LUCIANO DE CARVALHO
RELAÇÕES DE PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE E EXTENSÃO UNIVETRSITÁRIA
NA UFJF
2011
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
RIO DE JANEIRO
Programa de Pós-Graduação em Educação
RELAÇÕES DE PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
NA UFJF
LUCIANO DE CARVALHO
Orientadora: Prof.ª Drª. Inês Ferreira de Souza Bragança
Dissertação apresentada à Universidade Estácio de Sá, como requisito parcial para a obtenção
do título de Mestre em Educação
Rio de Janeiro
2011
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Programa de Pós-Graduação em Educação
RELAÇÕES DE PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
NA UFJF
Dissertação de Mestrado apresentada como requisito
para a obtenção do título de Mestre em Educação, pelo
Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro
Elaborado por
LUCIANO DE CARVALHO
Aprovado por todos os membros da Banca Examinadora em 20/junho/2011
BANCA EXAMINADORA
Prof.ª Drª. Inês Ferreira de Souza Bragança (Orientadora)
Universidade Estácio de Sá
Prof.ª Drª. Sônia Regina Mendes dos Santos (Coorientadora)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Prof.ª Drª. Helenice Maia Gonçalves
Universidade Estácio de Sá
Prof. Dr. Antônio Maurício Castanheira das Neves
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ)
RIO DE JANEIRO
2011
HOMENAGENS
Dedico este trabalho ao futuro,
à esperança,
às duas crianças:
Diego Domingos da Silva e
Lavínia Domingos da Silva.
Minha força, minha inspiração,
minha emoção.
AGRADECIMENTOS
Aos colegas de Mestrado da turma MINTER UNESA/UFJF/CTU, pela troca de
conhecimentos e pela convivência fraterna ao longo desta caminhada.
Ao Adriano Vinício da Silva do Carmo, pelo imprescindível apoio. Tão jovem e já tão
centrado na construção do seu futuro.
À Profª Maria Elizabeth Rodrigues, mais que pelas revisões, mas também pela presença
solidária, pelo incentivo, pela amizade.
Ao Prof. Romário Geraldo, mais que pelas portas abertas da Pró-Reitoria de Extensão da
UFJF, mas também pela forma atenciosa com que sempre me apoiou.
À Profa. Dra. Sônia Regina Mendes dos Santos, co-orientadora. Pelo jeito paciente,
atencioso e sempre bem humorado que me incentivou, me apoiou, me orientou.
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais – IF
Sudeste MG, Campus Juiz de Fora, através do seu Diretor, Prof. Dr. Paulo Rogério Araújo
Guimarães, pelo esforço por abrigar o convênio com a UNESA e viabilizar o MINTER.
...Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
Carlos Drummond de Andrade, (1946)
RESUMO
Esse trabalho objetiva investigar as formas de realização dos projetos de extensão
desenvolvidos em parceria externa, tanto com o setor público como com as entidades da
sociedade civil, tendo como parâmetro os aspectos que expressam e caracterizam o
compromisso social da Universidade em direção à formação dos estudantes, a produção de
conhecimentos e a emancipação social. O estudo foi realizado na Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF), que possuía no ano de 2010, 82 projetos e programas de extensão
cadastrados. A metodologia utilizada foi a análise documental e entrevista semiestruturada
realizada com os professores coordenadores e os correspondentes representantes das parcerias
externas de oito projetos, escolhidos por seleção aleatória, refletindo proporcionalmente as
áreas de conhecimento e os tipos de parceiros (instituições públicas ou sociedade civil). A
investigação ainda buscou verificar como se dá a aproximação da Universidade com as
instituições parceiras e os aspectos acadêmicos dos projetos, tais como a interdisciplinaridade,
a articulação entre ensino, pesquisa e extensão e a interação dialógica entre a Universidade e a
Sociedade. Concluiu-se por meio do estudo que, para os coordenadores de projetos, um dos
motivos para a realização de trabalhos em parceria está na formação diferenciada com o
aguçamento da capacidade crítica e visão cidadã dos estudantes extensionistas em relação aos
que não se envolvem com esta prática. Já na visão da maioria dos parceiros externos, as
atividades de extensão realizadas em comum com a Universidade trazem como maior
benefício a contribuição com a autonomia e a emancipação dos sujeitos alvos dos projetos. Os
aspectos da interdisciplinaridade e articulação entre ensino, pesquisa e extensão apresentamse como uma intenção não se consubstanciando em práticas expressivas para o
desenvolvimento do projeto.
Palavras-chave: extensão universitária, compromisso social, parceria.
ABSTRACT
This study aims to investigate ways of realization of extension projects developed in
partnership outside, both with the public sector as with civil society organizations, as standard
the features that express and characterize the social commitment of the University toward the
education of students the production of knowledge and social emancipation. The study was
conducted in Federal University of Juiz de Fora (UFJF), which had in 2010, 82 projects and
extension programs registered. The methodology used was documentary analysis and semistructured interviews conducted with head teachers and representatives of relevant external
partnerships of eight projects chosen by random selection, reflecting the proportion of
knowledge areas and types of partners (public institutions or civil society). The research also
sought to determine how is the approach the University with its partner institutions and the
academic aspects of projects, such as interdisciplinarity, the interaction between teaching,
research and extension and dialogic interaction between the university and society. It was
concluded by the study for the project coordinators, one of the reasons for undertaking work
in partnership in training is different with the sharpening of critical thinking and civic vision
of the extension in relation to students who do not engage with this practice. In the view of
most external partners, the outreach activities undertaken jointly with the University to bring
more benefit to contribution to autonomy and emancipation of the individuals targeted by the
projects. The interdisciplinary aspects and links between teaching, research and extension are
presented as an intention not embodied in expressive practices for project development.
Keywords: University Extension, Social Commitment, Partnerships.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................... ................................... 10
2. UNIVERSIDADE E SOCIEDADE: CONVERGÊNCIAS E TENSÕES …................ 16
2.1 Extensão Universitária: A Relação Universidade e Sociedade ….................................…....... 22
3. O OBJETO DA PESQUISA – A UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUZ DE FORA …......... 30
3.1 Apresentação dos Projetos de Extensão Pesquisados …........................................................... 33
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................................ 43
5 ANÁLISE DE DADOS …........................................................................................................... 48
5.1 Os processo de construção das parcerias ….............................................................................. 49
5.2 Sobre os Objetivos e Metas dos Projetos …............................................................................. 50
5.3 Formas de Participação …........................................................................................................ 52
5.4 Expectativas Sobre a Extensão …............................................................................................. 53
5.5 A Influência da Extensão nos Currículos …............................................................................. 56
5. 6 O Financiamento dos Projetos …............................................................................................ 62
5. 7 O Acompanhamento dos Projetos …...................................................................................... 64
5.8 Dificuldades e Entraves …...................................................................................................... 67
5.9 Influência na Formação das Políticas Públicas …................................................................... 72
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS …............................................................................................... 75
REFERÊNCIAS …......................................................................................................................... 80
APÊNDICES ….............................................................................................................................. 84
Roteiro das Entrevistas …............................................................................................................... 84
ENTREVISTAS............................................................................................................................... 85
Entrevista 1 …................................................................................................................................. 86
Entrevista 2 ….................................................................................................................................. 91
Entrevista 3 …................................................................................................................................. 97
Entrevista 4 …............................................................................................................................. .. 101
Entrevista 5 …................................................................................................................................ 109
Entrevista 6 …................................................................................................................................ 115
Entrevista 7 …................................................................................................................................ 121
Entrevista 8 …................................................................................................................................ 126
Entrevista 9 …................................................................................................................................ 133
Entrevista 10 ….............................................................................................................................. 139
Entrevista 11 ….............................................................................................................................. 143
Entrevista 12 ….............................................................................................................................. 149
Entrevista 13 ….............................................................................................................................. 155
entrevista 14 …............................................................................................................................. 160
entrevista 15 …............................................................................................................................. 163
entrevista 16 …............................................................................................................................. 168
11
1 INTRODUÇÃO
Ao longo de mais de três décadas envolvido com atividades de extensão como docente
da Universidade Federal de Juiz de Fora, lotado e atuando na escola técnica a ela vinculada,
vivenciei práticas extensionistas com bons resultados para o público alvo e para o ambiente
acadêmico. Defendo que, através da extensão, a universidade consegue mudar valores e
paradigmas no meio social. Esses aspectos consolidaram minha crença de que o envolvimento
da universidade com a sociedade civil pode promover sua emancipação, tanto individual
como coletiva. A universidade pode contribuir efetivamente com o processo de sua
organização e amenizar a aguda situação de desigualdade econômica e social do país e, ao
mesmo tempo, através da interação dialógica entre a universidade e a sociedade, característica
intrínseca da extensão, a academia poderá adquirir e apurar conhecimentos. Neste sentido,
Santos (apud FORPROEX, 2000/2001) escreve, em defesa da extensão como relevante
atividade acadêmica:
Numa sociedade cuja quantidade e qualidade de vida assenta em
configurações cada vez mais complexas de saberes, a legitimidade da
universidade só será cumprida quando as actividades, hoje ditas de
extensão, se aprofundarem tanto que desapareçam enquanto tais e
passem a ser parte integrante das actividades de investigação e de
ensino.
O que me moveu a desenvolver esta pesquisa abordando a extensão universitária foi o
entendimento de que a discussão sobre o papel social da universidade não é estéril e que em
países em desenvolvimento como o Brasil, tal discussão se depara com um forte argumento:
os sérios problemas sociais que devem ser vencidos e que apontam para a inexorabilidade do
envolvimento e comprometimento das universidades com a transformação sócioeconômica.
A contemporaneidade é marcada pelo acelerado desenvolvimento tecnológico. O
capital impõe alta competitividade nos processos de produção e na necessidade de capacitação
para a empregabilidade da população. A empregabilidade se traduz em apresentar vantagens
competitivas e todo diferencial valorizado pelo empregador tais como domínio de idiomas,
conhecimento avançado de informática, experiências acumuladas, cursos de aperfeiçoamento,
estágios realizados especialmente no exterior, etc.
A universidade se vê pressionada pela expectativa da sociedade, criada pelos novos
tempos, que a quer como instrumento de apoio a essas novas exigências. Santos (1999)
aponta que o drama da universidade na atualidade se deve à sua criação para ser, por
12
excelência, o lugar da reflexão e da crítica, mas o que se verifica agora é o desejo que ela se
coloque, de forma subserviente, a serviço dos interesses imediatos do desenvolvimento
econômico. Não defendo que a universidade se descole de seus objetivos originais, da busca
do conhecimento através da reflexão, experimentação e crítica, mas que considere
complementar e procure o equilíbrio entre a sua missão histórica típica da instituição e o
atendimento às demandas sociais contemporâneas. Tal posicionamento é defendido por Santos
(1998, p.102) ao afirmar que o maior desafio da universidade será “responder às mudanças
sociais e ao mesmo tempo manter as tradições universitárias”. Santos afirma ainda, em defesa
da extensão como relevante atividade acadêmica: Como apontava Teixeira (1998), ao longo
da história, a Família, o Estado, a Igreja e a Escola são quatro grandes instituições essenciais
que regem a vida em comum. Para ele a universidade (Escola) é entendida como uma das
grandes responsáveis pelo florescer da civilização ocidental.
[...] a história de todos os países que floresceram é a história da sua cultura e
a história da sua cultura é, hoje, a história das suas universidades. Sempre a
humanidade viveu utilizando a experiência do passado, mas essa experiência
atingiu, nos tempos modernos, tamanha complexidade intelectual que, sem a
experiência das universidades, grande parte dela se teria perdido e outra
grande parte nem chegaria a ser formulada. (TEIXEIRA, 1998, p. 34).
É notória a pequena importância que se dá à extensão universitária enquanto produção
acadêmica e disponibilidade de recursos pelos órgãos de fomento. A ausência de um órgão
regulador e fomentador da extensão em âmbito nacional, como acontece com o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na área de pesquisa e com a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) na pós-graduação,
pode ser fator de desvalorização da extensão no seio das universidades, que muitas vezes não
consideram essas ações como atividades acadêmicas. O currículo lattes, por exemplo, não
leva em conta participações nas ações extensionistas, sendo, ele, considerado no ambiente
acadêmico como o grande e, por muitos, o exclusivo instrumento de avaliação do grau de
excelência dos docentes. Na Extensão, “... o valor não se encontra no número/artigo
publicados, mas única e exclusivamente na possibilidade ou não de atendimento às demandas
da comunidade externa” (GUIMARÃES, 1997, p. 58).
As dificuldades de financiamento dos projetos de extensão são consequência da pouca
valorização das ações extensionistas no meio acadêmico. Para Jezine (2006), a falta de
financiamento e reconhecimento da extensão não decorre da ausência de uma política de
extensão das universidades públicas brasileiras, mas da falta de uma política do Ministério da
Educação – MEC – para as universidades e para a extensão universitária, baseada em
13
princípios filosóficos, com diretrizes metodológicas e formas de financiamento.
Esse estudo se apóia em autores que consideram que a universidade deve ratificar seu
compromisso social, precisa se repensar, colocar a público seu projeto para se fazer entender
como uma instituição da sociedade, que tem na sociedade sua referência. (BUARQUE, 2003;
CHAUÍ, 1980; FRIGOTTO, 2006; PAULA, 2003; SANTOS, 1994). O compromisso social da
universidade expressa uma série de possibilidades de se relacionar tanto na prestação de
serviços como forma de suprir as dificuldades orçamentárias da universidade, como na
organização de projetos para uma formação superior capaz de atender às complexas
exigências do mundo do trabalho e do exercício da cidadania.
Buscas realizadas no Banco de Teses da CAPES com as palavras-chave universidade,
extensão, parcerias, e universidade e sociedade, indicam que, em pesquisas sobre a extensão,
o foco na visão dos parceiros das universidades não tem sido considerado, o que me levou a
concentrar-me nessa linha tendo como objeto de pesquisa os projetos e programas de extensão
desenvolvidos pela UFJF com parcerias externas. Nessa busca foram encontradas 17 teses e
dissertações cujos objetivos e procedimentos não procuram aferir a visão dos parceiros
externos nos projetos de extensão. As que mais se aproximaram dos temas em pauta foram:
Avaliação dos Projetos de Extensão Desenvolvidos pelo Laboratório de Matemática da FURB
(ZERMIANI,
2002);
Programa
Nacional
de
Educação
na Reforma Agrária: A
Responsabilidade Social da Universidade (FRAGOSO, 2001); Extensão Universitária: Seu
perfil Atual e os Fatores de Seu Desempenho (DEGASPERI, 1998); O Papel da Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Paraná no
Desenvolvimento Humano (MAIA, 2003).
Mudando as palavras-chave para “extensão, universidade, responsabilidade social”,
foram elencadas 28 teses/dissertações, entre elas as que mais se aproximam do tema foram:
Universidade Extramuros: Concepções da extensão na UNIMONTES e sua Relação com o
Desenvolvimento Social Regional. (QUEIROZ, 2008); Responsabilidade Social nas
Universidades Brasileiras: Autonomia ou adequação? (SILVA, 2008); Responsabilidade
Social em Instituições de Ensino Superior (ABREU, 2009); Responsabilidade Social em
Universidade Comunitária: Novos Rumos para a Educação Superior. (PINTO, 2003).
Os estudos verificados apontam para o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema
extensão focadas em seu desenvolvimento histórico, fundamentos conceituais em relação à
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, política cultural e contribuições para a
construção do conhecimento científico.
Sobre a relação entre universidade com a sociedade, a tese de Silva (2009), “Ciência,
14
Técnica e Experiências Sociais na Pesquisa e na Extensão Universitárias: possibilidades de
diálogos entre saberes”, leva à conclusão de que a interlocução entre diferentes campos do
conhecimento, bem como o diálogo entre o conhecimento científico e outros saberes podem
contribuir para o debate epistemológico e, por conseguinte, para construção de um
conhecimento integrador.
Com foco na organização de trabalhos interdisciplinares para a ação em comunidades,
Abreu (2009), em sua dissertação intitulada “Responsabilidade Social em Instituições de
Ensino Superior”, mostrou que práticas de responsabilidade social formais e não formais
favorecem a aproximação da Universidade de Fortaleza com a sociedade, não perdendo o
foco da Educação e da formação do cidadão. Verificou que tais práticas são complementares
quanto ao objetivo de atender à população local, ou seja, uma não deve se sobrepor à outra;
ambas devem ser estimuladas.
