quando estou a preparar e
quando estou a avaliar.
Entrevistador – E em termos das condições laborais e institucionais dos
formadores que trabalham nos cursos EFA, em relação aos vínculos profissionais,
as condições remuneratórias como é que isso?
Entrevistada – Não há vínculo pura e simplesmente, portanto os formadores na
generalidade trabalham a recibos verdes, a APD é uma excepção, porque a APD muito,
alguns são, uma boa parte dos formadores que lá estão a trabalhar são vinculados à APD
e trabalham na APD e dão formação paralelamente mas no IEFP por exemplo os
coordenadores são funcionários do IEFP mas os formadores não, portanto são todos
externos, trabalhamos com recibos verdes, portanto completamente precário, não é?
Quer dizer, nós trabalhamos por módulos, acabaram aquelas cinquenta horas, acabou, a
pronto vamos ver se nos chamam para o próximo módulo, é mais ou menos assim, em
termos de renumeração, pois, também é cada vez mais baixa, eu quando dei formação,
quando comecei a dar formação há doze anos atrás, cheguei a receber do IEFP a trinta e
cinco euros à hora, portanto na altura ainda era em escudos a sete mil e quinhentos
escudos, neste momento recebo a catorze e quarenta, portanto isso dá bem para ver a
diferença.
Entrevistador – Alguma vez pensou em abandonar a actividade como formadora?
196
Entrevistada – Não, porque gosto, nunca pensei em abandonar porque gosto de dar
formação, porque me sinto realizada a dar formação.
Entrevistador – Então se tivesse outras oportunidades profissionais não mudaria
de…
Entrevistada – É assim, não quer dizer que a formação é uma, é uma actividade que se
consegue conjugar, eu gosto muito de dar formação, para já não penso abandonar a
formação, mas pronto, cada caso é um caso, sempre que possível se eu conseguir
conjugar, também não quero abandonar a actividade que tenho aqui, desde que consiga,
tento conjugar as duas coisas.
Entrevistador – E, e em relação aos cursos EFA mais especificamente, como é que
vê o papel dos cursos EFA na sua vida profissional futura, em termos de, como
formadora?
Entrevistada – Neste momento é muito difícil dar-lhe resposta a essa pergunta, porque
a formação dos cursos EFA são financiados e nós acabando este quadro comunitário
não sabemos muito bem, até porque já sabemos que o actual governo não é muito fã das
Novas Oportunidades, portanto não é assim uma coisa que o Sr. Primeiro-ministro ache
importante ou que ache bom, portanto o futuro dos cursos EFA, sinceramente, não sei
por onde é que passa, não sei se iremos continuar, se, provavelmente no decorrer deste
Quadro Comunitário irá continuar, no próximo não faço a mínima ideia.
Entrevistador – Sente-se reconhecida no seu trabalho como formadora?
Entrevistada – Sinto-me reconhecida, tanto pelos formandos como pelas entidades
formadoras, pelos coordenadores, sinto-me reconhecida.
Entrevistador – Em termos do seu trabalho pedagógico perguntava-lhe quais são
as dificuldades que sente no seu trabalho como formadora de educação e formação
de adultos no âmbito específico dos cursos EFA ou seja, quais são as dificuldades
no dia-a-dia no seu trabalho?
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Entrevistada – As dificuldades são essencialmente, muitas vezes logo ao nível da
selecção, portanto às vezes temos formandos que estão a fazer um 12º ano e têm imensa
dificuldade em ler, em escrever, que dão muitos erros, portanto que já é mau terem o 9º
ano quando mais estarem a fazer o 12º, por exemplo, essa é uma das dificuldades, outra
das dificuldades muitas vezes é a falta de motivação, muitos formandos ou alguns
formandos estão na formação apenas ou para não perderem o subsídio de desemprego
ou para ganharem a bolsa, isso são essencialmente essas as duas dificuldades, portanto
ou, pronto, o grau de aprendizagem deles que muitas vezes não se equipara àquilo que
supostamente eles deviam de ter em termos práticos e a desmotivação, o
comportamento também, mas o comportamento nos EFA não se verifica tanto, o
comportamento, os problemas de comportamento são mais nos CEF e nos
aprendizagem, no EFA o comportamento é mais ou menos pacífico também porque são
pessoas mais velhas e é mais a desmotivação do que o comportamento.
Entrevistador – Do ponto de vista os aspectos gratificantes da sua actividade como
formadora, que aspectos é que…
Entrevistada – A actividade de formação, de formadora é gratificante. Primeiro, pelo
menos para quem gosta de comunicar, nós estamos sempre em contacto com pessoas
novas, conhecemos pessoas muito interessantes, aprendemos imenso com os nossos
formandos, o potencial humano, a parte da relação interpessoal é muito, muito
importante, acho que é que lá está e enriquece-nos também enquanto pessoas e enquanto
profissionais.
Entrevistador – Do ponto de vista do trabalho curricular, aqui no caso dos cursos
EFA, como é que tem funcionado esse trabalho curricular em torno dos temas de
vida com os seus colegas de formação?
Entrevistada – É assim, eu por acaso na APD participei num tema de vida. Eu dou
normalmente a componente tecnológica e à partida, e normalmente não faço parte, não
participo nos, ou posso participar mas não, não intervenho directamente, na In Loco
houve uma excepção, portanto aqui no último tema de vida era, o tema era a
empregabilidade e como no meu módulo, portanto eu falei-lhes um bocado de postura e
da imagem pessoal e então, acabei por participar no tema de vida, portanto aí na
198
preparação para as entrevistas de emprego, em termos da postura e da imagem que eles
queriam transmitir, portanto a minha única experiência em termos de tema de vida
directamente, porque às vezes posso colaborar a ver uns trabalhos, a ler uns textos, a
corrigir alguns erros, mas neste caso aqui uma intervenção directa foi mesmo só aqui
neste curso da APD e foi positivo, foi uma experiência positiva, o resultado final foi
muito bom.
Entrevistador – E em termos gerais como é que se costuma processar essa
articulação entre a formação de base e a formação profissionalizante? Como é que
olha para isso? Os seus colegas da profissionalizante costumam participar,
costuma haver ou não costuma haver muita…
Entrevistada – Sempre que possível sim, eu acho que sim, portanto aquilo que
aconteceu comigo agora na APD, portanto sempre que é possível encaixar e sempre que
está relacionado, eu acho que sim, participam desde que se relacione, porque depois os
temas de vida também, pronto, são temas específicos, os temas de vida também são
temas de vida específicos que nem sempre se enquadram, nem sempre se adequam com
os conteúdos de todos os módulos, mas eu acho que sim, e muito menos com os
conteúdos da parte tecnológica, da parte profissionalizante, mas, eu acho que sim, que
sempre que se adequa, sempre que se consegue enquadrar que colaboram.
Entrevistador – No seu caso, o seu módulo foi até à parte final do curso?
Entrevistada – Foi, o curso acabou, o meu módulo acabou sensivelmente um mês antes
do curso acabar.
Entrevistador – Costumam planificar os temas de vida, estou a falar
especificamente neste curso, se os temas de vida costumam ser planificados? Como
é que isso surge? Como é que se faz essa planificação?
Entrevistada – São planificados em reuniões de coordenação, portanto, quando,
quando há reuniões de coordenação com todos os formadores e com o coordenador,
portanto, planifica-se o tema de vida, escolhe-se o tema, logo aí nas reuniões de
coordenação, define-se também quem serão os formadores que irão colaborar e de que
199
forma irão colaborar e a partir dai há uma articulação conjunta, ou seja, eu faço isso, o
outro formador faz aquilo, portanto e vamos articulando, vamos estando sempre em
contacto uns com os outros e com o coordenador, para que depois o resultado final seja
positivo, é de ressalvar também que os formandos motivam-se bastante com os temas de
vida, é uma actividade diferente, colaboram muito, interessam-se a esforçam-se,
trabalham, empenham-se bastante nos temas de vida.
Entrevistador – Os seus colegas de formação costumam reunir, se costumam
aderir às reuniões de planificação? Ou sente que há alguma dificuldade em
mobilizá-los para reunir?
Entrevistada – Depende, mas normalmente aderem, sempre que podem, aderem, às
vezes há dificuldades em termos de horários, mas sim, normalmente aderem.
Entrevistador – Considera que essas reuniões de planificação são importantes para
o funcionamento do curso, do curso EFA?
Entrevistada – São importantes, são fundamentais, porque é nessas reuniões que nós,
que os formadores todos se reúnem, juntamente com o coordenador e que são discutidos
os principais, as dificuldades sentidas e ao mesmo tempo também e pronto o que é que
funciona bem e o que é que funciona mal no curso no sentido de ver o que é que
podemos fazer para melhorar aquilo que está a funcionar mal e para manter o que está a
funcionar bem, pronto passa um bocado por aí.
Entrevistador – Em relação às planificações que depois dai resultam, sente que elas
são cumpridas na prática? Sofrem alterações? Como é que…
Entrevistada – Normalmente são cumpridas na prática.
Entrevistador – Costuma fazer no seu caso mais um trabalho com o grupo, mais
um trabalho individualizado? Como é que isso se passa?
Entrevistada – Nos meus módulos, é assim, os meus módulos normalmente têm
sempre a parte de grupo é, tem sempre um peso muito grande, portanto eu defino
200
objectivos, temos conteúdos para dar, temos um horário para ser cumprido mas tento
sempre ao máximo que o grupo tenha intervenção naquilo que é feito na formação, que
colabore e mesmo em termos de actividades em termos de trabalhos que realizo com
eles tento que a maior parte dos trabalhos sejam feitos em grupo.
Entrevistador – Ok, e na sua opinião, quais são os princípios que devem orientar o
trabalho pedagógico dos formadores do curso EFA? Ou seja, as suas orientações
enquanto formadora para trabalhar com aquele público específico, o que é que
considera que…
Entrevistada – É assim, as minhas orientações enquanto formadora, primeiro eu estou
lá, tenho um módulo para dar, tenho um conjunto de conteúdos para dar num
determinado período de tempo, mas também interessa-me que os meus formandos, que
não seja só eu a transmitir conteúdos, que os meus formandos interajam comigo e que
apreendam esses conteúdos efectivamente, portanto, os meus pressupostos passam
sempre no sentido de tentar adequar os conteúdos que eu tenho para transmitir às
características do grupo com que estou a trabalhar e essa adequação é feita na forma
como os transmito, nas tarefas que defino, portanto aquilo que eu pretendo para além de
uma transmissão de conteúdos é de criar um bom relacionamento dentro da formação e
efectivamente que os conteúdos cheguem aos formandos e que eles os apreendam.
Entrevistador – E no caso do seu módulo, qual era o objectivo geral do módulo?
Entrevistada – Portanto o objectivo geral do módulo, o módulo era de Recepção e
Encaminhamento, os objectivos do módulo prendiam-se essencialmente com o papel
que a pessoa do atendimento tem, aqui neste caso eles eram um curso de Apoio à
Comunidade, portanto eles poderiam eventualmente, estariam sempre em contacto com
pessoas, era mais no atendimento, no relacionamento com as pessoas, portanto, porque
eles, ainda por cima, iriam trabalhar mais ou com idosos ou com crianças, portanto a
parte do relacionamento, do atendimento, com essas pessoas, portanto, passava
essencialmente por aí.
Entrevistador – E em termos das competências que considera essenciais para
exercer a sua actividade como formadora num curso EFA?
201
Entrevistada – Competências, primeiro dominar bem os conteúdos que se estão a
transmitir e segundo, no curso EFA, pronto é assim, essencialmente dominar a parte
técnica, portanto aquilo que estamos a transmitir, um grande sentido de organização e
de responsabilidade porque é importante, acho, para conseguir gerir o grupo é
importante que o formador seja responsável que imponha determinadas regras mas ao
mesmo tempo é assim, nós conseguimos mais facilmente fazer cumprir regras se
também as cumprirmos e se também formos cumpridores, portanto passa um bocado
por aí, dominar os conteúdos, ter algum, ter sentido de responsabilidade, porque é
necessário preparar a formação, é necessário adequar a formação ao grupo, é necessário
avaliar a formação e depois cá está, ter competências pedagógicas para desenvolver a
formação em sala.
Entrevistador – Em relação aos formandos, ainda há pouco estava-me a falar um
pouco dos formandos, pedia-lhe para descrever um pouco o perfil dos formandos
que frequentaram este curso EFA na associação.
Entrevistada – Este curso EFA desta associação em especial, ora bem o perfil dos
formandos, o grupo da APD que era um grupo motivado e era um grupo trabalhador, era
um grupo que trabalhava bastante, muito motivados a maior parte deles queria
efectivamente exercer aquela actividade, queria trabalhar naquela actividade, alguns
também queriam seguir o 12º ano e até queriam ir para a Universidade, portanto era um
grupo trabalhador, um grupo interessado, um grupo motivado, um grupo que se
dedicava, não faltavam, portanto raramente faltavam e empenhavam-se nas tarefas
completamente.
Entrevistador – E nota diferenças ou notou diferenças ao nível do empenhamento
dos formandos face à formação, desse grupo?
Entrevistada – Sim, há formandos que se interessam e que se empenham mais que
outros, mas na generalidade, era um grupo empenhado e era um grupo motivado, é
obvio que há sempre, havia lá sempre dois ou três que não se empenhavam ou porque
tinham problemas pessoais e não conseguiam também fazer a separação entre a vida
pessoal e a vida profissional e acabavam por trazê-los para a formação e isso acabava
202
por afectar o desempenho deles e a atenção e a motivação e até a assiduidade na
formação ou a pontualidade ou então porque era mesmo mais desmotivados, mas regra
geral foi um grupo empenhado, um grupo esforçado.
Entrevistador – E em relação à aprendizagem e ao desempenho deles notou
diferenças ou não?
Entrevistada – Não, todos com um bom nível de desempenho havia lá, sei lá um
formando com um bocadinho mais dificuldades, mas nada de significativo, portanto
todos com um bom nível de desempenho.
Entrevistador – Considera importante o perfil dos adultos formandos no
funcionamento do trabalho pedagógico dum formador EFA?
Entrevistada – O perfil, quer dizer em termos de selecção, ou seja o perfil à entrada
deles se é importante depois para o trabalho do formador, é isso?
Entrevistador – Sim e portanto, e esse conjunto de características que me esteve a
descrever ao nível de empenhamento da relação da aprendizagem.
Entrevistada – É importante para o trabalho do formador é óbvio, quanto mais
empenhado o formando estiver mais facilitado é o trabalho do formador de certa forma
ou melhor flui o trabalho do formador.
Entrevistador – Ainda no que diz respeito aos formandos, se considera que
costuma de haver conflitos no espaço da formação nos cursos EFA?
Entrevistada – Hum, não. Nunca me aconteceu num curso EFA, é assim já me
aconteceu e nota-se claramente e nesse grupo também se notava, há formandos que se
dão melhor e pior, ou pior, fora da formação e isso acaba por transparecer dentro da
formação, mas felizmente e falando nesse curso em particular e nunca tive nenhuma
experiência que os formandos entrassem mesmo em choque e falando nesse curso em
particular efectivamente havia, eles davam-se, na generalidade davam-se bem, poderiam
existir ali duas ou três pessoas que chocavam um bocadinho mais umas com as outras,
203
mas isso não afectava a capacidade deles trabalharem em conjunto e se fosse necessário
trabalhar em conjunto também trabalhavam, ou seja não afectava o trabalho deles, eu
podia-me aperceber que eles se calhar fora da formação não se dariam tão bem, mas não
afectava o trabalho deles dentro da sala.
Entrevistador – E costuma comentar isso com os seus colegas? o que é que eles
acham disso?
Entrevistada – Comentamos nas reuniões de coordenação, comentamos como é óbvio
o relacionamento dos formandos mas em relação a esse curso em particular todos
tinham a mesma opinião, eles poderiam não se dar todos muito, até porque, é um ano e
meio, quase dois anos, ali juntos todos os dias, portanto as pessoas são diferentes, e
estão enfiados dentro de uma sala sete horas por dia, todos os dias, são obrigados a
conviver durante essas sete horas, portanto essas diferenças e eu apanhei-os na recta
final, as diferenças já estão muito mais acentuadas, eles já estavam cansados da
formação, já estavam cansados, embora gostassem, mas já estavam mesmo naquele
ponto de saturação, estavam desejando de começar com a prática em contexto de
trabalho, portanto, se calhar no início as coisas são completamente diferentes, portanto
quando chegamos ao final já passaram por todas as situações boas e por todas as
situações menos boas também e se calhar as menos boas já se reflectem mas mesmo
assim o relacionamento do grupo era bom.
Entrevistador – Em relação ao seu trabalho com os colegas formadores, como é
que acontece esse trabalho com os colegas de formação, é um trabalho partilhado
ou que se faz mais de forma individualizada?
Entrevistada – O trabalho em formação é mais individualizado, é óbvio que
encontramo-nos nas reuniões de coordenação e sempre que necessário, desde que isso
seja necessário para o bom funcionamento da formação e para o bom desenvolvimento
dos módulos, trabalhamos em conjunto, caso contrário quase que não nos encontramos,
porque um formador, encontramo-nos às vezes ou nesse caso eu nem sequer encontrava
porque eu dava manhãs inteiras ou tardes inteiras, portanto eu nem sequer encontrava,
nem sequer encontrava os meus colegas.
204
Entrevistador – Há algum aspecto no trabalho de formação com os seus colegas de
equipa pedagógica que acha que seria benéfico melhorar?
Entrevistada – Em relação àquela situação em concreto, não.
Entrevistador – Ainda em relação ao trabalho com os colegas de formação sente
diferenças também nos formadores ao nível do empenhamento para pôr em
prática o curso EFA com a especificidade do seu modelo?
Entrevistada – É assim, eu em relação ao curso da APD não senti essa diferença, acho
que todos os formadores estavam bastante empenhados, também a coordenação tem um
peso muito grande nesse empenho do formador e efectivamente a Dra. Sónia é uma
coordenadora cinco estrelas e fazia com que o grupo todo fosse muito coeso, portanto os
formadores estavam todos empenhadíssimos para o sucesso do curso e eu também
apanhei na recta final, portanto eu não tive contacto com todos os formadores desde o
início, portanto eu tive contacto ali com meia dúzia de formadores que eram os que
estavam mesmo no final.
Entrevistador – E noutras entidades nota alguma?
Entrevistada – Normalmente não, mas às vezes acontece, às vezes há formadores que
ou porque de momento estão com uma carga horária excessiva e não conseguem, pronto
ter a disponibilidade que era desejada, às vezes, mas pontualmente, normalmente os
formadores estão empenhados e participam.
Entrevistador – A relação dos formadores com entidades formadoras, no seu caso
que tipo de relação é que mantém ou manteve com a APD?
Entrevistada – É assim, foi uma relação próxima, eu já conhecia a APD, eu já tinha
sido formanda da APD, aliás o contacto para ser formadora surgiu exactamente a partir
daí, portanto eu, a minha empresa participou lá numa acção, portanto num programa que
é o PME, que é um programa que dá apoio às empresas, portanto em termos de
formação, nós temos um consultor a trabalhar connosco durante um determinado
período de tempo e ao mesmo tempo temos formação numa serie de áreas ligadas à
205
gestão, e eu trabalhei, portanto participei nesse programa, já conhecia a APD, mas foi
efectivamente durante aquele ano que o programa durou que tive o contacto mais
directo com a APD e que surgiu depois a oportunidade de vir dar formação, portanto eu
comecei a conhecer a APD enquanto formanda e depois é que passei para formadora.
Entrevistador – Ainda no seguimento do que me está a dizer, se se vê como
trabalhadora da entidade onde faz o trabalho de formação?
Entrevistada – Claro que sim.
Entrevistador – Portanto neste caso da Associação para a Democracia?
Entrevistada – Enquanto lá estou a dar formação, independentemente do facto de ser
uma trabalhadora independente, mas sou colaboradora daquela entidade, enquanto dura
o meu módulo visto a camisola.
Entrevistador – E se se identifica com a forma como a entidade perspectiva a
formação EFA em particular?
Entrevistada – Naquele caso, sim.
Entrevistador – Sente-se reconhecida pela entidade? Pelo trabalho que
desempenha?
Entrevistada – Sim também, sinto-me reconhecida.
Entrevistador – Tenho aqui um conjunto de questões sobre as possíveis variações
ou não, do trabalho de um curso EFA em diferentes organizações, uma vez que me
disse que trabalhou?
Entrevistada – É idêntico, trabalhei em várias, mas é idêntico, não varia muito.
Entrevistador – Portanto se eu perguntasse se é a mesma coisa um curso EFA
funcionar no IEFP e na associação?
206
Entrevistada – É igual.
Entrevistador – Sim? Algum aspecto que ache que pode funcionar de forma
diferente?
Entrevistada – O que poderá funcionar de forma diferente se calhar, quer dizer
depende um bocadinho do coordenador e do mediador que nós temos, não é? E, porque
as pessoas fazem alguma diferença, mas à partida que dizer, pronto, efectivamente a In
Loco, a coordenação, ela, aquela coordenadora estava todos os dias com os formandos,
estava todos os dias em contacto com os formandos e isso faz a diferença, isso
normalmente não costuma acontecer, não é? Naquela entidade, pelo menos naquele
curso especificamente que é o único que eu tenho conhecimento ou onde eu estive a dar
formação, aconteceu, portanto é uma coordenadora que está diariamente com os
formandos e isso depois reflecte-se no resultado da formação e até no relacionamento
com os formadores.
Entrevistador – Quando diz que não costuma acontecer?
Entrevistada – Não costuma de acontecer, os coordenadores estarem todos os dias em
contacto com os formandos, não, nem os mediadores.
Entrevistador – Portanto noutras entidades?
Entrevistada – Noutras entidades, não costuma acontecer.
Entrevistador – E em relação à avaliação dos formandos, no seu caso como é que
faz a avaliação?
Entrevistada – Eu faço a avaliação dos formandos, pronto a avaliação dos cursos EFA
é quantitativa e qualitativa, nós temos umas grelhas específicas que temos que
preencher, como é que eu faço a avaliação? Portanto a avaliação faço com os trabalhos
que vou desenvolvendo, com tudo aquilo que é feito na sala, para além de que tudo
conta na formação, desde que o formando entra para a sala, até que o formando sai, tudo
207
conta, portanto, a pontualidade, a assiduidade, o comportamento, o interesse, a
motivação, o empenho com que se dedica às tarefas, portanto tudo isso tem peso.
Entrevistador – Estava-me a dizer que a avaliação é qualitativa e quantitativa e no
seu caso no seu módulo como é que, como é que isso se passou especificamente?
Entrevistada – Então, enquanto, na avaliação quantitativa, portanto, avaliámos, foi
feita essencialmente à base de trabalhos, portanto não fiz testes, foi a base de trabalho
que eles desenvolveram individualmente e em grupo, portanto desenvolveram um
conjunto de trabalhos que deu a base quantitativa, a qualitativa foi com observação.
Entrevistador – Está-me a dizer então que eles têm uma classificação, não é?
Entrevistada – Tem uma classificação.
Entrevistador – De zero a vinte?
Entrevistada – De zero a vinte.
Entrevistador – Na parte da formação base, isso foi assim ou…
Entrevistada – Não lhe sei dizer.
Entrevistador – Ok, tinha aqui uma pergunta que de certa forma já abordou aqui,
se acha que o trabalho da mediadora pode diferir nas diferentes entidades onde ela
trabalha?
Entrevistada – Pode diferir e é fundamental para o sucesso da formação.
Entrevistador – Ok, e tinha uma última pergunta tinha mesmo a ver com isso, que
era em sua opinião de que modo é que é importante o trabalho do mediador com o
curso EFA?
208
Entrevistada – É muito importante sem dúvida, é fundamental porque o mediador de
certa forma serve de ponto de ligação entre os formandos e os formadores, embora o
formador, é sempre o que está mais em contacto mais directo com os formandos, está
muito mais em contacto com os formandos do que o mediador ou do que o coordenador
porque está lá, efectivamente, aquelas horas todas, mas o interesse do mediador, faz
diferença também.
Entrevistador – Tenho aqui um último conjunto de questões, que têm a ver com a
Iniciativa das Novas Oportunidades em geral, qual é a sua opinião em relação à
Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistada – Embora se fale muito mal da Iniciativa Novas Oportunidades eu tenho
uma opinião positiva, porque, tudo bem, temos bons formandos, temos maus
formandos, temos bons profissionais, temos maus profissionais, mas isso temos em
todos os sítios, não é só na formação, nem nas Novas Oportunidades, eu acho que, se as
coisas forem bem coordenadas e se as coisas forem bem feitas e se os formadores se
empenharem, se todas as pessoas se esforçarem o programa Novas Oportunidades é um
programa excelente, porque estamos a dar oportunidade a pessoas que dificilmente
conseguiriam completar a escolaridade a conseguirem fazê-lo, paralelamente a
conseguirem ter uma carteira profissional e isso por si só é bom para o mercado de
trabalho porque as pessoas ficam com uma qualificação, é bom para as pessoas porque
lhes melhora a auto-estima, a auto-realização, acho que é bom para todos, é bom para os
formadores que têm trabalho não é? É bom para as entidades formadoras porque
também têm trabalho, portanto acho que é bom para toda a gente, acho que o programa
Novas Oportunidades é muito positivo, agora se me perguntar assim, se calhar há
pessoas que concluem a escolaridade e que ficam com poucos conhecimentos,
provavelmente há, mas a culpa não é do programa, é das pessoas que os estão a gerir,
mas isso também acontece no ensino, quantos doutores que não há, que não valem
nada?
Entrevistador – Quando me estava a dizer aí que se fala mal do programa Novas
Oportunidades, concretamente costuma ouvir falar alguma coisa sobre isso?
209
Entrevistada – Às vezes costumo, concretamente, foi aquilo que eu disse no início da
entrevista, a ideia que as Novas Oportunidades é uma forma de dar a escolaridade às
pessoas e que as pessoas saiem de lá sem qualquer tipo de preparação, o que é mentira,
porque a diferença, eu acho que a diferença entre a formação e o ensino é que a
formação assenta essencialmente na aquisição de competências e enquanto o ensino
assenta na aquisição de conhecimentos e eu acho que na formação as pessoas sabem,
saiem a saber fazer as coisas e acabam por, e tudo aquilo, mesmo o domínio do sabersaber está associado ao saber-fazer ou seja uma pessoa que no ensino se calhar tem
dificuldade na Língua Portuguesa, tem dificuldade na Matemática, tem dificuldade no
Inglês, na formação consegue ter uma nota diferente e consegue fazê-lo mais
facilmente, não porque seja mais fácil mas porque os conteúdos são diferentes, porque
não temos a Língua Portuguesa, temos o viver em português, não temos a Matemática,
mas temos a Matemática para a realidade ou seja, eles aprendem, mas aprendem
adequando os conteúdos programáticos às competências que eles têm que adquirir em
termos profissionais no domínio do saber-fazer e isso faz toda a diferença porque os
formandos vêem o retorno imediato daquilo que estão a aprender, o que não acontece no
ensino a maior parte das vezes.
Entrevistador – Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na
vida dos adultos formandos?
Entrevistada – Eu acho que sim, poderá não ter efeitos na totalidade, nos 100% das
pessoas formadas nas Novas Oportunidades mas eu acho que tem efeito numa grande
parte, eu acho que sim. Efeitos e efeitos positivos.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta ainda que vai nesse sentido que é, o que
é que acha da opinião de que a Iniciativa Novas Oportunidades promove o
facilitismo? Tendo em conta aquilo que me estava a dizer.
Entrevistada – Eu acho que, mais uma vez depende das pessoas que estão à frente.
Porque o promover o facilitismo depende de cada formador, depende de cada
coordenador, depende de cada mediador, depende de cada entidade formadora,
pessoalmente, eu não acho que promova o facilitismo, aquilo que eu acho é que
realmente é isso, uma adequação entre a aquisição de conhecimentos teóricos e a
210
aquisição de competências práticas e essa adequação faz toda a diferença no empenho
dos formandos.
Entrevistador – Na sua opinião pessoal o que é que poderia ser melhorado na
Iniciativa Novas Oportunidades, em termos de Iniciativa, do seu contacto com o
programa?
Entrevistada – Eu acho que se calhar um dos pontos a melhor poderia passar pela
selecção dos formandos, porque se a selecção não for bem feita, o processo todo corre o
risco de falhar, não é?
Entrevistador – E pode-me explicar um pouco melhor esse aspecto, portanto, ao
nível da selecção o que é?
Entrevistada – Porque é assim, há muitas pessoas inscritas no programa e eu às vezes
surpreendo-me quando faço uma apresentação e faço uma dinâmica e o formando diz
que esta naquele curso especificamente porque aquilo que quer é finalizar a
escolaridade, não devia de ser assim o formando devia de estar naquele curso primeiro
para ser técnico de qualquer coisa que é o que o curso lhe vai dar no final, o finalizar a
escolaridade devia ser secundário, agora eu não sei depois como é que se desenvolve as
entrevistas que nunca fiz nenhuma, mas eu, se o formando me diz aquilo no primeiro
dia de formação, provavelmente também terá dito à pessoa que fez a entrevista de
selecção e se há tantas pessoas inscritas se calhar convinha direccioná-las para a sua
área de apetência porque depois também faz diferença, quando nós temos um formando
que quer efectivamente ter aquela carteira profissional ele esforça-se muito mais nesse
sentido, se aquilo que ele quer, se tanto lhe dá em estar em Esteticismo ou estar em
Apoio à Comunidade ou estarem em Técnicos de Apoio à Gestão ou estar noutra coisa
qualquer, se para ele é absolutamente indiferente, portanto se calhar a motivação para
estar ali também e isso vai condicionar o desenvolvimento de toda a formação.
Entrevistador – E sobre os cursos EFA mais especificamente, qual é a sua opinião
sobre os cursos EFA?
211
Entrevistada – É positiva, eu continuo a dizer, portanto eu sou uma a séria defensora
da formação, já se deve ter apercebido disso ao longo da entrevista, portanto a minha
opinião sobre os cursos EFA é positiva, eu acho que é positiva, eu acho que é sempre
positivo quando se contribui para o engrandecimento das pessoas, para o
enriquecimento pessoal das pessoas e os cursos EFA contribuem para isso.
Entrevistador – No seu caso pessoal se tivesse que voltar a trabalhar em cursos
EFA voltaria?
Entrevistada – Claro, sem dúvida.
Entrevistador – Acha que os cursos EFA têm efeitos na vida dos formandos em
termos da sua vida futura?
Entrevistada – Eu acho que sim, eu tenho muitos formandos que estão a trabalhar ao
longo dos anos em que dou formação, tenho tido muitos formandos que estão a
trabalhar naquilo em que se formaram num curso EFA, tenho esse feedback, portanto,
aliás eu já tenho apanhado, eu dou formação de formadores e já tenho apanhado
formandos que fizeram o curso EFA que estão a trabalhar naquela área e que estão a
fazer a formação de formadores porque depois já sentem falta de dar formações
específicas naquela área específica, portanto, sim é positivo e acho que tem impactos
muito positivos na vida dos formandos.
Entrevistador – Em termos dos cursos EFA, na sua opinião o que é que poderia ser
melhorado, no funcionamento dos cursos EFA?
Entrevistada – As experiências que eu tenho tido em termos de curso EFA têm sido
muito positivas, apesar de tudo, portanto eu acho que os cursos funcionam bem, este da
associação funcionou excepcionalmente bem, porque havia uma grande união, cá esta o
trabalho da coordenação funcionou muito bem, se calhar o que poderá melhorar para
que os resultados sejam ainda melhores é haver uma relação mais estreita entre
mediadores, coordenadores e formadores e formandos, portanto se calhar, isso seria
contribuir sem dúvida para que a formação funcionasse melhor.
212
Entrevistador – Tinha aqui uma última pergunta que vai nesse sentido que me
estava a dizer, que é, qual o balanço que faz do curso EFA que acabou de decorrer
na associação?
Entrevistada – É muito positivo, foi sem dúvida um dos melhores, em termos de
organização foi excelente, em termos de selecção dos formandos também porque
aqueles formandos queriam fazer aquela formação, queriam trabalhar naquela área e eu
sinceramente, eu acho que muitas daquelas pessoas, embora o mercado de trabalho não
esteja bom, não está para área nenhuma, mas eu acho que muitos daqueles formandos
têm grandes hipóteses de ficar a trabalhar, conseguirem dali um futuro profissional.
Entrevistador – Ok, pronto, agradeço-lhe bastante.
9. Entrevista 6 – L.G. – Formador da área de competência-chave de Inglês num
curso EFA e no CNO da Associação para a Democracia.
Entrevistador – Começava a perguntar ao Leonardo, quais são as suas habilitações
literárias?
Entrevistado – Portanto, eu sou licenciado em Línguas e Literaturas Modernas,
Francês-Inglês, portanto tenho mesmo a profissionalização, serviço docente.
Entrevistador – E qual é a sua profissão?
Entrevistado – Portanto aqui trabalho como formador, mas também trabalho como
coordenador de acções de formação.
Entrevistador – E nos cursos EFA quais são as funções que o Leonardo exerce?
Entrevistado – Sou formador de Inglês.
Entrevistador – E estava-me a dizer que aqui na APD, faz mais, trabalha mais
em…
213
Entrevistado – Sim, eu tenho várias funções em acumulação, portanto nós aqui
raramente trabalhamos a cem por cento num projecto, sou coordenador de acções de
formação de IPSS, hoje neste curso EFA era formador de Inglês, também sou formador
de Inglês e Francês no Centro Novas Oportunidades.
Entrevistador – E trabalha em mais alguma organização para além da Associação
para a Democracia?
Entrevistado – Não.
Entrevistador – Ok, ia-lhe pedir para me descrever um pouco a sua trajectória
profissional desde que começou a trabalhar?
Entrevistado – Portanto, fiz o estágio em noventa e oito, noventa e nove, da variante
da, como é que se chama, para ser professor? Ramo educacional via ensino, sim,
portanto na Universidade de Lisboa, aquela dos quatro mais dois anos, noventa e oito,
noventa e nove no Pinhal Novo, na secundária e depois noventa e nove, dois mil,
através dos miniconcursos dei aulas aqui em duas escolas, uma em substituição de uma
colega e depois até ao final do ano de outro colega que tinha saído, depois dois mil, dois
mil e um também substituição de uma colega em miniconcursos, portanto foi sempre
em Inglês, nesses dois anos não cheguei a dar um ano completo, lectivo e depois no
terceiro ano acabei por frequentar um curso de formação profissional desta área, técnico
de formação, consultor de formação, depois fiz o estágio na APD, dois mil e dois,
portanto foi um curso de seis meses, três em sala, três em aqui em estágio e depois
comecei a trabalhar aqui, no Verão de dois mil e dois, desde essa altura tenho ficado cá,
na altura integrei um projecto, trabalhei em várias acções de formação, tudo cofinanciadas, portanto no início como administrativo, depois como formador, mais tarde
quando começámos a trabalhar numa intervenção que é o Q3, que é para a qualificação
de instituições sem fins lucrativos, comecei a trabalhar como consultor de ligação que
chamamos que é consultor de formação nessas entidades e agora sou coordenador,
porque houve uma restruturação, nós passamos também a fazer no Alentejo e eu fiquei,
eu sou o elemento mais antigo dessa intervenção.
214
Entrevistador – E como é que se deu o início da sua actividade como formador nos
cursos EFA?
Entrevistado – Os cursos EFA, portanto o primeiro curso EFA que eu dei foi cá,
portanto ocasionalmente, nós temos cursos EFA, este é o segundo, tivemos dois e como
eu reuni as minhas habilitações e sou a única pessoa que tem habilitações para a
docência na área do Inglês, fui convidado na altura, fazendo em regime de acumulação
com a outras funções que eu tinha e dei o Inglês nesse primeiro curso que foi em dois
mil e cinco, dois mil e seis, depois disso ainda dei outro curso também, portanto dei cem
horas aqui de Inglês e depois cem horas num outro lado, noutra instituição, fora e agora
é o terceiro curso EFA que eu estou a dar, também cem horas, habitualmente o Inglês
tem cem horas, para além disso do EFA, também tenho muita experiência em formações
modelares também, que é, que é afins aos EFA, temos feito aqui muitas formações
modelares, antigamente eram as acções saber-mais, agora passou a ser UFCD de Inglês
e já tenho mais de quinhentas ou seiscentas horas dadas.
Entrevistador – Se eu lhe perguntasse como é a vida de um formador que faz a sua
actividade dos cursos EFA assim uma pergunta mais abrangente, o que é que lhe
ocorreria?
Entrevistado – Portanto como é que é a vida em geral sem direccionar a pergunta para
lado nenhum?
Entrevistador – Como é que é a sua actividade, como é que é vida de um formador
que faz a sua actividade dos cursos EFA? Como é que é trabalhar?
Entrevistado – Também faço ocasionalmente, não é! Mas, não é uma coisa que eu faça,
faço quando temos aqui cursos EFA, não é algo que eu faço a cem por cento, não é?
Diríamos assim, pois é interessante, tem que se ter, se calhar muito, o que me vem a
cabeça é que além de ser formador também temos de ser psicólogo, assistente social, um
bocadinho isso tudo.
Entrevistador – Quer especificar um pouco melhor isso?
215
Entrevistado – Porque lidamos com um público difícil, baixa auto-estima, e muita,
além, no início quando comecei a minha carreira como formador, não concordava muito
com isso, achava que estava aqui para transmitir conteúdos, sobretudo, continuo a achar
também que como formador tenho que transmitir conteúdos e fazer com que as pessoas
adquiram conhecimentos e competências, mas também há, há muito trabalho a fazer a
nível da auto-estima, relações de conflito. Ao nível do Inglês nós este ano tivemos que
dedicar várias sessões ao trabalho em equipa, às relações interpessoais, à gestão de
conflitos porque havia ali, há sempre crises e este grupo não foi dos mais difíceis,
comparando com os outros dois que eu já trabalhei e pelas histórias que eu oiço de
outros formadores, há grupos ainda mais difíceis.
Entrevistador – Considera que ser formador EFA, do seu ponto de vista é uma
profissão?
Entrevistado – É uma profissão, ser formador EFA é uma profissão, sim.
Entrevistador – E no seu caso, se perguntasse se considera profissional da
formação?
Entrevistado – Considero profissional da formação, mas formador ou de outras coisas
também?
Entrevistador – Formador em relação…
Entrevistado – Pois formador não, como eu expliquei antes, não sou a cem por cento,
talvez menos cinquenta por cento, trabalho mais como coordenador mas também dou
muitas acções de formação ao longo do ano, certamente, não é, agora estou a dar, além
desta EFA, estou a dar uma modelar à noite, também dei varias nessas que eu sou
coordenador, também dei várias de, participei nalguns trabalhos de equipa, etc., portanto
dois terços de coordenação, um terço de formação.
Entrevistador – Para tentar perceber um pouco melhor isso, se lhe perguntasse
qual é a sua profissão, o que é que me…
216
Entrevistado – Eu digo sempre as duas coisas, Coordenador, Técnico de Formação,
barra formador, estas duas também estão interligadas.
Entrevistador – E em relação às condições laborais e institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, a questão do vinculo profissional, das condições
remuneratórias, pagamento no seu caso, como é que…
Entrevistado – Eu sou interno, portanto uma das complicações de ser interno é que
portanto, fazem-no, há uma forma qualquer no fundo social europeu, não é qualquer,
que eu conheço bem a formula, que nos imputa as horas de formação que nós damos,
que é muito mau, porque toda a preparação e avaliação fica de fora.
Entrevistador – Pois…
Entrevistado – Portanto, cada vez que eu dou três horas de formação, no mês passado
dei três horas, as três ultimas, o meu ordenado só paga as três horas mas depois em
avaliações e preparação tenho n horas de formação, fora também dei uma vez fora,
portanto um dos cursos EFA dei uma instituição, outra instituição fora da In Loco, e
houve uma dificuldade em receber, tivemos que escrever uma carta, acho que era o
POEFDS antes do POPH para receber.
Entrevistador – Quer dizer, no seu caso sendo formador interno, quer dizer que
tem um vínculo?
Entrevistado – Tenho sem, efectivo, sem prazo.
Entrevistador – À instituição?
Entrevistado – À instituição.
Entrevistador – Alguma vez já pensou em abandonar a sua actividade como
formador?
Entrevistado – Não.
217
Entrevistador – E se tivesse outras oportunidades profissionais, acha que mudaria
de actividade?
Entrevistado – Não, em princípio não.
Entrevistador – Ainda em relação aos cursos EFA, como é que vê o papel dos
cursos EFA na sua vida profissional futura?
Entrevistado – É assim, se eu, enquanto me mantiver ligado à APD se continuar a fazer
isto enquanto houver cursos aqui, portanto é pratica da casa fazer a requisição do
pessoal da casa que tem as habilitações, portanto poderá ser complementar à minha
actividade aqui dentro, se eu sair da APD pois será uma actividade, como eu tenho
experiencia e habilitações para isso, para trabalhar por fora, ser formador a tempo
inteiro, como eu vejo os meus colegas em várias instituições que tenham EFA ou
modelares e IEFP e outros.
Entrevistador – Sente-se reconhecido no seu trabalho como formador?
Entrevistado – Por quem? Em geral?
Entrevistador – Bom, por exemplo pela entidade?
Entrevistado – Sim, embora não o demonstrem, mas isso é o habitual, não só aqui mas
em muitos sítios.
Entrevistador – E?
Entrevistado – Pelos formandos, sim. Às vezes alguns sim.
Entrevistador – Mas quando diz, pelos formandos sim?
218
Entrevistado – Quando chega ao fim do percurso e que lhes pergunto se eles
aprenderam alguma coisa e vejo que eles aprenderam alguma coisa, isso é o maior
reconhecimento.
Entrevistador – Em relação ao seu trabalho com os formandos, quais são as
dificuldades que sente? No trabalho como formador de educação e formação de
adultos nos cursos EFA? Quais são as maiores dificuldades que sente quando tem
que fazer o seu trabalho?
Entrevistado – Pois a maior dificuldade aqui, é mesmo na específica do Inglês,
portanto é assim o Inglês. Eles entram cá e depois há pessoas com níveis completamente
diferentes, se pegarmos no quadro europeu de línguas, aquilo temos pessoas desde que
nunca tiveram inglês na vida e têm muitas dificuldades em aprender que precisava
mesmo de iniciação e até este ano apanhei pessoas que tiveram na Inglaterra à vários
anos, portanto aquilo vai de um extremo ao outro e depois como é que se lida com essas
pessoas todas em cem horas? É muito complicado, trabalha-se a três, quatro, cinco
velocidades na mesma turma, depois temos trabalho em conjunto para fazer, que é os
temas de vida, isso é que é muito complicado na específica das línguas, da língua do
Inglês, já tenho falado com outras, com outros colegas que trabalham nesta área, é
sempre essa dificuldade, as turmas nunca são homogéneas e para trabalhar línguas isso é
muito difícil. E depois para encontrar estratégias para lidar com isso, depois é difícil.
Entrevistador – Pois e como é que costuma fazer habitualmente?
Entrevistado – Faço, tento fazer um misto, nunca se agrada cem por cento às pessoas,
portanto tem que se voltar a dar a iniciação para as que não deram iniciação, portanto
tentar dar coisas mais aprofundadas com os outros, quando chegamos à parte dos temas
de vida, temos que trabalhar de maneira diferenciada, alguns fazem umas tarefas mais
complexas e outros tarefas mais simples, não é? Temos, muitas vezes não podemos
deixá-los, temos que direccionar um bocadinho mais isso, se não o que acontece? As
pessoas que sabem mais de Inglês assumem as tarefas todas, as outras ficam paradas a
ver, sabem menos, é muito complicado, no Inglês é sempre essa dificuldade.
Entrevistador – Há mais alguma dificuldade que lhe ocorra no seu trabalho?
219
Entrevistado – Depois é a parte comportamental, nas relações entre eles, aquilo varia
muito, também é fácil perceber, portanto são quinze meses em sala, trinta e cinco horas
por semana, chega a certos momentos é sempre, há sempre conflitos.
Entrevistador – Mas quando refere aí a parte comportamental, o que é que
costuma?
Entrevistado – Pronto de vez em quando, há sempre conflitos. Portanto se começa
bem, no início ditamos as regras, vai ser assim, as pessoas estão felizes porque foram
seleccionadas, mas chega a um tempo, depois começam a, habitualmente o publico é
muito feminino, aqui no nosso curso só tínhamos um homem depois era dezassete ou
dezoito mulheres, algumas foram desistindo, mas há aquela coisa que se diz, são muitas
mulheres, é o diz que disse e não sei que e boatos e ruídos e trabalho em equipa,
portanto, o primeiro trabalho de vida eles também tiveram muita dificuldade em
trabalhar em equipa, são pessoas, algumas susceptíveis e depois há sempre conflitos que
surgem.
Entrevistador – E em termos dos aspectos gratificantes da sua actividade como
formador, o que é que…
Entrevistado – Portanto é aquilo que eu falei há bocadinho, sentir a diferença que se
faz, ou adquirir ao ver que os formandos vão adquirindo competências de Inglês, mas
também comportamentais e ver que isto fez diferença na vida deles, antes de entrarem
no curso, portanto fazer um balanço no fim, então valeu a pena estes quinze meses aqui,
como é que vocês saem, saem mais preparados para a vida e para a profissão, portanto o
mais gratificante é isso, também há bons momentos de convívio com eles, momentos
difíceis mas também há bons momentos e criamos laços com a pessoas também é muito
importante.
Entrevistador – E como é que tem funcionado o trabalho curricular em torno dos
temas de vida? Com os seus colegas de formação?
220
Entrevistado – Sim, se calhar foi alguma pequena desarticulação na primeiro tema de
vida acho que aquilo tinha um prazo, era final de Outubro, depois fomos, aquilo acabou
por ser apresentado em Dezembro, depois o tema de vida acabou por ser muito grande,
só em Inglês, se calhar no último tema de vida, que não era tão aprofundado, aquele
acabou por ter setenta e tal páginas, uma coisa muito grande, se calhar devíamos ter, se
calhar houve poucas reuniões, as reuniões houveram de dois em dois meses, podia ter
havido mais reuniões pertinho para articular melhor as coisas, acho que trabalhámos
mais por núcleos, embora tenha havido uma tentativa por parte da mediadora e da
formadora de linguagem, linguagem não, da cidadania tentar articular isso, depois com
o Inglês é sempre complicado, o tema de vida, portanto nunca é escolhido em função do
Inglês, escolhe-se empregabilidade, isto ou aquilo, nós temos que nos adaptar e fazer
um trabalho para além do Inglês, portanto na empregabilidade trabalhamos os
currículos, fazemos o currículo em inglês, poucas horas, portanto há sempre, temos que
ter sempre em conta essas dificuldades.
Entrevistador – E a articulação entre a formação base e a formação
profissionalizante, tecnológica, como é que é feita essa articulação? Como é que se
costuma processar? Qual é a sua opinião sobre como é que isso funcionou?
Entrevistado – Eu não tenho uma opinião muito formada sobre isso, eu enquanto
formador da área de competência base de inglês, não havia assim muita articulação com
as outras disciplinas, a não ser no tema de vida, mas aí quem trabalhava mais no tema
de vida era a componente base, a componente profissional também tem os objectivos
próprios a atingir, não é? Às vezes é complicado, como é que se articula o tema de vida
com isso, se calhar vai ser a mesma temática, mas se eles tem aulas de cozinha, como é
que se articula as aulas de cozinha com o tema de vida que foi escolhido que é o
Ambiente, por exemplo, isso também é complicado, esses temas de vida às vezes é um
bocadinho também, acho que exagera-se um bocadinho, depois acaba por ser
prejudicial.
Entrevistador – Costumam planificar os temas de vida?
Entrevistado – Sim
221
Entrevistador – Como é que isso acontece?
Entrevistado – Portanto neste ano, foi, era a mediadora e a formadora de cidadania que
trabalhavam com os formandos o tema, portanto o tema nunca era imposto era escolhido
por eles e depois comunicavam-nos a nós, os outros formadores qual era a escolha do
tema e habitualmente era a formadora de cidadania a primeira a fazer a planificação,
depois nós orientávamo-nos por isso e tentávamos ver mais ou menos o que é que eles
iam fazer em cidadania e depois o formador de TIC também, como é que podia
trabalhar isso, em inglês, tentava adaptar aquilo, ok o que foi escolhido, então a higiene,
regras de higiene, alimentação, acho que era o primeiro tema, vida saudável, uma vida
saudável, como é que podemos trabalhar isso em inglês, e depois na sessão seguinte viase com os formandos e delineamos os objectivos a atingir e como chegar lá.
Entrevistador – E os formadores costumam aderir às reuniões de planificação? Ou
há alguma dificuldade em mobilizar os formadores para reunir, como é que isso
costuma?
Entrevistado – Não, isto costuma, os de componente base, participaram sempre e os
outros os outros também, acontece é uma coisa por parte da profissionalizante, não é? É
que aquilo são módulos, depois acaba o módulo, é difícil manter a pessoa que acabou o
módulo ligada até ao final, não é? Portanto de vez em quanto isso ia variando, aqueles
formadores da área profissionalizante que estavam a dar formação na altura iam às
reuniões, os outros já tinham deixado e os outros que ainda não tinham começado
também não, agora acho que alguns que estiveram sempre presentes devem ter sido
aqueles módulos, ou eles deram uns módulos que se prolongou ou deram vários
módulos, esses sim.
Entrevistador – Considera que as reuniões de planificação são importantes para o
funcionamento do curso?
Entrevistado – São imprescindíveis, sim.
222
Entrevistador – Sim, em que medida é que conta? Quando diz que são
imprescindíveis?
Entrevistado – Portanto, é assim, a planificação é imprescindível, quer seja aqui nos
cursos EFA quer em qualquer coisa, estou a pensar nas formações que eu faço no
Alentejo, se não fizer planificação daquilo, aquilo mais tarde ou mais cedo descamba
não é? Tem que haver sempre um planeamento estratégico de como é que se deve fazer
a coisa, aqui também no início, como eu já disse há bocadinho acho que tinha, devia
haver mais reuniões, que houve uma altura que se calhar passaram-se dois, três meses
sem uma reunião, mas escolhemos o tema de vida, portanto, depois da escolha do tema
de vida a planificação tem que se preparar e delinear com os formadores como é que se
vai fazer, e depois, se calhar podia se ter feito uma reunião a meio, não no fim, mas a
meio para ver se as coisas estão a correr bem, se há desvios a planear ou não e depois no
fim fazemos uma reunião de balanço, a primeira e última fizemos sempre, mais ou
menos a meio não, e houve desvios como no primeiro tema de vida que aquilo, ai uns
ainda não acabaram, então vamos prolongar, ainda não acabaram vamos prolongar e
aquilo prolongou-se demasiado.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta nesse sentido porque, se acha que a
planificação é cumprida na prática? O Leonardo estava a falar do haver desvios, o
que é que isso significa?
Entrevistado – No primeiro tema de vida acho que não, a coisa descambou um
bocadinho em termos de tempo, o segundo tema de vida sim, já se cumpriu, tinham-nos
dado um prazo até final de Outubro, o primeiro tema de vida, e aquilo só foi
apresentado em meados de Dezembro, portanto aí houve um desvio em termos de
tempo, não sei, se calhar os objectivos não foram bem definidos nessa altura, ou as
pessoas foram demasiado ambiciosas ou à medida que iam fazendo um trabalho, acho
que foi mais o que aconteceu, à medida que iam fazendo um trabalho, queriam fazer
mais coisas, acrescentar e aquilo prologou-se demasiado e com estas dificuldades tinha
que arranjar as coisas para eles, e às tantas aquilo ficou uma coisa muito grande, mas às
tantas eles já estavam a traduzir e a trabalhar coisas já repetitivas, portanto, não
acrescentou muito, acho que as coisas no primeiro tema de vida descambaram, no
223
segundo e no terceiro acho que as coisas já cumpriram o planeado, pelo menos em
termos de tempo.
Entrevistador – E as actividades que são normalmente combinadas na
planificação, são essas que se vão realizar? Há novas que vão surgir? Como é que
isso?
Entrevistado – Pois eu só posso falar pelo que se deve na minha disciplina, o que foi
planeado é o que foi cumprido, outras, noutras não tenho assim muito conhecimento das
actividades etc.., se às vezes fica, e nas reuniões também não temos tempo de falar o
que é que cada formador deu ou vai fazer nas suas aulas, por isso falamos mais dos
comportamentos mais difíceis, desses alunos que têm, que estão com dificuldades,
formandos, já têm faltas a mais, etc. e depois a planificação do tema de vida, mas
também não foram assim tantas reuniões quanto isso.
Entrevistador – Como é que se processa o trabalho pedagógico, ou o seu trabalho
em torno da evidenciação e da validação de competências ao nível do Inglês?
Entrevistado – Portanto há a planificação do tema de vida e nessa planificação ponho
lá as unidades, como é que aquilo se chama? Critérios de evidência, unidades de
competência, portanto a inglês há quatro unidades de competência grandes, que é
compreender textos, tem a ver com compreensão escrita, expressão escrita, oral,
compreensão oral e expressão oral, quatro grandes unidades de competência e depois
têm alguns critérios, mas não é assim tão repartido como eu sei que é a informática, por
exemplo ou CCL que é tentar dar mini critérios que nunca mais acabam, e em inglês
não, é saber mais ou menos, a pessoa compreende um texto, escrito ou oral, e sabe
escrever alguma coisa escrita ou oral e portanto é, anda tudo a volta disso, eles têm que
ter, ponho isso lá e vejo se eles demonstram isso depois no tema de vida e não só, nas
outras, e nas aulas que são fora do tema de vida que eu utilizei mais para lhe dar bases a
alguns e para recordar a outros algumas coisas que eles já podiam saber mas podiam ter
esquecidas, portanto anda a volta disso, temos também trabalho, claro, da oralidade,
também com gravações, etc. Trabalhei também, portanto, a componente da oralidade.
224
Entrevistador – Sente alguma dificuldade nesse trabalho de levantamento de
indícios, de detecção de evidências para validar as competências?
Entrevistado – Não, não senti assim grandes dificuldades, pelo trabalho que eles fazem
vejo muito facilmente se eles têm as competências ou não, por isso é que eu lhes peço
para eles escreverem o texto em inglês, se não conseguem pois e é mais do que
evidente, é muito fácil, ver se eles compreendem, ponha o texto em inglês agora traduza
para Português, não vale a pena fazer como na escola responda a pergunta, o A e não sei
o quê, se a pessoa não conseguir passar do Inglês para o Português é porque não esta a
perceber o que esta lá. Ai vejo facilmente o que é que eles percebem e não, ou não.
Entrevistador – Em termos pedagógicos faz mais um trabalho com o grupo, mais
individualizado?
Entrevistado – Devia ser individualizado mas com vinte e, vinte formandos, no início
eram vinte depois foram desistindo alguns, acho que acabamos com dezasseis e,
dezasseis é complicado, portanto as pessoas precisavam de um acompanhamento
individualizado, por aquilo que eu disse de eles estarem a vários níveis, alguns
demonstrarem mais dificuldades do que outros, alguns precisavam de um
acompanhamento individualizado mas é complicado porque, ainda por cima, tendo em
conta que em termos financeiros, como eu expliquei há bocadinho, só paga, o POPH,
devido aquela regra, só paga as horas que eu estou na sala, não paga a preparação, não
paga a avaliação e são muitas horas por fora e tenho outras actividades que tenho que
fazer, e tenho muitas vezes que roubar tempo às outras actividades.
Entrevistador – Tente-me explicar um pouco melhor como é que faz então? Depois
como é que fez com este grupo de formandos, para tentar gerir isso bem, os
diferentes ritmos em que eles se encontram?
Entrevistado – Portanto haviam, portanto dentro do tema de vida, no primeiro tema de
vida eu tentei ver como é, mais ou menos como é que eles se organizavam no início, em
distribuir as tarefas, então vamos ver este grupo, e o grupo, outra dificuldade onde os
grupos são escolhidos nunca são escolhidos em função da língua, portanto pode haver
225
um grupo muito forte, tem aqueles pessoas que estiveram em Inglaterra, e do outro lado
aquele grupo muito fraco, pessoas que nunca tiveram inglês que eles nunca são
escolhidos, os grupos nunca são escolhidos em função da língua, e depois eu tenho que
trabalhar em função disso, dependente do nível deles vou fixar objectivos a atingir,
portanto se estiver lá pessoas com mais dificuldade, com que tem mais conhecimentos
em inglês, vou ser mais exigente, vou pedir mais, olhe você vai fazer isto e aquilo, e a
pessoa que tem menos conhecimentos vai fazer coisas do seu nível, também se eu pedir
coisas acima do nível não vão conseguir fazer não é? E se eu lhes vou pedir coisas
muito fáceis também não é motivante e não vai estimular, não vai permitir que eles
adquiram mais competências, portanto aí sim, porque é um trabalho individualizado
como estava a falar há bocadinho reflectiu-se aí na planificação não é? Ou depois na
implementação dos temas de vida, distribuir as tarefas por eles, consoante o seu nível.
Em relação ao trabalho de fora dos temas de vida, a maior parte do trabalho foi nos
temas de vida, foi sessenta ou setenta por cento foi com os temas de vida e os outros
trinta ou quarenta tentei dar aquelas bases de apresentação pessoal, abecedário, os
números etc. E aí faço uma diferenciação nos exercícios, podemos trabalhar portanto,
uma gravação oral é muito fácil de trabalhar, fazer exercícios diferenciados para, se eu
quero que eles apanhem, há um grupo que nunca estudou inglês, dou lá as frases que
eles têm que escrever, que estão lá desordenadas por exemplo num quadrado depois eles
têm que escrever, obrigo-os a escrever e aqueles que já sabem inglês não dou nada, eles
tem que apanhar tudo de ouvido, isso pode se diferenciar o grau de dificuldade dos
formandos. Explico também, aqueles que têm mais conhecimentos, menos
conhecimentos eu vou fazer exercícios adequados ao grau deles, e aqueles que já têm
mais vou fazer outros, que é para fazer esses mais fáceis e depois acrescento mais,
porque eu sei que eles vão fazer aqueles muito rapidamente, exercícios mais do nível
deles para prosseguirem depois. Portanto isso e depois, em termos de preparação, desde
que eu prepare isso tudo antecipadamente e depois quando chegar a sala de formação já
tenho correcções para cada um, exercícios individuais, mas como calcula isso dá muito
trabalho e planificação, portanto não é fácil, tal como eu disse há bocadinho.
Entrevistador – E na sua opinião quais são os princípios que devem orientar o
trabalho pedagógico dos formadores que trabalham para o curso EFA? Quais são
as grandes orientações? Para o seu trabalho o que é que acha que…
226
Entrevistado – Os cursos EFA, os cursos, no ano passado que houve aquele, foi em
relação aos CNO mas os EFA também entra nisso das Novas Oportunidades, faz tudo
parte do universo das Novas Oportunidades, quando houve aquele estudo da Católica,
não é? Que eles disseram que o principal a benefício das novas oportunidades era o
aumento da auto-estima dos formandos e eu fiquei abismado com esses resultados,
portanto tanto dinheiro gasto, não é que não seja importante para aumentar a autoestima dos formandos é muito importante, como eu disse há bocadinho tendo em conta
que essas pessoas vem de meios difíceis e tiveram vidas algumas muito difíceis, muitas
vezes têm a auto-estima muito em baixo, também é importante mas não pode ser só
isso, tem que se adquirir competências, eles vem para este curso para adquirir o 9º ano,
o 9º ano tem competências de cidadania, de informática, de TIC, de Inglês, das
disciplinas base e das outras, saem com a carteira profissional, portanto temos que
formar aqui profissionais competentes, não é? Acho que vai também, é aquilo que o
país também precisa aumentar a produtividade e acho que muitas vezes isto fica para
segundo plano e centramo-nos muito na auto-estima.
Entrevistador – E em termos das competências dos formadores, que competências
considera essenciais no seu caso para exercer a actividade como formador nos
cursos EFA?
Entrevistado – Portanto as competências, tem que ter uma competência base, portanto
em termos da disciplina, não é? Dar informática, TIC etc., as componentes base não há
como fugir uma pessoa tem que ter habilitações para a docência, portanto tem que ter
essa componente e ter muitos conhecimentos técnicos e em termos pedagógicos também
tem que ter, pedagógicos isto é, saber o que é que está a falar e saber ensinar, portanto
mas isso é a parte que qualquer formador, qualquer professor tem que ter essas
componentes, não é? Ora uma terceira muito importante é aquilo que eu falei logo ao
início, ser um bocadinho psicólogo, ter competências ao nível comportamental,
relacional, mediação, não é por acaso que nos cursos EFA há um mediador, mas se
calhar cada formador dentro de cada sala de aula tem que ser um bocadinho mediador
também, está a lidar com um público não se é difícil, tem as suas especificidades, cada
público é difícil, é mais difícil dar formação a pessoas licenciadas a nível superior, são
muito mais exigentes do que um grupo EFA.
227
Entrevistador – E no seu caso, nessas competências relacionais que me estava a
dizer, como é que costuma fazer para lidar com o grupo?
Entrevistado – É difícil explicar, portanto o grupo, temos que ver se é, como é que a
pessoa está, portanto aqui, como é o grupo, como é que o grupo está, porque há sempre
aquelas tricas que nós sabemos, falando com a mediadora, a formadora disse, é que eles
tiveram, elas não se falavam uma com a outra, tiveram o desentendimento na sessão
anterior da manhã e sentir mais ou menos como é que as pessoas estão para ver se
vamos por aqueles dois a trabalhar em grupo ou não, se há conflitos ou se a pessoa está
em baixo, se está em cima, ou se houve pessoas, o marido foi-se embora e queria-lhe
bater e pô-la fora de casa não é? Depois essa pessoa chega a sala de aula está a chorar,
não é? Nós temos que lidar com isso, portanto, depende, não sei explicar bem como é
que se lida, mas temos que ter se calhar aí uma componente de assistente social, não é?
Psicólogo.
Entrevistadores – Pedia para me descrever um pouco o perfil dos formandos que
frequentaram este curso EFA.
Entrevistado – Portanto o perfil, portanto aqui tínhamos pessoas, a maior parte das
pessoas se calhar tinha acima de trinta anos, havia outros mais novos, não é? Portanto
todos abandonaram a escola cedo, por isso é que eles estavam a tirar o 9º ano, não é?
Com vidas um bocadinho desarticuladas e que alguns tiveram filhos de casamentos
anteriores, depois já trabalharam aqui e noutro sitio e que alguns não eram daqui do
Algarve, desenraizados, tinham trabalhado em Lisboa, depois foram para outro lado,
portanto assim um bocadinho, uma vida, assim sem as pessoas ter, sem estar fixado num
sítio qualquer, assim um bocadinho, assim à deriva, outras pessoas já com uma certa
idade acabam, muitos começaram a trabalhar muito cedo, portanto e nunca voltaram,
nunca tinham estudado já a N tempo, algumas, tínhamos também algumas novinhas mas
também tinham deixado a escola cedo, essa malta que desiste no 7º no 8º no 9º, depois
começam a ter negativas e no fim do tempo desistem da escola, que é um erro, não é?
Pelo menos os cursos EFA têm uma segunda oportunidade, não é? Para essas pessoas
concluírem pelo menos o ensino básico e há ali pessoas que tinham competências, tem
competências para ir mais além, isso depois é uma pergunta depois a seguir.
228
Entrevistador – E ao nível do empenhamento dos formandos face a formação?
Nota diferenças?
Entrevistado – Sim, nota-se diferenças em termos de, o grupo em geral teve
empenhado, mas havia sempre um ou outro elemento que estava abaixo, alguns acima e
outros abaixo, mas o grupo até teve empenhado, em geral, os elementos que não
estavam, foram saindo aos poucos, perdemos quatro, logo um no início que não tinha
tempo, que trabalhava à noite ou o que é, num bar e depois estava sempre a faltar de
manhã, foi mesmo excluída, depois perdemos uma mais a frente, depois outra, até ao
Natal perdemos quatro elementos em vinte, e agora perdemos uma no fim, foi
comunicado há pouco tempo, a última que tinha desistido, mas essa, essa já é
profissional a fazer isso, vai até ao fim do curso depois desiste para não ter o 9º ano,
para poder inscrever noutro, portanto há pessoal especializado nisso.
Entrevistador – Em relação à aprendizagem e o desempenho dos formandos, nota
que há diferenças?
Entrevistado – Há, claramente, portanto tem a ver com o empenhamento deles não é?
Portanto como eu disse no início tracei lá um quadro, na primeira sessão, depois na
última voltamos a falar disso, eu pus ali bolinhas e disse nem toda a gente vai começar
esta corrida ao mesmo nível, há pessoas que começam aqui, estão na iniciação, há
pessoas que começam aqui, agora quero ver o percurso, os progressos que a pessoa vai
fazer, e tirando um caso ou outro, houve progressos, claro que isto em cem horas não se
consegue fazer milagres, não é? E houve essas dificuldades todas nos temas de vida,
muitas vezes se calhar as pessoas que já tinham conhecimentos é que progrediram, as
outras que tinham menos conhecimentos andaram um bocadinho ali a ver navios
embora fizessem sempre algumas tarefas a aqueles, o que elas precisavam era iniciação
mas isto, elas entram, no B2 é que se dá iniciação, entram no B3 já não é iniciação, já é
o desenvolvimento, portanto tem que apanhar o barco e tentar acompanhar, é sempre
complicado.
Entrevistador – Quando diz que em cem horas, não se pode fazer milagres,
considera que é pouco tempo?
229
Entrevistado – É, o inglês é todo descriminado em relação às outras disciplinas da
componente base, as outras todas tem duzentas ou cento e cinquenta horas, acho que é
duzentas TIC, Linguagem e Comunicação, Matemática, depois o Inglês não, Língua
Estrangeira que habitualmente é sempre o Inglês só tem cem horas.
Entrevistador – E na sua opinião deveria haver mais horas?
Entrevistado – Mais horas. Por exemplo no curso anterior, só para dar um exemplo, no
curso anterior EFA que eu dei cá, o primeiro que eu falei há bocadinho, dois mil e cinco
dois mil e seis, era para Técnicos Comerciais e tinha as cem horas na componente base
de Inglês, mas e depois tinha para aí duzentas e tal horas em Língua Estrangeira na parte
profissional que eu também dei, que era aí, como era para ser Técnico de Vendas,
Assistentes Comerciais, tinha essa parte toda, aí trezentas e tal horas, aí já se fez
diferenças, as pessoas, algumas no final passava ali uma gravação qualquer comercial e
eles percebiam imediatamente, a maior parte, notou-se claramente melhorias em todos,
aqui em cem horas, só tiveram a componente base e não se notou tanto.
Entrevistador – E a na sua opinião que importância é que tem o perfil dos adultos
formandos, essa descrição que me esteve a fazer, no funcionamento do trabalho
pedagógico de um formador EFA? De que forma é que pode ter influência?
Entrevistado – O perfil, em termos de língua tenho que ver qual é, quais são as
competências que eles já tem, é assim, quando menos habilitações, há pessoas às vezes
tem só a 4ª classe depois podem ir fazer o 9º ano pode ir fazer um B3 se quiserem, sei
que há partida essas pessoas têm maiores dificuldades, não sei explicar isso, é a coisa
mais, quanto menos estudaram anteriormente mais dificuldades têm para dar o salto,
tenho que ter isso em conta, esse contexto, não quer dizer que nunca tenham estudado
inglês e depois já não vão conseguir, já apanhei pessoas que nunca tinham estudado e
começaram a estudar e tinham mesmo jeito para aquilo, portanto tem que ter isso em
conta, em relação ao perfil também ver se são pessoas mais ou menos equilibradas
psicologicamente, não é? Temos tarefas, eles, mas o problema foi deles, o primeiro
tema de vida stressaram-se a eles próprios, eles stressam-se e têm aqueles prazos, não
tenho prazos, têm aqueles prazos mas eles próprios ainda se põem mais pressão em
230
cima e as vezes dão conflitos e pessoas a chorar, mas eles próprios é que se punham
essa pressão em cima.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta nesse sentido, o Leonardo já abordou de
certa forma que é se costuma haver conflitos no espaço da formação?
Entrevistado – Sim, mas acho que é o normal, já dei a três grupos EFA, por acaso este
não foi dos piores, já tive noutro que foi fora aqui da APD, que à partida era com
público difícil, portanto os cursos EFA também pode haver várias candidaturas, e esse
aí era para pessoas, não era para desempregadas, era pessoas mesmo, desempregados de
longa duração, era mesmo aquelas pessoas com maiores dificuldades, aí foi muito mais
difícil, sim, tínhamos uma pessoa que tinha estado presa, etc. não se pode julgar as
pessoas pelo passado, não é? Mas houve muito mais conflitos situações que usaram a
violência com o mediador, portanto aqui houve conflitos mas foram mais verbais e
choros e às vezes gritarias entre eles, e ela disse aquilo e não sei que, estás a olhar para
mim, essas coisas assim intrigas que até se conseguiram resolver mais ou menos.
Entrevistador – Em relação ao seu trabalho com os colegas de formação como é
que acontece esse trabalho com os seus colegas de formação? Com os colegas
formadores.
Entrevistado – Portanto há aquele trabalho que já falamos das reuniões, não é? Para
fazer a planificação do tema de vida e depois o trabalho à medida que se vai
desenvolvendo saiu um bocadinho em paralelo, não há assim tanta articulação quanto
isso, é aquilo que eu expliquei há bocadinho. Ocasionalmente nós como os formadores
da componente base são quase todos internos, tirando o de matemática, portanto estava
eu, o professor de português, CLC também era daqui, a Daniela também, TIC também e
íamos trocando impressões, ver o que conseguíamos fazer em relação ao tema de vida,
sobretudo com o de TIC, porque no segundo tema de vida o suporte, o suporte foi um
blogue e tive que articular com ele, olha eu estou a fazer em inglês, então vamos fazer
uma pagina em inglês para eles meterem aqui a versão do património em inglês, o
primeiro tema de vida foi também, aí foi em papel, mas ai tínhamos que articular
também por causa da paginação, no trabalho, aonde é que se vai por a versão em inglês,
se calhar é melhor eu fazer uma versão à parte em inglês e fizemos a versão a parte em
231
inglês que eu já tinha um layout feito em português, portanto essas coisas temos que
articular.
Entrevistador – Tinha aqui também uma pergunta para tentar definir um pouco
melhor isso que é se considera que existe um trabalho partilhado ou um trabalho
que se faz mais de forma individualizada?
Entrevistado – As duas coisas e tem que haver, não é? Há coisas que têm que ser
planificadas em conjunto mas depois a implementação é individual, dentro da sessão da
formação de cada formador, não é? O que eu achei, que eu já disse há bocadinho, se
calhar durante a implementação devia haver mais, podia ter havido mais reuniões de
motorização, como é que o trabalho estava, que às vezes passava-se dois meses, acho
que chegou a passar três meses das reuniões, só isso.
Entrevistador – Considera que o facto de haver alguns formadores internos,
facilita a…
Entrevistado – Eu acho que sim, que o que núcleo fica mais, nas reuniões que eu, os
internos estiveram sempre presentes, não é? Que nós trabalhamos aqui no dia-a-dia,
embora às vezes tenha que ir para o Alentejo, outros para outro lado, mas estamos aqui
é mais fácil trocarmos impressões, se fossem todos externos se calhar só se viam nas
reuniões, é muitas vezes o que acontece, o formador externo vai dar a formação, acaba a
formação vai-se embora e só vem a reunião e a coisa fica bem mais desarticulada, sim,
acho que haver pessoas internas é uma mais-valia, formadores.
Entrevistador – E em sua opinião se algum aspecto de trabalho de formação com
os seus colegas de equipa pedagógica que acha que seria benéfico melhorar?
Entrevistado – Aquilo que eu já disse há bocadinho, se calhar, a realização das
reuniões era, demasiado tempo das reuniões, se calhar sobretudo no primeiro tema de
vida, acho que chegou a uma altura em que cada um estava a trabalhar um bocadinho
para seu lado e isso devia ter havido uma maior articulação e podia-se ter feito, mas se
calhar falta tempo mas é aquilo que eu disse há bocadinho, as pessoas que não são
internos têm aquelas dificuldades, têm que fazer isto só para, o POPH só paga as horas
232
que a pessoa está em sala, e quanto mais tempo for exigido por fora para planificação e
avaliação é mais difícil lidar porque estamos a roubar tempo a outras actividades.
Entrevistador – Sente diferenças no empenhamento do trabalho nos colegas
formadores para por em prática o modelo EFA ao nível do empenhamento dos
próprios formadores?
Entrevistado – Não, só tenho, só tenho um conhecimento mais geral dos meus colegas
aqui internos, mas já nos conhecemos há anos, isto não há assim grandes diferenças de
empenhamento, em relação aos outros também, mas é muitas coisas também se calhar
não são discutidas, porque é a avaliação dos formadores, faz-se avaliação dos
formandos isso vamos fazer agora no fim que ainda falta fazer a ultima reunião, mas
habitualmente nas reuniões de formadores não vejo a avaliação dos formadores, da
equipa formativa.
Entrevistador – Sobre a questão da sua relação com a entidade, que tipo de relação
é que mantém com a entidade formadora neste caso com a APD?
Entrevistado – Pois sou técnico daqui, tenho contrato como expliquei anteriormente,
trabalho aqui há nove anos.
Entrevistador – Portanto vê-se como trabalhador da entidade onde faz?
Entrevistado – Formador, sim
Entrevistador – E identifica-se com a forma como a entidade perspectiva a
formação EFA?
Entrevistado – Sim, sim, portanto não tenho nada a dizer, portanto já apontei os
reparos aí que tinha a apontar, mas claramente a entidade tenta sempre dar o seu melhor,
algumas vezes dar o seu melhor não chega, não é? Mas tenta proporcionar cursos de
qualidade quer aqui no EFA quer em todos os que dá a qualquer nível, mesmo no
Centro Novas Oportunidades, portanto às vezes as pessoas saírem daqui com o seu
certificado, saiam daqui com competências, não é? E conhecimentos.
233
Entrevistador – E se lhe aparecesse outra oportunidade de trabalho, acha que saia
da entidade para onde trabalha?
Entrevistado – Só se fosse muito bem pago, aqui o que eu estou a fazer agora é um
bocadinho cansativo, não é? Tenho que ir e vir, acumula, mas é, é um desafio grande e
interessa muito, em termos de trabalho motiva muito, embora seja muito difícil.
Entrevistador – Queria tentar perceber agora um pouco melhor a questão, se
haverá diferenças em fazer um curso EFA na APD ou noutra organização como o
IEFP, como uma escola ou uma organização com características diferentes? Ou
seja se na opinião do Leonardo os cursos EFA funcionam de forma diferente
consoante as entidades onde eles acontecem?
Entrevistado – Portanto eu só tenho experiencia aqui destes dois cursos que demos
aqui e daquele curso que eu disse, numa entidade externa que na altura estávamos a ter
o projecto em conjunto, eles eram parceiros num projecto, e no início tive em formador
deles, eles iam fazer dois cursos EFA tinham-me convidado para outro curso, depois no
fim o curso não arrancou por falta de formandos, eles já tinham uma formadora, acho
que era uma formadora no primeiro curso, só que ela foi colocada no inicio de
Setembro, e desistiu foi para Trás-os-Montes e depois convidaram-me para ir dar a
formação e acabei por dar, portanto noventa e três horas, ela tinha dado as duas
primeiras sessões, portanto fui eu praticamente dei o resto, senti muita diferença entre
esse curso e aqui o nosso. Não é querer puxar a brasa à sardinha, mas o curso deles,
embora eles fizessem tudo o que nós fazemos, reuniões, a preocupação eu notava que a
instituição preocupava-se mais com a forma com o conteúdo, eles queriam é que as
coisas estivessem todas bonitas perante o POEFDS que era quem financiava, queriam
que nós fizéssemos aqueles, como é que eles chamam aquilo, é um espécie de
caderninho no fim com tudo, a matéria dada o manual, não é o portefólio, o portefólio é
aquilo que os formandos fazem, é da parte do formador, um livro de aprendizagem com
tudo aquilo que demos e coisas para darmos aos formandos para eles continuarem a
aprendizagem, eu notava que eles pediam isso mais para cumprir calendário, muitas
coisas que eles faziam ali era para cumprir o calendário, portanto era os dossiers todos
bonitinhos para o auditor ver, e depois não se preocupavam tanto com a sala de
234
formação, a instituição em si, agora o mediador, as pessoas estavam ali, esse curso
tiveram dificuldades porque não pagava as pessoas e elas iam saindo, o mediador foi-se
embora e depois veio outro e aquilo foi sempre rodando teve enormes dificuldades e vi
que a instituição em si preocupava-se mais com o dinheiro que tinha a ganhar com o
curso do que com as competências que os formandos iam adquirindo e aqui na In Loco
não noto isso, IEFP já dei formação mas já foi há dez anos atrás, não sei como é que
está hoje, portanto notei muito formalismo na altura, sim.
Entrevistador – Só para tentar perceber melhor, no seu caso foi uma entidade
privada ou publica essa que me está a dizer?