A dissertação de Machado (2009), “A Construção da Extensão Universitária Brasileira,
as Políticas Institucionais e o Compromisso Social das Universidades”, revelou que análises
quantitativas e qualitativas de projetos e ações extensionistas desenvolvidos pela
Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná evidenciaram incoerências e dificuldades
conceituais e indicaram a necessidade de construção coletiva de políticas institucionais de
extensão universitária. Dentre as dificuldades conceituais citadas pelo autor, considero
importantes as seguintes:
- diversidade de entendimento do que é extensão universitária;
- a articulação ensino-pesquisa-extensão ainda é muito incipiente, cada um conta
com seus ambientes, procedimentos e conceitos próprios;
- as atividades de extensão muitas vezes são utilizadas como forma mais fácil de
cumprir as exigências do Regime de Tempo Integral e Dedicação Exclusiva;
- às vezes não se verifica, nos projetos, a interação dialógica que é um dos
pressupostos centrais da ação extensionista.
De fato, confunde-se extensão como estender à sociedade o conhecimento e a prática
acadêmica. Freire (1997, p. 55) já advertia que “a atuação unilateral implica em cair [...] na
prática depositante de um falso saber que, anestesiando o espírito crítico, serve à
‘domesticação’ dos homens e instrumentaliza a invasão cultural.”
Sob a visão dos parceiros nos projetos e programas de extensão, a carência de estudos
se acentua ainda mais. Basta um olhar mais atento no resumo desses trabalhos para se
verificar que as análises se concentram no ponto de vista da comunidade interna, ou seja,
professores e discentes envolvidos e, às vezes, do público alvo. O que constato é que, embora
15
o tema seja abordado com frequência, há uma lacuna sobre a ótica dos parceiros para
compreender como se dá a relação entre universidade e sociedade.
Torna-se, portanto, relevante ouvir os parceiros da Universidade para buscar respostas
para as seguintes questões: Como surgem as parcerias para os projetos de extensão? Quais as
concepções da extensão e os pressupostos que marcam os projetos realizados? Como os
parceiros vêem a operacionalização do planejamento, de sua execução e avaliação? Quais os
resultados acadêmicos advindos desses projetos para a Universidade? Em que medida há uma
preocupação com a produção do conhecimento?
Este trabalho apresenta pesquisa sobre aspectos que envolvem a relação entre a
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF – e seus parceiros nos projetos de extensão.
Procurou-se, em especial, conhecer a visão e as expectativas dos parceiros sobre as práticas
extensionistas e sobre seus resultados. Verificaram-se, ainda, os processos avaliativos, sua
influência no público alvo durante o desenvolvimento dos projetos em que estão envolvidos.
Temas relevantes ligados à extensão foram pesquisados e observados, tais como a
interdisciplinaridade, o estímulo à pesquisa pelas práticas extensionistas, as mudanças
curriculares e de foco nas disciplinas ministradas causadas pelas ações extensionistas, os
projetos de cunho assistencialista e os emancipadores e a interação dialógica
universidade/sociedade.
De forma a responder às questões de estudo formuladas, o corpo deste trabalho
apresenta a seguinte estrutura: no capítulo inicial destaco os posicionamentos teóricos sobre a
relação entre universidade e sociedade, desde os aspectos históricos até os conflitos gerados
pela modernidade, bem como o compromisso social da universidade; a importância das
atividades extensionistas para que a universidade se relacione com a sociedade e possa, de
forma mais efetiva, cumprir seu papel social.
No segundo capítulo, apresento um relato
sobre o contexto da pesquisa, a UFJF com dados sobre sua atuação acadêmica e sobre sua
região de influência. No capítulo destinado aos procedimentos metodológicos, exponho
passos e processos usados, desde a escolha dos projetos a serem pesquisados até a elaboração
das questões que foram feitas aos entrevistados. O capítulo final, além de apresentar os
programas e projetos investigados, se destina a destacar e analisar alguns trechos das
entrevistas realizadas com seus coordenadores e parceiros externos. Com base na análise dos
resultados da entrevistas e tendo como parâmetro o referencial teórico exposto neste trabalho,
faço as considerações finais da pesquisa.
Enfim, com essa organização, a pesquisa busca explicitar até que ponto a UFJF, no
entendimento do seu compromisso social e através dos seus projetos de extensão com
16
envolvimento de parceiros externos, aproxima-se dos grandes problemas sociais da região sob
sua influência.
O conceito de conhecimento como promotor da emancipação individual e coletiva
forma a base da análise dos projetos de extensão que serão objeto deste estudo, assim como
do direcionamento da pesquisa.
17
2 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE: CONVERGÊNCIAS E TENSÕES
As relações que se estabelecem na interface universidade e sociedade é tema
controvertido, passível de inúmeras concepções que, necessariamente, recorrem à discussão
sobre a função da universidade. A relação entre a universidade e o mercado tem sido a marca
de algumas instituições, sejam elas públicas ou privadas. Para tais universidades, o que se
considera é que o mercado precisa de pessoas qualificadas, capacitadas, competentes, com
habilidades, para a continuidade dos seus negócios.
Velho (1999, apud PEREIRA, 2009, p. 01), entende que o papel da universidade faz
“as fronteiras entre a universidade e o setor produtivo se fluidificarem na geração da fábrica
do conhecimento”. As transformações socioeconômicas contemporâneas estreitam as ligações
da universidade com a sociedade e o setor produtivo buscando uma solução para seus
problemas. Sobre a relação universidade empresa, na ótica de Velho, Pereira (2009, p. 01):
É uma visão da universidade como empreendedora e berço de empresas de
cunho tecnológico. Essa relação, representada pela interação universidadeempresa, é a representação mais acabada da universidade vista como fábrica
de conhecimentos e longe de ser a universidade pensada como formação do
ser humano. A lógica da tendência utilitarista da universidade tende a reduzir
a construção do conhecimento a mera produção de conhecimento
mercadológico.
A lógica do neoliberalismo defende Estado mínimo e admite que, aos agentes do
mercado, devem ser atribuídas as atividades para as quais estão mais preparados a oferecer
mais eficiência. Pelo pensamento neoliberal, o conhecimento passa a ser encarado como uma
espécie de mercadoria e, como tal, sujeito à lei da oferta e da procura (LESSA, 1999; LEHER,
2001, 2004). É a competitividade com regulação mínima que define o neoliberalismo na
educação superior.
Políticas de governo, ao procurar atender organismos internacionais (Fundo Monetário
Internacional, Banco Mundial, Fórum Econômico Mundial, etc), bastiões do neoliberalismo
econômico, têm como pressuposto básico a falácia de que a racionalidade do mercado leva a
economia em direção à promoção do bem-estar da população (CHAUÍ, 1999; 2001). A
mesma autora complementa que essa lógica leva a colocar a educação, a saúde e a cultura
como setores definidos pelo mercado.
Há também autores que compõem o grupo de visão idealista e que não defendem a
ligação da universidade com a sociedade. São, assim como Gasset, (1997), defensores da
Universidade transmissora da cultura, do ensino das profissões e da investigação científica,
além de formador dos novos homens de ciência. Bloon (1988) afirma que a Universidade não
18
deve exercer um papel paternalista se comprometendo a fazer tudo pela sociedade. Queiró
(1995) defende que tudo que se afaste do ensino e da investigação será fugir aos reais
objetivos universitários. Barreto (1992, p.190) defende que “mais que virar-se para o
“exterior” […], a Universidade precisa de reforçar o seu caráter de comunidade acadêmica”
Contrapondo às correntes que atrelam a universidade ao mercado, autores defendem
que a universidade deve possibilitar também a reflexão independente do mercado, o pensar
sem amarras, seguir com suas “próprias pernas”, alcançando a maioridade. Neste caso, a
menoridade reside “na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem a
orientação de outros.” (KANT, 2005c, p. 63-64).
A comunidade universitária, por amor à verdade, congrega-se com o único objetivo de,
através da investigação, procurar sistematicamente a verdade. Para Santos, a verdade está
acima da ciência e deve ser orientada para a educação do homem no seu todo.
Na contemporaneidade, a importância da universidade na produção do conhecimento,
em sua interface social é enfatizada por Santos (1994, apud LOUREIRO 2001, p. 75): “A
rapidez com que a mudança social se deu, sobretudo depois da década de 60, fez aumentar as
expectativas da sociedade, que começou a exigir a participação da universidade na resolução
dos seus problemas econômicos e sociais.” Até a década de 60 do século XX a universidade
se dirigiu, preferencialmente, para uma vertente economicista, mas, a partir de então, os novos
tempos exigiu da universidade outra vertente de orientação social e política. “São vários
autores que pensam que a universidade não tem conseguido responder a tais exigências, o que
os tem levado a realizarem fortes críticas, apelidando a universidade de ‘Torre de Marfim’”
(op. cit., p. 76). A expressão metafórica, certamente, assinala o distanciamento de alguns
pensadores da realidade à sua volta, isolados nos muros da universidade e conhecendo pouco
da comunidade que os envolve. A nova realidade da universidade tem como desafio o
aumento drástico da população estudantil e do corpo docente, a proliferação das
universidades, a expansão do ensino e a investigação em novas áreas de saber, segundo
Santos, (1995).
É oportuno ressaltar o pensamento de (DEMO, 2001, p. 30) quanto ao posicionamento
político e ideológico da universidade:
A universidade deve ser necessariamente ideológica e não inevitavelmente
ideológica, pois a qualidade política não é um pacote que se compra ou se
impõe, mas sim uma questão de opção individual e social no horizonte da
liberdade possível, ou seja, uma conjuntura histórica que supõe a rejeição de
propostas reconhecidas como incorretas e a aceitação de outras abraçadas
como construção prática de um compromisso político coletivo
Fica, portanto, marcada a posição de Demo que realça o debate sobre a não
19
neutralidade quanto aos rumos da organização da sociedade, uma vez que a universidade, ao
se posicionar sobre esses temas sob os aspectos científico, técnico e ideológico, tende a
interferir nos rumos políticos da sociedade, sejam eles direcionados pelo Estado, sejam
instituídos pela sociedade civil.
Desde a criação das universidades, na Idade Média, a sua relação com a sociedade é
motivo de ampla discussão. A “universidade moderna” surgiu da organização da Universidade
de Berlim, em 1808. Pereira (2009) aponta que seus princípios são ainda tomados como
válidos, mas sofrem as consequências das transformações sociais e econômicas de dois
séculos e estão sendo negligenciados e substituídos por outros que a autora considera menos
nobres.
Souza (2005) lembra que as universidades populares surgiram no século XIX na
Europa, com a função de propagar conhecimentos técnicos, disseminando o saber. Desde a
sua formação, é solicitada uma resposta a determinadas exigências e necessidades da
sociedade, nascendo com ela a extensão universitária, a partir de sua aproximação com a
população. A autora comenta que foi dessa relação que a extensão surgiu como uma nova
função da universidade, além do ensino e da pesquisa. Essa função era exercida além dos
muros da universidade, junto à sociedade, buscando minimizar os problemas sociais que não
eram atendidos pela esfera governamental. Desta maneira, “a história da extensão nos mostra,
que esta foi influenciada pelas políticas públicas e ligada às necessidades sociais das
populações que estavam excluídas dos programas estatais [...] buscava aproximar a ciência e a
formação acadêmica da realidade social” (op. Cit., p. 254).
Enquanto na Europa as atividades extensionistas estavam vinculadas, em geral, a
campanhas de saúde, teatro escolar e outros serviços de caráter social, nas universidades
americanas elas se voltam para o extensionismo rural, ligadas ao movimento cooperativista do
século XIX, com características de prestação de serviço (SERRANO, s/d).
Na América Latina, a extensão universitária começa a ganhar a configuração atual a
partir de 1918, após o movimento estudantil que culminou com o Manifesto de Córdoba.
Gurgel (1986) aponta que este movimento avaliou que faltavam à universidade espírito
científico, financiamentos e autonomia para a docência. Considerando a universidade
controlada por uma oligarquia, exigia-se a gratuidade do ensino, o fim da ditadura e do
imperialismo e a consequente abertura e consideração para com os problemas sociais que se
abatiam sobre a população latino-americana (LOUREIRO; CRISTÓVÃO, 2001).
Gurgel (idem) pondera que, embora em sua totalidade o Manifesto não tivesse sido
aplicado, especialmente no que se referia à missão social da universidade, as mudanças
20
estruturais e administrativas que foram propostas em relação à extensão universitária tiveram
influência mundial e, em especial, na América Latina. A partir desse movimento, os
estudantes puderam se familiarizar com a realidade social, contribuindo para projetar o
trabalho da universidade na sociedade.
No Brasil, as universidades com base no ideário do Manifesto de Córdoba surgiram na
década de 1940. Até então, a marcada influência positivista, desde o fim do Império, aliada
aos ideais que culminaram na Proclamação da República, apontava a educação como “o canal
de redenção nacional” (BEMVENUTE, 2006). A imagem da “universidade popular” é
concretizada na Universidade Livre de São Paulo, entre 1912 e 1917, com a primeira
experiência de cursos de extensão ligados a uma instituição de ensino superior, oferecendo
conferências semanais gratuitas abertas ao público, porém com temas de pouco interesse para
as camadas populares (GURGEL, 1986).
No período entre 1912 e 1930, a concepção de extensão se baseou no modelo
americano, no qual se preponderava a prestação de serviços à área rural e urbana. Importantes
experiências extensionistas de ação comunitária são realizadas e consolidadas. Em 1967, por
exemplo, iniciaram-se as operações do Projeto Rondon. Esse projeto contava com a
participação de professores e militares sob a tutela do Ministério do Interior e das Forças
Armadas. Com o lema nacionalista “integrar para não entregar”, o objetivo era estender para
áreas carentes e distantes do interior do país atividades de levantamento, pesquisas,
assistência médica e educação sanitária através da ação de universitários de diversos cursos,
oportunizando aos estudantes a possibilidade de prestar serviços e conhecer comunidades
carentes de outras regiões, além de uma “atrativa viagem de férias sem grandes conflitos com
a instituição de ensino” (SOUZA; OSS, 2005, p. 259).
A noção de “universidade popular”, que pressupunha a integração entre a universidade
e a população para propagação de conhecimentos, foi retomada pelo movimento estudantil em
1938 com a criação da União Nacional dos Estudantes (UNE), cujo objetivo era defender o
ideário de Córdoba e propor uma reestruturação das universidades com vistas a uma inserção
social mais contundente.
Da mesma forma, a Juventude Universitária Católica (JUC),
preocupada com questões humanas relacionadas à justiça social, alimentou as práticas
extensionistas com a atuação dos estudantes nas comunidades:
A concepção de extensão do movimento estudantil foi divulgada pelo Teatro
da UNE, pelos centros de debates, clubes de estudo, fóruns, campanhas para
criação de bibliotecas nos bairros, agremiações desportivas das populações
pobres, e em educação política, com debates públicos, quando os temas
versavam sobre o interesse dos trabalhadores (SOUZA; OSS, 2005, p. 257).
21
Já na década de 1960, importantes pensadores, como Paulo Freire, engrossaram as
fileiras daqueles que reivindicavam mudanças na política e na organização da sociedade civil,
com a pretensão de encontrar soluções próprias e não “imperialistas” para os problemas
nacionais (BEMVENUTE, 2006).
De 1964 até meados da década de 1980, a participação estudantil e o relacionamento
da universidade com a sociedade é silenciado pelo governo militar. No entanto, apesar do
forte controle da censura e das disputas ideológicas entre o Ministério da Educação e Cultura
(MEC) e as universidades, em 1975 foi elaborada a primeira Política de Extensão
Universitária no Brasil.
O segundo encontro coletivo das organizações não governamentais da UNESCO sobre
a educação superior (OCDE), realizado em 1987, apontou 10 funções que as Universidades
dos países componentes devem desenvolver, entre elas, a preparação contínua de adultos
através de cursos de extensão universitária e a oferta de serviços variados à sua região
(LOUREIRO; CRISTÓVÃO, 2001).
Na atualidade, as universidades vivenciam múltiplos desafios colocados tanto pela
sociedade, quanto pelo Estado.