Entrevistado – Foi uma sem fins lucrativos também, assim semelhante à APD sem fins
lucrativos, formadora também.
Entrevistador – Ao nível da avaliação dos formandos nos cursos EFA como é que a
fez a avaliação?
Entrevistado – Portanto a avaliação, tendo em conta as competências, as unidades de
competências que eles tem que demonstrar em trabalho produzido, depois faço a
avaliação, aqui centrei-me mais nos temas de vida que a maior parte do trabalho foi nos
temas de vida, mas não só e faço aquelas avaliações, isso também é feito em conjunto,
fazemos uma ficha aqui num modelo, aqui toda a gente, sei que a componente
profissionalizante é um bocadinho diferente, tem que se atribuir notas, eles fazem
mesmo com notas, nós não, portanto aí é mais, fiz o primeiro tema de vida é mais,
trabalhamos aquelas duas unidades de competência, demonstrou ou não demonstrou,
segundo tema de vida também, terceiro tema de vida, voltei às competências do
primeiro que eles não tinham demonstrado, para dar uma segunda oportunidade e depois
faço a avaliação, demonstrou, não demonstrou, demonstrou bem, não demonstrou muito
bem, em relação à avaliação nos EFA sei também, na minha opinião o nível é baixo, é
baixo no sentido de, portanto os padrões, aquilo que pedimos para o formando
demonstrar é baixo, é um nível de exigência muito baixo.
Entrevistador – E ao nível da temporalidade da avaliação? Foi acompanhamento
dos temas de vida ou?
235
Entrevistado – Sim.
Entrevistador – Na formação profissionalizante disse-me que há a atribuição de
uma nota, é isso?
Entrevistado – Sim, porque ela na altura que pediu para, qual é a ficha modelo que
fazemos a avaliação? E a Sónia deu-me uma, a mediadora, e estava lá uma nota mas
disse, mas nós temos de dar notas? Isso não nos serve para nada, isso é da parte
profissional e eles dão uma nota de zero a vinte. Mas nas componentes de base não.
Entrevistador – E em termos do trabalho do mediador ou da mediadora, se o
Leonardo acha que, tendo em conta a experiencia que me esteve a descrever, ainda
há pouco noutra entidade, se o trabalho do mediador pode diferir nas diferentes
entidades?
Entrevistado – Sim, pode diferir mas isso tem a ver muito com a personalidade da
pessoa.
Entrevistador – E neste caso da experiência que me teve a descrever notou
diferenças de funcionamento?
Entrevistado – Sim, portanto aqui a Sónia já no ano anterior também, no anterior, ela
não foi a mediadora, no anterior era a coordenadora, temos uma coordenadora e um
mediador, duas pessoas que trabalham em conjunto e que fazem esse trabalho. Na outra
instituição notei que aquilo começou com uma mediadora, depois ela foi se embora,
depois veio outro mediador, não é? Que eles também estavam muito dedicados aquilo, a
questão não é essa, tentavam fazer, acho que tem a ver com a personalidade, são essas
pessoas, os mediadores é que têm que fazer a gestão dos conflitos, sobretudo, ter um
formador dentro da sala mas, eles é que estão acima disso e têm que gerir, têm que criar
um, um clima de confiança nos formandos, os formandos com eles, é que os formandos
vão abrir sobre os problemas que têm e etc. portanto isso acho que tem a ver muito com
a personalidade e o mediador esse sim, esse tem que ser um grande assistente social.
236
Entrevistador – Portanto, tinha aqui uma pergunta nesse sentido. Se em sua
opinião é importante o trabalho do mediador no curso EFA?
Entrevistado – É fundamental, acho que é o elemento que mantém alguma união ali,
como o nome indica é mediador, portanto esta ali para fazer a gestão dos conflitos, se
não houvesse um mediador, portanto há o coordenador, mas muitas vezes o mediador é
que faz o trabalho de coordenação no terreno junto dos formandos, juntos dos
formadores, sim, é fundamental.
Entrevistador – O Leonardo ainda há pouco falou-me aí da questão dessa entidade
onde teve a funcionar, dos pagamentos que segundo percebi falhavam era isso?
Entrevistado – Atrasavam-se muito, eles diziam que não tinham dinheiro porque o
POEFDS ainda não tinha pago mas nós já tínhamos passado o recibo há N tempos e
aquilo levava meses e houve uma vez qualquer, juntamos todos os formadores e
resolvemos escrever uma carta ao POEFDS a dizer, a assinalar a situação.
Entrevistador – E isso acontecia só com os formadores ou com os pagamentos dos
formandos também?
Entrevistado – Não, os formandos acho que eles não podem, não se podem atrasar,
acho que foi mais os formadores é ficaram por pagar e a equipa técnica sei que eles
também desabafavam connosco, também não recebiam a tempos e horas. Os formandos
não porque senão os formandos vão se embora. As pessoas estão aqui a ganhar a bolsa
se atrasar muito se eles não têm dinheiro para pagar as despesas então ai o nível de
conflitos aumenta e muito.
Entrevistador – Tenho aqui só um último conjunto de questões, que é em relação a
Iniciativa Novas Oportunidades e aos cursos EFA. Qual é a sua opinião em relação
a Iniciativa Novas Oportunidades em geral?
Entrevistado – Foi uma boa ideia, que depois teve alguns problemas de implementação
ao nível das exigências.
237
Entrevistador – Pode tentar explicar um pouco melhor?
Entrevistado – Acho que foi, portanto dar uma segunda oportunidade a muitas pessoas,
que nós temos uma taxa, tínhamos e continuamos a ter uma taxa, de escolaridade muito
baixa, não é? Comparado com os outros países da OCDE e da Europa em geral, onde
nós queremos estar. Muitas pessoas desistiram da escola muito cedo, acho que é, acho
que é uma tendência mesmo Portuguesa, nos outros países não acontece, a maior parte
das pessoas tem pelo menos o secundário ou mais e aqui as pessoas desistem no sétimo,
no oitavo ou no décimo, portanto e isso em termos de produtividade e depois reflecte-se
se não é? Em termos de competências. Na produtividade nota-se e muito. Se calhar a
actual situação tem a ver com isso, portanto isto é uma boa ideia, uma segunda
oportunidade, que eu também antes de isto começar, dei formação há dez anos atrás à
noite, quando perguntou há bocadinho, em termos de curriculum, noventa e nove, dois
mil na, no antigo Ensino Recorrente que também não funcionava, que as pessoas, as
turmas começavam no início com vinte e tal alunos e chegava ao fim com dois. Portanto
lembro-me de ir lá a Faro às dez da noite, das oito, das nove às dez para ter um aluno
que era o aluno que não tinha desistido. Também não funcionava. Isto tem a ver não só
com o sistema, mas com as pessoas que são pouco exigentes em Portugal consigo
próprias, e portanto as Novas Oportunidades foi uma boa ideia e depois em termos de
implementação correu mal, tenta-se atingir números, portanto pede-se resultados aos
Centros de Novas Oportunidades e as outras entidades formadoras fazem EFA’s, querse certificações para apresentar na OCDE, para apresentar ali e isso está ligado, o
problema é que isso está ligado aos resultados financeiros, se a pessoa, se o Centro
Novas Oportunidades não atingir aquele numero de inscritos ou aquele número de
certificados tem um corte financeiro, isso levou ao quê? Que as entidades facilitassem
na distribuição de, foi quase uma distribuição de certificados. Que houve muito pouca
exigência e acho que o primeiro, nosso primeiro-ministro tem razão a esse nível, há
pouca exigência, portanto eu também, no Centro Novas Oportunidades também faço a
avaliação ai da certificação do Inglês e do Francês que eles vêem e muitas vezes tenho,
temos que ser menos exigentes não é? Do que deveríamos ser e acho que isso é um
muito mau caminho, ser pouco exigente.
Entrevistador – E acha que esta questão com exigência desses objectivos tem
influência no trabalho dos formadores, dos técnicos?
238
Entrevistado – Sim, temos que ser menos exigentes, se calhar se eu fosse pelo nível de
exigência, se calhar aqui metade dos formandos, não os validava não é? Mas o nível de
exigência não é ser muito, é que agora hoje em dia a média está tão baixa, quase que
não passa aquele que não faz nada. Portanto isso, quer dizer que as pessoas, eu ponho lá,
tem competências de nível de inglês, muitas vezes pergunto, tem? Têm os indícios. Mas
isso também está logo mau no início que a pessoa, como eu disse, não teve iniciação e
vem para aqui para desenvolvimento e depois é muito difícil. Portanto o sistema em si
está mal.
Entrevistador – Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na
vida dos adultos formandos?
Entrevistado – Tem. Apesar das dificuldades que eu disse aqui, as pessoas, nos cursos
EFA nota-se, são quinze meses não são? Quinze, dezasseis meses, as pessoas saem
completamente, a maior parte do grupo sai diferente do que entrou não é? Se assim não
fosse isso era dinheiro mesmo, deitado à rua. Por dentro sim, a nível de auto-estima e
mesmo de competência, as pessoas adquirem competências, se calhar não é o nível que
deveria ser, está abaixo do nível mas mesmo assim mostram claramente um progresso
entre o momento que entrarem e o que saem, quer em Inglês quer nas outras disciplinas,
saem daqui transformadas, a maior parte das pessoas.
Entrevistador – O Leonardo de certa forma já abordou isto mas vou voltar a
colocar esta questão, o que é que acha da opinião de que a Iniciativa, uma opinião
que circula muito por ai não é? Que a Iniciativa Novas Oportunidades promove o
facilitismo?
Entrevistado – Ora bem. Isso é assim, há bocadinho disse que o nível de exigência às
vezes está abaixo do que deveria ser porque às vezes para facilitarmos um bocado, mas
que promove algum facilitismo também isso é muito generalista não é? Também não é
nem oito nem oitenta. Se eu vejo o trabalho pelo menos aqui no nosso Centro Novas
Oportunidades no nosso curso EFA também exigimos aos formandos, portanto eles tem
que demonstrar competências e nunca se atribui um certificado e agora a minha irmã
também é formadora, é professora de Português, já trabalhou também noutros Centros
239
Novas Oportunidades e às vezes nas escolas secundarias e ela diz que também lá a coisa
não é muito melhor e às vezes até mais baixo e quase que as pessoas não sabem
escrever e acabam por ter o, portanto nem sequer é uma questão pública ou privado,
facilitismo, se calhar depende dos sítios, não é? Se estamos a falar do RVCC, do
referencial, não facilita nada, se uma pessoa pegar no referencial do 12º, ele não é nada
fácil, 12º ou 9º também não, mais e depois é como é que aquilo é aplicado na prática
nos Centros Novas Oportunidades e tenho muitas dúvidas e depois há aquela questão de
temos que atingir aquelas metas e isso das metas é que dá cabo, tem que haver metas,
não é? Se não aquilo prolongava-se e há muitos adultos que entram nos Centros Novas
Oportunidades e mantêm-se lá anos e anos, no EFA não dá para fazer isso que aquilo
tem limites, não é? Mas, tem que haver metas, não é mas é assim, aquelas metas para
não se cortar, aquilo obriga quase a atribuir certificados e a fechar os olhos, portanto
não se vai dar o certificado mas se calhar nalgumas áreas que podiam ser, a pessoa
ainda não demonstrou competências, vamos fechar os olhos.
Entrevistador – E portanto, na opinião do Leonardo, o que é que podia ser
melhorado na Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistado – Portanto, o grau de exigência, agora vamos lá a ver uma coisa, nós
estamos a competir a nível internacional, estamos aqui a formar pessoas, não é? Para o
mercado de trabalho, temos de competir e lá fora ninguém anda a brincar, quer na
China, quer na Ásia, acho também que não é o mal, o mal não é só Português, também é
Europeu não é? Nos Estados Unidos também, está-se a ver na Matemática, nas Ciências,
cada vez está a descer menos o nível não é mesmo na leitura dos testes da OCDE, mas
eles na Ásia não tão a brincar, muito exigentes, logo os alunos estudam a sério, é que
aqui, é que à vida não é fácil, se a pessoa quiser é como que, isto aqui dá ideia que não
se, é o facilitismo não é? Acaba por ser um bocadinho isso, que a pessoa não tem que se
esforçar para atingir aquilo, e portanto isso não, tem que se aumentar o nível de
exigência, acho que é isso, o referencial, pode-se alterar uma coisa ou outra, eu lembrome logo do início em dois mil e sete quando ele saiu pelo menos o do secundário, o de
inglês também do EFA conheço bem, portanto é um bom instrumento de trabalho,
depois como é que, como é ele é implementado, isso é que tem sido a questão.
240
Entrevistador – E em relação aos cursos EFA, qual é a sua opinião sobre os cursos
EFA?
Entrevistado – Em geral, é como eu disse, é uma boa ideia não é? Portanto juntar, as
pessoas deixaram a escola, juntar a parte, dar o nono ano ou décimo segundo, portanto a
parte componente base e uma parte profissional, sim eu acho que é isso, que é isso que
os estudos dizem, que é isso que nos faz falta em Portugal, técnicos intermédios não,
com décimo segundo etc., portanto pessoas com nível superior há muitos, licenciados e
desempregados, pessoas sem habilitações também há muitas, se calhar falta técnicos de
nível intermédio, com o décimo segundo e formados, como nós estamos aqui a formar
estas pessoas para apoio familiar, eu trabalho também normalmente com IPSS, e sei que
ai que há falta, que eles tão sempre à procura, é uma coisa que vai crescer, e idosos vai
haver cada vez mais, também já se fala de ideias de trazer idosos, de Portugal ser a
Florida da Europa não é? E pode ser um meio em expansão, precisamos de técnicos
formados nessas áreas sim.
Entrevistador – Se acha que os cursos EFA têm efeitos na vida dos formandos, é
bom falar dos cursos EFA em específico?
Entrevistado – Sim, têm muitos, aquilo que eu já disse anteriormente, as pessoas
acabam por adquirir competências, embora o nível de exigências pudesse ser maior mas
a nível de exigência é, nas aulas sou exigente, os outros formadores também são,
quando chega depois à parte da avaliação é que se calhar baixamos, o salto que eles têm
que dar, se eu fosse, se eu não baixasse, se calhar metade das pessoas não ia validar, que
eu achava que eles não, não demonstrou competências, portanto é mais na parte da
avaliação que depois baixamos a fasquia, mas na formação somos exigentes e queremos
que as pessoas adquiram aquelas competências, depois o que se passa é que chegamos à
avaliação, adquiriu, assim, assim, o assim, assim, passa! Se a pessoa não demonstrar
nada, mesmo nada é que não podemos fazer nada não é? Aí nem empurrando a pessoa,
portanto, estava a dizer o EFA não é? Portanto se o EFA é importante na vida deles?
Entrevistador – Que efeitos é que pode ter, se tem efeitos?
241
Entrevistado – Eu acho que eles saem mais, isto muda a vida deles, eles saem daqui
muito mais preparados, se eles depois aproveitam isso, é outra coisa, eu lá no anterior
curso, neste curso aqui também o vejo, pessoas que tinham deixado a escola, sétimo,
oitavo etc. depois foram para o curso, e demonstraram competências e depois na
avaliação final disse, você devia de continuar, você pelo menos o décimo segundo tem
nível para isso, e mais, muitas vezes são pessoas que não têm condições económicas pra
prosseguir, os pais não tiveram meios para eles estudarem, mas são pessoas, havia ali
algumas pessoas com grandes, com um grande potencial, podiam ir mais além e acho
que o país, acho que isto é desperdiçar talento, precisámos de pessoas qualificadas podia
não ser para nível superior, mas para técnicos intermédios e muitas dessas pessoas
trabalham nos supermercados, na reposição e se calhar podiam estar num, porque era
bom para eles e era bom para o país, porque é talento e potencial que não está a ser
aproveitado, por isso é que os cursos EFA potenciam isso, ajuda as pessoas a dar um
empurrão e continuarem, pelo menos aqui há uma boa parte das pessoas que eu vou
dizer que acho que vocês deviam de continuar porque têm potencial para irem mais
além.
Entrevistador – O que é que acha que devia ser melhorado no funcionamento dos
cursos EFA?
Entrevistado – Portanto aquilo que eu já disse, voltamos atrás na mesma tecla ao nível
de exigência não é? EFA e outras coisas em geral, a parte do tema de vida, o tema de
vida às vezes acho que é muito opressor, acho que eles acabam por ser, vamos fazer o
tema de vida, toda a gente trabalhando assim, eu acho, eu percebo o tema de vida mas
também não o quero eliminar, acho que ele não deve ser eliminado que é o núcleo
agregador e depois permite fazer uma apresentação final, sim, tem a sua importância
mas às vezes não devia de ser tratado como uma coisa que se tem que fazer sem fugir
aquilo, de forma imprescindível, portanto é um bocadinho, porque às vezes limita,
Inglês tenho de dar a volta à cabeça, não consigo perceber uma coisa, como é que eu
vou trabalhar isto a higiene, como é que eu vou trabalhar o património, o património até
é fácil, portanto eu faço umas fotos, depois eles fazem umas legendas em Inglês mas
alguns temas às vezes é difícil, se eles tivessem optado por alguns temas isso, como é
que eu vou trabalhar isto a inglês e depois é a linguagem muito difícil, a
empregabilidade dá para trabalhar os currículos mas se eles escolherem um tema que eu
242
não vejo como trabalhar, que não era fácil aquilo tem linguagem muito difícil como é
que eu faço aquilo a inglês?
Entrevistador – Quando diz que o tema de vida pode ser opressor, o que é que isso
quer dizer?
Entrevistado – Primeiro é que nos estamos a trabalhar o tema de vida não é? Estamos
ali a trabalhar para que eles adquiram competências, não é que eles demonstrem, é que
adquirem se adquirirem, depois vão demonstrar que têm essas competências. E às vezes
nós estamos a trabalhar ali com tema de vida, senti isso em certos momentos, sobretudo
no primeiro e depois quando as pessoas estivessem todas reunidas e o Presidente da
Câmara e outros convidados ali eles apresentassem um trabalho muito giro, o trabalho é
muito giro sim, mas as pessoas adquiriram competências ou não com aquele, fazendo
aquele trabalho, para mim é mais importante que eles adquiram confiança do que fazer
um trabalho muito bonito.
Entrevistador – Qual era a alternativa que o Leonardo via…
Entrevistado – No primeiro, era centrar mais as competências, portanto no primeiro
senti um bocadinho isso que as pessoas estavam a trabalhar com o produto em si, não
com as competências, aquilo era para acabar em Outubro depois prolongou se até ao
final de Dezembro e depois, aquilo é muito bonito apresentar, em inglês dá para aí
sessenta paginas e às tantas eu senti que eles, que aquilo já estava a ficar chato porque já
era muito repetitivo, estava a fazer traduções sobre a higiene para português para
demonstrar que já tinham percebido, eles já tinham demonstrado que tinham percebido,
uns, outros não e aqueles que já o tinham demonstrado, também aquilo não os ia ajudar
depois escreveram testes em inglês também e às tantas penso que por minha iniciativa
devia de ter parado, devia de ter, olha agora já tamos com o tema de vida já chega, não
fazemos mais nada, eles se quiserem continuar nas outras disciplinas continuem
portanto senti um bocadinho isso de trabalhar para o produto.
Entrevistador – E, para terminar, qual é o balanço que faz do curso EFA que
acabou de decorrer na APD?
243
Entrevistado – Faço um balanço positivo sim, portanto começaram vinte pessoas,
agora chegam quinze ao fim, só essa pessoa, essa que desistiu agora no fim, essa foi
sempre um problema, pessoa com baixas competências, baixa auto-estima que nos já
conhecíamos doutro curso, já sabíamos que era uma pessoa problemática, ia ter sempre
uma atitude negativa aqui no curso, a inglês agora, eu fiz uma ficha agora no fim, à
frente com What´s your name? E ela não me soube responder, foi sempre, aí nunca
aprendi inglês, eu não, eu nunca aprendi pois não sei, teve sempre com essa atitude quer
na minha disciplina quer nas outras e agora desistiu no fim. Eu acho que essa pessoa
não devia de ter sido seleccionada, e lembro-me, da mediadora dizer no início, foi
seleccionada se calhar porque já era conhecida e que precisava de ajuda e se calhar
passou a frente, tivemos sessenta candidatos para vinte lugares e se calhar essa pessoa,
que se veio a revelar agora, desistir no fim, veio ocupar uma vaga de uma pessoa e se
calhar fazer, se calhar no início, a parte do seleccionámos aqui pessoas, pessoas que
deviam estar no curso mas se calhar falhamos em cinco não é? Falhamos em vinte e
cinco por cento, cinco acabaram por desistir, incluindo essa pessoa que desde o início,
se quer a minha opinião não devia de ter sido seleccionada. Que a mediadora disse logo,
a coisa sabemos que ela é mais fraquinha mas precisa de uma ajuda, às vezes o nosso
dar ajudas pode ser contraproducente. Tirando essa, essa é a parte negativa dessas
pessoas, as outras acho que foi positivo, adquiriram competências, estão agora a fazer o
estágio, portanto em princípio vão sair daqui com o nono ano, com carteira profissional
de Assistente Familiar acho que foi bastante positivo. Só houve aquela dificuldade,
portanto o curso foi aprovado porque ia abrir aqui uma, acho que a Sónia deve ter
explicado, uma unidade de apoio a idosos e depois por causa do financiamento não foi
para a frente, devia ser, podia ter sido mais positivo que eles eram para estagiar ali e
ficavam a trabalhar se isso tivesse ido para a frente.
Entrevistador – Ok, agradeço lhe bastante.
10. Entrevista 7 – C.A. – Formadora da área tecnológica de Animação e Lazer
num curso EFA da Associação para a Democracia.
Entrevistador – Quais são as suas habilitações literárias?
244
Entrevistada – Sou licenciada em Animação Artística e tenho duas Pós-graduações,
uma em Teatro e Educação e outra em Promoção e Mediação de Leitura.
Entrevistador – Perguntava à Cátia qual é a sua profissão?
Entrevistada – Eu sou animadora. Este ano estou é a dar aulas, mas sou animadora.
Entrevistador – E está a dar aulas?
Entrevistada – Estou a dar no 12º ano, nos cursos profissionais, na Escola Superior,
não, na Escola Secundária António Aleixo em Portimão.
Entrevistador – Ao nível do curso EFA que funções é que exerceu no curso EFA da
In Loco?
Entrevistada – Funções, só de formadora.
Entrevistador – E era de que módulo?
Entrevistada – Animação e Lazer.
Entrevistador – Para além dessa formação no curso EFA da APD teve mais
algumas experiências ao nível dos cursos EFA?
Entrevistada – Não, foi a primeira.
Entrevistador – Portanto perguntava-lhe também se exerce mais alguma função na
organização onde trabalha, portanto esteve a dizer que neste momento está a
trabalhar…
Entrevistada – Na Escola Secundária António Aleixo
Entrevistador – E portanto é…
245
Entrevistada – Aí, sou professora.
Entrevistador – E tem mais alguma função, trabalha para mais alguma
organização?
Entrevistada – Só a título de voluntariado é que trabalho para outras funções, mas
noutros âmbitos.
Entrevistador – Pedia-lhe para me descrever um pouco a sua trajectória
profissional desde que começou a trabalhar.
Entrevistada – Fui animadora, quando acabou o curso vim, voltei para Faro, tirei em
Bragança, fui animadora na escola primária do largo da feira em Olhão, tive na
biblioteca da escola, que é, aliás isso para mim seria o trabalho ideal, seria mesmo a
nível da promoção da leitura e do teatro nas bibliotecas escolares infantis, depois, isto
agora lembrar-me, depois dei aulas em Ourique, fui professora de música nas
actividades de enriquecimento curricular, sei lá, isto agora lembrar-me, dei aulas de
teatro no Colégio Internacional de Vilamoura, também fui animadora num centro de
estudos com miúdos de três, quatro e cinco anos e agora tive a dar aulas e tive a dar
formação este ano, tudo o resto ligado à animação, tem a ver com, a título voluntario
numa associação que é a Arca e no Moto Clube de Faro.
Entrevistador – Portanto, o seu curso não é via ensino?
Entrevistada – Não, o meu curso é animação artística é mais para produção de eventos
e esse tipo de coisas.
Entrevistador – E ao nível da entrada no trabalho da formação como é que isso
aconteceu?
Entrevistada – Tirei o curso de formação de formadores, uma amiga minha deu o meu
nome, porque pôs o meu nome na APD, chamaram-me, fizeram-me uma entrevista e
ficaram lá comigo.
246
Entrevistador – Portanto e perguntava-lhe também como é que, uma pergunta
agora de carácter mais geral, se lhe perguntasse como é a vida de um formador
que faz da sua actividade os cursos EFA o que é que lhe ocorreria?
Entrevistada – Sei lá, para muitos é feliz, para muitos é infeliz, para muito é boa para
muito é má, é um trabalho que é sempre precário por causa da maneira como as coisas
são feitas, é tudo a recibo verde, e quando não é recibo verde é acto único e quando não
é acto único, ainda não pagaram, já pagámos o IVA e, pronto, isto a nível da parte
financeira, ao nível da outra, depois há quem goste e quem se dê bem, eu já falei com
bastantes colegas minhas que gostaram muito de trabalhar com adultos há outros que
não, que não gostaram.
Entrevistador – E no seu caso?
Entrevistada – No meu caso, não gostei. Estava a espera de lidar com pessoas adultas e
quando dei por mim estava a lidar com pessoas extremamente complicadas, pessoas que
sabem fazer queixinhas uns dos outros, não se sabem respeitar, eles estão a tirar um
curso de Apoio à Família e eu não estou a perceber como é que eles vão fazê-lo, porque,
não conseguem libertar-se das coisas deles, eu fiz um exercício de, nós fazemos
normalmente e fiz isto com várias faixas etárias e funcionou sempre e para eles aquilo
foi uma afronta e foi uma brincadeira com os sentimentos, são pessoas que não se
conseguem abstrair da própria vida para ajudar o próximo, aliás era uma turma bastante,
como é que eu hei-de dizer, não eram amigos, eram uma turma muito difícil e pronto,
não percebo.
Entrevistador – Se perguntasse se considera que ser formador EFA é uma
profissão?
Entrevistada – Não, não concordo.
Entrevistador – Pode-me explicar um pouco melhor.
Entrevistada – Não estou a ver ninguém que consiga viver só de fazer formações EFA,
eu só dei cinquenta horas, não sei quando é que vou dar outras cinquenta ou outras cem,
247
como já lhe disse à bocadinho, ser um formador EFA, seja um formador de que área
seja, não é um, há pessoas que conseguem viver das formações, mas é muito difícil, tem
que andar a correr de um lado para o outro, tem que ter, no meu entender, eu acho que
devem de ter mais qualquer coisa do que isso ou então, estão numa, tem um lugar numa
empresa ou que seja e ai se calhar conseguem fazer alguma coisa da vida, agora assim
não.
Entrevistador – E, e no seu caso considera-se profissional da formação?
Entrevistada – Não, eu fiz uma experiência este ano que não sei se vou querer repetila.
Entrevistador – Em termos das condições laborais e institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, a Cátia estava-me a falar ai da questão, dessa questão,
portanto, perguntava-lhe em relação aos vínculos profissionais, às condições
remuneratórios e de pagamentos.
Entrevistada – Daqui a dois meses devo receber, não se sabe muito bem, já paguei o
IVA às finanças porque senão passava a incumpridora, não sei quando é que vou ganhar
e não tinha dinheiro mas tive que arranjar quase quatrocentos euros para pagar às
finanças, pois isso não é, se isso é viver pois não sei, para mim não é. Mas a minha
revolta nem tem tanto a ver com a parte financeira, tem a ver com, não sei, tem a ver
com a maneira como as coisas funcionam, só que, esse aí foi um curso financiado, as
pessoas são impecáveis, da Cátia, não, não tenho nada que dizer mas acho que a
preocupação de muitos era o dinheiro, era quando é que iriam receber, e o subsidio não
sei do quê, as férias e isto e aquilo, foi o que eu assisti muitas das vezes, pessoas que
não querem acabar o curso para depois para o ano seguinte conseguirem inscrever-se
outra vez nesses cursos, acho que isso deveria ser muito bem repensado se realmente
acham que os cursos EFA funcionam para alguma coisa.
Entrevistador – Alguma vez pensou abandonar a sua actividade como formadora?
248
Entrevistada – Ainda agora a comecei, não posso dizer que sim, nem que não, foi uma
experiência mal sucedida essa, mas não quer dizer que eu não possa ir dar formação
para outro tipo de coisas, não.
Entrevistador – Ainda nesse sentido se tivesse outras oportunidades profissionais
mudaria de actividade?
Entrevistada – Eu gostava de trabalhar na área, eu gostava de ser animadora numa
biblioteca infantil, isso era o que eu gostava de ser, mas pronto tenho feito outro tipo de
trabalhos, tenho sido secretaria de um médico, tenho sido sei lá, a malta vai
experimentando de tudo um pouco, não é?
Entrevistador – Como é que vê o papel dos cursos EFA na sua vida profissional
futura?
Entrevistada – Não vejo, estou à espera do que aconteça, daquelas coisas que, não
estou há espera que me apareça um curso mas também se me aparecer um, bom tendo
em conta está experiencia engraçada, ou não engraçada neste caso, não sei se me
apetece experimentar tão cedo fazer outro curso EFA pelo menos com pessoas adultas,
pelo menos nestes moldes, se eles receberem dinheiro, porque é difícil, é muito difícil
ter que lidar com gente assim, nunca tive problemas em lidar com gente, eu lido com
gente de toda a maneira e feitio, sejam mais velhos, sejam mais novos, nunca tive
problemas nenhuns e estas cinquenta horas para mim foram um massacre, foram uma
total desilusão.
Entrevistador – Sente reconhecida no seu trabalho como formadora?
Entrevistada – Não sei, não sei, ainda não tive grande feedback, por parte dos
formandos não, alguns tiveram, alguns não gostaram nada de mim, outros gostaram
muito de mim mas partindo da entidade patronal não, normalmente não tenho feedback,
infelizmente ainda não percebi bem porquê, portanto nessa como noutras empresas
como noutras coisas, que não há grande feedback, que acho que é isso que acontece
basicamente nas avaliações, se calhar nas avaliações de professores a coisa é capaz de
não funcionar tão assim, que é, eu tive, quando estive a dar aquele curso, eu estive a dar
249
aulas em Ourique, eu estava numa empresa que é a Focmusical eles foram lá assistir às
aulas e depois a única coisa que me disseram foi que eu não podia ser tão expressiva,
estava a contar uma história musical tinha que ser expressiva para miúdos pequeninos,
convêm, mas foi a única coisa que me disseram, eu não, não tenho feedback da parte do
patronato entre aspas, não se pode chamar patronato também aquilo.
Entrevistador – Em relação ao seu trabalho como formadora com os adultos no
caso do curso EFA em questão, quais são as dificuldades que sentiu no seu
trabalho?
Entrevistada – Ora, a pouca abertura de mentalidades, quando se trabalha a nível de
animação e quando eu começo por fazer certo tipo de exercícios mais para a expressão
dramática não têm abertura, não querem ter abertura, batem o pé, ponto final, não
fazem, tive uma que chorou, não quis dançar três passos para um lado e dois para outro,
porque aquilo afectava muito, ou seja, é muito difícil a parte do teatro funcionar com
pessoas que estão lá e não querem funcionar, uma coisa é estar a fazer um grupo de
teatro, ou um workshop de teatro com adultos, as pessoas vão porque querem, outra
coisa é, eu chegar lá e começar com este tipo de jogos, de dinâmica de grupo, porque
acabam por ser um bocado dinâmica de grupos e eles não aceitarem, metade deles, ou
porque acham uma palhaçada, porque fazemos jogos e quando é para falar e contar uma
historia eu começo a ouvir que isto é uma autêntica palhaçada e não sabem para o que é
que servem ou seja, estão sempre do contra, estão sempre a tentar atingir o próximo, se
entre eles foi o que foi, eles comigo a primeira e segunda aula aquilo foi o descalabro
por completo por parte de quatro ou cinco pessoas, houve outras que me deram força e
que pronto fiquei bastante satisfeita se não tinha saído de lá num estado bastante
lastimável, naquele dia uma das senhoras apercebeu-se, por acaso foi impecável, mas
são pessoas muito brutas, são pessoas que pronto que têm ideias muito formadas e não
têm abertura de espírito, eu acho que são pessoas que essencialmente não tem abertura
de espírito, eu posso ter sido se calhar um bocado mais insensível entre aspas mas eu
não consigo estar a lidar com pessoas, não dá, não dá para estar a fazer um exercício e
ter caras feias a olhar para uma pessoa e as outras até fazem e aquelas não fazem,
abandonam a sala e fazem, eu estou a falar de senhoras de cinquenta anos e de
quarentas, eu não estou a falar de crianças, não é? Isto parece…
250
Entrevistador – Mais alguma dificuldade que se recorde para a realização do seu
trabalho?
Entrevistada – Não, foi este o início, o início e o constante, porque depois a única coisa
que correu mal comigo foi as duas primeiras aulas, o resto correu perfeito, só que não
gostam, não sei, não gostam que se diga nada, não há críticas, não aceitam críticas mas
depois essencialmente é a relação entre eles próprios, são muito picuinhas, são muito
queixinhas, quer dizer nunca esperei ouvir e ver reacções daquelas em gente adulta,
percebo agora as crianças, não é?
Entrevistador – E do ponto de vista dos aspectos gratificantes da sua actividade
como formadora? A partir das, da experiência que teve…
Entrevistada – Aprendi a ser bastante mais calma e infelizmente a ser bastante mais
passiva, porque às tantas, eu tive que deixar de ser como era e ter de dar a minha
formação como dei e deixar andar, porque se não a coisa não funcionava, eu cheguei a
meio da formação e deixei de, de me preocupar tanto, basicamente, eu não posso ter os
padrões tão elevados de exigência porque não vale a pena, uma pessoa está gastar
esforço para nada, as pessoas não querem aprender, não querem estar lá, eu propus-lhes
fazer um trabalho para apresentar no exterior, uma actividade e elas fizeram, um dos
grupos que era onde juntava a maior parte dos que chocaram comigo começaram por
fazer uma recolha de histórias, para uma roda de histórias, para uma roda de anedotas,
para não sei o quê, para depois fazer um chá dançante, quer dizer, foram reduzindo,
reduzindo a exigência para nada, aquilo não foi nada, foi chegar lá, ligar o rádio,
escolher umas músicas antes e pronto, tudo aquilo que eu dizia nunca serviu, estava
sempre a chatear e foi aí que aquilo andou assim meio atrito, entre eu e eles, esse grupo,
os outros grupos fizeram e prepararam uma peça de teatro para crianças, o outro grupo
preparou e fez jogos tradicionais na rua e fez uma caça ao tesouro, fez mais do que
aquilo que eu pedi, outro grupo fez uma roda de músicas mas com os miúdos também a
dançar, a maior parte deles escolheram miúdos, os únicos que escolheram adultos foi
exactamente aqueles com que eu tive o atrito porque acharam e depois fartaram-se de
fazer queixas porque os outros não iam trabalhar com crianças e sim com idosos e que
não tinha nada a ver, eu dei uma total abertura para trabalharem o que quisessem, eu
quero é que percebam que do principio ao fim há um projecto, tem um principio um
251
meio e um fim e tem uma concretização, tem uma conclusão, foi isso que eu quis que
eles percebessem, a coisa funcionou, para quem nós trabalhámos achou que deveria
acontecer mais vezes isto, mas tirando isso… funcionou umas coisas, mas descobri que
tenho que ser muito menos, se calhar, exigente que é para também não ficar eu frustrada
que às tantas quem já estava desmotivada também era eu, não era só eles, aliás comecei
eu a ficar desmotivada, passou para eles, ninguém aguenta, vá que seja, aquilo são
quatro horas, depois é uma carga horária, quatro horas com a mesma turma desculpe lá,
não é? Quatro horas, ninguém aguenta quatro horas com caras feias e bocas e coisas
assim, quer dizer, uma pessoa chega às tantas, desmotiva, eu já não queria ir dar aulas,
já não queria ir dar formação porque, já me doía a barriga, já tinha aquele nervoso
miudinho, quer dizer nunca senti isso e a não ser para exames obviamente e comecei a
sentir isso e começou a ser desagradável para mim e desconfortável ir trabalhar, porque
nunca me tinha acontecido semelhante coisa, mas pronto levei até ao fim porque
também é uma questão de teimosia e para ver se alterava alguma coisa, tive que deixar
de ser exigente, passei a ser um bocadinho mais passiva, não, sei lá, deixei de ser aquilo
que era suposto e aquilo que eu tinha pensado tive que alterar, pois supostamente um
formador também tem que alterar, também tem que mudar não é? E eu mudei se calhar
para uma parte mais negativa, mas não dava, não dava mesmo.
Entrevistador – Outra questão que gostava aqui de tentar perceber, tem a ver com
o trabalho curricular em torno dos temas de vida como é que isso…
Entrevistada – Eu nunca percebi os temas de vida porque quando cheguei tinham
acabado um e quando comecei e quando começou o outro tema de vida eu estava a
acabar o meu módulo, tentei ajudar na parte de dar umas dicas de como poderiam fazer
a apresentação, uma vez que eles queriam fazer até filmagem, de como ir à procura de
emprego, o que é, os passos que deveriam fazer, mas não tive envolvida em nenhum,
nunca percebi muito bem isso dos temas de vida, acho que o tema de vida é muito
engraçado, mas um dos temas de vida por exemplo seria uma das coisas que eu iria
fazer que era uma recolha de histórias ali pela zona de São Brás de Alportel, se não
estou em erro foi mais ou menos, mas não estou mesmo por dentro disso porque não
apanhei nenhum, um acabou e o outro acabei eu antes do tempo pronto, por isso aí não
posso dizer grande coisa.
252
Entrevistador – Ainda sobre essa relação em torno dos temas de vida, a articulação
entre a formação base e formação profissionalizante, qual é a sua percepção sobre
isso?
Entrevistada – Eu nem percebo bem o que é que é um tema de vida, eu percebi que o
tema de vida, um deles tinha a ver com a procura de trabalho, sei que era esse o tema,
sei que o outro tinha a ver com qualquer coisa e fizeram um site por acaso bastante, mas
muito engraçado mesmo, aquele até teve muita piada, fizeram acho que um blogue, um
site ou um blogue não sei, tinha a ver com as várias tradições ali da zona de São Brás, é
muito interessante, mostra a muita gente, é uma coisa bastante positiva, mas também sei
que quando foi apresentado o último tema de vida, eu estava na reunião, houve uma
formadora que estava um bocado chateada porque as coisas não podiam cair só para ela,
por isso, funciona muito bem, mas há sempre alguém que está descontente ou porque
caiu tudo em cima do módulo dela ou porque, tem sempre mais trabalho do que os
outros pois isso, mas isso já tem a ver com uma articulação, portanto disse, tem que ser
combinado previamente as coisas não podem funcionar assim, tem a ver com uma boa
organização e às vezes as organizações falham um bocadinho, não é? Não, depende um
bocado mas, não lhe posso, do tema de vida, não, pronto não tenho muito que dizer
porque nunca assisti, nem sequer às apresentações não, nunca estive lá.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta que ia nesse sentido, se costumam
planificar os temas de vida?
Entrevistada – Pareceu-me que sim, que mandaram uma espécie de uma planificação,
uma coisa para nós preenchermos mas como lhe digo…
Entrevistador – Nunca chegou a estar presente em alguma reunião em que…
Entrevistada – Própria para o tema de vida não, tivemos numa reunião que acho que
tinha a ver com avaliação e com a postura de certas pessoas dentro da sala porque houve
lá alguns problemas e tivemos que resolver, tinha a ver com faltas, ou com atitudes e
tocou-se nessa questão do tema de vida e eu disse, disse que queria ajudar obviamente
só que entretanto o meu módulo acabou, acabou-se a ajuda, não é? Obviamente.
253
Entrevistador – Tinha aqui uma questão nesse sentido, que é se os seus colegas
formadores costumam aderir a reunião de formação, se há dificuldade em
mobilizar o pessoal para reunir?
Entrevistada – Alguma dificuldade deve de haver porque a reunião que eu fui não
estávamos todos, porque as pessoas trabalham noutros lados não trabalham só ali, e fui,
por várias vezes que houve reuniões eu, houve pelo menos duas que eu me lembro que
eu não fui, não podia, estava a trabalhar noutro lado, por isso nem sempre há grande,
tenta-se arranjar, entre todos uma boa altura para se reunir, mas nem sempre se
consegue reunir toda a gente, é difícil.
Entrevistador – Considera em sua opinião que essas reuniões de planificação são
importantes para o funcionamento do curso?
Entrevistada – São e são porque funcionam, ao contrário de muitas reuniões em que eu
vou, essas por acaso funcionam e as pessoas realmente trabalham e planificam e
resolvem as coisas, saiem com uma resolução dali, pelo menos aquela que eu fui, eu só
consegui ir a uma reunião e aquela que eu fui realmente conversou-se, resolveu-se e
houve, saiu dali uma coisa e resolveu-se e funcionou, e são importantes obviamente,
uma planificação é sempre importante, senão.
Entrevistador – O seu trabalho pedagógico com os formandos, como é que costuma
fazer o seu trabalho, quer dizer, quais são as suas preocupações, o seu trabalho
com os formandos, o que é que pretende? Como é que costuma agir?
Entrevistada – O meu trabalho com os formandos começa em casa pensando no que é
que vou fazer e tento que seja uma aula menos parada possível e o mais motivadora
possível, obviamente isto nesta formação não durou muito tempo, a motivação deles era
conversar e falar mal de tudo o que pudesse haver para poder falar mal, era falar
também das frustrações, isso é um bocado, isso é importante também eles falarem mas,
pronto, depois ao fim da terceira ou quarta vez percebi que aquilo era sistemático e
deixei, de deixar de fazer isso, que também acho ficaram frustrados a partir do momento
em que souberam que as expectativas deles tinham sido goradas em certa altura, tinhalhes dito uma coisa e aconteceu, acabou por acontecer acho que outra, disseram-lhes
254
que, para mim e o nome pode enganar um bocado, técnico de apoio a comunidade e à
família engloba todas as faixas etárias possíveis e imaginárias desde o mais pequeno ao
mais velho e acho que lhes disseram que poderiam ir era para lares e trabalhar só com
velhotes e na cozinha, dai o meu módulo não fazer qualquer sentido, daí depois também
as dificuldades que tive, teve a ver exactamente com esse tipo de conversa e com o que
lhes foi dito, não entendiam para que é que o meu módulo servia, eu tentei mostrar-lhes
que através deles próprios não precisavam propriamente de coiso, podiam organizar
coisas e a partir daí, expliquei-lhes que podiam ir buscar dinheiro se quisessem ir
trabalhar só a nível de projectos, como é que poderiam fazer, mas….
Entrevistador – E, e costuma fazer um trabalho mais com o grupo faz mais um
trabalho mais individualizado?
Entrevistada – Não, mais grupo, eu acho que o trabalho de animação é mais de grupo,
um trabalho onde se tem que dar e que se tem de ouvir, eles tem que saber trabalhar e
funciono muito, muito em grupo, muito raramente eu trabalho individual, o único
trabalho que é individual é aquela parte da expressão dramática em que obviamente diz
respeito a cada um e aí há um trabalho individualizado para depois sair para o grupo
inteiro, mas por norma, eu trabalho muito em trabalho de grupo, é uma coisa que é
muito difícil, as pessoas não sabem fazê-lo e aposto muito no trabalho de grupo.
Entrevistador – E mais com o grupo grande…
Entrevistada – Depende, neste caso trabalhei, ora deixa cá ver, nas primeiras partes da
aula trabalhei com o grupo grande em certos a exercícios, mas depois para fazerem a
apresentação em projecto dividi em quatro, eram dezasseis, dividi em quatro grupos de
quatro e funcionaram assim em grupos, pode ser muito, pode não ser muito, queria ver
até que ponto é que eles conseguiam trabalhar em grupo ou não, há pessoas que não
aceitam o que os outros dizem, estive lá duas que andavam quase a chapada, tiveram
uma boa nota em trabalho de grupo por uma razão muito simples, depois de terem
andando assim, de não aceitarem, quase que se tinha que batido na aula, conseguiram
trabalhar perfeitamente o resto do tempo em grupo, pronto aí foi conseguido o que eu
queria, é uma das coisas.
255
Entrevistador – Que competências é que considera essenciais para exercer a sua
actividade como formadora, como formadora no âmbito do curso EFA?
Entrevistada – Competências, sei lá, saber ouvir, saber mudar um bocado a postura
consoante o público que lá está, pelos vistos ter bastante paciência, ser organizada, ter
capacidade de ser organizado e estar dentro dos assuntos obviamente, porque senão
também. E estar motivado que é para passar a motivação também aos alunos, acho que a
motivação de um professor é muito importante, ou de um formador, nem sempre é fácil,
mas acho que é importante.
Entrevistador – Quando me diz a Cátia que uma das características que é preciso é
paciência, isso…
Entrevistada – Isso é com tudo, mas isso ainda sou eu, que ainda está tudo muito
fresco, é preciso ter paciência para conseguir ouvir e ter, alias é mais o sangue frio,
capacidade de conseguir ouvir e não ficar muito afectado com aquilo que se ouve,
porque são pessoas que às vezes falam com bastante maldade e é saber dar a volta a este
tipo de coisas, é ter a capacidade de conseguir que eles desabafem mas não tanto,
pronto, basicamente é isso, eles, então na minha área eles tem que se entregar, eles tem
ter uma visão mais aberta, porque têm mesmo, eles vão ajudar outras pessoas e eles ali
não, se não se libertarem um bocado dos problemas deles, da vida deles, da pele deles,
da própria pele, eles não conseguem ajudar ninguém e eu ali confesso que também tive
uma falha, eu cheguei uma altura não conseguia libertar-me da minha pele para
conseguir, pronto, a experiencia não foi propriamente, já lhe disse a melhor, e pronto.
Entrevistador – A Cátia já abordou aí um pouco esta questão, mas eu gostava de
explorar isto um pouco melhor, pedia-lhe para me descrever o perfil dos
formandos que frequentam este curso, que frequentaram este curso EFA?
Entrevistada – Este curso EFA pelo que me pareceu muitos deles não estavam cá para
apreender coisa nenhuma, muitos deles só estavam lá para ganhar o subsidio porque não
tiveram direito a subsidio de desemprego, embora muitos deles se me ouvissem dizer
isto já me estavam a bater, obviamente, tinha lá pessoas, e uma das coisas que me
lembro foi eu estar a chegar e a pergunta foi, oh Sónia quando é que nós ganhamos as
256
férias e ela depois esteve a explicar que ao fim de não sei quantas horas e iam ganhar x
e aquelas conversas, pareceu-me uma preocupação muito monetária, muito pouco de
querer aprender, embora da boca para fora, ai formadora eu quero é aprender e há aqui
outros que não querem aprender, elas, aquelas ali só estão aqui pelo dinheiro e que não
sei quê, pronto basicamente é isto. Mas tinha lá uma que disse-me de caras, eu estou
aqui só pelo dinheiro, não estou para me chatear, pronto, mas também foi a que menos
quezílias fez, foi a que menos falou, não estava interessada, mas por estranho que
pareça foi a que quis aprender, foi-me pedir, foi uma das poucas que me veio perguntar
como é que se fazia um certo tipo de coisas, não ligadas à minha área obviamente, foime pedir como é que se fazia um curriculum na internet e eu expliquei-lhe, foi-me pedir
como é, coisas que ela devia ter aprendido noutra aula, mas eu expliquei-lhe, ela sentiuse, não sei, não queria estar a falar mal de outros formadores ou não, mas ela sentiu-se
posta um bocado de parte noutro módulo, isto foi-me dito por ela obviamente não sei
até que ponto, como é que as coisas funcionam, não estou nos outros, não é?
Obviamente, mas é uma pessoa que normalmente não é uma pessoa motivada, é uma
pessoa extremamente calma, não fala, não quer aprender, naquele dia deu-lhe para ali,
queria aprender queria que eu lhe explicasse e eu perdi ali um bocadinho de tempo, meti
os outros a trabalhar e perdi ali um bocadinho de tempo ali com ela a explicar-lhe como
é que aquilo se fazia, se por um lado estava a ver que ela estava mais ou menos
interessada naquilo, por outro lado não estava a perceber nada, mas também não estava
numa de perguntar, pois queria era aquilo feito no fim, mas estava, viu-se que estava um
bocado interessada em perceber como é que aquilo se ia fazer, ainda me fez duas ou três
perguntas e eu vi que havia ali algum interesse, não muito, mas algum interesse havia
ali, mas acho que no geral, no geral há muitas que só estão ali mesmo por uma questão
de terem o subsídio e ponto final.
Entrevistador – Ficou com percepção que há diferenças ao nível de empenhamento
dos formandos face à formação?
Entrevistada – Tinha lá uma ou duas muito boas e que realmente estavam lá para
aprender e que realmente queriam sair dali para fazer alguma coisa, e tinha uma data
deles que não, e nota-se, isso nota-se pela motivação, pela maneira de trabalho, pela
qualidade de trabalho, pela organização, todas aquelas pequenas coisas, pessoas
bastante prestáveis, pessoas que muito pouco se davam a conversas de terceiros, vá,
257
chamamos-lhe assim, pessoas que, eram as pessoas que menos tocavam no eu estou
aqui para aprender, não, notava-se que elas realmente estavam ali para aquilo, isso notase isso, mas eram poucas, ali naquela turma, em dezasseis, se eram seis até eram muitas,
que estavam ali mesmo para isso, e que gostavam mesmo do que estavam a fazer, pelo
menos uma de certeza que gostava, as outras é questionável.
Entrevistador – E em relação à aprendizagem a e ao nível de desempenho dos
formandos, se também nota muitas diferenças?
Entrevistada – Sim, há pessoas que têm mais facilidade de aprendizagem, outras tem
menos, mas isso tem a ver também com as motivações, depende do que é que estão ali a
fazer, se uma pessoa está ali porque gosta, aprende mais depressa do que uma pessoa
que está ali por outros motivos ou porque é obrigada a estar ou por qualquer outra razão,
mas é, isso é, é igual em todo o sítio.
Entrevistador – Ainda no seguimento destas questões, na sua opinião qual é a
importância do perfil dos adultos formandos no funcionamento do trabalho
pedagógico do formador EFA, portanto no caso do seu trabalho em particular?
Entrevistada – Qual é a importância é, bastante importante, estraga toda uma aula,
boicota toda uma aula, uma formação, não sei, boicota, só serve, mas isso é como em
tudo, é como o ensino todo se as pessoas não vão para ali e já não digo motivadas, eu já
só digo saberem estar em contexto de sala de aula, se as pessoas não sabem estar nesse
contexto isso afecta bastante o trabalho de um formador depois, estou-me a lembrar de
formações que fiz por exemplo, sei lá, fui tirar umas horinhas de alemão para ver se
aprendia alguma coisa, não é, se nós não tivéssemos motivados ou ela não tivesse e ali
estávamos todos porque queríamos, não éramos obrigados a estar, se houvesse alguém
que não tivesse muito motivado pois isso não estaria, notava-se na formadora, tanto que
havia alturas, pronto quando começamos com a parte dos verbos nós ficamos todos um
bocado perdidos porque a construção frásica em alemão é completamente diferente de
qualquer coisa que nós tínhamos visto e ela estava a tentar que nós percebêssemos e em
trinta é muito difícil nós percebermos alguma coisa de alemão, não é? E notou-se que
ela às tantas ficava um bocado frustrada por não conseguir passar propriamente aquela
mensagem que queria, pronto, é uma questão de, mas tem a ver com a postura, já não,
258
mas não se sentia muito mal porque nós queríamos aprender e perguntávamos e
estávamos interessados, agora a partir do momento em que, sei lá, se nós não
perguntássemos, deixássemos a coisa passar então, para já a pergunta que se põe é, o
que é que estamos ali a fazer, nós como formadores, formandos, ou por aí, depois o
formador também pergunta mas se não queriam estar porque é que vieram? Naquele
caso, nos casos dos EFA depois ainda não percebi se eles querem se não querem, se
estão ali porque são obrigados, se é por causa só do dinheiro, aquilo é muito estranho e,
posso estar a ser bastante, bastante mazinha ou qualquer coisa a bater nisso, mas, pronto
foi o que eu senti, foi que volta e meia a preocupação não era, o aprender, o querer sair
dali para fazer alguma coisa, a preocupação era estarem ali, ganham aquele e depois,
olha logo se vê.
Entrevistador – Outra coisa que a Cátia também já falou e eu tenho aqui uma
pergunta nesse sentido, é se costuma haver conflitos no espaço da formação?
Entrevistada – Ui, nesta então houve bastantes, entre marido e mulher e tudo que
apareceu lá a chamar a mulher, ia tendo um caso de violência domestica lá, não o
deixamos entrar obviamente, mas sim costuma haver e naquela turma acho que foi
desde o princípio do curso até ao fim do curso sempre com conflitos.
Entrevistador – Recorda-se de alguma situação que possa descrever que isso tenha
acontecido?
Entrevistada – Estavam duas a tentar fazer a história da carochinha, decidiram qual é
que era o papel que cada uma ia fazer e depois a outra não concordou porque tinha
escolhido tudo sem ela e aquilo ia dando bolachada no meio da aula entre as duas, tive
que mandar dois pares de berros, tive que mandar sair as duas para irem tomar um café
para ver se acalmavam um bocadinho, depois conversei com as duas, pronto pediramme desculpa, ficaram muito envergonhadas, porque não me queriam magoar, porque
pronto, ficaram penalizadas mais por minha causa por eu ter ficado como fiquei do que
propriamente pelo que se passou, mas entretanto trabalharam perfeitamente, foi aquele
caso que eu falei atrás, tive outra que achou que tinha sido posta de parte e então chegou
a parte final da apresentação ao público não quis apresentar, teve que fazer um trabalho
escrito, porque não ia deixar a moça sem fazer qualquer coisa mais e então achou que
259
tinha sido posta de parte, sei lá, houveram tantas, outra porque o único rapaz que lá
estava, achava que ele é que sabia, os outros não sabiam e pois as outras é que passavam
tudo e ele é que sabia e não queria trabalhar com elas em grupo, aquilo era sempre
quezílias, aquilo acho que não havia um dia que não acontecesse nada, mas entre eles,
mesmo já vindo de outras, esse rapaz acho que andou amuado porque se zangou com
outra formadora então andou amuado não sei durante quanto tempo, é uma pessoa
extremamente, sei lá, eu ainda não percebi, vingativa um bocado intratável assim um
pouco mimado e então como amuou com as outras não falava com mais ninguém,
aquilo foi assim uma coisa um bocado caricata.
Entrevistador – Em relação ao trabalho com os seus colegas formadores?
Entrevistada – Muito pouco trabalhei com eles, digo já, a única coisa que tive em
contacto com eles foi a reunião, uma reunião, mais nada.
Entrevistador – Pois tinha aqui uma pergunta nesse sentido, que se considera que
existe um trabalho partilhado ou um trabalho que se faz mais de forma
individualizada?
Entrevistada – De forma individualizada, uma vez que também, cada módulo é muito
diferente do módulo do outro, eu não vou estar a mandar bitaites num trabalho de uma
enfermeira, não é? Quer dizer, sei lá, podemos trocar impressões sobre os formandos,
sobre da maneira de melhor lidar com, agora há pouco tempo deram-me um conselho,
pode-se dizer assim mas eu já tinha acabado, mas tirando isso não é um trabalho muito
individualizado, estamos bastante a vontade para trabalharmos como queremos a bem
dizer.
Entrevistador – Na sua opinião há algum aspecto de trabalho de formação com os
seus colegas formadores que acha que seria benéfico melhorar? No seu ponto de
vista do funcionamento o curso?
Entrevistada – Se calhar haver mais interacção entre os módulos no que fosse possível,
o nível de formadores, os que eu conheci, pronto, as pessoas dão se bem, conversam
respeitam-se uns aos outros, não houve assim grandes, grandes filmes vá digamos,
260
quando tivemos aquela reunião em que tivemos de resolver duas ou três coisas sobre
dois ou três formandos e aquilo funcionou bastante bem, a malta resolveu a coisa e
passamos à frente, não tivemos a perder reunião para nada, resolvemos a coisa
funcionou, não, agora em trabalho de grupo, se calhar se, mas acho que é para isso que
servem os temas de vida, basicamente, que é para haver aquela cadeia de módulos, só
que pronto.
Entrevistador – E na prática sente que não houve essa interacção entre os diversos
módulos?
Entrevistada – Não, na prática não houve, eu trabalhei, não estive preocupada com os
outros módulos, ainda às vezes ainda gostava de estar, porque há coisas que se calhar
eles davam em português eu poderia usar na minha área, mas pronto, não usei trabalhei
à minha vontade como quis, o que quis.
Entrevistador – Sente diferenças no empenhamento do trabalho dos colegas
formadores para por em prática, este modelo EFA?
Entrevistada – Se sinto o quê? Desculpe lá…
Entrevistador – Se sente diferenças ao nível de por em prática esse modelo de
formação?
Entrevistada – Não lhe consigo responder a isso, nem sei o que é que lhe hei-de
responder a isso, é daquelas perguntas, eu acho que eles estão habituados a fazerem
aquilo, acho que não é a primeira vez que eles fazem, a mim é a primeira vez, é um
bocado novidade para mim, tanto que eles levam aquilo de uma maneira muito mais
“soft” e eu levo aquilo muito no coração, ou seja as coisas não correm como eu quero eu
entro logo em paranóia, entro logo, para mim é logo um grande drama, as coisas quando
não correm e se calhar também tem a ver com a minha maneira de ser, sou um bocado
mimada, as coisas quando não correm como eu quero, eu fico extremamente contrariada
e às vezes eu esqueço-me de, pronto, se eu sei lidar com isso quando lido com crianças
ou com adolescentes. Eu com os adultos, é o que eu lhe digo, não estava mesmo nada à
espera daquilo, não ia preparada para que as coisas não corressem da maneira como eu
261
tinha pensado que iam correr porque com os pequeninos eu já sei que não correm, nada
corre como nós planeamos, agora com os adultos achei que a coisa era mais, que eles
iriam entender, que são pessoas adultas, sabem pensar por eles, mas pelos vistos…
Entrevistador – E em relação à questão da relação da Cátia com a entidade
formadora? Que tipo de relação é que manteve com a entidade?
Entrevistada – Eu não tenho uma relação boa, também não falo muito com eles, mas
conheço lá montes de gente, não estão ali ligados directamente ao curso EFA mas
também, pronto fazem parte da APD, mas não tem directamente a ver comigo, dou-me
bastante bem com bastante gente de lá, mas…
Entrevistador – E vê-se como trabalhadora da APD?
Entrevistada – Não, nada.
Entrevistador – Por que razão?
Entrevistada – Porque não trabalho para lá, trabalhei como acto único, não sou
trabalhadora, não tenho contrato, nem que fosse a recibos verdes para lá, não, só fiz
aquele trabalho para lá, não sei se alguma vez me irão chamar se não, posso colaborar,
mas não sei, como trabalhadora não me considero, obviamente.
Entrevistador – Tinha aqui outra questão, que era se se identifica com a forma
como a entidade, portanto neste caso a APD perspectiva a formação EFA?
Entrevistada – Eu não sei como é que a APD perspectiva, sei que são cursos
financiados, pelo menos, não sei se são todos, aí tenho um bocado de desconhecimento
sobre os outros cursos EFA, mas se esses cursos são financiados, eu acho que não
deveriam ser, a motivação dos formandos se calhar seria um bocadinho diferente e as
pessoas teriam lá pelas razões que deveriam estar.
Entrevistador – E ao nível, que já me falou disto também, se se sente reconhecida
pela entidade, pelo trabalho que desempenha?
262
Entrevistada – Pois não sinto, nem deixo de sentir, pois nunca tive grande feedback,
disseram-me, a única coisa que me disseram foi em relação à avaliação por parte dos
formandos, foi deixa lá porque, a avaliação dos outros formadores ultimamente tem sido
assim, foi quando esse rapazinho andou amuado e então deu negativa a todos os
formadores. Por isso basicamente…
Entrevistador – Passando aqui a outro conjunto de questões, bom não sei se no seu
caso tem informação que me possa fornecer sobre isto, mas eu vou, vou fazer a
pergunta na mesma que era, se em sua opinião acha que os cursos EFA, portanto
este tipo de cursos funciona de uma forma diferente consoante as entidades onde
eles acontecem, não sei se tem algum tipo de percepção em relação a isto?
Entrevistada – Se calhar funcionarão.
Entrevistador – Se seria a mesma coisa um curso EFA funcionando numa
associação como a APD ou no IEFP?
Entrevistada – É assim, pelo que eu converso com as minhas colegas lá da escola, lá
do liceu, lá em Portimão, muitas delas gostam muito de trabalhar com elas nos cursos
EFA e funcionam perfeitamente bem, eu não sei porquê, não sei dizer qual será a razão,
não sei se funciona nos mesmos moldes, não sei.
Entrevistador – E em relação à avaliação dos formandos, como é que costuma
fazer a avaliação dos formandos?
Entrevistada – Tenho os meus itens e faço através de, pronto, a In Loco dá-nos uma
tabela para preencher, mas eu para preencher aquela tabela, preencho primeiro a minha,
tem muito mais itens, tenho desde o trabalho em grupo, tenho desde, está-me a faltar a
palavra, a motivação, tenho a assiduidade, tenho a pontualidade, tenho a entreajuda,
tenho uma data de coisas, o respeito pelo próximo, a abertura, que na minha área
interessa bastante bem se a pessoa tem uma mente aberta ou não tem e então, tenho isso,
depois quando foi para passar para lá, pois aquilo tive que fazer assim umas…
263
Entrevistador – Quer dizer que há uma grelha da APD?
Entrevistada – Há uma grelha da APD, mas eu funciono antes de chegar à da In Loco,
funciono com a minha para depois preencher a deles.
Entrevistador – E há uma classificação, com nota?
Entrevistada – Há.
Entrevistador – Sim e portanto isso quer dizer que a avaliação não é feita da
mesma forma, os formadores da formação base não fazem da mesma forma da
formação profissionalizante, ou seja esta questão da nota, o pessoal da formação de
base não atribui nota, não tem essa ideia? Os formadores que trabalham em torno
do tema de vida?
Entrevistada – Não sei. Não sei como é que funciona o tema de vida nesse aspecto.
Entrevistador – No seu caso a avaliação é feita no final do módulo?
Entrevistada – Sim, ou melhor é concretizada no final do módulo mas é, vai sendo
realizada ao longo das aulas, eu vejo, vou vendo quem é que trabalha, que não trabalha
como é que se faz, como é que não se faz, não posso chegar ao último dia e decidir que,
bom vamos lá ver quem é que hoje está motivado, quem é que não está, quem é que, é
uma avaliação continua ao longo do módulo inteiro e chega ao fim acaba por ter aquela
nota obviamente.
Entrevistador – Portanto tem uma classificação final quantitativa, não é?
Entrevistada – Quantitativa.
Entrevistador – E a na sua opinião, mudando agora de questão, sobre o trabalho
do mediador, acha que o trabalho do mediador é importante no curso EFA?
264
Entrevistada – O trabalho do mediador é bastante importante, porque acaba por ser a
pessoa que gere o curso todo, os formadores e os formandos, acaba por ser a ponte entre
todos, alguma dificuldade que se tenha eu sei que tenho que me dirigir aquela pessoa,
portanto isso é bastante importante, dirigi-me a ela bastantes vezes até por via email,
nós conversávamos muito via email, pronto para contar as coisas que aconteceram na
formação e para não me esquecer o que é que aconteceu e para depois não irem, ela não
ir ouvir por eles o que é que possa ter havido duma maneira, assim ouviu de mim, ouve
deles depois logo tira a conclusão que quer, pronto.
Entrevistador – Tenho aqui um último, conjunto de questões para terminar, em
relação à Iniciativa Novas Oportunidades e aos cursos EFA, qual é a sua opinião
em relação à Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistada – A minha opinião, sinceramente não é muito boa, não é muito boa por
uma razão muito simples, estou a pensar nas Novas Oportunidades, é bom para uma
pessoa que, sei lá, que na altura não teve dinheiro para acabar os estudos e que teve que
ir trabalhar e agora pode retomar os estudos, mas depois permitem que miúdas, eu tinha
uma de vinte anos que foi para lá fazer este curso EFA que dizer, porque que não pode
ir para uma escola normal, fazer um curso normal, a miúda até tem capacidades, para
fazer o ensino recorrente, não, sinceramente não sou muito apologista das Novas
Oportunidades, porque pronto, acho que é uma maneira muito facilitista de, isto era, era
o que eu achava e é o que eu ainda acho, é uma maneira muito facilitista de passar,
estou-lhe a falar tanto para o 9º tanto para o 12º ano, de passar aquele, um ano para três
anos ou seja, não quis estudar durante três anos, mas depois faz aqueles trabalhinhos e
tem o 12º ano e depois ainda consegue candidatar-se com os mais de vinte e três e vai
para a universidade, quer dizer acho que isto é um bocado facilitar de mais e
infelizmente os nossos médicos do futuro, os nossos políticos do futuro poderão porvir
daí, de pessoas que não tem o mínimo de carácter, não tem o mínimo de esforço, não
tem o mínimo de coisa nenhuma, de valores, nem coisa nenhuma, mas depois tem uma
pessoa que começou a fazer aqueles ora como é que aquilo se chama, tem a ver com as
Novas Oportunidades que vão entregar.
Entrevistador – O RVCC
265
Entrevistada – O RVCC, o RVCC para mim quer dizer, eu quando comecei a ver os
trabalhos que aquela gente tinha para fazer, nem na universidade se manda fazer
trabalhos daqueles e depois quem manda fazer aquele tipo de trabalhos ou não sabe o
que é que está a perguntar ou então não tem, não sei, inteligência suficiente para chegar
a um certo ponto, faz uma pergunta sobre aquecimento global, ora se a pessoa andou a
estudar, andou a ler, muito interessada na coisa e responde que com o aquecimento
global não se pode ver por exemplo nos últimos cinquenta anos porque não é
significativo, tem que se ver numa coisa maior e depois respondem que está mal tem
que ver na sua vida, quer dizer, estão a brincar um bocado com a coisa, porque, estoume a lembrar de uma das coisas que aconteceram com uma pessoa, mas como esta
acontecem outras, acho que aquilo às vezes chegou a pontos de ser assim um bocado
caricato, as coisas que eu assisti, quer dizer, estar uma pessoa a trabalhar, depois
esquecem-se de outro pormenor que é, a pessoa está a trabalhar, muitas delas até estão
por conta própria, se não trabalharem não ganham, ora tem que trabalhar e depois acho
que são assim umas coisas um bocado irreais e as pessoas, muitas delas desmotivaram,
muitas das pessoas que eu conheço desmotivaram, não fizeram e muitas delas que eu
conheço pararam mas depois retomaram e lá conseguiram e lá acabaram, sinceramente
se quiserem ir depois para uma universidade ou fazer qualquer coisa tirar um curso que
seja, quer dizer, não se será assim de todo benéfico se não, é muito engraçado mas
estamos a viver para a estatística da formação, porque eu não sei até que ponto aquilo
servirá, para quê? Para isso continuar a dizer que têm o 9º ano e não o 12º, porque
depois tem um 12º assim um bocado estranho, eu não… podem-me chamar um bocado
antiquada ou que seja mas acho que bocado, pronto, também, se for para uma pessoa
que não teve hipóteses de estudar, vai tirar um curso EFA para aprender, isto se a pessoa
não saber fazer absolutamente nada, porque imagine uma pessoa que trabalhou e sempre
trabalhou em electricidade mas não tem qualquer tipo de formação, se vai fazer um
curso desses do RVCC, mas em que é que isto vai ajudar a pessoa, a pessoa já sabe
fazer aquilo, tudo aquilo que ele vai trabalhar naquela área, aquilo que eu vi até agora é
que aquilo não vai ajudar em nada a pessoa, nem a melhorar nem a piorar, nem a coisa
nenhuma, aquilo está ali para fazer perder tempo, para chegar ao fim dizer que tem
aquele grau, acabou. Quem é o electricista que vai tirar um curso de electricidade, a
menos que queira realmente um certificado, isso aí acaba por ser positivo, ter um
certificado, se calhar até se actualiza mais, porque há coisas que mudaram, mas as
pessoas não pensam tanto assim, é o mínimo de pessoas que pensam dessa maneira, eu
266
tenho uma maneira um bocado negativa de ver as coisas, pode ser que conhecendo um
bocadinho mais, pode ser que mude um bocado mais a minha maneira de pensar em
relação a isso, não sei.
Entrevistador – No seguimento do que está a dizer, considera a que a iniciativa
novas oportunidades tem efeitos na vida dos adultos formandos?
Entrevistada – Eu não vejo grandes, depois de uma pessoa já ter uma vida formada,
uma vida que já trabalha em certas coisas, eu não percebo muito bem o que é que isso
vai, só naquilo que lhe digo, foi para o olho da rua, não tem direito a subsidio de
desemprego pode fazer um curso EFA e sempre ganha algum enquanto está ali,
depende, não sei se todos se ganham se não ganham, volto a dizer, mas quer dizer, se
fosse para realmente adquirir novo tipo de conhecimentos como nós fazemos os
workshops, como nós fazemos cursos por fora, nós não digo, nós eu, estou a dizer, sei
lá, o meu namorado tem o 9º ano e tentou fazer o RVCC e borrifou-se para aquilo
porque não tinha tempo, não conseguia estar a fazer as duas coisas porque chegou a um
volume muito grande de trabalho, mas é um rapaz que quer aprender sobre joalharia vai
ler e foi aprender, quer aprender sobre soldagem vai ver e foi fazer e não, não teve à
espera que abrisse coisa nenhuma para, foi a procura ele próprio, acho que realmente as
pessoas que querem aprender, evoluir na vida, não propriamente deste tipo de cursos
para isso, agora se, as pessoas é que dão muita importância, muitas das vezes aos
papelinhos e às formações e aquela coisas e muitas das vezes a experiência fica um
bocado para trás, não é? Se bem que às vezes não dão hipóteses às pessoas que não tem
experiencia de ganhar experiencia, pois isso agora é como em tudo.
Entrevistador – Ainda no seguimento do que está a dizer, o que é que acha da
opinião de que a iniciativa das Novas Oportunidades promove o facilitismo?
Entrevistada – Promove um bocado o facilitismo já lhe disse há bocadinho, para mim é
bastante facilitista, uma pessoa anda a estudar durante três anos num liceu e faz exames
e faz isto e faz aquilo e depois quer ir para a universidade, depois temos aqueles que,
bom eu já posso fazer o 12º, vou trabalhar uns tempos e depois a seguir faço estas coisas
em três, faço num ano aquilo que poderia fazer em três e pronto está safo, é um bocado
facilitista e às vezes e eu começo a perceber as pessoas também os formadores às vezes
267
dão facilidades e facilitam muito mais do que se fosse por exemplo no 12º ano normal
ou um 10º ano normal, onde é que a matemática de um 10º ano é igual a uma
matemática de um curso EFA, onde é que o Português, quer dizer, eu acho que é
bastante facilitista até, acho que os maiores de vinte e três uma coisa bastante facilitista
também, quer disser as pessoas também e tenho um caso na família que entrou pelos
maiores dos vinte e três e o curso está por fazer, quer dizer, não tem aquele método de
estudo, não tem método de trabalho, não tem nada, depois as pessoas acabam por ir para
a universidade para nada ou uma pessoa realmente gosta e se empenha e é isso que quer
e não teve hipótese e aí, aí aplaudo isso, mas são raras as pessoas, deduzo eu, que fazem
isto ou realmente a pessoa tem interesse em aprender e quer estudar e quer seguir e
mesmo o interesse na altura de vida, não teve essa hipótese mas agora tem e faz numa
maneira um bocadinho mais facilitada mas entra para a universidade ou entra para o
quer que seja, mostra que gosta e faz, e sai de lá e aprendeu e acabou e concluiu com
bastante aproveitamento ou então olha, é mais um, vou para medicina porque dá
estatuto e porque está na moda e porque é o único neste momento dá emprego, que é o
que se passa neste momento.
Entrevistador – Ainda em relação à iniciativa Novas Oportunidades, o que é que
na opinião da Cátia podia ser melhorado?
Entrevistada – Nas Novas Oportunidades, estamos a falar das Novas Oportunidades ou
os EFA ou em geral?
Entrevistador – Em geral.
Entrevistada – Acho que não tenho assim conhecimento de causa tão coiso para poder
dizer o que é que poderia ser melhorado, alguns poderiam não ser financiados que se
calhar teria isso, um número de, as pessoas, um tipo de pessoas que era o ideal atrair e
não os oportunistas, como eu digo, mas por outro lado, pois não sei, não tenho aquele
conhecimento assim a cem por cento, ainda não debrucei a sério sobre esse assunto,
acho que é a primeira vez que me fazem essa pergunta, teria que pensar e ver bem o que
é que cada um.
Entrevistador – Quando se refere aos oportunistas?
268
Entrevistada – São pessoas que, como já lhe disse e tinha lá pelo menos duas ou três
que viviam só mesmo para esse tipo de coisas é, vão fazendo, não vão fazer o estágio
para não concluírem para se poderem candidatar ao próximo curso desse estilo e então
andam de curso em curso e acabam por não fazer nada e entretanto já tinham vindo de
outros dois, isso tem que ser muito bem pensado, se já fez um já não faz mais nenhum
ou se, ao menos que um curso por exemplo desde que seja de apoio familiar e o outro
seja uma coisa que especialize mais, sei lá, para o tratamento de idosos e aí
compreende-se, acho que cada caso é um caso, tem que se ver nesse aspecto, agora
pessoas que estão lá, que já vieram de outros cursos e que vão fazendo e saltam de curso
em curso e começam em jardinagem passam para culinária, passam para apoio à
comunidade, depois se abrir um de electricidade até é muito engraçado, vamos lá
aprender a construir extensões e vão e nunca acabam nenhum mesmo para poderem
continuar a saltar de curso em curso, há pessoas que fazem isso, isto falo com
conhecimento de causa dito por uma delas, quer dizer.
Entrevistador – Em relação aos cursos EFA mais especificamente, qual é a sua
opinião sobre os cursos EFA?
Entrevistada – Os cursos EFA bem trabalhadinhos, a coisa bem-feita, as pessoas bem
escolhidas se calhar com a entrevista, é assim até posso ser muito radical e dizer não se
financia ponto final, ninguém paga a estes formandos para terem, até se poderia pagar
mas a coisa tinha que ser feita com base em entrevista, ser uma coisa mais rigorosa para
as pessoas entrarem, tinham que escolher, sei lá, fazer pré-requisitos, vá que seja para
poder escolher mesmo as pessoas dedicadas para aquele curso, é aquilo que elas
querem, porque se calhar aquelas pessoas entraram, mas quem realmente estava
interessado pode ter ficado para trás por qualquer outra razão, tinha que se pensar um
bocado no método de selecção porque é assim, eu não me oponho que haja cursos
especializados em tratamento de idosos, em tratamento de, sei lá, lavagem de casas de
banho, do que seja, a pessoa está interessada acho que tem todo o direito de o fazer,
agora os moldes em que a coisa está, não será a melhor, se será a melhor coisa, acho que
teriam de alterar alguns moldes nisto.
269
Entrevistador – Da sua experiencia que teve neste curso da APD, se acha que o
curso, estes cursos tem efeitos na vida dos formandos a termos da sua vida futura?
Entrevistada – Sinceramente, acho que em dois ou três deve de ter, nos outros nem por
isso. Foi mais um curso, foi mais uma coisa que ouviram, foi mais uns dias que
passaram ali, tenho para lá umas quantas que sim, vão seguir ou vão tentar seguir,
andavam a procura de, já tinham sido convidadas para e estavam chateadas que não
conseguiam dar volta, agora outros não, outros não têm qualquer…
Entrevistador – E o que é que podia ser melhorado no funcionamento dos cursos
EFA?
Entrevistada – A selecção das pessoas, provavelmente a selecção das pessoas.
Entrevistador – Portanto tem a ver com aquilo que me estava a dizer ainda há
pouco, a questão da selecção.
Entrevistada – Tem a ver com a selecção das pessoas, nem todas as pessoas podem
participar em certo tipo de cursos, as pessoas não servem para isso, eu quando vim para
a pós-graduação de teatro e educação fizeram-me uma entrevista, eu tive que responder
perante duas pessoas e aceitaram-me, mal ou bem, mas aceitaram-me, não é? Acho que
deveria ser assim com base em entrevistas, não digo testes psicotécnicos, não acredito
em testes psicotécnicos, acho que aquilo é uma parvoíce, pelo menos aqueles que eu fiz
até hoje, acho que aquilo não tinha sentido nenhum, mas a selecção das pessoas teria de
ter que ser muito bem pensada, deviam fazer uma entrevista, custa mais, pois custa, mas
se calhar o erro de ter pessoas, se calhar o numero de pessoas que realmente estão
interessadas, se calhar alterava-se o valor, eu por exemplo se vejo ali seis, dez, seis
interessadas, dez não interessadas, se calhar já se poderia alterar esse tipo de coisas,
íamos ter sempre gente que ia para lá porque sim, não é? Mas isso é como em tudo, mas
acho, não sei, é era uma coisa a experimentar.