Santos (1995) identifica o desdobramento da crise na
universidade em três tipos: a de hegemonia na produção do conhecimento, a de legitimidade e
a institucional. Segundo o autor, a crise de hegemonia, iniciada no final do século XIX e
acentuada no pós guerra até os anos sessenta, é a que fere o conhecimento que ela produz e
dissemina. É quando se evidenciam as dicotomias: alta cultura-cultura popular; educaçãotrabalho; teoria-prática. Neste caso, tem-se a idéia de universidade reativa, ou seja, voltada
para o atendimento das necessidades imediatas do mercado.
A crise da legitimidade é gerada pela crise de hegemonia. A sociedade vê a educação
superior e a alta cultura como prerrogativas das classes superiores. Passa-se a questionar para
quem e para que serve o conhecimento produzido pela universidade.
A falta de identidade, autonomia e estrutura organizacional da universidade indicam a
crise institucional, em que repercute tanto a crise de hegemonia como a crise de legitimidade.
“O valor que está em causa na crise institucional é a autonomia universitária
e os factores que têm vindo a tornar cada vez mais problemática a sua
afirmação são a crise do Estado-Providência e a desaceleração da
produtividade industrial nos países centrais”. (SANTOS, 1995, p. 214).
A crise da universidade está também, segundo (BUARQUE, 1994, p. 225) “em muitos
casos, na perda da capacidade para definir corretamente os problemas aos quais a formação e
22
as pesquisas devem servir”, ou seja, para que, para quem e como devemos produzir e difundir
conhecimento.
Segundo Pereira (2009), a universidade da modernidade responde a expectativas
díspares tanto quanto díspares são os grupos e suas demandas. Complementa a autora que,
além do ensino e da pesquisa, os novos tempos estão a exigir uma infinita gama de
abordagens como relevantes em sua atuação tais como liderar o processo de desenvolvimento
do país; promover uma melhora na qualidade de vida da população; atender as demandas da
indústria, fazer parcerias com empresas para financiar seus projetos externos; acentuar o ritmo
das inovações, atender as novas clientelas discentes e adaptar-se a elas; e tantas outras
demandas.
As pressões são muitas e mantêm a crise na universidade como fator permanente e a
ela incorporada. Para Casper (1997), a Universidade tem dificuldades de resistir a tantas
pressões externas, o que a faz se transformar, abrir mão de seus propósitos atendendo aos
grupos dominantes. Casper afirma, ainda, que a pressão é universal e as transformações sobre
as universidades comuns entre as instituições.
Segundo Ristoff (1999), a crise de modelo das universidades é o grande desafio hoje,
em especial em países como o Brasil. O autor entende que países como o Brasil precisam
adaptar suas universidades às novas exigências, tendo como enfrentamento seu sistema
extremamente elitista diante dos interesses de grupos sociais diversos, em especial os grupos
excluídos que procuram na educação superior a oportunidade de ascensão social. O desafio se
dá em se promover o acesso de todas as camadas sociais ao ensino superior sem comprometer
a qualidade das poucas boas universidades existentes.
O autor analisa a crise do elitismo enfatizando que a porcentagem de jovens de 18 a 24
anos frequentando a educação superior privilegia alguns poucos e aponta que o Brasil precisa
romper com esse círculo e "engajar-se de forma clara num programa nacional que promova o
acesso amplo das populações hoje excluídas" (op. cit. p. 26).
Ainda sobre a crise da universidade, o mesmo autor enfatizou a crise financeira e
aponta que “o país está hoje tão obcecado pela ideia de eficiência e corte de gastos públicos
que se tornou incapaz de atentar para o retorno social, educacional e mesmo financeiro que o
investimento em educação representa” (ídem, p. 23).
A universidade não está fora da história de um país; ao contrário, ela participa da
história e é por esta atravessada, numa espécie de relação dialética (FÁVERO, 1980). No
Brasil, nos tempos atuais, a universidade está sendo cada vez mais conclamada a exercer seu
compromisso social do qual a extensão é o seu expoente mais visível. É a visão da função
23
social da universidade, em suas dimensões, que será analisada a seguir.
2.1 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A RELAÇÃO UNIVERSIDADE E SOCIEDADE
Fruto da iniciativa e articulação de docentes entusiasmados com as atividades
extensionistas nas Instituições de Ensino Superior (IES), o Fórum Nacional de Pró-Reitores
de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX, 2007, p. 11), foi criado em
1987, com o objetivo de constituir um espaço de interlocução com o MEC para o
estabelecimento de uma política nacional de extensão.
O FORPROEX é uma entidade voltada para a articulação e definição de políticas
acadêmicas de extensão, comprometido com a transformação social para o pleno exercício da
cidadania e o fortalecimento da democracia. São objetivos gerais do FORPROEX, (op. cit., p.
12), segundo seu regimento:
Propor políticas e diretrizes básicas que permitam a institucionalização, a
articulação e o fortalecimento de ações comuns das Pró-Reitorias de
Extensão e órgãos congêneres das Instituições de Ensino Superior Públicas
Brasileiras;
Manter articulação permanente com representações dos Dirigentes de
Instituições de Educação Superior, visando encaminhamento das questões
referentes às proposições do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão
das Universidades Públicas Brasileiras;
Manter articulação permanente com os demais Fóruns de Pró-Reitores, com
o objetivo de desenvolver ações conjuntas que visem a real integração da
prática acadêmica;
Manter articulação permanente com instituições da sociedade civil, do setor
produtivo e dos poderes constituídos, com vistas à constante ampliação da
inserção social das Universidades Públicas;
Incentivar o desenvolvimento da informação, avaliação, gestão e divulgação
das ações de extensão realizadas pelas Instituições de Ensino Superior
Públicas Brasileiras.
O conceito de extensão, reafirmado como um dos objetivos da Universidade pela Lei
9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, absorvido pelo conjunto das
instituições universitárias, tanto públicas como privadas, foi definido pelo FORPROEX da
seguinte forma:
A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que
articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação
transformadora entre Universidade e Sociedade. A Extensão é uma via de
mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que
encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um
conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes
trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido
24
àquele conhecimento (BRASIL, 2000-2001, p. 5).
O conceito de extensão defendido pelo Fórum foi fruto de construção coletiva e de um
processo histórico, perpassando por vários momentos políticos. Constam dos documentos do
Fórum, e se mantêm constantes no ambiente acadêmico, as discussões sobre a concepção da
extensão, sua institucionalização, o financiamento, a interação dialógica com a sociedade, a
prestação de serviços, a indissociabilidade com o ensino e a pesquisa, a interdisciplinaridade e
sua relação transformadora entre universidade e sociedade. Em 1999, é lançada, pelo Fórum, a
primeira edição do Plano Nacional de Extensão. No ano seguinte, a versão atualizada ratifica
a extensão como elo entre ensino, pesquisa e as necessidades da população, imprescindível na
formação de profissionais cidadãos, cujas ações necessitam de avaliação permanente de forma
a acompanhar as reivindicações da realidade (SOUZA; O.S.S., 2005).
É pela prática extensionista que a universidade irradia sua presença junto aos mais
variados segmentos sociais. A produção do conhecimento nasce da base construída pelo
homem na sua ação laboral, nas relações sociais do dia a dia e não na vivência restrita do
ambiente universitário. Com essa base e nesse ambiente, a academia desenvolve e amplia o
conhecimento. Com este pressuposto, a universidade não pode ignorar o ambiente social,
sendo necessários sua atuação e envolvimento com a sociedade como agente direto das
mudanças e sendo transformada por ela.
Junto à sociedade, o conhecimento científico se traduz através de profissionais
preparados para repassar para ela esses conhecimentos, não com ênfase assistencialista, mas
focado na construção da sua autonomia.
É preciso colocar em pauta permanente a discussão das ações extensionistas
verificando sua característica emancipadora. Santos (2001, apud CASTRO, 2004, p. 02)
considera como emancipador aquele conhecimento “que pensa as consequências de seus atos,
que a relação sujeito-objeto é substituída pela reciprocidade entre os sujeitos e onde a
solidariedade e a participação estão presentes”.
Devido a sua capilaridade social, a extensão sempre é alvo ao se avaliar a inserção da
universidade no meio social, econômico e político.
Segundo o conceito adotado pelo FORPROEX, a extensão universitária assume-se
como elemento estruturante de uma visão atual e progressista da dimensão investigativa da
produção do conhecimento no ensino superior, dando ênfase ao reforço no coletivo
institucional, em oposição ao assistencialismo material e intelectual que marcou os anos 70 do
século XX. É com essa visão que, em 2003, o MEC, por meio da Secretaria de Educação
Superior, cria o Programa de Apoio à Extensão Universitária, PROEXT.
25
O PROEXT passou a ser o principal programa governamental de apoio às atividades
extensionistas das IES e fundamenta que: uma das missões estratégicas da Educação Superior
no projeto de desenvolvimento cultural, econômico e social do país, é promover uma
profunda relação com a sociedade, valorizando a extensão como instância de mediação entre
as IES e a sociedade. Com esses fundamentos, o Programa contempla em seus editais temas
como formação de professores para o sistema educacional; atenção integral à família;
combate à fome; erradicação do trabalho infantil; combate ao abuso e à exploração sexual de
crianças e adolescentes; juventude e desenvolvimento social; geração de trabalho e renda em
economia solidária; promoção e/ou prevenção à saúde; violência urbana; direitos humanos;
educação de jovens e adultos; atenção à pessoa idosa, à pessoa com deficiência e às
populações indígenas e quilombolas. Além disso, fomenta as atividades complementares ao
Programa, como Brasil Alfabetizado; educação ambiental e apoio ao desenvolvimento
comunitário; inclusão étnica; apoio à organização e desenvolvimento comunitário; inclusão
social dos usuários de drogas; inclusão digital; apoio às atividades de escolas públicas; ensino
de ciências; educação de jovens e adultos, incluindo apoio ao desenvolvimento de sistemas
locais e regionais de educação, alfabetização e letramento.
A extensão cria novos espaços na ação acadêmica. A ação extensionista permite aos
acadêmicos e professores sua inserção na realidade concreta, fora das quatro paredes das salas
de aula e de laboratórios e sem a ampla, mas distorcida virtualidade dos conteúdos da tela do
computador. Desta forma, as ações extensionistas, no ir e vir da informação própria de sua
práxis, cria novos conceitos e influencia todo o processo acadêmico. A extensão, enfim, tece a
relação dialógica entre Universidade e sociedade com reflexo nos currículos e nas pesquisas
da universidade e também subsidia e promove mudanças nas políticas públicas instituídas.
Uma das questões que se espera da extensão é a inter-relação das áreas do
conhecimento e das disciplinas, pois a interdisciplinaridade é uma característica intrínseca da
universidade tanto nas práticas de ensino, como da pesquisa e da extensão.
A prestação de serviços é caracterizada pelo FORPROEX, de modo genérico como a
realização do trabalho oferecido ou contratado por terceiros (comunidade ou empresa),
incluindo assessorias, consultorias e cooperação interinstitucional. Constata-se que no seio da
universidade, para muitos dos professores e estudantes, a extensão é vista como prestação de
serviço e uma prática assistencialista através da qual a universidade busca seu reconhecimento
social. Sousa (2000, p. 106) apresenta sua preocupação com relação à prestação de serviço,
pois [...] “não se percebe lucidamente nenhuma reação, por parte da Universidade, para
impedir ou modificar esse tipo de relação. Não acontece às ocultas do conhecimento da
26
academia, mas esta se tem feito inerte, apesar de seu repúdio retórico.” O mesmo autor,
manifesta sua preocupação levantando a importância desta questão na Extensão Universitária
e se posiciona a favor de definições urgentes e determinação de limites precisos sob o risco de
comprometer a Universidade pública e sua luta por autonomia.
Delinear os compromissos sociais da universidade é uma construção necessária e, ao
mesmo tempo, complexa, para que se defina seu significado no mundo contemporâneo.
A academia, ao fechar-se em si ignorando as mazelas sociais à sua volta, fixa-se na
erudição e ignora a riqueza das manifestações simbólicas do povo, ou, como se aplica o
pensamento de Bosi (1992, p. 320) em defesa da maior relação universidade/sociedade:
Debruça-se, simpática, interrogativa, e até mesmo encantada pelo que lhe
parece forte, espontâneo, inteiriço, enérgico, vital, em suma, diverso e
oposto à frieza, secura e inibição peculiares ao intelectualismo ou à rotina
universitária. A cultura erudita quer sentir um arrepio diante do selvagem.
Jezine (2006, p. 236-237) aponta na extensão três concepções ideológicas que se
entrecruzam adquirindo materialidade nas suas práticas. Segundo a autora, “a primeira
concepção tem como instrumento a prestação de serviços que denota um viés basicamente
assistencialista, descomprometida com as mudanças sociais”. Nesse contexto, a autora critica
ações pontuais sem foco no ataque aos fatores causadores das desigualdades e sem estimular
formas de intervenção organizada.
A segunda concepção de extensão é a possibilidade de uma ação transformadora da
sociedade. Tal concepção, como vimos na introdução deste trabalho, foi incorporada como
conceito de extensão pelo FORPROEX. O centro da ação extensionista estaria em estabelecer
uma ação concreta com os grupos sociais envolvidos no projeto, buscando construir a
autonomia dos indivíduos.
A concepção denominada “mercantilista” é a terceira das elencadas por Jezine (ídem) .
Nela as demandas advindas da sociedade não são tomadas como carências sociais, mas como
novas expectativas de serviços geradas pela sociedade globalizada. A parceria ou venda de
serviços seria o mecanismo de articulação da universidade aos demais setores da sociedade
civil, tornando-a produtora de bens e serviços.
Enquanto a universidade atuar no sentido de contribuir para aperfeiçoamento das
relações humanas e sociais, ela estará justificando sua função social. Bombassaro (2007, p.
01) considera a pertinência de se dizer que a universidade é o espelho da sociedade, porém
acentua que a metáfora não traduz a complexidade das relações que constituem essa
instituição:
27
A universidade opera em duas dimensões: uma epistemológica e a outra,
ética. Na epistemológica, a universidade é o lugar da conservação, da
transmissão e da criação do conhecimento, especialmente o científico,
validado ou desmentido pelo processo de pesquisa das comunidades de
investigação. Na ética, é o lugar onde são analisadas múltiplas relações
sociais e são projetadas as perspectivas para a manutenção e a transformação
da vida em comum. Essas dimensões se complementam e implicam reflexão
e compromisso.
Ao analisar a universidade como promotora do conhecimento científico, Humboldt
(1997, p. 90, apud PEREIRA, 2009, p. 01) considera que:
o conhecimento precisa ser assimilado de tal modo que o entendimento, o
saber e a criação intelectual adquiram relevância em virtude de sua precisão,
harmonia e beleza internas, ao invés de ser valorizado devido a motivações
externas à atividade científica. (1997, p. 90, apud PEREIRA, 2009, p. 01)
No entanto, as transformações ocorridas no último século e em especial nas últimas
décadas, tanto no campo político, como econômico, social, científico e tecnológico,
introduziram, conforme afirma Pereira (2009, p. 02): “modificações no plano institucional da
universidade de modelo humboldtiano, na sua função, no seu currículo e nos seus métodos de
ensino.” A autora aponta ainda as necessidades de mudanças curriculares que valorizem o
ensino mais aplicado e menos intelectualizado resultando na “fragmentação quase completa
da concepção de universidade caracterizada como “universidade moderna”. (idem).
Na contemporaneidade, a universidade, como grande articuladora e promotora do
conhecimento científico deve considerar que “a ciência moderna surge como contestação,
como busca de verdades que transcendem os ditames impostos pelos dogmas” (FUNARI,
2006, p. 01). Continua o autor, “ciência é contestação, pensamento crítico, reflexão. Em
qualquer área de conhecimento, a dedicação à ciência é por si só, revolucionária, uma força
social em ebulição” (idem, p. 01). Nessa linha de pensamento, tendo como foco seu
compromisso social, as ações na universidade, tanto no campo do ensino, como da pesquisa e
da extensão, devem ser direcionadas para a libertação, para a construção da cidadania crítica e
voltadas, essencialmente, para emancipação das maiorias excluídas.
Alerta ainda o autor sobre determinada postura, no seio da própria universidade, que
defende um posicionamento elitista das instituições de ensino superior. Neste caso, considera
Funari (2006, p. 01):
Haveria dois Brasis, o Brasil um, de uns vinte e poucos milhões de pessoas,
com alta renda, ávidas por tecnologia de ponta e dispostas a pagar por isso.