Entrevistador – Para terminar, qual é o balanço que faz do curso EFA que esta a
decorrer na associação APD? Está a terminar, não é? Foram agora para estágio.
270
Entrevistada – Qual é o balanço que faço? Olhe, não faço balanço nenhum, não sei
como é que correram os outros módulos, não posso fazer um balanço.
Entrevistador – No seu caso…
Entrevistada – Do meu módulo, ah, não faço um balanço muito positivo, como já lhe
disse lá, lá atrás, na maioria não são pessoas que são muito abertas e muito dadas ao
outro e só estão numa para ajudar a apoiar, aquilo não vão ser grandes apoiantes não ou
grandes apoios, isto no geral, já volto a dizer que há lá três ou quatro pessoas que de
certezinha absoluta que aquelas pessoas vão ser bastante boas, são pessoas que se
metem no lugar do outro, são pessoas que são bastante solidárias, são pessoas, são
correctas pronto, agora no geral, não vejo isso, não tenho um balanço muito positivo
nem muito negativo, acho que agora já não começo a ver tão negativo porque já me
passou um bocado também a neura, que eu quando sai de lá tinha visto era só negativos
e zeros e zeros e, como vê estou bastante bem impressionada com os cursos EFA.
Entrevistador – Não sei se lhe ocorre mais alguma coisa que….
Entrevistada – Não.
Entrevistador – Terminávamos por aqui, agradeço-lhe bastante e penso que a
entrevista foi muito rica porque acho que para perceber o vosso trabalho passa por
este tipo de coisas, mexe, mexe um pouco connosco, acho que isso é fundamental.
11. Entrevista 8 – A.A. – Formadora da área tecnológica de Tratamento de Plantas
e Animais num curso EFA da Associação para a Democracia
Entrevistador – Pronto, começava por perguntar quais são as suas habilitações
literárias?
Entrevistada - Sou licenciada em engenharia hortofrutícola e para além disso depois a
formação que tenho, tenho feito muita formação complementar mas pronto, académica,
só mesmo licenciada.
271
Entrevistador - E qual é a sua profissão?
Entrevistada - Sou Técnica de Desenvolvimento da APD.
Entrevistador - No curso EFA que função é que exerce?
Entrevistada - Fui formadora de um módulo que é Tratamento de Plantas e Animais.
Entrevistador - Quantas horas tinha esse módulo?
Entrevistada - Este módulo tinha 25 horas e foi distribuído uma vez por semana, ao
longo, entre Setembro e Outubro, mais ou menos.
Entrevistador - No caso da Amélia já, já entrou a meio do curso?
Entrevistada - Eu entrei em Setembro, fiz um, portanto foi em Setembro do ano
passado, foi mais ou menos no meio, digamos assim.
Entrevistador - Quando entrou no curso o curso já estava?
Entrevistada - Já tinha começado.
Entrevistador - E foi quase até ao fim ou…
Entrevistada - Não, foi só um período muito específico, dois meses, não chegou a dois
meses pronto.
Entrevistador - Tinha aqui uma pergunta de certa forma já abordou aí que é, se
exerce mais alguma função na organização onde trabalha?
Entrevistada - Sim exerço, para além de ser, pronto, sou técnica que desenvolve alguns
projectos, nomeadamente neste caso o "PROV", promover e vender, e depois fazemos
algumas outras acções de formação, por exemplo, esta calhou numa, esta acção de
272
formação, sou formadora nalgumas acções de formação e esta em específico para o
curso EFA calhou numa fase de transição e pronto, exercemos muitas tarefas aqui na
APD.
Entrevistador - E trabalha em mais alguma organização? Ou trabalha só para a
APD?
Entrevistada - Não, trabalho só para a APD.
Entrevistador - E já deu formação em mais algum curso EFA?
Entrevistada - Em mais cursos EFA, não, foi o primeiro, tenho dado muitas acções de
formação para adultos, muitas, pronto desde que estou na APD, também em solicitação
de outras entidades tenho dado muita formação para adultos.
Entrevistador - Ia-lhe pedir que me descrevesse a sua trajectória profissional desde
que começou a trabalhar.
Entrevistada - Em 97 ainda estava acabar a formação e fiz, trabalhei num laboratório
da Universidade do Algarve, num projecto de salinidade com o professor Beltrão e a
professora Leonor Faleiro, mais ou menos um ano e uns quantos meses, depois fiz,
trabalhei em investigação durante um ano e uns quantos meses e depois comecei a
trabalhar na APD na área de Ecoturismo, na área de ambiente, na área de levantamento
de património, trabalhei também ligada à formação durante, logo, logo no início em
apicultura, em apicultura biológica, através de um projecto também em parceria com a
APD e "Salva", trabalhei com a "Salva" que é a associação de agricultores, de
produtores de agricultura biológica, trabalhei, já eu não me lembra, em floresta,
trabalhei em projectos florestais, em vários projectos agrícolas, fiz apoio a concepção de
projectos e de subsídios agrícolas, depois, pronto, sobretudo a parte do Ecoturismo
também foi muito importante, abrangeu muitas coisas desde os percursos pedestres, a
dinamização de centros de descoberta, a material promocional, a percursos e circuitos e
material de informação, de interpretação do território e da flora que é também uma área,
uma área que trabalho muito e temos também apoiado algum, tenho também apoiado
273
alguns estagiários que têm cá chegado, tenho, já não me lembra muito bem, mas tenho
trabalhado muito, se tivesse o currículo conseguia se calhar fazer uma...
Entrevistador – Fazer uma descrição mais personalizada?
Entrevistada - Mais personalizada, sim.
Entrevistador - A entrada no trabalho na formação como é que aconteceu?
Entrevistada - Foi um bocado natural, foi um bocado natural, como aqui na In Loco
também em termos de, na minha área, na área da agricultura não havia muita gente,
pronto, fui digamos uma das pessoas indicadas para trabalhar nessa área, o facto
também de naturalmente acompanhar, estagiários, serviço de voluntariado europeu, se
calhar também naturalmente, percebeu-se que tinha se calhar alguma tendência, alguma
vocação para a formação e então fui indicada para coordenar e para dar formação
também.
Entrevistador - E mais especificamente nos cursos EFA, como é que se deu esse
início da sua actividade no curso EFA?
Entrevistada - Pronto, eu trabalho na área da agricultura, na área das plantas, e então
isso foi uma coisa natural, não é? Foi a minha escolha foi natural, tenho alguma
experiência em formação, alguma acho que até alguma, acho que até uma boa
experiência e depois tenho, pronto a minha vocação académica para a área das plantas.
Entrevistador - Fazia-lhe uma pergunta de carácter mais geral, mais aberto, se lhe
perguntasse como é que é a vida de um formador que faz a sua actividade nos
cursos EFA, o que é que lhe ocorreria?
Entrevistada - Para mim, eu se calhar como a minha carga horária é pequena, 25 horas,
podia repetir outra vez a pergunta?
Entrevistador - Como é que é a vida, a vida de um formador que faz a sua
actividade nos cursos EFA? No seu caso na sua experiência?
274
Entrevistada - Sim, no meu caso, como é uma carga horária pequena, eu julgo que se
calhar até estas cargas horárias são boas porque ajuda a distinguir um bocadinho, a não
maçar as relações e a distinguir um bocadinho o papel de formador do papel de,
distinguir um bocadinho estas posições, acho que o relacionamento foi bom, com o
grupo, no meu caso tive oportunidade de fazer e isso se calhar há módulos que não têm
esta capacidade, de fazer muita coisa prática, então a isso foi, acho que ajuda o
relacionamento e um bom funcionamento do trabalho, pronto, para quem realmente, eu
acho que é bom ter outra, não estar só no EFA, acho que é bom ter outras actividades
porque se calhar depois é um bocado intenso o trabalhar com adultos e sobretudo,
pronto eu não sofri isso mas imagino, imagino que o papel de coordenador ou um
formador que acompanhe durante mais tempo deve ser mais intenso e se calhar, devem
de sofrer um bocadinho mais, não sei.
Entrevistador - Quando falou aí que um módulo curto seria bom para não maçar
as relações, penso que foi a expressão que utilizou, pode-me especificar isso um
pouco melhor?
Entrevistada - Não, é quando, quando os módulos são muito intensos e sobretudo
teóricos, pronto, o formando, é claro que fica e o formador também, poderá ficar um
bocadinho mais sobrecarregado, um bocadinho mais desinteressado, eu acho que, é a
minha opinião em relação não só ao EFA mas em relação a todos, acho que todos os
cursos deveriam ter módulos mais curtos e consoante as vocações e os interesses das
pessoas, aí sim, as pessoas poderem optar e irem para a área das plantas ou para a área
da enfermagem, não sei, mas pronto, acho que é melhor assim.
Entrevistador - Ok, ia-lhe perguntar se considera que ser formador EFA é uma
profissão, em sua opinião?
Entrevistada - Não sei, para mim não foi uma profissão, foi um módulo de curta
duração, para mim não foi, agora não sei se para os outros formadores, mas julgo que
hoje em dia, há uns anos atrás era fácil viver da formação, viver só da formação e aí se
calhar as pessoas, e só de uma entidade formadora e aí se calhar os formadores
poderiam estar mais a 100%, hoje em dia o formador não é bem compensado porque
275
não é só o trabalho de sala, é também o trabalho fora da sala e é também todo o desgaste
psicológico nas relações e não é bem compensado e então se não consegue ter só esta
ocupação tem que se dividir noutra ocupação, depois se calhar é mais difícil.
Entrevistador - No seu caso, já abordou aí essa questão mas perguntava-lhe, tinha
aqui a questão para colocar, se se considera profissional da formação?
Entrevistada - Não percebo.
Entrevistador - Se se considera profissional da formação?
Entrevistada - Sim, sim, trabalho muito, tenho trabalhado muito na área da formação,
dentro e fora da APD.
Entrevistador - Mas se lhe perguntasse qual era a sua profissão, o que é que me…
Entrevistada - Eu não diria que sou formadora, eu diria que é uma consequência do
meu, das minhas competências e se calhar como não há muitos técnicos com
competências na minha área, não estou a dizer que sou única e exclusiva mas por
exemplo de agricultura biológica há pouca gente nesta área, então é uma consequência
de uma competência que não é muito vulgar e prefiro que seja assim, prefiro não ser
formadora, prefiro ser técnica e que acho que poderei dar mais na formação se continuar
assim.
Entrevistador - E em relação às condições laborais e institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, a questão do vínculo profissional? No seu caso, o vinculo
profissional que tem, como é que…
Entrevistada - Sou técnica, sou contratada com termo, num contrato sem termo
portanto já tenho um vínculo permanente à APD.
Entrevistador - À APD, não é? E em termo das condições remuneratórias e de
pagamento?
276
Entrevistada – É, digamos, recebo o salário e nada mais que o salário, apesar, que
tenha que me articular com as actividades que exerço, os projectos onde estou
enquadrada.
Entrevistador - Alguma vez pensou em abandonar a sua actividade como
formadora, se isso lhe ocorreu?
Entrevistada - Como lhe disse é uma consequência do meu trabalho e pode também ser
entendido como um reconhecimento do trabalho que desenvolvo, nunca me ocorreu,
abandonar a actividade formadora, desistir desta actividade, ocorreu-me foi se calhar
abrandar mais, porque às vezes, há muitas solicitações para a formação e na minha
opinião não me interessa só dar formação como lhe disse, acho que, e dar por dar, não
me interessa dar uma coisa em que realmente sinto-me à vontade e sei que estou a dar, a
contribuir.
Entrevistador - Se tivesse outras oportunidades profissionais mudava de
actividade?
Entrevistada - Se calhar dentro do ramo de agricultura biológica, botânica, isso
continuava mas sim, se calhar poderia mudar. Acho que há 13 anos que estou neste
ramo, mas se calhar sim. Ser empreendedora, montar um projecto meu, ser agricultora,
quem sabe, não sei.
Entrevistador - Em relação aos cursos EFA ainda, como é que vê o papel dos
cursos EFA na sua vida profissional futura, de que forma é que podem vir a
incorporar?
Entrevistada - Em mim, na minha, eu de alguma forma acho que, da mesma forma que
a gente aqui desenvolve acções de formações para adultos, acho que, digamos não é
muito diferente do que é o EFA, o EFA tem, o que poderá fazer a diferença, que poderá
fazer, não é a mim mas sim nas pessoas que frequentam o curso, nos formandos, eu
acho que eles é que têm que agarrar esta oportunidade para fazer diferenças na vida
deles no seu percurso de vida, em mim digamos que a diferença é mais uma
experiencia, é mais uma oportunidade de melhorar também as minhas competências, e
277
provavelmente eu vou continuar sempre a dar formação com adultos, a diferença não é
muita ser EFA ou não ser EFA, eu acho é que para eles é que terá que fazer essa
diferença na vida e quer dizer, esse é o propósito do EFA, não é.
Entrevistador - Portanto se fosse convidada para dar formação num curso EFA,
voltaria a…
Entrevistada - Sim, sim neste esquema de módulos, carga horária curta por isso,
porque acho que é mais eficaz.
Entrevistador - Sente-se reconhecida no seu trabalho como formadora?
Entrevistada - Acho que sim, acho que sim.
Entrevistador - Como é que, pode-me especificar um pouco melhor?
Entrevistada - Acho que sim, porque sou solicitada para dar formações por exemplo
este mês dei uma acção de formação que decorreu ao fim-de-semana e estou sempre a
ser solicitada para dar formação, preferia até não ser tão reconhecida, que assim
poupava-me alguns fins-de-semana.
Entrevistador - Aqui em relação ao trabalho pedagógico com os formandos, ia-lhe
perguntar quais são as dificuldades que sente no seu trabalho como formadora de
educação e formação de adultos especificamente neste curso EFA, quis foram as
dificuldades que sentiu no seu trabalho como formadora?
Entrevistada - Eu realmente não tive muitas dificuldades, por exemplo, se calhar
também porque trabalho aqui dentro e tenho um contacto muito directo com a
coordenadora e com todos os formadores e tínhamos reuniões, reuniões de grupo,
portanto eu como fui uma formadora de curta duração, não participei em muitas, mas
aqui houve um bom enquadramento e as dificuldades, por exemplo organização de uma
visita de estudo, ou de arranjar material, pronto, eu consegui facilmente resolver estas
situações que não foram problema, não tive problemas.
278
Entrevistador - Mais alguma coisa que lhe ocorra, em relação ao trabalho com os
formandos?
Entrevistada - Há sempre situações que uns têm mais problemas do que outros, eu não
sei, se calhar é uma defesa minha, tento ser um bocadinho, não me meter nesses
problemas e fugir um bocadinho a isso, porque senão eu também trazia os meus
problemas cá, e se calhar a minha atitude perante essas situações, também é uma forma
de educá-los, entre aspas, para que eles não tragam os problemas deles para cá e que
resolvam fora do ambiente de trabalho, porque isto para eles é trabalho e para nós
também, mas não, tentei, separar um bocadinho as águas, no sentido de aqui é um
momento de aprendizagem e é claro que surgem sempre algumas situações, há pessoas
que se destacam mais, destacaram-se muito mais pela sua, pelo seu interesse e pelo seu
investimento e há outras que não, mas resolve-se, isso acontece quer seja EFA quer não
seja EFA.
Entrevistador - E em relação aos aspectos gratificantes na sua actividade como
formadora, quais são os aspectos que…
Entrevistada - O contacto com os formandos, portanto acabamos isto em Outubro,
início de Novembro e ainda continuam a reconhecer-me e às vezes, a falar de um ou
outro aspecto, isso para mim só por si é gratificante.
Entrevistador - Em relação ao trabalho curricular em torno dos temas de vida com
os seus colegas de formação, no seu caso como é que isso ocorreu? Como é que
funcionou?
Entrevistada - Em relação, podia especificar...
Entrevistador - Os cursos EFA têm esta questão dos temas de vida...
Entrevistada - Dos temas de vida, sim que tem que ser trabalhado.
Entrevistador - Como é que isso aconteceu no seu caso?
279
Entrevistada - Eu por exemplo, com a minha colega de cidadania articulámos um
bocadinho os conteúdos, não sei se vou ao encontro do que está a dizer, mas pronto
houve uma articulação e sobretudo com esta formadora para trabalhar melhor os
conteúdos.
Entrevistador - De cidadania?
Entrevistada - Sim, sim, não sei se ela daria outra, mas sim de cidadania.
Entrevistador - E com o resto dos colegas?
Entrevistada – Não, por acaso foi só com ela e com a coordenadora, com quem
falamos melhor sobre isto, dei algum apoio e trabalhamos, esclarecemos algumas
situações, por exemplo na preparação dos trabalhos para os formandos poderem...
Entrevistador - E qual é a sua percepção sobre isso, esse trabalho é uma coisa que,
acha que se fez de forma partilhada ou sentiu alguma dificuldade a entrar nessa
articulação?
Entrevistada - Não, não foi difícil, foi fácil.
Entrevistador - No seu caso com as 25 horas, chegou a participar em quantos
temas de vida, não se recorda?
Entrevistada - Não, eu digamos que, talvez só um, talvez só um.
Entrevistador - E como é formadora da parte profissionalizante, a sua
preocupação quando está a fazer a formação, preparar a formação, a levá-la à
prática, as suas preocupações passam por fazer de que forma?
Entrevistada - Passar sobretudo a informação que eles possam utilizar para aplicar na
prática, por exemplo, fizemos uma aula, as aulas foram práticas, fizemos identificação
de plantas, fizemos em vários momentos, fizemos, num dos momentos vimos como é
que as coisas, como é que plantas deveriam ser tratadas e cuidadas num caso específico,
280
por exemplo se fosse a manutenção das plantas, pronto, algumas situações de pragas e
doenças como fazer, como resolver, identificar determinados sinais, depois interpretálos e fazer intervenções, no caso dos animais também fizemos, tivemos uma conversa
com, uma aula aberta com o veterinário municipal em que muitos, eu acho que foi
bastante interessante este modelo, quer dizer, é com o veterinário municipal que quase
todas as nossas relações residentes aqui de São Brás de Alportel vão passar e então
pensei, pensando isto se calhar seria bem, seria bom, fazer esta ligação, a ver quais são
os direitos e deveres dos cidadãos, o que é que podem recorrer naquele serviço
municipal, também tivemos um, fizemos uma visita a uma associação de animais, da
defesa de animais e plantas em que percebemos os cuidados mínimos, tivemos também
a oportunidade de ver as instalações e ver o que é que se tem que fazer, portanto acho
que, acho que o que foi fornecido nesta sessão é claro, pronto 25 horas não podemos, foi
separada, metade plantas, metade animais, não se pode a passar todos os ensinamentos,
todas as aprendizagens que deveriam passar, mas acho que a base e o útil foi passado e é
claro com a experiência as coisas vão sendo acrescentadas, vão sendo melhoradas,
pronto fizemos também a visualização de vários filmes, fizemos aulas práticas de
preparação de ramos e para terminar as situações, acho que...
Entrevistador - E em relação ao trabalho com os seus colegas de formação acha, é
um trabalho que no seu caso? É um trabalho que faz mais individualizado? Ou há
uma partilha que possa fazer com…
Entrevistada - Sobretudo com o formador de Inglês e o formador, a formadora de
Cidadania partilhei algumas destas, por exemplo algumas destas questões, métodos de
formação, pronto e como lhe digo 25 horas é muito pouco para estar com todos, com
toda a equipa de formadores e partilhar tudo, eles se calhar porque são colegas
residentes daqui porque e porque, pronto foi fácil falar com eles e porque temos,
tínhamos coisas em comum, então surgiu.
Entrevistador - Vocês fazem reuniões de planificação?
Entrevistada – Sim, eu já não faço, não é? Já é Outubro já acabou.
Entrevistador - E quantas reuniões é que teve ainda oportunidade de participar?
281
Entrevistada - Duas, duas.
Entrevistador - E sente que os seus colegas de formação aderem às reuniões ou há
uma dificuldade em mobiliza-los para reunir?
Entrevistada - Fiquei espantada, aderem, aderem e porque noutras entidades
formadoras fora da APD não é fácil e aliás, acho que esta preocupação de fazer reuniões
de coordenação é importante e nem todas as entidades formadoras lá fora fazem e nesse
sentido eu acho que é uma mais-valia a APD poder fazer isto.
Entrevistador - No seu caso, no seu trabalho específico com os formandos faz mais
um trabalho com o grupo, faz mais um trabalho individualizado?
Entrevistada - Fiz com, trabalhei em grupo, trabalhei porque acho que também eles
vão ter que na vida futura, vão ter que trabalhar em equipa e então trabalhei em grupo,
sempre e não tanto, é claro que uma ou outra pessoa tinha mais dificuldades e, ou um
grupo tinha mais dificuldades então dava-lhes mais apoio do que outros, havia um
grupo que se destacava claramente nas tarefas e mas quase sempre a óptica foi a em
grupo porque por essa questão, porque provavelmente a trabalhar numa entidade a vida
futura deles será trabalhar em equipa e então acho que isso é importante eles
trabalharem, darem-se bem e funcionarem, funcionarem bem.
Entrevistador - Que competências é que considera essenciais para exercer a sua
actividade como formadora num curso EFA?
Entrevistada - Sobretudo acho que é importante dominar as temáticas, dominar aquilo,
ser bom profissional e depois acho que é importante isso, primeiro, porque são-nos
colocadas questões e só a pratica e a experiencia é que depois nos dá capacidade, eu
vejo isso nas formações que dou agora por exemplo de agricultura biológica, não é só
necessário a ter um PowerPoint com os temas chave, é preciso dar corpo a toda aquela
informação que ali vai e isso, determinadas questões são colocadas é importante
responder com a nossa experiencia, portanto eu acho que sobretudo mais importante ser
profissional, ter uma experiencia prática no ramo, na área da agricultura, na área da
282
enfermagem, na área da matemática, na área da, e só depois ser formador, acho que, não
sei se concordam comigo mas eu é assim que vejo e depois é claro que é importante ser
capaz e isto é uma questão, pode ser trabalhada, ser capaz de, de transmitir aquilo que se
sabe, mas na minha opinião é importante primeiro saber, primeiro ser bom profissional
na área e depois ser formador dessa área.
Entrevistador - Mais alguma coisa que lhe ocorra? Em termos das competências,
para exercer a sua actividade no âmbito dos cursos EFA? Mais alguma coisa que
lhe possa, ia-lhe pedir para me, em relação a este curso e dessa experiencia que
teve das 25 horas para descrever um pouco o perfil dos formandos que
frequentaram este curso EFA, que tipo de pessoas?
Entrevistada - Posso, interessados e não interessados, acho que é assim, consigo
distinguir estes dois, dentro dos interessados há uns que se destacam muito mais do que
os outros, mas acho que, interessados e motivados e acho que o principal nestes cursos
qualquer que sejam é realmente estarem interessados e motivados, depois e isto faz logo
a diferença e a separação digamos entre as pessoas e há pessoas, aqui neste grupo
concretamente, pois apercebemo-nos que há pessoas, há um grupo de pessoas bastante
interessadas e motivadas e vêem neste curso uma oportunidade e há outros que estão cá
porque, não sei, porque se calhar não tinham mais nada para fazer, mas pronto, também
digo que não foi um grupo daqueles, daqueles terríveis que sei que há por ai, nos cursos
EFA, que não destabilizaram, não perturbaram o funcionamento da sessão, mas pronto,
claramente via-se que havia um grupo bastante interessado e motivado e que contribuía
e havia outro que não era, não era, não estava tão interessado e tão motivado e por e
simplesmente só estava, pronto, mas isso já não é mau, já não perturba e já não interfere
no aproveitamento dos outros.
Entrevistador - Tinha aqui duas questões nesse sentido, uma era se acha, se, se
sentiu diferenças ao nível de empenhamento dos formandos face a formação?
Entrevistada - Sim, sim.
Entrevistador - E tem a ver com…
283
Entrevistada - Com a motivação e com o interesse e com...
Entrevistador - E em relação à aprendizagem e ao desempenho dos formandos
notou também diferenças?
Entrevistada - Sim, sim, há pessoas claramente que gostam, esta temática atraiu a
algumas pessoas, por exemplo eu tinha cá, tinha cá até algumas pessoas que eram, que
tinham trabalhado na área das estufas e com estufas de flores e acho que uma pessoa,
pronto, mas isso por exemplo não as distinguiu para pertencer ao grupo dos mais
interessados, mas realmente quem tem interesse e quem vem para esta formação, com o
objectivo de estar cá para aprender e para e também para contribuir, pronto não é ser,
ter, ter trabalhado nas estufas ou não que fez esta diferença, ouve aqui pessoas que se
empenharam apesar de não saber nada de plantas ou apenas porque gostavam e que
contribuíram e o desempenho delas no final do módulo foi muito bom, foi excepcional,
pronto, ouve outras pessoas que por e simplesmente arrastaram-se um bocadinho e
deixaram-se estar.
Entrevistador - Ainda sobre os formandos, costuma haver conflitos no espaço da
formação, que ideia tem sobre isso?
Entrevistada - No espaço da formação não houve nenhum momento em que houve um
conflito digamos, não houve um conflito que surgir-se, não, não houve, pronto,
sabíamos que havia algumas pessoas, pronto havia uma ou duas formandas que eram
digamos as delegadas, as representantes do grupo, pronto, é que numa ou outra situação
passaram-me uma informação que havia ali uma situação, mas como lhe disse às vezes
a gente, se dá demasiada importância a essas coisas e sobretudo no contexto da
formação, acho eu que é pior, é tentar mesmo, como não surgiu essa situação para mim
foi fácil lidar, como não houve um conflito, para mim foi fácil lidar e separar essas
águas, aqui é só formação e não é uma coisa muito, tipo militar e disciplinada mas
houve tempo para falar das experiências deles e não sei quê, mas não sair deste, deste
tema.
284
Entrevistador - Tinha aqui uma pergunta ainda sobre a sua relação com os seus
colegas de formação, como é que aconteceu esse trabalho com os colegas dos outros
módulos, quer da formação base, quer da formação profissionalizante?
Entrevistada - Pois eu não os conheci todos a não ser nestes dois momentos de reunião
e depois os colegas com quem tenho mais contacto são os colegas aqui da APD e a
coordenadora.
Entrevistador - Sente mais dificuldade em contactar os colegas que são externos?
Entrevistada - Sim, mas porque, não é porque haja dificuldades inerentes às pessoas,
não é nada disso, é mesmo por questões, a minha carga horária foi 25 horas e depois
tive outras actividades para fazer, só por isso, não conheci todos os formadores, não é?
Entrevistador - Se em sua opinião há algum aspecto do trabalho de formação dos
seus colegas da equipa pedagógica que ache que, que seria benéfico melhorar para
o funcionamento do curso, neste caso o curso EFA?
Entrevistada - Do meu relacionamento com eles, não, não acho que não.
Entrevistador - Há algum aspecto que se recorde que possa?
Entrevistada - Não. Correu tudo bem, como lhe digo 25 horas, fazem milagres, é bom
ser assim curto.
Entrevistador - Foram quantas? Desculpe?
Entrevistada - 25 horas.
Entrevistador - 25 horas. Se sente diferenças no empenhamento do trabalho dos
colegas de formação para por em prática o modelo dos cursos EFA? Que
percepção é que tem sobre esta questão?
285
Entrevistada - Como lhe digo, não tenho contacto com todos, os que tenho, são pessoas
com muita experiência na área da formação e ainda trabalham noutro curso EFA,
portanto acho que eles são bons profissionais nessa matéria.
Entrevistador - Que tipo, em relação aqui à sua relação com a entidade, qual é o
tipo de relação que a Amélia mantém com a entidade formadora?
Entrevistada - Pois sou, sou técnica, sou, tenho um vínculo com esta entidade
formadora para exercer outras funções.
Entrevistador - Portanto vê-se como trabalhadora da APD?
Entrevistada - Da APD.
Entrevistador - Da APD, não é? E identifica-se com a forma que a entidade olha
para as questões da formação EFA?
Entrevistada - Eu acho que foi sempre uma grande preocupação da APD desde o início
da sua formação que foi, a educação de adultos, sempre trabalhou nessa área e vejo que
vai continuar a investir na formação de adultos, é claro que depois nós temos as
associações, as entidades formadoras têm que encaixar nos programas e nas, nos
modelos de formação que existem disponíveis.
Entrevistador - E perguntava-lhe também se se sente reconhecida pela entidade
pelo trabalho que desempenha?
Entrevistada - Portanto há bocado perguntou-me se era reconhecida como formadora,
agora é pelo trabalho, acho que sim, sou muito solicitada, portando deve, acho que sou
reconhecida.
Entrevistador - Portanto se lhe aparecesse outra oportunidade de trabalho, não
saia da entidade?
286
Entrevistada - Depende, sim, sim depende, há que sempre considerar outras
perspectivas.
Entrevistador - Quando diz depende…
Entrevistada - Depende da proposta que façam, se a Universidade o Algarve me
convidar para ser professora de agricultura biológica, se calhar era um bom desafio e se
o salário compensasse nos dias de hoje se calhar era um bom desafio.
Entrevistador - Tenho aqui um conjunto de questões que tem a ver com a
possibilidade de tentar compreender se no caso particular dos cursos EFA, se será
diferente o funcionamento dos cursos EFA numa entidade como a APD, no IEFP,
numa escola, não sei se a sua experiência lhe permite...
Entrevistada - Eu como lhe disse, é, já trabalhei para outras entidades formadoras
independentemente de ser sempre EFA ou não, já trabalhei para associações, para o
IEFP, já trabalhei pronto e na APD há realmente uma diferença em relação à APD. Não
dizendo, não falando, não comparando com a, b, c ou d, eu acho é que aqui realmente há
um trabalho de planificação e de acompanhamento, as reuniões iniciais e intermédias
são muito importantes e para quem, para quem e o papel de coordenação aqui é
realmente visível, aqui não, não é invisível, não existe só no papel e digamos que é
importante realçar isso, nos outros locais onde trabalhei, este papel de coordenadora
sobretudo neste curso EFA é visível e é importante, é importante para o bom
funcionamento e para, neste caso especifico e comparando com outras entidades que
trabalhei independentemente de ser EFA ou não, este papel não é visível e é realmente
crucial para o bom ou para os bons ou maus resultados daquilo que se pretende.
Entrevistador - Em relação à avaliação dos formandos do curso EFA como é que
fez a avaliação no seu caso?
Entrevistada - Foi sobretudo em critérios que já estavam estabelecidos, eu sobretudo
também, pronto, assiduidade, os contributos, o interesse, motivação, os trabalhos
realizados, eu fazia sempre por trabalhos práticos, não era todas as sessões mas fazia
muitos trabalhos práticos, em cada trabalho prático os formandos ou os grupos, davam287
me um relatório, digamos um, ou um exercício, tinham que resolver um exercício ou um
relatório e então é com base nessas ferramentas que eu depois fiz a avaliação e foi feito
também um trabalho final, digamos um, no caso das plantas, dos arranjos florais foilhes fornecido material, alguns trouxeram material e fizeram vários arranjos ou só um
dependente de cada grupo, então isso foram tudo elementos ou seja, todos os trabalhos,
todas as sessões e sobretudo as que eu colocava uma parte prática, uma componente
prática eu pedia um digamos um resultado dessa parte pratica, um exercício, a resolução
do exercício ou um relatório para poder ter no fim do módulo indicadores para avaliar o
desempenho dos formandos.
Entrevistador - Falou-me ai de critérios pré definidos, tinham critérios…
Entrevistada - A coordenação passou uma tabela com, mas mais ou menos, não saia
disto, era a assiduidade, era a pontualidade, era, já não me lembro mais mas pronto, era
o desempenho, como eu fazia a avaliação desse desempenho, pronto aí que eu poderia
diferenciar das outras sessões, no meu caso foi isto um exercício ou um relatório ou, a
execução de um, neste caso de um arranjo.
Entrevistador – Portanto, eles não tiveram teste nem exame?
Entrevistada - Não tiveram teste nem exame, fizeram vários trabalhos práticos e
fizeram relatórios e fizeram, pronto, trabalhos práticos, fazer um, desempenhar uma
tarefa, foi avaliado o nível de desempenho, a criatividade, a dificuldade, o caso dos
exercícios que coloquei, foi avaliado a forma como desenvolveram, se estava correcto
se estava incorrecto.
Entrevistador - E tiveram alguma nota numérica ou…
Entrevistada - Numérica sim.
Entrevistador – Em que se atribui uma classificação quantificável, não é?
Entrevistada - Sim, sim.
288
Entrevistador - De 0 a 20?
Entrevistada – Sim, de 0 a 20.
Entrevistador - Em relação, de certa forma já me falou ainda à pouco um pouco
nisto, em relação ao trabalho da mediadora, se considera que, de que modo é que é
importante esse trabalho de um mediador num curso EFA?
Entrevistada - É importante, é muito importante, é eu acho que é crucial.
Entrevistador - Quando a Ana diz que é crucial pode-me explicar um pouco
melhor?
Entrevistada - É importante ter papeis diferenciados, o formador não pode, é claro que,
não pode ter um papel mais próximo, mais próximo isto é, não pode imiscuir-se nos
problemas pessoais, e cada um dos formandos e neste caso, eu também não, não quis
saber muito, mas pronto, acho que havia algumas pessoas com alguns problemas
pessoais e realmente o facto de existir uma pessoa que nem sempre está nos momentos
de formação isso é importante porque na formação, é formação, a mediação é mesmo
para isso é para tentar encontrar um equilíbrio e soluções no relacionamento das pessoas
e tentar acompanhá-las e tentar, sobretudo apoiá-las neste investimento que isto é, quer
dizer um curso EFA é um investimento para todos, não é? E também tentar perceber,
orientar as pessoas para que percebam o que é isto do EFA e terminem com
aproveitamento este, esta oportunidade ou então depois que desistam e que...
Entrevistador - Tenho aqui um último conjunto de questões que diz respeito à
Iniciativa Novas Oportunidades, e perguntava qual é a sua opinião sobre a
Iniciativa das Novas Oportunidades?
Entrevistada - Ok, acho que é importante, também é mais uma modalidade que os
adultos podem recorrer para se certificarem, as suas competências e poder-lhes ser
reconhecido um certificado, ou uma, para poderem na sua carreira, no seu dia-a-dia,
poderem também a crescer e evoluir na sua carreira, crescer como, como pessoas a nível
289
pessoal mas também evoluírem na sua carreira, terem mais oportunidades de trabalho,
acho que é importante ter esta modalidade, se é que se pode chamar modalidade.
Entrevistador - Ia-lhe perguntar se os seus colegas costumam falar sobre isso, se
costumam trocar algumas impressões sobre isso?
Entrevistada - Como lhe digo eu tenho, eu nem sempre estou aqui na sede da APD,
mas sim contacto muito com as minhas colegas do CNO e sei que fazem, neste caso
concreto, sei que fazem um trabalho muito intenso e muito próximo dos adultos, é o que
sei, é isso, é que constantemente estão e são muito próximas no sentido daquele
investimento do adulto, é também o investimento delas, elas ficam contentes se os
processos chegam até ao fim, portanto empenham-se, empenham-se muito, são
realmente, é realmente um grupo bastante empenhado.
Entrevistador - Uma outra questão que tinha aqui é, o que é que acha da opinião
de que a Iniciativa Novas Oportunidades promove o facilitismo? Qual é a sua
opinião em torno desta ideia?
Entrevistada - Assim como na vida há bons técnicos e maus técnicos, há bons
programas e maus programas, o que não, apenas o que posso, a minha ideia é que não
podemos pôr tudo dentro do mesmo saco, há entidades que desenvolvem um bom
trabalho ao nível das novas competências, que deve de ser, não deve de ser posto no
mesmo saco que outras entidades que não desenvolvem um bom trabalho, se é
necessário fazer avaliações ou dessas entidades para fazer esse filtro, acho que devem
de fazê-lo mas realmente não devem é, pronto agora com esta história do novo governo
houve aí algumas coisas que saíram, pensando que, no sentido que, em que o CNO não
era um bom, portanto não lhe era reconhecido o devido valor, eu acho é que antes de
decidir acabar com os programas que já estão independente de ser CNO ou não, deve-se
avaliar e ver realmente quem trabalha e quem não trabalha, quem são, quem é que está
nessas equipas e quem é que faz bom trabalho, reconheço que uma pessoa que anda
vinte anos a estudar e depois tem o certificado no final do ano pode não sentir-se, pode
achar que não é justo uma pessoa que não fez esta formação, não fez, não andou na
escola pois, mas eu acho que há pessoas a nível profissional que nunca estudaram,
porque não tiveram essa oportunidade por questões pessoais e familiares e trabalho e
290
financeiras, que realmente merecem e, eu por exemplo no meu caso conheço pessoas
que são verdadeiros mestres, por exemplo um senhor, um apicultor, é um mestre da
apicultura e por exemplo não sei porque que ele não pode ser formador nas acções de
formação que são pagas por determinados programas de financiamento, ele tem todas as
competências para ser formador, ele tem um nível de conhecimentos que poucos,
engenheiros agrónomos e florestais têm, ele realmente e por exemplo ele teve na Suécia
a trabalhar durante uns anos e foi reconhecido e era uma das pessoas mais, e hoje em dia
técnicos de associações de apicultura vêm trabalhar, vêm aprender com ele algumas
técnicas de criação de rainhas de abelhas por exemplo e então ele está a passar um
conhecimento para técnicos que depois, então se nós reconhecemos os técnicos que vão
dar formação de criação de rainhas porquê que não reconhecemos quem nos ensinou?
Portanto o CNO na minha opinião, as novas oportunidades na minha opinião são muito
úteis a estas pessoas que, como o caso deste senhor, o senhor José Vicente que é um
mestre na minha opinião e é mau se estas coisas acabarem porque pessoas como o
senhor, o senhor José Vicente poderão deixar perder oportunidade de serem
reconhecidas e de ir mais além, pronto o senhor José Vicente ele já está na reforma, ele
já, mas por exemplo jovens que estão, que têm 40 anos não conseguiram terminar o 12
ano, mas que são excelentes profissionais na área da música, na área da agricultura,
apicultura, pronto sei lá mais o quê, acho que é uma oportunidade muito importante.
Entrevistador - E em relação especificamente aos cursos EFA, qual é a sua opinião
sobre os cursos EFA?
Entrevistada - Eu acho que a entidade, na minha opinião as entidades formadoras
deviam de ser mais independentes, não estarem, não falo da APD mas sobretudo neste
caso muito específico, mas tenho conhecimento de outras entidades porque, precisam do
financiamento, que vem através do EFA, então têm que digamos fechar os olhos perante
uma série de situações, nomeadamente o comportamento das pessoas, não estou a falar
do desempenho, mas sobretudo o comportamento das pessoas, há formadores que saem,
que desistem dos cursos e sobretudo dos EFA porque, não estou a falar da APD, mas
conheço outros cursos de outras áreas do Algarve em que há formadores que desistem
dos cursos a meio porque têm problemas é um desgaste psicológico resolver
determinados problemas, conflitos pessoais dos formandos e eles depois tentam fazer o
papel de mediadores por isso é que o papel do mediador é importante neste caso, e, e
291
acabam por, porque não existe esse papel, é invisível, porque se calhar não é
considerado, não é bem pago e eu acho é que portanto as entidades não podem estar
reféns do financiamento, podem, devem de se ter alguma autonomia para dizer, esta
pessoa é valida para continuar, esta pessoa tem mau comportamento disturba o grupo e
só esta a provocar o resto, então regra geral quando um aluno, um formando, se desistir
ou dois ou três, todo o resto, todo o processo fica, não é valido, fica condicionado e eu
acho que as entidades formadoras deviam de ter mais autonomia a esse nível e não
estarem dependentes dos formandos porque depois há uma relação muito, muito
viciada.
Entrevistador - Considera que os cursos EFA têm efeitos na vida das pessoas, dos
formandos em termos da sua vida futura?
Entrevistada - Considero, considero e por exemplo esta experiência aqui, concreta da
In Loco, vejo aqui em algumas pessoas, que este curso foi uma oportunidade e vejo que
algumas destas pessoas depois vão, se não tiverem oportunidades para trabalhar por
conta de outrem podem criar o seu próprio trabalho, neste sentido, acho que valeu a
pena, esta formação ter chegado onde chegou.
Entrevistador - O que é que acha que poderia ser melhorado no funcionamento
dos cursos EFA? Alguma coisa que lhe ocorra?
Entrevistada - Hum, não sei talvez, eu acho que é importante muito a componente de
integração na vida activa, por exemplo em vez do estágio ser no final do ano, porque
não um estágio também a meio do ano em que as pessoas tivessem oportunidade de
optar, por estar na empresa A ou na associação B ou pronto, eu acho que se calhar
poderia ter uma carga, acho que poderiam ter outro estágio a meio do ano por exemplo
uma componente prática ou então que fosse opcional do formando poder, imagine que
uma pessoa tenha tido um contacto com, neste caso com um lar ou com uma associação
e que estabelece-se com eles uma relação, um estágio, um período de estágio durante,
por exemplo 6 meses ou 3 meses, eu acho que e se isso fosse reconhecido em termos,
depois de validação das suas competências no fim do curso, acho que era, acho que era
interessante, porque há pessoas que realmente já têm bases muito boas, matemática, de
português, de não sei que, então não vale a pena se calhar, acho que um outro estágio a
292
meio do curso poderia ser, ou então a oportunidade de um, de um estágio maior, um
vínculo maior para determinadas pessoas que se fossem reconhecidas a nível superior de
conhecimentos, acho que era mais interessante até para o formando e era útil para a
sociedade civil se calhar.
Entrevistador - Última pergunta, que balanço é que faz do curso EFA que acabou
de decorrer na APD?
Entrevistada - Eu na minha opinião o balanço é positivo, como lhe digo, o
relacionamento com os formandos continua bom, continuam a querer envolver-nos em
determinadas coisas, os almoços que fazem e eu acho que o balanço é bom, não
conheço ao pormenor as relações pessoais entre eles, sei que há conflitos mas como lhe
digo, não tenho conhecimento, sei que ao nível da mediadora pois se calhar é capaz de
ser, ter sido mais intensa este trabalho, na minha opinião, na minha óptica no meu ponto
de vista a minha experiência foi muito boa e acho que as vezes é bom os cursos terem,
os módulos terem esta carga horária pequena ou então pontual ou agora 25 horas depois
daqui a um quanto tempo outras 25 horas porque também ajuda a que as relações sejam
saudáveis e, não, não, não desgasta muito também quer formadores, quer formandos.
Entrevistador - Ok, muito obrigado.
13. Entrevista 9 – P.P. – Formador da área tecnológica de Higienização dos
Espaços e Equipamentos num curso EFA da Associação para a Democracia.
Entrevistador – Perguntava-lhe quais são as suas habilitações literárias?
Entrevistado – Eu sou licenciado em enfermagem, tenho especialidade em enfermagem
de reabilitação e tenho mestrado em psicologia da saúde.
Entrevistador – E qual é a sua profissão?
Entrevistado – Enfermeiro.
Entrevistador – Que funções é que exerceu no curso EFA da APD?
293
Entrevistado – Da APD, portanto eu fui formador do módulo de Higienização de
Espaços e Equipamentos, que teve a duração de 50 horas.
Entrevistador – Exerce mais alguma função na organização onde trabalha, neste
caso no curso EFA exerceu mais alguma função?
Entrevistado – Não, no curso EFA não, portanto, agora tenho, ainda ligado com o
curso EFA e com a APD, agora sou o tutor dos estágios desses quatro formandos que cá
estão, mas, portanto, na parte teórica do curso foi só a responsabilidade desse módulo.
Entrevistador – Dá formação para mais alguma organização?
Entrevistado – Dou aulas no PIAGET ao curso de enfermagem.
Entrevistador – Portanto em termos da sua profissão, é enfermeiro aqui, não é?
Entrevistado – Hum, hum.
Entrevistador – E faz mais alguma coisa noutro?
Entrevistado – Portanto, só, ou melhor a única coisa que eu vou complementando aqui
a enfermagem, aqui no centro são algumas formações como foi esta da In Loco e as
aulas, a docência no PIAGET.
Entrevistador – Ia pedir-lhe para me descrever a sua trajectória profissional desde
que começou a trabalhar?
Entrevistado – Ok, então desde que comecei a trabalhar, comecei, o meu primeiro
emprego foi no, desde que acabei o curso, trabalhei antes, mas pronto, mas coisas mais
esporádicas e de Verão, não é? Acabei o curso de Enfermagem em Faro, fiz o curso em
Faro, quando acabei comecei a trabalhar no Centro de Saúde de Loulé, trabalhei lá um
mês, depois entretanto o meu objectivo sempre foi ir para o Hospital de Faro, mas como
demorou mais tempo a chamar acabei por aceitar Loulé primeiro, depois de um mês em
294
Loulé o Hospital de Faro chamou-me, fui para o Hospital de Faro, tive um ano, um ano
e pouco na Ortopedia, um serviço onde gostei muito de trabalhar, entretanto abriu o
CMR SUL onde trabalho agora, com umas instalações diferentes, onde era o sanatório
antigo, vim cá a uma entrevista, acabei por ficar, agradou-me o projecto, agradou-me o
espaço, fiquei aqui e estou cá desde que abriu, há quatro anos, pronto, e depois
entretanto, enquanto cá estamos e como é uma área muito especifica na reabilitação e
nós temos essa possibilidade de nos especificarmos nessa área, acabei então por tirar
especialidade na reabilitação para estar ainda mais dentro da área e mais à vontade na
área que estou a trabalhar.
Entrevistador – Em relação ao trabalho na formação, como é que aconteceu essa
entrada?
Entrevistado – Essa entrada aconteceu porque era uma área que sempre me despertou
interesse, fui tirar o curso de Formação de Formadores, entretanto a APD veio aqui
falar, entrou em contacto com os nossos recursos humanos à procura de enfermeiros
para dar formação que tivessem o CAP, não é? E então surgiu assim, os recursos
humanos falaram com alguns de nós, quem esteve interessado, portanto, fez chegar o
currículo a APD, fomos à entrevista e acabei por ficar.
Entrevistador – E a entrada no curso EFA? Foi através dessa forma que me está a
dizer?
Entrevistado – Foi. Foi a primeira vez que dei formação num curso EFA, foi aí com a
APD.
Entrevistador – Fazia agora uma pergunta de carácter mais aberto, se perguntasse
como é que é a vida de um formador que faz da sua actividade nos cursos EFA, o
que é que lhe ocorreria?
Entrevistado – Bem, eu acho que é uma vida, tem que se ter, é uma vida complicada,
tem que se ter paciência, normalmente são, depende dos grupos, mas há grupos que são
complicados de se dar formação, as pessoas não têm muito interesse, nem toda a gente
tem muito interesse naquilo que está a aprender, há pessoas que entram para o curso e já
295
não têm grande vontade de exercer aquilo para o qual estão a estudar e isso perturba um
bocadinho a sessão em si, não é? Mas de maneira geral e tem que se conseguir,
portanto, não é como dar aulas na universidade, é outro tipo de gente, de pessoas, não é?
Temos que conseguir motivá-los, não podemos pôr ali uma hora a ver slides que eles
desmotivam facilmente não é? Temos que arranjar outra coisa, jogos, para os motivar e
para os manter interessados naquilo que estamos a dar e pronto, acho que é mais ou
menos por aí, tem que se ter essa capacidade de dar a matéria mas tentando jogar com
alguma coisa, brincar para aqui, falar mais a sério ali e portanto, uma postura diferente
dum professor, digamos assim, de outro curso.
Entrevistador – Perguntava-lhe se considera que ser formador EFA é uma
profissão?
Entrevistado – Considero que sim.
Entrevistador – E se lhe perguntar no seu caso se se considera profissional da
formação?
Entrevistado – Se me considero profissional, não, eu não me considero profissional,
não tenho experiência na formação que me permita afirmar isso, tento fazer o meu
melhor mas não me considero profissional, profissional só de enfermagem.
Entrevistador – Portanto se perguntasse a profissão como disse ainda há pouco?
Entrevistado – Enfermeiro.
Entrevistador – Enfermeiro, não é. E como é que se situava a formação nesse…
Entrevistado – A formação surgiu num contexto de gosto pessoal, claro e também da
disponibilidade profissional, que há uma possibilidade e uma disponibilidade portanto
da minha entidade patronal de libertar certas horas para poder ir dar formação e porque
sem isso não seria possível, mas a formação surge por isso, por interesse pessoal, por
algum investimento da minha parte e pronto, foi assim que as coisas foram surgindo.
296
Entrevistador – Em relação às condições laborais e institucionais de quem trabalha
nos cursos EFA, no seu caso como é que isso funcionou? O vínculo profissional? As
condições remuneratórias? Como é que olha para essa questão?
Entrevistado – É assim, eu acho que, foi com, com recibos verdes, que funcionou, eu
acho que não foi nenhuma, não é tão bem pago como a formação, a formação dita cá
fora, não é? Noutros cursos ela tem fama, pelo menos, de ser uma área bem paga, ali
não, não foi, não foi uma área de outro mundo, foi uma formação até, mas eu considero
que foi um bom valor, até porque era uma coisa do Estado não é? E com fundos
monetários do governo, portanto eu acho que uma coisa bem paga, depois o vínculo, foi
um vínculo também normal para quem já trabalha, portanto acho que correu tudo bem.
Entrevistador – E quando diz um vínculo normal, qual era a espécie de vínculo
que, que estabelecia com a APD? Para eu tentar perceber?
Entrevistado – O vínculo que nós tivemos foi só, portanto, assinamos um contrato para
leccionar o módulo de 50 horas, em que, portanto, o contrato era mais ou menos como
delimitava bem o termo, era só para dar aquele módulo, um contrato assinado passando
recibos verdes, depois a parte da isenção, dessas coisas todas que depois mexem com os
recibos verdes, mas foi um contrato estabelecido para aquele módulo, pago com recibos
verdes.
Entrevistador – Alguma vez pensou abandonar a actividade como formador?
Entrevistado – Não.
Entrevistador – E se tivesse outras oportunidades para a dar formação nesta área
dos cursos EFA, voltaria a aceitar?
Entrevistado – A aceitar? Voltaria sem dúvida, acho uma área muito proveitosa e
gratificante, depois para ver a evolução que eles têm, ver o esforço deles, da vontade
deles de adquirirem essas novas competências, acho que sim, correu bem, gostei.
297
Entrevistador – Tenho aqui outra questão, tem a ver com o reconhecimento no
trabalho, se se sente reconhecido pela sua experiência como formador? Nesta sua
experiencia que teve?
Entrevistado – Eu penso que sim, eu acho que sim, da conversa, daquilo que nós
vamos depois conversando com os formandos e as coisas que ficam, é bom ver e
reconhecer, eles depois reconhecerem, o que é que nós ensinamos, o que é que é aquilo
que, é aquilo que realmente eles aplicam e sim sinto-me reconhecido, quer lá na APD
por aquilo, o trabalho que fiz, quer pelos formandos e até mesmo aqui no trabalho como
sabem que eu tenho essa outra actividade e acho que sim.
Entrevistador – Em relação ao trabalho pedagógico com os formandos, quais são
as dificuldades que sente no seu trabalho de formador e educador de adultos no
âmbito dos cursos EFA, ou seja, para fazer o seu trabalho, quais são as
dificuldades com que se depara?
Entrevistado – As maiores dificuldades para dar o curso, é isso?
Entrevistador – Sim.
Entrevistado – Bem, as dificuldades foram, portanto, conjugar o tempo aqui com, a
disponibilidade de tempo com entidade patronal, não é? Ter que acertar isso tudo muito
bem, depois em termos de recursos, portanto alguma dificuldade em alguma uma ou
outra coisa que tinha que feito mais falta, mas de uma maneira geral até estava tudo
mais ou menos disponível, não tive assim grandes dificuldades, eu posso-lhe, portanto,
as pessoas puseram-me à vontade, deram-me todo o tipo de recursos, quando era preciso
fotocópias, quando era preciso data-show, quando era preciso, mas de maneira geral não
tenho nada a apontar.
Entrevistador – E na relação com os formandos, alguma coisa que lhe…
Entrevistado – Não, a relação com os formandos correu bem, eu acho que consegui
estabelecer uma boa relação com eles, lá está, usando algumas estratégias mais, umas
vezes mais brincadeira, outras vezes mais a sério, porque era uma área também nova
298
para mim e tínhamos que estar todos atentos, não era só eles, mas eu acho que, que foi
uma boa relação, não houve problemas, não houve conflitos, não, nada, eu acho que
correu bem.
Entrevistador – E em relação aos aspectos gratificantes da sua actividade como
formador, o que é que destacaria?
Entrevistado – Bem, eu acho que o facto de nós transmitirmos conhecimentos a outra
pessoa e essa pessoa poder vir a utilizá-los na vida futura e serem úteis, é, excelente, o
sentimento não é? Nós sabermos que vamos ser úteis na vida daquela pessoa e acho que
ai é o que acontece, acho que sabemos que nem todas vão, poderão ter trabalho na área,
mas estão a estagiar e estão a trabalhar para isso e aquilo que eles estão a aplicar e que
aprenderam é um bocadinho de cada um de nós, dos formadores e isso é importante.
Entrevistador – Em relação ao funcionamento do trabalho mais em equipa, vocês
trabalham muito com uma coisa que é o trabalho curricular em torno dos temas de
vida, não sei se foi no seu caso?
Entrevistado – Não, o meu módulo não fazia parte, digamos assim ou não havia
nenhuma componente que se ligasse ao tema de vida que eles fizeram, eu aí participei
muito pouco no tema de vida, foi apenas ir ver o trabalho quando eles acabaram e ouvir
a opinião de cada formador da evolução que eles tiveram e tudo mais, mas sobre o tema
de vida não estive muito ligado.
Entrevistador – E costuma haver as reuniões de planificação, chegou a participar
em alguma reunião?
Entrevistado – Sim.
Entrevistador – Como é que essas reuniões se…
Entrevistado – As reuniões, nós juntamos os formadores e vamos conversar sobre os
aspectos positivos e negativos daquela turma, portanto, quem é que se está, digamos
assim, a portar menos bem, onde é quem é que temos que investir mais, como é que
299
vamos conseguir aquelas duas pessoas estejam mais atentas, as maiores dificuldades,
aquilo que correu bem e que se calhar temos que investir por aí, funciona assim essa
reunião.
Entrevistador – Ficou com a percepção que os formadores em geral costumam
aderir às reuniões de planificação ou sentiu que há alguma dificuldade em
mobilizar, os colegas para reunir?
Entrevistado – Hum, não foi muito fácil, mesmo falando por mim, também houve duas
ou três reuniões, eu só fui a uma, que não foi muito fácil, nem da minha parte e penso
nem da parte de todos, não foi, acho que foi uma coisa geral, juntarmos toda a gente não
foi fácil, até porque depois a informação chegava depois via email com o resumo
daquilo que tinha acontecido.
Entrevistador – As razões para essa dificuldade de em reunir com que ideia ficou
sobre isso?
Entrevistado – Eu penso que as pessoas, quando, da ideia que eu fiquei foi que quando
não conseguimos reunir na formação é porque as pessoas estavam a trabalhar noutro
sítio, portanto acho que, conjugar as duas coisas, portanto as pessoas têm que fazer uma
ginástica muito grande, poucos eram os exclusivos da APD e desse curso, havia muita
gente que trabalhava fora e depois ia dar formação, então a ginástica era grande já para
conseguir dar a formação então por vezes não se conseguia encaixar o horário da
reunião, eu penso que tenha sido mais por aí.
Entrevistador – Em relação ainda o seu trabalho pedagógico com os formandos faz
mais um trabalho com o grupo, faz mais um trabalho individualizado, como é que
isso se passa?
Entrevistado – Não, eu trabalho mais, a não ser que detecte que alguém tem mais
alguma dificuldade diferente da do grupo, neste caso neste grupo até havia alguém mais,
com mais dificuldades, eu gosto de trabalhar numa maneira geral, pondo toda a gente a
fazer actividades e a mexer, digamos assim, fazerem fichas, eles fazerem perguntas,
irem cada um ao quadro, tentando fazer da forma mais interactiva possível, quando vejo
300
como foi o caso deste grupo que à uma pessoa que está um bocadinho mais atrás do que
eles, tento ou ficar um bocadinho, por exemplo aconteceu duas ou três vezes antes de
eles irem para o intervalo, ficamos um bocadinho mais a conversar, tirar algumas
dúvidas, enquanto eles acabavam mais cedo o trabalho ia ter mais com essa pessoa e
tentava perguntar algumas coisas que ela tenha, que eu tinha visto que ela tinha feito
mal e tirar algumas dúvidas, penso tem que ser, ir jogando.
Entrevistador – Eu gostava de perceber também um pouco a forma como procura
orientar a sua actuação no trabalho com os formandos ou seja o módulo é de…
Disse ainda há pouco?
Entrevistado – Higienização de Espaços e Equipamentos.
Entrevistador – Espaços e Equipamentos, quais são as suas preocupações, como é
que procura funcionar?
Entrevistado – Hum, a minha preocupação, a primeira preocupação foi eu dominar o
tema que também não o dominava antes de começarmos e depois a partir daí como
eram, algumas coisas eram complicadas, para eles poderem absorver, como o nome dos
vários desinfectantes, os compostos, algumas coisas assim, mais confusas, eu tentei
orientar as coisas de maneira a que eles não vissem naquilo uma matéria aborrecida e
maçuda e tentassem ver naquilo alguma coisa que os pudesse fazer, estar mais atento,
levei alguns detergentes para lá, para eles poderem fazer identificação dos rótulos,
andavam a passar detergentes uns para os outros, fizemos cartazes, fizemos cartolinas,
alguma coisa que eles conseguissem estar a mexer, estar a mexer com a matéria mas
sem me estar a ouvir falar a mim, não é? Se não eu estar a falar de desinfectantes e do
c4 e do não sei do quê, eles não me iam estar a ouvir, então tentei procurar ir por aí,
para que eles mexessem mais e tivessem mais alguma coisa, que conseguissem absorver
mais.
Entrevistador – Que competências é que considera essenciais para exercer a sua
actividade como formador no curso? Num curso de educação e formação de
adultos, deste género?
301
Entrevistado – Eu penso que dominar o tema é fundamental não é para poder
esclarecer as dúvidas todas, não deixar que eles fiquem com dúvidas, depois penso que
é necessário saber fazer uma boa articulação entre a teoria e a prática, não se pode
querer fazer, se isso é quase norma geral para todos os cursos, para um curso EFA então
acho que ainda mais importância ganha, não se pode querer fazer um curso EFA só com
teoria, tem que se arranjar uma maneira de eles, serem eles, a fazer e serem eles a
mostrar, estarem interessados. Porque queremos que eles estejam lá, porque eles vão lá
porque não podem faltar, não é? Mas nós queremos que eles estejam lá para que
aprendam e para isso eu acho não pode ser só teoria, tem que haver outra parte, acho
que essa articulação entre uma coisa e a outra, saber quando é que falamos um
bocadinho da teoria, agora vamos pô-los a eles a trabalhar, essa articulação é
importante, depois é importante ter alguma paciência, é normal, não é? E ter capacidade
para explicar as coisas mais de que uma vez, o ter sempre o sorriso na cara para
conseguir falar sempre com as pessoas para que ninguém ficar intimidado porque
podem ficar intimidadas então ai é que nunca mais conseguimos que elas se abram
connosco, acho que é por ai.
Entrevistador – Quando está a dizer que não se pode dar um curso EFA só com
teoria pode-me explicar um pouco melhor?
Entrevistado – Eu acho que é, que é regra geral para tudo, para qualquer tipo de curso
para qualquer aula que se leccione, acho que é fundamental articular as duas partes e no
curso EFA aquilo que eu senti neste módulo é que se não fizéssemos as coisas, claro
que não fiz tudo bem, como é óbvio não é? Acho que podia melhorar algumas coisas,
mas tive a experiência, as primeiras, eu nunca tinha dado um curso EFA e as primeiras
duas horas de curso que dei, foram um desastre, porque eu não ia com esta parte
preparada, eu ia preparado para, portanto, levei os slides em PowerPoint, ia preparado
para, fizemos um jogo de interacção para começar, para conhecer o grupo e depois fui
preparado para explicar a matéria a cada um deles ao grupo não é? E depois tirar
dúvidas, era isso que eu ia preparado e foi, como era uma matéria muito maçuda, foi
uma catástrofe quase, porque eles não estavam atentos, não percebiam, não os
conseguia captar, faziam muito barulho e não, não consegui que eles estivessem atentos
e que aquilo fosse minimamente retido e então a partir desse dia, até comentei com a
coordenadora do curso que ia mudar a minha postura porque não conhecia, o erro inicial
302
foi meu e a partir daí mudei e senti claras melhoras, então acho que o curso EFA tem
que ir muito, muito por aí, como digo qualquer curso, mas como agora estamos a falar
do curso EFA, acho que temos que ir muito por aí, tantos módulos que eles tiveram
como o Cuidados de Saúde ou Cuidados de Higiene, Lavandaria, tudo isso, se eles
poderem fazer e mexer estão sempre mais atentos e captam mais do que só a ouvir-nos e
foi isso que eu tentei fazer no meu módulo.
Entrevistador – Em relação ao perfil dos formandos que frequentaram este curso
EFA, gostava que me desse uma breve descrição, como é que é o perfil dos
formandos?
Entrevistado – A grande maioria deste grupo era, portanto, havia uma pessoa que era a
mais jovem de todas, cerca de vinte anos, pouco mais, o resto era a grande maioria de
pessoas mais velhas, pessoas já na casa dos quarenta, alguns com cinquenta, portanto
era um perfil com pessoas com mais, mais experiencia, umas nesta área, outras nem
tanto, mas pessoas já com mais alguma idade, depois havia pessoas com, no meu
módulo senti que eram pessoas educadas, não houve faltas de educação, agora senti que
havia algumas situações em que era preciso algum tacto para evitar discussões ou para
poder passar a aula com melhor ambiente e que às vezes faltava esse tacto em cada uma,
em algumas das pessoas, mas na maneira geral foi um grupo que as pessoas mais novas
gostavam um bocadinho de conversar, normal, mas de maneira geral foi um grupo
educado e com vontade de aprender e quando nós, como lhe digo, quando os pus a
mexer e eles corresponderam e podia ter sido um grupo com pouca vontade, mas não
senti isso.
Entrevistador – Sentiu diferenças ao nível de empenhamento dos formandos face a
formação?
Entrevistado – Senti diferenças face…
Entrevistador – Ao nível do empenhamento dos formandos?
Entrevistado – Senti, senti diferenças, nós tínhamos um grupo, começou com dezoito
ou dezanove formandos, foi com uma ou duas desistências, baixou um pouco o número,
303
mas havia, dentro desse grupo havia pessoas que se esforçavam mais do que outras,
havia pessoas que tinham mais capacidades do que outras, mas senti que havia ali
diferenças entre eles, havia pessoas, talvez não sei se daquilo que falamos à pouco, se
alguns tinham ou não vontade de depois exercer outros não e havia pessoas que não se
empenhavam, portanto isso notava-se.
Entrevistador – E em relação à aprendizagem com é que, em relação ao
desempenho notou diferenças também?
Entrevistado – Em relação ao desempenho, nós fizemos, portanto o método de
avaliação foi uma avaliação, duas frequências escritas, com muitos trabalhos, com a
participação na aula e também no desempenho houve diferenças, diferenças umas mais
notórias que outras mas claramente pessoas com mais dificuldades, tiveram
desempenhos menos bons, digamos assim.
Entrevistador – Tenho aqui uma questão que de certa forma já abordou, se
costuma haver conflitos no espaço da formação?
Entrevistado – É assim, eu da minha experiência sim. Ou no meu grupo ou pelo menos
no meu intervalo ou até no final da minha aula houve uma vez em que as pessoas não,
havia alguns indivíduos, elementos que não se davam muito bem e houve alguns
conflitos e picardias com alguns tipos de agressividade verbal e que, não foi muito
benéfico pelo menos para esse dia de formação, mas a experiência que os outros
formadores me contam também é uma coisa frequente, costuma existir nos cursos EFA,
algum atrito entre os elementos.
Entrevistador – Em relação ao seu trabalho com os outros colegas que intervieram
no curso EFA, como é que aconteceu esse trabalho com os outros colegas?
Portanto considera que é um trabalho que é mais partilhado, um trabalho que se
faz de forma individualizada, como é que…
Entrevistado – É assim, eu acho que o trabalho é um bocadinho mais individual, cada
um organiza as coisas de maneira que pensa melhor, a parte que é importante, o trabalho
de equipa e a comunicação é essas tais reuniões onde nós podemos explorar cada um o
304
seu, eu já explorei, fui por este caminho e não deu resultado, posso dizer ao outro
colega, que por aqui não vale a pena, aí sim acho que a comunicação pode ser
importante, em termos de preparação de trabalho acho que é um método mais
individual.
Entrevistador – Com que frequência é que costuma encontrar os seus colegas de
formação? Por exemplo no seu caso, quais foram os timings ao longo…
Entrevistado – Ao longo do curso com que, pois talvez uma vez por mês, tenha sido
mais ou menos, mais coisa menos coisa, por aí, portanto as tais reuniões eram mais ou
menos marcadas assim e portanto, a que eu fui foi nesse período de tempo.
Entrevistador – O módulo do Paulo, aconteceu mais no início do curso ou foi mais
na parte final?
Entrevistado – Ora, mais ou menos a meio, mais ou menos a meio, eles já tinham
alguns meses de interacção em conjunto quando começamos o meu módulo.
Entrevistador – Na sua opinião, há algum aspecto de trabalho de formação com os
seus colegas que participaram no curso que acha que seria benéfico melhorar?
Entrevistado – Ao longo da formação teórica?
Entrevistador – Ao longo da sua intervenção, no curso EFA, se há algum aspecto
do trabalho com os seus colegas formadores que pense que poderia ser benéfico
para o…
Entrevistado – Eu penso que benéfico seria conversarmos sempre e comunicarmos
entre nós, portanto aí também é a parte e contra mim falo, que não fui às reuniões todas,
não é? Mas acho que é importante ir, para podermos conversar entre todos e ver o que é
que esta a correr menos bem, portanto estou a dizer uma coisa que faria de forma
diferente até mesmo para informar os colegas de como é que está a correr o meu módulo
não é? E como é que eles estão a lidar com ele, portanto acho que isso seria uma coisa
que faria claramente diferente, portanto o tipo de comunicação eu penso que a
305
periodicidade estaria mais ou menos adequada, mas a frequência às reuniões penso que
é fundamental ir às reuniões é uma coisa que eu mudaria.
Entrevistador – Chegou a fazer alguma actividade com os formadores da formação
de base no âmbito do tema de vida?
Entrevistado – Não. Não muito.
Entrevistador – Não. E algum trabalho mais colectivo com outros colegas da
formação profissionalizante?
Entrevistado – Fiz o meu módulo e depois entretanto acabou e vou mantendo o
contacto ainda indo às reuniões, apresentações de temas de vida e reuniões de
preparação para o estágio, mas não houve nenhum trabalho directamente entre nós.
Entrevistador – Tenho aqui uma pergunta ainda sobre a percepção dos trabalho
dos colegas, se sente diferenças no empenhamento do trabalho dos colegas
formadores para pôr em prática o modelo EFA, sente alguma diferença?
Entrevistado – Daquilo que me pude aperceber do contacto que tive com eles, não, não
me pareceu que houvesse diferenças por ser o curso EFA ou por ser outro qualquer,
acho que não foi por aí, a formação foi dada e com qualidade, não me parece que tenha
havido diferença.
Entrevistador – E em relação à sua relação com a entidade formadora não é? Que
tipo de relação manteve com a APD?
Entrevistado – Portanto tive uma relação sempre muito positiva, sempre desde o
primeiro dia que conheci a directora ou a coordenadora correu muito bem, as pessoas
muito afáveis, entendemo-nos sempre muitíssimo bem em termos de calendarização das
horas a leccionar e eu não tenho nada a apontar.
Entrevistador – Vê-se como trabalhador da entidade onde fez o trabalho da
formação?
306
Entrevistado – Se sou, sim, pelo menos durante este curso EFA sim, agora nos
próximos não sei, mas neste curso EFA, claro que sim.
Entrevistador – Identifica-se com a forma como a entidade perspectiva a formação
dos cursos EFA?
Entrevistado – Sim, eu concordei, achei uma forma positiva, portanto, parte prática, o
encadeamento dos vários módulos que tinha uma sequência, uma sequenciação lógica
não eram atirados ao ar e ver onde é que calhavam, portanto acho que sim e depois tudo
preparado para encarrilar os formandos para a parte prática, também essa preparação,
também correu sem incidentes, acho que sim, correu bem, organizaram bem o curso.
Entrevistador – Sente-se reconhecido pela entidade pelo trabalho que
desempenhou?
Entrevistado – Eu penso que sim, sinto-me.
Entrevistador – Tenho aqui dias ou três questões, não sei se o Pedro tem, terá a
informação que me possa, mas vou fazer a pergunta na mesma, já me diz. Tem a
ver com a possibilidade de haver alguma variação na forma como se faz o trabalho
de entidade para entidade, e a pergunta era, se na sua opinião os cursos EFA
funcionam de forma diferente consoante as entidades em que eles acontecem? Ou
seja se é a mesma coisa um curso EFA funcionar numa associação como a APD,
como no Instituto de Emprego, uma entidade privada, não sei se tem elementos
que me possa?
Entrevistado – Muito pouco, não tenho base de comparação que me permita responder
a isso, eu esperava, eu espero que não, que seja sempre igual como os mesmos critérios,
mas não lhe sei dizer se sim ou não.
Entrevistador – No caso da avaliação do seu módulo, como é que fez a avaliação?
307
Entrevistado – Portanto a avaliação do módulo foi feita, baseada nos pressupostos que
a associação tinha, portanto x por cento para a avaliação que foi prescrita, que foi feita
em duas fichas de avaliação, depois havia uma percentagem para a assiduidade,
comportamento e participação, portanto, respeitando esses pressupostos, foi assim que
feita a avaliação do módulo.
Entrevistador – Portanto, havia uma grelha que foi fornecida pela entidade?
Entrevistado – Sim.
Entrevistador – E produziu uma nota quantitativa, eles tiveram uma classificação?
Entrevistado – Tiveram uma nota quantitativa.
Entrevistador – Tiveram. E ao nível da periocidade da avaliação?
Entrevistado – Nós fizemos uma frequência, fomos fazendo várias fichas ao longo e
vários trabalhos que foram importantes para a avaliação, depois a ficha de avaliação,
fizemos mais ou menos em meio e outra mais perto do final, foi assim, fizemos as duas
fichas, os dois momentos da avaliação foram mais ou menos assim calendarizados.
Entrevistador – E depois a avaliação foi feita no final?
Entrevistado – Exactamente, foi feita no final do último, portanto depois da última
ficha de avaliação, portanto, eu reuni esses valores todos e voltamos a conversar em
contexto de sala de formação sobre a avaliação final.
Entrevistador – Na sua opinião, de que modo é que é importante o trabalho do
mediador do curso EFA, como é que olha para essa questão?
Entrevistado – Eu acho que é muito importante, não é um trabalho fácil, eu acho que
daquilo que eu vi durante a minha formação, o curso que leccionei lá e também a
ligação que vejo agora com a parte de estágio, acho que o mediador tem um papel
importante, em portanto manter a equipa, portanto a turma toda motivada, toda reunida,
308
não deixar que as pessoas abandonem e que se dispersem e ter que ouvir sempre as
queixas de todos e conversar com todos e dar-se bem com toda a gente, eu acho que é
um papel importante do curso.
Entrevistador – Tenho aqui um último conjunto de questões que têm a ver com a
Iniciativa Novas Oportunidades e perguntava ao Paulo, qual é a sua opinião em
relação à Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistado – Eu acho que é uma boa iniciativa do Estado, eu acho que obriga,
obrigou as pessoas a, voltarem a trabalhar, a voltarem a olhar para um computador,
muitas nunca tinham olhado para um computador e acho foi importante fazer com que
as pessoas vissem que a experiência de vida que têm pode e vale muita coisa e obrigouas também a lidar um bocadinho mais, a lidar com as novas tecnologias que há hoje em
dia, eu acho que é uma coisa muito positiva.
Entrevistador – Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na
vida dos adultos formandos?
Entrevistado – Eu acho que sim, acho que tem, o impacto social e cultural que terá o
novo ano, digamos assim, lectivo, com que agora ficam, o novo grau não é? Pode ter
efeitos e tem nalguns que eu conheço, mesmo em termos de promoção no local de
trabalho, subida de posto, por aí, penso que é importante.
Entrevistador – O que é que acha da opinião que a iniciativa Novas Oportunidades
promove o facilitismo?
Entrevistado – Não, não me, não acho bem, não concordo e espero que não seja assim.
Portanto, acho que as pessoas, quer novas oportunidades, quer não, têm que merecer
aquilo pelo qual estão a lutar e acho, é uma nova oportunidade as pessoas têm que fazer
um bom trabalho e quando tiverem um bom trabalho, sim senhora acabam o curso e
quando não tiverem têm que se esforçar para chegar lá, espero que não seja nada disso e
acho que não é.
309
Entrevistador – E qual é a sua opinião sobre os cursos EFA, a partir da sua
experiência?
Entrevistado – Hum, eu acho que é um curso, que são cursos importantes, são cursos
importantes porque, além do factor básico, digamos assim, de tentar dar trabalho às
pessoas que não têm, não é? Acho que as pessoas ganham formação importante, por
exemplo, este curso é um curso importante. Não há. Eu se quisesse contratar um auxiliar
aqui para o Centro, não há, não há cursos e estas pessoas conseguem ter muita formação
na área daquilo que nós fazemos aqui e são muito importantes, para nós que até vamos
possivelmente contratar alguém e realmente por causa disso, pronto eu acho que um
curso EFA é muito importante para o desenvolvimento de cada um e pronto no
desenvolvimento de expectativas em termos de emprego não é?
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta que vai nesse sentido, se acha que os
cursos EFA têm efeitos na vida dos formandos em termos de vida futura?
Entrevistado – Sim, eu penso que sim, sem dúvida, haverá com certeza muitas
instituições que pensarão o mesmo que nós e que recebem com agrado pessoas com
formação na, falando especificamente neste módulo, neste curso e nós somos uma
dessas instituições e que vamos sem dúvida contratar um dos elementos deste curso para
colmatar algumas ausências da nossa equipa.
Entrevistador – Na sua opinião o que é que poderia ser melhorado no
funcionamento dos cursos EFA?
Entrevistado – Pois, melhorar, eu acho que, eu embora compreenda que seja
complicado, gerir toda uma vida que as pessoas têm, são pessoas com uma vida já feita
não é? Com filhos, com marido, com isso tudo, acho que é importante ter um papel
activo na assiduidade de cada um, não podemos, não se pode amolecer nessa área, foi
uma coisa que eu também tinha uma ideia errada quando entrei no curso, pensava que as
pessoas podiam não ir tanto às aulas e isso eu apercebi-me que neste curso não, não foi
assim, embora sei de outras pessoas que me falaram que não tenha sido assim, portanto
acho que isso é uma coisa importante que se deve ter em conta, não é só o curso em si
que eu leccionei, o módulo que leccionei, acho que as coisas correram bem, eu acho que
310
agora, o balanço positivo e acho que vê-se agora aqui na parte prática e agora podemos
constatar aqui, eles quando vieram para cá estagiar, eles têm essa possibilidade.
Entrevistador – Era mesmo essa, era a ultima pergunta que eu tinha para, para
acabarmos, era qual o balanço que faz do curso EFA?
Entrevistado – Acho que é muito positivo, toda a gente aqui no centro está muito
satisfeita com esses quatro formandos que temos cá a estagiar, o balanço tem sido
sempre muito bom, temos recolhido muito boas impressões e portanto só mostra a
importância e a força que este curso tem na vida destas pessoas e que e na nossa
instituição o impacto que deixou.
Entrevistador – Quer dizer que o estágio está a correr bem?
Entrevistado – Está, o estágio está a correr, eles fazem o estágio de três semanas e
pouco, cento e vinte horas, termina agora no início de Agosto, mas está a correr
muitíssimo bem, eles tem passado pelas diversas áreas que nós temos aqui e estão a
portar-se muito bem.
Entrevistador – Ok, agradeço lhe imenso este bocadinho.
13. Entrevista 10 – Adel. – Formadora da área tecnológica de Lavandaria e
Tratamento de Roupa num curso EFA da Associação para a Democracia.
Entrevistador - Quais são as suas habilitações literárias?
Entrevistada - Sou licenciada em Ciências Sociais.
Entrevistador - Qual é a sua profissão?
Entrevistada - Sou formadora. Quer dizer, eu tenho duas profissões, neste caso se
calhar três, eu trabalho no hospital, portanto sou Assistente Técnica no hospital, sou
formadora e sou professora contratada.
311
Entrevistador - Portanto no caso como professora contratada, dá aulas?
Entrevistada - Na Secundária João de Deus, e já dei na Pinheiro da Rosa e já dei na
Secundária de Vila Real.
Entrevistador - E no âmbito do curso EFA, que funções é que desempenhou no âmbito
do curso EFA da APD?
Entrevistada - Fui formadora num módulo.
Entrevistador - E qual era o módulo?
Entrevistada - Tratamento de Roupa e Lavandaria. Isto porque eu tenho um curso de
Animação Sociocultural, sou animadora e na altura em que eu comecei a dar formação
na área dos EFA, normalmente dava formação na área de animação e os EFA, quer
dizer, aqueles que eram de Apoio à Comunidade e os outros que eram de Assistente de
Geriatria, tinham uma vertente para além da animação que tem a ver com a Higiene e
Segurança, e pronto não há grandes pessoas habilitadas na área. Eu como do outro lado
da profissão sou técnica na área administrativa e fui responsável durante algum tempo
pelo aprovisionamento e pela cozinha, portanto havia uma área que eu basicamente
dominava, não é? Pronto. A nível de higienes, e ministrei, essa área e também, na área
de animação que ao fim e ao cabo é minha, não é?
Entrevistador - Deu formação em mais algum curso EFA, para além deste da
Associação?
Entrevistada - Vários, eu comecei a dar formação nos EFA, em 2000.
Entrevistador - E para que tipos de entidades?
Entrevistada - Na APSD, na EPAR, também na APD, na Fundação da Juventude,
mais…
312
Entrevistador - Essas siglas iniciais, isso quer dizer o quê?
Entrevistada - Ora a APSD, era Associação de Promoção e Solidariedade ou uma coisa
assim.
Entrevistador - Era uma entidade?
Entrevistada - Era uma entidade de Lisboa que teve dois cursos de formação aqui em
Faro. A EPAR é uma escola, funciona em Lisboa também, que deu formação em
Portimão, o Instituto da Juventude, é o nosso aqui, não é? Dei também para a ANJE,
mais…
Entrevistador - Portanto, nessas entidades era tudo cursos EFA?
Entrevistada - Sim, sempre EFA, a ANJE, não. A ANJE não era EFA, era, só que era
um NS, portanto eram os EFA Secundários.
Entrevistador - E dava formação em módulos diferentes? Ou…
Entrevistada - Não, dava formação exactamente nestas áreas, portanto, nestes módulos.
Entrevistador: Pedia-lhe para me descrever a sua trajectória profissional desde
que começou a trabalhar até a entrada na formação e nos cursos EFA. Como é que
isso aconteceu?
Entrevistada - Como é que eu comecei, aliás quando acabei o 12º, o objectivo de vida,
o meu objectivo de curso na altura, era ir para Engenharia, para Agronomia. Na altura
os meus pais disseram, para Lisboa não, ficas cá em baixo, e eu entendi, a minha mãe
queria que eu fosse para enfermagem, eu disse enfermagem não, quer dizer e então fui
trabalhar para o Instituto Geográfico Cadastral, depois concorri ao hospital, nos
concursos para hospital, entrei no hospital, depois tirei Engenharia Hortofrutícola, só
que entretanto não fiz estágio, continuei a trabalhar no hospital, mas dei sempre
explicações, portanto, e depois pensei, bom isto, vou mudar de área, como sempre dei
explicações acabei depois por fazer formação de formadores porque fui coordenadora
313
regional do SINTAP, do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública e na
altura nós tínhamos uma série de cursos para os trabalhadores e foi-me proposto na
altura, olha temos cursos, se tiveres CAP acabas por dar formação, assim o fiz, depois
tirei Ciências Sociais na Universidade Aberta e comecei a dar formação, dei explicações
e comecei a dar formação, deixei de dar formação há para aí dois anos, no ano passado
ainda dei, foi o último que dei, foi esse da APD e depois um aqui, deixei de dar
formação porque é assim a formação não compensa pelos encargos que traz depois, não
é? Até que optei por começar a dar aulas.
Entrevistador - Perguntava-lhe, uma pergunta de carácter mais aberto, mais geral,
se lhe perguntasse como é que é a vida de um formador que faz a sua actividade
nos cursos EFA o que é que lhe ocorreria?
Entrevistada - É gratificante, a nível pessoal, porque é assim, nós conhecemos pessoas
com experiências de vida, eles ensinam-nos muito, e pronto é assim, eu sempre sempre
tive a sorte, digamos, de todos os cursos EFA em que dei formação, aquelas pessoas
eram pessoas carenciadas quer a nível financeiro, quer a nível pessoal, e é gratificante
nós chegarmos ao fim de um, de um ano de estar com eles e vermos que aquelas
pessoas mudaram e que nós lhes demos, que elas nos ensinaram muito, mas nós também
lhes ensinamos a ter atitudes e comportamentos na vida que eles se tinham desabituado
em determinada altura da vida deles, eu acho que isso é o mais gratificante, o menos
gratificante é que levamos N de tempo para receber o dinheiro, quando por vezes
também não recebemos, que há umas entidades que fecham as portas e ficam-nos a
dever. A nível de trabalho é muito gratificante porque eles absorvem tudo o que nos
lhes dizemos, são, às vezes digo que eles voltam a ser crianças, coisa que por exemplo
não acontece em grupos normais não é?
Entrevistador - Considera que ser formador EFA é uma profissão?
Entrevistada - Considero que ser formadora é uma profissão. EFA se calhar, o ser
formador EFA exige de nós mais qualquer coisa do que o ir lá só leccionar a matéria, e
é assim, leccionar a matéria e nas formações, existe um referencial, portanto não existe
inclusivamente um programa e muitas vezes o público que temos, eles não têm, ou
porque já se esqueceram, não têm capacidade de nós lhes darmos realmente aquele
314
conteúdo programático que será, entre aspas, obrigado a darmos em contexto de aulas,
mas que podemos transmitir uma série de conhecimentos práticos que lhes são úteis,
talvez não a nível profissional porque é assim os cursos EFA a maior parte das vezes as
pessoas acabam por não ter saída profissional não é? Porque aquelas histórias dos
estágios, eles realmente vão estagiar mas raramente ficam nas entidades não é? Há
outras pessoas que em tempos, hoje em dia penso que isso já não acontece porque já
existe algum rigor pela parte da Direcção Regional que não havia antigamente, é que
havia pessoas que a profissão deles era formandos em cursos EFA, não é? Porque não
acabavam um curso, entretanto inscreviam-se noutro, uma vez que os EFA eram
financiados, não é? Eles tinham ali uma forma de, uma profissão, os formandos
passavam a ser, a profissão deles era formando.
Entrevistador - E quando me diz ai que ser formador EFA exige mais qualquer
coisa, o que é que…
Entrevistada - Eu acho que exige dar mais de nós enquanto pessoa do que
propriamente enquanto formador, pronto, eu dou-lhe alguns exemplos e ontem foi um,
eu tenho formandas, pessoas a quem já dei formação há cinco ou seis anos que ainda
hoje me ligam, portanto, fica uma amizade exterior ao contacto aluno/professor,
digamos. Enquanto nos outros, nas outras áreas, pronto, eu já dei cursos de
aprendizagem e neste momento lecciono profissionais e currículos e CEF, portanto
aquela, acabo por ter a relação professor/aluno não é? E nos EFA essa relação não
existe. Existe mais a relação formador/formando digamos. A relação é diferente talvez
porque as pessoas já são adultas, a nossa relação é diferente.
Entrevistador - Se perguntasse se se considera no seu caso uma profissional da
formação?
Entrevistada - Não, não me considero.
Entrevistador - Se perguntasse qual era a sua profissão efectivamente, o que é que
me diria?
315
Entrevistada - A minha profissão efectivamente é funcionaria pública, quer dizer,
formadora como profissão não, não me considero, isso não é o que me, ou seja, a
formação ajuda-me a nível financeiro pronto, e é verdade não é? Mas é assim, não é o
meu único ganha-pão, quer dizer, é uma coisa que eu gosto, eu sou formadora porque
gosto de leccionar, gosto de ensinar, também gosto de aprender, eu não sou formadora
por carreira, porque senão tinha ido para professora não é? Era docente.
Entrevistador - E em termos de condições laborais e institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, estava-me a falar ainda há pouco?
Entrevistada - É assim, em relação a isso, as entidades, pelas mais variadas razões, o
formador é sempre o último a que eles pagam, não é? Ou seja, por vezes nós
inclusivamente passamos recibos, temos que pagar IVA e somos ressarcidos desse
dinheiro se calhar passado seis meses ou um ano. Portanto e o fazer a vida de um
formador só, portanto a pessoa que só vive da formação, não é o meu caso, é muito
complicado, porque é assim, as contas no final do mês da formação nunca são certas,
nós podemos ou não receber das entidades e há algumas entidades inclusivamente, a
mim não me aconteceu mas tenho colegas meus, dos quais ficaram, a entidade fechou,
não receberam o dinheiro, mas o IVA, obrigatoriamente tiveram que o pagar, porque é
assim, normalmente na formação como é que funciona? Nós emitimos o recibo para a
entidade poder ser ressarcida o dinheiro e depois é que nos paga a nós.
Entrevistador - Em termos do vinculo profissional, que tipo de vinculo é que…
Entrevistada - Não temos vínculo, somos trabalhadoras independentes, trabalhamos a
recibos verdes, fazemos descontos para a Segurança Social obrigatoriamente quem só é
formador, portanto, no meu caso não, uma vez que faço descontos para a Segurança
Social, sou contratada, portanto caso não fosse pois teria de fazer os descontos, não
temos férias, não temos subsídios de férias, não temos nada, é-nos paga à hora
consoante o módulo, portanto X horas de formação, cada hora é X, e ponto.
Entrevistador - Alguma vez pensou em abandonar a sua actividade como
formadora?
316
Entrevistada - Não.
Entrevistador - E se tivesse outras oportunidades profissionais, ocupacionais,
mudaria?
Entrevistada - Deixar de dar formação não.
Entrevistador - Ainda em relação aos cursos EFA, como é que vê o papel nos
cursos EFA na sua vida profissional futura?
Entrevistada - Como assim?
Entrevistador - Se tivesse que voltar a dar formação nos cursos EFA?
Entrevistada - Daria, sem dúvida.
Entrevistador - E se se sente reconhecida no seu trabalho como formadora?
Entrevistada - Sinto.
Entrevistador - Estava-me a falar ainda há pouco dos aspectos gratificantes?
Entrevistada - Exactamente, sinto-me reconhecida exactamente nesse aspecto, não
pelas entidades, quer dizer pelas entidades também graças a Deus não tenho razão de
queixa não é? Em relação as entidades não há reconhecimento nem deixa de haver, quer
dizer, pronto, a entidade tem o formador e ponto. Mas é assim, em relação aos
formandos, ao grupo, sinto, porque em todos os grupos com os quais tenho trabalhado,
ficou sempre uma amizade, que é bom e pronto, e alguns, algumas dessas pessoas, hoje
em dia eu encontro-as e estão a trabalhar, pronto, se calhar não na área em que do curso
em que tiraram, mas adquiriram alguma habilitação e tornaram-se pessoas diferentes e
passam por mim na rua, ou telefonam-me ou pelo Natal enviam-me uma mensagem,
quer dizer é bom saber que no fundo nós, alguém se lembra de nós, não é pelo conteúdo
funcional, porque é assim, os cursos EFA a nível de aprendizagem, se nós formos falar
da aprendizagem, pronto nós não fazemos testes, não é? Portanto, a aprendizagem do
317
conteúdo programático, não é, eles não saem de lá como sai por exemplo um aluno do
9º ano, porque não há hipótese não é? Mas as outras aprendizagens é isso que é
gratificante, quer dizer, é aquelas pessoas, umas se relembrarem de coisas que fizeram e
outras adquirirem alguns conhecimentos e tornarem-se pessoas diferentes, porque eu
acho que os objectivos dos cursos EFA, na minha opinião, são aquelas pessoas que em
determinada altura da vida delas tiveram que por N razões, suspender o seu percurso
escolar, poderem ter outra oportunidade, quer dizer, eu acho que é um bocado o tentar
que a sua auto-estima volte a ser aquilo que era, é um bocado por aí, não é propriamente
pelo conhecimento que as pessoas adquirem, porque a nível de conteúdos programáticos
ou de aprendizagem ou de matérias leccionadas dá-se o que se calhar se dá a um miúdo
do 4º ano, não é?
Entrevistador - Ao nível das dificuldades que sente no seu trabalho como
formadora de formação de adultos?
Entrevistada - As dificuldades que normalmente sinto é que, por exemplo, na minha
área, porque é específica, é que não tenho o equipamento necessário para trabalhar, ou
seja por exemplo, eu quando dou o módulo de animação de idosos ou de animação, em
que é necessário haver uma série de estruturas para que se possa fazer algumas coisas
práticas, não temos. Quando dou por exemplo os módulos de Higienização dos Espaços
ou Lavandaria ou Tratamento de Roupa, existem alguns mecanismos que é necessário
as pessoas verem, quer dizer, pronto isto é assim um exemplo. Uma lavandaria
hospitalar não funciona da mesma forma que funciona ali o 5ASEC, ou por exemplo
funciona a lavandaria de um lar ou de um infantário, não é? Os percursos, esses
pequenos pormenores técnicos, nós o que é que fazemos, só os podemos mostrar em
suporte, não é? De resto, salvo raras excepções que se consegue, e o que é que acontece
muitas vezes, é que as próprias entidades têm realmente esses cursos mas depois a
prática, a parte prática que eu julgo que é o importante num curso EFA, é as pessoas
desenvolverem o seu lado, porque é assim, um curso EFA é suposto a pessoa ser
inserida a seguir no mercado de trabalho, não é? Dá dois tipos de habilitação, dá-lhe
uma habilitação académica e uma habilitação profissional, não é? Portanto, essa
habilitação profissional, se nós formos comparar a habilitação profissional, esse tal
certificado profissional em relação aos outros países da União não é? Não tem nada a
ver não é? Porque eles têm lá o certificado do nível 1 que, é geral, é generalista e dá
318
para qualquer país não é? Que tem aquela profissão e enquanto profissionais técnicopráticos não têm.
Entrevistador - E ainda em relação às dificuldades, mais alguma coisa que ocorra,
como na relação com os formandos por exemplo, como é que isso se passa?
Entrevistada - A relação com os formandos, é assim, eles a nível de aquisição de
conhecimentos teóricos por vezes é muito complicado, uns, pronto, derivado à idade
não é? Os formandos também, e o que acontece por vezes é que os grupos EFA são
bastante heterogéneos, ou seja, nós temos por exemplo jovens dos 21, pronto, no
entanto já têm um percurso de vida, depois temos pessoas de 50 e 60 anos, quer dizer, é
lógico, que a capacidade quer de assimilação de uma jovem de 20 anos ou de um jovem
de 25 anos é diferente de um de 60, sem dúvida não é? Inclusivamente hoje em dia que
utilizamos as TIC para tudo, um jovem de 20 anos domina tudo, e se calhar uma pessoa
já com 40 ou 50 que nunca viu um computador à frente, é muito mais difícil para ele se
conseguir adaptar não é? A nível de conhecimentos, claro que se calhar uma 4ª classe
quem fez há 50 anos atrás era muito melhor, passo a expressão, do que quem fez uma 4ª
classe agora, portanto tudo isso, se calhar há uns com menos dificuldades se nós lhes
propusermos fazer um texto por exemplo ou relatar, e há outros que se for para escrever
não, porque não têm vocabulário, e depois também depende da história de vida da
pessoa, quer dizer, a sua história de vida tem muita influência na forma como é que ela
se desenvolve e eu por experiência como normalmente nos EFA que tenho leccionado
como são nesta área social normalmente há muito mais mulheres que homens. E como
eu costumo dizer, eles primeiro entram na fase do namoro, depois entram no casamento,
mas temos sempre a fase do divórcio e mulheres juntas, os homens que o digam não é?
Portanto, normalmente como nos grupos são sempre mais mulheres do que homens
temos aquele conflito pronto, que a mulher por natureza, nós sabemos e eu sou mulher e
contra mim falo, temos, pronto, temos esse conflito. Esse conflito por vezes acaba por
destabilizar o grupo, depois o tentar voltar que o grupo se torne novamente homogéneo
por vezes é muito complicado, porque é assim, exactamente porque os grupos são
extremamente heterogéneos, porque se eu tiver uma senhora com 50 anos que já é mãe e
avó e tiver uma jovem com 21 mas por acaso já tem 2 filhos, aquela mãe por natureza
vai dizer à jovem, não devias, é um bocado por aí.
319
Entrevistador - Em relação à questão do trabalho curricular em torno dos temas
de vida no âmbito dos cursos EFA, portanto esse trabalho em torno dos temas de
vida, como é que é no seu caso, costuma participar?
Entrevistada - Sim, normalmente participo sempre, porque é assim, as áreas que eu
dou conseguem sempre ter um bocadinho em que nós, em que eu possa participar, uma
vez que em qualquer das áreas existe sempre uma área de projecto, eu posso sempre
participar nem que seja na elaboração dos cartazes, na construção de algo, numa
actividade, por exemplo, uma dinâmica de grupo pode fazer a apresentação do tema de
vida, portanto, tento sempre participar nos temas de vida.
Entrevistador - Esses temas de vida costumam ser planificados?
Entrevistada - Isso depende das entidades, portanto há entidades que fazem
planificação e que entregam a todos formadores em que é que nós podemos intervir e há
entidades, e a maior parte das entidades normalmente sugerem aos formandos vários
temas de vida não é? E eles acabam por ir no primeiro tema de vida, pelo menos na
minha experiência acabam por abordar aqueles temas mais corriqueiros que é, droga, o
alcoolismo, pronto, depois no tema a seguir, mais qualquer coisa.
Entrevistador - E no caso da APD como é que isso se passou?
Entrevistada - Eu na APD em relação aos temas de vida não, neste caso específico na
APD não participei porque o meu módulo era muito pequenino, eram apenas 40 horas, e
então o que é que acontece, quando chegou ao tema de vida eu já tinha dado a matéria.
Mas pronto, mas o sistema foi o mesmo.
Entrevistador - No seu caso essas 40 horas, como é que se distribuíram ao longo do
curso, mais a princípio, mais…
Entrevistada - Mais a princípio.
Entrevistador - A princípio?
320
Entrevistada - Sim, isto também porque eu não tinha horário, eu tentei dar as horas na
altura das férias, porque é assim, depois as aulas começam em Setembro e tentamos,
depois os meus colegas ao contrário não é, nós depois trocamos sempre.
Entrevistador - Os formadores costumam aderir as reuniões de planificação, neste
caso da APD?
Entrevistada - Sim.
Entrevistador - Há dificuldade em mobilizar o pessoal para reunir, como é que…
Entrevistadora - É assim, há sempre dificuldade, isto é da experiência que eu tenho, há
sempre dificuldade em mobilizar os formadores para se reunirem, no caso da APD, pelo
menos o grupo de formadores que fez parte tivemos sempre presente. Também a APD
teve sempre o cuidado de tentar antes saber a disponibilidade de todos para podermos
estar sempre.
Entrevistador - Considera que essas reuniões de planificações são importante para
o funcionamento do curso?
Entrevistada - Considero, porque é nas reuniões de planificação, além de nós
podermos, pronto, sugerir o que é que eventualmente precisamos ou não, também existe
o feedback entre os colegas que também que é coisa que não conseguimos ter de outra
forma, e também são extremamente importantes para nós podermos dar inclusivamente
à coordenação ou à mediação o feedback dos formandos.
Entrevistador - No seu caso em termos pedagógicos faz um trabalho mais com o
grupo, faz um trabalho mais individualizado, como é que isso se costuma passar?
Entrevistada - Eu tento trabalhar sempre com o grupo, depois em trabalhos
normalmente faço grupos e sou que escolho os grupos, inicialmente porque é
exactamente para fazer a interacção daquelas pessoas por eles, não é? Porque é assim,
eles formam-se por eles, não é? Para que o grupo acabe por interagir acabo por ser eu a
seleccionar o grupo, portanto o grupo sou eu que os selecciono, no início pois claro,
321
depende do módulo não é? Portanto se for um módulo de 100 ou 200 horas pois nessa
altura. Mas normalmente os primeiros trabalhos sou eu que selecciono a forma como o
grupo e quais são as pessoas, quando faço grupos de trabalho, quem vai trabalhar com
quem.
Entrevistador - No caso deste módulo que assegurou na associação, quais foram as
suas preocupações na sua forma de actuar?
Entrevistada - A minha preocupação principal foi que este módulo é um módulo
extremamente teórico e é um módulo que, dado a mulheres, todas elas já sabem tudo,
porque é assim, toda a gente pensa que lavandaria e tratamento de roupa qualquer
mulher sabe lavar à máquina não é? Sem dúvida nenhuma, portanto é extremamente
difícil que as pessoas entendam que existem normas e técnicas que nós não utilizamos
na nossa casa mas que a nível institucional são obrigatórias. Dar este módulo a homens
é muito complicado, porque eles a primeira resposta é: a minha mulher lá em casa é que
trata do assunto, ponto. Portanto, é difícil porque as pessoas não têm propriamente a
noção do que é a parte profissional e neste caso específico, as pessoas acham por
exemplo que a roupa é, não têm noção de tudo aquilo que se pode transmitir através da
roupa. Por exemplo, não têm essa noção, quer dizer, as pessoas não pensam e numa
instituição e neste caso específico, normalmente, portanto estas pessoas seriam pessoas
que iriam trabalhar ou para lares de idosos, ou para hospitais, ou para centros de saúde,
portanto, são locais em que existem uma série de micro organismos não é? Que podem
transmitir e que é preciso ter muito cuidado porque é para nos protegermos a nós
enquanto profissionais e os utentes, não é? E é assim, se as pessoas só entendem qual é
a importância de todo o percurso que se deve fazer quando ou conhecem ou se não
quando vêem ao vivo como é que funciona uma instituição, coisa que normalmente não
acontece porque é assim, são coisas que as pessoas até acham que são perfeitamente
corriqueiras. Quer dizer nós chegamos a casa, metemos a roupa na máquina e acabou,
mas é nossa, é dos nossos familiares, não é aquela de uma pessoa que nós, por exemplo
num caso do hospital, quando entra lá alguém, um doente, epá até que saibam o que é
que é, o que é que não é, se calhar até vão vamos ter que percorrer, portanto não têm
noção realmente do que é que pode advir uma mistura de ou um canal mal feito num
percurso por exemplo entre uma mistura entre uma roupa suja e uma roupa lavada, por
exemplo.
322
Entrevistador - E então, depois para dar a sua formação como é que costuma?
Entrevistada - Normalmente eu tento, portanto dou uma parte teórica, de iniciação,
depois utilizo PowerPoint e tento o mais que posso utilizar normalmente vídeos,
porquê? Porque acho que o visualizar, o ver, a pessoa consegue absorver muito mais do
que não estar a ver, porque é assim, temos todas a noção que a formação normalmente
funciona no mínimo 3 a 4 horas não é? Agora com intervalo, mas é assim ninguém
consegue e depois o que é que eu faço, faço uma parte lúdica, porque por exemplo no
caso desta área que tem a ver, que até em qualquer coisa nós podemos encontrar uma
forma de nos divertir. E por exemplo neste caso com a roupa que as pessoas acham que
é coisa muito, podemos fazer coisas giríssimas com a roupa, desde a forma como a
dobramos, podemos aproveitar inclusivamente isso para criar alguma coisa.
Entrevistador - Que competências é que considera essenciais para exercer a sua
actividade como formadora no âmbito dos cursos EFA?
Entrevistada - Eu acho que a competência essencial, acho que nós devemos ter é uma
grande dose de paciência, acho que essa é a primeira, porque é assim, por muito
técnicos que nós sejamos, ou seja, por muito que nós sabemos da nossa área se não
tivermos a paciência não conseguimos fazer grande coisa, porque é assim, estes grupos
não estão direccionados para que nós cheguemos à formação, portanto, um bom
formador tem que ter uma grande dose de paciência, porque por vezes ele faz um plano
de aula e não vai conseguir, não é? Portanto, ter os conhecimentos técnicos sem dúvida
nenhuma, mas também adaptar os conhecimentos técnicos que tem ao público-alvo que
tem. Eu não posso por exemplo enquanto formadora e na minha área utilizar “N” de
termos que nós utilizamos nas nossas áreas, estrangeiros, porque eles não entendem, não
é? Por exemplo, a competência deles a inglês é zero, portanto tenho que adaptar aquilo
ao meu vocabulário, ao vocabulário deles, não é? Eu até posso saber muito mas se não
conseguir transmitir a mensagem, nada serve.
Entrevistador - Quando fala aí da paciência?
323
Entrevistada - A paciência prende-se com o muitas vezes os ouvir a eles para saber o
que é que eles querem de nós, é um bocado por aí, quer dizer se calhar é, às vezes eu
costumo dizer, mais vale eu perder uma hora a conversar e saber o que é que se passa
naquele grupo, quais são os objectivos deles, quais são as motivações deles, do que estar
ali uma hora a dizer, se lecciona-se português a falar de Camões, eles ainda diziam mas
o Camões até era um senhor que até não tinha um olho, não é? Portanto se calhar é mais
nós sabermos motivá-los para, do que propriamente estar ali a fazer, é o que fazemos
basicamente como no ensino regular, ou o que fazemos na universidade que é o
impingir a matéria, chegas ao fim fazes, sabes, sabes, não sabes olha, como dizem os
meus alunos temos pena.
Entrevistador - Ainda em relação ao perfil dos formandos, já me falou ainda há
pouco, mas pedia-lhe para me descrever um pouco melhor o perfil dos formandos
que frequentam os cursos EFA?
Entrevistada - É assim, eu da experiência que tenho, tive, os grupos, normalmente os
meus formandos têm, todos eles tiveram más experiências de vida, ou uns porque foi o
caminho da droga, ou outros pelo caminho do álcool, esses homens, elas, senhoras,
normalmente gravidez na adolescência, casamentos falhados, problemas de âmbito
familiar, portanto isso são pessoas que à priori naquela fase dos 14, 15 anos ou
enveredaram pelo caminho dum comportamento desviante não é? Ou gravidezes de
jovens adolescentes.
Entrevistador - E ao nível do empenhamento dos formandos face a formação, viu
diferenças?
Entrevistada - Quer dizer, depende dos grupos, há grupos, há uns que estão lá só para
receber dinheiro, ponto, há uns que o objectivo é receberem o subsídio e acabou, há
outros que não, que realmente querem aprender e empenham-se, mas se calhar uma
grande maioria, está exactamente pelo subsídio, mas isso acho que é um problema da
orgânica, da própria estrutura do EFA porque é assim, eles hoje em dia sabem que nós
não os, nós não os expulsamos não é, eles nem são expulsos, porquê, porque a entidade
precisa, eles sabem isso não é? Porque se não soubessem se calhar os cursos EFA
seriam muito melhores do que são, porque as pessoas que estavam lá das duas uma,
324
quer para mudar comportamentos, quer para aprender e quem não cumprisse as regras,
porque é assim uma vez que são pessoas que em determinada altura da vida tiveram um
comportamento desviante, o objectivo é exactamente que eles voltem a ter um percurso
de vida normal, não é? Em relação ao percurso de vida normal qualquer pessoa adulta
que tem no mínimo duas, tem no mínimo uma obrigação, é ser responsável, quando a
pessoa não é responsável, se não é responsável no curso provavelmente no futuro
emprego também não o será.
Entrevistador - E em relação à aprendizagem como é que foi o desempenho dos
formandos, neste caso deste curso da APD?
Entrevistada - Foi bom. Os formandos, qualquer um, havia formandos, este grupo
também era muito heterogéneo e havia formandos que tinham mais capacidade que os
outros, mas no global foi bom.
Entrevistador - De certa forma já falou nesta questão, mas eu tenho aqui a questão
para colocar, vou-lhe colocar, que é, se costuma haver conflitos no espaço da
formação?
Entrevistada - Muitos, inclusivamente eu tive um curso em que os computadores
voaram no meio da sala, sim, já tive cursos em que os formadores quase, já tive um em
que tivemos a polícia a porta, era um grupo em que eram homens, eram
toxicodependentes, portanto em tratamento e alcoólicos em tratamento, e dois grupos
rivais e portanto aquilo quando entrava em ebulição era muito complicado.
Entrevistador - Em relação ao trabalho com os seus colegas de formação, como é
que acontece esse trabalho? É um trabalho que considera que é mais partilhado,
um trabalho que se faz de forma mais individualizada?
Entrevistada - Normalmente costumo, os formadores, os colegas que conheço
trabalhamos há algum tempo, pronto isto também é um bocado passa a palavra não é?
Uns vão sendo contactados e depois aí precisas, dos meus colegas normalmente nós
partilhamos inclusivamente quando há dúvidas ou quando há coisas que um tem e o
outro não tem partilhamos a informação.
325
Entrevistador - E neste caso do…
Entrevistada - Também.
Entrevistador - E com que frequência é que se costumam encontrar, como é que…
Entrevistada - Frequência, pela net, se calhar, diariamente não é? Pessoalmente não,
mas pela net se calhar com alguns colegas diariamente falo com eles.
Entrevistador - E encontros mais de carácter pessoal?
Entrevistada - De carácter mais pessoal, talvez uma vez por mês, ou quando nos
encontramos na formação, dando um exemplo quando tomar café marcamos um, porque
cada um de nós tem…
Entrevistador - Na sua opinião há algum aspecto desse trabalho com os seus
colegas da equipa pedagógica que ache que seria benéfico melhorar?
Entrevistada - Quer dizer isso é assim, em relação, depende das equipas pedagógicas,
depende da entidade pela qual nós estamos a dar formação, depende do mediador,
depende das regras da entidade, porque é assim a nível de estruturas nem todas as
entidades funcionam da mesma forma, não é? Portanto as directrizes não são todas
iguais, o grupo de formadores também não é sempre o mesmo não é? Portanto há
colegas que nós já demos, já trabalhamos cinco, seis, sete, oito, nove vezes e há outros
que é a primeira vez, não os conhecemos, portanto não, há outros que são
completamente desconhecidos.
Entrevistador - E sente diferenças no empenhamento do trabalho dos colegas para
por em prática o modelo EFA?
Entrevistada - Como assim?
326
Entrevistador - Se ao nível da relação com os cursos EFA, se encontra diferenças
na forma de abordar, da parte dos colegas?
Entrevistada - Este é um assunto que nós normalmente não conversamos, normalmente
conversamos sobre outro tipo de assuntos, a maior parte dos colegas que dão formação
salvo os técnicos, as áreas científicas são normalmente professores, portanto, quadro
docência não é? E é assim a formação é um acrescento ao vencimento.
Entrevistador - Como é que disse desculpe, é um acrescento?
Entrevistada - É um acrescento ao vencimento.
Entrevistador - Em relação às entidades formadoras, no caso com a Associação
para a Democracia que relação é que manteve com a entidade?
Entrevistada - Tenho uma boa relação com a entidade.
Entrevistador - Mas vê-se como trabalhadora da Associação?
Entrevistada - Não.
Entrevistador - Como é que se percepciona?
Entrevistada - Vi-me como uma formadora que nesta altura foi contactada, poderá ser
outra vez, não, partilhar da orgânica da instituição não.
Entrevistador - Identifica-se com a forma como a entidade perspectiva a formação
EFA?
Entrevistada - Identifico-me, sem dúvida nenhuma porque deve de ter sido um dos
sítios onde eu fui realmente dar formação em que as regras estavam muito bem
definidas, e que a mediadora, a Dr.ª Sónia teve um uma actuação excelente, e é assim as
regras eram estas e eram para cumprir, e acho que era uma das coisas que a APD fez
neste curso ali que havia coisas que noutras entidades realmente pronto, as entidades
327
passavam ao lado, a APD não, que tem haver o tal comportamento dos formandos, as
pessoas estavam lá para aprender, estavam lá para ter um comportamento sério, e o
objectivo da APD é exactamente que essas pessoas quando saíssem desse curso
tivessem um dado comportamento, e isso sem dúvida nenhuma que a APD foi
extremamente rígida na aplicação das regras.
Entrevistador - Sente-se reconhecida pela entidade, pelo trabalho que
desempenhou? Ainda há pouco falou-me dessa questão do reconhecimento?
Entrevistada - Eu acho que as entidades não reconhecem o nosso trabalho, na minha
opinião, porque é assim, as entidades candidatam-se aos cursos e o objectivo da
entidade é promover o curso, é receber o dinheiro, mais nada. Quer dizer os formadores
que lá estão, os mediadores dão formação e o objectivo é um bocado isso não é? É a
entidade ser acreditada mas, para poder concorrer novamente e ter outros cursos. Eu
sobre a formação, pronto, se calhar não, como pronto, eu não sou formadora
profissional, talvez por aí tenha uma perspectiva diferente duma pessoa que vive e que
aquilo é o seu ganha-pão, é a sua profissão, não é o meu caso. Portanto talvez por aí,
talvez por essa razão eu veja que realmente a formação por vezes quer por parte dos
meus e por mim também não é? Por exemplo, já me convidaram para ir dar formação
para o IEFP e eu não vou, porquê, porque a 11 euros à hora eu não dou formação ponto.
É tão simples quanto isto, não é? Eu a 11 euros à hora não vou dar formação porquê?
Porque eu sei que, por muito gratificante que seja e é para mim mas é assim, o trabalho
que eu vou ter, o desgaste pessoal que eu vou ter, o não estar com a minha filha por
exemplo, para ganhar 11 euros e ainda por cima ter que pagar IVA e IRS não vale a
pena, não é? Porque é assim, porque não é o meu rendimento principal não é? Porque se
fosse pois, eu acho que as pessoas são formadoras ou porque gostam e é assim, eu como
só dou área técnica é mesmo porque gosto e também porque claro, agora a maior parte
dos formadores são professores, portanto só dão formação porque, é mais aquele que
vem ao fim do mês, ou senão porque não têm colocação não é? E é uma forma de
ganhar a vida.
Entrevistador - Tenho aqui um grupo de questões que a sua experiência é capaz de
me ajudar a compreender isso, que é, se considera que há variação entre as
diferentes organizações na forma como fazem este trabalho com os cursos EFA?
328
Entrevistada - Há, há, porque é assim, há entidades que realmente apostam no curso ou
seja, querem que as pessoas saiam de lá com algum conhecimento, há entidades que é
preciso é que a gente receba o dinheiro e o resto que se lixe, é mesmo isto.
Entrevistador - Falou aí a questão dos vencimentos, no caso do IEFP portanto ao
nível dos pagamentos dos formadores também são…
Entrevistada - São divergentes sim. É assim pronto, há entidades que pagam de uma
forma, há outras que pagam de outra, não temos uma tabela digamos, por exemplo a In
Loco estava a pagar a 30 euros, por exemplo. Eu por exemplo estive a trabalhar para o
Instituto Português da Juventude a ganhar a 15, já ganhei a 25, portanto a entidade
estabelece consoante também o que foi candidatura do programa não é? Porque é assim,
as entidades quando se candidatam ao programa estabelecem os honorários dos
formadores para além de toda, de todas as despesas.
Entrevistador - As remunerações no IEFP, o pagamento à hora foi?
Entrevistada - Baixou.
Entrevistador - Sim, em relação aos últimos anos?
Entrevistada - Sim, menos. Mas o IEFP tem uma coisa boa, neste momento paga
mensalmente, enquanto a maior parte das entidades não o fazem.
Entrevistador - E em relação ao trabalho da mediadora, da relação que me falou
ainda há pouco, se considera que o trabalho do mediador ou da mediadora difere
nas diferentes entidades?
Entrevistada - Sim, difere, porque há entidades em que têm mediadores a tempo
inteiro, por exemplo, que é o caso da APD, a Dr.ª Sandra estava a tempo inteiro,
portanto era ela a mediadora, há entidades que têm mediadores a part-time. Portanto
difere.
329
Entrevistador - E acha que isso tem reflexos no procedimento do curso?
Entrevistada - Tem, quer dizer eu penso que sim, porque é assim um mediador a tempo
inteiro é alguém que está no local todos os dias e quando há um conflito de grupo
normalmente não é o formador que o tem que resolver, porque é assim nós somos
formadores externos não é? E a mediação é, aliás, e é a entidade, neste caso o mediador
que tem toda a legitimidade de tomar uma atitude, eu não tenho legitimidade, aliás
tenho, posso ter legitimidade de dizer ao formando, olhe o senhor não se importa, sai,
certo? Ponto. Mas é assim no caso dos EFA vez que eles ganham à hora também, se não
tiverem as 7 horas aquilo é-lhes descontado a nível de pagamento de remuneração não
é? E é lógico se eu enviar, se disser a um formando que foi convidado a sair da sala
porque foi indelicado comigo ou incorrecto com certeza não lhe vou dizer olhe espere lá
agora só assino até as tantas horas, quer dizer eu até posso comunicar isso à entidade,
mas isso é depois um problema que a entidade terá de resolver com o formando não é?
Entrevistador - Na sua opinião de que modo é que é importante ou considera que é
importante ou não o trabalho do mediador no curso EFA?
Entrevistada - Eu acho que o trabalho do mediador é exactamente como o próprio
nome indica, a palavra indica, é mediar aquele curso não é? E mediá-lo em todos os
aspectos, quer no aspecto logístico, quer no apoio inclusivamente, pronto, exactamente
no aspecto logístico, portanto, no apoio ao formador e aos formandos e mediar a relação
de conflitos, porque os cursos EFA são por natureza cursos com muitos, muitos
conflitos.
Entrevistador - Em relação à avaliação, como é que aconteceu a avaliação no seu
caso?
Entrevistada - É assim em relação a avaliação como nós trabalhamos…
Entrevistador - Dos formandos.
Entrevistada - Por referenciais, eu normalmente, pronto, e os critérios da avaliação são
mais ou menos definidos pelo formador não é? Eu normalmente avalio 70/30, ou seja,
330
os cursos EFA dizem que é 50/50, eu avalio 70/30 e avalio 70 a nível de comportamento
e 30 a nível de conhecimento.
Entrevistador - E fez a avaliação no final do módulo?
Entrevistada - Fiz, a avaliação com os formandos, aliás, fizeram trabalhos, ou seja,
dividi o módulo em várias partes, uma delas um teste, para a aquisição de conhecimento
escrito, um trabalho, seria o lado prático e depois um debate entre a auto-avaliação e a
hétero- avaliação.
Entrevistador - E isso resultou numa classificação ou na…
Entrevistada - Resultou
Entrevistador - De 0 a …
Entrevistada - A 20.
Entrevistador - A 20
Entrevistada - E há cursos em que não resulta, portanto no caso da In Loco foi de 0 a
20 e há cursos que é apto ou não apto, que o objectivo do EFA, aliás, nós não podemos
dar notas quantitativas nos EFA, não é? Não é permitido.
Entrevistador - E a avaliação nos cursos por onde passou? Fez de forma…
Entrevistada: Variam.
Entrevistador - Sim.
Entrevistada - Eu não o fiz de forma diferente, quer dizer, eu fiz uma grelha de
avaliação minha em que o de 0 a 20 não é? Em que defini os critérios de avaliação,
assiduidade, pontualidade, aquisição de conhecimentos, participação na aula, etc.,. Claro
331
que depois reconverti aquilo em apto ou não apto ou bom ou suficiente, mas pronto,
esse trabalho fi-lo eu.
Entrevistador - E tinha uma grelha da entidade, neste caso…
Entrevistada - Não, a grelha foi feita por mim e depois foi fornecida há entidade. Mas
foi por, mas pronto, na altura falei com a Mediadora e costumo fazer isso em todos. Nós
normalmente podemos sugerir aos mediadores ou há entidade, porque é assim, a forma
como avaliamos, depende do formador, não é? Por exemplo no caso do Português e
Matemática se calhar os critérios de avaliação são outros, é a mesma coisa que numa
escola, depende do departamento.
Entrevistador - Estava-me a dizer ainda há pouco que a avaliação fazia-se de
forma diferente de curso para curso, consegue-me…
Entrevistada - É como eu lhe estou a dizer, por exemplo há cursos em que nós, a grelha
final, aquela que fica na instituição, ou o formando está apto, ou não está apto. O que é
que acontece, normalmente nos EFA toda a gente passa, não é? Ninguém reprova, a
pessoa só reprova se por qualquer razão desistir do curso. Porque é assim, não há não
apto. E a avaliação normalmente, em quase todos, pronto, acabam por ser o suficiente
ou boa. Portanto não é quantitativo, não é uma nota quantitativa. Antigamente nós
inclusivamente tínhamos que assinar as cadernetas e neste momento já não o fazemos.
Os primeiros EFA que dei, a Direcção Regional enviava-me as cadernetas e os
formadores tinham que preencher, hoje em dia já não se faz.
Entrevistador - Aqui um último conjunto de questões que têm a ver com a
Iniciativa Novas Oportunidades, mais geral, qual é a sua opinião em relação a
Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistada - É assim, eu não vou, eu não estou muito dentro dos CNO, ainda se
chamam CNO, ou já mudaram de nome? Isso já se chamaram tanta coisa, eu na altura
em que conheci o processo de RVCC que ao fim ao cabo é isso não é? Conheci-o de
uma, exactamente pelo facto de ser dirigente sindical na altura nós tínhamos, pronto,
associados, que não tinham o 9º ano e foi na altura em que apareceram os primeiros
332
processos de RVCC e pronto e com o Instituto de Emprego e Formação Profissional na
altura e fiz alguns processos destes não é? As candidaturas aos processos, depois
surgiram os CNO, a experiência que eu não tenho, nunca trabalhei num CNO, por
colegas que trabalharam, a nível de condições aquilo parece que não é muito bom, se
me disser que os CNO dão certificados, dão. Dão, porque é assim, o processo ou pelo
menos aquilo que eu conheço, não sei se é diferente mas nisto sempre fui muito, um
colega seu que também é seu colega, que é o Fragoso, foi meu professor também, e
tivemos muitas discussões com ele por causa dos CNO, porque ele foi o primeiro, na
altura dos CNO e tem um aversão aos CNO de todo o tamanho e então eu acho que os
CNO é fornecerem habilitação, ou seja é o certificado do 12º de um senhor que faz, que
vai ao CNO e tira e faz o processo de RVCC é igual ao seu ou o meu, mas é assim se
formos os dois concorrer para o mesmo emprego temos os dois o 12º não é? Mas não
tem nada a ver.
Entrevistador - Nesse sentido tinha aqui uma questão vai de encontro ao que me
está a dizer, se considera que a Iniciativa das Novas Oportunidades tem efeitos na
vida dos adultos formandos?
Entrevistada - Eu acho que não, eu acho que isso tem efeitos a nível estatístico para
governo, que é o objectivo.
Entrevistador - E ainda tinha aqui uma questão nesse sentido, que é, o que é que acha
da opinião que a iniciativa Novas Oportunidades promove o facilitismo?
Entrevistada - O que é que acho, eu não acho, eu tenho a certeza. Porque é assim,
tenho a certeza e também justifico porque que é que digo isto, é a minha opinião e vale
o que vale. Porque em relação por exemplo ao 9º e ao 12º eu digo isto porque, o que
vale é que é anónimo não é? Portanto ninguém fica sabendo, ninguém fica sabendo, o
meu marido não tinha o 9º ano e então quando apareceu o processo de RVCC ele
candidatou-se e quem lhe fez o currículo fui eu, quem lhe resolveu os problemas de
matemática fui eu, portanto fui eu que fiz tudo, portanto ele ficou com o 9º ano sem
dúvida nenhuma, até teve uma excelente nota, mas fui eu que fiz. Portanto o que é que
aquilo adiantou para ele, adiantou pronto na altura ele precisava do 9º ano, a única coisa
que lhe adiantou é que ele tem o certificado do 9º ano. Agora é assim, o meu marido
333
hoje em dia não gosta de matemática, é assim ele fez lá aquelas contas que fui eu que fiz
aqueles problemas mas na altura em que ele foi debater, o problema da matemática, se o
formador lhe perguntasse como é que ele fez ele não sabia, pronto, portanto falo por
experiência não é? E como fiz o do meu marido, fiz o de “N” pessoas, portanto, onde é
que está o conhecimento do formando? Não está, por isso é que eu digo, isso só serve
para fins estatísticos. No caso do 12º, tenho conhecimento fiz alguns, inclusivamente de
alguns formandos meus, que entretanto eles quiseram fazer o 12º por processo de
RVCC quem fez os trabalhos fui eu, claro que também não devia de ter feito, sim
senhor, tem toda a razão, mas é assim, eles precisavam do 12º portanto agora a nível de
estatística muito bem, ao nível de aprendizagem se calhar há pessoas que o fizeram e
foram elas que o fizeram não duvido, mas é assim ao nível de aprendizagem da pessoa,
o que é que aprenderam?
Entrevistador - Na sua opinião o que é que devia de ser melhorado na iniciativa
Novas Oportunidades?
Entrevistada - Eu acho que o que podia ser melhorado realmente, se as pessoas vão lá
para adquirir uma habilitação académica que é o caso da iniciativa Novas
Oportunidades, não é para adquirir uma habilitação profissional. Porque é assim, se a
pessoa fosse lá para adquirir uma habilitação profissional, eu estou convencida e
acredito que há pessoas que profissionalmente podem não ter, podem ter a 4ª classe,
mas se calhar há, não sei, se calhar mecânicos, não é? Que se calhar com a 4ª classe
sabem mais que um engenheiro mecânico quando saí da universidade, a nível prático,
não tenho qualquer dúvida desse tipo, inclusivamente um pedreiro sabe mais que um
engenheiro civil, não tenho a nível prático de construir, de pôr lá o tijolo e fazer o
cimento não tenho qualquer dúvida não é? Porque o Engenheiro Civil sabe os cálculos
mas se calhar meter dois tijolos um em cima do outro não sabe quase de certeza,
portanto não se aprende na universidade neste caso a montar tijolos, pronto, eu acho que
ai sim senhor, mas agora dar uma habilitação académica a uma pessoa, ou senão dizem
assim você tem direito ao 12º ano porque na sua profissão sabe isto e isto e isto e então
a sua profissão dá-lhe equivalência a este grau académico, tudo bem, agora comparar
um grau académico de um processo de RVCC e de uma, de um processo de currículo
escolar não tem nada a ver, por amor de Deus, mas o diploma é igual. A nível de
concurso, de habilitação académica é exactamente a mesma, ainda há tempos dizia o
334
próximo que eles vão fazer é um processo de RVCC para ficar licenciado, é o que falta,
qualquer dia também. Vamos fazer licenciados por RVCC, já temos Bolonha já não nos
falta tudo, só mais um bocadinho.
Entrevistador - E em relação aos cursos EFA mais especificamente, qual é a sua
opinião sobre os cursos EFA?
Entrevistada - Eu acho que os cursos EFA, a vertente que eles têm, pronto é como eu
lhe dizia há pouco, a base do curso EFA para mim é realmente e pronto como a própria
sigla do curso indica não é? Mas isso reverte-me um bocado a uma teoria que eu tenho,
pronto, a uma teoria que eu tenho mas isso tem a ver, se calhar os cursos EFA, são
baseados na teoria do Paulo Freire sem dúvida nenhuma e por esse caminho eu acho que
sim, quer dizer, eu acho que uma habilitação base quer a nível prático, quer a nível
teórico, é importante, porque é assim, a pessoa está a aprender a ler, a escrever, a saber
fazer um determinado, os cursos EFA para mim serve para um pessoa ter uma vida
digna, da vida que nos temos hoje em dia, quer dizer, deixar de ter aquela disparidade
em que a pessoa não sabe utilizar, nem sequer se calhar a Internet ou para escrever um
texto, nem que seja pra escrever uma carta, nem que seja para reclamar que contaram
que a conta da água está errada, ou porque foi a Segurança Social e necessita fazer um
requerimento para uma entidade qualquer, portanto eu penso que nisso é bom ou para
fazer um cálculo ou para saber, nesse aspecto eu acho que os cursos EFA são
importantes, desde o momento, bom, se fossem vocacionados para aí e que as pessoas
quando saíssem desses cursos conseguissem pelo menos abranger o básico, que é o que
falta a essas pessoas não é? Que é assim, nós quando vamos adquirir habilitação, vamos
adquirir para quê? Para adquirir conhecimento não? Para arranjar um emprego, certo,
mas é assim, tem a ver com o conhecimento, não é? Eu se vou dar aulas, pronto se tive
uma formação pedagógica é precisamente para saber como é que devo, portanto eu acho
que é para no futuro, neste caso uma futura profissão seja ela qual for nós termos,
sabermos, termos as ferramentas para trabalhar, porque senão é assim, porquê que eu
para ser professora tenho que ser licenciada não é? Ou senão ate lhe posso fazer uma
pergunta que não tem nada a ver, porque é que está a fazer o doutoramento, não é?
Provavelmente para adquirir outro tipo de conhecimento, digo eu.
335
Entrevistador - E considera ainda no seguimento do que me está a dizer, se os
cursos EFA na sua opinião têm efeitos na vida dos formandos?
Entrevistada - Eu acho que sim, sem dúvida nenhuma. Enquanto um RVCC não tem
efeito na vida de quem o fez, um curso EFA tem, eu acho que sim, porque as pessoas
acabam por, por mais tarde aproveitar os conhecimentos que adquiriram e tornam-se
pessoas melhores, sem dúvida nenhuma.
Entrevistador - E o que é que poderia ser melhorado no funcionamento dos cursos
EFA, das suas experiências?
Entrevistada - Eu acho que o que poderia ser melhorado principalmente é a estrutura
dos cursos, ou seja, para já não enganarem as pessoas, ponto número um, dizer olhe
você faz um curso EFA e tal, faz um estágio e fica no estágio isso não é verdade, e hoje
em dia nós sabemos que não é verdade, em segundo, consoante o curso, a área do curso,
portanto o curso tem realmente sem dúvida duas vertentes mas essencialmente dar as
ferramentas necessárias para que aquelas, para que aquelas, para já saber o porquê não
é? E dar a ferramenta necessária a uma pessoa no final daquele ano possa escolher se
realmente, se já tem o 9º ano realmente o objectivo era esse, é pá mas será que eu ainda
consigo voltar a estudar ou eu com isto posso é pá tentar arranjar um emprego melhor
em vez de ser empregada de mesa, mas passar a ser gerente de loja, quer dizer dar a
ferramenta para que a pessoa melhore a sua qualidade de vida porque o objectivo de
Educação e Formação de Adultos penso eu não é? O objectivo de educação em qualquer
país é melhorar a qualidade de vida das pessoas. Não é dar diplomas para fins
estatísticos, porque é assim, para isso não vale a pena irmos à escola, somos todos
doutores e tá tudo bem.
Entrevistador - Em relação a este curso EFA o que decorreu na APD que esta
agora a chegar ao fim, qual é o balanço que faz?
Entrevistada - Eu acho que, pronto é assim eu tive poucas horas com este grupo,
portanto, mas daquilo que conheci do grupo eu acho que a Dr.ª Sónia tem feito um
excelente trabalho com eles ou seja eu acho que este grupo sairá de lá com muitas maisvalias e principalmente alguns dos elementos do grupo com uma forma de ver a vida
336
diferente e com uma auto-estima muito mais elevada que lhes poderá dar força e
motivação para continuarem a caminhar.
Entrevistador - Ok, pronto é isso, agradeço-lhe bastante.
14. Entrevista 11 – P.Q. – Formadora da área tecnológica de Aquisição,
Armazenamento e Conservação de Produtos num curso EFA da Associação para a
Democracia.
Entrevistador - Quais as suas habilitações literárias?
Entrevistada – Sou licenciada em Engenharia Alimentar na Universidade do Algarve.
Tenho também curso de fisioterapia pela escola do Alcoitão, na altura não era curso
superior, era chamado um curso médio, que agora corresponderia, não sei, a uma
formação tipo quatro, mas pronto isso também não, não foi isso que pesou aqui na
função que eu realizei.
Entrevistador – E qual é a sua profissão?
Entrevistada – Eu neste momento sou técnica de diagnóstico do Centro de Novas
Oportunidades da APD.
Entrevistador – E que funções é que exerceu no curso EFA?
Entrevistada – No curso EFA fui formadora de um módulo de Aquisição,
Armazenagem e Conservação de Produtos Alimentares.
Entrevistador – E quantas horas tinha?
Entrevistada – Cinquenta horas.
Entrevistador – E foi um módulo mais inicial, foi mais a meio?
337
Entrevistada – Foi um módulo a meio.
Entrevistador – A meio?
Entrevistada – A meio do curso.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta que vai no sentido do que me estava a
dizer, se exerce mais alguma mais alguma função na APD?
Entrevistada – Sim, actualmente a função que me paga o vencimento é ser Técnica de
Diagnóstico no Centro de Novas Oportunidades, mas para além disso nós na APD
fazemos várias coisas, portanto já tenho trabalhado em gestão de projectos mais ligados
á área alimentar, produtos alimentares, depois trabalhei, na formação, pronto e desde
que comecei a trabalhar na formação, nunca mais parei de uma maneira ou de outra, vou
estando ligada a formação.
Entrevistador – Trabalha em mais alguma organização para além da APD?
Entrevistada – Não.
Entrevistador – Ia pedir para me descrever a, a sua trajectória profissional desde
que começou a trabalhar?
Entrevistada – Desde que comecei a trabalhar, desde que comecei a ganhar dinheiro,
com o meu trabalho.
Entrevistador – Após o termo da sua licenciatura, talvez…
Entrevistada – A licenciatura em Engenharia Alimentar, pronto, acabei o curso e logo
na altura falaram-me de uma associação que trabalhava e apoiava projectos relacionados
com produtos agro-alimentares tradicionais que era a associação In Loco, e então fui à
procura onde é que ficava essa associação, fui bater à porta, foi na altura em que eu
andava com uns quantos currículos na mão a distribuir em vários sítios, portanto um dos
sítios foi a Associação In Loco, a e passado uma semana ou duas semanas, portanto o
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professor Alberto telefonou-me a perguntar se eu já tinha encontrado trabalho, eu disselhe que não, a perguntar se eu estaria interessada em passar pela associação que não era
aqui, era em Faro, para conversarmos e portanto, a proposta que o professor Alberto
tinha para mim nessa altura era, era fazer uma espécie de diagnóstico, um levantamento,
mais um levantamento, de restaurantes e similares que havia na zona de intervenção da
associação APD, que era muito vasta, portanto na zona Líder, que apanhava inclusive as
zonas do Baixo Alentejo, portanto o meu trabalho nos primeiros três meses foi andar a
correr a região, esta zona, a frequentar restaurantes e portanto fazer uma avaliação em
termos de atendimento, qualidade dos alimentos servidos, pronto fiz esse trabalho
durante algum tempo, depois passei para um projecto que tinha, aí sim era mais, tinha
mesmo a ver com os produtos agro-alimentares tradicionais, trabalhei, era um bocado de
gestão de projecto, portanto era um projecto em parceria com a Direcção Regional de
Agricultura e com a Universidade do Algarve, portanto a minha função era ver se as
coisas estavam a correr bem, portanto também contactar com produtores, estive ligada,
nessa sequência, estive ligada à produção de aguardente de medronho, que era um
produto que em termos técnicos me interessava bastante, porque tinha muito a ver com
aquilo que eu tinha aprendido no curso e para além de ser um produto com muito peso
económico na região, pronto e tive, tenho vindo a estar, isto é um bocado cíclico, ligada
à produção, numa primeira fase, houve um projecto mesmo de investigação sobre a
aguardente de medronho, em que envolvia mais uma vez a Universidade e a Direcção
Regional de Agricultura, trabalhamos com produtores, portanto eu era um bocado o elo
de ligação entre os produtores e estas instituições, não sei se me queria perguntar
alguma coisa pelo meio?
Entrevistador – E a entrada do trabalho da formação, como é que aconteceu?
Entrevistada – Quando é que ocorreu?
Entrevistador – Como é que se deu essa?
Entrevistada – Essa passagem, pronto, acabou por estar um bocadinho, foi tudo muito,
muito suave vamos lá, mesmo dentro da própria, neste trabalho de aguardente de
medronho nós desenvolvemos, eu e um colega que na altura foi estagiar para a Direcção
Regional da Agricultura e foi para este projecto também, para dar apoio ao projecto,
339
desenvolvemos uma Câmara de Provadores de aguardente de Medronho, se bem que
isso não é formação, pronto, tinha ali uma componente não é? Porque nós preparávamos
as aguardentes ou as soluções que os nossos provadores iam provar ou para nós
próprios, estávamos em aprendizagem porque também não sabíamos fazer e depois,
surgiu, portanto, já se falava muito na formação, já se falava, a APD sempre teve um
grande papel na formação, havia aquela questão de não se poder dar formação, não se
tinha o curso de formação pedagógica inicial, não é? Ou se não é bem assim é parecido
com isto, e então havia um conjunto de pessoas que poderia, que tinham habilitações e
que poderia dar formação, mas que não podia à partida porque não tinha esta, não tinha
o CAP e então também comecei a estimular a Priscila e sim nessa altura era mais a
Priscila para fazermos uma candidatura para um projecto que nos permitisse formar os
próprios técnicos da APD, e então fizemos uma candidatura creio que ao PROAlgarve
na altura, para isso, eu não podia ser coordenadora, porque nem formadora era, mas
pronto estive envolvida na candidatura e a candidatura foi aprovada e fui formanda
nessa altura, e a partir daí comecei a estar ligada à formação, comecei a dar formação. E
a minha primeira experiência de formação até não foi na APD, foi numa instituição,
portanto havia uma colega que tinha saído da APD e que estava a trabalhar noutra
instituição e convidou-me para dar um módulo de nutrição, não tinha formador e sabia
que eu tinha formação nessa área, para dar um módulo de nutrição num curso que ela
coordenava e portanto foi a minha primeira experiência, foi assim que acabei o curso,
ainda não tinha o CAP na mão já estava a dar formação.
Entrevistador – E o início da sua actividade como formadora nos cursos EFA?
Entrevistada – Eu só tive essa experiência aqui, neste último curso, de curso EFA, dei
formação, tenho dado formação mas em módulos nestas formaçõezitas, nas formações
modulares, em curso EFA só dei neste.
Entrevistador – Tenho aqui uma pergunta de carácter mais aberta, se lhe
perguntasse como é que é a vida de um formador que faz da sua actividade os
cursos EFA o que é que lhe ocorreria? Da sua experiência?
Entrevistada – Também não sei se realmente sei responder a essa pergunta, porque a
minha experiência de ser formadora em cursos EFA foi de cinquenta horas, pronto,
340
recentemente, eu tinha as matérias mais ou menos preparadas, porque já tinha dado
aqueles, não aquele módulo mas os conteúdos eram aqueles, portanto falar de higiene
dos alimentos, do que é que contamina os alimentos, o HCCP a, pronto e isso só tive
que reorganizar, tive que reorganizar pronto e em função da sequência que me parecesse
lógica e tive que puxar também pela imaginação para criar actividades que motivassem
os formandos, porque este módulo que eu dei, eu normalmente dou, em vinte e cinco
horas e aqui dava em cinquenta horas e não podia ir muito além daquilo que dava
anteriormente, portanto tive que criar actividades que os permitissem, estarem em
contacto com aquelas matérias mas sem ser maçudo, sem ser aquelas sessões em que o
formador está a expor a matéria e os formandos estão atentos, não este grupo eu tive que
criar outro tipo de actividades, porque não dava para fazer isso.
Entrevistador – Quando diz que não dava para fazer isso, pode-me explicar um
pouco melhor essa questão?
Entrevistada – Porque eram pessoas que estavam muito inquietas, não se conseguiam
concentrar, os próprios conceitos a mim parecesse que são de interesse, mas pronto,
para mim eu acho que tudo o que tenha a ver com alimentação e com saúde acho que
interessa a toda a gente e eu senti, a certa altura senti alguma frustração porque as
pessoas, estas pessoas não se interessavam ou pareciam não se interessar e não estavam
atentos, falavam imenso uns com os outros, estavam com o telemóvel quando, pronto,
isso ainda era possível, sempre a perguntar quando é que era o intervalo, às vezes a
mandar bocas que não tinham sentido nenhum pronto então, tive que reconverter um
bocadinho alguns métodos de trabalho e aliás pronto, para ocupar e acho mesmo que
tem que ser assim neste tipo de público, não é? Não tenho muita experiência com este
tipo de público, tenho esta experiência, não tenho outra, mas o que me parece é que é
preciso trabalhar, ter as pessoas em actividade para elas sentirem as coisas e se
aperceberem da importância depois da teoria, dar-lhes teoria, não vale a pena senão
tiverem a prática, às vezes a prática antes da teoria.
Entrevistador – Considera que ser formadora EFA é uma profissão?
Entrevistada – Se é uma profissão? Não, não acho, ser formadora EFA só, não é uma
profissão. Ser só formador também não, porque eu acho que um formador tem que
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conhecer também um bocado a prática e tem que ter experiência prática das coisas para
poder transmitir com mais fiabilidade os conceitos, porque só os conceitos teóricos não
chegam, mesmo nós que se calhar temos já um, nós estou a falar de pessoas que já tem
uma licenciatura e estão habituadas a estar um banco de escola, quer dizer, só teoria se
não entendermos a ligação, porque a aplicabilidade torna-se um bocadinho maçudo.
Entrevistador – E no seu caso, considera-se profissional da formação?
Entrevistada – Se me considero profissional da formação, olhe nem lhe sei responder,
porque actualmente e de há uns tempos para cá todas as actividades que tenho
desenvolvido têm sido à volta da formação, se calhar devo de ser.
Entrevistador – Mas, mas se lhe perguntasse qual é a sua profissão, o que é que me
diria?
Entrevistada – Sabe que eu desde que entrei na APD tenho sempre dificuldade a
responder a essa pergunta, quando eu fui fisioterapeuta dizia que era fisioterapeuta, aqui
na APD tenho dificuldade em responder essa pergunta, eu acho que sou uma técnica
multifacetada, pronto, há mais multifacetados do que eu, com certeza e também há
menos, mesmo aqui dentro da APD, mas eu acho aqui na APD nós tornamo-nos
técnicos de tocar vários instrumentos, portanto não me considero técnica profissional de
formação, é a minha formação de base é a área alimentar e comecei a trabalhar aqui um
bocado mais na gestão dos projectos dentro dessa área, também não sou uma técnica
alimentar que realmente nunca exerci, tenho os conceitos teóricos e as aprendizagens
que trouxe, não sei, acho que sou uma técnica de desenvolvimento, acho que é isso.
Entrevistador – Em relação às condições laborais e institucionais de quem trabalha
nos cursos EFA? Por exemplo, o vinculo profissional, as condições remuneratórias,
o pagamento, a questão do vinculo, que tipo de vinculo é que…
Entrevistada – Eu, eu sou, portanto, como é que se diz, eu nem sei bem essas coisas,
contrato a tempo indeterminado, acho eu.
Entrevistador – Está a tempo inteiro na APD?
342
Entrevistada – Sim, sim, a minha actividade no curso EFA, foi integrada dentro disso,
não ganhei mais, também não tive que trabalhar mais horas, portanto, foi integrado
dentro do meu horário de trabalho.
Entrevistador – Alguma vez pensou em abandonar a actividade como formadora?
Entrevistada – Não, acho que também nos desenvolve, acho que ser só formadora não
chega mas o ser formador e ter as experiências de formação são positivas porque ajudanos também, ajuda-nos a desenvolver nós próprios, quer em metodologias de trabalho
como foi esta minha experiência agora com o EFA, quer às vezes questões que são
colocadas mesmo em termos técnicos que nós temos que ir à procura da resposta, não é?
Entrevistador – Se tivesse outras oportunidades profissionais, pensaria em mudar
de actividade?
Entrevistada – De actividade em relação, não está a falar só da componente da
formação, não é?
Entrevistador – Que faz, faz neste momento?
Entrevistada – Depende, eu acho que neste mundo em que vivemos temos que estar
abertos a tudo e gosto também às vezes de novos desafios, portanto.
Entrevistador – E em relação aos cursos EFA, como é que vê o papel dos cursos
EFA na sua vida profissional futura?
Entrevistada – Na minha? Eu por acaso não acredito muito neste modelo de formação,
assim, portanto, gostava de ter, de continuar a ter um papel num curso de Educação e
Formação de Adultos mas se calhar com um modelo um bocadinho diferente. Também,
eu fiz também uma aprendizagem e se calhar no outro, numa próxima experiência,
mesmo com um curso deste tipo se calhar também faria de maneira diferente, porque
acho que nós em cada experiência que temos, temos que aprender, tirar as devidas
aprendizagens e adaptarmo-nos.
343
Entrevistador – E quando, quando diz que não acredita muito neste?
Entrevistada – Neste modelo, porquê?
Entrevistador – Sim, pode-me explicar um pouco melhor isso?
Entrevistada – Tem a ver um pouco com aquilo que eu disse, anteriormente, com este
público, que são, pessoas adultas, há aqui diferentes situações e eu própria não conheço
a especificidades de cada um, mas pessoas adultas, havia um grupo de há volta dos vinte
e poucos anos, havia depois pessoas mais velhas já trintas e tais, quarentas e tais,
pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, mas que tiveram que ir vivendo e
tiveram experiências profissionais pelo caminho, mas são pessoas que pronto não
tinham grande qualificação, se calhar não tiveram as mesmas experiências, eu sou uma
pessoa que tive oportunidade de me qualificar, e vim para a APD, mas houve outras
pessoas que eu vi virem para a APD sem qualificações e que cresceram, portanto,
porque a própria instituição permite que a pessoa se desenvolva, este conjunto de
pessoas o que eu notei é que nunca tiveram em situações em que reflectissem sobre as
coisas, sobre a vida, sobre o seu papel na sociedade, portanto são, para mim eram
crianças com quarenta anos, e este modelo e eu atendo pessoas muito parecidas com
estas no Centro de Novas Oportunidades, este modelo de estar em sala, não dá,
portanto, se nós queremos que as pessoas aprendam, para algumas pessoas, porque nem
todos são iguais, mas estou a falar de um modo geral, e no modo geral em termos de
sociedade, as pessoas aprenda uma nova profissão, eu acho que tem que ser uma
questão, tudo muito mais prático, primeiro a prática, vamos aprender a fazer isto, vamos
aprender a tratar de pessoas idosas, então e depois ou no mesmo dia, no final do dia,
então o que é que aprenderam, então vamos ver os fundamentos teóricos disto, porque é
que temos que limpar desta maneira, porque é que, não é? Mesmo a parte da cozinha, eu
não percebi muito bem como é que funcionou aqui a parte da cozinha, eles tinham aulas
com um cozinheiro e depois tinham e tiveram parte prática, foram para a cozinha e
mexiam e foi tudo muito engraçado, porque aprenderam a fazer coisas que não sabiam e
técnicas e tudo. Acho que isso até foi estimulante para eles, mas outras matérias, não
sei, enfim, não sei se consegui responder à questão, eu acho que estas pessoas precisam
de crescer e o crescer não é a dizer as teorias e não é dar-lhes raspanetes e dizer, não, as
344
pessoas precisam de crescer confrontadas num ambiente de trabalho em que, que se lhe
exige que sejam profissionais.
Entrevistador – Sente-se reconhecida no seu papel, no seu trabalho como
formadora?
Entrevistada – Sim, porque apesar de tudo, pronto as pessoas aprendem alguma coisa e
também dão valor ao nosso trabalho.
Entrevistador – Em relação ao trabalho com os formandos, já perguntei algumas
coisas, mas perguntava à Paula quais são as dificuldades que sente no seu trabalho
como formadora de Educação e Formação de Adultos nos cursos EFA, quais são as
dificuldades, portanto da sua experiência de trabalho, neste curso, ao querer fazer
o seu trabalho quais foram as dificuldades com que se confrontou, que possa
identificar?
Entrevistada – As dificuldades foi, chegar às vezes à sala e ver que as pessoas não
estão minimamente, não lhes apetece estar ali, estão ali por obrigação e não sou eu que
os obrigo, portanto, estão ali porque se meteram nisto, apetece-lhes mais estar no café,
falar umas com as outras do que ter que vir para, para a sessão, é, foi a grande
dificuldade, a motivação.
Entrevistador – E como é que isso se manifesta depois no trabalho que decorre em
sala? Consegue-me especificar um pouco?
Entrevistada – Como é que se manifesta? Bom, um bocado falta de atenção, o
chegarem tarde ao início da sessão, depois de um intervalo ou de uma interrupção a
meio da manhã ou a meio da tarde, esticam sempre mais o tempo para além do tempo
que é dado, manifesta-se desta maneira, um bocado de desatenção ou continuar a
conversar enquanto, nos minutos após entrar na sala e manifesta-se assim.
Entrevistador – E em relação aos aspectos gratificantes na sua actividade como
formadora, quais são os aspectos que…
345
Entrevistada – É sentir que algumas pessoas se interessam pelas aprendizagens, pelos
conceitos que são transmitidos e pronto, questionam para além daquilo que é explicado,
dão exemplos, eu solicito sempre exemplos, então alguém já teve este tipo de
experiência, alguém já trabalhou num sítio que fizessem isto, há sim e pronto, uma das
outras dificuldades que eu notei, é que havia pessoas que não respeitavam tão bem as
experiências de outras pessoas e ou por já haver algum conflito entre elas, mas notei um
bocado isso. Que as pessoas não estavam interessadas em saber, eu solicitava realmente
a participação e havia pessoas que não queriam participar, não tinham nada a dizer, nem
queriam ouvir os outros.
Entrevistador – Ok. E em relação à articulação entre a formação, isto agora com o
trabalho dos colegas formadores, a articulação com os colegas de base, de uma
formação profissionalizante, como é que isso ocorreu, por exemplo o trabalho o
trabalho em torno dos temas de vida, no seu caso teve alguma participação?
Entrevistada – Não, eu não tive participação nos temas de vida.
Entrevistador – Portanto, de toda a forma costuma planificar os temas de vida?
Entrevistada – Tudo o que tenho com os temas de vida não sei, não sei responder
porque eu de facto não estive envolvida.
Entrevistador – Portanto, no seu caso teve um trabalho mais individualizado, sim?
Entrevistada – Sim. Não estive envolvida, por acaso cedi uma das minhas sessões para
que os formandos pudessem estar a trabalhar, eu estive aqui com eles, fui fazendo outras
coisas, por acaso já foi mais no fim do módulo, fui tratando da parte da avaliação, dos
elementos que já tinha para avaliar, para ir compondo a avaliação. Eles se tinham uma
dúvida, mas eram dúvidas muito pontuais, às vezes como é que se escrevia ou pronto,
não estive envolvida mesmo na concepção, na organização do tema de vida.
Entrevistador – E qual é a sua opinião sobre esse trabalho de articulação ou não
curricular em torno do tema de vida?
346
Entrevistada – Eu parece-me interessante, parece-me, não estive envolvida porque o
meu módulo, pronto não interferi, não foi abordado, se calhar o primeiro tema de vida
poderia ter alguma coisa haver e se calhar nem tanto. Mas como eu dei formação no
final do tema, desse primeiro tema de vida e no início do segundo, segundo período, isto
também foi mais dividido também por períodos lectivos, embora não correspondessem
aos períodos escolares, mas… Acho, achei daquilo que me observei pareceu-me
interessante, porque eu tinha outros formadores, outros colegas formadores e que
estavam mais envolvidos e portanto não me pareceu as pessoas, os formadores mais
envolvidos foram aqueles que trabalharam estas áreas chave portanto, a Língua
Portuguesa, a Matemática, Matemática sim, mas se calhar nem tanto, a, TIC, Inglês,
portanto, eu tenho, tinha dois desses formadores, partilhamos a sala, o gabinete,
portanto, ouvia-os falar e também às vezes interferia mas sem estar envolvida
directamente no tema de vida.
Entrevistador – Costumam fazer reuniões de planificação ao longo do curso?
Entrevistada – Houve reuniões, eu só estive numa.
Entrevistador – Sente que há dificuldade das pessoas comparecerem nas reuniões?
Entrevistada – Sim, eu pela minha parte só tive numa, nem foi propriamente
planificação, foi, foi planificação mas quando a planificação era do tema de vida e
portanto quanto foi tratado o tema de vida, calhou eu não estar envolvida, eu já não
participei nessa parte da reunião. Se eu sinto que há dificuldades dos formadores, isso
está, os formadores que dão módulos pequenos e curtos e portanto, limitados no tempo,
acabam por não estar muito envolvidos com o grupo, vêm fazer a formação, acabam por
não estar muito envolvidos no grupo, nem na organização, nem na planificação.
Entrevistador – Gostava de perceber também como é que, quais são as
preocupações face ao trabalho de formação que tem de fazer, ou seja quando tem a
sua formação para dar, quais são as preocupações e como é que procura orientar a
sua actuação?
347
Entrevistada – Bom, primeiro ver, vejo os conteúdos que fazem sentido dar num
módulo deste tipo, eu por exemplo, este módulo portanto na concepção geral do curso,
portanto, eu vi, fui ver o referencial do curso e os vários módulos e acho que por
exemplo houve módulos que se tocaram, tocaram e sobrepuseram por exemplo, o
HACCP que é uma área que deveria ser eu a dar e eu falei dela, mas já não falei da
mesma maneira porque ela já tinha sido abordada por um outro formador, num outro
módulo de nutrição que até nem tem muito a ver, portanto, acho que aí não as coisas
não correram muito bem. É um facto que os conteúdos que vêm no referencial para o
módulo que eu dou , eram conteúdos que para mim não faziam sentido e aliás dos vários
módulos que eu tive a ver os conteúdos, módulos que de algum modo se relacionavam
com, com a minha actividade e com aquilo que eu conheço, não me fazia muito sentido
porque havia sobreposição de matérias e não havia um módulo sobre conservação de
alimentos, embora o nome do módulo seja esse , não havia um módulo sobre, portanto,
quais são os factores que contribuem para a deterioração dos alimentos, como é que se
pode contrariar isso, e foi isso que eu entendi que devia de dar num módulo que é a
aquisição da conservação de alimentos. Portanto, eu construí os meus, os conteúdos
para o módulo, alguns pronto têm a ver com os próprios conteúdos que já estavam
previstos, mas aqueles conteúdos às vezes repetiam-se noutros módulos e aí eu acho que
é um erro muito grande em termos de planificação geral. Não olhar para os módulos
todos e ver, o que é que isto corresponde, é que não há uma pessoa que conheça os
conteúdos todos dos módulos, todos dos cursos EFA não é? Uns são mais ligados, neste
caso, uns são mais ligados, uns têm mais a ver com a saúde, outros têm mais a ver com,
com a alimentação, outros têm a ver até com a gestão dos espaços, as plantas, os
animais, porque um Assistente à Comunidade não é? De alguma forma toca em vários
aspectos, outros têm a ver com a higiene dos espaços, pronto. E não há ninguém que
domine todos os conteúdos, logo é difícil avaliar se aqueles conteúdos fazem sentido, se
não fazem sentido, em que sequência é que deviam acontecer e daquilo que eu observei
o referencial, os vários módulos que apresenta também não está tão bem feito. Portanto
eu gosto muito do referencial de competências chave e consulto-o várias vezes quando
quero planificar alguma coisa em termos de formação, agora o referencial dos cursos e
este estive um pouco mais de contacto porque eu tive a analisar.
Entrevistador – E como é que acabou por fazer então? Tendo em conta essa?
348
Entrevistada – Pronto eu fiz isso que lhe disse portanto, naquilo que este este módulo e
aquilo que me fazia sentir que as pessoas levassem para casa, construi os conteúdos, não
fogem muito aquilo que estava previsto, não é? Não fogem. Aquilo tinha 3 linhas e eu
desdobrei aquilo noutras coisas, foi assim, portanto construi, a pergunta que me colocou
é como é que eu organizei a minha, não é?
Entrevistador – É.
Entrevistada – Como é que eu me preparei para…
Entrevistador – É, como é que preparou a sua…
Entrevistada – Como é que eu construi? Construi, vi, comecei por ver os conteúdos,
ver a distribuição, o que é que fazia sentido, distribuição das capas das várias matérias,
depois comecei a ver os materiais que tinha para as para as várias matérias e aí comecei
logo a pensar que tinha que criar actividades, não tanto mais conteúdos porque este
público não aguentava mais ir mais a fundo nas matérias, e então materiais que ajudem
a consolidar ou que ajudem a aplicar, em que possam fazer a aplicação dos conceitos
que foram dados, portanto arranjei artigos da Proteste sobre aqueles estudos que eles
fazem de avaliar a qualidade da água, arranjei um trabalho com os rótulos para eles
trabalharem os rótulos das garrafas da água e analisarem o que é que lá vinha escrito e
que sentido é que aquilo fazia, com as embalagens portanto, quais são os elementos que
deve de conter, que informação deve de ter uma embalagem e portanto, eles observarem
as embalagens para ver se têm ou não têm os elementos, portanto criei actividades
práticas para eles sentirem as coisas que iam sendo transmitidas. Fizemos um trabalho
que esse pronto, esse, toda a gente gosta sempre, faço esse em todos os cursos que é,
estamos a falar de microrganismos, microrganismos que contaminam alimentos,
portanto, também tenho essa facilidade de arranjar umas placas que têm um meio de
cultura que facilitam o desenvolvimento dos microrganismos e fazemos aqui na sala
tocando essa placa, nos vários elementos que nos pegamos, na mesa, nas canetas, no
telemóvel, e damos o tempo suficiente para que aqueles microrganismos se
desenvolvam tanto que até se tornam visíveis. Portanto eles gostam muito dessa
actividade porque vêm e percebem que um telemóvel ou um teclado de um computador
tem muito mais organismos e microrganismos do que umas mãos que acabaram de ser
349
lavadas à torneira não é? Pronto, e a importância de que é de lavarmos as mãos e por aí
fora.