Caberia à Universidade formar bons médicos, dentistas, arquitetos e
engenheiros, para deleite dessa elite. O Brasil dois, fora do mercado,
prescindiria disso tudo. Aceitar tal lógica é condenar-nos à extinção como
nação e inviabilizar, em médio prazo, a própria universidade brasileira.
28
Diante dos dois Brasis definidos pelo autor, fica posto que o compromisso social da
universidade, em última instância, deve ser a busca da justiça social com a incorporação dos
excluídos, dos pobres, dos negros, enfim, das minorias ou maiorias oprimidas.
São muitos os mecanismos que a universidade pode usar para cumprir seu papel
social. Sua articulação com diversos setores sociais torna-se um instrumento necessário e a
relação da universidade com parceiros do Terceiro Setor1 pode abrir novos campos de
investigação em várias áreas do conhecimento. A aproximação da universidade com
organizações de moradores de bairros periféricos, com sindicatos, com grupos representantes
de minorias raciais e sociais dentre outras organizações populares, tem, certamente,
capacidade de sensibilizar de forma diferenciada e influenciar o ambiente acadêmico.
Dependendo do espaço e do tempo de atuação da universidade, muda o conceito de
seu compromisso social. Hoje, no pensamento acadêmico, é predominante que o
compromisso social da universidade não significa que suas ações devam ter como foco o
assistencialismo, implica sim em lutar pela diminuição das desigualdades, pelo acesso ao
ensino, em todos os níveis, pelas melhores condições de ensino na própria Universidade.
A universidade somente justifica sua função social na medida em que atua para
realizar o aperfeiçoamento das relações humanas e sociais. O conhecimento produzido por
ela, não significa, necessariamente, fator de desenvolvimento social. O maior desafio é a
possibilidade de unir a reflexão teórica ao compromisso de transformação da sociedade, de
modo a superar a profunda assimetria social e econômica numa sociedade acentuadamente
desigual. A comunidade acadêmica pode agir para transformar a sociedade, seja de forma
participativa, atuando junto à comunidade, seja pela crítica aos processos sociais que tornam
perene essa desigualdade.
As reflexões sobre a melhoria da qualidade de vida da população não podem ficar
restritas à lógica do mercado colocando a universidade refém do relacionamento com o
empresariado. Espera-se que, ao afirmar a função da extensão como mediadora da relação
universidade e sociedade, a comunidade acadêmica conduza suas ações e se oriente por
princípios enfatizados por Paula (2003, p. 63) quando se refere à avaliação da universidade:
A avaliação […] deve ir além da medição, deve colocar em questão o sentido
da formação, da pesquisa e da extensão na universidade, priorizando a
formação para a cidadania ativa, a pesquisa e a extensão que contemplem as
necessidades sociais e não as demandas mercadológicas; avaliação
concebida como meio de diagnosticar problemas, introduzir mudanças que
1Terceiro setor é uma terminologia sociológica que dá significado a todas as iniciativas privadas de utilidade
pública com origem na sociedade civil. A palavra é uma tradução de Third Sector, um vocábulo muito utilizado
nos Estados Unidos para definir as diversas organizações sem vínculos diretos com o Primeiro Setor (Público, o
Estado) e o Segundo setor (Privado, o Mercado).
29
signifiquem melhoria da qualidade das diversas atividades desenvolvidas na
universidade, como processo contínuo de aperfeiçoamento institucional.
Tuttman (2002) defende a importância de ações, no caso específico das de extensão,
que possibilitem ao estudante a vivência de experiências significativas, que dêem ao mesmo
condições de refletir sobre as questões da atualidade e, a partir dos conhecimentos produzidos
e acumulados no decorrer de seus estudos, construir uma formação compatível com as
necessidades nacionais, tendo uma visão social da realidade brasileira. A autora acredita que
os currículos dos cursos devem ser espaços privilegiados para a reflexão, o debate e a crítica,
resgatando seu compromisso com a cidadania do povo brasileiro. Salienta, também, que a
extensão universitária tem contribuído muito no repensar do processo acadêmico, pois vem
possibilitando o comprometimento da universidade com as demandas sociais e com o impacto
das ações acadêmicas em relação a tais demandas.
Em outro caminho, Etzkowitz (2003, apud AUDY, 2004) define a Universidade
Empreendedora como tendo a capacidade de gerar uma direção estratégica a seguir,
formulando objetivos acadêmicos claros e transformando o conhecimento gerado na
Universidade em um valor econômico e social. Considera a universidade um ambiente
propício à inovação, pela concentração de conhecimento e de capital intelectual, em que os
estudantes são uma fonte de potenciais empreendedores. Ainda nesse caminho, Clark (2003,
apud AUDY, 2004, p. 05) define a Universidade Empreendedora como sendo “uma instituição
ativa que faz mudanças na sua estrutura e no modo de reagir às demandas internas e
externas”.
Diante da profunda desigualdade social, a universidade pouco pode. Schwartzman
(1980, p. 12) alerta que "os problemas da pobreza, do desemprego, da ignorância, da
alienação, dependem de soluções a nível econômico, político e administrativo que não
poderiam ser adiadas sob o pretexto de que, com a educação, eles se resolveriam
naturalmente."
Enfim, a extensão deve se afirmar, enquanto dimensão acadêmica, indissociada do
ensino e da pesquisa, garantindo o contato direto, realimentador e recíproco, entre
professores, estudantes, instituições e população, auxiliando no questionamento das teorias
apresentadas em sala de aula, em face às exigências da prática. Esse diálogo entre
universidade e sociedade, cujos parceiros na extensão são importantes atores, pode promover
um salto qualitativo na formação profissional em termos de competência técnica e
compromisso político, expressando-se numa nova postura de ação da universidade.
30
3
O OBJETO DA PESQUISA – A UFJF
A criação da Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF data de 1960, tendo ocorrido
por ato do presidente Juscelino Kubitschek. O ano de 1960 foi o marco da fundação de sete
universidades, dentre as quais apenas duas foram instituídas em cidades do interior ao invés
de capitais: a UFJF e a de Santa Maria-RS (Yazbeck, 1997).
A origem da UFJF se deu por meio de um agrupamento de escolas isoladas
(Faculdades de Farmácia e Odontologia, Engenharia, Direito, Ciências Econômicas e
Medicina), que possuíam a preocupação exclusiva de formação profissional e, por isso,
apresentavam baixos índices de titulação entre os professores. Além disso, segundo Yazbeck
(1997), a origem dessas instituições de ensino incorporadas pela UFJF remonta ao início do
século XX, em que houve a abertura de cursos profissionais por instituições religiosas e, em
seguida, por intelectuais que criaram faculdades laicas. Progressivamente, ocorreu uma
aproximação entre tais intelectuais e o Estado, levando à constituição da Universidade.
O Campus da UFJF foi construído no município de Juiz de Foral, uma cidade da Zona
da Mata de Minas Gerais com, em 2010, aproximadamente 520.000 habitantes, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
. De acordo com dados do último Anuário Estatístico de Juiz de Fora (2010), cuja base de
dados é referente a 2009, a UFJF possuía até aquele ano 12.861 estudantes matriculados em
seus cursos sendo presenciais (11.383) e a distância (1.478). A instituição atualmente possui
47 cursos de graduação, havendo titulações em Bacharelado e Licenciatura. Oito desses
cursos são oferecidos na modalidade a distância.
Para atender as demandas desse corpo discente, a instituição possui atualmente 1.114
técnico-administrativos em educação2, que dão suporte às atividades de mais de 891
professores3.
Conforme podemos verificar no quadro abaixo, o corpo docente da UFJF teve uma
relativa ampliação nos últimos 10 anos, que foi acompanhada pelo aperfeiçoamento
acadêmico dos professores, cujo número de doutores ampliou em 460% durante o período, o
número de mestres da instituição manteve-se variável, provavelmente devido ao fato de que
há uma tendência de que os novos ingressantes na carreira tenham ao menos mestrado, como
2 Com informações da Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFJF, em <http://www.ufjf.br/prorh/quadro-dereferencia-dos-servidores-taes-da-ufjf/>, acesso em 26 maio 2011.
3 Devido a divulgação de editais de seleção de docentes e à nomeação de professores aprovados em concursos
anteriores, este número já foi superado, conforme podemos verificar analisando os editais de responsabilidade
da Coordenação de Formação, Análise e Planejamento de Pessoal (CFAP) – em
<http://www.ufjf.br/concurso/concursos-em-andamento/editais/ >, acesso em 26 maio 2011 –, no entanto ainda não
houve uma atualização desse dado nos índices estatísticos da UFJF.
31
pode ser verificado pela progressiva redução de professores do quadro que tivessem somente
graduação ou especialização. Por outro lado, o contínuo incentivo à qualificação fixa como
tendência o aumento do número de doutores.
Tabela 1: Número de Docentes da UFJF, 1998-2009
Fonte: Pró-Reitoria de Pós-Graduação. Em <http://www.ufjf.br/propg/a-propg-em-numeros/>, acesso em 22 maio 2011.
Junto à formação dos professores, a Universidade também ampliou seus cursos de pósgraduação. Em 2010 estavam matriculados 928 mestrandos e 239 doutorandos. Em cinco
anos, houve respectivamente um crescimento de 214% e 597% no número de matrículas,
conforme os gráficos a seguir:
Ilustração 1: Evolução de Matrículas do Mestrado, 2006-2010
Ilustração 2: Evolução de Matrículas do Doutorado, 2006-2010
Fonte: Pró-Reitoria de Pós-Graduação. Em <http://www.ufjf.br/propg/a-propg-em-numeros/>, acesso em: 22 maio
2011
32
Atualmente a UFJF possui 30 programas de Mestrado e 14 de Doutorado, destacandose dois programas de mestrado e doutorado com conceito 5 da CAPES: os programas de
Ciência da Religião e o Química. A instituição também possui outros 11 programas com o
conceito 4 da CAPES, sendo os demais programas qualificados com conceito 3.
Segundo informação da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFJF, a mesma quintuplicou a
formação de núcleos de pesquisa nos últimos 10 anos, especialmente nas áreas de Ciências da
Saúde e Ciências Humanas.
No ano de 2010, as ações extensionistas registradas em projetos e programas de
extensão no sistema da UFJF são em número de 82. Percebemos um grande número de
projetos na área de Ciências da Saúde, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas.
Distribuição de Projetos de Extensão em 2010
90
82
80
70
60
50
42
40
30
20
10
15
9
2
6
6
2
0
Ciências Humanas Ciências Sociais Aplicadas
Engenharias
Ciências Agrárias
Ciências da Saúde Ciências Exatas e da Terra Ciências Biológicas Linguística, Letras e Artes
TOTAL
Ilustração 3: Distribuição dos Projetos de Extensão em 2010
Fonte: Elaboração própria com dados fornecidos pela Pró-Reitoria de Extensão, conforme a Tabela de Áreas de
Conhecimento da CAPES
Verifica-se pelo gráfico, que a área de Ciências Agrárias não conta com projetos de extensão o que se justifica,
uma vez que a UFJF não atua com cursos de graduação nesta área.
Juiz de Fora possui atualmente mais de 27.260 estudantes de cursos superiores, sendo
acadêmicos da UFJF cerca de 47% destes. Tal percentual aponta para a importância da
Universidade na cidade e região.
Com um campo de atuação diversificado – formando profissionais por meio de 47
cursos diferentes, com o desenvolvimento de pesquisas e projetos de extensão, além da
33
atividade dos programas de pós-graduação –, a UFJF exerce influência principalmente nas
mesorregiões da Zona da Mata e Campos das Vertentes de Minas Gerais, e ainda em cidades
do estado do Rio de Janeiro mais próximas.
Com influência em uma área que abrange mais de dois milhões de habitantes, Juiz de
Fora sempre foi centralizadora de interesses econômicos e educacionais de sua região. A
importância da Universidade aumenta nesse contexto, havendo investimento contínuo em
pesquisa, ensino e extensão, como podemos notar pelos dados apresentados anteriormente.
Juiz de Fora se destaca na Zona da Mata mineira como uma capital regional,
influenciando o desenvolvimento de diversas cidades em seu entorno, como Cataguases, Ubá
e Muriaé. Além de influenciar também cidades da mezoregião do Campo das Vertentes, como
Barbacena e São João del-Rei. Pela proximidade de Juiz de Fora do Estado do Rio de Janeiro,
O Município exerce influência ainda em algumas de suas cidades como Três Rio e Valença
De acordo com o contexto nacional, a região possui predominância econômica no
setor de serviços, principalmente em Juiz de Fora. A indústria se faz presente em toda região e
a agropecuária, com pequena participação, representa apenas cerca de 2% do PIB geral.
3.1 APRESENTAÇÃO DOS PROJETOS DE EXTENSÃO PESQUISADOS
A seguir serão apresentados as sínteses dos projetos que foram investigados. Esta
apresentação consiste em uma adaptação dos textos dos projetos inscritos no sistema da PróReitoria de Extensão da UFJF. A forma de exposição poderá variar de um projeto para outro,
podendo haver o destaque de objetivos e metodologias aplicadas, conforme a relevância
dessas para o entendimento geral de cada trabalho.
PROJETO 1
PROJETO: Todo mundo tem um pouco - a saúde de pessoas com transtornos
COORDENADOR: A
PARCEIRO: A1
INSTITUIÇÃO PARCEIRA: Setor Público - ÁREA CONHECIMENTO CAPES:
CAPS CASA VIVA
CIÊNCIAS DA SAÚDE
Resumo
Com modelo de atenção ao indivíduo mentalmente enfermo proposto pela Reforma
Psiquiátrica, o profissional de saúde viu-se na necessidade de estabelecer novos parâmetros de
34
atuação. Segundo a Coordenadora do Projeto, Soares (2010), na possibilidade de promover o
resgate da cidadania do indivíduo que sofre transtornos mentais e de ele aprender a gerir a
própria vida, o projeto visa desenvolver atividades de Educação para a Saúde voltadas para os
usuários do Centro de Atenção Psicossocial de Juiz de Fora (CAPS Casa Viva) através de uma
pedagogia baseada na autonomia e na participação, levando em conta e valorizando as
experiências e os conhecimentos dos educandos. Entre as atividades previstas estão encontros
semanais para discussão de temas gerais sobre saúde, consulta de Enfermagem;
acompanhamento dos pacientes a consultas e exames realizados fora da instituição; visitas
domiciliares; entre outras. O texto do projeto ressalta que a proposta foi apresentada aos
usuários e funcionários do CAPS – Casa Viva em assembleia geral da entidade, quando foi
aprovada por unanimidade.
Ainda segundo Soares (2010), o projeto tem como objetivo geral a intenção de
contribuir para melhoria da qualidade de vida de indivíduos portadores de sofrimento
psíquico. A intenção, segundo a autora, é colaborar com a formação dos estudantes de
enfermagem, contribuindo com suas práticas e com sua aquisição de conhecimentos.
Observando o resumo, objetivos e metodologia, verifica-se que, embora as ações
tenham características assistencialistas e não procurem dar autonomia à instituição parceira,
existe preocupação com a possível emancipação dos atendidos na questão e temas
relacionados à manutenção da saúde e prevenção de doenças. Observa-se ainda que a
interação dialógica se faz quando os encontros e enfoques partem do conhecimento e da
experiência dos atendidos.
PROJETO 2
PROJETO: Promoção da saúde: construção compartilhada
COORDENADOR: B
PARCEIRO:B1
INSTITUIÇÃO PARCEIRA: Setor Público ÁREA CONHECIMENTO CAPES:
Unidade Básica de Saúde, Parque Guarani-Juiz de CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
Fora
Resumo
O Programa Saúde da Família – PSF – é uma estratégia que busca garantir a
construção de um novo modelo de atenção à saúde. Na perspectiva de viabilizar este novo
modelo, o PSF tem como um de seus princípios fundamentais a luta em torno da promoção da
saúde. O Projeto tem como objetivo central incitar e/ou ampliar a mobilização e participação
35
das comunidades na perspectiva da promoção da saúde, em três bairros do município de Juiz
de Fora/MG. O elo que liga estas comunidades é o fato das três adotarem o Programa Saúde
da Família nas Unidades Básicas de Saúde - UBS e de se constituírem em espaços de
desenvolvimento do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RSF)
da Universidade Federal de Juiz de Fora.