Entrevistador – E em termos das competências que considera essenciais para
exercer na sua actividade como formadora nos cursos EFA, se perguntar quais são
as competências para formadores que têm que exercer num curso EFA o que é que
lhe ocorreria?
Entrevistada – Eu acho que as competências que realmente fazem a diferença é a
paciência, é a capacidade de motivar, são essas duas grandes competências que fazem a
diferença, claro que algum conhecimento técnico daquilo que se está a transmitir e
alguma confiança para não transmitir, pronto para dar confiança aos alunos aos
formandos, conhecimento técnico, confiança, paciência e persistência.
Entrevistador – Quando se refere à paciência pode explicar-me um pouco melhor?
Entrevistada – A paciência é um bocado controlar os nossos impulsos num
determinado contexto que noutra circunstância nós se calhar reagimos não é? E aqui se
calhar não se pode reagir, temos de contornar a situação. Temos, portanto, uma
discussão que há entre dois formandos ou é um formando que está perfeitamente fora,
de braços cruzados, naquele dia e não lhe apetece de todo fazer nada, que me aconteceu
e eu daquilo que eu vi, tive sessões óptimas, daquilo que ouvi outros colegas a paciência
é um bocado esse controlo, de controlo de impulsos de não reagir, mas também alguma
firmeza, não é? A pessoa não pode deixar também que aconteça tudo, desculpe isso não
faz sentido, portanto são várias competências que eu lhe digo sinceramente também não
sei se as tenho mas é um bom exercício, é um bom exercício.
Entrevistador – Em relação ao perfil dos formandos gostava de compreender
melhor um pouco o tipo de formandos que teve neste grupo que frequentou neste
curso EFA, pedia-lhe para descrever um pouco os formandos?
Entrevistada – Formandos, as pessoas não são todas iguais não é, havia pessoas que
acham que sabem tudo e não sabem nada e isso determina logo uma determinada
postura não é? Na vida, pessoas que estão sempre a dar os seus palpites, que acham que
350
é assim, pessoas muito interessadas, que ouviam, quando tinham dúvidas questionavam,
quando havia algo que não estava tão claro, pronto pediam para clarificar, pessoas que
tanto lhes fazia e também quando se lhes pedia alguma actividade também era uma
chatice, porque se tinha que estar a fazer alguma coisa, eu não sei se lhe consigo definir
muito bem o perfil, eu acho que é um bocado isso, eu acho que, eu não vou dizer todas,
mas 60% são crianças crescidas, com comportamentos um bocado infantis, birras, fazer
birras, não têm a atitude de estar ali realmente para aprender e tirar algum proveito. Não
posso rotular todos porque as pessoas não são todas iguais, havia pessoas que sim que
estavam interessadas e também havia matérias, mas eu acho que aí tinha a ver com o
estado de espírito do dia, se estava a correr bem e depois se havia um problema com
uma delas como também aconteceu, eu digo-lhe sinceramente, nesse dia em que eu
tinha um, havia uma pessoa que estava com um problema, pronto a nível pessoal
complicado aquilo, aquele dia de formação não devia acontecer porque ninguém estava
ali, eu própria também acabei por me deixar também levar, pronto o quê que eu faço
com este grupo e também mostrar alguma solidariedade com a situação, são situações
também especiais e também, quer dizer, somos pessoas não é? Não podemos ignorar
que elas existem, que também nos podem bater ao nosso lado não é? Ou a nós mesmos.
Eu tentei não me envolver muito, tentei não me envolver no sentido de deixar as coisas
correr, o outro estava numa de não ligar nenhuma, deixá-lo andar, portanto, claro que o
envolvia, tentava envolvê-lo a ele como aos outros, mas ele não queria, quer dizer, não
ia andar com ele ao colo, não é? Quando havia um despique entre alguém, pronto, abria
os olhos, bem isto não faz sentido nenhum aqui, não é? Mas, tentei não me envolver
precisamente por isto, era um tempo limitado e eu digo-lhe que quando eu comecei a
ouvir histórias deste grupo fiquei com receio de vir dar formação, foi assim, eu não me
vou entender com aquela gente, aquela gente, parece é gente muito perigosa, não, não é
isso, portanto, defendi-me um pouco no sentido de não, não me entregar muito a nível
pessoal, não me envolver muito com eles, dava-me, tentava cativá-los porque essa é a
minha forma de estar, tentar cativá-los, envolver para o interesse das matérias, mas a
nível pessoal não, não dei muita confiança.
Entrevistador – Tinha ainda duas perguntas nesse sentido, se sentiu diferenças de
empenhamento dos formandos face a formação, dentro do grupo?
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Entrevistada – Sim, claro. Pessoas que estavam interessadas e que faziam as
actividades e faziam-nas bem e outras pessoas que estavam interessadas e faziam as
actividades mas não as faziam tão bem mas pronto isso aí é normal não é? E outras
pessoas que faziam muito arrastadamente, um bocadinho do lado direito a empurrar, um
bocadinho do lado esquerdo e às vezes eu a empurrar também para que a coisa
aparecesse feita.
Entrevistador – Em relação à aprendizagem, sentiu diferenças ao nível de
aprendizagem? Como é que foi o desempenho dos formandos?
Entrevistada – Correspondeu exactamente ao seu envolvimento, aqueles que se
empenhavam e que se envolviam mais demonstraram realmente maior aprendizagem do
que os outros, sem dúvida nenhuma, portanto, aí não houve, não tive surpresas.
Entrevistador – Tinha também uma questão nesse sentido em que já aí abordou
que é, se costuma haver conflitos no espaço da formação?
Entrevistada – Conflito no espaço da formação nas minhas sessões não houve, assim,
visível, eu acho que estava latente, visível que se tivesse manifestado, que tivesse
eclodido numa das minhas sessões não, mas notava-se alguma tensão, ele estava por lá,
especialmente com um elemento, que é um elemento que nas minhas sessões, eu não sei
como é que foi nas outras, nos outros módulos, nas minhas sessões, nas sessões
correspondentes ao módulo que eu dei era uma pessoa que se envolveu porque tinha
tido experiência de trabalho em restaurantes, em indústria alimentar e portanto isso,
coisas que eu falava, ela sabia e havia alguma animosidade de alguns, de outros
elementos em relação aquela pessoa, porque aquela pessoa de facto, daquilo que eu ouvi
era um foco de conflito dentro do grupo, e como ali se manifestava, tinha experiências,
eu dava-lhe atenção e cheguei a ser acusada por isso, também. Também, é sempre
fulano tal, que fala, se as outras não falavam e tinham a mesma experiência eu não
cheguei a saber, não é? Porque elas não manifestavam, mas procurava sempre ouvir
todos, portanto às vezes as pessoas queriam intervir para dizer algo que até não tinha
muito a ver ou que não era um exemplo tão representativo, mas pronto, eu dei sempre
espaço para que qualquer um pudesse falar, mas havia pessoas que tinham que dizer
algo só para dizer algo porque a outra, pronto, também tinha dito, e havia pessoas que se
352
calhar tinham algo para dizer porque tinham tido experiência e nunca se envolviam,
nunca ou muito raramente se envolviam nas actividades que eram actividades práticas
que as vezes envolviam computador, faziam, porque há pessoas muito hábeis, também
no computador, mas, que tivessem envolvidas na temática, nem todas.
Entrevistador – E os seus colegas costumam falar sobre isso? A questão dos
conflitos?
Entrevistada – Quando eclodia um conflito numa sessão pronto, comentava-se,
comentava-se. E eu só participei numa reunião, mas nessa reunião comentou-se várias
situações de conflito e pronto as abordagens que houve e algumas situações foram a
ponto tal de questionar se a pessoa devia ou não ser expulsa do grupo, não é?
Entrevistador – E em relação ao trabalho com os seus colegas de formação, como é
que aconteceu esse trabalho?
Entrevistada – Articulações com, portanto, articulei essencialmente com a
coordenadora da formação em termos de timings, sessões, horários não é? De conteúdos
não, de conteúdos fui eu só que decidi, pronto, que decidi, que comuniquei, que achava
mais interessante trabalhar mais estes conteúdos do que aqueles, aqueles outros, e
pronto não houve confusão nenhuma. Mas ainda dentro dessa questão, portanto,
articulei, porque foi uma coisa que surgiu espontaneamente, que eu tinha uma
actividade que achei que eles podiam fazer que envolvia PowerPoint ou seja eles
prepararem uma apresentação em PowerPoint, eu dei materiais, eu disse, têm aqui estes
materiais agora gostava que apresentassem uma, portanto fizessem uma apresentação
em PowerPoint, depois vão apresentar, cada um vai apresentar aquilo que fez, para
todos terem conhecimento e depois vamos trocar também essa informação entre todos,
mas antes de fazer isto eu estava a pensar nesta actividade e perguntei ao meu colega
que era o formador de TIC que está no mesmo gabinete que eu, olha lá os meninos do
EFA já deram o PowerPoint ou já deste o PowerPoint ao pessoal do EFA? Não, mas
vou dar na próxima sessão. Ai é, olha então calha bem porque eu gostava de fazer esta
actividade e ele disse há pois é calha bem porque assim é uma forma de avaliar, tu
avalias do ponto de vista do conteúdo e eu avalio do ponto de vista da concessão e
portanto foi a actividade que surgiu em conjunto. Ele deu o PowerPoint, eu dei há
353
actividade para eles exercitarem o o…pronto, para fazerem o PowerPoint, dei duas
sessões, ele deu depois uma sessão, para comporem e foi o trabalho em conjunto que
fizemos.
Entrevistador – E na globalidade em relação ao seu trabalho, considera que é um
trabalho mais partilhado, um trabalho que foi feito de forma mais
individualizada?
Entrevistada – O meu, o meu módulo sim, foi mais individualizado,
Entrevistador – Com que com que frequência é que costuma encontrar os seu
colegas de formação?
Entrevistada – Bom, encontrar com o objectivo de falar da formação em si não é?
Entrevistador – Ou não, ou não…
Entrevistada - Não, eu encontro os meus colegas de formação todos os dias porque
dois deles estão no mesmo gabinete que eu e portanto todas as semanas havia algo a
dizer sobre o curso EFA, não é? Porque um dava TIC e outro dava Inglês e essas duas
matérias foram dadas ao longo de todo o curso, enquanto o meu foi só pontual, portanto
durou dois meses e tal, portanto, falava-se à volta disto e normalmente falava-se em
termos dos comportamentos, das atitudes, portanto era mais…
Entrevistador – E em relação aos colegas, externos?
Entrevistada – Externos, não contactei com eles.
Entrevistador – E nos momentos mais formais ou seja?
Entrevistada – Momentos formais, só estive envolvida numa reunião, em que nessa
reunião estavam muito poucos elementos, mesmo os externos, portanto, parece-me que
as reuniões também foram organizadas um pouco em função das pessoas que tiveram
envolvidas recentemente, portanto neste último período, vamos lá chamando assim. E
354
mesmo assim nem todos puderam participar e depois na apresentação dos temas de
vida, mas aí não contactei com outros colegas formadores, portanto, estávamos lá,
assistimos.
Entrevistador – Na sua opinião há algum aspecto no trabalho de formação com os
seus colegas de equipa pedagógica que acha que seria benéfico melhorar, alguma
coisa que na sua opinião?
Entrevistada – Acho, quer dizer, tem um bocado a ver com a própria organização da
formação, que não é fácil. Temos, que é uma coisa que tem que se ver logo desde o
início, temos um curso EFA a organizar, que tem um conjunto de módulos que têm que
ser dados, portanto isto foi um trabalho monstro para a coordenação, organizar módulos
ao longo de um ano sabendo que os formadores, principalmente os formadores externos
têm a sua actividade profissional lá fora, que têm folgas, têm horários, e portanto, ela ter
que articular, portanto este é um trabalho realmente gigantesco, pronto, mas é um
trabalho que tem que ser feito e foi quanto a mim e quanto ao que eu pude apreciar
muito bem feito. Mas há um outro trabalho que devia ser feito e eu percebo que se
calhar foi feito de algum modo ligado ao tema de vida mas se calhar devia de ter sido
uma coisa mais consistente que tem a ver precisamente com analisar as matérias que
têm que ser dadas e que cada formador não é? Discutir com a equipa de coordenação e
eventualmente com outros formadores que possam dar matérias similares e ver como é
que se vai organizar a coisa e potenciar até articulações. Isto era o ideal, ora o ideal
como é que se diz, o perfeito é inimigo do bom, pronto, isto seria o ideal num curso
concebido desta maneira como este foi e muitos outros, é olhar para todo o curso ver
quem são os possíveis formadores, isto não é fácil, quer dizer, porque há um formador
que se está a contar e depois não é aquilo porque não pode não sei o quê e tem de se
arranjar outro, ou porque já não vai entrar para aquela altura porque afinal mudaram-lhe
o horário, agora tenho que entrar no trabalho mais cedo, é uma loucura, isto é um
trabalho louco mesmo, portanto só se for uma estrutura, um grupo de formação muito
grande tem lá os formadores todos e pronto, aquilo encaixa tudo perfeitinho. Para mim
seria o ideal na concepção da formação, analisar os conteúdos das matérias todas e ver
as relações que possam existir entre os vários módulos, se há formadores diferentes
então ver como é que se articula, potenciar, portanto, sinergias que acontecem, que
355
existem. Pronto e os próprios formadores acabam por estar também mais próximos,
conhecem-se entre si, têm mais confiança, esse, isso podia ter sido um trabalho.
Entrevistador – Sente diferenças no empenhamento no trabalho dos colegas
formadores para pôr em prática o modelo EFA?
Entrevistada – Eu não posso avaliar isso porque eu não tive muito contacto, não tive
muito contacto com os outros formadores.
Entrevistador – E em relação à sua relação com a entidade formadora, neste caso
com a APD não é? Que tipo de relação é que tem com a entidade?
Entrevistada – Não sei, não sei exactamente o que responder, portanto, eu sou
funcionária da casa já há tanto tempo, para mim não fez grande diferença, está a falar
especificamente nesta função de ser formadora no curso EFA, organizado, em que a
actividade formadora é a associação APD, não me fez qualquer diferença, não há nada
que eu possa realçar diferente de tudo o resto.
Entrevistador – A pergunta ia nesse sentido, se se vê como trabalhadora da
entidade? Se faz o trabalho de formação?
Entrevistada – Sim, claro.
Entrevistador – E identifica-se na forma como a APD perspectiva a formação?
Entrevistada – Sim, sim.
Entrevistador – Nos cursos EFA?
Entrevistada – Sim, salvaguardando aquela questão, eu realmente não acredito muito
neste modelo, mas isso não é culpa da APD não é? É um modelo que existe e não se
pode, pode-se variar, pode-se trabalhar, adequar, numa determinada forma de estar, dar
um cunho pessoal, não é? Da entidade, marcar a formação com o cunho da entidade
formadora, mas não se pode fugir ao modelo, porque o modelo é aquele, os módulos são
356
aqueles. Há alguma maleabilidade dentro de cada módulo, da mesma maneira que eu
tive, outros formadores penso eu, que tiveram não é? a mim ninguém me criou
obstáculos em relação a isso.
Entrevistador – Quando diz que há uma maleabilidade dentro de cada módulo?
Entrevistada – Daquilo que eu disse, portanto, eu olhei para o módulo, é este o módulo
que eu vou dar, que eu posso dar, que tenho mais disponibilidade para dar, portanto, e
os conteúdos são estes, fui eu que decidi os conteúdos, a forma, ninguém interferiu isso.
Entrevistador – Sente-se reconhecida pela entidade pelo trabalho que
desempenhou no âmbito dos cursos EFA?
Entrevistada – Não me sinto reconhecida, mas também não me sinto irreconhecida,
portanto, passa pela relação que eu tenho com a instituição, sou funcionária. Isso foi
uma das actividades que eu faço dentro da APD, faço várias, ou poderei fazer várias, dei
a minha, o meu contributo, não me sinto mais nem menos reconhecida, portanto, está
dentro da relação que temos.
Entrevistador – Tenho aqui um conjunto de questões que gostava de tentar
perceber se tem informação que me possa ajudar nesse sentido, que é se na sua
opinião, se os cursos EFA, ou se terá conhecimento disso, se funcionam de forma
diferente consoante as entidades onde eles acontecem, ou seja, será a mesma coisa
um curso EFA funcionar na APD, no IEFP, numa escola, não sei se tem alguma
ideia sobre isso?
Entrevistada – Que eu tenha conhecimento disso, não tenho. Mas acredito que sim, que
seja diferente, porque cada instituição tem a sua forma de se organizar, de planificar e
de levar a cabo, tem uma relação própria quer com formandos quer com formadores são,
é a identidade da própria entidade, acredito que sim.
Entrevistador – E em relação à avaliação do seu módulo? A avaliação dos
formandos, como é que foi feita a avaliação?
357
Entrevistada – Fiz, não fiz nenhum teste, fiz, portanto usei as tais actividades que fui
fazendo ao longo do módulo, usei essas actividades para os avaliar, numa fase inicial,
portanto as primeiras actividades, mais pela participação e envolvimento, numa fase
final em que já propus actividades em que era analisar um determinado texto e
identificar o que é acontecia, não é? Dentro daquela problemática aí também não só o
envolvimento e o empenho não é? Ao fazer isso e a apresentação final da actividade,
mas também o conteúdo, portanto, o resultado, se corresponderam, responderam bem ou
mal, portanto fiz uma avaliação continua. Continua e sem aquele grande peso da
avaliação, eram actividades que tinham que ser feitas e todas elas contaram, numa
percentagem para a nota final.
Entrevistador – Eles depois tiveram uma classificação no final?
Entrevistada – Tiveram.
Entrevistador – Como assim?
~
Entrevistada – Foi-me dito que tinha que lhes dar uma nota, dei-lhes uma nota em
função dessas, portanto, transformei todos estes aspectos em valores.
Entrevistador – Diga-me de zero a…
Entrevistada – A 20.
Entrevistador – Havia alguma formatação para a avaliação por parte da entidade?
Entrevistada – Não, não. Foi só, foi a minha criação portanto, foi-me dito que tinha de
lhes dar uma nota no fim de 0 a 20, então em função disso eu organizei a avaliação
como entendi, como achei melhor face ao grupo, face as matérias.
Entrevistador – Em relação ao trabalho de mediadora, na sua opinião de que modo é
que é importante ou pode ser importante o trabalho do mediador no curso EFA? Que
ideia tem sobre essa questão?
358
Entrevistada – Bom eu não estive, como lhe disse já, não estive assim muito envolvida
nas questões de planificações, nem de reuniões só participei numa, mas eu acho que é
muito importante e acho pronto funcionou muito bem e que aqui a mediadora teve
vários papéis, teve a planificação em si, portanto toda aquela , aquele puzzle que é
montar uma formação e encaixar os módulos e jogar com horas e disponibilidades, mas
também o envolvimento directo com os formandos que é se calhar mais isso o papel de
mediação em si e acho que todos os formandos têm um carinho muito especial pela
mediadora, portanto acho que correspondeu, que eu possa ter elementos para avaliar
bem ou mal não tenho porque não estive muito envolvida não é? Mas, tenho uma
opinião, mas reflexa, portanto aquilo que eu aprecio há distância.
Entrevistador – Um último grupo de questões, tem a ver com questões de carácter
mais geral mas penso que esta com boa informação para me ajudar a compreender
isto, tem a ver com a Iniciativa Novas Oportunidades. Qual é a sua opinião em
relação à Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistada – Geral não é? Olhe, eu, estive envolvida, não entrei nas Novas
Oportunidades, só nas Novas Oportunidades, entrei, cheguei a fazer parte da equipa
daquilo que eram os Centros de Reconhecimento de Competências e eu não sou
nenhuma teórica, nem nenhuma pensadora dessas coisas da educação, portanto, aliás a
minha formação é mais técnica e não sou muito dada a grandes reflexões, mas eu acho
que é uma oportunidade, realmente é uma oportunidade excelente para as pessoas que
não tiveram uma oportunidade na sua infância ou juventude, eu acho que é o conceito
lindíssimo, poder reconhecer que a pessoa teve as suas aprendizagens, não foi só a
escola que ensinou, portanto a vida ensinou, claro que há aprendizagens que têm mais
valor escolar naquilo que são os conceitos escolares, não é? E o próprio referencial
embora não seja totalmente escolarizado, tem que bater nalguns aspectos que se
aprendem na escola, pronto e que às vezes é difícil a gente encontrar determinados
conceitos na vida normal, quer dizer, quem é que aprende o Teorema de Pitágoras no
dia-a-dia, ninguém, há pessoas que sabem aplicar, não é? O Teorema de Pitágoras,
sabem resolver um problema em que se usaria o Teorema de Pitágoras, não sei se ainda
se lembra do Teorema de Pitágoras, que é o triângulo para determinar a medida da
hipotenusa. Portanto eu acho o conceito em si uma coisa encantadora, para lhe ser
sincera, desde sempre, a medida Novas Oportunidades, eu acho que foi uma coisa
359
interessante, claro que depois portanto eu já lhe disse como é que achava que deviam de
ser os cursos EFA, quer dizer, as coisas não são perfeitas, são aquilo que é possível ser
no momento e no momento em que são concebidas e com os conhecimentos que há, eu
acho as Novas Oportunidades uma coisa muito positiva, quer a nível das formações,
quer a nível dos cursos EFA, quer a nível dos reconhecimentos de competências, depois
se temos todos os instrumentos para fazer um bom trabalho, se calhar não temos, se
todos trabalham bem, se calhar nem todos trabalham bem, mas é assim, nós também não
somos os melhores, mas também não acredito que sejamos os piores, eu acho, eu acho o
conceito em si muito interessante, não é perfeito, tem muitas falhas, especialmente
falhas a nível e eu posso dizê-lo bem, a nível das respostas formativas adequadas ao
perfil das pessoas e em meios pequenos como nos aqui em S. Brás é muito complicado.
Então se eles vão cortar agora os cursos EFA na escola então eu não sei o que fazer com
muitas pessoas com 60, 70% das pessoas.
Entrevistador – Pode-me explicar um pouco melhor essa questão, portanto, o que
me esta a quer dizer?
Entrevistada – Cursos.
Entrevistador – Em relação às ofertas?
Entrevistada – Às ofertas formativas, portanto os Centros de Novas Oportunidades
fazem, portanto, recolhem as inscrições não é? De pessoas que não tiveram, que não
têm estudos e ou que querem aumentar as suas qualificações escolares mas profissionais
também, embora nos não sejamos um CNO com uma componente profissional,
Reconhecimento de Competências profissional, mas podemos encaminhar para
percursos formativos profissionalizados. Portanto nós fazemos o diagnóstico, a
avaliação do perfil dos candidatos e pronto tentamos encaminhar para a oferta formativa
adequada ao perfil do candidato, e o que acontece é que há candidatos que não têm
perfil para coisa nenhuma, daquilo que é a oferta, especialmente agora nesta fase com os
desempregados, não é? Porque, tem conhecimento desta nova orientação em que as
pessoas desempregadas que não tenham o 12º feito são encaminhadas para o Centro
Novas Oportunidades para aumentar as suas qualificações, ora, para já isso tem que ser
uma coisa voluntária, a pessoa tem que sentir necessidade de, não é? Ser obrigado, quer
360
dizer, não se obrigou o jovem, não havia condições ou estrutura que obrigasse um
jovem de 12 ou 13 anos a ir para a escola, a fazer a escola, e agora uma pessoa tem uma
vida pessoal, familiar, expectativas profissionais porque as pessoas querem é ganhar
dinheiro não é? Ter um trabalho e ganhar dinheiro, vai-se obrigar a estudar, não me
parece correcto, mas pronto, são orientações politicas. Por outro lado como há falta de
dinheiro está-se a cortar nalguns cursos, aliás o Algarve já tem muito menos formação
do que tinha há um ano ou dois anos atrás e a tendência vai ser sempre pior, portanto
não há ofertas formativas para nós encaminharmos pessoas que estariam em condições
de ir, pessoas que para além da formação, para além da qualificação escolar que
necessitam, também podiam fazer uma qualificação profissional, neste momento está
muito complicado conseguir encaminhar alguém para uma qualificação profissional.
Qualificação escolar, nós enquanto Centro de Novas Oportunidades, temos a parte de
Reconhecimento de Competências, mas nem todas as pessoas têm uma história de vida
que lhes permita, que saiam dali competências que possam ser reconhecidas, têm outras
experiências, tem o seu valor mas…
Entrevistador – Na sua experiência como técnica de diagnóstico, tem-se
confrontado com essa situação do pessoal que está desempregado?
Entrevistada – Todos os dias.
Entrevistador – Algumas situações que se recorde?
Entrevistada – Pronto, as pessoas vêm-se inscrever, vêm-se inscrever essencialmente,
porque lhes é dito logo, têm que se inscrever no Centro Novas Oportunidades para
aumentar as suas qualificações escolares senão cortamos o Subsídio de Desemprego ou
cortamos o Rendimento de Inserção, Social de Inserção e as pessoas vêm, precisam do
dinheiro, não é? Vêm-se inscrever, a maior parte, bom, não é a maior parte, algumas
pessoas, pronto, aproveitam a oportunidade não é? Estou desempregado, olhe, vou
aumentar as qualificações escolares, mas esse é um público assim mais jovem, 30,
mesmo 40 anos, encontra-se, essa, essa atitude, essa posição, portanto, olhe já que tem
de ser, vou aproveitar para fazer aquilo que não consegui fazer, porque algumas pessoas
não estudaram. Porque, algumas até queriam, não tinham condições económicas para
tal, ou moravam muito longe e os pais também não tinham como e aproveitam a
361
oportunidade. Muitos olham para isso com uma certa revolta, porque o que eles querem
é trabalhar, arranjem-me um trabalho, eu não quero estudar, portanto toda a vida
viveram sem estudar, fizeram a sua vida sem precisar dos tais estudos, porque havia
trabalho, havia trabalho que permitia que as pessoas não precisassem de ter estudos, e
mesmo, continua a haver, portanto, essas oportunidades de trabalho existem, só que
agora a defesa é pedir um grau escolar acima, porque é uma forma de seleccionar as
pessoas, ou de dizer não, olhe não tem condições porque a gente quer com o 9º ano e a
pessoa, pronto olhe não tenho o 9º ano e aí. As pessoas o que querem a maior parte é ter
trabalho, há pessoas que são, pronto, que a gente nota também, que são os tais
aproveitadores do sistema, não têm trabalho mas também não querem ter porque estão a
receber um subsídio sem fazer nenhum, têm um rendimento sem fazer nenhum, e esses
continuam sem querer fazer nenhum, vêm cá e tal, a gente nota logo assim aquela
atitude, pronto, ok é para fazer é para fazer, e depois não fazem nada, estão aqui, vêm
cá, picar o ponto, temos estas panorâmicas todas, portanto, pessoas que aproveitam a
oportunidade, vêem mesmo como uma oportunidade, então é agora que eu vou fazer,
fazer aquilo que eu não consegui fazer, outras que vêm, pronto, vêm que é para não
perderem o subsidio, outras vêm mas não têm grande interesse e outras são umas
revoltadas, porque não é isto que querem, o que querem é ter um trabalho. E todos os
dias, portanto eu posso dizer que desde Dezembro para cá foi quando saiu a orientação,
eu vou à lista de inscritos e 90% são desempregados e é dramático porque, pronto, e é
pessoas de todas as condições sociais, porque até a pessoa que não sabe ler nem
escrever eles mandam para cá, quando nós não podemos dar resposta.
Entrevistador – E quando aparecem essas pessoas que diz-me que estão revoltadas
como é que costuma fazer?
Entrevistada – A abordagem…
Entrevistador – Eles recusam formação é isso?
Entrevistada – Não, não recusam, porque estão revoltadas, mas precisam do subsídio
não é? E quem não está a receber o subsídio, porque eles, há muitas pessoas que estão
inscritas no Centro de Emprego mas não estão a receber, porque pronto, por causa
daqueles critérios que eles lá têm. Mas estão inscritas na tentativa de arranjar emprego,
362
a maior parte das pessoas que não está a receber o subsídio e que não se interessa por
fazer cá, para aumentar qualificações, não me parece e aí também não é penalizada
porque não lhe vão cortar subsídio daquilo que não, um subsídio que não têm, não é? Já
não têm, já não faz diferença, o que é que me perguntou? Já não sei se estou aqui a…
Entrevistador – No caso dos outros não é? Os que estão a receber subsídio mas que
não estão muito interessados?
Entrevistada – Os que estão acabam, vêm, vão vindo, mas a maior parte, digo-lhe já,
não têm perfil nenhum mesmo, nem perfil para fazer isto, porque são pessoas que
tiveram em trabalhos não qualificados, não tiveram oportunidade de desenvolver, de
crescer, ou aumentar, pronto mesmo as técnicas de trabalho.
Entrevistador – Ajude-me lá a compreender isto, portanto quando eles são
identificados como não tendo perfil, o que é que lhes pode acontecer neste caso?
Entrevistada – Olhe, isso é o meu problema, neste momento, eu, a minha angústia é
essa, é o que é que eu faço com as pessoas que não têm perfil, porque não têm perfil,
nem há respostas formativas e mesmo nalguns casos em que poderia haver respostas
formativas, as pessoas também não, não é mal, estou a dizer mal, portanto não há muitas
respostas formativas, mas há pessoas que nem para RVCC nem para qualquer resposta
formativa, que a gente vê que a pessoa intelectualmente não vai lá, não é? A pessoa até,
alguns até me dizem eu saí da escola porque não tinha cabeça para a escola, pronto e é
um trabalho, fizeram a sua vida a fazer trabalho não qualificado, há pessoas com 55 ou
60 anos como eu já recebi, 63 anos, e a pessoa vai aumentar as suas qualificações
agora? Que motivação é que a pessoa tem para isso, mas há pessoas que sim, que
querem, ai não estudei então agora é que eu vou estudar e têm orgulho, têm gosto e
fazem gosto nisto, se isto é ruim, não sei, talvez. Portanto, é o meu drama, é o que fazer
com as pessoas que não têm perfil, porque eu acho que não me cabe a mim também
dizer a esta pessoa, vai deixar de receber subsídio, não sou eu que tenho de decidir isso,
não é? E a pessoa não tem culpa de ter tido o percurso que teve na vida, não é? Portanto,
eu não sei o que fazer com elas, eu tenho que fazer os registos a nível do SIGO, não sei
o que fazer com elas, deixo-as em diagnóstico, vou cumprindo os timings que têm que
ser cumpridos até ao diagnóstico e no diagnóstico paro e não sei o que fazer com elas,
363
porque encaminhar para uma resposta formativa, ela não existe e a partir do momento
em que eu encaminho a pessoa, eu já não posso fazer nada em termos de SIGO e às
vezes, eu não sei, com estas mudanças que nós estamos a viver neste momento, em
termos políticos e de novas orientações, se poderá haver alguma solução, ou se eu
poderei fazer alguma coisa a nível de SIGO que diga assim, pronto, não, a pessoa pára
por aqui, não avança mais. Neste momento eu não tenho opção, eu faço o
encaminhamento, eu tenho que encaminhar para alguma coisa, tenho que o encaminhar
para ou vai para um curso EFA, ou vai para a escola, por exemplo as pessoas que não
sabem nem ler nem escrever que eu atendi aqui a semana passada um grupo, eles são
encaminhados para cá e a gente tem que se resolver alguma coisa com eles, existe um
curso que é competências básicas a nível de escola, que é mesmo destinado as pessoas
que não sabem ler nem escrever, ao que pronto, não dominam não é? Então encaminheios para a escola, mas eu tenho a certeza que a maior parte daquelas pessoas não vai dar
continuidade, mas pronto.
Entrevistador – Ouve agora um adiamento em relação ao arranque das novas
candidaturas dos cursos EFA não foi?
Entrevistada – Eu não estou muito a par ai das candidaturas mas vou ouvindo aqui uns
zun zuns… Mas sei que este ano, ainda ontem estava a perguntar ao colega, que tem
uma ligação com a ASMAL e perguntei, então que cursos é que eles têm lá agora? Está
a decorrer este (em cozinha e pastelaria) mas então não abriu nada, não, não abriu, não
abriram as candidaturas e ainda não foi possível fazer as candidaturas, portanto, não
houve candidaturas para o Algarve, para este próximo ano lectivo não há um curso EFA
onde eu possa sugerir um encaminhamento. Um curso EFA portanto, com a vertente de
dupla certificação.
Entrevistador – Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na
vida dos adultos?
Entrevistada – Eu, se eu considero, considero que sim, claro.
Entrevistador – A que nível é que isso?
364
Entrevistada – Tem efeitos, para já, autoconfiança, a pessoa, eu acho que limita muito
uma pessoa se toda a vida quis estudar, que nunca teve essa oportunidade, agora dizer
que já têm o 9º ano ou que já têm o 12º ano e poder ir a uma oferta de emprego e dizer
que sim, que tem, não é? Que tem aquilo que é pedido, eu acho que isto faz muita
diferença na pessoa, mesmo que a pessoa não arranje logo emprego, faz, na motivação,
na auto-estima, faz diferença e a nível de empregabilidade, bom, no momento que
estamos a atravessar, com o desemprego a aumentar não sei se vai fazer muita
diferença, mas eu também não acredito que isto seja até à eternidade, portanto, há-de
haver um momento em que as coisas comecem a dar a volta, não sei se são estes adultos
que vão beneficiar, que vão apanhar isso, ou se calhar a volta não será para aqueles que
são mais novos, agora, os tais, a “geração à rasca” que se fala, pronto, não sei se são
estes adultos, mas alguma coisa vai ter de acontecer a estes adultos, quer dizer, é
impensável que estas pessoas não arranjem mais emprego na vida e que morram todos à
fome, não acredito nisto, ou não quero acreditar.
Entrevistador – Tinha aqui uma outra pergunta, de certa forma já falou, o que é
que acha da opinião que a Iniciativa das Novas Oportunidades promove o
facilitismo? Esta opinião por vezes circula?
Entrevistada – Pois, circula, eu acho que quem está fora das Novas Oportunidades que
é muito fácil pensar isso, quem está fora é muito fácil dizer assim, então como é que se
pode dar o 9º ano em 3 meses? Não são todos os adultos que o conseguem fazer em 3
meses, quer dizer, são excepções os que fazem em 3 meses, porque a maior parte dos
nossos dos nossos inscritos fazem num ano, e como é que se dá o 12º ano em três
meses, é uma raridade ainda não vi nenhum, portanto eu acho que quem está de fora
tem, porque não conhece, não sabe o que é que é feito das Iniciativas, estou a falar
especificamente do Reconhecimento de Competências que é aquilo mais rápido,
conseguir-se o 9º ano ou o 12º ano, teoricamente não é? Que há pessoas, olhe estou
neste momento a fazer limpezas ao SIGO, de limpar inscritos e de pessoas que estão
paradas há três anos, portanto, há pessoas que, estão muito muito inscritos mas não
fazem nada, portanto eu, claro que eu não sou a favor dessa opinião e isso é dito por
pessoas que não conhecem, que não conhecem a iniciativa e não estão e que nem nunca
estiveram num Centro a ver o que é que nós lá fazemos, nós, eu não estou a falar aqui
de nós, estou a falar de ver o que é que se faz nos Centros porque é muito fácil de falar
365
daquilo que não se conhece, ter uma opinião daquilo que não se conhece, portanto, para
mim é isso, agora se há Centros que funcionam melhor que outros deve haver de
certeza, mas eu não, é assim, mas eu não vou tomar isso como a bitola de base, para
mim a bitola de base é as pessoas que não conhecem, têm, eu própria fiz o 9º ano, fiz o
12º, eu, você, todos nós não é? Sabemos o esforço que tivemos para ter de ir à escola, eu
também não gostava da escola, quer dizer, estudava por obrigação, tinha que ser, tinha
que tirar boas notas, tinha que passar, agora havia coisas muito mais interessantes para
fazer não é? Foi um esforço, então como é que se pode fazer, eu tive 3 anos para fazer o
12º agora essa gente vai fazer um 12º num ano, pode lá ser? Claro que é muito fácil ter
este pensamento, agora que as pessoas trabalham muito, trabalham para conseguir ter
um 12º ano feito num ano nas Novas Oportunidades, trabalham.
Entrevistador – Na sua opinião o que é que poderia ser melhorado nas Novas
Oportunidades? Da sua experiência de trabalho?
Entrevistada – Bom, a Iniciativa Novas Oportunidades tem várias vertentes, aquela que
eu conheço melhor é o Reconhecimento de Competências, eu acho, o que é que poderia
ser melhorado? Talvez ajustar, olhar outra vez para os referenciais e tentar ajustar os
referenciais, especialmente de 12º ano, se calhar ainda não tá bem trabalhado, porque o
referencial do 12ºano, se bem que há um conjunto de núcleos que todas as pessoas têm
de cumprir, todos os núcleos, podem é não fazer os mesmos créditos que as outras, mas
devia ainda permitir uma maior flexibilidade, ou seja, haver mais núcleos onde as
pessoas pudessem encontrar competências, componentes artísticas, não tem, não está lá,
as capacidades artísticas não são valorizadas neste referencial, e também são válidas,
aliás a nível de escola há uma área de estudos que é a parte artística, acho que devia de
ser um bocado pensado melhor o referencial, olhar para o referencial e ver o que é que
se poderia fazer e com o envolvimento dos profissionais que trabalham nos Centros e
que lidam com o dito referencial e que lidam com as pessoas, porque eu acho, bom, não
quero também se calhar atingir ninguém não é? Mas na maneira, quem faz as leis, quem
faz os referenciais, quem faz as orientações todas para os outros trabalharem são
pessoas que têm o seu valor, porque pensam nas coisas, estudam, vêm experiências no
exterior, tudo isso, mas depois não trabalham nos sítios e não vêm as dificuldades de
aplicação daquelas mesmas coisas que foram criadas e isso muitas vezes é que é
complicado, relativamente a leis, quem faz leis para agricultores e os põe a fazer coisas
366
pela internet não sabe, não conhece a realidade dos agricultores que tem neste pais não
é? Pronto, a propósito do próprio diagnóstico, daquela que é a minha função, em que as
orientações são que temos que definir se se a pessoa vai encaminhada para o 9º ano ou
para um 12º ano, eu às vezes tenho pessoas em que tenho dúvidas porque o percurso é
um percurso rico, a pessoa tem uma facilidade de expressão, portanto tem tudo isso,
mas por acaso não tem o 9º ano não é? E vou pô-la a fazer o 9º ano, sobretudo se me
parece que a pessoa até consegue fazer o secundário. Mas eu não tenho elementos no
diagnóstico que me permitam garantir que a pessoa vai fazer o secundário, depois
também não faz o 9º e depois nem 9º nem secundário, e eu, estávamos em reunião e eu
comentei isso, porque os senhores que que fazem as orientações querem que a gente
defina isso logo, mas depois não nos dão os elementos, nós temos que desenvolver
elementos e para eu definir se é nono ou secundário tinha que fazer o Reconhecimento
de Competências quase completo e então aí já sabia se a pessoa ia para o nono ou para o
secundário, mas eu já disse isto numa reunião com a Agência Nacional de Qualificação,
disse isto, se for fazer um diagnóstico tão exaustivo às tantas estou a fazer o
Reconhecimento de Competência então aí retiro o trabalho aos profissionais de
Reconhecimento de Competências, e eles concordaram, não é? Mas porque realmente é
preciso conhecer, ver como é que as coisas estão a ser aplicadas e usadas, isto é valido
para quase tudo na vida acho eu, porque quem faz as orientações, às vezes faz, parecelhe bem assim porque a nível teórico e não sei o quê, os estudos feitos dizem que é
assim. Então mas vamos lá a ver a aplicação, e eu acho que aí há uma falha e as Novas
Oportunidades que são tão criticadas, acho que deviam ser mais acompanhadas e dizer
então vamos lá ver realmente como é que eles fazem, que dificuldades é que têm no
exercício das funções, o cumprir metas pronto, claro que tem que haver metas, senão
isto era uma papa, não é? Andávamos aqui na maior, então quantos validaram? 3 ou 4,
os melhores, foi os que validamos, claro que tem que haver metas porque em tudo nós
temos ter objectivos para atingir, porque pronto, temos que chegar lá, que nós na nossa
vida também temos, agora gostava de ter um carro não é? Então eu vou lutar para ter um
carro ou gostava de ir fazer um curso, não sei, aquele curso que eu vi e que gostava,
portanto tenho que organizar a minha vida de modo a lá chegar, e nós temos que ter
metas, se as metas estão ajustadas, nalguns contextos estarão, noutros não.
Entrevistador – E sente que de alguma forma as metas condicionam o seu
trabalho? E dos seus colegas?
367
Entrevistada – O meu directamente não, mas o da restante equipa sim. Eu não sinto
porque o meu trabalho é pôr pessoas em processo, claro que se as metas não forem
cumpridas o meu trabalho está em risco, não é? Está em risco, o meu interesse é que a
equipa consiga cumprir metas, e o meu interesse é de pôr o máximo de pessoas em
processo possível, para que elas tenham matéria-prima para cumprir as metas. Agora, as
profissionais, as formadoras, trabalham com alguma pressão, por causa das metas.
Entrevistador – Os seus colegas costuma-se manifestar em relação a isso?
Entrevistada – Sim, sim, em quase todas as reuniões nós temos a pressão das metas,
como é que estamos, já temos não sei quantos nos faltam, então quando é que há júri?
Quantos vão a júri, e quantos júris conseguimos fazer até ao fim do ano? E quantos
conseguimos até? Pronto, quase todas as semanas nós temos esta conversa. Então e
novos grupos, essa parte então já me diz respeito então e novos grupos e depois agora,
temos poucas inscrições ou as inscrições que temos não conseguimos e tal pronto, sinto
essa pressão também, eu, aliás estou para ir de férias e não acho que não me sinto tão
pressionada no meu trabalho como os meus colegas, em relação às metas, mas como
estamos para ir de férias, portanto e depois faço estas contas, eu estou para ir de férias,
vou estar um mês fora, portanto eu tenho que tentar pôr a fazer os diagnósticos e pôr um
máximo de pessoas possível, e eu em duas semanas chamei todas as pessoas que tinha,
o problema é que eles não vieram, porque foi na altura de férias não é? E trabalho
sazonal também, portanto as pessoas aproveitam para fazer alguns trabalhinhos não é?
Eu pego nestas inscrições todas, eu chamo-os todos, já devo de ter chamado umas cem
pessoas nestas duas semanas, ver se consigo fazer os diagnósticos todos, consigo pois
eles apareceram tão poucos que consigo, antes de ir de férias para as minhas colegas
terem trabalho, mas o número que veio não é o suficiente para realmente arrancar com
os grupos, mas agora é uma decisão delas, isso já não, para ver se consegue trabalhar
para ver se até ao fim do ano ainda consigo validar algumas destas novas pessoas,
porque temos este serviço que temos de fazer na nossa programação de trabalho.
Entrevistador – Para terminar, já me falou também nesta questão, mas qual é a
sua opinião sobre os cursos EFA?
368
Entrevistada – Bom, eu os cursos EFA acho que são uma, pronto pensando agora
assim no conceito dentro das Novas Oportunidades, como já disse, acredito nas Novas
Oportunidades, no conceito geral e nas várias partes que o compõem, acho que os
cursos EFA à partida são bons, acho que se calhar daquilo que foi a minha experiência,
mas a minha experiência como lhe digo foi um módulo de 50 horas num único curso
EFA e aqui na APD, que não é representativo não é? Mas para o público que eu vi e
para aquilo que eu oiço falar de outros públicos, noutros sítios, que eu oiço, não vi, não
senti, eu acho que estas pessoas precisam de coisas mais práticas, porque aprende-se
fazendo e claro que precisam dos conceitos teóricos para consolidar, para perceber
porquê que as coisas são assim, mas acho que tem que ser coisas mais práticas. Estamos
a fazer um curso de jardim, bom isto não é um curso de jardinagem, mas um curso de
jardinagem de certeza que tem mais prática do que um curso desta natureza, estamos a
fazer um curso de jardinagem, tem que se ir para o jardim, tem que se cavar, tem que se
ver as plantas, tem que se conhecer as plantas. Aqui é um curso de apoio, de técnicos de
Apoio à Comunidade, portanto vão tratar com velhotes, com pessoas em situação
fragilizada, têm que ir conhecer as especificidades e confrontar, eles agora estão em
estágio acabam por ter esse contacto não é? Mas ver as diferenças entre as pessoas, o
que é que são as patologias da terceira idade, então a gente lê ali, é diabetes, é não sei o
quê, o que é que é isso, agora ver que a diabetes, a história das feridas que abrem e
custam a sarar, ou o é que é uma bronquite, aquelas pessoas, sentir o que é pessoas com
essas dificuldades, para perceber melhor qual é o nosso papel no apoio a essas pessoas e
portanto eu acho que os cursos têm que ser cursos mais práticos e cursos que pusessem
logo as pessoas nos locais de trabalho, pô-las a trabalhar, a aprender, mas a aprender ali,
a fazer. Eu percebo perfeitamente neste modelo de formação, aquilo que é a formação,
que se promove aí mesmo, política, não é? Promoção, é um bocado, é complicado, é
muito mais complicado controlar uma formação assim, e gerir uma formação, e
financiar uma formação assim, porque este conjunto de pessoas que nós tivemos aqui e
que vão para os locais de trabalho e são confrontados com velhotes que têm os seus
problemas de saúde, têm os seus problemas de, se calhar da parte psicológica que já não
regulam bem, que cheiram aquele cheiro que os velhotes têm, alguns que já não
controlam as fintas não é, portanto, esta maior parte das pessoas que a gente teve aqui
não aguentam, então não servem, estivemos a gastar não sei quantos milhares de euros
pra formar 14, ou 15 pessoas que não vão aguentar este tipo de serviço, então se ficarem
2 ou 3 a trabalhar quer dizer foi um custo muito grande de formação, acho eu.
369
Entrevistador – Tenho aqui uma pergunta nesse sentido, se acha que os cursos
EFA têm efeitos nos percursos dos formandos?
Entrevistada – Deviam ter mas não sei se têm, têm algum efeito enquanto cá andam,
pelo menos estão ocupados a fazer alguma coisa, têm efeitos porque fazem amizades,
têm efeitos porque recebem um rendimento, têm efeitos porque até conseguiram ficar
com o 9º ano e aprenderam alguma coisa, mesmo aqueles que eu acho que não querem
aprender acabam por aprender, um ano inteiro têm que aprender alguma coisa, têm
efeitos. Se têm efeitos na sociedade já tenho algumas dúvidas. Têm mais efeitos a nível
pessoal, porque a pessoa está envolvida um ano nisto e não têm efeitos, bolas, tem que
ter.
Entrevistador – E quando diz que tem dúvidas ao nível do efeito na sociedade?
Entrevistada – Neste aspecto que eu lhe estava a dizer, estas pessoas vão trabalhar
naquilo que aprenderam? Vão aplicar os seus conhecimentos? Quantas é que vão
aplicar? E daquelas que vão, eu até acredito, até acredito que uma pessoa até pode não ir
trabalhar nisto mas ter aprendido determinados conceitos e pronto, coisas sobre higiene,
sobre saúde, sobre alimentação, que usa no seu dia-a-dia, que usa para com os amigos e
até é capaz de dizer, opa, olha sabes que lavar as mãos antes da refeição afinal é bom
porque a gente reduz a quantidade de micro organismos que tem nas mãos, bom isto eu
estou a tocar naquilo que foi um bocadinho o meu trabalho, mas a nível de conhecer e
identificar algumas doenças ou ver alguma ferida, saber reconhecer se uma ferida está
infectada, que eu acho que estas pessoas deviam de levar de positivo para a sua vida na
sociedade, mas também acredito que algumas pessoas que aqui andaram, não vão
trabalhar na área e vão esquecer rapidamente aquilo que aprenderam, não é? Esquecer e
não vão ser capazes de aplicar no seu dia-a-dia, com a família e com os amigos, porque
andaram aqui a empatar o tempo, o que elas levam essencialmente é o 9º ano, com elas.
Entrevistador – O que poderia ser melhorado nos cursos EFA, na sua opinião?
Entrevistada – Bom, realmente aquilo que eu acho, eu acho que já disse, que é se
calhar mudar um bocado a concepção dos cursos. Talvez também podíamos, bom, a
selecção dos formandos, mas isso, aqui neste contexto, em São Brás de Alportel, não foi
370
fácil e mesmo arranjar aqueles, acho que foi complicado, foram os melhores, aqueles
foram os melhores que apareceram, lá está, se estamos num sítio, numa localidade com
maior, mais população que temos 100 ou 200 candidatos, se calhar faz-se uma selecção
diferente, quer dizer temos ali matéria para seleccionar e encontra-se se calhar um grupo
mais adequado e posso tirar melhor proveito, mas também depois são as técnicas de
selecção, eu não sei, eu não estive envolvida, não, não me posso pronunciar sobre isso,
mas na mesma maneira que eu sinto dificuldades no meu trabalho para fazer o
diagnóstico de perfil aos nossos candidatos eu acho que seleccionar pessoas seja para o
que for, para um emprego, não é fácil e não sei, até porque a gente ouve histórias não é?
Mesmo pessoas a nível de emprego, vão trabalhar e passaram por um processo de
selecção, não sei se aquelas técnicas, se realmente conseguem seleccionar o melhor para
aquele lugar, não sei, não estou a dizer que não são, eu é que não conheço e como
ouvimos tantas histórias às vezes questionamos.
Entrevistador – Portanto sente que ao nível da selecção podia haver aí?
Entrevistada – Eu não sei se aqui neste caso se tínhamos muita margem de manobra.
Entrevistador – Houve alguma relação entre o CNO e os formandos que foram
para os cursos EFA?
Entrevistada – Houve, eu na altura não era a técnica diagnóstica a técnica, era a pessoa
que depois ficou como mediadora do curso, portanto ela, todas as pessoas que eram para
o curso EFA tiveram, estavam inscritas em CNO ou tiveram que se inscrever no CNO
porque é a partir do CNO que depois é feito o encaminhamento para o curso EFA e
sendo nós um Centro de Novas Oportunidades mesmo que a pessoa não tivesse inscrita
teria que passar por uma inscrição e por um diagnóstico.
Entrevistador – Para terminar, qual é o balanço do curso EFA da APD que
terminou agora?
Entrevistada – Um balanço, quer que faça um balanço como? Uma nota de um a
cinco?
371
Entrevistador – A partir da sua a partir da sua experiência?
Entrevistada – Olhe, eu, não posso fazer um balanço, aquilo, tudo aquilo que eu disse
sobre o curso EFA e sobre as pessoas foram as percepções que eu tive do pouco tempo
que tive com elas, eu não posso fazer um balanço de um curso que demorou um ano e
eu só tive 50 horas, portanto tudo aquilo que eu disse, da opinião que dei, de achar que
uns que não, que não vão fazer nada, tem a ver com o que foi a minha percepção de 50
horas que pode estar um bocadinho deturpada não é? 50 Horas não é o mesmo de estar
12 meses ou 15 meses, portanto eu acho que não posso fazer essa avaliação.
Entrevistador – Ok, agradeço-lhe imenso.
15. Entrevista 12 – D. S. – Formadora da área tecnológica de Cuidados Básicos de
Saúde num curso EFA da Associação para a Democracia.
Entrevistador - Começava por lhe perguntar as suas habilitações literárias?
Entrevistada - Tenho um curso de licenciatura em enfermagem.
Entrevistador - E qual é a sua profissão?
Entrevistada - Sou enfermeira.
Entrevistador - Onde é que exerce?
Entrevistada - No Hospital de Faro.
Entrevistador - E no curso EFA? Que funções é que exerceu?
Entrevistada - Fui formadora de três módulos mesmo da área da saúde, mais tendo em
conta os cuidados de enfermagem.
Entrevistador - Recorda-se do nome dos módulos?
372
Entrevistada - Cuidados de Saúde Básicos, Alimentação, Higiene, havia um módulo de
Mobilidade e o último penso que foi mais cuidados de emergência, cuidados básicos a
nível de situações de emergência.
Entrevistador - E isso eram módulos de quantas horas?
Entrevistada - Dois de 50 e um de 25.
Entrevistador - Exerce mais alguma função na APD?
Entrevistada - Não.
Entrevistador – E para além da enfermagem e da formação faz mais alguma coisa?
Entrevistada - Não, não, só enfermagem e formação.
Entrevistador - Ia-lhe pedir no seguimento do que me estava a dizer ainda há
pouco para me descrever a sua trajectória profissional desde que começou a
trabalhar. Para tentar compreender depois como é que aconteceu a entrada no
curso EFA.
Entrevistada - Acabei o curso de licenciatura em 2006, entretanto ainda estive cerca de
dois meses à procura de emprego, porque nós acabamos numa altura um pouco crítica,
fomos a primeira turma da escola de Faro à espera de começar a trabalhar, depois
comecei a trabalhar no Hospital de Faro no serviço de Medicina, estive lá um ano,
entretanto abriu a rede de cuidados continuados e como era aqui de Loulé, abriu aqui a
unidade de convalescença e depois pedi transferência para cá, uma vez que era dentro,
pertencia ao Hospital de Faro era só mesmo transferência de serviço, aqui, pertence ao
Hospital de Faro mas estamos a utilizar as instalações que era do antigo internamento, é
tudo de Faro, só as instalações é que são da ARS, estou há cerca de 4 anos e meio ali,
pois fez agora.
Entrevistador - Aqui em Loulé?
373
Entrevistada - Aqui em Loulé, há cerca de 5 anos e meio que estou a trabalhar como
enfermeira, entretanto pelo meio fui tirando outros cursos de massagem, de drenagem
linfática, de suporte básico de vida, de formas de actuação ao nível da traumatologia,
depois tirei um CAP e entretanto fui sempre enviando currículos para conseguir sempre
mais alguma coisa para além da enfermagem, nem sempre é muito fácil, porque às
vezes nós enviamos e depois os lugares estão sempre ocupados mesmo a nível de
formação por pessoas mais experientes que já têm dado formação noutros sítios e por
acaso aconteceu ali na feira no NERA da INFORMA eu recolhi material de todo o lado
uma vez que tinha feito o curso de massagem, insisti mais ao nível de instituições que
tivessem esse tipo de curso que é mais no Barlavento e depois havia as Novas
Oportunidades, ainda fui a vários sítios mas todos diziam que eram os professores da
escola que eram os formadores, e um belo dia lembrei-me, vou mandar os emails,
entretanto foi quando mandei para a In Loco e depois mandaram-me resposta que iam
iniciar um curso e que iam precisar de uma enfermeira, por acaso na altura eu pensei
assim, bom é mais uma entrevista em que devemos de ser imensos e quando cheguei lá
era só eu e achei um bocadinho estranho porque há sempre, mesmo nesta área há
sempre muita gente a dar formação e são sempre os mesmos, o que acontece é que há
muitas mas é mais a nível de INEM, situações de emergência, suportes básicos, a nível
de cuidados de saúde básicos há pouca gente que se dá um pouco ao trabalho de dar
esse tipo de formação, cai muito sobre higienes, sobre mobilizações, sobre alimentação,
e então é mais complicado.
Entrevistador - Uma pergunta mais aberta, a partir sua experiência dos cursos da
In Loco, como é que é a vida de um formador que faz a sua actividades nos cursos
EFA?
Entrevistada - É assim, foi o meu primeiro, a minha primeira experiência como
formadora, para mim na altura não sabia muito bem, cursos EFA, o que é que é isto? Eu
ia mesmo naquela, tenho aqueles módulos, aqueles objectivos para atingir, dava as
minhas sessões mas nunca foi muito centrado para que fosse um grupo específico de
formação de adultos, depois soube que havia outro tipo de grupos uma vez que tenho
uma prima que trabalha com os modelares mas nunca me centrei muito em termos de
ser só aquele curso especificamente por ser EFA uma vez que eu era da parte
374
tecnológica era diferente, quem era mais da parte português/matemática acredito que
eles têm muito mais experiência nessa área, eu como era da parte tecnológica e uma vez
que era a primeira vez, acabei por me basear um pouco na experiência que tinha daquilo
que estava a passar.
Entrevistador - Na sequência do que me esta a dizer, se eu estou a perceber a
preocupação era mais a de levar à prática os conteúdos do módulo?
Entrevistada - Sim.
Entrevistador - Dos seus módulos, não é? Considera que ser formadora EFA é
uma profissão?
Entrevistada - Ui, se for uma coisa, se tivermos sempre grupos e se for dentro de uma
área que nós só fazemos aquilo, eu penso que sim, agora uma vez que eu trabalho à
parte, acaba por, para mim não, mas acredito que para muitos formadores que não
estavam na parte tecnológica mas sim noutras partes que seja mais uma profissão.
Entrevistador - Se perguntasse se se considera no seu caso profissional da
formação? O que é que me…
Entrevistada - Não, tenho formação.
Entrevistador - Considera a sua profissão…
Entrevistada – Enfermagem, porque, formação não, eu não posso dizer que faço só
formação, eu sou formadora quando há um grupo ou quando há um curso que vai
iniciar, porque não é o ano inteiro, nós temos a questão de que são 4/5 horas por dia se
calhar naquela semana são dois dias, outras semanas pode ter mais horas, mas não é
exclusivo, eu pelo menos, acabava por ocupar muito porque tinha que preparar as
sessões em casa, mas não era uma coisa que fosse, que me dedicasse só ao curso EFA.
375
Entrevistador - Em termos das condições laborais e institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, em termos dos vínculos profissionais, dos pagamentos,
como é que isso, no seu caso como é que isso?
Entrevistada – Eu trabalhei, foi a recibos verdes, foi só mesmo, porque como eram só
três módulos, eram 125 horas, mediante as horas que nós tínhamos por mês depois eram
passados os recibos.
Entrevistador - Se alguma vez a partir da experiência que teve pensou em
abandonar a actividade como formadora?
Entrevistada - Sim, sim foi complicado no início, porque era o meu primeiro grupo, era
a primeira vez que eu estava a dar formação, o grupo era muito grande, muito diferente,
tínhamos pessoas das mais variadas idades, com maior leque de experiências e havia
alturas em que era muito complicado, mas também temos que ver a parte que eles
tinham sete horas diárias, cinco vezes por semana, acredito que da parte deles também
era muito complicado estar ali o dia inteiro, eles acabavam por dedicar a vida ao curso,
para nós era só um dia ou dois, exigia-nos muito também mas houve alturas em que,
porque foi muito complicado, e então, talvez a meio, mais no final de um dos módulos
eu ainda pensei que não ia conseguir, também em questões de tempo, porque nós
tínhamos que cumprir aquele calendário e às vezes por trabalhar como enfermeira ao
mesmo tempo não conseguia ter muitas vezes tempo para preparar as sessões da forma
como eu gostava que chegassem até eles, e então talvez também um pouco por ai.
Entrevistador - Como é que vê o seu papel profissional nos cursos EFA na sua vida
futura?
Entrevistada - Pensando naquele curso EFA penso que, as pessoas que saíram dali com
aqueles conhecimentos que saíram, tiveram muitas áreas que foram abrangidas a nível
de muito trabalho, penso que eles se se aplicarem como qualquer um de nós vai
conseguir ter um trabalho e depois são cursos que eles tinham portanto, tanto a nível de
saúde, como de cozinha penso que em qualquer, têm muitos locais de trabalho onde
podem exercer funções são uma mais-valia porque são pessoas que apesar de não terem
376
um curso, um outro tipo de curso, têm formação para trabalharem naquela área, já têm
alguns conhecimentos.
Entrevistador - No seu caso, voltaria a trabalhar nos cursos EFA?
Entrevistada - Sim.
Entrevistador - Sentiu-se reconhecida no seu trabalho como formadora?
Entrevistada - Isso depende, por algumas pessoas sim, pela entidade sim, por alguns,
pelos formandos pois isso depois depende de que é que cada um gosta, porque havia uns
que se calhar sei que gostaria de trabalhar naquela áreas que eu estava a dar, e havia
outros que simplesmente, porque nem todos somos iguais e havia pessoas que se calhar
gostavam mais de outras áreas, mas como eles tinham que fazer todos os módulos
acabavam por ter que assistir, por isso é sempre um pouco complicado.
Entrevistador - Em termos do trabalho pedagógico com os formandos, quais foram
as dificuldades que sentiu no seu trabalho como formadora nos cursos EFA?
Entrevistada - O que eu senti mais dificuldade foi, eu tinha a parte teórica e a parte
prática, a parte teórica, talvez fosse mais fácil porque acabava por ser só o ouvir, depois
a parte prática havia sempre dificuldade porque precisavam sempre de alguém para
mostrar como é que se fazia, uma cobaia entre aspas e havia sempre alguém que não
queria e depois aí começou a ser mais complicado porque se eu precisava de um dia de
alguém, no dia a seguir aquela pessoa depois já não queria ser, mas os outros também
não o queriam, mas a nível pedagógico, eu penso que no geral correu bem, talvez se
fosse hoje faria as coisas um pouco diferentes, mas isto também tem a ver com o grupo
que nós temos e de início, era muito prático logo de inicio e nós nem nos conhecíamos
muito bem, nem eles também enquanto grupo, foi um bocadinho complicado conseguir
a parte teórica e a parte pratica na mesma sessão porque era, algumas vezes eram termos
técnicos que para nós o que é muito fácil, às vezes para outras pessoas não é tão fácil e
também há aquela complicação de, eu não vou perguntar o que é isto porque os outros
sabem e eu não sei e depois vou fazer, vou estar a mostrar que tenho dificuldades e eu
não quero mostrar isso, acabava muito por ser assim, porque havia pessoas que já
377
tinham conhecimentos e notava que outras não e que havia um bocadinho de renitência
de uns para outros, de assumir as dificuldades perante o grupo.
Entrevistador – Pode-me explicar um pouco melhor essa questão, os formandos
não quererem fazer quando era a parte prática, recorda-se de algumas situações?
Entrevistada - Recordo-me, mais de quando foi a nível de higiene, de como fazer a
cama, a ordem correcta pela qual se devia higienizar neste caso um doente ou um
paciente, porque nós, isso foi o primeiro módulo que eram muitas horas e então,
aproveitei o facto de termos muitas horas para fazer muita prática, porque a teoria nós
esquecemos e as práticas muitas vezes nós acabamos por fazer como se aprende, e
notava que um dia se tinha uma voluntária e se alguma coisa corria mal, porque ou não
se sentia à vontade ou os outros não, não conseguiam fazer tão bem ou a relação entre
eles poderia não ser a melhor, no dia a seguir aquela formanda não queria ser voluntária
ou mesmo na hora a seguir, dependendo da situação e depois os outros também diziam
assim, não, mas eu não sei, eu quero ver, eu não quero, eu não me sinto há vontade a
fazerem comigo e depois era porque havia sempre um grupo que por vezes se separava
um pouco e conseguir reintegrá-los era complicado, e houve situações em que eu não
consegui ter nenhum voluntário, houve um dia em que eu disse mas se quiserem eu sou
a voluntária porque era muito complicado entre eles, porque a meio do curso criaram-se
algumas rivalidades dentro do grupo e então um a ser voluntário sempre, acabava por
também por se negar um pouco, não quero ser sempre eu a voluntária, porque eu
também quero aprender, mas a experiência depois também era diferente porque serem
voluntários, aprenderem, sentirem um pouco como é que era fazerem as técnicas, a
serem recebidas as técnicas e depois serem eles a fazer, conseguiam também aprender
também nessa parte, mas houve pessoas que eu não consegui que fossem voluntárias.
Entrevistador - Porque é que nunca chegaram…
Entrevistada – Só fizeram, não estiveram a receber, porque era um pouco importante
eles também estarem no lugar de doente para depois se aperceberem se fosse comigo,
como é que eu gostava que os profissionais fizessem.
378
Entrevistador – Em termos dos aspectos gratificantes da sua experiência como
formadora no curso EFA, quais são os aspectos?
Entrevistada - Deu muita experiência, deu. Tive que voltar a estudar um pouquinho
aquilo que já não estudava há muito tempo em termos teóricos, porque a enfermagem é
tudo pratico, é muita, muita prática e o que eu faço no dia-a-dia então acabei por ter
muito que recorrer a bibliografia que já não recorria há muito tempo e a outras mais
recentes, para conseguir ter algum fundamento teórico para depois lhes dar a eles, para
eles se basearem para a parte prática, o bom foi que deu muito trabalho mas que eu
fiquei depois com esse material todo feito para um dia mais tarde se voltar a fazer
alguma coisa do género já tenho material preparado ou pelo menos sei as fontes onde,
onde devo recorrer, depois dá-nos sempre muita experiência em termos de formação
porque conseguimos pouco tendo em conta aquilo que nos queremos apresentar os
objectivos, os tempo, a diferença dos elementos do grupo, dá-nos e foram muitas horas,
foi quase um ano inteiro e então deu para aprender muita coisa.
Entrevistador – Ainda há pouco começou por abordar esta questão, que é sobre o
trabalho curricular em torno dos temas de vida, se no seu caso a chegou a integrar
mais?
Entrevistada - Foi só mais no início do primeiro tema de vida.
Entrevistador – Lembra-se de como é que…
Entrevistada - Foi mesmo baseados na fundamentação teórica que eles tinham dado,
porque eles tinham, penso que o primeiro tinha também a ver com a alimentação, com a
elaboração de dietas, um pouco com os cuidados de saúde primários, o que eles
aprenderam a nível da alimentação de bebés, a alimentação saudável, isso estava um
pouco no início da formação, depois a pesquisa que eles fizeram a esse nível, o que eu
lhes poderia ter ajudado para o tema de vida, já lhes tinha dado em termos de material
de formação mesmo do módulo, então acabei por participar um pouco dessa forma, já
lhes tinha dado o material.
379
Entrevistador - E em termos gerais, essa articulação entre a formação base e a
formação profissionalizante, como é que viu essa questão, no seu caso?
Entrevistada - Não estou a perceber.
Entrevistador - Os seus colegas? Essa, essa participação de trabalho em torno do
tema de vida, fazia um trabalho mais centrado no seu módulo?
Entrevistada - Foi mais centrado no meu módulo, porque eles diziam olhe, precisamos,
temos este tema, porque eram penso quatro ou cinco grupos, cada grupo tinha um tema
e depois eles pesquisaram, porque depois eles fizeram um livro, traduziram o livro, e
queriam um pouco informação sobre cada tema, por cada grupo, o grupo tinha também
comportamentos de risco, por exemplo, o fumar, o álcool, e então foi um pouco
fornecer-lhes algum material, folhetos e outros documentos que eles pudesse tirar
informação que, de que era o mais importante, acabei por não articular muito com os
outros formadores.
Entrevistador - E em termos dos outros colegas da formação profissionalizante na
relação com a formação base, como é que viu isso, como é que esse trabalho
curricular, acha que foi um trabalho partilhado, ou que era muito mais cada um
fazia?
Entrevistada - Com os outros formadores, mesmo com os que estavam diariamente, de
Português, de Matemática, de Inglês eu penso que foi uma participação que eles, entre
eles conseguiram articular melhor, eu da parte tecnológica foi mais complicado, não
estava sempre, não estava todos os dias com eles e então acabei por não participar tão
activamente com os outros formadores.
Entrevistador - Os temas de vida costumam ser planificados, chegou a estar por
exemplo nas reuniões de planificação?
Entrevistada - Isso já foi há tanto tempo, eu só me lembro mais do primeiro em que
eles escolheram os temas, escolheram um tema geral e depois entre grupos cada um
ficou com um tema mas já não, não, penso que eles depois até fizeram mesmo a nível de
380
visitas, de recolha de fotografias e tudo, eles planeavam um pouco, o primeiro também
foi o que levou mais tempo porque era o primeiro a eles não tinham experiência nessa
área e foi o que levou muito mais tempo, os outros depois foram muito mais rápidos
mas de qualquer forma tinham que planear sempre um pouco e depois articulavam
dentro daqueles formadores que participavam nesse tema de vida algum tempo da
formação para os ajudar na recolha, no tratamento de texto o que é nós poderíamos fazer
em cada parte daquilo que era da nossa área.
Entrevistador - Estava-me a dizer que participou mais no primeiro?
Entrevistada - Sim, no primeiro, nos outros já não participei depois.
Entrevistador – Ia-lhe pedir para me tentar descrever as suas preocupações para
levar a cabo o seu trabalho de formação, quer dizer, foi convidada para, para dar
a formação, a quais são as preocupações em termo de organização, da forma de
funcionar?
Entrevistada - Eu preocupei-me um pouco saber quantos formandos eram, o total de
horas, os temas, os objectivos, e depois foi um pouco ter, todo, um pouco o índice, a
fundamentação do curso, e dentro daquilo que eu sabia, que eu podia pesquisar
aproveitar cada objectivo, cada tema para depois dar o maior conhecimento possível
tendo em conta o grupo e os objectivos que eles depois iriam atingir, porque é assim, na
minha área foi muito tempo de início e tive muitos dias com eles mas depois eles
tinham outros módulos completamente diferentes e então acabava por, para não ser tão
cansativo na área da saúde, mas ao mesmo tempo queria que eles adquirissem o máximo
de experiência, de conhecimentos daquela, daquela área, teve-se que se pesquisar muito.
Entrevistador - E em termos da sua actuação no espaço da formação como é que
procurou fazer, foi preparar a questão da teoria, da prática, isso foi uma coisa que
a preocupou?
Entrevistada - Muito, porque nós de manhã estávamos quatro horas só mais no passo
da teoria acaba por ser muito cansativo, tanto para os formadores como para os
formandos, mas o facto de conseguir integrar a parte prática nem sempre as pessoas são
381
muito receptivas a isso, e depois há, há temas que não é muito fácil numa sala de
formação nós conseguirmos fazer essa parte prática, tentava sempre mostrar um
bocadinho da fundamentação teórica, do como é que se faz, mas depois quando se partia
para a prática acabava por haver sempre alguns ajustes porque não se podia seguir
à regra o que, a parte que vem nos livros, que teoricamente é correcto, quando se parte
para a prática depois há coisas que mudam um bocadinho.
Entrevistador - E, e em termos do trabalho com os formandos, fez um trabalho
mais individualizado, mais com o grupo?
Entrevistada - Mais com o grupo, só na parte prática quando havia um voluntário e
depois os outros exerciam mais a prática e aí era mais individualizados para os
elementos que estavam a desenvolver a técnica naquela altura mas acabavam por os
restantes por estar integrados porque observavam e muitas vezes eram eles que diziam
não faças assim, porque nós fizemos assim, e se fizeres assim é mais confortável e fica
melhor, e acabavam por, para além de centrar um pouco a atenção de que estava a fazer,
tinha de também de gerir um pouco todos os outros formandos.
Entrevistador - Chegaram a fazer alguma actividade fora da sala de formação?
Entrevistada - Sim, fizemos uma visita de estudo ao quartel dos bombeiros, isso foi no
último módulo que eram os cuidados de prestação de alguns cuidados de urgência, e
então nós, fui, fomos mais lá para ver como é que era uma ambulância, os materiais,
alguns eu já tinha levado para a sala, para eles também terem contacto com todo o
sistema de emergência, com as macas, com os ventiladores, com os tubos, depois todo
esse material que se algum dia vierem a lidar com eles já, já estavam mais
familiarizados.
Entrevistador – Que competências é que considera essenciais para exercer a sua
actividade como formador num curso EFA?
Entrevistada – Estar muito à vontade na nossa profissão, penso que, estar muito à
vontade a nível de enfermagem para conseguir saber de que forma é que vamos passar
os conhecimentos e adquirir também alguma habilidade a nível de formação, porque
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uma vez que a formação que eu dei tinha a ver directamente com a enfermagem
conseguir ligar um pouco as duas, e saber muito bem aquilo que se está a falar e as
vezes há temas que nós não lidamos todos os dias que é mais complicado e perante
algumas perguntas nos também ficamos um pouco, sim, eu fazia assim mas realmente,
porquê, e então acabava por, por isso é que eu penso que para darmos formação é
preciso nós estarmos muito bem dentro do assunto, às vezes não é só chegar e aí vou
fazer isto, sobre este tema, se nós não trabalharmos muito bem aquilo que vamos fazer é
complicado.
Entrevistador - Mais alguma coisa que se lembre em termos das competências
fundamentais?
Entrevistada – Eu penso que isso depois depende do tipo de formação em si e do
grupo, dos objectivos que eles têm para quando acabam o curso depois o que é que eles
vão fazer, como havia pessoas que gostavam de vir a trabalhar em unidades de saúde,
notava que essas pessoas se integrava melhor e desenvolviam melhor essas técnicas, no
entanto as outras apesar de inicialmente dizerem que não, penso que a nível de estágio
depois as coisas até correram bem, era o que eu lhes dizia, que nos podemos não gostar
muito de uma área mas como os mercados de trabalho está, a primeira oportunidade nós
devemos desenvolvê-la o melhor que conseguirmos, mesmo que não seja aquilo que
mais gostamos.
Entrevistador – Pedia-lhe para me descrever o perfil dos formandos que
frequentaram esse curso EFA, que tipo de formandos é que…
Entrevistada - Eram muito diferentes, muito diferentes, havia pessoas desde, penso dos
18 anos até aos cinquenta e picos e eram pessoas que algumas delas já tinham
frequentado outros cursos, já sabiam um pouco como é que funcionava, embora isto
fosse um pouco mais longo do que eles estavam já tinham frequentado, o mais
complicado era que alguns já tinham alguns conhecimentos na área e acabavam por
assistir, não participavam tanto porque já conheciam, mas não podiam também faltar
muito mas notava que eles eram muito diferentes e mesmo a nível, depois acabavam por
formar os grupos de trabalho e trabalhavam muito dentro dos grupos que eles tinham
organizado, e havia pessoas que se calhar nós tínhamos que dar mais um bocadinho de
383
atenção mesmo por causa das dificuldades de aprendizagem que uns tinham e todas as
diferenças porque eram inicialmente vinte e depois penso que ficaram nos dezassete, a
era um grupo muito grande e era muito complicado não só pela diferença de idades, de
experiências, daquilo também alguns nunca tinham trabalhado, outros estavam, diziam
que só queriam fazer o 9ºano, mas foi, foi complicado porque cada um tinha
experiências muito diferentes e inicialmente mesmo eles próprios como grupo
acabavam por não se dar muito uns com os outros.
Entrevistador – Notou diferença ao nível do empenhamento dos formandos face há
formação?
Entrevistada - Sim, houve diferenças, houve diferenças eu notava mais ao nível de
prática, da atenção nas sessões, porque depois a nível teórico nós também fazíamos as
avaliações a nível escrito, aí eu já não valorizava tanto porque, apesar de se ter que
valorizar, mas é assim, é mais fácil se chegar a casa e nós termos o material, estudarmos
e fazermos um texto escrito se nos tivermos tempo para estudar as coisas correm
melhor, mas depois há pessoas que se calhar na prática conseguem aprender melhor, e
só tinham mesmo aquele tempo que estavam lá, o tempo essencial para aprender, e
notava daí muita diferença, de diferença de exames, de avaliação em termos de prática
que havia uns que desenvolvia muito bem e havia outros há eu já sei, eu já sei e depois
na altura a coisa não corria tão bem, por isso é que era sempre importante eles fazerem
sempre para saberem as dificuldades que tinham.
Entrevistador - E em relação às aprendizagens, notou diferenças?
Entrevistada - Sim, algumas, a notei que alguns, também davam….
Entrevistador – Pronto, estávamos a falar então, estava a tentar perceber alguma
situação especifica de conflito que…
Entrevistada - Foi numa aula prática que, por causa mesmo dos voluntários, em que
um queria ser, depois o outro já não queria, tinha sido na hora anterior e depois era
porque a colega o tinha criticado, ele já não queria ser e depois acabaram por levantar
um pouco a voz um com o outro e como era um dos elementos masculinos que eram
384
dois penso eu, e então o resto era tudo mulheres, ele acabou por se levantar um
bocadinho e depois elas também não gostaram muito e aquilo criou-se ali uma situação
um bocadinho complicada, e depois é assim a formadora era novinha, por muito que se
quisesse impor acabava por eles numa situação de conflito daquelas acabam por não
ouvir muito os restantes colegas que estavam nem a formadora, foi assim aquela
situação mais complicada que, que me lembre, porque depois as outras penso que foi
mais uma situação de intervalo, que quando chegavam cá fora as coisas aqueciam um
bocadinho.
Entrevistador – No seu caso lembra-se de alguma situação que…
Entrevistada - Em termos de?…
Entrevistador – Situação mais conflitual?
Entrevistada - Pois foi mesmo essa que levantaram um pouco mais a voz, porque
mesmo porque não queriam ser voluntários porque depois os colegas os criticavam
porque não tinham feito bem e então eles, era mesmo o que uma delas dizia, eu não me
importo de ser voluntária, de fazer de cobaia mas se os outros não querem não me
critiquem e então ela, ela realmente ela, ela aprendeu muito, tanto nos dois lados,
mesmo ela admitiu, mas custava-lhe um pouco participar activamente depois os colegas
não reconhecerem muito isso.
Entrevistador – E em relação ao seu trabalho com os seus colegas de formação,
considera que existiu um trabalho mais partilhado ou foi um trabalho que se faz de
forma mais individualizada?
Entrevistada - No meu caso foi mais individualizada, que era uma área específica.
Entrevistador – E com que frequência é que costumava encontrar os seus colegas?
Entrevistada - Era mais nas reuniões que eram agendadas ou então quando ia mesmo à
associação mas era mais com a coordenadora do curso.
385
Entrevistador – Na sua opinião se algum aspecto do trabalho de formação com os
seus colegas que ache que seria benéfico melhorar?
Entrevistada - Alguns temas que estavam presentes em vários módulos tinha, eu
lembro-me de ter alguns temas de alimentação que depois a dietista também ia falar
deles e acabava por não saber muito bem depois até onde é que devia ir para não haver
conteúdos repetidos, penso que a esse nível havia temas que depois se repetiam ao
longo de todo o curso, eram visões diferentes, porque se calhar a minha era a visão de
saúde e dela alguma outra visão e outro tema que era a nível de atendimento que não era
muito, muito direccionado para mim, mas depois eles tinham lá um módulo só de
atendimento e então eu sentia-me um bocadinho, alguma dificuldade em saber o que é
que vou falar aqui, o que é que eu vou tratar aqui.
Entrevistador – Portanto, essas repetições já estavam previstas a nível já do
referencial?
Entrevistada - Sim porque o referencial já estava feito, penso que já é usado, é usado
por mais instituições, tem mesmo de ser aprovado.
Entrevistador – Sentiu diferenças no empenhamento do trabalho dos seus colegas
para por em prática o modelo dos cursos EFA? Como é que olha para essa…
Entrevistada - Eu não tive muito dentro dessa parte, foi mais a coordenadora que fez
essa parte de orientação do curso.
Entrevistador – E em relação à entidade formadora qual o tipo de relação é que
mantém com a entidade?
Entrevistada - Muito boa, às vezes gostava de ter mais tempo para poder ir lá de vez
enquanto.
Entrevistador – Se se vê como trabalhadora da entidade para onde fez o trabalho
de formação?
386
Entrevistada - Como assim?
Entrevistador – Se se vê como trabalhadora da Associação para a Democracia?
Entrevistada - Sim, eu fazia, nós agendávamos os dias que eu tinha de formação dentro
das minhas folgas do hospital ou manhãs ou tardes ou dia completo, falava com a
Sandra, ela depois orientava o cronograma, os textos que tinham, as fichas que tinham
mandava sempre por email eram, ela é que imprimia na associação e depois ou
entregava-me em mãos ou então ficava mediante o tipo de material que fosse, ficava no
armário que nós tínhamos mesmo para colocar as copias, com outros materiais depois
nós acabamos por ir ao centro de saúde buscar mesmo uma cama, algumas almofadas,
cadeira de rodas, isso depois agendávamos a Sanda é que falava mesmo com as pessoas
e nós agendávamos um dia para lá ir.
Entrevistador – E da sua ligação à associação, sente-se como fazendo parte da In
Loco?
Entrevistada - Fiz, eu penso que fiz parte enquanto durou a formação e no período
depois enquanto durou o curso, porque eu acabei a minha parte e o curso continuou, de
qualquer forma sempre que é necessário alguma coisa entro em contacto com a Sónia e
falo com ela, agora, acabou por ser um pouco aquele curso, não depois não tive mais
formação com eles.
Entrevistador – E, e sente-se reconhecida pelo, pela entidade com o trabalho que
desempenhou?
Entrevistada - Sim, eles sempre foram impecáveis, qualquer coisa que precisasse tanto
a nível de material, documentação alguma coisa, foi sempre prestável.
Entrevistador – Tenho aqui uma questão que é, tendo em conta o facto de ter só
essa experiência ainda é capaz de não me poder responder mas de qualquer forma
vou perguntar a partir do que pode ser os seus conhecimentos destas questões, se
acha que os cursos EFA funcionam de forma diferente consoante as entidades onde
387
eles acontecem, ou seja, se será a mesma coisa um curso EFA funcionar numa
associação como a APD, no IEFP, numa escola, se tem alguma ideia sobre isso?
Entrevistada - Não, mas penso que será um bocadinho diferente, se bem que a base eu
penso que eles têm que seguir sempre a mesma base agora a esse nível não sei muito
responder.
Entrevistador – E em termos da avaliação como é que, como é que fez a avaliação
dos formandos no curso?
Entrevistada - Fiz uma avaliação directa que via eles fazer nas aulas, depois tivemos
testes escritos e uma avaliação prática de alguns, de alguns temas.
Entrevistador – E em termos temporais? Eles eram avaliados no final dos
módulos?
Entrevistada - No final do módulo, isso nós acordávamos, quando um módulo era
muito grande, nós acordávamos, fazíamos uma avaliação a meio ou no final, no
primeiro sei que nós fizemos duas avaliações mais no final, foi uma teórica, uma escrita
e uma prática, o outro módulo foi maior fizemos duas escritas, uma a meio, mais ou
menos a meio, uma no final, mas depois era tudo combinado com eles, mesmo a nível
de cartolinas, de trabalhos, de cartazes, era tudo combinado com eles, prazos, quais
eram os temas que deveriam, para não sobrecarregar tanto uma avaliação em relação a
outra.
Entrevistador – Portanto havia algum conjunto de critérios que tinha que seguir
por parte da entidade ou teve autonomia?
Entrevistada - Tive autonomia.
Entrevistador – Portanto criou os seus próprios?
Entrevistada - Sim.
388
Entrevistador – Ok, e em termos do trabalho da mediadora, se acha que o trabalho
da mediadora é importante para o funcionamento do curso?
Entrevistada - É muito importante, é muito importante porque era uma pessoa que os
conhecia muito bem a todos e que os conhece e que penso que já trabalha há muitos
anos neste tipo de formação e sabia de que forma fazer, orientar e foi sempre, sempre
que havia alguma coisa que era preciso falar com ela ou colaboração, sempre, ou nós
íamos ter à associação ou ela ia ter connosco à sala de formação para orientar tanto as
sessões como as visitas, os trabalhos sempre houve colaboração e penso que foi uma
pessoa que eles sempre respeitaram muito e então conseguiu sempre manter muito o
grupo em si, isso foi muito importante.
Entrevistador – Tenho aqui um último conjunto de questões que diz respeito à
Iniciativa Novas Oportunidades e aos próprios cursos EFA, qual é a sua opinião
em relação a Iniciativa Novas Oportunidades, portanto que ideias é que tem
sobre…
Entrevistada - Eu penso que é uma boa opção, porque é relativamente recente e dado a
quantidade de pessoas no nosso país que nós temos que não conseguiram completar os
estudos é uma boa oportunidade para o fazerem, porque até alguns cursos são póslaborais e outros são renumerados e então nunca há muito, uma pessoa acaba por não
perder nada, mesmo no tempo que dispõe, é sempre recompensado.
Entrevistador – Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos nas
vidas dos adultos formandos?
Entrevistada - Penso que sim, dependendo do curso que frequentarem acaba por
sempre ter efeitos, depende da área mas penso que é sempre uma mais-valia, aprendem
sempre a lidar com outro tipo de coisas, têm um conhecimento daquilo que não
conheciam, não é? Falo, estou-me a lembrar mais a nível de informática, a nível de
línguas que, porque quem acaba por frequentar esse tipo de curso acaba por não ter
muito tipo de conhecimento, nem a nível de computadores, nem a nível do inglês,
francês ou mesmo às vezes o simples facto de escrever uma carta e acabam por aprender
um pouco isso, porque o que eu notei muito foi a forma de escrever, fosse qual fosse a
389
idade há pessoas que têm muita dificuldade em exprimir-se no papel e os erros
ortográficos, é muito complicado porque antigamente a escola era muito exigente, as
pessoas acabavam por não acabar o ensino que agora é obrigatório, antigamente não era
e nota-se que há muita dificuldade das pessoas se exprimirem, de pedirem às vezes num
serviço público, saberem desvencelharem-se, saberem com quem vão falar, o que é que
vão pedir, como é que o vão fazer e acaba por ser uma mais-valia.
Entrevistador – O que é que acha da opinião que a Iniciativa Novas Oportunidades
promove o facilitismo?
Entrevistada - Também, penso que também, há pessoas que acabam, não digo a maior
parte mas há muitas pessoas que, eu tive que me esforçar muito para conseguir fazer a
licenciatura, actualmente há pessoas que conseguem fazer um 9º ano ou um 12º ano de
uma forma muito mais fácil e já podem integrar o ensino superior, superior aos 23 anos,
a partir de algumas provas, concordo que nessa parte é um bocadinho mais fácil mas as
experiencias são completamente diferentes.
Entrevistador – Os seus colegas costumam falar sobre isto?
Entrevistada - Não.
Entrevistador – E na sua opinião o que é que poderia ser melhorado na Iniciativa
Novas Oportunidades, daquilo que conhece…
Entrevistada - Uma maior diversidade de cursos, ou mesmo, a nível de locais, haver
uma maior, já não digo divulgação porque às vezes as pessoas só quando querem é que
se preocupam ir à procura ou quando precisam, mas noto que ultimamente tem havido,
eles existem, os cursos existem, os centros existem mas muitas vezes é complicado para
algumas pessoas em termos de horários, em termos de família, em termos de deslocação
e noto que há pessoas que às vezes gostavam de fazer mas tem um bocadinho de receio
de voltar à escola e depois como é que eu vou e vou despender de duas ou três horas do
dia mas é um bocadinho, acho só quando as pessoas precisam mesmo é que recorrem, é
claro que, acho que para nós formadores é muito bom, porque acabamos por estar
sempre um bocadinho activos nesse ramo, quanto mais cursos houver, mais
390
possibilidade temos nós de dar formação, passar conhecimentos, mas há umas áreas que
ainda não estão muito exploradas e penso que às vezes são as mais simples, aquelas que
e mesmo cursos mais curtos que iriam dar competências e que as pessoas se calhar
estariam mais dispostas a frequentar.
Entrevistador – E sobre os cursos EFA em especifico, qual é a sua opinião?
Entrevistada - Eu acho que isto agora está um bocadinho mais calmo, antes havia
muitos cursos, eu só tive neste curso EFA, não tenho conhecimento dos outros, mas
penso que dadas as equivalências que o curso no final, que o diploma depois permite…
é muito bom mas que ainda há muita gente que, eu acho toda a gente devia de ter de
frequentar alguma coisa para poder melhorar um pouco, porque as pessoas acabam a
escolaridade e depois não há uma formação continua, sejam licenciados, sejam cursos
só profissionais e penso que as pessoas têm de ir aumentando um pouco, de ir
actualizando os conhecimentos pois a nível de cursos EFA não tenho assim muito,
muita, muito que possa falar porque não os conheço assim muito bem.
Entrevistador – E da sua experiencia neste curso acha que o curso tem efeitos na
vida dos formandos, na sua vida futura, que ideia é que tem sobre essa…
Entrevistada - Sim, eu penso que sim, eles aprenderam muita coisa, mesmo muitas
áreas diferentes e então têm um vasto leque de sítios onde depois podem desenvolver a
actividade, pode não ser logo aqueles que gostem mais, o local onde gostem mais ou a
melhor renumeração possível mas penso que de alguma forma eles mudam um
bocadinho.
Entrevistador – Ainda a partir da sua experiencia ali da In Loco o que é que
poderia ser melhorado no funcionamento dos cursos EFA a partir da experiencia
que…
Entrevistada - O número de horas, acho que às vezes, sete horas por dia é muito tempo,
às vezes era um pouquinho cansativo.
391
Entrevistador – E em termos da empregabilidade, do futuro dos formandos, o que
é que acha, como é que olha para isso?
Entrevistada - Eu sei que alguns deles já estão a trabalhar, sei que são poucos mas
alguns já estão a trabalhar, mas agora também é uma questão de procurarem, porque, foi
o que eu lhes disse, eles não podem ficar à espera que o local de emprego seja ao lado
da porta de casa, eles fizeram o curso, eles têm, era o certificado que eles queriam,
fizeram um estágio em varias, depois depende de cada um, uma área diferente mas
penso que eles a partir daqui agora conseguem trabalhar, pode é não ser mesmo, era o
que eu tinha dito, pode é não ser na área que eles gostem mais, mas eles aprenderam
muita coisa desde a área da saúde, a área da cozinha, como tratar de animais, como
lavar, a nível de decoração, lavagem de roupa, tratamento, foram muitas coisas.
Entrevistador – Em termos gerais qual é o balanço que faz do curso EFA que
terminou na associação?
Entrevistada - Eu penso que foi muito bom, foi um curso longo mas também tinha
muitos módulos, por isso, penso que eles adquiriram muitas competências e penso que
foi positivo para a maior parte deles, penso que foi positivo mas isso depois cada um
tem a sua perspectiva, penso que havia muito mais pessoas que gostariam de frequentar
esse curso, mas isso agora pois é uma questão que nós não sabemos muito bem como é
que estão os curso EFA porque há alguns, o financiamento foi um bocadinho cortado e
então, mas penso que, que eles têm boas competências, acho que deu para aprenderem
muita coisa.
Entrevistador – No seu caso se a voltassem a convidar para dar formação nos
cursos EFA?
Entrevistada - Aceitava.
Entrevistador – Ok, chegámos ao fim, agradeço-lhe bastante.
392
16. Entrevista 13 – L. G. – Formadora da Prática em Contexto de Trabalho e de
Atendimento Personalizado e Instituições num curso EFA da Associação para a
Democracia.
Entrevistador – Começava por lhe perguntar quais são as suas habilitações
literárias?
Entrevistada – Eu sou licenciada em Psicologia.
Entrevistador – E qual é a sua profissão?
Entrevistada – Sou Directora Técnica de uma IPSS na área sénior e também
formadora.
Entrevistador – Portanto estamos a falar daqui da…
Entrevistada – Da Âncora
Entrevistador – E que funções é que exerceu no curso EFA?
Entrevistada – Na face inicial fui formadora de alguns módulos de Atendimento
Personalizado e de Instituições e depois nesta fase final foi, fui formadora de PCT,
portanto da Prática em Contexto de Trabalho.
Entrevistador – Quantos módulos é que foram?
Entrevistada – Foram dois módulos na formação e um módulo que no fundo foi o
acompanhamento dos estágios.
Entrevistador – E exerceu mais alguma função no âmbito do curso EFA aqui na
associação?
Entrevistada – Não.
393
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta que é, se trabalha em mais alguma
organização?
Entrevistada – Sim, sim, trabalho na Âncora.
Entrevistador – Na Âncora, não é? E formação para a APD. Ia-lhe pedir para me
descrever a sua trajectória profissional, desde que começou a trabalhar, para
tentar perceber como é que foi a chegada a formação e aos cursos EFA.
Entrevistada – Ok. Eu terminei em 2006 o, a minha licenciatura e nesse ano eu fiz um
estágio académico na Santa Casa da Misericórdia como psicóloga, depois fiz estágio
profissional na mesma entidade e quando terminei o estágio profissional tive a
oportunidade de ficar mas eu achei que precisava de experimentar outras coisas e não
ficar por ali e então rejeitei esse contrato de trabalho que na altura foi assim uma
loucura e dediquei-me a formação no IEFP no Santiago do Cacém, portanto na altura
residia ai. Mais tarde fui trabalhar, continuei a dar formação e fui trabalhar para um lar
privado em Beja e depois surgiu a oportunidade da Âncora, portanto vim trabalhar para
o Algarve, estou há 3 anos na Âncora e sempre fui dando formações na área da
Gerontologia, no fundo é área que sempre trabalhei, cheguei à In Loco porque tivemos
formação por parte da APD, do programa que foi o Q3, conhecemo-nos, nós técnicos e
como eu sempre trabalhei, dava formação simultaneamente na área de Gerontologia
quando abriu este curso na área do Apoio Familiar e à Comunidade, eles chamaram para
colaborar como formadora nestes módulos que dei.
Entrevistador – Já tinha trabalhado em mais algum curso EFA?
Entrevistada – Sim, tinha trabalhado, quando trabalhei, quando dei formação no IEFP
no Santiago do Cacém.
Entrevistador – Portanto nesta modalidade de formação, tal como na APD?
Entrevistada – Sim, por módulos.
Entrevistador – Dupla certificação?
394
Entrevistada – Sim.
Entrevistador – Ia perguntar como é que é a vida, uma pergunta de carácter mais
aberto, como é que é a vida de um formador que faz a sua actividade nos cursos
EFA? Se lhe fizessem esta pergunta tendo em conta a sua experiência.
Entrevistada – Sim, bem eu não faço só isso e daí talvez a minha resposta seja um
bocadinho diferente, eu faço isso como complemento ao meu trabalho, ao meu contrato
de trabalho, a termo certo e tudo mais, portanto para mim é um escape, é fazer uma
coisa diferente do que já estou habituada e é tentar encontrar as pessoas no caminho, até
chegar às instituições onde eu trabalho, ou seja o dar formação a estas pessoas neste
curso, falo em concreto neste curso da APD, foi apanhar as pessoas antes de chegar à
fase de recrutamento que é aquele que normalmente estou e prepara-las já tendo em
conta aquilo que eu sei que são as dificuldades das instituições e aquelas que são as
competências que eu acho, que são aquelas que elas devem ter, portanto deu-me muito
prazer poder formar as pessoas que mais tarde vamos encontrar no mercado de trabalho,
em termos de dificuldades enquanto formador, propriamente dito nós sentimos que num
curso EFA, temos diferentes tipos de formandos ou seja temos aqueles que estão lá
porque têm que estar, precisam da bolsa de formação e fazem um bocadinho vida
daquilo ou seja não estão a olhar para o final como um ponto de partida para uma
profissão, mas sim como, como uma forma de manterem ali um valor, não é?
Monetário, temos aquelas pessoas que estão naquele curso porque não havia outro e
portanto precisavam daquele e temos ali aqueles que estão ali mesmo porque querem e
são aqueles que vão agarrar aquela oportunidade e fazer dela um trunfo para depois
entrar no mercado de trabalho e é esta franja de pessoas quem nos dá mais prazer
formar, claro que sim.
Entrevistador – Ia perguntar também no seguimento do que me estava a dizer se
considera que ser formadora EFA é uma profissão? Na sua opinião.
Entrevistada – Será certamente para os colegas que só fazem isso, no meu caso é um
bocadinho o complemento também à minha profissão, porque é uma área que gosto
imenso a área da formação, não faço disso a minha vida, não é? Portanto a minha
perspectiva será certamente um bocadinho diferente, agora para os colegas que só fazem
395
isso, é uma profissão um bocadinho ingrata, deve ser, porque as condições normalmente
de recibos verdes não são as melhores, porque agora existem cursos mas não sabemos
se vão voltar a haver, com estes cortes todos por parte do governo e portanto imagino
para quem só faça isso, seja um bocadinho ingrato.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta, que já acabou de responder, se se
considera profissional da formação, no seu caso especifico?
Entrevistada – Hum….
Entrevistador – E em relação as condições laborais e institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, no seu caso em particular, portanto qual foi o tipo de
vínculo que estabeleceu com a APD?
Entrevistada – Eu tive um contrato, era um contrato para aquele número de horas de
cada módulo, portanto para cada módulo tinha um contrato diferente e fui sempre, tive
sempre todas as condições que precisei e sempre, foi sempre prestado um apoio bastante
grande, não é? No sentido da disponibilidade de materiais, de fotocopias e enfim.
Entrevistador – Alguma vez pensou em abandonar a actividade como formadora?
Entrevistada – Não, não porque eu gosto muito de fazer isso.
Entrevistador – E em relação aos cursos EFA mais especificamente, como é que vê
os cursos EFA na sua actividade profissional futura?
Entrevistada – Como assim? Na minha perspectiva ou na perspectiva de quem está a
estudar?
Entrevistador – Na sua, na sua perspectiva.
Entrevistada – Enquanto formadora?
396
Entrevistador – Os cursos EFA podem fazer parte dos seus planos profissionais
futuros, de alguma forma pudessem ser incorporados, como é que olha para essa
questão?
Entrevistada – Bem a mim não me preocupa muito porque tenho o meu trabalho, não
é? Agora sempre que eu poder ser formadora de um curso EFA ou de um outro curso
qualquer, farei isso com muito gosto não é? Mas não, não olho para a frente como um
caminho ou seja, aliás eu até acho que eles vão acabar por deixar de existir daqui a uns
tempos, a minha perspectiva não é de uma grande continuidade por muito mais tempo.
Entrevistador – Mas quando está a dizer isso, refere-se…
Entrevistada – Explico-lhe porquê, falei até nas novas oportunidades que foi um
conceito interessante a partir do momento em que as pessoas o faziam por livre e
espontânea vontade, ou seja, e eu trabalho há vinte anos, sou muito boa no que faço mas
não tenho equivalência académica, portanto isto era um bom ponto de partida, agora
neste momento as pessoas estão obrigadas a ir para os Centros Novas Oportunidades
porque estão desempregadas e o IEFP obriga e isto é um bocado perverso não é? As
pessoas não vão beneficiar daquilo em nada, porque não estão minimamente motivadas
para o fazer e o que eu acho é que as coisas estão a ir por o caminho errado e daí sentir
que não tem um futuro, pelo menos um futuro saudável.
Entrevistador – Sente-se reconhecida na sua actividade do seu trabalho como
formadora?
Entrevistada – Sim, sim, todas as vezes em que, em que fui formadora sim.
Entrevistador – Consegue-me dizer em que aspectos é que se podem manifestar, a
questão do reconhecimento?
Entrevistada – Não sei, o facto de às vezes ter oferta, de às vezes me procurarem como
formadora para, neste caso a APD, porque conheciam o meu currículo porque sabem a
minha experiencia virem-me chamar, não me conheciam de lado nenhum, nunca, quer
dizer, muitas vezes temos solicitações de entidades com as quais nunca trabalhamos,
397
mas que se souberem que nós demos formação aqui ou demos formação ali, acabam por
vir ter connosco e isso de certa forma é um bocadinho de reconhecimento de nós
enquanto formadores. E também, estava aqui a pensar e o facto de muitos formandos me
procurarem quando precisam de esclarecer dúvidas ou quando estão a ir para um,
imagine tive pessoas que há pouco tempo iam ter entrevistas de trabalho então ligaramme, tentar conversar um bocadinho e o que é que devemos fazer e o como é que há-de
ser, o que é que acha, o que é que me aconselha, também é um bocadinho esse
reconhecimento que os próprios formandos vêem em nós como pessoas que estão nisto
há mais tempo e que estão nas instituições e tudo mais.
Entrevistador – Ainda em relação às dificuldades que possa sentir no seu trabalho
como formadora na relação pedagógica com os formandos, há alguma questão que
possa destacar?
Entrevistada – Sabe quando eu comecei era muito novinha e sempre achei que o facto
de ser bastante mais nova que a maioria dos formandos pudesse ser ali uma barreira,
mas não e acho que também tem muito a ver com a nossa postura, eu não senti grandes
dificuldades, aquilo que mais me preocupa é mesmo a desmotivação às vezes, por falta,
pela parte dos formandos, por aqueles que estão lá porque são obrigados ou porque
querem receber a bolsa, mas também acho que cabe a nós dar a volta a situação e tentar
agarrar as pessoas dando-lhes alguma coisa como, ok não queres fazer disto a tua vida
mas podes agarrar aqui e ali, porque isto pode ser útil para outras coisas, então acho que
a maior dificuldade às vezes é motivar os mais desmotivados.
Entrevistador – E em relação aos aspectos mais gratificantes da sua actividade
como formadora?
Entrevistada – Eu acho que é quando um formando nos telefona e diz: eu estou a
trabalhar nessa área ou quando nós sabemos de outras formas que isso aconteceu, seja
que agarraram a oportunidade que lhes foi dada e que com ela conseguiram uma vida
um bocadinho melhor, não é? A nível profissional pelo menos.
Entrevistador – E em termos do trabalho curricular em torno dos temas de vida,
como é que aconteceu esse trabalho no seu caso?
398
Entrevistada
–
Nós
não
participamos,
os
meus
módulos
eram
módulos
complementares, não eram módulos de base, então nós nunca conseguimos fazer,
participar nos temas de vida, não tive essa experiencia.
Entrevistador – Em relação ao resto dos seus colegas formadores, recorda-se como
é que isso aconteceu?
Entrevistada – Sim, eu sei que houve reuniões iniciais em que foi escolhido pelos
formandos o tema de vida e depois trabalharam em diferentes formas nos diferentes
módulos ou seja cada módulo deu um contributo diferente àquele que era o tema
escolhido e acho que teve bastante sucesso, essa metodologia.
Entrevistador – Os formadores costumam fazer reuniões de planificação a como é
que se passou?
Entrevistada – A planificação, mais ou menos, nós, eu não assisti a todas mas, por
motivos de trabalho, porque trabalho aqui, mas as reuniões que nós fazíamos eram mais
no sentido de perceber como é que estava a ser a evolução dos formandos, onde é que
era preciso investir mais, quais estavam a ser as dificuldades maiores para todos, foi
mais análise de casos do que propriamente planificar os módulos ou planificar as aulas.
Entrevistador – Sentiu alguma dificuldade em fazer, em que os formadores
compareçam nas reuniões, se de alguma forma…
Entrevistada – Pois eu pessoalmente tive dificuldade em participar, por este motivo,
porque tenho um trabalho, precisava de faltar ao trabalho muitas vezes para ir não é? E
dessa forma faltei a algumas, eu acho que é difícil por isso mesmo, é a compatibilidade
de horários, sobretudo pessoas que tenham outras ocupações para além da formação.
Entrevistador – Em relação ao seu trabalho pedagógico, ia-lhe pedir que me
procura-se descrever, quando vai fazer a sua formação com o grupo de formandas
e um formando lá na In Loco…
Entrevistada – Eram dois mas depois só ficou um.
399
Entrevistador – Quais são as suas preocupações, não é? Portanto quando vai
actuar no palco da formação, que preocupações, leva consigo? Como é que
procura fazer?
Entrevistada – Em primeiro lugar pensar: será que aquilo que levo é perceptível, ou
seja, será que consigo simplificar as coisas porque este curso EFA era de equivalência
ao 9º ano, será que consegui preparar o material que vou levar de forma adequada às
pessoas que tenho à minha frente, depois será que eles vão achar isto interessante ou
como é que eu posso tornar isto mais interessante para os agarrar e para não deixar que
se dispersem ou que vão para outro sítio qualquer e depois como é que eu vou
dinamizar uma aula de quatro horas sem que ela seja uma seca e pensar em todas
actividades que podemos fazer complementares de forma a dar algum ritmo àquela
sessão, acho que é basicamente isso.
Entrevistador – Falou-me ainda à pouco, eu tinha aqui uma pergunta nesse
sentido, gostava de explorar um pouco melhor essa questão para perceber melhor,
solicitava para descrever um pouco o perfil dos formandos que frequentam esses
cursos EFA? Falou-me em diferentes….
Entrevistada – Sim, sim neste curso, neste e nos outros onde eu estive, era claro, eu
acho que nós verificávamos a existência de três grupos muito claramente, os que
estavam pela bolsa, os que estavam pelo curso mas porque aquele era o único naquele
curso e os que estavam porque queriam aquele curso, depois o percurso que eles fazem
é muito, é muito distinto, o investimento que colocam nas coisas é muito diferente, não
é? E isso notou-se sobretudo depois na altura, notou-se ao longo da formação toda, mas
isso é muito significativo no momento do estágio da prática em contexto em trabalho, o
empenho que se revela é completamente diferente.
Entrevistador – E, eu tinha aqui uma pergunta nesse sentido, que é se há
diferenças ao nível do empenhamento dos formandos face à formação?
Entrevistada – Sim, até na postura das aulas, sim.
Entrevistador – Recorda-se algumas situações deste curso?
400
Entrevistada – Sim, eu lembra-me, nós tínhamos uma pessoa que acabou por desistir
na véspera de ir estagiar que claramente percebia, que fazia dos cursos um bocadinho a
sua vida, ou seja já tinha estando em vários e não concluía porque ia recebendo a bolsa e
ela acabou por desistir claro na véspera, não é? Como já seria, enfim um bocadinho de
esperar e outras situações também, a postura mesmo ao longo das aulas, a forma como
participavam, com que queriam saber mais, notava-se perfeitamente quem estava ali
porque queria mesmo aprender e quem estava ali porque tinha que estar ali, não é?
Entrevistador – E em relação à aprendizagem, sente que também há diferenças?
Entrevistada – Sim, uma coisa leva um bocadinho à outra, não é? Quem investiu mais,
quem quis saber mais, quem estava ali mais motivado, acabou por agarrar mais os
conteúdos, as coisas que lhe foram sendo passadas, foi mais capaz de as integrar, de
elaborar, de dar mais sentido às coisas do que as outras pessoas que não, não é?
Entrevistador – Costuma haver conflitos no espaço da formação?
Entrevistada – Sim, estes cursos, são cursos com muitas mulheres e infelizmente o
sexo feminino tem estas coisas, são um bocadinho mais conflituosos, nós mulheres
ligamos mais aos pormenores, acabamos por ter mais conflitos por causa disso e
existiram imensos, felizmente nas minhas aulas nunca nada de maior, mas tenho
conhecimento que com outros colegas as coisas foram um bocadinho feias.
Entrevistador – E em relação ao trabalho com os seus colegas de formação, os
formadores? Se o trabalho foi feito de uma forma mais partilhada, mais
individualizada, como é que isso?
Entrevistada – Nós tínhamos ali um elo central que era a Sónia que era a pessoa que
estava a fazer a mediação, estava a coordenar o curso e eu sempre trabalhei muito em
articulação com ela e sei que ela também fazia isso com todos, portanto acho que no
fundo trabalhamos todos muito com a Sónia e a Sónia com cada um de nós, acho que
foi assim um bocadinho.
401
Entrevistador – E o seu trabalho específico no seu módulo, foi mais, ou seja o
contacto com os seus colegas formadores acaba por se fazer de alguma forma, não
se faz?
Entrevistada – Não, no meu caso não foi muito, muito grande.
Entrevistador – Com que frequência é que costuma encontrar os colegas de
formação, durante o curso?
Entrevistada – Normalmente nós encontrávamo-nos quando tínhamos sessões lá na In
Loco mesmo, porque a maior parte deles trabalha na associação, acabávamos por nos
encontrar lá, mas de forma casual e nas reuniões, com a Sónia a coordenadora
encontrávamo-nos quase sempre.
Entrevistador – Na sua opinião há algum aspecto de trabalho de formação com os
seus colegas que ache que podia ser benéfico melhorar? Se alguma coisa que…
Entrevistada – Sim, eu acho que sim, acho que a coordenação é muito diminuta ainda,
ou seja pelo menos neste caso, certamente coisas que eu fiquei, que outro colega ficou
também e se calhar se tivéssemos conversado sobre isso antes tínhamos aproveitado
melhor o tempo que tínhamos para a formação, acho que o trabalho, não se trabalha
muito em equipa neste sentido de analisar o currículo que cada um têm para, ou os
conteúdos que cada um têm para leccionar, como vai fazer, como é que eu posso, como
é que este conteúdo pode ser trabalhado na tua aula, na aula do meu colega, não é?
Porque há coisas que são transversais e isso acabou por não acontecer, pelo menos
comigo não aconteceu.
Entrevistador – Sente diferenças no empenhamento do trabalho dos colegas para
por em prática este modelo EFA? Portanto, no caso dos formadores, se sente que
há diferenças na forma como eles levam a cabo esse trabalho no curso, tem que ter
particularidades específicas como o curso EFA, não é?
Entrevistada – Sim, eu não tive nenhum, nenhum dos meus módulos faziam parte dos
módulos centrais ou seja lá daqueles das competências que eles tinham que adquirir e
402
portanto a minha forma de avaliar e até de dar o módulo foi certamente diferente da dos
meus colegas que tinham depois no final a certificação de competências para fazer, a
esse nível de certeza que é diferente, não é? Porque eu dei módulos complementares.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta que tem a ver com a relação da entidade
formadora, que tipo de relação é que manteve com a entidade formadora?
Entrevistada – A relação foi sempre muito boa, portanto nós, como lhe disse tínhamos
um, tinha um contrato com eles para cada módulo em particular, mas foi sempre uma
relação muito cordial, eles são uma associação muito aberta e muito disponível, pelo
menos as pessoas que a representaram e que trabalharam directamente comigo, foram
sempre pessoas muito disponíveis, muito atentas também.
Entrevistador – Vê-se como trabalhadora da entidade para quem fez o trabalho de
formação, neste caso a Associação para a Democracia?
Entrevistada – Sobretudo na fase final, na face em que fui formadora de PCT, senti-me
muito parte da In Loco, tinha que fazer visitas às instituições e tinha que me apresentar
como formadora da APD e aí sim, ai senti-me muito, muito fazendo parte da APD.
Entrevistador – Tenho aqui uma questão que não sei se tem informação que me
possa ajudar, mas vou fazer na mesma, que tem a ver com a variação possível ou
não nas diferentes entidades onde os cursos EFA acontecem, ou seja, se na sua
opinião os cursos EFA funcionam de forma diferente consoante as entidades em
que eles acontecem, ou seja, se será a mesma coisa um curso EFA funcionar na
Associação para a Democracia, no IEFP, na escola, se tem os elementos que me
possa…
Entrevistada – Eu acho que nunca é bem igual, porque embora as directrizes sejam as
mesmas depois a forma como as interpretamos e lhe damos sentido é sempre diferente,
não é? Eu em comparação a quando trabalhava, quando dava formação no IEFP do
Santiago do Cacém e agora na APD, embora a base seja a mesma, há sempre diferenças,
eu acho que há sempre diferenças.
403
Entrevistador – Em relação à avaliação dos formandos, a avaliação que fez em
relação aos formandos, como é que isso se processou?
Entrevistada – Nós fazemos vários trabalhos ao longo dos módulos, a avaliação, pois
fizemos também a ficha de avaliação no final, depois houve uma ponderação, não é? Foi
atribuída uma percentagem ao valor da ficha de avaliação e é os trabalhos
desenvolvidos ao longo do ano e depois foi o resultado dessa ponderação na avaliação
final.
Entrevistador – Têm uma nota quantitativa?
Entrevistada – Sim
Entrevistador – Sim?
Entrevistada – Sim, obrigatoriamente.
Entrevistador – Ia-lhe perguntar se considera que o trabalho da mediadora a é
importante no curso EFA?
Entrevistada – Sim, acho que é muito importante é, como eu estava a dizer, ela era ali
o elemento que nos juntava a todos, era o elemento central.
Entrevistador – Tenho aqui um último bloco de questões que diz respeito mais à
Iniciativa Novas Oportunidades e também à questão mais específica dos cursos
EFA. Começava pela Iniciativa Novas Oportunidades e começava por perguntar,
qual é a sua opinião em relação a Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistada – Bem como lhe disse inicialmente quando surgiu, achei que apesar de,
por um lado, poder promover algum tipo de facilitismo ou até algum tipo de injustiça
para com as pessoas que vão para o ensino normal e têm que passar por aquele processo
todo mais demorado, muito mais exigente e tudo mais, achei que para além disso podia
ser uma grande oportunidade para as pessoas que de facto não tiveram oportunidade de
estudar mas que adquiriram todas as competências que outras pessoas que estudaram
404
também adquiriram e adquiriram-nas no contexto real de trabalho não é? Portanto achei
que aí, nesse nível era uma grande oportunidade de valorizar estas pessoas, depois ao
longo dos anos tenho vindo a achar que isto está a ir pelo caminho errado como eu dizia
há bocado, não é? A partir do momento em que eu não vou para um curso de novas
oportunidades porque acho que isso é importante para mim, porque reconheço as
minhas competências sem serem validadas, mas vou porque sou obrigada a ir e porque é
importante que isto conste para uma estatística nacional e que assim a taxa de
alfabetização é muito maior, a taxa de nível de escolaridade aumenta, acho que é para
perverter as coisas e nesse sentido acho que deixa de fazer tanto, neste sentido acho que
deixa de ser uma coisa, uma oportunidade para ser um número.
Entrevistador – Falou-me ainda há pouco da questão dos formandos que vão
obrigados, pode-me especificar um pouco melhor isso?
Entrevistada – Eu tenho muitos colegas que são, que trabalham em CNO, nas Novas
Oportunidades como técnicos a e o feedback que recebo deles é precisamente este é que
agora desde que o IEFP decidiu que as pessoas desempregadas eram obrigadas a
frequentar estes cursos, apanham lá pessoas, para já completamente desajustadas, que
não estão minimamente motivadas para estar ali, que vão obrigadas, que causam um
ambiente péssimo no curso que têm uma postura perante os formadores de desrespeito
autêntico, que os acusam por estarem ali, sem que eles tenham culpa porque não são
eles que fazem a legislação e quer dizer, acho que e as pessoas que trabalham nestes
Centros Novas Oportunidades também se vêem neste momento a braços com um
desafio terrível que é terem pessoas ali e sem quererem estar ali e como é que se ensina
quem não quer ser ensinado?
Entrevistador – Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeitos na
vida dos adultos formandos que o frequentam?
Entrevistada – Eu acho que sim, eu acho que para quem está ali porque decidiu estar e
realmente quis reconhecer as suas competências, eu acho que isto vai aumentar e muito,
não só a auto-estima de cada um mas o seu auto conceito de competência não é? Que é
o, eu sou capaz, eu consigo, eu sei fazer e agora alguém reconheceu o que eu sei fazer e
o que eu fui aprendendo na vida, não aprendi nos livros mas apreendi na vida de
405
trabalho, acho que isso tem, tem um impacto psicológico bastante grande, não sei se
depois a nível profissional poderá ajudar ou não porque se calhar se nós tivermos num
processo de recrutamento e ver uma pessoa que fez o percurso normal e uma pessoa que
fez as novas oportunidades não sei se isso depois será exactamente igual não é? A não
ser que a pessoa das novas oportunidades tenha mais experiência e pronto, seja isso o
mais valorizado, agora eu acho que a nível pessoal deve de ter um impacto enorme.
Entrevistador – O que é que acha da opinião que a Iniciativa Novas Oportunidades
promove o facilitismo?
Entrevistada – Pois é o que lhe dizia inicialmente, sobretudo os colegas professores
quando falamos sobre isto, eu lembro-me de há alguns uns anos quando comecei a
trabalhar nesta área da formação ter tido essa discussão, muitos professores com quem
falei na altura também achavam isso que era um bocadinho facilitismo. Porquê? Porque
quem andou ali a queimar as pestanas como se costuma dizer montes de tempo, quem
está num percurso normal e depois estas pessoas chegam lá e em alguns meses têm a
mesma certificação que pessoas que estão num percurso normal, agora eu acho que é
facilitismo só no caso das pessoas que fazem as Novas Oportunidades de forma
perversa mais uma vez ou seja se eu tenho cinquenta anos e trabalhei uma vida toda e de
facto esta é a maneira de validar aquilo que eu fiz óptimo, acho que é óptimo, agora se
eu tenho dezoito anos e vou fazer as Novas Oportunidades que é muito mais fácil, aí
acho que as coisas estão um bocadinho trepadas e aí sim acho que se assiste ao
facilitismo.
Entrevistador – Na sua opinião o que é que podia ser melhorado na Iniciativa
Novas Oportunidades?
Entrevistada – Talvez os critérios de selecção dos formandos não é? Uma pessoa com
dezoito anos ou com vinte anos tem uma vida muito curta para ter assim tantas
competências adquiridas para validar, na minha opinião, talvez uns critérios mais, mais
bem definidos, mais bem pensados, mais bem reflectidos, tendo em conta a filosofia de
base dos centros, que eu também acho que já está completamente enviesada nesta fase,
talvez também a filosofia de base deva ser repensada.
406
Entrevistador – Hum, mas quando diz que a filosofia de base está enviesada o que
é que quer dizer com isso?
Entrevistada – Quando se assiste a uma obrigatoriedade deste processo eu acho que as
coisas ficam um bocadinho enviesadas não é? Porque o que parece é que precisamos é
de números, não é de pessoas com competências validadas porque vai-se fazer muito
bem a elas porque elas depois podem encontrar um trabalho melhor, ou até subir, num
trabalho numa empresa, até subir de posição, parece-me que aquilo que temos mostrado
é que temos números mais elevados de sucesso escolar ou de nível de escolaridade.
Entrevistador – Em relação aos cursos EFA mais especificamente, qual é a sua
opinião sobre os cursos EFA? Tendo conta a sua experiência.
Entrevistada – Eu acho que eles são uma excelente oportunidade para quem não
conseguiu uma profissão antes ou seja para quem fez um bocadinho de tudo e não fez
nada e não se especializou em nada ou para quem, para aquelas pessoas que nunca
trabalharam porque nunca precisaram e perante este cenário de crise nacional é preciso,
é preciso entrar no mercado de trabalho mas quem nunca fez nada, tem que começar por
algum lado, então encontram nestes cursos uma formação profissionalizante que lhes dá
uma serie de competências para depois integrarem no mercado de trabalho é sempre
uma mais-valia.
Entrevistador – Portanto tinha aqui uma pergunta nesse sentido, no seguimento do
que está a dizer que é, se considera que os cursos EFA, agora mais em particular
nos cursos EFA, se têm efeitos na vida das pessoas que passam pelo, pelo curso?
Entrevistada – É um bocadinho como dizia há bocado das pessoas que estão ali porque
realmente querem estar ali e que querem seguir depois uma profissão, claro que sim,
para as pessoas que estão ali por causa da bolsa ou porque não havia outro curso, acho
que será mais uma passagem como tantas outras.
Entrevistador – E da sua experiencia neste curso da APD, o que é que acha que
poderia ser melhorado no, no funcionamento dos cursos EFA?
407
Entrevistada – Eu acho que, sabe quando foi feita a selecção dos formandos e até foi
feita de uma forma rigorosa porque eu tive conhecimento disso, com entrevistas, com
provas e com tudo mais, não foi perceptível nesta diferença de quem estava lá porque
queria fazer aquele curso, quem estava lá pela bolsa e tudo mais e a colega, a Sandra
disse-nos algumas vezes que, que quando fez as entrevistas para selecção dos
formandos que achou que toda a gente ia estar ali, querer estar ali, aprender aquela
profissão e tudo mais, portanto eu acho que também é muito difícil, quando nós não
conhecemos as pessoas é muito difícil prever o que é que vai acontecer, podia-lhe
responder, usar os critérios bons de selecção de formandos, mas eu acho que até foram
utilizados, só que às vezes é difícil, é como nós quando encontramos alguém para
trabalhar na entrevista pode parecer tudo fantástico mas depois, nós só percebemos
como é que é no dia-a-dia.
Entrevistador – Para terminar a questão é: que balanço faz do curso EFA que
decorreu na associação? Da sua experiência de trabalho.
Entrevistada – Olhe, eu acho que chegaram ao fim dezasseis formandos, portanto
menos sete se não estou enganada, do que os que iniciaram e neste momento já estão
cinco a trabalhar o curso terminou agora em Agosto, portanto eu acho que isso é um
bom indicador e as pessoas que não estão a trabalhar estão a ir a entrevistas, estão com
alguns projectos, outros não estão a trabalhar, não estão porque tem filhos pequeninos e
neste momento não conseguem compatibilizar o horário de trabalho por turnos com a
vida familiar, mas que quando os filhos forem maiores, certamente esta formação lhes
vai valer ou se encontrarem trabalho que não exija trabalho por turnos certamente
agarrarão a oportunidade, portanto eu acho que este curso foi um curso a com uma taxa
de sucesso elevada.
Entrevistador – Ok, muito obrigado, eu agradeço-lhe bastante.
17. Entrevista 14 – R.B. – Formador da área tecnológica de Cozinha num curso
EFA da Associação para a Democracia.
Entrevistador – Perguntava ao Rui quais são as suas habilitações literárias?
408
Entrevistado – Tenho o 12º ano, tenho um curso profissional de cozinha, tenho
formação inicial de formadores e pronto tenho algumas formações no âmbito da,
relacionados com a minha área que é a cozinha.
Entrevistador – Ok, e qual é a sua profissão?
Entrevistado – Cozinheiro.
Entrevistador – E no curso EFA que aqui se realizou, que funções é que exerceu?
Entrevistado – Pois fui formador na parte da pastelaria, na confecção de produtos, de
higiene e segurança no trabalho, tive uma disciplina que era armazenamento do material
e isso é tudo relacionado com, com a área de cozinha.
Entrevistador – Quantos módulos é que foram? Recorda-se?
Entrevistado – Foram treze, treze, foram cinco módulos.
Entrevistador – Cinco. Aqui na APD exerce mais alguma função?
Entrevistado – Não, só formador, parte externa.
Entrevistador – Ia-lhe perguntar, ia-lhe pedir para me descrever a sua trajectória
profissional, assim em traços breves para tentar perceber como é que aconteceu a
sua entrada na formação?
Entrevistado – Pois isto a minha situação foi a seguinte, pronto eu sou cozinheiro
profissional, exerço as funções de chefe de cozinha já há alguns anos e então participei
em vários concursos a nível nacional, fiz um programa na RTP 2, Portugal Acontece
quando tinha, na altura chamava-se Sabores com Sabores, durante três meses, depois
quando surgiu a possibilidade de entrar nesses concursos, quando eu ganhei vários
concursos tive a possibilidade de ser convidado para, para a Praça da Alegria, fiz lá
varias confecções, então aí veio o âmbito de ser convidado pela, pela entidade escolar
para dar formação, então aí formei-me tirei, renovei o CAP na altura aquilo tinha um
409
prazo limite, depois fiz a renovação do CAP, mentalmente pensei, é pá tenho, tenho que
escolher esta maneira, porque é assim, eu gosto de ensinar, então fiz essa formação,
depois comecei a dar aulas aqui na Secundária, correu bem, gostei da oportunidade e
depois até pensei, bom então vou tentar alargar o leque de dar formação, depois surgiu
aqui o convite da Sónia através ali da escola e foi por isso que eu vim dar formação.
Entrevistador – Se lhe perguntasse como é que é a vida de quem faz a sua
actividade de um curso EFA, a vida de um formador que faz a sua actividade um
curso EFA, o que é lhe ocorreria?
Entrevistado – Se eu, pronto, se eu fizesse parte dessa, dos formandos não é…
Entrevistador – A partir da sua experiencia aqui como formador, como é que foi
essa experiencia?
Entrevistado – A experiência foi gratificante, acho que os formandos, porque aquilo
também é assim, eu baseei-me numa tese que era tentar ser, colocar-me no lugar dos
formandos e tentar compreender os formandos e então depois aí partir para a formação,
a maior parte das situações, porque aquilo são pessoas, que são desempregados, são
pessoas a maior parte delas com problemas e frustradas, eu digo frustradas que não é o
termo bem certo mas pronto, então nós temos que saber levar essas pessoas e ao saber
levar essas pessoas, nós depois a nível de formação tudo sai bem e elas conseguem
incutir o maior número de matéria possível, porque a base é essa, essencialmente é
tentar compreender as pessoas, tentar colocar-se no lugar delas e depois aí é que vem a
formação e este ano, nunca tinha dado formação a adultos, foi uma experiência fabulosa
e gostei, nunca tive problemas com os formandos, eles perceberam e acho que fui bem
recebido por eles e eles até gostaram de mim e pronto quando tudo corre bem, a matéria,
eles entendem melhor a matéria.
Entrevistador – Quando diz ai que é preciso compreender os formandos a….
Entrevistado – Mentalmente…
Entrevistador – Pode-me, pode-me explicar um pouco melhor essa questão?
410
Entrevistado – A questão é assim, nós, pronto, eu lido com miúdos CEF, lido com
pessoas difíceis, então eu faço, num curto espaço de tempo faço um leitura mental sobre
cada um, tento puxar cada um, tento usufruir o máximo, tentar sacar o máximo de
informação sobre cada formando e depois aí faço uma ideia mentalmente ou mesmo
durante, em casa, mesmo nos trabalhos que eu faço, tenho uma ideia distinta com cada
um dos formandos, então depois é assim cada formando é, cada caso é um caso, então
trato-os de maneira diferente, durante a matéria ou durante a informação que é exposta
ai posso ter um, um contacto com o formando diferente, são dezasseis formandos, tenho
que ter dezasseis opiniões diferentes ou tenho que ter dezasseis reparações diferentes
então, depois é assim à medida que nós vamos tomando a maneira, à medida que vou
dando, prontos descarregando matéria tento falar com cada um deles, basta uma palavra,
basta um incentivo, basta uma crítica que eles depois, consigo-os controlar, pronto
máximo possível, é nesse sentido, basta conhecer para depois poder agir e saber ter
armas para agir, consoante aquele formando.
Entrevistador – Ok, se considera que ser formador EFA, se é uma profissão?
Entrevistado – Acho que actualmente não é, não é uma profissão porque, porque isto é
assim que a realidade seja dita, os cursos ou o formador ou pronto estes cursos em si
com financiamento, praticamente estão a acabar, isso mais dia menos dia, mais ano
menos ano isso vai acabar, profissão, profissão é, é uma profissão porque nós temos um
trabalho de casa entre aspas, muito intenso para conseguir dar duas ou três horas de
formação, por isso a nível de formação nós ocupamos a maior parte, o tempo possível a
preparar e depois mais a formação, nesse sentido ocupar o tempo, é, pode-se considerar
uma profissão, mas profissão, profissão é pá eu, na minha opinião acho que é incerto.
Entrevistador – Ok, e, e a portanto se lhe perguntasse no seu caso se considera
profissional da formação a o que é que me diria? Há pouco perguntei, qual é a sua
profissão o que é que...
Entrevistado – A minha profissão neste momento é assim sou professor/formador,
professor entre aspas porque a nível de secundárias nós somos tratados como
professores, nós somos, temos, somos professores pronto, pela dita e então formador,
411
sou
formador,
neste
caso,
posso-me considerar professor/formador ou
um
formador/professor pronto e faço os possíveis para tentar ter, ter a nível parte de trás ter,
mostrar essa, essa, essa profissão que exerço, basta, requer um trabalho muito intenso
durante a noite ou durante a tarde mesmo se tiver alguma tarde livre e ter que mostrar
essa minha profissão, tentar dar o melhor daquilo que sei e tento ensinar o máximo de
matéria possível do que sei, não tenho segredos na minha profissão ou no curso ou na
formação que dou não posso ter segredos, é, se eu pronto, descarregar aquilo que sei, sei
que os formandos vão ganhar com isso.
Entrevistador – E em termos do, das condições laborais e institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, no seu caso qual foi o tipo de vínculo que estabeleceu, a,
o vinculo profissional com a APD neste caso, neste curso?
Entrevistado – Neste caso foi como chefe, pronto foi formador chefe de cozinha.
Entrevistador – Mas o tipo de contrato que, que tinha?
Entrevistado – Foi, é o contrato normal como formador, fazia, tinha aquele contrato
como formador, acaba-se o curso, trabalho com, com recibos verdes, acaba o curso,
acaba o contrato com, com a APD.
Entrevistador – E se alguma vez pensou em abandonar a actividade como, como
formador?
Entrevistado – Não, não, porque é assim, eu, eu costumo, pronto, eu costumo ser bom,
tento ser bom naquilo que faço, então comprometi-me em ser formador, modifiquei a
minha vida profissional para ensinar aos outros então é assim ou mudar na minha vida
profissional tento dar o máximo e tento fazer os possíveis, os impossíveis para
conseguir dar formação a certas pessoas, assim como ensinar aos miúdos, dar uma, as
aulas aos miúdos e fazer com que eles saiam dali como cozinheiros, por isso tenho que
me dedicar a cem por cento.
Entrevistador – O Rui na escola, qual é o seu tipo de contrato? Está efectivo…
412
Entrevistado – Não, não o meu contrato aquilo é assim, nós somos a parte como oferta
escola, nós à medida, a verdade seja dita nós fazemos, entramos no, no mercado, depois
fazemos um curso, já fiz um curso, dois cursos e agora praticamente estou inserido na
escola pronto, na plataforma da escola, qualquer curso que, que a nível futuro vaia
surgindo eu tenho, pronto tenho hipótese viável para incorporar esse curso e funciona
assim…
Entrevistador – A…
Entrevistado – Experiência do agrupamento a nível de aulas…
Entrevistador – Como é que vê o papel dos cursos EFA na sua vida profissional
futura? Enquanto formador…
Entrevistado – Papel dos cursos EFA…eu tenho uma opinião que eu partilho e pronto
não sei será a mais indicada perante os meus colegas, é assim, em termos dos cursos
EFA nós sabemos que são pessoas, não é complicadas porque há pessoas que não são
complicadas, mas são pessoas que no ramo de trabalho não, não exercem a profissão, é
assim eu tento, tento justificar, tento justificar perante essas pessoas que o mercado de
trabalho é essencial para eles, o país precisa deles para trabalhar e então conseguir
modificar a mente dessas pessoas e tentá-las pensar que Portugal precisa delas, o
trabalho precisa delas, essa é a parte fundamental e depois é assim, quando eu conseguir
fazer esse trabalho pois aí vem, pronto o curso em si a matéria que eu tenho para dar,
mas essencialmente é fazê-las perceber, esta vida não interessa, interessa elas têm valor
ou eu, elas tem valor para entregarem no mercado de trabalho é só uma questão mental,
eles pensarem, eu consigo, eu quero, eu quero trabalhar, a maior parte delas não quer
trabalhar e pronto e aproveitam estes cursos praticamente para ter formação mas não
quer trabalhar então a minha opinião o primeiro passo é tentar mentalmente conseguir
modificar, conseguir fazer com que acreditem que o mercado de trabalho precisa destas
pessoas e quando inseridas no mercado de trabalho elas conseguem fazer coisas
maravilhosas e conseguem estar ao nível dos outros é só porque eles tem um
pensamento que é inferior a qualquer pessoa normal de trabalho, não, não é assim, é por
isso, eu em minha opinião é primeiro que tudo tentar, é como eu tenho uma frase que é
413
tentar formar homenzinhos ou mulherezinhas e depois é que vem a formação, o curso
em si.
Entrevistador – Se o convidassem para voltar a trabalhar nos cursos EFA a
voltava a aceitar?
Entrevistado – Com todo o gosto, com todo o gosto, adorei a experiencia, adorei o
método de trabalhar, acho que tive uma, tive um feedback bastante, bastante gratificante
e contínuo, sem dúvida. Continuo porque a minha opinião é ajudar estas pessoas porque
isto não é vida, eu sei que elas têm capacidade e eles têm capacidade, só que isto não é
vida para eles, eles têm que trabalhar.
Entrevistador – Hum, hum, perguntava-lhe se, se sente reconhecido no seu
trabalho como, como formador?
Entrevistado – Como é que eu me identifico como formador?
Entrevistador – Se, se sente reconhecido no seu trabalho?
Entrevistado – Sim, acho que sim, como formador acho que sim, acho que sim…eu
agora fui, pronto nós temos ali a nível de professores somos avaliados, pronto faz parte
da lei e eu tive nota máxima nos dois anos que eu estive ali, por isso é que eu digo, é pá,
começo a pensar então será o meu trabalho está bem feito e então tento mais e mais e
mais e mesmo neste curso eu vejo pela opinião dos formandos e pelo dos meus colegas,
pelo primeiro ano que dou formação EFA, foi espectacular, por isso não há que baixar
os braços.
Entrevistador – Em relação ao trabalho pedagógico com os formandos quais são as
dificuldades que sente no seu trabalho como formador de educação e formação de
adultos?
Entrevistado – Como trabalho pedagógico é, porque é assim, eles, tento começar pelos
trabalhos mais, pronto, mais fáceis, tento subir o grau de dificuldade, mas nesses
trabalhos mais fáceis eu tento ter o máximo de atenção possível e apresentar trabalhos
414
que sejam compreensíveis e depois à medida que vou apresentando trabalho vou
aumentando o grau de dificuldade, mas sempre falando com eles, sempre
acompanhando, porque se eu apresentar um trabalho exposto, está aqui faz, é
complicado, é, a minha maneira é começar do zero ir subindo, subindo, subindo,
subindo o grau de dificuldade, subindo e falando sempre, acompanhando, cada um deles
é cada um, não é um grupo, eu acompanho cada um a nível pedagógico é
individualmente, portanto depois aí e este ano que pratiquei o curso EFA e tive
resultados muito bons.
Entrevistador – O Rui de certa forma já falou disto mas eu tinha aqui uma questão
nesse sentido, que é quais são os aspectos gratificantes da sua actividade como,
como formador?
Entrevistado – Aspectos gratificantes, é ser reconhecido pelos próprios formandos e
pelo, pela entidade que me aceitou e, e pronto, ser bem visto perante, pronto, a entidade
formadora, os próprios formandos e o público em geral.
Entrevistador – Ok…
Entrevistado – Como o meu trabalho está a ser bem realizado nesse, nesse aspecto.
Entrevistador – Eu tinha aqui uma questão tem a ver com o trabalho em torno dos
temas de vida, com os seus colegas de formação, como é que funcionou esse
trabalho, como é que olha para essa questão?
Entrevistado – É assim na minha área nós, pronto, a nível de confecção, decoração de
mesas, nesse sentido foi a nível de confecção e a nível de decoração da própria sala para
servir o buffet, para servir o tal lanche, foi só nesse sentido mas os formandos
abordaram várias vezes sobre o tema de vida, eu, pronto, em minha consciência,
subconsciência, ajudei-os em alguns temas de vida mesmo a nível da aula a nível dos
intervalos tive com eles em contacto directo, opiniões sobre eles, opinar sobre, porque
eles tinham duas colegas que exerciam os trabalhos, então como eu não tive, pronto, não
tive directamente ligado ao nível de escrita, a nível desses trabalhos mas ajudei-os
facilmente e, e falei com eles e tentei ajudar naquilo que eu soube, eles chegavam ao pé
415
de mim opinavam sobre qualquer tipo de situação, só tinha que dar moral, só tinha que
ensinar algumas coisas e, e foi assim nesse sentido o meu trabalho em termos do tema
de vida.
Entrevistador – E, e qual é a sua opinião sobre esse trabalho em torno do, do tema
de vida, como é que os colegas costumam participar todos, há alguns que tem
dificuldade em participar, como é que…
Entrevistado – Não, os colegas que costumam… porque isto é assim, eu neste, isto é
um grupo muito forte, um grupo muito unido e todos se ajudam uns aos outros, esse
tema de vida ao nível dos formandos é gratificante porque a maior parte deles não tem
um conhecimento profundo da realidade da, da história do nosso concelho, do futuro do
nosso concelho, do ambiente pronto, do ambiente de trabalho ou como queiram chamar,
então nós os formadores tentamos fazer com que eles tirem o máximo de informação
possível e eles crescem, acredito que eles cresçam com isso, criam um conhecimento
muito profundo acerca de qualquer, pronto, a lei da vida, é essencialmente isso.
Entrevistador – Se costumam planificar esses temas de vida, como é que isso…?
Entrevistado – Sim nós fazemos um, fazemos um estudo, fazemos um plano de vida,
fazemos, temos os nossos, os nossos, os nossos métodos, os nossos conteúdos, os
nossos módulos e então trabalhamos em função do tema de vida.
Entrevistador – E os seus colegas formadores costumam de aderir todos às
reuniões de planificação ou os colegas tem dificuldade em comparecer nas
reuniões, como é que…
Entrevistado – Cinquenta, cem por cento dos meus colegas compareceram nas
reuniões, nós tínhamos reuniões, com vária frequência e via-se muito a adesão a nível
de colegas.
Entrevistador – Ia-lhe pedir para eu tentar perceber um pouco melhor como é que
é a sua actuação na formação ou seja quais são as preocupações que tem quando
416
vai dar formação, neste caso com este grupo de formandos que aqui tivemos, como
é que organiza, como é que procura actuar, quais são as preocupações?
Entrevistado – A minha preocupação é a seguinte, eu só, eu só me tenho que preocupar
é, conseguir chegar a sala de aula e conseguir que eles percebam aquilo que eu estou a
transmitir, que eles, faço uma, faço uma reflexão do dia anterior, no próprio dia tento
fazer um, tipo um índice daquilo que vou dar e a minha preocupação acima de tudo é
conseguir armazenar o máximo de matéria que eu, que eu tenho planeada, trabalho a
matéria durante a noite, ou trabalho um dia antes, depois chego aqui sei que tenho tudo
preparado para que tudo corra bem e depois pronto e depois temos aquelas parte que é e
se tenho a solução e se… tenho a solução B, mas tento armazenar a maior informação
possível para depois quando chegar ao dia ter a matéria para dar.
Entrevistador – E faz um trabalho mais com o grupo, mais individualizado, como é
que…
Entrevistado – Faço um trabalho, primeiro de tudo faço um trabalho, uma matéria que
seja dado para o grupo, depois é como eu lhe disse na, quando estou a dar a matéria há
sempre questões, há sempre perguntas, há sempre interacção entre os formandos e eu
acho que é importante haver interacção e essa interacção é feita individualmente, isso,
isso sai, isso é um estudo que eu faço no início e mentalmente conheço-os, pronto,
conheço os formandos, faço esse estudo no início depois e depois tenho a matéria e
depois durante a parte de interacção dos formandos, aí pronto individualmente vou
buscar aquele trabalho que está lá dentro da gaveta mentalmente e faço com cada um
deles e sei a capacidade de cada um deles e sei qual é, o que eles pretendem ao fazer a
pergunta, então faço assim, primeiro a matéria e depois a interacção individualmente
conhecendo-os a eles, trabalhando com eles individualmente.
Entrevistador – E, e no caso dos seus módulos é uma questão de carácter mais
teórico mais prático como é que…
Entrevistado – Desculpe no caso de…
Entrevistador – Dos seus módulos de formação…
417
Entrevistado – Há sim. Este ano, este ano pratiquei, é assim, a nível, pratiquei os
módulos em PowerPoint, a nível de práticas também fiz, faço, pronto faço a, a aula
mental ou seja a, por escrito, faço mental, faço por escrito e depois fazemos a prática, é
preparar, uma preparação de uma aula teórica para depois pôr em prática e as outras
aulas são feitas em PowerPoint e algumas, fiz algumas através da interacção entre o
grupo, através de utilizar, o quadro e pronto, através do quadro em termos directos, mas
essencialmente foi à base de PowerPoint.
Entrevistador – E em relação aos formandos, pedia-lhe que me descreve-se um
pouco o tipo de formandos que frequentam este tipo, este curso EFA?
Entrevistado – Tipo de formandos…nós, pronto, tínhamos dezasseis formandos, eram
dezoito, por, pronto por doença, aconteceu, tiveram a infelicidade de adoecer, tínhamos
dezasseis formandos, eu acho que individualmente, eles são, é assim eles são todos
iguais mas são todos diferentes porque há mentalidades dos formandos que são difíceis
de perceber, são difíceis de compreender e são difíceis tentar convencê-los a ser de
outra forma mas temos aí, praticamente os formandos todos era, não têm espírito de
grupo para incorporar no mercado de trabalho ou pronto porque não se dão bem, eu a
minha opinião é que eles são revoltados por não ter trabalho e quando têm trabalho são
revoltados por terem trabalho então modificar essas mentes, é pronto, posso utilizar,
utilizo a minha estratégia, falo com eles individualmente, tento dar a volta, tento ser
amigo e ao ser amigo tento ser inimigo também, porque é assim sou amigo deles mas
tento criticar, críticas construtivas, eles às vezes pensam que eu estou a agir por mal,
mas não, são criticas construtivas, eles só tem que aceitar, então individualmente a
maior parte deles é que não está inserido no mercado, não está preparada para estar no
mercado de trabalho, então requerem um trabalho psicológico e pronto eu acho que fiz
um trabalho fantástico com eles, dei o máximo de força e temos um grau de, um nível
de sucesso bastante positivo.
Entrevistador – O Rui ainda há pouco falou ai da questão de, que havia formandos
que não queriam trabalhar, pode-me explicar um pouco melhor essa questão?
418
Entrevistado – É assim porque há formandos que não querem trabalhar porque
mentalmente pensam, nós temos estas formações, vamos aproveitando estas formações
e não temos que estar preocupadas com o trabalho, então chegam a uma sala de, de
formação, esse, esse formando é mais, é um pouco, pronto, digamos entre aspas
desleixado então é assim, tentar modificar para que ele trabalhe, porque isto é um
trabalho que exerce um trabalho que exerce trabalhos feitos, eles têm que trabalhar e
então se trabalharem aqui dando cada vez mais, cada vez mais, eles conseguem estar
preparados para o ambiente de trabalho, é nesse sentido que eles são, eles pronto, eles,
mesmo eles pensam, é, vou para a formação, não trabalho, não mas isto é uma rampa de
lançamento para o próximo trabalho, tentar percebê-los e tentar que eles percebam que
isto funciona assim, porque nós pronto, porque eu vejo, há formandos que têm essa
mentalidade, é só nesse sentido.
Entrevistador – E ao nível de empenhamento na formação, nota depois diferenças?
Entrevistado – Noto, noto, noto, noto, noto… aquilo é assim, no início, o inicio é um
trabalho psicológico muito, pronto, da minha parte é desgastante para mim mas para
eles talvez, porque nós é assim, porque se nós formos amigos do amigo nós tiramos
muito mais do que aquilo que nós estamos à espera, então é assim, primeiro que tudo
faz-se esse trabalho mental e depois desse trabalho mental, os formandos estão, estão,
pronto, eu conheço-os individualmente, eles conhecem-se individualmente e sabem as
capacidades de cada um então tentam surgir a hipótese, este tem um défice, vamos
tentar ajudar e quando esse trabalho é feito e depois a nível de tarefas, a nível de
exercícios e tudo, sai cada vez mais e quero ser melhor, o outro é menor vou ajudar este,
tentam, o grupo em si levar a bom porto, pronto, o grupo no final.
Entrevistador – E ao nível das capacidades sentiu diferenças no grupo entre os
formandos das competências?
Entrevistado – Há sempre, sempre há um, ou dois ou três, pronto neste caso, um ou
dois com mais dificuldades, então esses requerem uma atenção especial, mas nem, não é
em excesso perante o grupo, porque depois é assim, não podemos dar atenção só
aqueles que têm mais dificuldades, porque os que têm mais dificuldades têm uma
mentalidade, acho que têm uma mentalidade fraca, têm uma mentalidade que é, nós
419
somos os coitadinhos precisamos ser ajudados, não, não é em excesso é um pouco mais
de atenção mas os outros também precisam um pouco mais de atenção, então é tentar
ajudar um pouquinho mais em prol do grupo.
Entrevistador – Ok, se costuma haver conflitos no espaço da formação? Com a sua
experiencia.
Entrevistado – Com a minha experiência nunca, nunca tive conflitos, neste ano é pá…
não tive conflitos, não tive conflitos porque é assim, eu, eu não deixo chegar ao conflito
porque eu vejo que, pronto, há ali situações que acontece normalmente num grupo
destes, há sempre um, pronto digamos entre aspas, uma boca para o colega, então aí
tentamos, eu aí pronto, no meu caso tento sarar o assunto, conversamos, falamos,
passamos um pouco ao lado, depois durante, durante os próximos minutos tento que
essas duas pessoas se, entrem, pronto, numa de amizade e depois aí tudo funciona de
bom porto, nunca deixo chegar aos extremos, é pá estás a discutir então discute, não,
não deixo, isso faz parte do trabalho mental, faz parte daquela amizade daquele grupo
que se forma no início.
Entrevistador – E têm conhecimento das formações dos seus colegas, de alguma
coisa em…
Entrevistado – Não, não.
Entrevistador – Em relação ao trabalho com os seus colegas de formação, como é
que acontece esse trabalho, é um trabalho que acha que é mais partilhado, no seu
caso faz mais de forma individualizada?
Entrevistado – Pois é assim, no meu caso nós fazemos um trabalho individual mas a
nível de grupo, eu tento ajudar, pronto, eu experiência, tenho pouca experiencia, os
meus colegas com mais experiência tentam me ajudar naquilo que for preciso e eles
quando pedem uma opinião sobre qualquer tipo de situações que eu darei a minha
opinião mas tentamos funcionar como um grupo, a ter, pronto, ideias para cada um e
tentar distribuir as ideias e tentar distribuir a, aquilo que correu bem, tentar dar essa
ideia ao meu colega mas funcionamos tipo interacção.
420
Entrevistador – E quais são os momentos em que vocês se costumam encontrar
para falar da formação?
Entrevistado – Pois... normalmente nas reuniões, pronto, no final da reunião debatemos
vários problemas, aí nós tentamos ajudarem-se uns aos outros, mesmo a nível, fora da
entidade encontramo-nos numa situação de café, pronto, debatemos o problema e
tentamos falar e tentamos propor as nossas dúvidas e os nossos problemas e eles tentam
pôr os problemas deles e então depois aí chegamos a um acordo e diz-se olha, vamos
fazer isto e vamos fazer aquilo, mas normalmente será, podemos dizer vinte e quatro
sobre vinte e quatro horas.
Entrevistador – Na sua opinião se há algum aspecto de trabalho de formação, com
os seus colegas de equipa que ache benéfico, que seria benéfico melhorar, alguma
coisa que lhe ocorra.
Entrevistado – Em termos de colegas de equipa, melhorar, eu acho que é assim, no
meu caso na formação tenho os meus métodos, os meus colegas têm os métodos deles,
a, em termos de melhorar era uma situação que eu acho que é gratificante, era uma
reunião semanal para debater melhoramentos, aquilo que não correu bem, aquilo que
correu mal e então chegarmos, pronto, uma reunião semanal une o grupo em função dos
formandos e nós debatermos semanalmente, pronto o que está mal e aquilo que está
bem deva continuar, ora se houver uma reunião, um mês ou ao fim de um mês, ao fim
de dois meses, é pá, é um espaço muito grande, convêm ser semanalmente uma reunião
para conseguir o grupo estar unido e então os formandos só têm a ganhar com isso.
Entrevistador – Na sua opinião a periocidade devia de ser mais curta?
Entrevistado – Sim, das reuniões.
Entrevistador – E em relação à sua relação com a entidade formadora, neste caso
aqui a associação, que tipo de relação é que…
421
Entrevistado – É uma relação aberta é, é pronto, profissional, foram profissionais cem
por cento, a nível de material não tenho razão de queixa e a nível de relacionamento
com, mesmo a associação, é fantástica.
Entrevistador – Portanto, vê-se como trabalhador da entidade?
Entrevistado – Se eu me vejo como trabalhador, eu acho, eu acho que fiz o meu
trabalho na, na associação e ao fazer o meu trabalho acho que eles consideram que eu
fui um trabalhador perante a associação APD, é a minha opinião.
Entrevistador – Se, se sente reconhecido pela entidade pelo trabalho que
desempenhou?
Entrevistado – Sem dúvida, sem dúvida.
Entrevistador – Como é que isso se manifesta?
Entrevistado – Manifesta-se com o, com o opinar dos formados, com o trabalho prático
realizado, com a matéria com que eles conseguiram encaixar e em termos futuros, pôr
em pratica no estágio e no final do estágio os formandos chegam ao pé de mim
agradecem, no final do curso agradeceram-me, até houve elementos que choraram e
abraçaram-me, é sinal que o meu trabalho foi, foi bem feito.
Entrevistador – Tinha aqui uma pergunta que eu não sei se o Ricardo tem
informação suficiente que me possa ajudar, mas vou fazer, tem a ver com a forma
como estes cursos EFA se podem fazer noutras entidades, eu não sei se já
trabalhou em mais algum curso EFA noutras entidades?
Entrevistado – Não.
Entrevistador – Há…aqui a pergunta era se na sua opinião os cursos EFA
funcionam de forma diferente consoante as entidades onde eles acontecem, ou seja,
seria a mesma coisa fazer um curso EFA, trabalhar em curso EFA numa
422
associação como a APD ou no Instituto de Emprego, numa escola, tem alguma
ideia sobre esta questão.
Entrevistado – Tenho, tenho uma ideia, eu acho que estes cursos EFA, eu acho que
estes cursos EFA devem ser tal forma importante para a comunidade, deverão ser feitos
em qualquer parte, a nível de escolas, pronto, a nível de escolas, a nível de EFA a nível
de IEFP, quanto mais cursos destes houver mais, mais as pessoas estão preparadas para
o ambiente de trabalho, mais e pronto porque a maior parte das pessoas é como eu digo,
a maior parte das pessoas tem problemas a nível psicológico, são pessoas frustradas são,
frustradas entre aspas atenção, são pessoas mentalmente pensam que não tem
capacidade para trabalhar e então se nós conseguirmos transmitir aos formandos, se nós
conseguirmos transmitir isto a um grande número, ao maior parte de número de pessoas
é pá era, era fantástico por isso é que eu numa escola acho que os formandos têm, se
eles, só pelo simples facto de entrarem na escola, pronto terá que ser no horário
nocturno, a responsabilidade é acrescida perante eles, numa sala de formação acho que
também, eles vão entrar numa sala de formação e eles têm consciência que vão aprender
algo e tanto diz numa sala de formação como disse num sítio qualquer, eu acho que a
minha opinião é, diversificar os cursos EFA perante vários, várias, várias, pronto
entidades, só pelos simples facto de ser numa Universidade, eles mentalmente a
responsabilidade deles será maior, por isso, não sei se me faço entender, várias, várias
entidades obriga eles a trabalharem muito mais consoante o grau de exigência daquela
escola ou daquele, daquele estabelecimento.
Entrevistador – Em relação à avaliação como é que o Rui fez a avaliação dos
formandos?
Entrevistado – Pronto a minha avaliação era, partia em principio pela assiduidade e
depois em termos de comportamento e depois vinham os testes escritos, porque eu fiz
muitos testes escritos a nível de matéria, em todos os módulos fazia um teste no final de
cada módulo, fazia um teste para ver se certificando que eles entediam a matéria, mas
essencialmente no grupo era assiduidade, pontualidade e depois era comportamento e
depois vinha a avaliação prática e a avaliação teórica, foi nesses pontos que eu me
baseei na avaliação.
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Entrevistador – E fazia a avaliação mais no final do módulo ou…
Entrevistado – Fazia a avaliação, terminava o módulo, fazia o exame, pronto, o teste
sobre esse módulo, continuava outro módulo, fazia um teste sobre esse módulo, de
módulo a módulo fazia um exame.
Entrevistador – E a avaliação era, tinha uma atribuição de uma qualificação
numérica?
Entrevistado – Classificação de 0 a 20.
Entrevistador – Sobre o trabalho do mediador nos cursos EFA, considera o
trabalho do mediador importante como é que isso…
Entrevistado – Eu acho que é muito importante, muito importante o trabalho do
mediador porque é aquele que nos fornece os materiais, aqueles que nos apoiam se está
tudo bem, se está todo mal, conversamos, se está tudo bem conversamos, é tipo um
apoio da parte de trás que é muito importante os formadores sentirem esse apoio, esse
pronto, sentir que se precisarmos de alguma coisa alguém está lá para, para ajudar.
Entrevistador – Vamos entrar aqui num último conjunto de questões e perguntava
ao Rui, portanto, a Iniciativa Novas Oportunidades, qual é a sua opinião em
relação a Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistado – Eu acho, a minha, a minha opinião é a seguinte acerca das Novas
Oportunidades, nós aqui nas escolas, nós temos alunos que fazem o ensino regular até
ao 7º, 6º, 7º, vá 7º ano, 8º ano, depois há miúdos que são inteligentes mas não se
preocupam com a escola, estão numa de brincadeira, estão numa de namorar, estão
numa de pronto, essas questões que estamos a pôr em causa, então é tipo uma, como
eles dizem agora é tipo uma branca, então passam um ano, dois anos, perdem o
comboio e depois mais tarde, quando começam a ter a noção da responsabilidade e o
que é a vida em si, tentam apanhar o comboio novamente, é tarde, mas eles têm
capacidade e depois é assim, deixaram passar o comboio, alguns deles conseguem-no
apanhar, dificilmente mas conseguem-no apanhar, o mesmo passa-se com os adultos, os
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adultos têm aquela face que é necessário trabalhar por causa da família ou por causa não
sei quê, fazem aquele intermédio, mas depois é necessário que eles têm capacidades
porque há muita gente inteligente neste pais que não têm, não têm habilitações, então é
assim, é no caso de darem-se uma branca nesse caso não é, em sentidos profissionais,
precisavam trabalhar e noutros casos porque a vida não, não compete ou não calhou,
então surge novas oportunidades, eles aí tentam apanhar o comboio novamente, mas
têm capacidade, têm, isso têm, é nessas, nessas questões é que eu digo, novas
oportunidades é muito importante para aquelas pessoas que deixaram os estudos por
causa da vida profissional, por causa do trabalho, então mas têm a possibilidade de
apanhar novamente o comboio que é ir estudar e ir trabalhar porque já estão mais
calmos, já têm, já sabem aquilo que querem, a necessidade da formação é importante
para eles, então vamos tirar formação.
Entrevistador – Ok e se considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem
efeitos na vida dos adultos que a frequentam?