A RSF, iniciada em 2002, financiada pelo Ministério da Saúde, tem a chancela da
UFJF e conta com a participação das Faculdades de Serviço Social, Medicina e Enfermagem.
O objetivo é capacitar, através do treinamento em serviço, assistentes sociais, médicos e
enfermeiros para atuarem nas equipes de saúde da família. Este Projeto, especificamente, tem
origem na Faculdade de Serviço Social e a autora Oliveira (2010) colocou como objetivo
promover o desenvolvimento de um trabalho voltado para ampliar e fortalecer a participação
das comunidades para atuar em defesa da sua saúde e da qualidade de vida.
O projeto procura mobilizar a comunidade para, através de promoção de debates e
ações de conscientização e de mobilização, levar as comunidades a participarem de forma
mais efetiva na promoção da saúde coletiva. É, portanto, um projeto com forte preocupação
na construção da emancipação e da autonomia da comunidade.
PROJETO 3
PROJETO: Educação Integral em Foco
COORDENADOR: C
PARCEIRO: C1
INSTITUIÇÃO PARCEIRA: Setor Público ÁREA CONHECIMENTO CAPES:
Escola Municipal Maria José Vilela
CIÊNCIAS HUMANAS
Resumo
A rede municipal de educação de Juiz de Fora iniciou em 2006 o Programa Escolas de
Educação em Tempo Integral. Das 96 (noventa e seis) escolas do município, cinco delas que
atuam na educação infantil e/ou ensino fundamental foram utilizadas na proposta piloto. Com
a implantação do Programa, surgiu a parceria entre a Secretaria de Educação de Juiz de Fora,
as escolas e a Universidade Federal de Juiz de Fora. O projeto originado da parceria tem o
objetivo de avaliar a implantação do Programa possibilitando à comunidade escolar refletir
sobre a questão da educação integral. Os Grupos de estudos e discussões a respeito da atuação
prática são compostos por membros das cinco escolas que têm implantado a educação em
tempo integral no município.
36
A metodologia de implantação do programa é, segundo a coordenadora do projeto
Marques (2010), será trabalhar com grupos focais Cada bolsista auxiliará na vídeo-gravação,
transcrição e análise dos dados de um dos segmentos que compõem os grupos focais,
organizados desta forma: 1- diretores/as e coordenadores/as pedagógicos/as; 2- professores/as
e educadores/as de apoio, 3- pais/responsáveis, 4- estudantes.
O projeto procura atender políticas públicas na área da educação e seu principal eixo é
a avaliação constante e a busca por aperfeiçoamento na implantação desta política. Se
considerar que o objetivo é contribuir com a implantação, seu modelo preocupa-se com a
emancipação da Secretaria de Educação, porém, considera-se que o processo de
aperfeiçoamento de um sistema educacional é dinâmico e permanente, portanto, a presença e
a participação da UFJF pode ser um campo permanente de ação extensionista na área de
educação.
PROJETO 4
PROJETO: Urbanismo em Minas Gerais
COORDENADOR: D
PARCEIRO: D1
INSTITUIÇÃO PARCEIRA: Sociedade Civil ÁREA CONHECIMENTO CAPES:
AMPAR - Associação dos Municípios da Micro CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
Região do Vale do Paraibuna
Resumo
O programa busca a consolidação de ações e atividades voltadas para o
desenvolvimento urbano e rural dos municípios, em particular na região da Zona da Mata
Mineira. O que está proposto como objetivo é, segundo o autor Lima (2010), proporcionar
horizontes de planejamento, considerando a qualificação e a requalificação dos ambientes
construídos, bem como a valorização do patrimônio natural e a preservação cultural das
localidades trabalhadas. A perspectiva que se coloca é a da participação efetiva das
comunidades pensando os rumos futuros das cidades. O programa envolve projetos de apoio a
elaboração de planos diretores, delineamento de projetos urbanos, elaboração de
mapeamentos municipais e estudos voltados para a compreensão da memória da ocupação de
territórios. Os projetos em andamento têm o apoio do CNPq, da FAPEMIG, do Ministério da
Cultura e do Ministério das Cidades.
O objetivo principal deste programa é consolidar ações e atividades já desencadeadas
37
junto aos municípios e dar continuidade ao processo de planejamento na região da Zona da
Mata Mineira. O que se busca é a capacitação de professores, técnicos e da própria
comunidade quanto à necessidade de pensar os rumos futuros dos municípios. A temática da
conservação, da sustentabilidade, da memória e do patrimônio cultural se coloca assim, em
primeiro plano. Além disso, o trabalho também está envolvido com a integração do programa
aos Parques Nacionais, particularmente o Parque Nacional do Itatiaia, o Parque Nacional da
Serra dos Órgãos e o Parque Nacional do Iguaçu.
A cidade de pequeno porte não tem pessoal técnico para elaborar um plano diretor.
Este trabalho é o foco do projeto em pauta. O professor junto aos acadêmicos bolsistas de
arquitetura atua neste projeto dando suporte à administração dos municípios. Vê-se pelo
resumo e pelo objetivo que o projeto preocupa-se com as ações de conscientização e de
informação à comunidade sobre pontos importante para a elaboração de forma participativa
do plano diretor do município. É, portanto um projeto que, através da criação de um grupo
com capacidade crítica, procura a autonomia da população na observação das questões ligadas
ao planejamento urbano. As ações partem da realidade do diálogo e discussões provocadas
pelos discentes e professores extensionistas e adota a interação dialógica como fundamento da
metodologia.
PROJETO 5
PROJETO: Levantamento comunitário e territorialização das Unidades Básicas de
Saúde
COORDENADOR: E
PARCEIRO: E1
INSTITUIÇÃO PARCEIRA: Setor Público ÁREA CONHECIMENTO CAPES:
Secretaria Municipal de Saúde de Juiz de Fora
CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
Resumo
Trata-se de uma ação multidisciplinar e interdisciplinar, propiciando o encontro de
professores de diversas áreas (artes, educação física, comunicação, geografia, estatística,
serviço social, enfermagem, odontologia, medicina, etc.). O projeto prevê inicialmente
abordagem da região formada pelos bairro em torno do campus universitário, posteriormente
indo para outras áreas, em função das necessidades e dos interesses dos parceiros envolvidos.
O projeto conta com parcerias de professores da saúde coletiva, enfermagem, estatística além
de técnicos do departamento de atenção básica da secretaria de saúde da Prefeitura de Juiz de
38
Fora.
A ação proposta parte de projetos conjuntos com a Secretaria Municipal de Saúde
sobre a área em torno do campus da UFJF, posto que as unidades desta região ainda não
possuem o Programa de Saúde da Família, e demandam ações comunitárias e revisão da
territorialização das unidades básicas de saúde (UBS) São Pedro, Santos Dumont e Borboleta.
Dentre os objetivos gerais, constam no projeto: Melhor qualidade de vida da
população local; contribuir para a organização das ações básicas de saúde na região; propiciar
o trabalho voluntário de acadêmicos de vários cursos da UFJF.
Dentre os objetivos específicos o projeto destaca: Promover a salubridade do meio
ambiente: ar, água, solo; promover ações de promoção da saúde e prevenção de doenças e
agravos; promover a educação em saúde através de radiodifusão universitária e reuniões de
grupo com a comunidade, utilizando metodologias ativas e a arte (teatro, musica, dança, etc.);
Promover iniciativas de geração de emprego e renda, através de projetos de economia
solidaria e organização de cooperativas de prestação de pequenos serviços e produção
(jardinagem, costureiras, pedreiros, artesanato, etc.); promover a conscientização da
população quanto aos direitos civis e formas de acesso a programas sociais governamentais,
através de apoio técnico e jurídico de empresas universitárias.
Como metodologia, utilizando bases de dados geo-referenciadas (IBGE – Censo 2000 e
outras) fez um diagnóstico do território de abrangência da Unidade Básica de Saúde (UBS) da
região estudada. O projeto provê ainda um diagnóstico epidemiológico e mapeamento de
riscos de doenças e agravos, definindo áreas de risco.
Estabelece-se também como meta a devolução dos resultados aos serviços e
comunidades locais, além da indução a formulação participativa de políticas públicas visando
ações de melhoria das condições de vida e saúde a partir dos problemas levantados e
mapeados.
Vê-se que as ações básicas previstas no projeto têm um caráter assistencialista, porém,
ações como iniciativas de geração de emprego e renda, através de projetos de economia
solidária e organização de cooperativas de prestação de pequenos serviços e produção
(jardinagem, costureiras, pedreiros, artesanato, etc.), garantem o caráter emancipador do
projeto. Reforça esta característica a ação prevista de conscientização da população quanto
aos direitos civis e a promoção da escolaridade com aulas particulares aos jovens que
abandonaram o estudo. Verifica-se ainda uma forte vocação interdisciplinar no projeto que,
39
além do setor saúde, outras áreas são envolvidas nas ações previstas.
PROJETO 6
PROJETO: Cultivo orgânico de plantas medicinais e hortifrutícolas
COORDENADOR: F
PARCEIRO: F1
INSTITUIÇÃO PARCEIRA: Sociedade Civil ÁREA CONHECIMENTO CAPES:
Sociedade de Pró-melhoramento do Bairro Nossa CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Senhora das Graças
Resumo
O Projeto busca atender demandas lançadas por um dos empreendimentos
autogestionários acompanhados pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares
Intecoop/SEDETEC/UFJF. Dentre os grupos que participam da metodologia de incubação,
encontra-se a AAMA - ASSOCIACAO AGRICOLA DO MONTE ALEGRE, localizada no
município de Matias Barbosa. Ela é formada por pequenos agricultores e se situa no bairro de
que mantém características rurais pela presença de expressiva área verde e uma represa. Esse
local é foco de ações de preservação ambiental, envolvendo a UFJF, o IBAMA e a Prefeitura
Municipal de Matias Barbosa.
Formalizada enquanto associação, em dezembro de 2004, os objetivos da AAMA são
os de promover ações sociais para a melhoria da qualidade de vida e da renda familiar dos
moradores, através da geração de trabalho e renda, pautada nos moldes da economia solidária,
promovendo a agricultura orgânica, a medicina alternativa, oficinas profissionalizantes com
jovens em situação de risco social, entre outros, tendo sempre como norte, segundo o
coordenador do projeto, Pimenta (2010), o exercício da cidadania e solidariedade e o bem
estar social dos associados, parceiros e a população do município de Matias Barbosa.
Pretende-se que os pequenos agricultores que formam a Associação Agrícola do
Monte Alegre compartilhem seus saberes junto ao conhecimento produzido pela
Universidade, e, desse modo, em um processo de construção recíproca das ações do projeto,
incentiva-se a busca da melhoria da dimensão econômica e social do empreendimento,
baseado no respeito ao conhecimento, à cultura popular e ao meio ambiente. O trabalho
conjunto entre instituições de ensino, pesquisa e extensão, pequenos produtores e suas
40
organizações deve garantir a melhoria dos patamares de sustentabilidade ambiental dos
agroecossistemas, promovendo a preservação e recuperação dos recursos naturais.
O projeto atuou, em uma perspectiva interdisciplinar, de forma a integrar docentes
universitários e o conhecimento acadêmico com participantes de grupos sociais civis e
agentes comunitários e o conhecimento popular.
Pretende-se estimular os moradores sobre novas possibilidades de inter-relação com o
meio ambiente para que se desencadeiem mudanças de perspectivas, inclusive, no
comportamento das pessoas.
O projeto, com uma forte característica de preservação ambiental, se propõe a
trabalhar coletivamente, através de criação de associações, cooperativas e outras formas
coletivas, a questão da produtividade de pequenas terras, em especial a agricultura familiar.
Tem, portanto, uma preocupação com a emancipação da comunidade alvo.
PROJETO 7
PROJETO: Arquitetura e Urbanismo na SS/PJF
COORDENADOR: G
PARCEIRO: H
INSTITUIÇÃO PARCEIRA: Setor Público ÁREA CONHECIMENTO CAPES:
Secretaria Municipal de Saúde de Juiz de Fora
CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
Resumo
Segundo o autor Abdalla (2010), o projeto visa atuar o campo da arquitetura e
urbanismo de uma forma particular e de toda a edificação de uma forma ampla na elaboração
de novas construções para a saúde em Juiz de Fora, bem como na readequação de espaços e
sua própria manutenção, fortalecendo a humanização dos ambientes em saúde e
proporcionando aos trabalhadores e usuários condições mais confortáveis para o exercício
profissional, conforto e biossegurança, bem como para melhor adequação das unidades às
questões legais.
O objetivo do projeto é desenvolver, junto com os discentes do curso de arquitetura e
urbanismo, projetos de arquitetura para a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora
(PJF). No campo acadêmico, com o Mestrado em Ambiente Construído, o projeto prevê a
elaboração de pesquisas que possam investigar questões de importância tanto para a
universidade, enquanto entidade pública de ensino, pesquisa e extensão, quanto para a PJF,
que tem o interesse de melhor prestar assistência na saúde, ofertando um conjunto edificado
41
com melhor qualidade para seus usuários.
A metodologia, conforme consta no projeto é a tradicional de um projeto de
arquitetura e urbanismo ou de edificação. Dois eixos são norteadores nos projetos
arquitetônicos na área de saúde. Um está na humanização do espaço para saúde e o outro nos
conhecimentos de biossegurança, que implicam em necessidades funcionais na edificação
como caracterização de fluxos corretos, barreiras físicas, etc.
O projeto mostra um campo de prática para os acadêmicos de arquitetura e promove
estudos destes voltados para o conhecimento do espaço edificado para atendimento ao setor
saúde. Tem um caráter especializado porem, exige inter-relacionamento com disciplinas da
área de saúde bem como promove um retorno em termos de conhecimento para discentes
professores envolvidos.
PROJETO 8
PROJETO: Clínica de Adolescentes
COORDENADOR: H
PARCEIRO: H1
INSTITUIÇÃO PARCEIRA: Sociedade Civil ÁREA CONHECIMENTO CAPES:
Lar Fabiano de Cristo
CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
Resumo
Trata-se de um projeto desenvolvido na área de odontohebiatria, para que pacientes
adolescentes não fiquem sem atendimento direcionado, com um programa visando à saúde
geral dentro de um contexto social e promovendo a valorização de conceitos estéticos e
cosméticos nessa faixa etária. A autora, Coelho (2010), escreve que o projeto consiste em
atender adequadamente aos pacientes adolescentes, desenvolvendo uma prática integral e
integrada, melhorando os enfoques preventivos, conservadores, curativo e educativo, frente
aos problemas de saúde bucal da população. Procura permitir ao aluno a oportunidade de
reconhecer e lidar com diversos comportamentos adolescentes, obtendo assim um melhor
relacionamento profissional/paciente. A clínica de adolescentes atende a pacientes externos a
universidade em numero aproximado de 40-50 pacientes por período letivo com a
participação de discentes, docentes e técnico-administrativos.
Segundo a autora, o objetivo do projeto é desenvolver conhecimentos, habilidades,
comportamento, hábitos sob o enfoque preventivo e curativo, permitindo ao discente a
42
oportunidade de:
1. Integrar a relação de Odontoefebeatria com outras disciplinas,
2. Atender a população alvo de suas necessidades odontológicas e na
orientação sexual, informando e dialogando sobre suas inquietações a
respeito da adolescência, drogas e sexualidade, promovendo melhorias no
relacionamento familiar e social com responsabilidade.
3. Atendimento odontológico integrado supervisionado de 80 pacientes,
A parte clínica do projeto é desenvolvida por atividades de prática clínica in vivo,
durante os quais o aluno receberá orientação da professora coordenadora que observará o
desenvolvimento e tratamento de cada paciente.
Além de promover saúde integral do adolescente do ponto de vista odontológico, o
projeto ainda prevê outras ações que buscam o bem estar psíquico e social, através de
reuniões com temas que abordam a saúde bucal, mudanças comuns na adolescência, drogas,
métodos contraceptivos, iniciação sexual, gravidez, informando e dialogando sobre suas
inquietações,
promovendo
melhorias
no
relacionamento
familiar
e
social
com
responsabilidade. Seminários sobre os casos clínicos desenvolvidos foram extensamente
debatidos, proporcionando fixação do aprendizado.
Embora com Característica predominantemente assistencialista, o projeto prevê ações
que visam à emancipação do jovem beneficiado quando coloca como um dos objetivos a
prevenção contra doenças bucais e a orientação sexual do jovem. Claro se faz que o projeto é
campo de treinamento prático para os acadêmicos de odontologia e mostra também o papel de
um projeto de extensão como promotor de mudanças da grade curricular dos cursos, no foco
de algumas disciplinas e na motivação para a pesquisa.
43
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
No que se refere à abordagem do problema, a presente pesquisa classifica-se como
qualitativa que, como seu próprio nome diz, não pretende analisar dados numéricos, mas
descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis,
compreender processos dinâmicos, contribuir para com as mudanças de um grupo ou
processos e possibilitar um maior entendimento do comportamento dos indivíduos na
realização de suas ações. A coleta de dados para a pesquisa foi feita, portanto, com base na
proposta de metodologia qualitativa, que, segundo Strauss e Corbin (1998, p. 10):
[...]significa qualquer tipo de pesquisa que produz explicações não obtidas
por procedimento estatístico ou outro meio de quantificação [...] Alguns
dados podem ser quantificados como nos censos ou como informações de
fundamentação sobre pessoas ou objetos estudados, mas o cerne da análise é
interpretativo.
Para Minayo (2000), a investigação qualitativa requer, como atitudes fundamentais, a
abertura, a flexibilidade, a capacidade de observação e de interação com os atores sociais
envolvidos. Seus instrumentos costumam ser facilmente corrigidos e readaptados durante o
processo de trabalho de campo, visando às finalidades da investigação.
Segundo Liebscher (apud Dias, 2000, p.01), os métodos qualitativos devem ser
utilizados:
Quando o fenômeno em estudo é complexo, de natureza social e não tende à
quantificação. Normalmente, são usados quando o entendimento do contexto
social e cultural é um elemento importante para a pesquisa. Para aprender
métodos qualitativos é preciso aprender a observar, registrar e analisar.
Assim, a abordagem qualitativa apresentou-se como a mais adequada para estudar as
questões fundamentais da problemática desta pesquisa. Inicialmente, na coleta de dados,
foram utilizadas as informações dos projetos de extensão cadastrados no sistema SIGA da
Pró-Reitoria de Extensão da UFJF. Deste sistema, foram selecionados os projetos de extensão
que utilizaram parceiros externos nos seus procedimentos. Em seguida, ainda com as
informações contidas neste cadastro, foi feito sorteio de oito projetos por amostragem
aleatória simples que, segundo Neto (2009), todos os elementos da população têm igual
probabilidade de sair na amostra.
A pesquisa bibliográfica e a análise dos projetos cadastrados subsidiaram a análise dos
dados empíricos, pois, de acordo com Minayo (2000), a pesquisa bibliográfica busca vários
pontos de vista dos diferentes ângulos do problema, permitindo estabelecer definições,
conexões e mediações, e mostrar o estado da arte do objeto e dados.
44
As entrevistas, gravadas e posteriormente transcritas, se basearam em um roteiro
semiestruturado, de maneira a deixar fluírem opiniões e posicionamentos dos entrevistados
sobre as questões que lhe são colocadas em torno da temática em foco. O roteiro de entrevista
para os professores coordenadores dos projetos foi, em parte, diferente do roteiro utilizado nas
entrevistas dos representantes dos parceiros externos face ao nível de informações e ao foco
dos objetivos da entrevista diferenciados. Os professores coordenadores e os parceiros
externos foram entrevistados isoladamente.
Segundo Minayo (2000), o roteiro de entrevista visa apreender o ponto de vista dos
atores sociais envolvidos no processo analisado e previstos nos objetivos da pesquisa. Além
de ser um instrumento para orientar uma conversa com finalidade, que é a entrevista, o roteiro
deve ser o facilitador de abertura, de ampliação e de aprofundamento da comunicação.
A pesquisa, portanto, teve caráter qualitativo, paradigma crítico, descritivo, com a
utilização de duas fontes de dados: a documental e as entrevistas semiestruturadas.
Para Bardin (1979), a análise de dados abrange as iniciativas de explicitação,
sistematização e expressão do conteúdo de mensagens, com a finalidade de se
efetuarem deduções lógicas e justificadas a respeito da origem dessas mensagens (quem as
emitiu, em que contexto e/ou quais efeitos se pretende causar por meio delas). Mais
especificamente, a análise de conteúdo constitui:
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando a obter,
por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção
destas mensagens (op. cit., p. 42).
Como atividade inicial, a pesquisa parte da identificação e quantificação dos trabalhos
existentes com parcerias entre universidade e sociedade nos últimos dois anos nas diversas
áreas temáticas de forma a qualificá-las.
As atividades de extensão devem ser classificadas em uma das oito áreas temáticas
definidas pelo Plano Nacional de Extensão Universitária, do FORPROEX (1999), conforme
descritas a seguir:
I - Comunicação: comunicação social; mídia comunitária; comunicação
escrita e eletrônica; produção e difusão de material educativo; televisão
universitária; rádio universitária.
II - Cultura: desenvolvimento cultural; cultura, memória e patrimônio;
cultura e memória social; cultura e sociedade; folclore, artesanato e tradições
culturais; produção cultural e artística na área de artes plásticas e artes
gráficas; produção cultural e artística na área de fotografia, cinema e vídeo;
produção cultural e artística na área de música e dança; produção teatral e
45
circense.
III - Direitos Humanos e Justiça: assistência jurídica; direitos de grupos
sociais; organizações populares; questões agrárias.
IV - Educação: educação básica; educação e cidadania; educação à distância;
educação continuada; educação de jovens e adultos; educação para a melhor
idade; educação especial; educação infantil; ensino fundamental; ensino
médio; incentivo à leitura.
V - Meio Ambiente: preservação e sustentabilidade do meio ambiente; meio
ambiente e desenvolvimento sustentável; desenvolvimento regional
sustentável; aspectos de meio ambiente e sustentabilidade do
desenvolvimento urbano e do desenvolvimento rural; educação ambiental;
gestão de recursos naturais e sistemas integrados para bacias regionais.
VI - Saúde: promoção à saúde e qualidade de vida; atenção a grupos de
pessoas com necessidades especiais; atenção integral à mulher; atenção
integral à criança; atenção integral à saúde de adultos; atenção integral à
terceira idade; atenção integral ao adolescente e ao jovem; capacitação e
qualificação de recursos humanos e de gestores de políticas públicas de
saúde; cooperação interinstitucional e cooperação internacional na área;
desenvolvimento do sistema de saúde; saúde e segurança no trabalho;
esporte, lazer e saúde; hospitais e clínicas universitárias; novas endemias,
pandemias e epidemias; saúde da família; uso e dependência de drogas.
VII - Tecnologia e Produção: transferência de tecnologias apropriadas;
empreendedorismo; empresas juniores; inovação tecnológica; pólos
tecnológicos; direitos de propriedade e patentes.
VIII - Trabalho: reforma agrária e trabalho rural; trabalho e inclusão social;
educação profissional; organizações populares para o trabalho; cooperativas
populares; questão agrária; saúde e segurança no trabalho; trabalho infantil;
turismo e oportunidades de trabalho.
O universo da pesquisa se limitou aos projetos de extensão firmados e desenvolvidos
no ano de 2010, dando uma visão mais atual das questões levantadas. Não se incluem no
universo da pesquisa projetos desenvolvidos em anos anteriores uma vez que, de um modo
geral, boa parte dos programas realizados em parceria mantém um quadro por vezes instável
na coordenação por parte dos parceiros, em especial quando realizadas com órgãos públicos.
As parcerias firmadas em 2011, ano da elaboração dessa pesquisa, ainda não passaram por
processo de avaliação, não se conhecendo seus resultados e, portanto, também não compõem
o universo da pesquisa.
Faz parte do estudo ainda uma análise dos documentos que normatizam as parcerias,
os projetos de extensão existentes e os relatórios produzidos. Os projetos de extensão, em
análise preliminar, obtida através de informação do sistema de cadastramento dos projetos da
46
UFJF e autorizada pela Pró-Reitoria de Extensão, são em número aproximado de 56 que, pelo
título e resumo, indicaram a existência de parcerias com o setor público ou organizações não
governamentais (ONG), objetos da pesquisa.
Outra fonte de coleta de dados foram as entrevistas semiestruturadas realizadas com
professores coordenadores dos projetos de extensão executados em parceria com a
comunidade, bem como os responsáveis pela parceria no âmbito do setor publico e das
organizações do terceiro setor. A entrevista com os coordenadores procurou identificar
vivências e expectativas com relação ao desenvolvimento dos projetos junto com a
Universidade. Identificou ainda os processos de aproximação dos parceiros com a
Universidade, além do grau de satisfação e desafios identificados por eles.
As questões centrais tanto da abordagem com os coordenadores como com os
representantes dos parceiros versam sobre expectativas, dificuldades, entraves e desafios dos
parceiros da universidade nos seguintes aspectos: planejamento na elaboração dos projetos em
parceria; formas de execução e repercussões na organização do ensino e na produção do
conhecimento, práticas de gestão e financiamento, avaliação e resultados obtidos.
Os questionários, abordaram aspectos tais como: o surgimento das parcerias e o
modus operandi das ações extensionistas com estas parcerias; a influência da execução dos
projetos no ambiente acadêmico, nas mudanças curriculares, na pesquisa; o financiamento; a
gestão; a execução; o envolvimento dos estudantes; a avaliação.
Tendo em vista os objetivos e a população de estudo, assim como aspectos
relacionados com a viabilidade da coleta dos dados, as questões foram pré-testadas sendo
aplicadas de forma experimental em dois entrevistados para aprimoramento da linguagem
empregada, atentando-se para uma comunicação fácil e rápida com as respondentes,
aprimoramento da ordem sequencial do estudo e agrupamento de acordo com a lógica da
proposta de trabalho, bem como a possibilidade de adequar-se às questões de estudo. Com a
experiência feita com dois entrevistados, concluí que os questionários deveriam ter enfoques
diferenciados para os professores coordenadores e para os parceiros. O questionário para os
coordenadores mereciam, por exemplo, um enfoque mais acadêmico, voltado mais para a
busca de informações sobre a atuação dos discentes, sobre a interdisciplinaridade, sobre a
influência da execução do projeto nos currículos e na motivação das pesquisas. No
questionário voltado para os parceiros, as perguntas se concentraram mais no sentido de se
buscarem informações sobre o impacto do projeto na instituição parceira e na formulação de
políticas para o setor de sua atuação.
Os entrevistados foram solicitados previamente para participarem da pesquisa e
47
informados quanto ao propósito do estudo e sobre o sigilo das informações. Os termos do
sigilo, recebidos e assinados pelos entrevistados, estão apensos a este trabalho. Por fim, diante
das respostas foram definidas categorias e subcategorias de análise, sendo considerados os
objetivos do estudo.
As entrevistas foram gravadas e, posteriormente transcritas, e sua transcrição está
como apêndice a este trabalho.
A análise das entrevistas foi feita detectando os pontos importantes e as
incongruências que serão, já nas considerações finais, relacionadas ao referencial teórico.
48
5 ANÁLISE DOS DADOS
Este capítulo trata do objeto de estudo desta Dissertação de Mestrado, as formas de
construção e execução de parcerias em projetos de extensão estabelecidas entre a
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) com a sociedade, referentes tanto ao setor
público como ao terceiro setor, tendo como parâmetro os aspectos que expressam e
caracterizam o compromisso social da universidade em direção à formação dos estudantes, a
produção de conhecimentos e a emancipação social. Nessa direção, apresentam-se os dados
de pesquisa e as respectivas análises e reflexões apoiadas no quadro teórico exposto no
capítulo um deste estudo. Os sujeitos da pesquisa foram os coordenadores dos projetos de
extensão sorteados e representantes dos parceiros dos mesmos projetos.
De forma a organizar as idéias centrais, elaboraram-se dez eixos de análise, alguns
deles comuns nos questionários, tanto para os professores coordenadores dos projetos como
os parceiros externos, outros somente para os parceiros e outros somente para os professores,
da seguinte forma:
EIXO DE ANÁLISE
ENTREVISTADOS
Construção de parcerias
Professores
Parceiros externos
Objetivos e metas
Professores
Parceiros externos
Formas de participação
Professores
Parceiros externos
Expectativas
Parceiros externos
Avaliação
Professores
Aspectos acadêmicos
Professores
Acompanhamento do projeto
Parceiros externos
Financiamento
Professores
Entraves e dificuldades
Professores
Diálogo com as políticas
públicas
Parceiros externos
Parceiros externos
Visando preservar a identidade real dos entrevistados, adotaram-se nesse trabalho os
símbolos P e E, com numeração de 1 a 8, como codinomes, sendo P referente aos professores
e E aos parceiros externos.
49
5.1 OS PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS PARCERIAS
A construção das parcerias foi, de um modo geral, relatada de forma muito próxima
pelos professores coordenadores dos projetos:
.
P6 “[...] eu tenho um vínculo forte com o pessoal da Secretaria de
Educação”
P3 “passa por um contato pessoal de um aluno,[...], de alguém conhecido
que vai fazer a interface, o intercâmbio, sempre passa por isso, são cidades
do entorno que são trabalhadas.”
P3 “A forma com que a gente chegou na prefeitura (nome do município) ,
por exemplo, a gente chegou agora porque uma menina [...] aqui é filha do
prefeito, aí a gente entrou, eu estava tentando a um tempão com o secretário
de ( X ) e não conseguia, aí a filha do prefeito veio trabalhar com a gente e
o projeto andou.”
Nessas três citações, verifica-se que a origem das parcerias foi o relacionamento
anterior do professor com a instituição parceira, um estudante estagiário da instituição
parceira e, finalmente, uma estudante filha de uma pessoa influente na cidade parceira.
Nos três casos, pessoas com vínculo com a Universidade foram os que articularam os
primeiros contatos e deram os primeiros passos no sentido de elaborar projetos de extensão.
Portanto, as relações dos segmentos que compõem a universidade (estudantes, professores e
demais servidores) fazem a “ponte” entre a universidade e a sociedade para que haja ações
extensionistas e se amplie, desta forma, a relação da universidade com a sociedade.
De forma diferente, para os parceiros externos, em suas declarações, ampliaram o
leque de possibilidades para se dar o início a um relacionamento com a universidade através
das ações extensionistas.
E2 “... essa parceria já existe a alguns anos, não sei nem te precisar a quanto
tempo a (nome do professor) tem essa parceria com a gente.”
E4 “Então essa parceria acaba gerando outros projetos, a gente também
sempre recebeu estágio, aqui é uma Unidade ligada muito à questão de
ensino, e a gente recebe estágio das diferentes categorias, [...].”
E4 “Bom, foi uma ideia que surgiu nos dois lados, tanto da Prefeitura quanto
da Universidade, da (professora) e da gente, quando a gente organizando um
pouco o processo de trabalho a gente via que tinha determinadas áreas que
50
estavam precisando de ter uma atenção um pouco mais de... dentro da nossa
formação, um pouco mais efetiva.”
E1 “Então a gente montou na escola um grupo de estudo, e a partir desse
grupo de estudo, nós tivemos contato também com [cita o docente
envolvido), lá da Universidade, que se propôs a estar nos ajudando também
nesse movimento. E aí nós, todos voluntariados, fomos convidados a
participar do grupo.”
E7 “o início da parceria é que eu conheço o professor (referência ao
professor coordenador do projeto) há mais de vinte anos, então ele já
trabalhou aqui na (setor envolvido), conhece o meu trabalho, [...] E já houve,
antes desse, outros projetos, outras parcerias, então o início desse é por
justamente eu já ter um conhecimento prévio, muito antigo,[...]”
E5 “Para te falar a verdade ela aconteceu, iniciou em uma reunião em que
nós estávamos participando, ...” “ Desta reunião, o assunto em pauta no
projeto surgiu, problemas sobre o tema foram identificados e o projeto
surgiu.”
Observa-se que, quanto mais ações da universidade com a sociedade, mais
oportunidades de que tais ações se multipliquem. Os projetos de extensão com a participação
de parceiros externos não acontecem através de um plano de extensão desenvolvido pela
universidade. Embora tenha o aval da Pró-Reitoria de Extensão, as parcerias surgem por
iniciativa esporádica de pessoas com envolvimento comum universidade/parceiros.