Entrevistado – Eu acho que as Novas Oportunidades têm, mesmo ao nível psicológico
dessas pessoas que formam as Novas Oportunidades, nós imaginamos um empresário
com a 4ª classe, surgem as Novas Oportunidades, ele faz as Novas Oportunidades, a
nível mental ele supera-se a ele próprio e mesmo o contacto directo com outras pessoas
é totalmente diferente, ter um, aproveitar um estudo das Novas Oportunidades, ter as
habilitações das Novas Oportunidades, eu acho que eles crescem mentalmente e
psicologicamente, crescem perante, perante os outros, é isso, é revelante, é muito
gratificante.
Entrevistador – Ia perguntar ao Rui também o que é que acha da opinião que a
Iniciativa Novas Oportunidades promove o facilitismo?
Entrevistado – Promove o facilitismo, é assim porque só não tem possibilidade de
fazer, de formar-se nas Novas Oportunidades quem não está minimamente informado,
que a gente sabe as Novas Oportunidades em qualquer ponto, em qualquer associação
existe cursos de Novas Oportunidades ou existe as novas oportunidades, essas pessoas
se fazem minimamente, se têm consciência que querem um pouco mais de formação
acho que basta um, ter um mínimo conhecimento porque Novas Oportunidades toda a
425
gente sabe que existe e tem, pronto e dá muitos cursos e pronto e a nível de habilitações
literárias ficam, ficam favorecidos.
Entrevistador – E da sua experiência e do seu conhecimento o que é que acha que
poderia ser melhorado na Iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistado – Poderia ser melhorado, o que poderia ser melhorado nas novas
oportunidades é assim, eu acho que as Novas Oportunidades o trabalho feito pela
entidade os conteúdos que eles exigem perante os formandos poderia, acho que é em
excesso, acho que é em excesso, poderia ser mais directo, mais directo, mais suave, um
pouco mais suave porque chega ao ponto, porque nas Novas Oportunidades a maior
parte deles ficam saturadas com, com o trabalho de terem de fazer individualmente,
poderia ser só mais suave e num prazo mais alongado.
Entrevistador – E sobre os cursos EFA qual é a sua opinião sobre os cursos EFA?
Entrevistado – A minha opinião é que eu acho que o curso EFA, eles, é uma maneira
de, de que as pessoas percebam a realidade do futuro do país a nível de trabalho e tentar
que as pessoas percebam que o curso EFA é uma rampa de lançamento para o futuro
deles, a nível de trabalho e que as pessoas que tenham mais dificuldades, as pessoas que
dão trabalho, as pessoas que não, pronto, não se aproximam das outras pessoas por,
mentalmente pensam assim, eu sou inferior, psicologicamente sou menos inteligente do
que ela, por isso não falo com ela, ou sou menos inteligente que ele, não falo com ele,
não as Novas Oportunidades serve mentalmente as pessoas tentarem-se superiorizar a
elas próprias e tentarem serem mais abertas e tentarem ter confiança nelas próprias.
Entrevistador – E acha que o curso EFA têm efeitos na vida do, das pessoas que
passaram por ele neste caso, neste curso?
Entrevistado – Têm, têm, têm porque ganham, tem um conhecimento dos módulos que
são dados, eles angariam, pronto angariam uma matéria que é importante para a vida
deles, não quer dizer que seja profissional mas para a vida deles é importante, porque
eles a nível de informação, a nível de matéria que lhes é ensinada, eles conseguem
captar, é no que eu estava a dizer à pouco, eles conseguem captar a maior parte da,
426
pronto, daquilo que eles têm de desconhecimento na matéria que nós damos consoante
os módulos, percebem-se a encaixar, então pronto, a relação deles perante os outros é,
eu não me posso sentir inferiorizado porque eu já sei, esta e aquela e aquela base, por
isso é que eu falo de igual para igual como qualquer tipo de pessoa e eles têm, ganham
conhecimento a nível de, dos módulos que são ensinados que é, obriga a eles a ter mais
responsabilidade e ter mais conhecimento, acima de tudo, conhecimento.
Entrevistador – E ao nível da questão do emprego, no futuro acha que isso possa
ter algum efeito?
Entrevistado – Tem, tem, tem porque eles é assim, a nível de cultura geral eles
adquirem, a nível de conhecimento eles adquirem, a nível pronto, do ambiente de
trabalho, porque isto é assim, é um curso EFA, é um grupo a nível de trabalho, é um
grupo que funciona, aquilo é um ambiente de trabalho, várias pessoas a trabalhar no
mesmo sentido, é um grupo de trabalho que tem que ser realizado, eles aqui tem o grupo
de trabalho, tem, tem a matéria que é lhe incutida, só tem, só tem, só tem, pronto,
desfrutar dessa, dessa, dessa opinião e do conhecimento que eles aprenderam, por isso é
que isso é relevante.
Entrevistador – E da sua experiencia neste curso EFA a partir dos cinco módulos
não é o que é que acha que podia ser melhorado, no funcionamento dos cursos
EFA há alguma coisa que lhe ocorra?
Entrevistado – Melhoramento, o melhoramento, eu acho, eu na minha opinião fiz, isto
é assim, eles passam muito tempo numa sala de formação, como passam muito tempo
numa sala de formação, eu por intuição própria, é pá não é necessário prender um
formando aqui durante sete, cinco, seis horas durante o dia, é pá uma semana, duas
semanas, três semanas tudo bem, há que fazer aquele trajecto dos conhecimentos,
pronto, a nível de cultura geral no caso de uma visita de estudo, não é visita de estudo,
pronto, mas é uma visita a uma instituição no, no meu caso uma visita na minha área
profissional numa cozinha, tivemos possibilidades para isso, fiz várias, numa cozinha,
num restaurante, numa pastelaria, num talho, passar para eles sentirem a
responsabilidade do que é um trabalho, sentirem a adrenalina do que, daquilo que se
vive naquele trabalho na minha área, naqueles módulos que eu estou a dar, então esse
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trajecto é muito importante, muito importante, muito importante para eles, que é uma
fuga à parte psicológica que eles chegam a um ponto, que eles tem uma captação
durante dez minutos e aquilo se nós fugirmos dali um pouco é, é muito bom.
Entrevistador – Última pergunta, a que balanço é que faz do curso EFA que
decorreu na associação balanço final?
Entrevistado – Balanço final é positivo, é positivo porque nós vimos na percentagem
das pessoas que ficaram a trabalhar, temos e vimos na, a opinião da entidade
empregadora, no caso dos estágios dos formandos, tiveram uma avaliação fantástica,
espectacular, muito alta e a nível de conhecimentos perante o público em si aqui na, em
São Brás de Alportel, eles são valorizados e foram valorizados consoante o trabalho que
eles fizeram, pronto, o trabalho de fora, por isso está avaliação minha é, é muito
positiva, é, é bom.
Entrevistador – Rui, muito obrigado, vou só pedir que preencha aqui algumas
questões de identificação.
Entrevistado – Sim.
18. Entrevista 15 – A.G. – Formador da área de competência-chave de Tecnologias
da Informação e Comunicação num curso EFA e no CNO da Associação para a
Democracia.
Entrevistador - Começava por lhe perguntar as suas habilitações literárias?
Entrevistado - Licenciatura em Antropologia, mestrado em Planeamento Regional e
Urbano.
Entrevistador - E qual é a sua profissão?
Entrevistado - Coordenador de projectos de desenvolvimento, portanto, o que quer
dizer que se faz uma multiplicidade de tarefas consoante o projecto que esta a decorrer.
Entrevistador – Que funções é que exerceu no curso EFA? Este que terminou
aqui?
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Entrevistado - Neste fui formador.
Entrevistador - E qual é a área?
Entrevistado – TIC.
Entrevistador - E exerce mais alguma função na organização onde trabalha?
Entrevistado - Sim, muitas outras funções, porque sou coordenador de alguns
projectos, projectos transnacionais, projectos de estimulação da actividade económica,
além de que faço parte também da direcção da APD, portanto uma polivalência de
funções que é norma aqui entre nós.
Entrevistador - Trabalha para mais alguma organização para além da APD?
Entrevistado - Não, como voluntário faço alguma colaboração noutras organizações.
Entrevistador - Pedia para me descrever a sua trajectória profissional, em traços
breves para tentar perceber como é que aconteceu entrada no trabalho da
formação?
Entrevistado - Já há muito tempo, porque eu logo a seguir a acabar a faculdade
comecei a dar aulas como professor do Ensino Secundário e dei aulas na margem Sul do
Tejo durante ainda uns anos, depois fui fazer mestrado, estive em Lisboa e quando vim
para o Algarve nunca cheguei a ser professor, portanto nunca voltei ao ensino, mas sim
à formação, portanto tenho feito formação, regularmente acho que não houve nenhum
ano em que eu não tivesse feito mais ou menos formação.
Entrevistador - E a entrada nos cursos EFA?
Entrevistado - Foi uma bolsa normal, porque ainda antes dos EFA existirem nós já
fazíamos aqui uma formação feita à medida, portanto na altura tínhamos margem de
manobra para fazermos “design” de projectos formativos, eu lembro-me ainda a minha
autoscopia quando fiz o curso de Formação de Formadores no IEFP, foi exactamente a
concepção de uma acção de formação dedicada a animadores e estudo de património
cultural, meramente teórico, apenas como exercício académico diremos de montagem
de organização de uma formação, acabei o curso vim para aqui, fi-la aqui, fizemos duas
acções que implantamos aqui, portanto nós fizemos durante décadas o design e
concepção e implementação de formação feita à medida, adaptada tendo em vista um
429
determinado problema no seu território, tendo em vista um determinado grupo com os
seus
problemas,
portanto
tínhamos
ainda bastante manobra para fazermos
experimentações pedagógicas, experimentação de métodos, experimentação de
abordagens, por exemplo esta acção de formação dos animadores de património que eu
falei, era individualizada, cada um dos formandos tinha um curso feito à medida, porque
havia um conjunto de módulos semelhantes, mas outros módulos eram feitos
especificamente para aquela pessoa, porque tinha determinada característica ou porque
o seu projecto individual, que eram diferentes todos uns dos outros, tinha determinada
necessidade e os formadores eram chamados a contribuir para desenvolver essa
competência, isso agora não é possível, portanto agora a formação é toda normalizada,
estandardizada, tipificada, retirou-nos essa capacidade de experimentação. No entanto
esta semente prolongou-se para os cursos EFA que têm muito desta componente de
ligação da formação há pessoa, portanto, personalização, adaptação, desenvolvimento
das capacidades individuais. Daí que a evolução para os EFA foi normal, porque já
tínhamos esta, este carácter não escolar, não tradicional de encarar a formação.
Entrevistador - No seguimento do que me esta a dizer perguntava-lhe como é que,
se lhe perguntasse assim de uma forma mais aberta, como é que é um a vida de um
formador que faz a sua actividade nos cursos EFA como é que é trabalhar num, o
que é que lhe ocorreria?
Entrevistado - Há dois tipos, há o formador/professor e há o formador/formador.
Enquanto coordenador de formação, por exemplo, nota-se muito essa dupla atitude. No
princípio a esmagadora maioria dos formadores eram formadores/professores, portanto
traziam metas, técnicas, a atitude, a postura da escola para a formação e só alguns muito
poucochinhos eram formadores/pedagogos, eram formadores desenvolvedores das
capacidades individuais das pessoas, isso tem vindo a mudar. Há uma mudança cada
vez maior dos professores para formadores, agora já vemos cada vez mais e é mais fácil
cada vez mais trabalhar e encontrar professores que são formadores, que são mais
flexíveis, portanto, que têm uma atitude completamente diferente, já não dão aulas, não
dão programas, encontram é a solução para o desenvolvimento das capacidades do
formando consoante o objectivo da formação e isso tem vindo a assistir-se cada vez
mais, eu sempre fui claramente do outro grupo, enquanto formador.
430
Entrevistador - No caso do curso EFA que teve aqui a decorrer, notou ainda essa
distinção que está a fazer entre formador/professor, formador/formador em alguns
colegas, que poderia estar presente?
Entrevistado - Já não muito, porque nós aqui temos tido o cuidado de trabalhar cada
vez mais com formadores/formadores, isto é, que mesmo estando também parcialmente
nas escolas já conseguiram evoluir nos seus métodos e nas suas técnicas e na sua
abordagem para formas mais interessantes de encarar a andragogia. Portanto e por
selecção natural ficámos a trabalhar cada vez mais com estes, mas frequentemente ainda
se encontram alguns, mas a própria escola está em mudança, a própria escola está em
mudança muito rápida.
Entrevistador - Considera que ser formador EFA é uma profissão, na sua opinião?
Entrevistado - Eu vejo com alguma dificuldade ser formador, em exclusividade a
tempo inteiro e só fazer isso porque eu acho que a, a formação deve ser também um
reflexo da vida das pessoas e do seu contacto com a realidade, senão corre-se o risco de
sermos professores no antigo sentido da palavra, a formação também deve cristalizar as
experiências de vida que a pessoa tem noutros cenários, noutras áreas, noutros teatros,
eu acho que é mais rico e mais interessante um formador que é parcialmente formador,
mas que também tem outras actividades e que consegue incorporar na formação a
riqueza de vida e as aprendizagens que faz noutros cenários, e por exemplo é muito
importante nas áreas profissionais e é absolutamente fundamental que na parte escolar,
que ainda são conteúdos mais teóricos, mesmo assim não são mas pronto, são mais,
agora na parte profissional é fundamental que os formadores sejam profissionais dessa
área, porque senão caímos no mesmo erro, estamos a ensinar teoricamente como é que
se fazem bolos, e o que interessa-nos é ter pasteleiros a fazer bolos, a dar formação de
pastelaria ou mecânicos a dar formação de mecânica.
Entrevistador - E no seu caso considera-se profissional da formação?
431
Entrevistado - Não, não me considero profissional da formação, portanto, a formação é
uma parte importante da minha carreira profissional mas não me considero profissional
da formação.
Entrevistador - Em termos das condições laborais e institucionais de quem
trabalha nos cursos EFA, no seu caso aqui, que tipo de vínculo profissional, as
condições?
Entrevistado - Eu sou interno, portanto sou efectivo da In Loco somos formadores
internos e portanto temos vinculo laboral há entidade, fazemos parte da organização
mas alguns dos outros colegas da formação não. Nem todas as competências existiam
aqui internamente portanto foi necessário recorrer a algumas externamente, neste caso
eu sou da casa.
Entrevistador – E alguma vez pensou em abandonar a actividade como formador,
neste caso mais ligado para os cursos EFA?
Entrevistado – Eu, como é que hei-de dizer, o facto da formação profissional ter-se
tornado mais estandardizada, mais tipificada, eu percebo a lógica da colagem ao
catálogo nacional das profissões, é termos uma normalização dos programas, só que
esse aspecto positivo ao ser exclusivo veio retirar a experimentação, isto é, veio retirar
uma margem que as equipas pedagógicas podiam desenvolver e que desta maneira não
podem porque também estão limitadas pelo catálogo e pelos referenciais, que muitas
das vezes são mais que os referenciais, são quase atribuídos como programas que é mau.
Isso quanto a mim, é limitador porque algumas das experiências formativas que eu tive
mais interessantes aqui, foram claramente aquelas em que havia a latitude pedagógica
para desenvolvimento de novos métodos, novas técnicas, novos conteúdos, novas
abordagens e essas foram as que claramente tiveram melhores resultados,
nomeadamente com a integração do acompanhamento pós formação no processo
formativo, desenvolvimento das competências pessoais associadas às competências
profissionais, portanto, foi uma série de actividades complementares há formação onde
mais sucesso conseguiu encontrar. Hoje em dia isso é muito difícil, porque as coisas tão
formatadas, tão dentro das suas gavetinhas e a margem de gestão é muito mais limitada.
Entrevistador - Sentiu isso no curso EFA que terminou, como é que…
432
Entrevistado - Como é que eu hei-de dizer, parcialmente, porque temos que seguir os
referenciais, temos que seguir as regras, as elegibilidades, temos que seguir as regras
dos cursos EFA, não há 10%, 15%, 20%, de margem de manobra onde a equipa possa
desenvolver outras áreas portanto, estamos bastante limitados, por outro lado eu encaro
o referencial de competências como um referencial, portanto é algo que é adaptado caso
a caso, pessoa a pessoa, situação a situação, e portanto não o encaro como um
programa, daí que também não me sinto tão limitado quanto isso, portanto dou margem
de manobra, por exemplo os referenciais de TIC,, não são dos piores, mas também não
são dos melhores portanto, estão algo ultrapassados, as tecnologias evoluem com uma
velocidade tão grande que algumas das coisas que lá estão identificadas têm
necessariamente que ser substituídas porque estão completamente obsoletas, os canais
de comunicação, as formas de trabalhar já evoluíram muito mais, isso passa-se em
muitas áreas, portanto é preciso estar sempre a inovar mesmo com o referencial
existente.
Entrevistador – Como é que vê o papel dos cursos EFA na sua vida profissional
futura?
Entrevistado - Eu gostava que continuasse a ser um elemento onde consigo passar aos
outros, algumas das experiências de vida que adquiro noutros contextos, eu gostava que
continuasse, não tenho a certeza se vai continuar, porque provavelmente a região do
Algarve vai ficar muito limitada ao nível de apoio à formação profissional, acho que vai
ser muito difícil conseguir fazer formação sem apoio, porque as populações em risco de
exclusão económico-social ainda são bastantes, ainda são significativas e ainda tem
capacidade de aquisição de formação, portanto, para alguns grupos, para alguns
conteúdos é possível, para outros tem que continuar a haver formação financiada, se
calhar não na maneira que está a ser feito até agora, provavelmente há aqui alguns
vícios na maneira como a formação financiada está a estimular dependências,
provavelmente tem que se repensar o próprio modelo do financiamento da formação,
agora que continua a haver muitas pessoas que necessitam desesperadamente de apoio
para terem a disponibilidade de participar num processo de formação que lhes dê, que
lhes crie, uma carreira profissional e uma nova vida, uma nova forma de ser e de estar,
isso há e vai continuar a haver durante muito tempo.
Entrevistador - Se o convidassem para trabalhar nos cursos EFA?
433
Entrevistado - Sim continuaria, claro.
Entrevistador - Sente-se, sente-se reconhecido no seu trabalho como formador?
Entrevistado - Sim, tanto pelos formandos como pelos colegas.
Entrevistador – Em termos do trabalho pedagógico com as pessoas, quais são as
dificuldades que sente no seu trabalho como formador de educação e, e formação
de adultos quando procura realizar o seu trabalho?
Entrevistado - A principal dificuldade é uma que deriva daquela questão que lhe falei
há bocado, é de estarmos a trabalhar com pessoas que efectivamente não querem mudar,
isto é, os cursos EFA para mim são cursos de mudança, são cursos em que existem
condições para a pessoa mudar, mudar erros de comportamento e de atitudes que teve,
erros de posicionamento face há sociedade, erros ou lacunas ou falhas de identificação e
colocação das suas potencialidades ao seu serviço, portanto há aqui uma série de
situações e oportunidades que os cursos EFA permitem pegar e trabalhar, e ajudar as
pessoas que querem a mudar de forma de vida, mudar de profissão, mudar claramente a
qualidade da sua vida, agora essa é uma realidade para a maior parte dos formandos que
nos chegam à selecção ou que nos chegam à sala de formação, mas não é para todos,
isto é, alguns formandos ainda são profissionais da formação, estão aqui com um único
objectivo que é ganhar umas massas durante algum tempo, e a seguir, muitas vezes até
nem acabam de propósito para poderem fazer outro a seguir, para continuar, as pessoas
que embarcarem neste caminho de dependência vêm aqui com um esquema de
realização de algumas mais-valias, essas não querem mudar, essas pessoas não fazem
esta transformação individual, pessoal, para beneficiarem de todos estes recursos que
estão aqui há disponibilidade delas para evoluir, e com essas realmente trabalha-se mal,
é difícil, e os processos, e as aprendizagens são complicadas, são difíceis, rejeitam,
perturbam, é difícil, as que querem mudar, trabalha-se muito bem com elas, os adultos
são pessoas espectaculares, mesmo os que têm vidas mais difíceis, mais complicadas, é
impecável, é, como é que hei-de dizer, é estimulante e recompensador trabalhar com
elas, é preciso é que elas queiram, o problema está no identificar genuinamente quem
quer embarcar num processo de mudança e as que não querem embarcar num processo
de mudança, repare, há aquelas para as quais isto é só um esquema, uma forma de
prolongar a sua existência mais ou menos miserável durante mais alguns tempos.
434
Entrevistador - E em termos dos aspectos gratificantes da sua actividade como
formador o que é que destacaria?
Entrevistado - É o assistir e perceber se tivemos um papel importante nessa mudança,
por exemplo nós vemos pessoas que tiveram, e às vezes chegam-nos cá com uns 40/50
anos, que tiveram vidas complicadas, difíceis, infelizes, miseráveis mesmo e vemos que
nós ajudamos, conseguimos ajudá-las para elas serem protagonistas de um processo que
as torna mais felizes, mais produtivas, melhores pais, melhores cidadãos, isso dá-nos
uma gratificação enorme, sentimos efectivamente que o que fizemos ajudamos as
pessoas a serem mais felizes, melhores, isso dá-nos imensa satisfação.
Entrevistador - Em termos do trabalho curricular em torno dos temas de vida,
como é que isso se processou com os seus colegas de formação, como é que viu esse
processo?
Entrevistado - É fácil, porque quase todos os temas de vida de uma maneira ou de
outra conseguem ter uma abordagem que as varias áreas de disciplinas conseguem
intervir, então nas TIC é fácil, porque as TIC são transversais portanto quase qualquer
coisa que se queira tem ferramentas tecnológicas de comunicação de informação que se
pode mobilizar, portanto é muito fácil integrar as TIC em todas as vezes, é fácil demais,
às vezes temos é que tentar refrear um bocadinho para conseguirmos ir aos objectivos
todos que estão identificados no referencial.
Entrevistador - E sente que todos os colegas participam de igual forma ou há uns
participam mais do que outros, os colegas da formação de base, da formação
profissionalizante, nessa articulação como é que sentiu isso?
Entrevistado - Eu acho que participam todos, varia muito consoante o tema, porque há
temas que por serem mais específicos, por exemplo, algumas áreas disciplinares não são
tão mobilizadas para colaborar, outras são muito, Cidadania e Empregabilidade,
portanto há áreas que são claramente fáceis de articular com qualquer tema de vida,
outras áreas, se os temas de vida escolhidos pelos formandos são muito específicos
podem não ter tanto espaço para apoio, mas é uma questão, não é no próximo tema de
vida pode ser no próximo.
Entrevistador - E qual é o seu posicionamento pessoal face ao currículo integrado
em torno dos temas de vida, qual é a sua opinião sob essa forma de trabalhar?
435
Entrevistado - Eu acho interessante, eu acho interessante e acho que é útil, eu acho que
é útil porque não se pode olhar para os currículos de uma maneira sectorial,
desagregada. Reparem, nós estamos aqui é a trabalhar com pessoas e as suas
competências que não são individuais, são um conjunto articulado, sistémico, portanto
eu acho que a formação deve de aproximar-se o mais possível da vida real, e do
desenvolvimento real das competências pessoais e profissionais, portanto e tem que ser
necessariamente integrado daí que eu vejo com interesse essa, essa integração.
Entrevistador - Costumam planificar os temas de vida?
Entrevistado - Sim, sempre.
Entrevistador - Como é que eles surgem, como é que faz essa planificação, gostava
de compreender isso um pouco melhor…
Entrevistado - Normalmente os temas de vida surgem do debate entre a mediação e até
mesmo a equipa pedagógica e os formandos, ou são os formandos a sugerir temas de
vida, ou são os formadores a sugerir aos formandos temas de vida e depois há algum
diálogo, algum debate não para se auto condicionarem mas sim para orientar o tema de
vida de uma maneira que seja exequível e que produza os resultados melhores possíveis.
Porque às vezes há temas de vida que numa perspectiva acabam por não ser tão úteis
para os formandos, como se numa outra perspectiva são muito mais úteis portanto, há
aqui
alguma
negociação,
uma
dialéctica
para
pegarmos
nas
ideias,
mas
fundamentalmente nas ideias dos formandos e as conseguirmos esquematizar, organizar
de maneira a serem mais úteis, mais interessante, mais motivadoras para os formandos,
porque se o tema de vida não é motivador e interessante para o formando não vai dar em
nada, porque depois eles não se vão empenhar e isto são trabalhos que exigem uma
dedicação para além do normal, portanto exige claramente um envolvimento muito forte
dos formandos.
Entrevistador - Os formadores costumam aderir as reuniões de planificação? Há
alguma dificuldade para mobilizá-los para reunir?
Entrevistado - Não, por acaso faz logo parte, faz logo parte do acordo com os
formadores que têm que ter disponibilidade para participar nas actividades
complementares, nomeadamente na planificação, nas reuniões de equipa, e tudo,
portanto e não tem havido. Não tem havido falha, é claro por compromissos às vezes há,
436
pode haver um ou outro que não consegue participar, mas não, os formadores com
quem trabalhamos são responsáveis, empenhados, são uma boa equipa.
Entrevistador - Considera que as reuniões de planificação são importantes para o
funcionamento de um curso EFA?
Entrevistado - Fundamentais.
Entrevistador - E em que sentido é que…
Entrevistado - Porque ajudam a contabilizar, ajudam a criar trabalho em rede e ajudam
a dar aos formandos aquela coerência da formação que é fundamental para eles
perceberem que isto é tudo um único processo de desenvolvimento de competências e
não são, não é a escolinha, não são disciplinas isoladas e fechadas, isto são olhares
diferentes, perspectivas diferentes sob um mesmo processo, e é um processo de
desenvolvimento das suas competências.
Entrevistador - Tinha aqui uma questão para tentar perceber o processo de
planificação que era, se a planificação era cumprida na prática, como é que isso
decorre, quer dizer, é uma coisa que está fechada, que vai…
Entrevistado - Não, é muito dialéctica, porque já temos visto por exemplo que às vezes
fazemos as planificações dos temas de vida e vemos que o aprofundamento daquele
tema por exemplo, dá muita luta aos formandos e que eles empenham-se, e começam a
descobrir outras dimensões, então reformulamos o tema de vida de maneira a dar mais
tempo, a dar outros conteúdos de maneira a adaptar, no fundo se há uma oportunidade
que surge, porque o tema é mais rico a equipa adapta e cria condições para que isso
continue, portanto não é de maneira nenhuma rígido, é adaptado, por outro lado há
temas que às vezes se podem esgotar rapidamente e que não é necessário estarmos a
desenvolver com o tempo todo como tínhamos inicialmente previsto, porque são
simples, práticos e portanto é muito em função do output que vai sendo feito, do
acompanhamento. O acompanhamento aqui é fundamental, uma peça fundamental dos
cursos EFA é a mediação, é a ligação muito próxima dos formandos e da equipa
pedagógica, normalmente feita na figura da mediadora, ou do mediador, e que aí acho
eu, é ai que está a diferença em que eu chamo um bom curso EFA, e um curso EFA
medíocre. É na qualidade da mediação e do acompanhamento. Eu acho que aqui nós
fazemos questão de ter uma mediação muito presente, continuada, a figura da mediação
437
aqui está sempre disponível, por exemplo há outras organizações em que a figura da
mediação é uma figura administrativa, portanto a mediação vai duas horas preencher
papelada, não tem papel absolutamente nenhum no processo, enquanto, que para nos a
mediação é a interlocução constante, diária, contínua entre os formandos e a equipa
pedagógica, portanto como um todo, não é só através do formador que vai lá através
daquele momento, mas através de um todo, e eu acho que isso é absolutamente uma
peça fundamental e faz a diferença quanto a mim entre os melhores e os menos bons
cursos EFA que existem actualmente.
Entrevistador - Em termos ainda do seu trabalho pedagógico, agora na questão do
levantamento de indícios, evidências, e da validação de competência com os
formandos como é que aconteceu esse trabalho no seu caso?
Entrevistado - Esta abordagem não é feita por todos os formadores da mesma maneira,
a minha abordagem é de que a responsabilidade pela produção de competências e dos
seus meios de prova, seja assumida completamente pelos formandos, isto é, o formando
deve conhecer de cor e salteado o referencial, deve-se apropriar do referencial para
perceber quais são as áreas, as competências que ele deverá desenvolver, as que já tem e
as que deverá desenvolver, assim como o que é que pode demonstrar que aquela
competência é possível de ser produzida, portanto, eu acho que às vezes há uma falha de
alguns colegas meus para que as coisas corram melhor, e substituem um bocado os
formandos e portanto fazem eles as coisas que eu acho que tinham que ser os formandos
a fazer. Porque os formandos que se apropriam do referencial e que se apropriam da
tarefa de produção e de demonstração das competências, elas ficam ali gravadas a ferro,
enquanto se eles não são os protagonistas deste processo, as coisas não ficam tão sólidas
e não são tão assumidas, portanto eu procuro sempre transferir para os formandos esta
responsabilidade, claro que acompanhada, claro que preparada, treinada, etc., Mas que
eles se apropriem deste processo da produção e da documentação das competências que
são, que vão sendo atingidas a pouco e pouco.
Entrevistador - Sente alguma dificuldade nesse trabalho de levantamento de
indícios, de evidências, da prova?
Entrevistado – Muito, é difícil porque as pessoas não estão habituadas a fazer isso, as
pessoas não estão habituadas a cumprir ordens e a fazer aquilo que lhes dizem, e
portanto, elas pensarem “como é que eu demonstro que consigo fazer isto, é difícil para
438
as pessoas que não têm, que não tiveram este hábito, que não tiveram esta tradição de
pensarem pelas suas próprias cabeças, elas preferem ser executantes, simples, de tarefas
simples, portanto às vezes é difícil, daí que é preciso trabalhar com elas, que é para elas
descobrirem nas suas histórias de vida, nas suas actividades extra-formação e na
formação quais são os cenários, os contextos em que determinadas competências são
chamadas e são produzidas, isso leva algum tempo e alguns formandos têm dificuldade
porque nunca fizeram isto na vida, recorde, repare estamos há falar de formandos que às
vezes andaram meia dúzia de anos na escola há 30 anos atrás portanto, não têm já estes
mecanismos treinados, perderam, perderam o músculo da aprendizagem já há muito
tempo.
Entrevistador - Em termos pedagógicos faz um trabalho mais, costuma fazer um
trabalho mais com o grupo, mais individualizado e como é que procura…?
Entrevistado - Mais com o grupo, mas a partir de um certo momento em que o grupo já
adquiriu as suas próprias dinâmicas, mais individualizado porque aí depois começam a
surgir grandes diferenças, portanto então nas TIC, isso é claramente. Há no mesmo
grupo de 17/20 formandos há 3,4,5 velocidades diferentes, e há quem vá a 120 e quem
vá a 30, portanto, há ritmos completamente diferentes, treinos, habituações, pode haver
pessoas entusiastas do facebook e das comunicações e são espectaculares a fazer “N”
coisas, e há pessoas que nunca pegaram num computador, tenho visto muitos formandos
que nunca ligaram um computador na vida, e ao lado está um outro formando que é um
craque nos SMS e no telefone e no facebook. Pode não ser nos cálculos com o Excel ou
na formatação de textos, mas na comunicação é, portanto e há ali diferenças
completamente abismais entre uns e outros. Uma vez adquirido, uma dinâmica global
em que a equipa consegue, o grupo consegue como um todo trabalhar articuladamente
ai há um trabalho individual para estimulação de uns e estimulação de outros de
maneiras completamente diferentes.
Entrevistador - Que competências é que considera essenciais, na sua opinião para
exercer a sua actividade como formador num curso EFA, que competências
destacaria?
Entrevistado - Uma excelente capacidade de comunicação, porque estamos a falar de
pessoas que normalmente num tipo de cursos EFA que nós temos, são pessoas que não
tiveram vidas fáceis, daí que estão aqui, não são auto-suficientes do ponto de vista
439
profissional, portanto não se conseguiram realizar completamente, ou estão a mudar de
vida, mas são pessoas que precisam diariamente um grande diálogo com o formador,
com a equipa pedagógica para criar aqui uma questão de confiança e de cumplicidade
dos objectivos que são partilhados. Portanto os objectivos são o seu próprio
desenvolvimento e daí conseguir comunicar de uma maneira clara, assertiva, franca,
honesta, com os formandos eu acho que é a principal competência necessária. O
conhecimento técnico deriva daqui mas também não há aqui quanto, isto não é uma
formação em Engenheiro Aeroespacial, portanto as competências técnicas são
importantes, mas também se desenvolvem e também se trabalham, é necessário claro
dominar tecnicamente a área que se está a trabalhar, mas o nível que se está a dar
também não é um nível muito avançado. portanto, alias, é bom que seja trabalhado ao
nível dos formandos, é bom que não, não estejamos a comunicar a um registo que os
formandos encarem como um registo diferente do seu próprio registo, isto é muito
importante, até para ser mais facilmente percebido, apreendido e incorporado e dai que
fundamentalmente são questões de comunicação, e estamos a falar de pessoas que têm
grandes problemas de comunicação, grandes problemas. Até conseguirmos arranjar
maneira de o grupo conseguir dialogar, e depois começar a aprender até com as
experiências de vida uns dos outros, é a fase mais complicada.
Entrevistador - Que dificuldades é que sente no seu trabalho pedagógico com os
formandos, na sequência do que me esta a dizer?
Entrevistado - É esta questão que dá mais trabalho, são duas coisas, as questões que
dão mais trabalho, uma é lidar com as pessoas que não querem mudar, portanto são
normalmente pessoas que tendem a destabilizar os grupos, como não estão ali
genuinamente para quererem aproveitar aquela oportunidade e empenhar-se, estão ali
um bocado a queimar tempo, são elementos mais destabilizadores, conversam mais,
distraem-se mais, estão sempre brincando, não cumprem com o que foi combinado, são
elementos mais destabilizadores, lidar com estes elementos é uma das tarefas que
requere mais trabalho, pela parte da minha, pela parte dos formadores todos. A segunda
coisa que me dá mais trabalho é o lidar com esta diferença muito grande as vezes do
background dos formandos, porque estamos a falar às vezes de uma diferenças as vezes
do 0 para o 80, no mesmo grupo ou no mesmo momento pode haver pessoas que nunca
tiveram, é como estar a aprender uma língua estrangeira com uma pessoa que nunca
abriu a boca a falar aquela língua e outra que viveu metade da vida no país onde se fala
440
aquela língua portanto, estamos a falar assim, os colegas de língua também têm este
problema, diferenças muito grandes no grupo porque é muito mais difícil porque as
estratégias a e as ferramentas são diferentes para uns e para outros e às vezes num grupo
grande é complicado, se os grupos fossem mais pequenos era mais fácil mas a tendência
é para aumentarem cada vez mais, agora já vai em 20, ora está a ver, um grupo com
3,4,5, velocidades diferentes, 20 pessoas é muito difícil de se conseguir lidar, a terceira,
havia mais uma, portanto é o empenho, é a diferença, havia uma outra terceira, passoume.
Entrevistador - Pode ser que surja entretanto, tinha ainda uma questão do
seguimento disso que me está a dizer que eu gostava de perceber bem que é a…
Entrevistado - Pronto já me recordo, a terceira dificuldade, que não é dificuldade é uma
necessidade mas que dá algum trabalho, é transformar tudo o que é trabalhado na
formação em ferramentas, em práticas, em experiências, em casos práticos, isto é
transformar tudo o que se trabalha em coisas que lhes possa vir a ser úteis, isso dá
algum trabalho também mas é absolutamente fundamental. Porque não podemos
trabalhar a formação do ponto de vista teórico, ou vamos abordar esta questão um dia
pode-vos vir a ser útil, não eles têm que perceber claramente que aquilo que se está a
fazer vai ser necessário para esta situação, para dar resposta a este problema, para dar
resposta a isto, portanto vai ser necessariamente, mais cedo ou mais tarde, vai ser
importante para eles conseguirem dominar, saber, e produzir aquela competência, é a
terceira dificuldade, com estas três e uma boa comunicação normalmente consegue-se
tudo.
Entrevistador - No seguimento do que me esta a dizer, gostava de perceber um
pouco melhor os tipos de formandos que frequentaram o curso EFA, quer dizer,
que tipo de perfil, que tipo de pessoas é que, como é que viu esta questão?
Entrevistado - São todos diferentes, mas os dois tipos mais importantes para o sucesso
do processo eram estes dois tipos que eu lhe falei há bocado, era os que querem
genuinamente embarcar no processo de mudança, um processo de mudança às vezes é
revolucionário, estamos a falar de pessoas que muitas vezes têm tido vidas tramadas e
em que neste processo de mudança, isto implica às vezes quebrar relações a familiares.
Frequentemente temos divórcios nos grupos de formandos, pessoas que efectivamente,
parte da sua infelicidade, parte da sua insatisfação resultava por exemplo de terem más
441
relações com o cônjuge havia 10 e 20 anos, e só quando finalmente conseguem perceber
que elas podem mudar o seu futuro e podem ser donos do seu destino, isto muitas vezes
produz revoluções familiares, sentimentais, portanto temos tido frequentemente aí
maridos, isto é mais notório nas mulheres, maridos a protestarem porque os formadores
é que deram a volta há cabeça da mulher e que agora a mulher quer ir embora, quer
estar por sua conta, quer fazer coisas, quer arranjar uma profissão, frequentemente
temos tido ai situações assim, portanto, as pessoas que genuinamente estão neste
processo de mudança, são as que se consegue trabalhar melhor, por mais ou menos
dificuldades que tenham, porque elas conseguirem chegar, elas chegam. O grupo que é
mais difícil de trabalhar são as que não estão aqui genuinamente interessadas no
processo, estão aqui por estarem, no entanto deste grupo muitas delas mudam a meio,
muitas delas vêm para aqui fazer sei lá o quê, o curso de geriatria quando queriam fazer
de infância porque gostam mais de crianças, mas vêm fazer o de geriatria porque foi o
que abriu vaga, mas chegam a meio e começam a dizer, é pá afinal eu gosto disto e
estou-me a lembrar de um aqui que diziam no principio do curso, diziam sem ser aos
formadores, diziam entre eles eu limpar rabos de velhos, eu nunca hei-de fazer uma
coisa dessas, então e não é que no fim da formação fazem as higienes dos idosos com
gosto porque se sentem úteis e sentem que estão ali a melhorar a qualidade de vida da
pessoa a quem está a ser prestado o cuidado de saúde, mudaram completamente, essas
pessoas que mudam entretanto também são, também se trabalha bem, embora
inicialmente não fossem, não tivessem de corpo e alma, mas essas também se trabalha
bem, agora há sempre um grupinho que infelizmente acontece sempre que são os
formandos profissionais, são os desistentes, são aqueles que estão ali para desistir a uns
dias do fim, são aqueles que não estão genuinamente na formação, encaram como um
emprego, encaram como um trabalho, a formação é um trabalho, com esses é muito
difícil de trabalhar.
Entrevistador – Portanto, sente então a diferença ao nível de empenhamento dos
formandos?
Entrevistado - Sim, claramente, independentemente dos resultados, porque as vezes há
pessoas com grandes dificuldades cognitivas, outras claramente são ágeis e rápidas, e é
ao nível de empenho que as maiores dificuldades surgem.
442
Entrevistador - E, e em relação há aprendizagem e ao desempenho dos formandos,
sentiu diferenças a significativas?
Entrevistado - Entre quê e quê?
Entrevistador - Ao nível do desempenho, dos desempenhos e da relação há
aprendizagem?
Entrevistado - Mas, diferenças entre que cenário e que cenário?
Entrevistador - Entre os formandos, se sente contrastes?
Entrevistado - Há sim, muito grandes, os grupos são tudo menos homogéneos, é quase
impossível encontrar grupos homogéneos, é uma dificuldade, é um desafio ao formador
lidar com um grupo heterogéneo, eles são demasiadamente heterogéneos, mas é quase
impossível, não se consegue encontrar grupos homogéneos na formação.
Entrevistador – Costuma haver conflitos no espaço da formação?
Entrevistado - Quando começo o processo de formação eu digo sempre, que isto a
formação é como as relações entre as pessoas, é como os namoros, há sempre o grupo
que se conhece, e há sempre o período da paixão, que toda a gente acha o outro uma
maravilha, toda a gente se ama, é tudo uma maravilha, nos primeiros meses é sempre
assim, depois vem a fase da ramela, que é quando a gente acorda ao lado do outro e vê
que o outro afinal tem ramelas nos olhos, não é a estrela de cinema, mas tem defeitos, é
a fase em que cada um começa a encontrar e dar mais valor aos defeitos do outro do que
às suas virtudes, essa fase é a fase em que surgem os conflitos, é aqui que surgem as
más-línguas, é aqui que surgem, portanto, mas com uma especial atenção dos
formadores, da mediação nesta fase é um trabalho em dinâmicas de grupo, nesta fase
consegue-se aqui chegar há fase do reenamoramento que é a segunda fase em que
conseguimos lidar uns com os outros, tanto com os seus defeitos como com as suas
virtudes e aproveitar as suas virtudes e ajudá-lo a melhorar os seus defeitos, portanto e
aí há um reenamoramento e o grupo adquire ou melhor faz um reequilíbrio que é
suficiente para chegar até ao fim, isso é normal, isso acontece em quase todos os grupos,
acontece, é raro o grupo em que isso não acontece, a fase da ramela pode ser mais cedo,
pode ser mais tarde, mas acontece sempre.
443
Entrevistador - Sobre o trabalho com os seus colegas de equipa, como é que
aconteceu esse trabalho considera que foi um trabalho mais partilhado, foi um
trabalho que se fez de forma mais individualizada…
Entrevistado - Como grande parte da equipa é interna é um trabalho que é quase
automático e simples porque estamos perto vamos sempre articulando, e mesmo com os
formadores externos há articulação, é sempre fácil e é importante, mas aqui é fácil
porque nós estamos aqui. A determinada área e se vemos que pode haver um contributo
do outro formador, chegamos ao pé dela e trabalhamos em conjunto é, quase
automático, mas importante, é importante essa articulação, essa coesão da equipa
pedagógica é fundamental, porque por exemplo os referenciais, têm algumas falhas,
bastantes falhas, nomeadamente há alguma repetição nalguns referenciais de algumas
áreas, a mesma área é chamada, é abordada três vezes, se os formadores não estão
articulados os formandos vêm logo então mas a gente já ouviu isto, foi o outro formador
que deu aquilo, o outro também deu, portanto notam logo, eles são os espectadores, e os
actores deste processo, portanto notam logo quando há falhas a nível do referencial, a
equipa é que tem que articular-se muito bem que para perceber, olha o referencial tem 3
áreas que são a mesma área, então nós vamos olhar estas áreas de maneiras diferentes,
tu vai olhar de uma maneira assim, eu olho desta maneira assado e aquele olha daquela
maneira aqueloutro, portanto dão três perspectivas diferentes que são enriquecedoras,
que são motivadoras e os formandos percebem que há aqui coerência, há aqui uma
coerência de intervenção, que é absolutamente fundamental garantir a coerência da
intervenção.
Entrevistador - Em que momento e com que frequência é que os encontros com os
colegas de formação costumam acontecer?
Entrevistado - Normalmente os encontros globais uma vez por mês, os encontros de
trabalho pontuais por exemplo para os temas de vida isso acontece quase diariamente,
conforme, sempre que necessário encontramo-nos, pelo menos uma vez por mês com
toda a equipa pedagógica.
Entrevistador – Na sua opinião, há algum aspecto do trabalho de formação com os
colegas da equipa pedagógica que ache que seria benéfico melhorar?
444
Entrevistado - Aqui podia haver algum trabalho até de, não é garantido que todos os
formadores tenham estas ferramentas de trabalho em rede, rede de grupo de formadores
desenvolvidas, portanto, os que têm mais experiência têm, mas os que não têm, os mais
novos podem não ter, portanto, provavelmente poderia haver benefício nalguma
formação dos formadores também para o design, eu como fiz dois cursos na Direcção
Regional da Educação, acho que foi, cursos de educação e formação de adultos,
portanto de alguma maneira beneficiei desta reflexão conjunta sobre isso, eu acho que
agora já não têm feito isso mas seria interessante a Direcção Regional fazer
regularmente uma espécie de formação para formadores nestas ferramentas transversais,
trabalho da equipa pedagógica, o trabalho de avaliação, o trabalho, portanto, isso seria
importante até para garantir que as intervenções estão a ser bem-feitas e também para
criar alguma melhoria das técnicas e dos métodos de trabalho nas equipas pedagógicas.
Entrevistador – Na sequência do que me está a dizer sente que há colegas que estão
mais inteirados do modelo EFA que outros?
Entrevistado - Sim, claramente, menos agora do que há uns anos, portanto agora como
esta abordagem da educação de adultos, também está a ser apropriada pelas escolas,
muitas escolas também se estão a apropriar desta visão, menos, porque antigamente era
claramente quem vinha das escolas que não percebiam nada do que é que a gente estava
para aqui a falar, o que é que é isto competências, o que é que é isto portfólio, não
faziam a mínima ideia, cada vez mais os professores estão a incorporar muito, muito do
léxico e das ferramentas da formação profissional, portanto eles, os professores estão
cada vez mais formadores e menos professores, o que quanto a mim acho que é
positivo, professor é claramente para o ensino obrigatório e mesmo assim podia ser
melhorado e os formadores é para a educação de adultos é uma abordagem
completamente diferente.
Entrevistador - Ao nível do empenhamento do trabalho dos colegas, sente que há
diferenças e como é que sentiu essa questão?
Entrevistado - Não, temos uma equipa de formadores bastante empenhada e, é pá, por
selecção natural porque é assim, como este é um curso promovido pela própria In Loco,
nós fazemos selecção natural, se contactamos com o formador e o formador não
demonstra esse domínio técnico, essa competência da organização, não vai continuar
connosco, portanto por selecção natural temos vindo a trabalhar com um conjunto de
445
formadores que efectivamente tem um empenho, uma dedicação, uma qualidade de
trabalho razoável, boa e é com esses que continuamos a trabalhar.
Entrevistador – Em relação à sua relação com a entidade formadora neste caso
com a APD, que relação é que mantém com a entidade?
Entrevistado - Neste caso é interna, relação de promiscuidade completa.
Entrevistador - Portanto e identifica-se com a forma como a entidade perspectiva a
formação EFA?
Entrevistado - Não só me identifico como sou um dos construtores desta atitude
portanto a formação aqui na APD é resultado do trabalho que um conjunto de pessoas
que tem trabalhado mais na área da formação que vieram fazer na área ao longo dos
anos e eu tenho feito parte sempre desse processo todo, dou o meu contributo para a
construção dessa abordagem pedagógica que já vem de há décadas mesmo antes de eu
estar cá.
Entrevistador - Eu não sei se tem elementos para me dar informação sobre esta
questão que eu lhe vou colocar mas vou-lhe colocar na mesma depois já podemos
ver isso, que é sobre a, a variação inter-organizacional, inter-entidades, ou seja,
sobre a possibilidade de haver formas diferentes em diferentes entidades que
promovam os cursos EFA?
Entrevistado - Há, formas muito diferentes. Há e conheço formas muito diferentes,
tenho conhecimento disso.
Entrevistador - Isso manifesta-se em que…
Entrevistado - Tenho, tenho, portanto eu falei-lhe há bocado de uma diferença que eu
acho que é crucial, a da mediação, por exemplo, quando formadores com quem me
cruzei disseram-me e fiquei espantado, até pensei que eles se tinham enganado mas por
exemplo há entidades no IEFP em que a mediação representa ou 2, ou 3 ou 4 horas por
semana de um formador que faz aquele curso. Como é que é possível fazer mediação à
hora, é impossível, isto é, basicamente o que é que um mediador faz, é o trabalho
administrativo, das faltas, das justificações, daquilo tudo, ora não é esse o papel do
mediador, isso é o papel de um administrativo qualquer, o papel do mediador é o que o
nome diz, é a mediação, é a interlocução entre o grupo e a equipa técnico-pedagógica,
446
que não está sempre, não está como um todo e tem que ter um rosto visível que é esse,
eu acho que é uma falha grave da abordagem que o IEFP adopta é o facto de não ter
uma, mediação, é pá, se não é possível financeiramente a full-time pelo menos a meio
tempo, pelo menos, porque os formandos têm que ter essa interlocução continua e
sistemática. Se a Sónia não for lá todos os dias, abrir-nos a porta, falar com eles, não
teríamos sabido nem resolvido imensos problemas que surgem, como uma pequena
diferença de opiniões e que rapidamente tem que ser esclarecida e ultrapassada porque
senão transforma-se num problema, estão a ver, e eu acho que isso é uma falha que eles,
que eles têm. De resto não, por exemplo no campo das empresas, há muitas empresas
que fazem formação e claramente ai há duas abordagens, há as empresas competentes e
capazes e que fazem formação com rigor e bem-feita e há outras que estão a fazer
formação a metro, portanto o objectivo é ganharem dinheiro e desde que as coisas no
fim todos fiquem contentes e o dinheirinho entre, está tudo contente, não é essa a
abordagem, porque isso vai estimular os tais formandos profissionais, portanto as
empresas de formação ficam contentes, os formandos profissionais ficam contentes, mas
qual é a produtividade deste investimento que se está a fazer, não é nenhuma, não fica
nada.
Entrevistador - Acha que pode haver diferenças ao nível da forma como se
procura intervir na comunidade ou não?
Entrevistado - Sim, é fundamental uma profunda ligação à comunidade e quando falo à
comunidade, falo da comunidade local, falo à comunidade profissional, falo à
comunidade cultural, é fundamental, por exemplo, um dos temas de vida que resultou
mais bem e em que os formandos mais se empenharam foi um tema de vida sobre o
património de S. Brás de Alportel, e que não é crucial, não é central para esta formação,
que não era nessa área, não era da área de património, era na área de prestação de
cuidados de saúde, portanto, não tinha nada a ver mas no entanto permitiu-lhes a eles
estabelecerem ligações com o exterior, conhecerem o seu próprio território e serem
reconhecidos pelo território como elementos de valor. Criaram um Blog, divulgaram, o
Blog continua, portanto, foi uma maneira de se ligarem à comunidade e da comunidade
se ligar a eles e eu acho que isto é fundamental ao nível cultural, ao nível individual, ao
nível profissional, portanto é fundamental por exemplo que haja uma ligação logo muito
grande, isso pode ser feito nas áreas profissionais, ao mercado de trabalho, portanto,
recrutando formadores que sejam profissionais dessas das suas áreas, que estão nas
447
empresas, que estão nas entidades e que podem fazer essa ponte e onde depois os
estágios se realizem com muito maior probabilidade de integração do que não for assim.
Daí que é fundamental a ligação ao local.
Entrevistador - Segundo sei no início, na génese deste curso EFA havia a intenção
de fazer uma ligação com um projecto?
Entrevistado - Ele foi feito, ele foi desenhado logo de início para dar resposta a uma
necessidade concreta que era uma unidade de cuidados continuados que ia ser
construída aqui ao lado, portanto, logo o recrutamento e a selecção foi feita já em
função que os formandos daqui vão trabalhar para ali, só que a unidade depois acabou
por não se concretizar por falta de financiamento, portanto esta preocupação de dar
respostas concretas, a problemas concretos da região, sempre foi uma prioridade para
nós. Não adianta e repare, qual é a motivação que podemos transmitir a um grupo de
formandos se nós internamente estarmos a pensar, estamos aqui a trabalhar mas vai tudo
para o desemprego porque não há emprego, não conhecemos, não sabemos se há
trabalho nesta área, não, isto transparece mais cedo ou mais tarde, portanto nós
trabalhamos sabendo se as pessoas se empenharem, se produzirem as suas competências
básicas, conseguem arranjar emprego com muito maior probabilidade do que se não
fizessem isso.
Entrevistador - Em termos da avaliação dos formandos como é que fez a sua
avaliação, com a avaliação dos formandos, como é que isso decorreu?
Entrevistado – Eu procuro na maior parte das vezes que a maior parte da avaliação seja
auto-avaliação, daí que no primeiro dia da formação os formandos fazem um
diagnóstico de auto-avaliação em que perante todos os objectivos que temos
programado para o próximo ano e meio eles vão-se posicionar, portanto qual é o seu
grau de domínio de determinada competência, portanto eles auto-posicionam-se ali e
depois de vários exercícios, trabalhos, um ano e meio, mais um ano e meio de trabalho,
no último dia, perante o mesmo referencial eles vão-se posicionar outra vez, isto é,
vamos ver agora perante estes objectivos que tínhamos inicialmente onde é que nos se
posicionamos, até para eles verem um bocado o trajecto e a evolução entre, entre isto, e,
e a maior parte, é pá, 99% das vezes eles colocam-se perfeitamente bem exactamente no
grau de domínio, no grau de demonstração de competências que é justo, às vezes são
excessivamente críticos, e portanto o formador às vezes tem é que ajudá-los a não
448
serem, por exemplo quando há problemas de auto-estima, e de falta de confiança nas
suas próprias capacidades, às vezes eles subavaliam-se, porque, realmente não estão tão
seguros do que sabem, é raro mas é raro os casos de sobreavaliação, raríssimos, e aí o
formador pondera, pondera a avaliação.
Entrevistador - E, e em termos dos momentos de avaliação, em que momentos é
que vai fazendo essa avaliação de competências?
Entrevistado - Continuamente, continuamente.
Entrevistador - Mas faz à saída dos temas de vida ou é uma coisa que faz mais…
Entrevistado - Também, também há saída dos temas de vida mas perante as
competências produzidas nos temas de vida, mas praticamente todos os dias, cada vez
que uma, uma competência é produzida eles estão a demonstrá-la, ela, ela está a ser
demonstrada, está a ser avaliada.
Entrevistador - E em termos do curso, no seu caso não há avaliação quantitativa?
Entrevistado - Não, qualitativa.
Entrevistador - E na parte profissionalizante?
Entrevistado: Há quantitativa, sim, ai já há quantitativa. Às vezes são conteúdos mais
objectivos, mais académicos, mais científicos, ai já faz mais sentido na avaliação
quantitativa.
Entrevistador - Tinha aqui precisamente uma pergunta que já me abordou, vou
tentar ver se aparece mais alguma coisa que possa ser interessante que tem a ver
com o trabalho da mediadora, quer dizer, de que modo é que é importante o
trabalho de uma mediadora num curso EFA?
Entrevistado - Fundamental, eu acho que é uma peça fundamental e, pode ser a chave
para o sucesso ou o insucesso de um processo formativo destes, é fundamental.
Entrevistador - E acha que esse trabalho de mediador pode diferir nas diferentes
entidades onde, onde ele trabalha, não é?
Entrevistado - Já respondi também que difere e eu acho que é uma aposta que devia ser
reforçada, é ao trabalho, às competências e ao trabalho da mediadora ou do mediador,
449
porque é um trabalho muito importante e crucial, e é fundamental tanto para os
formandos, como para os formadores, como para a coordenação.
Entrevistador - Tenho aqui o último bloco de questões que têm a ver com a
Iniciativa Novas Oportunidades e os cursos EFA, em primeiro lugar uma visão,
procurar compreender uma visão aqui mais abrangente da Iniciativa Novas
Oportunidades e perguntava-lhe qual é a sua opinião em relação à Iniciativa Novas
Oportunidades?
Entrevistado - As últimas, diremos que, têm várias áreas de melhoria, isto é a Iniciativa
Novas Oportunidades nas suas múltiplas expressões, o curso EFA é apenas uma delas,
teve imensas questões, situações que podiam e deviam de ter sido identificadas,
ultrapassadas e melhoradas, portanto como em qualquer estratégia tão vasta como esta,
há esta necessidade, desta avaliação e desta correcção, nesta reformulação, e nalguns
casos isto não foi feito, portanto nalguns casos os vícios que apareceram, os problemas
que surgiram continuaram. Globalmente eu considero que é capaz de ter sido a
estratégia do governo anterior, mais interessante e mais bem sucedida, porque o governo
do Engenheiro Sócrates fez, teve muito tempo há frente de destinos da nação, fez muitas
coisas, muitas delas eu não concordei de maneira nenhuma, esta eu acho que é capaz de
ter sido mais interessante de todas as iniciativas que o governo Sócrates fez, que
produziu mais efeitos. Há uma falha clara que eu aponto, não tanto aos EFA porque os
EFAS estavam um bocado imunes a isso, mas por exemplo aos CNO é a ditadura da
estatística, isto é o facto de pensarmos nos resultados enquanto um fim a si mesmo, vem
nalguns casos levar a um desvirtuamento dos objectivos, a um avacalhamento das metas
e a trazer algum descrédito aos resultados, e isso contamina, isto é, basta uma maçã
podre para o cesto estar todo estragado, portanto isso foi uma falha porque o excessivo
ênfase e a ligação entre o financiamento e a quantidade dos resultados, não a qualidade
dos resultados, mas a quantidade dos resultados é péssimo, é uma mistura explosiva, eu
acho que foi uma falha que devia de ter sido corrigida, foi avisada, foi repetidamente
dita, que levou a que nalgumas situações e que são pontuais e considero que são
meramente pontuais, tenha havido alguma curva mal dada isto é para cumprir fizemos
aquilo que não deveríamos ter feito nalguns casos, nalgumas entidades, nós não
fizemos, mas não é preciso que alguém tenha feito, basta que alguém possa ter feito
para que imediatamente essa suspensão, por exemplo os cursos EFA não valem o
mesmo que os outros cursos, de que por exemplo os diplomas não são tão bons como os
450
da outra escola, basta que se pense que alguém pode ter facilitado para rapidamente se
possa desvirtuar todo esse processo, ora este processo depende da confiança, este
processo vale pelo valor que os adultos envolvidos atribuem há qualidade do processo,
ora se eles não atribuem qualidade, como é que eles se motivam para estar aqui,
portanto, dai que devia de ter havido alguma preocupação em recompensar, em
estimular a qualidade e não a quantidade.
Entrevistador - Quando falou da questão das metas poder dar algum descrédito
nos próprios resultados, como é que isso se manifesta, gostava de perceber isso um
pouco melhor?
Entrevistado - Por exemplo, o financiamento está indexado ao número de diplomas ou
certificados, mas não por exemplo há qualidade das competências certificadas, isso
pode levar a que um CNO menos escrupuloso faça arrepios para cumprir as metas
mesmo sabendo que esta a fazer ali coisas que não são honestas, coisas que não são
pedagogicamente, que não são tecnicamente as mais correctas, e basta que isso possa
acontecer para ficar a suspensão no ar, pronto e depois vemos o nosso actual primeiroministro a dizer aquelas coisas que disse da Iniciativa das Novas Oportunidades que
efectivamente foi mal conduzida, a indexação do sucesso há quantidade e não há
qualidade, a uma boa avaliação de qualidade, foi, cá para mim foi uma abordagem
muito errada que devia de ter sido corrigida logo.
Entrevistador - Outra questão que disse ai que também gostava de perceber
melhor, foi a questão de haver problemas identificados e que não foram corrigidos
na altura?
Entrevistado – Está-me a falar de quê?
Entrevistador - Das Novas Oportunidades…
Entrevistado - Sim. Por exemplo referenciais que estiveram desajustados durante muito
tempo ou houve referenciais que aquilo pareciam que tinham 50 anos e continuavam a
ser trabalhados, no caso específico das TIC por exemplo, eu acho um erro também, o
referencial de TIC ser feito para a Microsoft, eu acho que isto devia de ser ilegal, porque
não faz sentido que o referencial de competências na área tecnológica seja feito para os
produtos de uma fábrica, de uma empresa. Qual é a percentagem que o Estado
Português depois recebe da Microsoft cá? Os referenciais devem de ser feitos para as
451
competências, não para os produtos de uma marca, portanto eu acho que isso é uma,
lacuna, uma fraqueza que espero que seja corrigida no futuro, mas e noutros referenciais
havia frequentemente formadores a dizer, é pá, isto não pode ser assim desta maneira
não faz sentido nenhum, o processo real não tem este faseamento tem outro faseamento,
o que houve foi, fruto de uma boa equipa pedagógica de uma boa coordenação, de uma
boa mediação dentro da equipa a necessidade de reajustar, isto é, embora formalmente a
coisa decorra como está no book, na prática as coisas fazem-se adaptadas na maneira
como os módulos entram, na maneira como os formadores se articulam como a
realidade existe, para sair daqui um prestador de cuidados de saúde, um cozinheiro, um
operador disto, um operador daquilo, é necessário que ele saiba isto desta maneira com
esta articulação, mas para isso é preciso de uma boa equipa de trabalho, é preciso de
uma boa pedagógica que domine bem a área e que tenha uma boa coordenação para
fazer este encadeado adaptado há realidade.
Entrevistador - Quando diz que as coisas não foram corrigidas, porque que isso
aconteceu?
Entrevistado - Por exemplo, as instituições são algo lentas a reagir e algumas das
instituições ligadas a essa área, são sei lá, estou, estou a pensar realmente no IEFP, o
IEFP é paquidérmico, isto é move-se muito lentamente, não tem uma velocidade de
reacção muito grande e por exemplo as alterações aos referenciais quer no IEFP, não sei
se agora ainda continua a ser competência do IEFP mas durante muito tempo foi,
levavam anos até conseguirem ser feitas isto é, uma competência que se estava ali, que
era proposta ali, estava claramente obsoleta e só passado três ou quatro anos é que era
substituído por outra, quando era substituída já essa era obsoleta outra vez, portanto
havia alguma lentidão na reacção, na resposta entre o sistema e a realidade, e a realidade
move-se às vezes muito, há área em que se move muito depressa.
Entrevistador - O Artur fez parte ou colaborou aqui também nos CNO?
Entrevistado - Não, não acho que não.
Entrevistador - Ia perguntar em relação as metas se chegaram a colocar a questão
há ANQ?
Entrevistado - Sim, sempre se colocou.
452
Entrevistador - E como é que foi esse?
Entrevistado - Bom, o que é que a ANQ faz, nem sempre exerce as represálias, às
vezes aquelas metas são absurdas, as metas que eles colocam são completamente
ridículas, portanto daí que os CNO respondem às vezes a 20, 30% das metas, mas eles
já, pronto o que eles fizeram, 20, 30% das metas já é bom, estão a ver, ora, não faz
sentido marcar objectivos se há partida já sei que esses objectivos não são alcançados,
qualquer gestor sabe que não deve de fazer isso, não deve de marcar objectivos que são
inatingíveis, isso faz logo, é logo errado logo há partida, mas pronto a ANQ não exerceu
sempre represálias quando as entidades, quantos CNO não atingem, às vezes faz, a
outras vezes nem tanto, portanto dá alguma flexibilidade aí nisso, mas a pressão está
feita, e esta pressão numa equipa mais jovem, numa equipa menos ciente da filosofia,
eticamente menos forte, pode levar para uma facilitação, pode levar para um
abaixamento da exigência, pode levar para um desvirtuamento disto e pronto depois lá
temos, ai vocês pedem-me isso tudo, então vou antes para outro CNO que é muito mais
fácil ali, pronto, isto é péssimo.
Entrevistador - Vou aproveitar o que me disse e vou saltar aqui uma pergunta,
tinha aqui uma pergunta nesse sentido, o que é que acha da opinião de que a
Iniciativa das Novas Oportunidades promove o facilitismo? Como é que olha para
essa questão?
Entrevistado - Naquela questão, naquele sentido em que basta que levante a hipótese
de que pode fazer isso, para imediatamente fazer isso, está a ver, agora a Iniciativa
Novas Oportunidades devia de ser uma fonte de orgulho, isto é, cada adulto que mostrar
um diploma Novas Oportunidades devia de ser reconhecido pelos outros como um sinal
de trabalho, isto é, aquilo foi suado, aquilo foi esforço, aquilo foram horas, foram dias e
de noites que tive ali, devia de ser um motivo de orgulho e reconhecimento e não há. Eu
já ouvi dizer que isso era fácil, já ouvi dizer que isso, ouvi dizer que o primo fez e que
não deu trabalho nenhum, basta isto, portanto esta suspeição deve de ser eliminada logo
há partida, como? Trabalhando na qualidade e não na quantidade, isto é, garantindo que
o que há é o reconhecimento quando o adulto faz o reconhecimento e efectivamente esta
a ser reconhecido como deve de ser, as suas competências são ali evidenciadas, não há
facilitismo, e é o que fazem 99% dos CNO’s.
Entrevistador - Quando diz 99% dos CNO é que fazem na sua opinião?
453
Entrevistado - Bem, que fazem bem, fazem correctamente.
Entrevistador - Considera que a Iniciativa Novas Oportunidades tem efeito na vida
dos adultos formandos?
Entrevistado - Tem, tem.
Entrevistador - Em que aspectos é que têm efeitos?
Entrevistado - Têm efeitos na auto-estima, têm efeitos no estimulo para a
aprendizagem contínua, têm efeitos no estimulo para o empreendedorismo, portanto, é
um sinal do reconhecimento de que efectivamente as pessoas são capazes, são
competentes e que se estimula a continuarem, aliás o que se tem visto é que quem come
desta fruta fica sempre com uma vontade de comer mais, e vem e faz mais, tem um
efeito estimulante e um efeito empreendedor, estimula o desenvolvimento das
competências individuais das pessoas.
Entrevistador - Na sua opinião o que é que poderia ser melhorado na Iniciativa
Nova Oportunidades?
Entrevistado - Lá está, aumentar a credibilidade, trabalhar em função de critérios de
qualidade e não de quantidade e aumentar a dimensão experimental, isto é, criar aqui
uma espécie de tronco comum de competências, de referenciais que sejam, que
garantam a coerência, que garantam que este profissional faz o mesmo no Norte, no
Centro e no Sul, mas criar uma percentagem, uma parte que permita um trabalho mais
fino, que permita e que haja recursos também para trabalhar para o desenvolvimento de
competências específicas da pessoa para criar algum espaço para o trabalho de alfaiate,
isto é, garantir o pronto-a-vestir, isto é para haver roupa barata, simples e fácil que seja
identificável, mas também criar algo de personalizável, algo de adaptável, algo de
contestável, que permita às equipa adaptar às pessoas, aos sítios, às localidades, às
alturas, às competências, portanto este trabalho eu acho que isso era possível, não era
complicado de se fazer e permitia dar uma mais-valia ainda maior a isto, sempre com o
critérios de qualidade, isto é eu sei que é difícil avaliar a qualidade, eu sei que é difícil, a
quantidade é muito mais fácil, é pá, mas como vimos a quantidade às vezes não é
sinónimo de qualidade, e depois dizemos que temos não sei quantos milhões como o
nosso primeiro, ex-primeiro dizia, tínhamos, quanto é que era, era um milhão de
portugueses certificados, não serviu nada porque o outro primeiro-ministro que veio a
454
seguir disse logo, mas esses, foi um milhão mas eles não sabem grande coisa. Para quê
que serviu o trabalho desse milhão de portugueses, está a ver, não serviu de nada,
portanto, o que era necessário era que esse milhão de portugueses, eles se sentissem e
todo o resto da população sentisse que eles tinham feito realmente um trabalho para
além do que seria o normal, um trabalho à noite, um trabalho depois do trabalho, um
trabalho depois da família e que tinham-se empenhado, isto eram mais ainda do que os
outros, e isso não foi feito.
Entrevistador - E sobre os cursos EFA em particular, qual é a sua opinião sobre os
cursos EFA?
Entrevistado - Acho que ainda continuam a ser muito importantes e necessários, eu
acho e vejo com muita apreensão o facto de no Algarve ter sido reduzido o
financiamento dos cursos EFA, terem sido criadas regras um bocado absurdas de
limitação de cursos EFA por entidades, acho que é uma coisa completamente absurda,
isto é, mais uma, mais uma vez, critérios de quantidade, a última vez que eu ouvi dizer
que os critérios de selecção dos cursos EFA tinham feito era vamos fazer um curso EFA
por cada entidade, isto é completamente absurdo, isto é, não vamos fazer os cursos EFA
que sejam melhores, mais bem organizados, que dêem melhor resposta às necessidades
identificadas, mas sim um por entidade, ainda por cima cada vez que se faz isto abre-se
logo a porta ao engano porque, diz-se um por entidade portanto, mas eu conheço
entidades que tinham cinco, que eram entidades especiais, mais ligadas ao poder, é pá
isto, lá está, está-se outra vez a desvirtuar completamente a lógica.
Entrevistador - Considera que os cursos EFA têm efeitos na vida dos formandos,
da experiência que tem?
Entrevistado: Têm, têm.
Entrevistador – A que nível é que isso tem…
Entrevistado - Para, para mais de metade deles, não digo, para bem mais de metade
deles, depende de entidade para entidade, eu conheço entidades em que é quase 100%,
outras entidades é menos, mas para a maioria deles é a revolução nas suas vidas, isto é,
é mudar completamente o que eles eram, o que eles faziam, a maneira como eles vivem,
a maneira como eles enfrentam a família, a sociedade, os outros, mudam
completamente, é um novo começo, é uma nova vida que eles fazem a partir do
455
momento, num momento em menos de 2 anos, portanto em menos de 2 anos eles
conseguem reestruturar todo o seu futuro.
Entrevistador - E ao nível da empregabilidade?
Entrevistado - Também varia bastante, eu conheço entidades que têm taxas de
empregabilidade entre os 90 e os 100% dos formandos dos cursos, outras menos, mas
no Algarve não há muita falta de emprego ao contrário do que a estatística diz, há é uma
falta de profissionais, de bons profissionais, porque as oportunidades de trabalho
existem aí, não há é pessoas interessadas a fazer bem aquelas coisas e cada vez que eu
encontro um bom profissional em quase qualquer área, esse arranja emprego logo, está a
trabalhar, portanto, bons profissionais que sejam competentes, capazes, responsáveis,
pontuais, aquelas coisas que fazem um bom profissional, disse o Algarve tem um
grande défice, o Algarve tem um superavit é de biscateiros, isto é, pessoas que fazem de
tudo um pouco, mal feito, isso o Algarve tem demais e esses claro estão condenados há
extinção e à inanição. Os cursos EFA podem ser uma forma excelente de reciclar estas
pessoas que não estão suficientemente classificadas e transformá-las em profissionais
das mais variadas áreas e ai sim aumentar-lhes significativamente a sua
empregabilidade.
Entrevistador - Em relação a este curso que agora terminou tem alguma ideia de
como é que…
Entrevistado - Não sei, a Sónia provavelmente estará mais informada porque eu fui de
férias e não tive oportunidade de acompanhá-los depois, mas a Sandra provavelmente já
terá um Know-how, eu acho que já havia seis empregadas logo quando o curso acabou,
seis já ficaram a trabalhar, havia algumas que eram do tal grupo das pessoas que não
querem mudar, havia algumas três, quatro, cinco, seis, pessoas que não estão
interessadas em mudar e vão continuar como estavam há procura do próximo curso que
haja e as outras é uma questão de tempo até arranjarem trabalho porque são
competentes, são capazes, é só uma questão de oportunidade, não lhes dou mais de seis
meses para estarem a trabalhar, portanto o que dá uma média deste grupo, menos de um
terço vai ter dificuldades de integração, eu acredito que dois terços, um terço já tá
empregado outro terço nos próximos 6 meses também está empregado, e o terço que
não, não se consegue empregar, não se emprega é porque não quer.
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Entrevistador - Para terminar mesmo qual é o balanço que faz no curso EFA que
terminou aqui na associação APD?
Entrevistado - Foi muito positivo, foi, claro que podia ter sido mais positivo, pode ser
sempre, eu gostava que fossem os três terços de formandos já empregados, já a trabalhar
e todos empenhados, é claro que há aquele terçozinho que aconteceu e não sei se elas
estão interessadas em continuar, mas foi um balanço bastante positivo, o grupo era
interessante, tinha alguns, não era monótono, isto é, dava-nos sempre dores de cabeça,
todos os dias alguma dor de cabecinha e alguns problemas de comunicação muito
grandes dentro do grupo, havia pessoas com personalidades muito difíceis e pessoas
com grandes problemas de comunicação, não conseguiam mesmo dialogar, comunicar
com eles, com eles, entre eles, havia uma necessidade de estar sempre a mediar os
conflitos internos, conflitos internos no grupo, porque conflitos com a equipa
pedagógica praticamente nunca houve. No início houve uma ou outra situação mas
claramente foi resolvida e nunca mais, mas portanto, agora internamente ainda havia
uma série de, de dificuldades de comunicação, que se foram resolvendo, mas havia de
vez em quando a necessidade de mandar os bombeiros para intervir, mas globalmente
foi interessante, era um grupo interessante, tinha pessoas ali muito competentes, pessoas
muito interessantes e que com certeza que vão ser bons profissionais.
Entrevistador: Muito obrigado.
19. Entrevista 16 – P.S. – Coordenadora do CNO da Associação para a
Democracia.
Entrevistador - Então, vou começar por algumas questões mais de identificação
para depois passar a questões mais relacionadas com a APD e a formação e no fim
para ver questões mais relacionadas com a Iniciativa Novas Oportunidades e com
os cursos EFA quais são as suas habilitações literárias?
Entrevistada - Eu sou uma mera licenciada em filosofia, portanto fiz filosofia na
Universidade do Porto, depois fui professora, estava a trabalhar na Universidade do
Minho na formação de professores, decidi fazer a minha tese de doutoramento em
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educação de adultos, nessa altura conheci o Alberto, o Alberto convidou-me para vir cá
para baixo e portanto eu vim trabalhar, lançar o projecto Radial em 1985 e interrompi aí
a minha tese de doutoramento.
Entrevistador - E qual é a sua profissão neste momento?
Entrevistada: Portanto, eu sou agente de desenvolvimento, ainda não sei muito bem,
mas eu trabalho na APD desde 1985 ininterruptamente, e portanto posso-me chamar
agente de desenvolvimento, mas tenho feito tudo, desde a formação profissional, a
criação de pequenas empresas, os projectos mais voltados para a área social, trabalho
com, com pessoas em dificuldades, especialmente com mulheres, educação de adultos,
todo o tipo de projectos.
Entrevistador - No que diz respeito ao curso EFA que acabou de terminar agora
em Agosto aqui na APD, exerceu alguma função ligada ao curso EFA?
Entrevistada - Não, não estive ligada ao curso, não tive.
Entrevistador - Teve algum papel na coordenação ou assim?
Entrevistada - Não, portanto eu apenas ainda, é possível que eu, portanto, eu estava na
direcção na altura em que a candidatura foi submetida, portanto acompanhei a
preparação da candidatura, suponho que ainda estaria na direcção quando o curso
arrancou, mas não tive um envolvimento directo na acção.
Entrevistador - Se trabalha em mais alguma organização para além da APD?
Entrevistada - Não, quer dizer, só esporadicamente posso ser convidada a fazer uma ou
outra formação, ou qualquer coisa, mas normalmente mesmo as formações faço-as no
âmbito da APD, prestação de serviços feita pela APD a outras entidades.
Entrevistador - Gostava de procurar perceber um pouco a sua trajectória
profissional, no seguimento do que me estava a dizer, até à entrada na formação,
para perceber também como é que surge o início do CNO?