5.2 SOBRE OS OBJETIVOS E METAS DOS PROJETOS
Sobre os objetivos e metas dos projetos de extensão com parcerias, os professores
coordenadores dos mesmos se manifestaram da seguinte forma:
P8 “é um campo de prática da disciplina em que eu atuo..... “seria uma
oportunidade dos alunos estarem exercitando algumas ações diferentes, que
eles não teria oportunidade de fazer em outro lugar e ao mesmo tempo dando
uma contrapartida para o serviço que estava se abrindo para a gente como
campo de prática, e assim que nasceu o projeto: foi uma necessidade nossa,
enquanto uma disciplina da graduação, mas de acordo com uma demanda
deles, uma necessidade deles.”
P6 “... fortalecer a participação popular, de fortalecer o controle social e aí
trabalhando em especial com os movimentos já organizados, os organizados
e institucionalizados, os conselhos locais de saúde, e também outros
movimentos informais, lideranças comunitárias. Então a proposta básica
desse projeto é trabalhar com a questão de fomentar, incitar, de ampliar, de
fortalecer a participação e o controle social na (área específica abordada pelo
51
projeto).”
P6 “...a gente não tem assim números, né, consegui que “xis” pessoas
participem, conseguir levantar tantas novas lideranças, a gente não tem essas
metas nesse sentido, na verdade assim a meta é de estar fortalecendo mesmo
esses espaços...”
P1 “[...] o objetivo (do projeto) é avaliar(a implantação de um programa
educacional) o programa em todos os seus elementos, a partir da fala dos
(envolvidos na instituição) [...], a gente foi identificar quais foram os ganhos,
quais foram as falhas que precisavam ser trabalhadas nessa discussão
(referentes à implantação do programa).”
P4 “[...] falta para eles capacidade técnica mesmo para resolver algumas
questões, falta condição mesmo de pessoal com formação, então tem esse
lado de atender às demandas ligadas a essa área, no sentido de apoiar as
prefeituras com esse conhecimento que a gente discute aqui na
Universidade.”
P4 “bom, as metas a gente programa, tem as metas do programa como um
todo, de maneira global, que é atingir esses municípios e poder apoiar as
políticas públicas relacionadas a nossa área de atuação,[...]
P5 “Existe uma demanda, que é uma demanda negociada, [...] são metas
traçadas anualmente, todo ano a gente faz uma análise da perspectiva de
projetos para aquele ano. E tem a demanda espontânea, demandas que não
são planejadas.”
E2 “As metas são planejadas, a (coordenadora) traz um projeto ou então ela
propõe alguma coisa e a gente discute em equipe as propostas, avalia em
equipe as propostas e retorna para ela a viabilidade disso.”
E3 “Olha, as nossas necessidades são imensas, então agente tem a questão de
tempo e da equipe que ele tem, então se pudesse ampliar aí, seria muito
melhor.”
E4 “lógico que a gente tem todo um cronograma, um tempo a cumprir,(...)
tanto a instituição parceira como a Universidade, o contato é muito
frequênte.”
E15 “ É claro que tinha prazos, que tinha datas que o (professor orientador)
desenvolveu junto com a Universidade, mas eu não acompanhei isso.”
Observa-se que, na maioria dos casos, uma boa sintonia entre a Universidade e a
parceria externa. Em alguns projetos ambos os lados se manifestam pela importância da ação
52
extensionista para a instituição parceira e, em especial, para o público alvo atingido. O
processo, o planejamento e as ações previstas no projeto são sempre realizados em comum.
Em outros casos, embora minoritário, os parceiros externos não participam na definição das
metas.
Um dos entrevistados entende que “não conseguem fixar metas uma vez que surgem
frequentemente novas demandas.”
Verifica-se, por uma das declarações, que o grande motivador da aproximação da
UFJF desta parceria foi criar mais um campo de prática para os estudantes. O atendimento às
necessidades do parceiro foi o instrumento para atender a real motivação.
Um dos entrevistados, coordenador docente do projeto, expõe os objetivos das ações
previstas que enfatizam o reforço à emancipação de grupos sociais nas questões abordadas no
projeto. O referido projeto, segundo o coordenador, tem forte preocupação com a construção
da emancipação de grupos sociais através das ações previstas.
Observa-se que alguns coordenadores consideram como motor das ações de extensão a
possibilidade de a universidade cumprir com seu compromisso social e mantém objetivos
voltados para a melhoria da qualidade de vida e das condições sociais da população.
O que se conclui com a análise do conjunto de observações, é que, na elaboração da
maioria dos projetos, não foi considerada relevante a definição de metas que devem ser um
parâmetro que direciona as ações implementadas. Segundo algumas respostas das entrevistas,
os projetos passam uma informação confusa sobre as metas a atingir.
As respostas dos representantes dos parceiros confirmam nosso entendimento já
manifestado de que, em alguns projetos, as metas não foram definidas com clareza
5.3 FORMAS DE PARTICIPAÇÃO
Sobre a atuação e, em especial sobre o início da atuação dos acadêmicos extensionistas
com a comunidade para que as ações planejadas aconteçam, um dos entrevistados marca sua
opinião. Observa o parceiro que, se o projeto prevê um envolvimento das ações diretamente
com a comunidade, é importante a participação da parceria na elaboração do projeto. A
parceria tem melhores condições de saber a quem se dirigir e como se dirigir para um
relacionamento mais participativo e colaborativo com os trabalhos. Assim se manifesta o
entrevistado:
E4 “E até a aceitação da comunidade de alguém que vem de fora, ele vai
53
com a gente, e a gente já tem muito tempo aqui, então isso abre as
possibilidades, a gente já identifica: tal lugar, tal pessoa, como ficar aqui e
ali, tem lideranças que a gente não pode estimular muito porque são
lideranças que não trazem benefícios para aquela comunidade, e a gente já
sabe disso, embora às vezes sejam presidentes de bairros... têm até cargos
importantes, mas que se a pessoa vem desavisadamente, tende às vezes a se
juntar a grupos que não são... que estão com outros interesses que não seja a
comunidade, as vezes estão com interesses próprios, então esse tipo
específico, ainda mais trabalhando com participação, depende muito de
conhecer... e para o bolsista, com esse pouco período que tem não dá
tempo.”
Os entrevistados parceiros também informaram quem participou e como participou do
projeto.
E8 “A programação foi feita pela Universidade, apresentada à prefeitura e
nós, juntos com a prefeitura, tentávamos com que a programação se
efetivasse.”
E7 “Então eu participei de que forma? Participando do treinamento desses
acadêmicos [...]”
E7 “O (professor coordenador) preparava o material, que ele é quem
desenvolvia o projeto, e ele me ligava e dizia: “oh, vamos nos reunir, qual
data que você pode?”, para a gente acertar com os estudantes, para serem
treinados... então aí eles partiam para a execução.”
E7 “Olha só, eu vejo esse projeto assim: a Universidade tocou o projeto
inteiro, o tempo todo, a Prefeitura entrou com a minha participação, com o
suporte de esclarecer algumas dúvidas,...”
E3 “...a gente senta para construir juntos o produto, entregou o produto, não
tem relatório não, é bem “resultado.”
E6 “Já veio pronto, basicamente assim, nos encaixaram em alguma coisa que
já existia para esse atendimento, e os estagiários, os acadêmicos começaram
a fazer esse atendimento no consultório aqui.”
Como se observa, em alguns casos, a instituição parceira participa ativamente da
concepção e da elaboração do projeto e na execução das ações. Em outros casos, a instituição
parceira tem um papel passivo em todas as fases do projeto. A universidade pode extrair
elementos significativos para o repensar de suas ações de aproximação com a sociedade.
5.4 EXPECTATIVAS SOBRE A EXTENSÃO
54
Com metas a alcançar no projeto, um dos coordenadores entrevistados, abordando os
problemas que devem ser enfrentados enquanto objetivo do projeto, faz a seguinte afirmação:
P7 “[...] o principal realmente é o desafio de trabalhar com a
interdisciplinaridade nas ações, inclusive para melhorar a qualidade de vida
da população, geração de renda, deficiência energética (entres outras
questões), então eu vou procurar o pessoal da engenharia que tem projetos de
aquecimento solar, vai significar economia de gás, isso para os mais pobres
pesa, e o estímulo à formação de cooperativas populares, vou buscar pessoal
de outros setores para contribuir com outras questões [...]”
Como se lê, há uma preocupação no projeto de promover a emancipação da população
alvo através de geração de rendas e outras ações que visam à melhoria da qualidade de vida.
Na visão dos parceiros, a questão levantada sobre os problemas que a parceria busca
responder está nas respostas que destaco, pois são representativas dos parceiros da sociedade
civil e do setor público.
E2 “...talvez um déficit de recursos humanos aqui da casa.”
E8 “...a falta de planejamento das prefeituras na área de atuação do projeto
levou a administração a ter diversos tipos de problemas que uma ação
extensionista proposta pelo projeto pode minimizar.”
Em ambas as citações, verifica-se que os parceiros esperam que a universidade supra
problemas estruturais das instituições tais como carência de recursos humanos e deficiência
na capacidade de planejamento do órgão público.
Ainda sobre as expectativas, vale trazer à tona o debate sobre o tema assistencialismo
em oposição ao da emancipação. Os parceiros analisaram e avaliaram os projetos dos quais
participam.
E2 …“a parceria entende como importante é que a ação extensionista do
projeto em pauta não tem um viés exclusivamente assistencialista pois que
também promove a “...reinserção social das pessoas (com um tipo de
problemas de saúde). Quanto mais a gente puder disseminar essa idéia,
melhor para o projeto (da instituição parceira.)”;
No entendimento de uma das pesquisadas parceiras, a proposta do projeto não tem
como marca apontar para a emancipação social do usuário, considerando o tipo de clientela
atendido. Isso é evidenciado na seguinte fala:
E2 “... O cotidiano é que trata dessas pessoas. Então é o dia a dia, um dia
após o outro, então, ou seja, tempo aí é um tempo que é característico dessa
instituição. “
E4 “E agente tem que estar mostrando a importância desse trabalho o tempo
55
inteiro, a comunidade...” “Para eles entenderem a diferença que faz isso na
vida deles, na vida humana.”
Questionado se o projeto contribui para a instituição parceira ganhar autonomia ou
emancipação e seguir sozinha no trabalho, o entrevistado afirmou positivamente e frisou:
E1 “Porque o projeto nos proporcionou mais segurança para que a gente
pudesse caminhar um passo. A gente sempre assim: a gente se fortalecia,
caminhava um passo, se fortalecia novamente, caminhava um outro passo.”
E1 “Olha, aqui na (instituição parceira) eu vislumbro o seguinte ângulo:
como o projeto foi muito sério, foi muito denso, ele realmente contribuiu,
então eu acho que a gente já está num momento de nossa caminhada que a
(instituição parceira) eu acho que ela já é capaz de, por ela, caminhar. Eu
acho que esse foi o grande ponto positivo desse projeto, ele não deixou a
gente engessada.
Sobre o caráter assistencialista ou emancipador do projeto, verifica-se que a maioria
dos parceiros entrevistados considera relevante que a preocupação emancipadora das ações
previstas no projeto seja considerada. Dos oito projetos analisados, apenas dois deles tinham
uma forte marca assistencialista, em parte devido ao tipo da população alvo e à área de
atuação dos acadêmicos. Porém, mesmo neste caso, observou-se, pela leitura do projeto e pelo
conteúdo das respostas da entrevista, que sempre havia uma preocupação com a autonomia
possível, conforme o caso, do indivíduo assistido, de um coletivo e da instituição parceira.
Sobre a questão da eventualidade ou continuidade das ações previstas no projeto, os
entrevistados afirmam:
E2 “De forma nenhuma eventuais, a gente entra na rotina da casa, porque
eventuais a gente acredita que seriam situações, assim, que desorganizariam,
porque a gente tem mesmo uma rotina de trabalho, então eles entram na
dinâmica, na rotina da instituição”
E4 “É um trabalho contínuo, nós trabalhamos com lideranças, com
conselhos, com participação e isso é uma coisa que não se consegue de um
minuto por outro, e a gente avança em passos lentos, tentando não recuar e
deixar de trabalhar, mas a gente vê como contínuo,[...]”
Outro representante da instituição parceira considera que as ações devem ser
contínuas, porém não as realiza devido à falta de disponibilidade de tempo do professor
coordenador.
Como se lê, as respostas, na visão dos parceiros, marcam a necessidade de as ações
promovidas pelo projeto de extensão serem contínuas. Considero importante a análise aqui
exposta de um dos parceiros que faz referência à quebra da rotina de trabalho na instituição
56
parceira quando as ações são esporádicas. Certamente, esse deve ser um fator relevante para a
maioria dos casos que reforçam a necessidade da continuidade das ações propostas.
Ainda no tocante à relação dialógica universidade-sociedade, esta é enfatizada pelo
entrevistado representante da parceria externa:
E2 “Que essa parceria tem que ser conveniente tanto para a instituição de
ensino quanto para a instituição que recebe. Então não pode ser uma via de
mão única, então tem de ser de interesse de fato da instituição, tem que
trazer para instituição um benefício para além da questão só do ensino.”
E1 “[...] a gente levava muito material para as discussões na Universidade,
entendeu, exatamente esse movimento de vai-e-vem que foi construindo
todo esse processo de implementação (cita o programa).”
E5 “...o (professor) ele vai naquela conversa ali, mas aprendendo também
com aquela simplicidade dele, com aquele jeito de ser dele, aprendendo com
os idosos...”
Algumas falas enfatizam ainda a troca de informações da realidade da instituição para
que as ações previstas no projeto tenham eficácia.
Na leitura dos projetos e conhecendo-se as respostas dadas nas entrevistas, quando o
assunto é extensão, sob o ponto de vista acadêmico, um dos pontos frequentemente lembrados
pelos entrevistados é o da interação dialógica que deve existir entre a universidade e a
sociedade. Os professores são unânimes em considerar que as ações extensionistas levam o
conhecimento acadêmico para a sociedade e trazem de volta o conhecimento e informações
gerados pela sociedade para o seio da universidade.
5.5 A INFLUÊNCIA DA EXTENSÃO NOS CURRÍCULOS
Na visão dos coordenadores dos projetos pesquisados, a maioria entende que, pelo
menos no foco de suas disciplinas, houve importante influência das experiências no
envolvimento com a extensão.
Segundo os entrevistados, perguntados se a execução do projeto influenciou na
mudança curricular do curso, responderam:
P8 “Com certeza, a gente tem feito modificações principalmente na nossa
disciplina a partir dessas atuações lá a partir do projeto.”
P6 “Eu aproveito muito do projeto de extensão para trazer para a sala de
57
aula. A gente não conseguiu oficializar isso, de forma a mudar o currículo,
mas certamente são experiências que contribuem muito com as disciplinas
[...]Acho que o projeto está me alimentando muito para eu dar um outro
rumo à disciplina.”
P7 “[...] que o aluno, [...] tenho muito dificuldade com esses meninos
(refere-se aos alunos que participam do projeto) quando começa a época das
provas, então a predominância excessiva do ensino curricular, de sala de
aula, [...]”
P3 “...mais da metade da disciplina eu abordo questões que eu acumulei de
experiência desse projeto desde 2003.”
P2 “Isso acontece a todo momento, a cada período a gente está se inovando,
sempre surgindo questões diferentes, tanto é que, por exemplo, o adolescente
e idoso, que eu vi que era uma área que estava precisando demais da nossa
ajuda, e isso me levou a criar duas disciplinas dentro do curso [...] que estão
hoje como disciplinas opcionais, que vai se tornar, a partir do ano que vem,
como disciplina obrigatória,...”
Embora um dos coordenadores julgue que o projeto não influencia no currículo, uma
vez que já existe uma disciplina específica que aborda o tema do projeto, pelas respostas
expostas, verifica-se uma tendência acentuada de as ações extensionistas influírem nos
programas e currículos dos cursos.
Verifica-se ainda o pensamento de um dos entrevistados que a mudança curricular
acontece com o desenvolvimento do projeto, mas de forma incipiente. Entende ele que “o que
deveria acontecer é a mudança no projeto pedagógico do curso que considere mais a
participação do alunado em projetos como este”. O coordenador, portanto, faz críticas ao
projeto pedagógico predominante nas instituições, que, segundo ele, valorizam de forma
excessiva os trabalhos dirigidos realizados dentro de sala de aula.