Entrevistada - Eu, desde o início, quer dizer, eu vim para a APD, quando vim para a
APD, quando vim para o projecto Radial, portanto eu estava como coordenadora do
projecto Radial e portanto aí comecei por trabalhar, éramos uma equipa muito pequena,
de início apenas três pessoas e portanto eu tive ligada à criação dos primeiros cursos de
458
formação profissional sobre a criação de emprego e estive ligada também à criação dos
primeiros centros de animação infantil, e portanto, tanto num caso como no outro tive
ligada a processos formativos, num caso de formação de mulheres para a criação do seu
próprio emprego, no outro, formação de animadores para desenvolverem depois
actividades de animação com as crianças, nos centros que foram criados na Serra, na
Serra do Caldeirão, ao longo do tempo acabei por trabalhar mais, afastar-me mais da
área da animação infantil, portanto, para a qual não tinha tanta apetência, e acabei por
trabalhar mais na área da formação profissional, sobretudo com grupos de mulheres e aí
tive ligada a diversos cursos de formação, formação/acção, formação para a criação do
emprego, depois também a criação de redes entre as próprias mulheres, a consolidação
empresarial portanto, depois muito projectos de investigação/acção com produtores,
sobretudo produtores ligados às produções tradicionais, projectos de investigação/acção
relativamente à aguardente de Medronho, relativamente às variedades regionais da
amêndoa, relativamente as plantas aromáticas, relativamente a licores, e eram projectos
de investigação/acção, quer dizer que os produtores eram envolvidos nesses projectos,
profundamente envolvidos, muitas vezes haviam, eram projectos que comportavam uma
componente de “On Farme” e uma componente de “On Station”, em termos de
investigação. A “On Station” era sempre feita na Direcção Regional de Agricultura, a
“On Farme” era feita com os próprios produtores, portanto todos estes projectos tinha
sempre uma componente muito forte da educação de adultos, de qualificação das
pessoas, de empoderamento das pessoas, estive ligada muito depois aos projectos, ao
projecto líder, portanto, aí, a animação territorial, a detecção de candidaturas, fui
coordenadora do projecto de formação dos animadores territoriais da APD portanto, um
projecto que se prolongou, eles foram formados “On Job” e portanto ao longo dos anos,
a formação arrancou em 92 e eles estavam em formação em 2002, portanto, foi um
processo aí de cerca de dez anos, eles tinham formação todos os meses, eu coordenei
esse processo também, depois mais tarde tive ligada aos projectos Equal e aí também a
componente de formação era muito forte, no primeiro Equal estivemos a trabalhar com
diversos grupos em dificuldades, mulheres isoladas, pessoas com deficiência, com
doença, pessoas com doença mental, pessoas com deficiência e ainda jovens em risco,
no segundo Equal tivemos a trabalhar mais as questões da participação cidadã, das
questões da economia solidária, mas também uma componente forte da formação em
voluntariado, da formação das pessoas através do próprio processo, do orçamento
participativo, a formação das pessoas para a utilização das moedas complementares, a
459
formação das pessoas na criação dum mercado, de uma feira da solidariedade, portanto
a componente da formação teve sempre muito presente ao longo desses tempos. Não é
apenas no meu percurso, acho que é no percurso de todas as pessoas na APD porque nós
sempre vimos a intervenção para o desenvolvimento como uma, uma intervenção muito
de promoção da cidadania, e portanto muito mas sempre uma intervenção de formação,
de formação e de educação de pessoas adultas, portanto, para nós o essencial, o
desenvolvimento é um processo que requer, para ser sustentável, requer sujeitos, requer
cidadãos e cidadãs, e portanto todos os processos são sempre processos muito
participados e portanto são sempre processos muito formativos, e aqui é conveniente
dizer que são formativos para as pessoas digamos, aqueles que se costumam chamar
destinatários, palavra que eu não gosto, porque, eles destinatários supõe que há aqui
alguém que decide e depois há aqueles a quem a nossa acção se destina, portanto eu
prefiro falar em participantes. Estes processos são muito participativos para as pessoas
do território que são envolvidas realmente na concepção das soluções, na testagem das
soluções, na avaliação dos resultados e depois na reformulação dos modelos e estes
processos são igualmente formativos para os técnicos e as técnicas que neles se
envolvem, porque como são projectos de investigação/acção nós vamos concebendo
coisas e estamos a constantemente avaliá-las e a reformulá-las e é evidente que este
processo é um processo muito dinâmico que exige que nós estejamos constantemente
em formação, para podermos ir respondendo às situações com que deparamos não é?
Portanto ao fim ao cabo eu estou em formação desde que vim para a APD, desde que
vim cá para baixo, para a intervenção na Serra do Caldeirão, desde 85, eu antes era
professora universitária, mas confesso que a universidade a mim, pelo menos na altura e
no sítio onde eu estava, nas minhas circunstâncias, não requeria de mim uma atenção,
uma formação tão constante, tão contínua como exige a intervenção na APD, porque de
facto nós tentamos na medida do possível e hoje é cada vez mais difícil fazê-lo, nós
tentamos trabalhar com modelos que são sempre modelos abertos, e vão sendo sempre
construídos quando é possível, quando não é possível construí-los são pelo menos
reformulados e avaliados constantemente.
Entrevistador - Como é que se dá o início da actividade no CNO, como é que surge
a questão do CNO, como é que se insere nisso que me está…
Entrevistada - Portanto repare, se falar com o Alberto, o Alberto diz-lhe que quando
foi fazer, quando foi convidado pela Ana Benavente a repensar a política da educação
460
de adultos em Portugal, ele próprio partiu com uma experiência que era uma experiência
da intervenção na Serra do Caldeirão e com uma constatação, faz-se formação durante
anos e anos com determinada pessoas, com muitas pessoas, essas pessoas vão evoluindo
mas como essa formação que fazem não é uma formação escolar, em termos de
qualificação não há qualquer evolução, estas pessoas não vêm digamos a qualificação
real que vão tendo, não a vêm reconhecida, portanto ele partiu logo quando foi
reformular a política da educação de adultos, ele partiu logo com a ideia que temos que
arranjar dispositivos para que pessoas que vão efectivamente evoluindo, porque vão
recebendo formação, porque estão em processos dinâmicos que requerem que elas vão
repensando e vão efectuando permanentemente aprendizagens e vão repensando e
reformulando as suas ideias, é fundamental que estas pessoas encontrem um dia à sua
frente uma, digamos um mecanismo que permita reconhecer esta evolução, ele próprio
já partiu com esta ideia, ora nós aqui que trabalhamos com estas pessoas ao longo dos
anos, sentíamos que era utilíssimo, que essas pessoas com quem trabalhamos e que nós
víamos no dia-a-dia que estavam a evoluir, que era fundamental que essas pessoas
vissem essa evolução reconhecida, por um lado, por uma questão de justiça primária
quer dizer, tratava-se de dizer a estas pessoas, vocês estão muito mais qualificadas do
que os vossos diplomas escolares dizem, mas também para lhes dar um alento para
continuarem esse, esse processo, portanto para nós a partir do momento em que
começaram a funcionar os Centros Novas Oportunidades, que na altura não se
chamavam Centros de Novas Oportunidades mas Centros de RVCC, nós pensamos
imediatamente, quer dizer, temos que ter uma coisa destas, portanto logo que podermos
candidatar-nos, candidatamo-nos, na primeira candidatura não fomos, não entramos,
mas no ano seguinte vieram dizer sim senhor vocês têm condições para avançar e
portanto o Centro de Novas, na altura o Centro de RVCC surgiu dessa maneira, era
qualquer coisa quase natural no nosso caso, portanto, de alguma forma a nossa
experiência tinha contribuído através do Alberto para a criação dos Centros Novas
Oportunidades, portanto o mais natural é que nos tivéssemos um Centro de Novas
Oportunidades para aplicarmos no nosso território finalmente essa possibilidade de
dizer às pessoas, essa possibilidade de as pessoas com quem trabalhamos verem
reconhecidas as competências que tinham efectivamente desenvolvido nos mais
diferentes processos de formação profissional, de intervenção social.
Entrevistador - No seu caso neste momento é directora do CNO?
461
Entrevistada - Não, neste momento como, como já não sou presidente APD, neste
momento sou coordenadora do CNO, porque o director por inerência é o presidente da
APD.
Entrevistador - Eu voltava um pouco atrás para compreender melhor algumas
questões da entidade APD no seguimento do que me estava a dizer gostava de
compreender melhor a missão da APD. Que tipo de intervenção procura levar à
prática e ao mesmo tempo como é que o papel da formação se insere nessa missão
mais vasta?
Entrevistada - Vindo um bocadinho para trás, quando se lança o Radial, o Algarve
ainda era claramente uma região em que existia o Litoral e depois havia, um “now
land” que era todo o Interior. Eu até lhe posso dizer que houve uma altura em que
brincávamos e pensávamos que se tivéssemos dinheiro iríamos fazer uns enormes
outdoors para metermos lá em baixo junto do Litoral, outdoors imensos com paisagens
da Serra e com um slogan é “sabe que também há vida na parte escondida do Algarve”
isto porque as pessoas, as próprias pessoas que estavam na Serra consideravam que não
faziam parte do Algarve, elas aliás falam assim como sendo da Serra aliás quando vêm
cá abaixo do Litoral dizem, vão ao Algarve, portanto aquilo não é Algarve, as próprias
pessoas quando vêm de Lisboa quando chegam a S. Bartolomeu de Messines tenho uma
dúvida, ainda falta muito para chegar ao Algarve, portanto aquilo é uma outra terra,
portanto o Alberto quando veio para a Escola Superior de Educação ele aceitou fazer
parte do conselho da comissão instaladora na condição de trabalhar a questão da ligação
da escola à região e quando veio cá para baixo ficou tão espantado com esta dicotomia
Litoral-Interior que pensou, pensou, não, esta escola tem que no interior do Algarve
definir uma posição diferente e portanto ao abrir-se ao meio vai dizer que exactamente
que o Interior existe, é por isso é que nos fomos trabalhar para a Serra desde o início,
portanto a nossa missão, trabalhar para uma zona que praticamente era uma área
ignorada, onde não havia uma escola, repare havia a escola primária, e a seguir havia o
ciclo, era de TV e depois disso não havia uma secundária, não havia na altura nenhum
lar, não havia nenhum Centro de Dia, não havia electricidade em muitos sítios, não
havia água canalizada, na maior parte dos pequenos montes, aquilo realmente era uma
terra de ninguém que as pessoas não conheciam, não havia nada lá em cima e portanto a
nossa opção foi “isto também é Algarve” e a escola Superior de Educação do Instituto
Politécnico de Faro tem que perceber que esta região não acaba a cinco quilómetros do
462
mar e portanto tem que perceber que esta zona existe, quando chegamos lá, deparamonos com uma zona extremamente deprimida, deprimida em termos sociais, e em termos,
em termos económicos e em termos culturais, em termos demográficos, quer dizer,
aquela zona vinha a perder, estava a perder a sua população desde o final dos anos 50,
mais depois dos anos 60, em alguns sítios já havia, já havia localidades com 4/5
habitantes por quilómetro quadrado, havia montes com apenas idosos, sem qualquer
possibilidade, não havia um nascimento, mas mesmo cada vez que nascia uma criança
quer dizer, mesmo na sede de freguesia era sempre uma festa não é? Era uma coisa
importante, e aquela, os homens saiam na maioria dos casos para trabalhar, porque não
havia trabalho lá, os que trabalhavam lá trabalhavam para as Câmaras, para as Juntas de
Freguesia, Correios, um ou outro serviço, muito pouco, e alguns na agricultura, mas a
agricultura, ficava na agricultura quem se considerava quem não era capaz de fazer mais
nada, os homens iam trabalhar e as mulheres ficavam para trás sozinhas a cuidar dos
idosos, das crianças e das terras e tal, ali a espera que o marido viesse ao fim de semana
se estava a trabalhar no Litoral ou então que viesse nas férias se trabalhava no
estrangeiro, e aquelas pessoas eram pessoas que estavam esquecidas, que não
acreditavam em si próprias, que de alguma forma eram cidadãos de segunda, para nós
foi muito claro desde o início, quer dizer o essencial aqui é trabalhar com as pessoas,
levá-las a pensar “nós somos gente”, esta é a nossa terra, o futuro desta terra passa por
nós também e nós queremos que isto tenha um futuro, nós temos orgulho na nossa terra,
isto não é de maneira nenhuma o fim do mundo, quer dizer, isto aqui pode ser um bom
lugar para viver, mas isso vai depender de nós, portanto esta mudança de atitude exigia
quase que um máximo de investimento fosse feita nas pessoas, para nós era muito claro,
portanto as pessoas estavam no centro, o desenvolvimento era essencial, evidente,
porque havia de criar condições de vida para as pessoas estarem, mas o importante não
eram apenas as condições de vida materiais, era também essa crença, as pessoas
sentirem que valia a pena lutar por aquela terra, e que aquela terra tinha muitas coisas
boas, era mudar aquela imagem negativa, tão negativa que quando nós íamos à serra as
pessoas não se afirmavam, muitas vezes não diziam que ali era Serra quando se
perguntava, “Então onde é a Serra?”, a Serra era antes ou a Serra era depois, não era o
sítio onde ela estava, portanto era muito importante mudar esta imagem negativa para
que as coisas pudessem voltar a fluir, portanto isto era evidentemente um processo,
tinha que ser fundamentalmente um processo de formação e de mobilização de pessoas,
portanto nós pensamo-lo assim desde o momento; o resultado, os resultados, pequenos
463
resultados materiais eram essenciais para as pessoas porque elas precisavam de ver
coisas e porque assim ganhavam coragem para dar o passo seguinte, para nós, os mais
importantes eram os resultados imateriais, portanto aquilo que as pessoas iam
conseguindo, aquilo em que elas iam acreditando, a confiança que elas iam ganhando
em si próprias, o sentido de afirmação. Quando passados uns anos nós começamos a ver
que nas festas no Interior as pessoas começavam a reivindicar a condição, a Serra, como
uma coisa positiva, as pessoas começavam a dizer vem ao Ameixial à festa da Serra
onde se serve o melhor, o melhor Xarém da Serra do Caldeirão, o melhor Xarém da
Serra, quer dizer, e aí a Serra já começava a ser uma positividade, nós pensamos bom,
estamos a conseguir. Ora bem, é evidente que isto é um processo de formação e repare
para nós formação aqui pensamo-la no sentido mais amplo possível, quer dizer a própria
componente de animação para nós era essencial e era formativa também, não é, as
pessoas serem capazes de organizar para fazer uma festa, ou as pessoas serem capazes
de se mobilizar para organizar uma feira, portanto também isso era formativo, portanto,
organizarem-se para construir uma associação pensávamos bom isto é da componente
de animação mas é profundamente formativo não é.
Entrevistador - Voltando aqui a questão do CNO como coordenadora, portanto,
como…
Entrevistada - Fui directora durante muito, enquanto fui presidente fui directora não é?
Entrevistador - Portanto com essa experiência quer como directora quer agora
como coordenadora e do seu contacto diário com o trabalho do CNO, quer do seu
trabalho pessoal quer dos diferentes profissionais, quais são as dificuldades que
identifica no trabalho no CNO?
Entrevistada - Nós temos dificuldades de todo o tipo não é? Começando pelas de
carácter logístico, portanto, temos dificuldades logísticas porque as equipas não são
exactamente as que queremos mas as que nos permitem ter, não é? Não são pagas como
nós achamos que deviam de ser pagas, mas como nos permitem que elas sejam pagas,
depois há uma lógica, que é a lógica do próprio programa, temos tabelas para pagar as
pessoas quando nós temos as nossas próprias tabelas internas, mais, podemos ter que é
uma coisa que é, que a tutela não entendo muito bem, podemos ter na mesma função
pessoas pagas em três escalões distintos, porque uma acabou de chegar e outra esta cá
há dois ou três anos e outra quer dizer trabalhava na casa há quinze, eles têm alguma
464
dificuldade em compreender isso, temos dificuldades portanto de carácter, dificuldades
em termos dos pagamentos porque agora as coisas estão melhores mas houve momentos
com seis, sete meses de atrasos, já aconteceu termos o pagamento, o adiantamento
inicial para um ano em Junho e como as contas estão mal feitas nós contestamos e vainão-vai acabamos por receber o avanço para o ano no mês de Agosto praticamente,
entretanto tivemos a trabalhar sete meses com uma equipa que actualmente tenho treze
elementos não é? Estivemos a trabalhar desde aí com os nossos próprios meios, portanto
temos desde este tipo de dificuldades, até dificuldades que são já da ordem, mesmo da
concepção, da forma de entender o processo, portanto, digamos que a questão das metas
desde logo, portanto, as metas estão claramente orientadas para a massificação não é?
Para a produção de um resultado quantitativo, e embora nós compreendamos que tem
que haver resultados em termos quantitativos nós estamos preocupados com a qualidade
do processo, estas metas põem em causa a qualidade do processo, porque é evidente que
as pessoas adultas que nos procuram estão em situações muito diferentes e uma pessoa
adulta pode fazer um processo connosco em três, quatro meses e outra pessoa adulta
pode precisar de dezassete, dezoito meses, ora muito bem, quando as metas são
impostas, é difícil depois coordenar estas duas coisas não é? Temos desinteligências em
termos dos referenciais, mais ainda com o do Secundário do que com o do Básico, o do
Básico apesar de tudo ainda foi feito com bastante tempo, com gente que trabalhou em
equipa, fortemente em equipa e que foi ela própria, que foi de alguma forma nesse
processo foi relativamente longo, ela própria fez uma certa formação na área de
educação de adultos, portanto ao construir o, muitos deles eram e delas eram
professores mas acabaram por ser questionados no seu posicionamento ao longo do
processo e portanto tiveram que repensar as questões em termos, tiveram que repensar a
questão de referencial em termos de competências coisa que não estão muito habituados
a fazer enquanto docentes, embora também a nível do Básico possamos ter muitas
dúvidas em relação sobretudo em algumas áreas que aquela seja a melhor forma de
fazer, mesmo assim o referencial do Básico não nos coloca tantas questões, o referencial
do Secundário é um referencial de conhecimentos, vamo-nos deixar de tretas, é um
referencial de conhecimentos, portanto nós estamos profundamente em desacordo com
o referencial do Secundário mas é com aquele referencial que temos de trabalhar e
dizemos sempre, somos muito pragmáticos nessas coisas, quando estamos em, estamos
a trabalhar num determinado programa, portanto com uma política e não estamos
inteiramente de acordo com ela nós trabalhamos em de duas frentes, aplicamos a
465
política em quanto elas têm vigor e simultaneamente tentamos trabalhar com a tutela
aproveitando todas as ocasiões de seminários, documentos, mesas redondas, visitas de
acompanhamento para fazer sentir que a política tem que evoluir, portanto nós temos
feito isso sem grandes resultados até porque não tem havido abertura nenhuma por parte
da ANQ nesse sentido, mas temos tentado sempre fazer sentir que aquele referencial é
um referencial muito escolar e mesmo muito escolástico, aliás tendo a pensar no
referencial do Secundário com uma espécie de computador indo, indo-português, cheio
de gavetinhas não é? Aquilo parece muito integrado mas é uma balela, não é nada
integrado e realmente aquilo é abrir gavetinhas, aquelas gavetinhas todas e andar lá a
meter coisas não é? Mas é aquele que nós temos, para lhe dar conta das nossas
dificuldades. Em termos de relacionamento com a tutela há que dizer que as coisas se
fazem um bocado neste sentido portanto a tutela ordena, nós tentamos falar no sentido
contrário mas efectivamente não somos ouvidos, há anos que andamos a dizer que
formação para novos centros deveria de ser feita recorrendo a técnicos e técnicas das
equipas dos centros já instalados, pelo menos em parte, porque se vai buscar alguns
professores que podem até ser muito interessantes e muito interessados e podem ser
úteis em termos de ajudar a fornecerem um enquadramento teórico mas depois a prática
real do dia-a-dia são certamente pessoas que já trabalham em centros que estão em
melhor posição de a passar não é? Portanto seria extremamente útil que as equipas de
formação e que a formação para as equipas, para novos centros, que essa formação
incluísse necessariamente, técnicos e técnicas que estão aí envolvidas em equipas que já
deram provas não é? E não tem havido qualquer possibilidade de conseguir isso,
portanto quer dizer a ANQ de facto emite ordens e raramente ouve o que nós temos para
dizer, se ouve, ouve mas não há nenhum resultado, na sequência não é? Portanto
digamos que a política e no que diz respeito aos Centros Novas Oportunidades tem
evoluído no sentido de resolver um problema de sub-certificação e não no sentido de
reunir, de efectivamente assegurar uma certificação das pessoas que efectivamente
tiveram oportunidade de se qualificar nas mais diversas circunstâncias ao longo da sua
vida, portanto os Centros Novas Oportunidades deviam de ser uma resposta residual ou
pronto, estou a dizer mal, os centros de Novas Oportunidades enquanto portas de
entrada que fazem diagnósticos não eram respostas residuais, mas aí enquanto
dispositivos que depois fazem reconhecimento de validação e de certificação de
competências deviam de estar destinados a uma percentagem ínfima dos adultos que se
pretendem qualificar, porque efectivamente neste momento estamos a trabalhar com
466
pessoas para as quais esta não é a via mais adequada. Agora como há metas e como se
pretende atingir a metas, nós somos obrigados a trabalhar com as pessoas, com pessoas
que do nosso ponto de vista deveriam ser, teriam certamente vantagem em seguir
processos, reais processos de qualificação. O que acontece é que nem eles querem, nem
nós podemos, temos que atingir metas, nem existem respostas, porque a nível da cidade
ainda vai havendo bastantes respostas mas por exemplo aqui em São Brás existem
apenas algumas formações e portanto a maior parte das pessoas mesmo se quisesse, se
quisesse ir fazer um curso EFA por exemplo teriam que se deslocar para Faro, ou para
Loulé, ou para Olhão, ora não há transportes públicos para isso e as pessoas tinham que
ter um carro, portanto o que não acontece com a maioria das pessoas. Há diversas
dificuldades, esta é uma grave não é? Nós pensamos que realmente o processo de
RVCC devia ser destinado exclusivamente a um número pequeno de pessoas,
provavelmente aí dez, quinze por cento das pessoas, no máximo vinte por cento das
pessoas que actualmente são de facto encaminhadas para RVCC, as outras deviam de
seguir processos de qualificação normais, porque isto deve ser um processo de
certificação, e portanto para isso quer dizer que as pessoas tiveram que desenvolver as
competências anteriormente, a situação agrava-se ainda mais no momento em que estão
a ser empurrados há força para os CNO as pessoas adultas desempregadas, que são
efectivamente empurradas, forçadas a vir para o Centro Novas Oportunidades como a
ameaça de perderem o seu subsídio se o têm não é? Nós pensamos que é uma medida de
coacção completamente indecorosa porque se trata no final de resolver um problema
que é o de tentar resolver o problema, ver se é possível retirar o subsídio a estas pessoas,
e uma boa forma é por exemplo ver se elas em algum momento desistirem de vir para
aqui, percebe, isto é, quer dizer, isto é contra todos os nossos princípios e é contra tudo
o que nós pensamos que deve de ser a educação de adultos, que tem que ser um
processo a que alguém adere voluntariamente.
Entrevistador - Gostava de compreender um pouco melhor se se lembrasse de
alguns exemplos dessa relação com a entidade estatal, que tutela as Novas
Oportunidades, no caso a ANQ, alguns exemplos que possam ilustrar essa questão
de vocês tentarem mostrar as vossas preocupações e elas não são atendidas como
me estava a dizer, isso reflecte-se em que aspectos?
Entrevistada - Repare, por exemplo, eles já baixaram as metas de por exemplo, de
trezentos do Básico para duzentos e cinquenta a determinada altura quando ainda não
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havia Secundário, por que é que foi possível? Porque houve um CNO que fez o
seguinte: pegou nas indicações da própria tutela sobre como é que havia de ser
conduzido o processo, contabilizou o tempo todo que aquilo demoraria a ser feito de
acordo com as orientações que vinham da tutela, depois pegou num ano e viu quantos
dias úteis havia, multiplicou por sete horas e mostrou que não era possível, se em média
um processo com um adulto demorava tanto e tendo tantas horas disponíveis ao longo
de um ano que não era possível efectivamente fazer trezentos, aí quer dizer como estava
preto no branco, era impossível, eles baixaram para duzentos e cinquenta, mas continua,
quer dizer repare, estamos a trabalhar com uma pessoa adulta e conduzimos o processo
durante quatro ou cinco meses e depois esta pessoa, surge uma dificuldade, desiste, esta
pessoa não vai contabilizar para metas de certificação que são as metas o mais
importante, mas no entanto trabalhou com ela, por ter trabalhado com ela quarenta,
cinquenta, cem horas, é inclusive difícil fazer essas contas que fez o outro CNO, porque
nada disto é tido em conta, isto é, as contas foram feitas supondo que tínhamos estas
horas e que havia aqui trezentos adultos aos quais nos dedicávamos as horas e todos eles
concluíam o processo, mas nós cada vez mais temos grupos de vinte, dos quais depois
saem certificados três ou quatro, mas durante muito tempo está-se a trabalhar com
dezassete, portanto nessas horas não são contabilizadas. Nós fazemos ver isto há
agência, nos explicamos isto por escrito, temos visitas de acompanhamento, temos
reuniões, transmitimos isto à Direcção Regional, fazemos documentos, documentos
conjuntos, fazemos aquelas reuniões que o João já assistiu, reuniões a nível da região,
isto aparece em actas, é enviado para a agência, e não se passa nada, as metas
continuam e repare as metas são tão irrealistas que eles no ano passado, acho que foi no
ano passado, acabaram por relativamente ao ano anterior não produzir cortes, mesmo às
entidades que não tinham atingido as metas, só iam fazer cortes, as entidades que não
tinham atingido 30% nas quatro metas, não tinham atingido simultaneamente 30% nas
quatro metas quer dizer, o que é uma maneira de dizer que aquelas metas são
completamente irrealistas não é? Estamos fartos de dizer em diversas circunstâncias que
aquele referencial do Secundário não está bem pensado, já dissemos isso em reuniões, já
mandamos isto em documentos, já, em situações duais, em situações de grupo regional,
tivemos uma visita de acompanhamento, transmitimos isto, não se passa nada, ainda não
se passou nada, também neste momento não esperávamos que se passasse nada, porque
se está a ver o que é que vai acontecer, transmitimos isto nas avaliações que fazemos,
portanto nós estamos em processo de auto-avaliação que é um processo que tem sido
468
liderado, portanto, tem sido orientado pela Universidade Católica, estas coisas passam
nos processos de auto-avaliação, estas auto-avaliações chegam à ANQ, não se passa
nada, portanto é dessa maneira, nós mandamos, nós mandamos emails, nós fazemos
cartas, fazemos memorandos, transmitimos em reuniões e depois não se passa nada, é
dessa forma, das metas aos referenciais, às, digamos, como é que se diz, aos padrões,
não é aos padrões, às tabelas de pagamento, portanto tudo isso tem sido alvo de
comunicações, e dizem-nos é assim, acabou, ponto final.
Entrevistador - Em relação ainda à sua actividade no CNO quais são os aspectos
gratificantes?
Entrevistada - Quer dizer, eu estou-lhe a dizer que nós temos mantido, quer dizer,
existem todas estas dificuldades mas nós achamos que mesmo assim este processo vale
a pena não é? Quando eu há bocado lhe dizia que o processo de RVCC devia de ser para
as pessoas que já têm as competências porque é um processo de certificação e não
propriamente um processo de qualificação não estava a ser inteiramente justa, pelo
seguinte, é que o processo mesmo assim qualifica também, um pouco, mas qualifica,
porque as pessoas são forçadas de alguma forma, portanto, a colocar-se ao nível que já
remete para um metaconhecimento não é? Há sempre um salto e um salto que produz
qualificação quando as pessoas não apenas sabem coisas, mas sabem que as sabem e
reflectem sobre isso que sabem, portanto há um processo de qualificação, há um ganho
em termos de conhecimento e nós vemos que as pessoas, mesmo aquelas que nós
achamos que não teriam o perfil mais adequado que quando saem, houve um ganho
àquele nível, que algumas pessoas não o consideram que valha a pena estar a referir, há
um ganho em termos de empowerment psicológico, quer dizer a pessoa sente-se mais
segura, a pessoa sente-se mais confiante, a pessoa valoriza-se, a pessoa começa a
perceber e eu acho que isto é importante, que a escola é uma coisa mas que se aprende
muita coisa fora da escola e que esse conhecimento é um conhecimento muito
importante, a pessoa frequentemente passa a ter uma atitude diferente em relação aos
seus filhos, em relação há escola, portanto também aí já é um outro nível de
qualificação, a qualificação parental mesmo, passa a prestar uma outra atenção ao
percurso escolar dos seus filhos, frequentemente passa a ter uma outra atitude em
termos sociais, quer dizer, uma outra atitude em termos de o que é trabalho numa
associação, o que é a importância da dragagem do lixo, o que é realmente. Portanto, a
atenção ao que se passa no seu concelho, o que está, o que está a fazer a sua Câmara ou
469
a sua Junta de Freguesia, e nós vemos que mesmo as pessoas que não teriam o perfil
mais adequado, fazem efectivamente um percurso, fazem aprendizagens, saem mais
conscientes e algumas delas dão saltos enormes, quer dizer, há pessoas que entram e
pelas quais, em relação às quais nós não tínhamos grandes expectativas porque no
diagnóstico não mostraram assim um grande potencial, porque eram pessoas que
estavam pouco confiantes em si próprias e que no final saem com uma atitude
completamente distinta, quer dizer, capazes de lutar e que pretendem voltar continuar a
estudar e que vão para a Universidade e portanto essa componente é extremamente
gratificante. Em termos da própria equipa, técnicos e profissionais, eu acho que é um
trabalho um bocado repetitivo, é um trabalho, portanto, há uma grande rotina neste
trabalho, mas suponho que as pessoas também fazem muitas aprendizagens, por um
lado em termos de conteúdo, aprendem imensas coisas com os adultos, há um adulto
que trabalha apicultura, há um outro que se interessa pela mecânica, há um terceiro que
gosta de selos, há um quarto que fez uma série de viagens, há um quinto que trabalha
para a Amnistia Internacional, há não sei o quê, portanto, o próprio, a própria
profissional técnica que trabalha com ele é obrigada a acompanhar estes percursos a
pesquisar e portanto há coisas que vai aprendendo, depois, eu suponho, eu suponho não,
eu sei, quer dizer isso vai, depende das técnicas, umas mais, umas menos, mas muitas
delas acabam por ter uma outra atenção ao que é a aprendizagem dos alunos, das
pessoas adultas e portanto elas próprias se interessam e acabam por ler coisas e tentam
perceber de que forma, tentam perceber como é que se efectua a aprendizagem de uma
pessoa adulta, para poderem mais adequadamente acompanhar as pessoas e portanto
elas próprias vão evoluindo, sinto isso, quer dizer há uma evolução da própria equipa
em termos de atenção à pessoa adulta e de preparação para efectivamente acolher aquela
pessoa e a ajudar a avançar, a desenvolver o seu potencial e esses aspectos são todos
aspectos positivos, por outro lado, quer dizer, eu apesar de tudo sinto-me satisfeita
quando vejo que num ambiente às vezes tão complicado e muitos momentos sinto
orgulho nesta equipa que é capaz de, de num ambiente adverso, é capaz de fazer tudo
para se aproximar das metas, para responder às pessoas, para por exemplo perder tempo,
entre aspas, com alguém que sabemos à partida que nos vai dar imenso trabalho, porque
tem dificuldades, porque é da Guiné e fala mal o Português, porque é uma pessoa muito
tímida, porque esta com uma depressão, porque está doente, porque vai ter que melhorar
aqui ou acolá e portanto vai exigir um esforço suplementar em equipa e esta equipa
mobiliza-se nesse sentido, podia perfeitamente não estar disposta a isso, ainda há pouco
470
nós recebemos aí uma miúda e depois ela não quis continuar, mas uma miúda que era
surda/muda e as pessoas estavam a organizar-se para dar resposta à surda/muda, ela,
com ela iriamos gastar provavelmente gastar quatro ou cinco vezes mais tempo do que
com uma pessoa habitual não é? E a equipa organizou-se para fazer isso, estamos a
trabalhar com toxicodependentes, portanto pessoas que estão neste momento, não estão
a consumir mas que estão em processo de reabilitação e há um esforço real para
trabalhar com elas, para lhes levarmos filmes para elas terem lá, filmes para elas verem
na comunidade onde estão, tentar ver se arranjamos um curso de jardinagem porque eles
agora estão a preparar um jardinzinho, quer dizer outras coisas que já estão para lá do
CNO e quando um deles vai acabar o processo e vai passar a uma situação em que vai
trabalhar no exterior, quer dizer todos nós, todas nós nos congratulamos, digo todas que
somos quase tudo mulheres, e nos congratulamos com isso, quer dizer acho que há uma
real aposta das pessoas isso é uma coisa que me dá alegria porque ao fim ao cabo foi
isso que nos moveu desde o início, não é? Outra coisa que também me dá orgulho, quer
dizer, é que nós temos como parcerias com determinadas entidades e algumas delas isto
agora aqui é confidencial, o Instituto de Emprego por exemplo poderia recorrer muito
mais ao seu próprio CNO, mas nós temos uma parceria com o Centro de Emprego de
Faro que efectivamente gosta de trabalhar connosco, e repare o Instituto de Emprego é
uma entidade um bocadinho fechada e organizada para o interior, o Instituto de
Emprego de Faro gosta de trabalhar connosco e envia-nos pessoas, portanto, confia em
nós, e temos trabalhado com Câmaras, quer dizer fizemos o processo na Direcção
Regional de Educação, a Direcção Regional de Educação escolheu trabalhar connosco,
fizemos, estamos a fazer ainda no Hospital Distrital de Faro, na CCDR Algarve, na
Câmara em Albufeira, na Câmara de Loulé, na Câmara de Olhão, na Câmara Municipal
de S. Brás, na Câmara Municipal de Loulé, portanto numa série de sítios que nós
trabalhamos que as entidades têm gostado de trabalhar connosco, confiam em nós, mas
acho que isso é uma coisa boa não é? Dá-me prazer, é evidente.
Entrevistador - No caso do curso EFA de Apoio Familiar e à Comunidade que
terminou há pouco tempo, como é que surgiu essa ideia de promover o curso, e
como é que a APD perspectiva o papel dos cursos EFA dentro disso tudo que me
esteve a dizer?
Entrevistada - Portanto, nós repare, nós temos de há muito tempo esta parte e
particularmente no âmbito da iniciativa Equal, nós começamos a trabalhar com pessoas
471
em grande dificuldade, tanto dirigir formações para pessoas que estavam em situação de
risco de exclusão eminente leva a parecer-nos imediatamente como um instrumento que
podia ser uma boa resposta, portanto, há imensa gente que teria vantagem em qualificarse escolarmente, em qualificar-se profissionalmente que não tinha competências para
fazer um processo de RVCC e que poderia beneficiar, tem tudo a beneficiar com a
frequência de um curso EFA não é? Um curso EFA imediatamente nos apareceu como
uma resposta interessante. Sabíamos ao mesmo tempo que havia um défice real aqui a
nível do conselho de S. Brás no que se refere ao atendimento de pessoas idosas e
sabíamos também que na proximidade havia capacidade de absorver pessoas que
fossem formadas profissionalmente nessa área, mais ainda, havia um projecto para criar
aqui ao lado da APD, uma unidade, uma espécie de lar privado e portanto havia a
possibilidade de formar pessoas que depois seria, se iriam empregar nesse lar, aliás
chegámos a estabelecer um protocolo com a entidade que depois ia avançar com o lar e
depois não se concretizou, fizemos um protocolo e depois essa entidade assumiu o
compromisso de formar de inserir profissionalmente todas as pessoas que formássemos
e certificássemos, portanto o curso EFA nessa área, o curso EFA era uma boa resposta,
o curso EFA nessa área parecia ser uma excelente resposta com uma garantia a 100%
praticamente de inserção profissional das pessoas que viessem a ser certificadas, foi por
isso que avançamos.
Entrevistador - E ao nível do funcionamento curso EFA, em particular deste de
Apoio Familiar e à Comunidade, que dificuldades é que, do que foi
acompanhando, que dificuldades é que houve? É que identifica no funcionamento
do curso EFA que agora terminou?
Entrevistada - Quer dizer, inicialmente, tivemos logo dificuldades ao nível da selecção
das pessoas, havia um grupo enorme, mas houve pessoas que depois, havia um grupo
enorme inicialmente inscrito, mas houve pessoas que foram desistindo e portanto, as
vinte que acabaram por ser seleccionadas nem todas teriam exactamente o perfil, quer
dizer, não davam todas uma garantia a 100% de investimento total na formação e o que
se veio efectivamente a comprovar ao longo da formação, eram pessoas que encaravam
aquela formação como uma oportunidade de receber um subsídio sem ter propriamente
uma grande responsabilidade nem uma grande ocupação horária, eram pessoas
conflituosas, eram pessoas muito inseguras, eram pessoas muito mal consigo próprias,
não é? O que as torna imediatamente conflituosas porque quando as pessoas estão
472
pouco seguras, quando as pessoas se sentem muito vulneráveis é evidente que qual quer
coisa que alguém lhes diz é imediatamente recebida com uma ameaça, daí os conflitos
constantes não é? Eu acho que o problema fundamental teve a ver de facto com a falta
de investimento de algumas das pessoas que seguiram a formação e com os conflitos
que estalaram entre elas, para além de, houve uma ou duas pessoas, já não me recordo,
pelo menos uma pessoa que teve de desistir por motivo de doença não é? Que teve, foi
operada depois, teve aquele problema, não sei se foi um derrame ou um problema
qualquer grave e portanto essa teve que desistir, mesmo, as outras, quer dizer,
fundamentalmente eram pessoas que não tinham uma atitude mais adequada, acho que
foi isso, porque em termos de formadores do que eu pude acompanhar a Sandra, a
coordenadora ia falando comigo, conseguimos reunir uma equipe, pode haver algumas
excepções, mas conseguimos reunir uma boa equipa de formadores, de pessoas que se
mobilizaram bastante, que se dedicaram bastante, que tentaram fazer bem o seu
trabalho, que estabeleceram com eles até muito boa relação em termos pessoais, pareceme que por aí não houve grandes falhanços, em termos de estágios, a maioria, também
poderá haver uma ou outra excepção mas a maioria das entidades que os acolheram,
acolheram-nos e integraram-nos bem, as ofertas de emprego e de possibilidades de
inserção também eram muito interessantes e alguns por e simplesmente não estavam
interessados em agarrá-las, portanto, acho que a haver algum problema, os problemas
que houve, do que eu me recorde, eles tinham um espaço de formação bom, não sei se o
João chegou a ir lá, mas tinham um espaço com boas condições de formação, dentro do
que é possível arranjar, quando era necessário vinham aqui, repare que o nosso espaço,
nós utilizamos aqui este espaço da sede, a nossa cozinha que nós utilizamos, as pessoas
que aqui trabalham uma grande parte delas para fazer as nossas refeições de almoço
havia pelo menos uma formanda mas que nalguns momentos, pelo menos, uma
regularmente, em alguns momentos vinha ter connosco também e portanto eram
recebidas ali como qualquer outra pessoa da APD, havia uma enorme proximidade eles
circulavam por aqui quase como se isto fosse, como que isto fosse seu quer dizer, e a
esse nível foram, nunca houve qualquer discriminação, pelo contrário acho que foram
muito bem acolhidos e o tempo em que tive na direcção, noutro curso, a ideia que tenho
é que nós fizemos tudo, e estou com, tenho a convicção que a direcção seguinte o
mesmo também, até porque a coordenadora do curso e o Nelson, duas pessoas que
estavam na equipe eram ambos da direcção, foi tudo foi feito estava tudo ao nosso
alcance para que o curso fosse um sucesso. Chegou a falar com os formandos, o João?
473
Entrevistador - Com os formandos não, eu aqui interessa-me mais a apreensão da
política pública pelo olhar dos técnicos, é uma entrada que privilegiei…porque o
objectivo central é perceber os modos da apropriação das políticas públicas pelos
técnicos.
Entrevistada - Já agora, só aqui um à parte, por exemplo, se fossemos nós a fazer as
políticas os cursos EFA não eram assim, nunca eles teriam um dia de formação inteira
em sala, nunca.
Entrevistador - A questão das setes horas…
Entrevistada - Nunca faríamos formação assim, nunca tivemos, nós tivemos os cursos
de formação profissional, criação de emprego, nunca foram assim, as pessoas, nós
colocávamo-las em acção no primeiro dia, aquilo era uma empresa desde o primeiro dia,
se fosse uma empresa de tecelagem ou de confecção, tinham lá as máquinas e no
primeiro dia elas começavam a trabalhar, toda a formação era feita em função do
projecto de transformar aquilo numa empresa, efectivamente, elas inclusive tinham
dinheiro para gerir porque iam começando a produzir, vendiam, o dinheiro entrava, a
gestão era real, era gestão efectivamente dos stocks, era gestão do dinheiro que tinham
em caixa, o design era feito para produzir colecções que de facto iam ser mostradas em
feiras, isto durante a formação, nós nunca faríamos uma formação de sete horas em sala,
como agora, portanto, eu também acho que há um problema de modelo, não tem apenas
a ver, trabalhar com públicos, que são públicos problemáticos e arranjar formações de
sete horas em sala, à partida quer dizer, é arranjar lenha para se queimar, aí há um
problema que é um problema de concepção, mas nós somos obrigados, não podemos
fazer doutra maneira, tentamos que o formador seja o melhor possível, tentamos que
sempre que possível a componente prática esteja presente, mas esta formação não podia
ser feita assim, há um problema que é estrutural, e é de modelo e tem a ver com a
política.
Entrevistador - Uma outra questão que tinha aqui para lhe colocar era se em sua
opinião os cursos EFA poderão funcionar de forma diferente consoante as
entidades a que eles acontecem, se tem informação que me possa responder a isto,
ou seja será a mesma coisa o curso EFA funcionar numa associação como a APD,
como o IEFP, seja lá onde for, uma entidade privada de formação profissional?
474
Entrevistada - Eu não acho tanto importante, não é tanto importante a natureza da
entidade é a sua filosofia e de certeza que há grandes diferenças e eu já fui a sessões
públicas dum curso EFA feito em Faro por uma entidade que vem de Lisboa, é uma
entidade formadora, mas faz formação excelente tem trabalhado com a Misericórdia e
tudo, eu deu-me a ideia pelas apresentações que vi que aquela entidade trabalha muito
bem e é uma entidade excelente, portanto uma entidade especializada em formação, mas
quer dizer vão para ali, é de Lisboa mas mete uma equipa cá em baixo a trabalhar, não
são formadores que vêm cá fazer uma formaçãozinha e depois desaparecem que não
têm mais contacto, é uma equipa que está aqui em permanência três vezes por semana a
trabalhar e tal, e que de facto cria ali uma empatia com as pessoas portanto eu acho que
o mais importante ai nem será a natureza da entidade mas sim a sua filosofia,
certamente que se a filosofia for a filosofia da educação de adultos é uma coisa, se a
filosofia for uma filosofia de formação profissional tecnocrática é outra, e de certeza
que os resultados são muito distintos num caso ou noutro.
Entrevistador - E em relação às escolas tem uma percepção?
Entrevistada - Os cursos nas escolas, eu nunca lidei com nenhum curso percebe,
portanto eu suponho porque já tenho estado em reuniões de CNO com coordenadores e
com formadores de escolas e tenho visto, parece-me que há escolas que estão a trabalhar
muito bem, parece-me, por exemplo eu vi, falei com o director da, da Escola Secundária
em Loulé, uma pessoa que eu conheço o Fernando e vi o entusiasmo que ele tinha
relativamente à profissão, à formação mesmo profissional, mesmo dos miúdos, quer
dizer que ele tentava criar condições que efectivamente para agarrar aquelas criaturas
que não tinham nada a ver com a escola e colocá-las numa situação que era uma
situação real de aprendizagem, portanto estou convencida que uma escola assim, uma
escola a funcionar dessa maneira, pode conseguir também bons resultados, agora tudo
depende repare, relativamente a CNO portanto, eu suponho que EFA não será muito
diferente de CNOS. Eu conheço CNO em escolas, em que a escola aceitou que a equipa
era uma equipa de pessoas a full time e portanto tratou de arranjar professores que estão
a 100% no CNO, estão inteiramente disponíveis para o CNO, e temos, e conheço CNO
de escolas em que o formador tem 3 horas do seu horário que vai ao CNO, imagine o
que é que isto é em termos, a pessoa adulta tem para estar com aquele formador aquela
hora, mais nada, portanto não é uma pessoa, nós aqui quando aparece um adulto, uma
pessoa adulta que tem um problema, pode chegar aqui, a formadora vai ter com ela a
475
qualquer hora do dia, agora se é um formador que apenas tem entre as 3 e as 5 às
quintas-feiras, tem que ser entre as 3 e as 5 as quintas-feiras, e portanto há escolas que
funcionam de uma maneira e há escolas que funcionam doutra, se isto é verdade para os
CNO também deve de ser verdade para os cursos EFA, agora eu não conheço curso
EFA nenhum directamente e estou convencida que deve de haver grandes diferenças
mesmo entre cursos EFAS feitos por diferentes escolas. Portanto, é o que lhe digo, a
questão da filosofia, saber se, e já vi isso em CNO também, CNO que têm formadores
que estão lá e que consideram que isso é um ensino secundário, e portanto tem um
ensino normal, tem a formação normal que é o que se passa dentro da sala de aulas, e
depois vão fazer uma coisa desqualificada que é no CNO e certamente vão para um
curso EFA também com essa posição que vão fazer uma coisa desqualificada, irão
certamente para o curso EFA também, isso marca completamente a diferença, quer
dizer, porque a pessoa adulta que está diante deles capta perfeitamente isso, eles nem
precisam de abrir a boca quase para se perceber isso, portanto é saber, agora, repare,
quer dizer, um processo destes exige a um professor uma postura completamente
distinta da que ele tem habitualmente, mas também tenho percebido que esse desafio
que é lançado a alguns professores está a ter efeitos muito interessantes dentro das
próprias salas de aulas, quer dizer um professor que passa por um CNO ou que passa
por um EFA aproximando-se do que é a abordagem da educação de adultos vai depois
para dentro da sala de aulas com uma postura diferente, pelo que, eu que até que era
relativamente negativa, eu tinha uma posição um pouco negativa relativamente há
presença dos CNO dentro das escolas, porque achava que iriam escolarizar
completamente os processos, hoje em dia não tenho uma posição tão negativa porque
penso que em alguns casos há a possibilidade, pode haver a possibilidade de escolarizar
um pouco o processo, mas também há possibilidade de desconstruir o próprio processo
escolar e que em alguns casos isso poderá, embora em pequena escala ainda, mas que
em alguns casos isso poderá estar a acontecer, dou-lhe um exemplo em concreto, por
exemplo, Silves, eu vejo que o CNO de Silves funciona de uma maneira que é, eles
interpelam-se imenso e portanto é impossível quando uma pessoa passa uma vez pela
educação de adultos e é verdadeiramente interpelada, essa pessoa não vai ser professor
nunca mais, mesmo dentro duma escola da mesma maneira, portanto há toda a
vantagem nesse processo, compreende.
476
Entrevistador - Tinha aqui duas questões sobre o trabalho dos mediadores dos
cursos EFA…
Entrevistada - Eu falo-lhe muito ao lado ou estou-lhe mais ou menos?
Entrevistador - Não, não, está a ser muito útil, muito interessante. Na sua opinião
de que modo é que é importante o trabalho do mediador no curso EFA?
Entrevistada - Do mediador?
Entrevistador - Do mediador. E se esse trabalho do mediador ou da mediadora
pode também na sua percepção, se acha que isso pode diferir nas diferentes
entidades onde o mesmo onde trabalha, falar da importância…
Entrevistada - Portanto, em relação a diferir eu dou-lhe a resposta que dou para o
outro, quer dizer, se o curso funcionar com uma perspectiva de educação de adultos,
certamente o mediador vai funcionar também numa forma diferente independentemente
da natureza da entidade que acolhe ou promove esse curso. Relativamente à função do
mediador isso sim é importante, a questão é, o mediador era o tutor que era uma figura
que devia de existir nas universidades e por aí adiante, e nas escolas, no fundo, quer
dizer, um mediador, devia actuar a diversos níveis, quer dizer, deve de assegurar a
mediação, desde os aspectos mais logísticos, compete-lhe, conseguir uma verdadeira
integração da equipa, portanto, articulação entre os diversos elementos da equipa
formadora, o conseguir uma verdadeira integração do conjunto de formandos, portanto e
é fundamental isso, o papel de acompanhamento de cada formando, o papel de
acompanhamento do formando para que ele faça a integração das diversas componentes
de formação, o papel, é um tutor, e a esse nível devia de haver tutores nas escolas
porque tudo isso é necessário, aliás quando os miúdos saem da escola primária, portanto
do primeiro ciclo e passam ao segundo ciclo perdem-se, perdem-se, com aquela, passam
de um professor ou de uma professora para um conjunto, falta essa figura, muitas vezes
seria o responsável de turma, o não sei o quê, o professor, portanto que é responsável de
turma, só que ele acaba por não ter tempo para essa proximidade, mas era necessário
haver essa figura que ajuda a articular toda a equipe formadora, que ajuda a transformar
num colectivo o conjunto de formandos e formandas e que faz o acompanhamento
individualizado de cada um dos elementos em formação para que ele possa
efectivamente transformar toda aquela informação que vai recebendo, para que ele
477
possa efectivamente transformar aquilo em conhecimento e para que ele, para que ele
consiga transformar aquela estadia na escola e naquele ano num processo
verdadeiramente formativo, portanto não era apenas nos cursos EFA que eles deviam de
existir, mas é evidente que os cursos EFA são imprescindíveis, deviam existir em todos
os processos formativos, é fundamental essa figura, é um tutor que nas universidades
Inglesas existe, não é? Os tutores. E não sente isso mesmo no ensino superior que era
importante que os professores tivessem essa figura, o padrinho ou a madrinha.
Entrevistador - Hum, hum nós tentamos ali na Universidade do Algarve mas não
há uma cultura disso e acabou por se desfazer.
Entrevistada - E as pessoas andam perdidas, às vezes…
Entrevistador - Talvez de ambos os lados não há uma prática cultural que possa
sedimentar e fazer e portanto, aquilo morreu.
Entrevistada - Mas é uma pena não é? Porque ao fim ao cabo essa pessoa é, quer dizer,
é uma figura quase paternal ou maternal, mas é a pessoa que vai acompanhar, é o
padrinho, é a madrinha, é a pessoa que ajuda aquela pessoa a progredir, a avançar, a
arrumar, a fazer o seu portefólio, a efectivamente sedimentar as coisas que lhe vão
chegando, a organizá-las, é a pessoa que de facto, a pessoa que ajuda a dar esse salto
para o metaconhecimento, e diz a minha vida, está aqui isto, o que é que isto tem a ver
comigo, o que é que eu gosto, o que é que eu não gosto, o que é que eu gostava, quais
são as minhas competências, em quê que eu vou ter que insistir, esta parte aqui em mim
é fraca então eu se calhar devia de fazer aquela opção, também isto é mais importante
quando há mais possibilidades em termos de opções, eu deveria reforçar este aspecto,
não, este aspecto decididamente está muito vulnerável, agora isto aqui já está bem,
agora vou prestar mais atenção a isto, as pessoas precisam de apoio, ainda mais quando
chegam há universidade sem qualquer preparação de ensino.
Entrevistador - Tinha aqui um conjunto de questões, em relação há iniciativa
Novas Oportunidades e ainda em relação aos cursos EFA, qual é a sua opinião em
relação à Iniciativa Novas Oportunidades, do ponto da iniciativa na sua
globalidade, qual é a sua opinião face à iniciativa?
Entrevistada - Repare, a iniciativa Novas Oportunidades, eu tenho sempre referente a
proposta política que a comissão que foi, o grupo de missão que foi orientado pelo
478
Alberto Melo, a proposta que ele apresentou tinha dez medidas não é? Dessas dez
medidas avançaram quatro, e portanto foram feitos os cursos EFA, foram feitos o que se
chamava na altura os cursos “Saber Mais”, não, as “Acções Saber +”, eram os cursos
EFA, eram os Centros de RVCC, qual era a outra coisa, havia? Eram os clubes “Saber
Mais”, mas só foram feitas uma ou duas experiências, só avançaram quatro em dez,
uma outra medida que ainda chegou a ser feita num ano que foi, ou dois, que era um
concurso nacional, avançaram cinco, os clubes nunca foi uma prática sedimentada, as
“Acções Saber +” acabaram por se transformar nas UFCD e já muito mais organizadas
e muito mais, pronto, já tendo em vista o processo de certificação, com vantagens ao
nível da padronização, portanto, tudo aquilo corresponde já a uma taxonomia e portanto
permite mais facilmente avançar na certificação mas ao mesmo tempo fica tudo muito
fragmentado em tijolinhos portanto, pode haver alguma dificuldade em termos de
integração, o que é que ficou de facto com peso, os cursos EFA e os Centros de RVCC,
as UFCD era qualquer coisa que avançaria mesmo, mas bom, passando, UFCD, os
cursos EFA e já não os centros RVCC mas os CNO, são as três grandes coisas não é?
Digamos que foi uma política subordinada a uma ambição política de um PrimeiroMinistro, portanto que queria realmente mostrar serviço e portanto ter um milhão de não
sei o quê, foi uma politica extremamente voluntarista, o ela ser voluntarista eu não acho
nada mal, o ter-se fixado uma meta ambiciosa também não acho mal, o que eu acho mal
é que não se dá, não se deram os meios à altura dessa meta e durante anos e anos tentouse ignorar que era impossível pelo menos publicamente, ignorou-se que era impossível
cumprir essa meta, foi sempre fazendo pressão e fazendo conta que era sempre possível
cumprir essa meta, e foram sempre mantendo as metas para os Centros o que levou
evidentemente, o que instalou uma concorrência desenfreada entre os Centros, o que
levou, o que atrasou claramente a articulação entre os Centros que era essencial, porque
repare-se, estão todos preocupados em atingir as suas metas cada um trata de si, ora a
nível da região era fundamental que houvesse uma articulação para também, não era
necessário termos tido o número de centros que tivemos no Algarve e repare, por
exemplo, eram sempre criados Centros sem qualquer consulta aos Centros já instalados,
e eram criados nos sítios que eventualmente nem sequer eram, em alguns casos mais, os
mais indicados, mas pronto, não, as metas levaram a uma enorme concorrência entre os
Centros, atrasaram o processo de articulação entre os centros do que teve grandes
desvantagens, aqui na região houve um trabalho, houve um investimento grande feito
pela Direcção Regional e eu penso que teve esse mérito e que deve de ser reconhecida
479
no sentido de aproximar os centros e no sentido de favorecer uma maior articulação
entre eles e portanto até é possível que aqui na região estejamos mais avançados do que
noutras regiões do país, não estou lá para verificar, mas tenho que reconhecer que nós
temos feito muitas reuniões entre nós e que se hoje em dia a iniciativa já é nossa quem
efectivamente, quem lançou essa dinâmica foi a Direcção Regional de Educação,
balanço da politica, quer dizer, há coisas muito boas, pela primeira vez a Educação de
Adultos teve uma política pública de grande impacto, pela qual o Governo dava a cara e
eu acho que isso é positivo, mal ou bem, quer dizer, havia quase quinhentos Centros a
trabalhar na área de Educação de Adultos em Portugal, foram mobilizadas muitas
escolas e penso que em alguns casos as escolas acabaram por ser interpeladas pelos
centros existentes no seu seio, pode não ser desvantajoso, foram mobilizadas muitas
empresas e penso que isso também poderá também ter sido interessante, houve muitas
empresas que se interessaram pela politica das Novas Oportunidades, que deram
facilidades aos seus funcionários e às suas funcionárias para se certificarem e
concluírem processos de RVCC, acho que isso também teve alguma vantagem, acabou
por pôr o sector empresarial a falar em Educação de Adultos e na qualificação dos seus
activos, coisa que também não é muito habitual em Portugal, penso que isso é positivo,
quinhentos pensando em, quinhentos Centros e em uma média de dez pessoas, quer
dizer, houve cinco mil pessoas para já não falar dos cursos EFA mas quer dizer, houve
milhares, milhares de técnicos e técnicas que estiveram a trabalhar especificamente em
Educação de Adultos, aspectos negativos tudo isto acabou por se traduzir, por resultar
nos milhares de pessoas adultas que passaram pelos centros, milhares largos de pessoas
adultas e pelos milhares largos de pessoas que foram certificadas e um grupo grande de
pessoas que já entrou na universidade penso que isso é bastante interessante e continua
em movimento, pessoas que fizerem o 9º ano e depois tentaram fazer o 12ºano,
portanto, as pessoas de facto interessaram-se e quiseram, aspectos negativos penso que
fomos, é verdade, que esta bandeira foi um bocado também utilizada pessoalmente pelo
Governo não é? Para fins eleitorais, penso que em determinada altura estava mais
preocupado com a quantidade do que com a qualidade dos processos, penso que as
equipas dos CNO não foram tratadas, não foram reconhecidas, não foram acarinhadas
como deveriam de ser, penso que o facto de em alguns casos pela, pela grande pressão
que existia, pelo facto de ter havido processos que foram menos correctos levou a uma
certa descredibilização do trabalho de muita gente e isso é muito negativo, nós sentimos
magoados de cada vez que vemos que existem ou empresários, ou jornalistas, ou
480
políticos a dizer que isto é tudo uma merda, quer dizer é o que eles dizem, que isto não
vale nada, aliás o próprio actual Ministro não é? Isto não são, isto não é sério, isto não é
um trabalho sério, eu acho que é terrível, imagino as pessoas adultas que passaram por
aqui, que se sentiram valorizadas e que obtiveram um diploma e que lutaram por ele,
como é que elas sentiram quando ouvem e que sabem o que tiveram que fazer, como é
que elas se sentirão, ou mesmo as pessoas que tiveram em cursos EFA devem sentir-se
muito mal mas penso que isso também resultou do facto de ter havido uma pressão
excessiva que levou alguns centros efectivamente a facilitar os processos não é? E
provavelmente permitiu-se que se criassem CNO em entidades e em instituições que
não tinham digamos perfil adequado para efectivamente fazer funcionar uma estrutura
deste tipo, e também que a formação que foi dada pela ANQ às equipas não foi de boa
qualidade não é? Porque as pessoas devem ter, eu suponho mesmo que as entidades,
onde elas estão, onde os CNO estão inseridos podem fazer uma grande pressão, mas se
as equipas estiverem bem formadas elas próprias reagem um bocado a essa pressão e
fazem com que a entidade vá evoluindo no seu posicionamento, agora se essas equipas
não foram formadas suficientemente, se elas próprias não sabem o que é um processo de
Educação de Adultos, é evidente que elas passam a ficar completamente vulneráveis
quando uma entidade onde estão exerce sobre elas pressão para cumprirem metas não é?
E há histórias tristes, a gente sabe, meia volta ouve não é? De alguém que foi a um
CNO e que não foi aceite nesse CNO porque se considerava que não tinha perfil e
passados dois três meses aparece certificada num CNO vizinho, portanto, é evidente que
há situações que foram de facto de facilitismo, eu penso que são excepções que não são
a regra, mas há casos desses e também sabemos que há pessoas que compraram o
dossier, mas repare por exemplo, a quantidade de vezes que nós avisamos a ANQ vão
ver o tal site assim, assado, está na internet a pessoa a oferecer os seus serviços para
produzir os dossiês, e muitas vezes a ANQ demorava um tempo indefinido a respondernos a estas nossas, nós dizíamos, nós não estamos em condições de fazer uma
investigação mais aprofundada, mas vocês estão e devem de fazer essa investigação e só
passado meses é que nos tínhamos um emailzinho a dizer, já fomos ver isso não é?
Bom, eu suponho que esses casos e que esses casos terão sido facilitados e em alguns
momentos é bem possível que se tenha fechado um bocado os olhos a esses casos
porque havia exactamente a pressão das metas não é? E que isso foi muito mau e
prejudicou muita gente e continua a prejudicar. Repare, estamos numa situação habitual,
é evidente que há Troika, é evidente que há as dificuldades financeiras, é evidente que
481
há um desejo enorme de cortar, e cortar custos, mas há também há partida um Ministro
que mesmo antes de ter todas estas dificuldades já tinha numa posição que era
absolutamente contra esta política, portanto nós arriscamos neste momento a ter a
política reduzida a um mínimo, exactamente porque há uma posição muito negativa e
digamos que essa posição negativa, penso eu, que embora seja tendenciosa, essa posição
negativa fundamenta-se em alguns casos, acaba por ter algum fundamento em casos
reais, e casos reais que foram propiciados por pressão excessiva, sem um cuidado
idêntico em acautelar que efectivamente certas coisas não se iriam passar, esses
aspectos são negativos, quer dizer nós agora vamos andar para trás em termos de
educação de adultos, vamos andar ainda mais para trás, já tínhamos andado para trás,
antes, acho eu, entre o momento em que foi, em que avançou a ANEFA e o momento
em que foram lançadas as Novas Oportunidades e agora vamos ainda mais para trás, é
pena.
Entrevistador - No seguimento do que me está a dizer, como é que perspectiva o
futuro quer do CNO quer dos cursos EFA?
Entrevistada - Cursos EFA no Algarve não vai haver, portanto, já sabemos. No próprio
dia em que soubemos tínhamos telefonado à ANQ porque não estávamos a obter
notícias e tínhamos feito pressão e disseram-nos “vão abrir as candidaturas” e nesse
mesmo dia as candidaturas efectivamente abriram, mas Algarve estava de fora, nem
sequer nos passaram essa informação, disseram-nos só que as candidaturas vão abrir,
em relação aos CNO não fazemos a mínima ideia se vão abrir ou se não vão abrir, eles
ainda, as UFCD ainda vão aqui no Algarve, os CNO não sabemos, é possível que
abram, mas também é possível que abram apenas por exemplo nas escolas e no Instituto
de Emprego. O Instituto de Emprego que está dentro do orçamento do Instituto de
Emprego, e escolas porque podem fazer a coisa mobilizando apenas alguns professores
e completando horários. É bem possível, eu estou em crer, especialmente aqui no
Algarve, não posso dizer isto muito alto, aqui dentro, nós somos pagos pelo orçamento
de Estado, será que eles vão manter algum CNO daqueles que estão inteiramente pagos
pelo orçamento de Estado e em que todos os técnicos têm que estar a ser pagos
integralmente pela política, portanto não estão no interior dos orçamentos da escola,
acho difícil, tal como tenho visto a cortar, a cortar, não tenho grandes expectativas devo
confessar. E repare, quer dizer, isto teve uma série de avaliações, o Ministro não quer
saber, portanto ele acha que todas essas avaliações são desonestas, francamente, quer
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dizer, podia ter um bocadinho mais de respeito pelo Roberto Carneiro, é um cientista
suponho muito reconhecido e respeitável em termos científicos e em termos éticos, não
é? Não tem respeito nenhum, ele pediu uma avaliação como se não houvesse várias
avaliação feitas, como se não houvesse um conhecimento, uma quantidade de
delegações que vieram de outros países da Europa, da Comunidade Europeia, da União
que vieram cá ver o que estávamos a fazer, ele agora vai poder ter o seu, a sua
avaliação, quer liquidar não é?
Entrevistador - Tinha, tinha aqui uma pergunta na sequência do que a Penélope
acaba de dizer, portanto, mas acaba por ir ao encontro das minhas preocupações
não é? Que era, o que é que acha da opinião que a Iniciativa Novas Oportunidades
promove o facilitismo?
Entrevistada - Quer dizer eu penso que a Iniciativa Novas Oportunidades, quer dizer,
há aqui diferenças há, por um lado o CNO, pensando sobretudo em termos de
certificação, há por um lado o CNO, há por outro lado os EFA não sei como é que se
pode falar de facilitismo relativamente aos EFA quer dizer, são cursos longuíssimos e as
pessoas fazem imensas horas de formação, é uma formação integrada, quer dizer para
isto existe o mediador, existe a preocupação de realmente de ligar todas aquelas
componentes, existe uma área praticamente de projecto, quer dizer que é realmente uma
área de articulação de tudo aquilo, existe um estágio integrado, eu acho que como
formação profissional certificante é difícil ir mais longe, portanto, a acusação de
facilitismo parece-me má vontade decididamente, decididamente. Relativamente aos
CNO o que lhe posso dizer é que nós, nós actualmente tendo de cumprir as metas,
temos que cumprir, efectivamente temos que espremer os adultos, porque estão a chegar
aos CNO pessoas que não são pessoas mais indicadas, agora se as metas não forem
estas, se os CNO existirem como portas de entrada, que fazem diagnósticos a sério, aliás
a nossa proposta feita pelos CNO da região e que mandamos já para a ANQ, portanto
tivemos aí a reunião de acompanhamento e já passamos essa proposta formalizada à
ANQ é que toda a gente entrar sem processo, não é apenas ter um diagnóstico e depois
há uns que entram sem processo, entram todos sem processo, e fazem balanço de
competências e depois ficam onde ficarem e a seguir é que são encaminhados, mas
entram todos em processo de balanço de competências, a sério, porque achamos que o
diagnóstico, não é num diagnóstico e numa situação em que a pessoa esta sob pressão e
num tempo curtíssimo que é possível efectivamente avaliar quais são as competências
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que aquela pessoa tem, e se ela, se é melhor enviá-la para um EFA, se é melhor enviá-la
para formações modelares, se é melhor enviá-la para um curso assim, assado, não. As
pessoas devem de passar pelo diagnóstico e entrar em processo de balanço de
competências e depois a seguir vê-se para onde vão, se os CNO forem entendidos dessa
maneira, sim senhor e depois haveria um número muito pequenino de pessoas que iam
para o processo de RVCC porque as que têm perfil efectivamente para fazer a sério sem
estarem a ser puxadas e empurradas e espremidas, as que têm efectivamente perfil para
fazer um processo de RVCC são entre 10 a 20% das pessoas que actualmente passam
por um processo de RVCC, penso que isso seria mais justo, agora, teria que haver mais
cursos EFA, teria que haver mais respostas formativas do que as que existem
actualmente, teria que haver, agora que nós continuamos a ter imensa gente não
qualificada, continuamos, e os miúdos continuam a não sair qualificados da escola, que
nós precisamos de uma política de Educação de Adultos e não deveria ser o parente
pobre, é uma tristeza, é uma tristeza isso, porque é um entendimento tão estúpido de
dizer assim, ah nós vamos começar, então começamos pelos mais pequeninos que vai
ser a geração, os mais pequeninos se não tiverem pais que em casa os apoiem, os mais
pequeninos podem-se perder completamente, faz uma diferença completa ter um pai que
se interesse, um pai que é capaz de lhe ler uma história, um pai que é capaz de o levar
ao teatro ou ao cinema, ou que é capaz de lhe dar um jogo educativo, um pai que é
capaz de chegar, quando ele chega a casa dizer então que trabalhos é que tens que fazer,
senta-te lá aqui vamos olhar, um pai que sabe o horário dele, um pai que vai falar com o
professor, com o director de turma e muitos desses pais podem fazer-se passando por
um processo de Educação de Adultos, portanto não podemos investir apenas nos
meninos, temos que investir nos pais dos meninos, porque os meninos não existem no
éter, os meninos existem dentro da família e a família pode destruí-los completamente
por mais que a escola faça, destruí-los enquanto pessoas que fazem um percurso escolar
interessante, portanto é fundamental, não é? As aprendizagens que eles fazem em casa,
não são só em termos de conhecimento, mas são aprendizagens em que, também fazem
aprendizagens em termos de atitudes, em termos de valores e aí os pais têm tido um
papel essencial e se esses pais não tiverem eles próprios preparados para assumirem
esse papel as crianças podem-se perder por maior investimento que se faça na escola.
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Entrevistador - Tinha aqui uma pergunta no seguimento do que me estava a dizer
novamente, se considera que a iniciativa das Novas Oportunidades têm efeitos na
vida dos adultos e em que aspectos da sua vida que considera isso?
Entrevistada - Olhe, em termos de emprego pelas coisas que nós temos feito há alguns
resultados, mas não são os mais importantes, mas há alguns resultados, há pessoas que
vêm fazer o processo porque necessariamente aquela profissão em questão, aquele posto
que ocupa neste momento exige que ele tenha o 9º ano ou tenha o 12º e portanto tem
que ser, há pessoas que estão na Câmara e que para progredirem têm que obter diplomas
e portanto, evidentemente, há pessoas que depois de fazerem passarem por um processo
destes vão para a universidade e é evidente que isso lhes vai abrir novas perspectivas em
termos profissionais, mas penso que as mudanças maiores nem se passarão aí, a esse
nível, poderão estar, bem poderão ter efeitos a nível profissional em termos de a pessoa
tem uma atitude diferente na sua profissão e provavelmente terá melhor na sua profissão
porque percebe melhor o que esperam dela, percebe melhor o que pode modificar para
poder corresponder ao que lhe é pedido, mas também percebe aquilo a que não deve de
corresponder porque está no seu direito, percebe quais são os seus direitos e percebe
melhor quais são os seus deveres e isso é vantajoso também em termos de mercado de
trabalho, penso que tem efeitos ao nível da sua vida familiar, na educação dos filhos, na
relação com o cônjuge, portanto se a pessoa passou a valorizar-se de outra maneira, se a
pessoa passou a ter uma consciência diferente do que é e do que vale certamente que
isso vai ter um impacto real na relação com o seu companheiro ou com a sua
companheira, portanto e isso pode ditar mesmo em alguns casos uma perfeita, uma
completa reformulação da sua relação, se estava numa situação de completa submissão
a pessoa pode achar que não é isso que quer para a sua vida e pode mesmo pôr em causa
a relação que tem ou pode digamos pôr em causa mas pô-lo em termos que leva a outra,
a outra pessoa com quem esta a reequacionar o seu posicionamento e a alterá-lo não é?
Isso pode ter alterações também nas relações que tem com este, no seu círculo de
amigos, na forma como ocupa os seus tempos livres, nas associações a que pertence, eu
acho que sim, que tem efectivamente, porque se se mexe numa pessoa, se se mexe,
pronto, se se criam condições para que uma pessoa se reposicione e para que uma
pessoa, se pense que isso vai ter efeitos em todos os aspectos da sua vida, de tal maneira
que, sabe o que é que eu penso e as vezes já tenho dito isso e dissemos isso à ANQ, se
vocês queriam fazer a sério o processo de formação para os elementos das equipas de
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um CNO vocês começavam por fazer um, levavam todos elementos da equipa a fazer o
seu PRA, isso é que era o processo, o verdadeiro processo formativo, e portanto numa
posição de, portanto colocar a pessoa numa posição idêntica não é? Portanto ela própria
repensar a sua vida, o que aprendeu, em que condições aprendeu, o que é que foi
obstáculo às aprendizagens, o que é que favoreceu a aprendizagem, que salto deu
quando fez alguma aprendizagem, quando se lhe abriram determinadas perspectivas,
como é que evoluiu o seu relacionamento com amigos, na família, no trabalho, quando
teve uma dificuldade, que alterações é que isso produziu em todos esses níveis, quando
a pessoa pensa sobre isso a pessoa tem uma outra luz sobre a sua vida, tem uma outra
imagem de si própria e isso leva-a depois a actuar de forma diferente em cada uma
dessas áreas da sua vida, isso era importante para os elementos do CNO, infelizmente
não foi essa opção em termos formativos que se fez mas digamos nós damos de alguma
forma, criamos formações para que as pessoas adultas que entram em processo façam
esse, cumpram, digamos essa, o que começa por ser uma via-sacra mas que depois se
torna numa via alegre, jovial, porque a pessoa se descobre enquanto pessoa e começa a
perceber que conseguiu muito mais do que pensava, que vale muito mais do que
suponha, que fez, que sabe muito mais do que imaginava e portanto ela a partir daí
certamente é capaz de se projectar no futuro de uma forma diferente e isso tem, isso tem
reflexos em todos os pontos da sua vida não é? Se o processo for bem feito é evidente
que isto marca a diferença, quem trabalha com histórias de vida, e quem trabalha com
este processo sabe como isto pode ir fundo, o Alberto até me disse há pouco tempo que
agora que entrou na sua reforma gostava de fazer o seu PRA, acho que sim se ele
quisesse vinha cá chatear só para fazer o PRA, ele está a fazê-lo sozinho, anda a ver os
artigos para publicar ao longo dos anos ele anda entretido e é isso, porque nós não
temos tempo a maior parte das vezes para fazer esses balanços e esses balanços são
essenciais não é? Pronto, eu fecho esta porta, deixo e ficou tudo arrumado e portanto
agora esta casa, pronto foi esta casa que eu habitei, tem este quarto, aquele, aquele
outro, aqui e eu vivi isto e vivi aquilo, mas eu saio desta casa fechando a porta, ficando
com uma imagem e eu posso caminhar para outra coisa, não levo fantasminhas, não
levo rabinhos a arrastar, não está arrumado, faz sentido, tem perspectiva, passei por
aqui, eu aceito isto, foi isto, foi assim, eu percebo porquê que foi desta maneira, se
calhar aqui poderia ter sido, eu gostaria mais se tivesse sido assim mas não pode ser,
porque eu ainda não sabia isto, foi importante ter aprendido isto, agora tenho que me
lembrar, eu preciso sempre, quando tiver novamente numa situação, eu vou-me lembrar,
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que é importante numa situação destas ir pedir um conselho a uma pessoa que já tenha
passado, porque naquela altura se eu não tivesse feito isto, isto tinha corrido muito mal,
portanto quando a gente faz este percurso há uma clareza que se obtém e eu posso voltar
costas tranquilamente e olhar para a frente e dizer realmente este é o primeiro dia do
resto da minha vida, eu tenho o meu passado arrumado e eu estou em paz com ele, e eu
acho que um processo destes é isso.
Entrevistador - Pus-me aqui a imaginar o meu próprio processo…
Entrevistada - Não é? É que a gente nunca faz e era giro.
Entrevistador - Bom estamos quase aqui a caminhar para o fim nas últimas
perguntas, há aqui duas questões que já abordou, como é que tem sido a relação na
APD com as Instituições Estatais que regulam a iniciativa Novas Oportunidades?
Entrevistada - Tem sido boa, mas somos daqueles que em reunião está sempre, sempre
a dizer não, não, isto não devia de ser assim.
Entrevistador - E o que é que acha que poderia ser melhorado, de alguma forma
isto já tinha sido abordado, nessa relação com as instituições do Estado que
regulam a iniciativa Novas Oportunidades e os cursos EFA, o que é que podia ter
sido benéfico?
Entrevistada - Francamente, é como em todas as políticas, por favor, consideram-nos
interlocutores, isto é, o que a Direcção Regional tentou fazer, portanto encontrem
espaços, que são espaços em que pessoas que estão a nível central e pessoas que estão
efectivamente no terreno se encontram e dialogam, para que eles percebam, eles sabem
qual é o referencial, está ali tudo, mas não fazem a mínima ideia como é que aquele
referencial se operacionaliza no dia-a-dia, ouçam-nos, porque a gente é que pode dizer,
isso não funciona aqui, sabe porquê, olhe, quando você aqui diz isto assim, assim e
assado, sabe o que é que as pessoas entendem, entendem outra coisa completamente
diferente, portanto se a gente aqui em vez de usar essa expressão pudesse usar esta,
porquê que elas entendem, porque com a experiência que têm normalmente orientada
desta forma têm tendência para imediatamente traduzir esta frase desta ou desta forma,
evidente que quem está no gabinete em Lisboa e que não está a lidar coma as pessoas
adultas que procuram os Centros de Novas Oportunidades é natural que isso não ocorra,
portanto, tem que haver momentos, tem que haver espaços e tempos em que os técnicos
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que são responsáveis por coordenar e orientar a aplicação da política se encontram com
quem efectivamente operacionaliza e ouçam, quer dizer expliquem porque é que
fizeram determinadas opções abertamente e ouçam as dificuldades e que em conjunto se
tente conceber possíveis respostas, sempre também, nós não sabemos muitas vezes os
condicionamentos que têm quem esta a gerir uma politica, portanto temos que perceber,
portanto, agora, não vamos poder mexer nos orçamentos, não há mais dinheiro, vamos
ver, não é possível não há mais dinheiro, mas será que era possível fazer, vocês sabendo
que não há mais dinheiro que solução é que propõem, vamos ver, mas tem que ser
assim, tem que ser na interlocução, e a interlocução é o que não existe neste país, quase
nunca e nunca quando são entidades que supostamente estão a níveis diferentes, porque
estes níveis são considerados níveis na vertical, portanto e quem está a gerir uma
política não tem como interlocutor quem está a operacionalizar essa política, como se,
porque não vai baixar a este nível, porque há essa ideia de que isto são níveis
hierárquicos assim na vertical, quer dizer, há um entendimento muito limitado não é?
Porque a política pode, a história do orçamento participativo é a mesma coisa, eu já
estive em reuniões em que o autarca disse assim, já assisti a uma, em que disse assim,
olhe, nós tivemos fizemos um corte de 30% para investimento e uma associação
presente disse, tudo bem, nós tínhamos aqui umas intenções, vamos cortar 30% nessas
intenções, porque a pessoa percebe, não há, pronto, eu logo proponho uma, agora se lhe
dizem apenas, não temos dinheiro, acabou, não damos, sem nenhuma explicação e se
vêm depois desbaratar dinheiro noutras coisas, porque nos tivemos pens para distribuir
aos adultos porque depois não funcionando mas foram distribuídas, nós recebemos uns
milharzinhos de pens multiplicando aquilo por quinhentos centros foram feitos milhões
de pens que não servem, que a maior parte delas não está a funcionar como deve de ser,
para isso gastou-se dinheiro, portanto e aí, é evidente quando nos dizem não há dinheiro
para, e depois não aceitamos muito bem esse tipo de resposta, tem que haver uma
interlocução, tem que haver, e quando se tomam decisões por exemplo, avançar para o
Secundário, avançar para a criação de novos centros e é preciso ver os que já estão no
terreno, não digo que tenham apenas em conta os que estão no terreno porque aí a sua
posição pode ser muito corporativa, tudo bem, mas têm que ter em conta quem está no
terreno, ter em conta a Direcção Regional de Educação, é vantajoso ter em conta a
AMAL e as Câmaras Municipais porque uma Câmara a dar apoio é bastante diferente
duma Câmara não dar apoio nenhum e uma Câmara por exemplo pode eventualmente
num sítio pode até estar disposta a fazer deslocações para assegurar o transporte dos
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adultos até ao Centro de Novas Oportunidades, portanto estas coisas têm que ser
pensadas desta maneira e não é estou em cima, olha mais quatro para o Algarve, toma
vão para ali, não pode ser assim, não deveria de ser assim, e portanto é a interlocução
que é necessária e que realmente este país não tem muita prática disso e quando se fala
em parcerias, não são efectivamente parcerias, são, nós somos pensados como
extensionistas do aparelho de Estado, extensionistas do aparelho de Estado,
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II Volume Anexos - 3 Junho 2013 João Eduardo Martins