A pesquisa levantou ainda questões acadêmicas relevantes que devem ser consideradas
nos projetos de extensão. Sobre a interdisciplinaridade, exponho agora algumas declarações
destes parceiros:
P8 “todo mundo faz tudo, porque funciona com oficina terapêutica, então
tem oficinas de artesanato, de música, de pintura, de não sei o quê... e todo
mundo é monitor de tudo”
P8 “é feito um plano de cuidado para os usuários, que é feito pela equipe, em
conjunto, então isso faz parte da filosofia do serviço.”
P6 “...a princípio sim (refedindo-se à possível característica interdisciplinar
do projeto), mas a gente não consegue. A princípio a idéia é... como se trata
58
de um projeto da residência, a residência é múltiprofissional, então é a
assistência social, enfermagem e medicina.”
P6 “a gente não consegue desenvolver uma prática interdisciplinar de uma
forma geral”
P6 “...a saúde tem um discurso de multidisciplinar, interdisciplinar e a gente
consegue muito pouco, mal e porcamente a gente consegue trabalho
multidisciplinar...”
P1 “[...] a integração das disciplinas acadêmicas do curso de graduação de
pedagogia, para os alunos, ela acontece de uma forma muito natural no
projeto, porque você para pensar a matemática precisa de utilizar a história, a
sociologia, a psicologia [...]”.
P4 “Ele (referindo-se ao projeto) é totalmente interdisciplinar, o programa na
verdade a gente trabalha... eu tenho bolsista de todas as áreas, da
comunicação, do turismo, da geografia, e a gente já trabalha nisso, tem
professores de outras áreas que também colaboram, [...]”
P3 “...a gente faz uma discussão que a gente engloba todos os profissionais,
então já é interdisciplinar lá, quando a gente dá curso para a comunidade, é
interdisciplinar.”
.
À exceção de um entrevistado entre os coordenadores dos projetos pesquisados, os
demais entendem que as ações desenvolvidas têm característica interdisciplinar ou têm um
forte comprometimento com a interdisciplinaridade.
Dando continuidade à análise das ações extensionistas, sob o ponto de vista
acadêmico, foi solicitado aos professores coordenadores dos projetos pesquisados que
informassem se alguma pesquisa foi suscitada pelas atividades desenvolvidas no projeto de
extensão.
P8 “então há cinco anos atrás a gente fez uma pesquisa sobre esse impacto
para os usuários e para as famílias dos usuários e a gente vai repetir agora a
mesma pesquisa, essa é a pesquisa maior, fora as outras menores que a gente
tem feito lá dentro.”
P6 “A gente fez a pesquisa no ano anterior, no ano de 2005 agente fez todo o
levantamento, nós fizemos o que a gente chamou de mapa falado. Nós
fizemos o diagnóstico através de entrevistas, aí foi a pesquisa. Hoje são
projetos de intervenção.”
P1 “[...] um projeto de pesquisa que a gente faz hoje, que é o (cita o nome
do projeto), também é derivado dessas parcerias [...]”.
59
P4 “O que a gente vê nas comunidades acaba gerando (pesquisa) então, por
exemplo, agora a gente mandou uma proposta para a FAPEMIG no edital de
pesquisa [...]”
P4 “[...] nas minhas disciplinas, eu coloco muito questões locais, questões
regionais, e quando eu comecei a lecionar eu não tinha essa realidade para
apresentar. Então, na verdade, no início a gente tinha uma maneira de focar
determinadas disciplinas que hoje a gente tem essa experiência toda de
aproximação com os municípios da região,[...]”
P7 “O tempo todo, o tempo todo(referindo-se a fazer pesquisa)... eu estou te
falando porque eu não sai da fase da pesquisa, [...]”.
P3 “...faz biopirataria (referindo-se a alguns pesquisadores que recebem
informações da comunidade), pega essa informação e vai patentear, eu não
trabalho com patente. “
Pelas observações dos coordenadores entrevistados, houve unanimidade na
consideração de que os projetos de extensão suscitam ao desenvolvimento de pesquisas,
havendo, inclusive destaque de um dos coordenadores de que o projeto de extensão levou ao
projeto de pesquisas.
Ainda analisando os aspectos acadêmicos dos projetos, na articulação entre ensino,
pesquisa e extensão, os coordenadores avaliam da seguinte forma:
P6 “...a gente fez todo um levantamento, quem são esses jovens, onde estão
esses jovens... então assim a questão da pesquisa a gente está sempre
trabalhando. No que diz respeito mais ao ensino, a gente faz regularmente
grupos de estudo, por exemplo agora a gente voltou a estudar a questão da
participação do controle social. Agora a gente estudou muita a questão da
infância, da juventude, da violência junto a esse público.”
P1 “[...]a gente faz tudo ao mesmo tempo, mas são três projetos.”
Embora na entrevista se aponte para a participação de todos em múltiplas ações
previstas no projeto, sobre a articulação entre o ensino, pesquisa e extensão na execução do
projeto, os entrevistados julgam que, ao ter que lidar com diversos setores do município, a
prática do ensino e da pesquisa acaba se entrelaçando. Não observei na análise dos projetos e
nas respostas dadas, que esta inter-relação se faz de forma articulada em alguns projetos.
P7 “Na minha visão, no meu projeto, isso fica claro que... a pesquisa está
ligada ao projeto como pré-requisito dele, o diagnóstico da saúde na
população demanda pesquisa, temos que levantar dados, e no ensino também
vejo essa articulação perfeitamente, porque ao envolver o aluno num projeto
60
desse ele está realmente aprendendo muito mais do que se estivesse sentado
em sala de aula, [...]”
P3 “na parte de pesquisa porque a gente faz levantamento, levanta dados de
uma comunidade, fazendo pesquisa de uma comunidade, faz estatística com
esses dados, depois a gente faz uma validação científica do material colhido”
P5 “Nós estamos no décimo ano desse projeto de extensão. A partir do
terceiro ano, foi possível realizar uma análise do contexto, e a partir dessa
análise de contexto a gente atrelou algumas pesquisas, temas do próprio
projeto, com financiamento da FAPEMIG, financiamento do CNPq, e
atualmente com repercussão até no mestrado.”
Verifica-se, nas declarações dos coordenadores, a visão da importância da articulação
entre os projetos de extensão com o ensino e a pesquisa, porém, verifica-se que, na sua
execução, essa articulação nem sempre acontece, talvez por dificuldades na execução das
ações básicas previstas no projeto que demandam tempo e esforço para sua implementação.
Finalizando a análise sobre as questões acadêmicas ligadas aos projetos de extensão
pesquisados, foi investigada a participação dos acadêmicos nos projetos e a influência dessa
participação na sua formação.
Verifica-se que um dos coordenadores de projeto considera que a ação extensionista
aproxima e quebra tabus dos estudantes para com o tema (referência ao tema proposto pelo
projeto), porque a cada ano que passa tem aumentado o interesse dos acadêmicos, então a
concorrência para as bolsas está aumentando.
P8 “Ano passado a gente trabalhou... só tinha uma bolsa e a gente trabalhou
com seis voluntários,...”
P8 “Eu acho que isso, inclusive é um dos grandes resultados para o ensino, é
essa possibilidade de aproximação (dos acadêmicos com o tema )sem
grandes receios, sem grandes preconceitos, e tem sido muito legal, porque a
cada ano que passa tem aumentado o interesse dos alunos, então a
concorrência para as bolsas está aumentando, [...] então está sendo muito
legal ver isso, como os interesses dos alunos aumentou pela área, inclusive.”
P6“...eles participam dos grupos de estudos, eles participam dos
planejamentos de todas as ações.”
P1 “Se a gente for ver a trajetória dos alunos que participam da pesquisa, em
relação a outros que não participam, o processo formativo é completamente
diferente[...].se a gente ficar só em sala de aula, a gente não sai da sala de
aula, então não choca com a realidade, a realidade é completamente móvel,
complexa, e a sala de aula não dá conta de responder essas questões, então
quando o aluno se insere desde o início...”
61
P4 “[...] trata-se de uma capacitação, é uma especialização na graduação.
Que o aluno vai para campo, vê realidades diferentes, ele vê coisas que ele
só viu na teoria, ele vê também que a realidade é muito diferente da teoria,
ele vê dificuldades, desafios e ele até se motiva para poder se preparar mais.”
P4 “E o aluno, com isso, ele realmente, ele acaba assim tendo uma formação
diferenciada, aquele aluno que só ficou na sala de aula, durante o curso e tal,
ele vai ser um aluno que vai ter uma visão e esse outro que foi para campo,
que viveu realidades distintas, ele está mais preparado. Então eu não tenho
dúvidas disso.”
P7 “[...] ao envolver o aluno num projeto desse ele está realmente
aprendendo muito mais do que se estivesse sentado em sala de aula, aliás o
problema do ensino não é a articulação ensino-pesquisa-extensão, é o ensino
burocrático de sala de aula, um método desde 1950 que já está superado, um
método disciplinar que Michael Foucault tanto discute, nós, os brasileiros,
ainda temos o Paulo Freire como exemplo, que levantou esse bandeira lá nos
porões da ditadura militar, e até hoje nós continuamos reproduzindo aí,
acriticamente, por que?, porque é mais fácil, não dá trabalho, fazer extensão
dá muito trabalho, acho que o principal obstáculo é a preguiça mesmo ou a
falta de estímulo para o professor estar em dedicação exclusiva. [...]”
P7 “[...] não se aprende a trabalhar com objetos complexos de outra forma a
não ser se envolvendo com ele, então é importante que o aluno participe de
todas as fases do projeto, desde o planejamento, a avaliação, a
implementação.”
P3 “[...] a maioria dos alunos que sai do projeto, por que esse já está durando
desde 2003, sai com uma cancha em (tema do projeto).”
P5 “eu não faço nenhum projeto de extensão sem a participação de alunos
eles que fazem na verdade a proposição, eu coordeno o trabalho,...”
Segundo uma das coordenadoras, os acadêmicos participam intensamente em ações
específicas e como palestristas sobre temas diversos voltados para a saúde, aconselhamentos e
outras atividades.
Todas as falas sobre o tema mostram de forma positiva a participação dos estudantes
no projeto de extensão. Os professores coordenadores enfatizam a forma, positivamente
melhor, da formação do acadêmico que se envolve em atividades dos projetos de extensão.
Na visão dos parceiros, destaco essas declarações sobre a participação dos acadêmicos
nos projetos junto à instituição parceira. Sobre o envolvimento destes, o parceiro entende que
foi suficiente em número e quanto à atuação foi incisivo:
E8 “os alunos participaram muito do trabalho, estavam entusiasmados,
participaram muito bem, foram excelentes alunos aqui, pode falar
excelente.”
62
E4“ [...]ele vai crescendo um pouco dentro do projeto, lógico que no início
ele tem maiores dificuldades, porque ele ainda está chegando, então a
formação dele ainda não está completa, e a medida que a gente vai sentindo
que ele tem força a gente vai soltando, então se tem uma oficina para fazer,
ele participa do planejamento, ele que organiza junto com a gente[...]”
No caso a seguir, verifica-se que o entusiasmo dos estudantes em participar do projeto
acaba colocando dentro da instituição um número excessivo de acadêmicos, o que considera
inadequado.
E2 “O número de alunos que participam é muito grande considerando o
espaço disponível e toda a estrutura deficiente oferecida.”
E4 “Não, eu acho que tinha de diminuir, pois não dá para colocar mais
ninguém aqui,[...].”
A queixa de parceiros quanto ao excesso de acadêmicos participando do mesmo
projeto, pode levar a concluir-se que os estudantes consideram relevante a participação para
sua aprendizagem e que o número de projetos de extensão precisa ser ampliado.
5. 6 O FINANCIAMENTO DOS PROJETOS
Sobre o financiamento dos projetos destaco as seguintes respostas dos coordenadores
entrevistados:
P8 “... nós não temos financiamento, só tem bolsa, uma bolsa só e um monte
de voluntários... (risos), e é legal mesmo, porque está aumentando o número
de voluntários”
P8 “normalmente financiamento vem muito para essas áreas que você
trabalha com as questões de mais impacto na sociedade, tipo na área de
saúde, tipo AIDS, câncer, alguma coisa assim”
P6 “[...]isso é um problema sério, a gente só tem bolsas. E não tem
financiamento.”
O coordenador, referindo-se à necessidade de fornecer lanches ao público alvo quando
ocorre ação extensionista, com frases que podem caracterizar o problema da falta de
financiamento dos projetos de extensão, faz as seguintes declarações:
63
P6 “Faz uma vaquinha e faz o lanche”
P6 "ah conseguimos o suco na padaria"
P6 “às vezes consegue nada, então a gente não tem.”
P6 “Então é isso, é com bolsas, é com boa vontade, financiamento a gente
não tem não, só as bolsas.”
P1 “Olha, como eu sempre faço a pesquisa envolvendo pesquisa e extensão,
eu sempre tenho financiamento do CNPq e da FAPEMIG, então na realidade
o que sustenta os nossos projetos são esses financiamentos das agências
mesmo de fomento. Porque aí eu tenho as bolsas de pesquisa, mas eu
também tenho o edital Universal da FAPEMIG, o edital Universal-CNPq”
P7 “O meu projeto não tem financiamento não, mas eu estou esperando ele
criar um pouco mais de massa crítica, de corpo, e de um ritmo de
funcionamento, a partir daí, minha intenção era essa, a partir desse
diagnóstico e desse seminário eu elaborar então os projetos de intervenção e
buscar os financiamentos.”
P3 ”as bolsas são pagas pela Pró-Reitoria de Extensão e os gastos de
locomoção, alimentação e viagens para as cidades é pago pelas prefeituras,
só que a estadia até hoje não teve. A gente está sempre indo em cidades
próximas, já teve vez de eu levar os meus alunos no meu carro, aí a
prefeitura paga a gasolina,...”
P5 “Olha só, existe uma tradição nesse projeto, que é o seguinte: a Secretaria
de Saúde oferta de três a quatro bolsas de estágio, equivalente a estágio na
prefeitura, todo ano, para uma bolsa de extensão do projeto. Então tem uma
bolsa de extensão, três bolsas de estágio pela Secretaria de Saúde”.
A respeito do financiamento, como e por quem essas ações em parceria são
financiadas? Um dos entrevistados mostra um leque de opções de financiamento que ele
busca, dependendo da parte do projeto que vai executar. Cita o apoio conseguido nos editais
do CNPq, da FAPEMIG, do Ministério da Cultura e também das Prefeituras beneficiadas que
cedem salas, computador, um pró-labore de um consultor.
Verifica-se, por algumas declarações, que incluir item de pesquisa nos projetos
extensionistas pode facilitar a aquisição de financiamentos de órgãos de fomento. Isto é um
indício das dificuldades que a extensão universitária sofre para conseguir financiamento se
compararmos com a pesquisa que tem mais órgãos de fomento e mais recursos disponíveis.
Na visão dos parceiros, dos comentários sobre o financiamento foram destacados:
E5 “[...] Em termos de financiamento, né, aí varia ano a ano, já teve essa que
o Mistério da Saúde liberou equipamentos de informática... e esse ano,
particularmente, fechado o convênio, a Prefeitura se comprometeu a fazer
todo o upgrade de equipamentos, então o projeto tem recursos só isso, e os
64
custos operacionais todos por conta da Prefeitura.”
E2 “Então como a gente está fazendo um trabalho pela Universidade, [...], a
Universidade nos ajuda a manter toda a clínica, com o material [...] alguns
materiais a gente consegue para poder dar atendimento a essa população.”
E3 “É um convênio, né, eu não sei te falar bem ao certo como é esse
convênio. Eu sei que o convênio tem uma bolsa, eu não sei bem ao certo, sei
que ela não deve ser muito interessante para a equipe, a gente tem até
interesse de melhorar isso.”
Essa última declaração representa parte da parceria externa que não se preocupa com o
financiamento e espera que o projeto aconteça, ou através de ações voluntárias, ou que a
universidade busque esse financiamento em outros órgãos de fomento.
5. 7 O ACOMPANHAMENTO DOS PROJETOS
O processo de execução do projeto suscita questões sobre como se dá o
acompanhamento. De um modo geral, os parceiros externos se posicionam da seguinte forma:
E4 “Destaco ainda que o acompanhamento da instituição parceira é
permanente”.
E2 “de forma presencial, as reuniões de equipes têm a participação sempre
de um aluno.”
E1 “[...]nossa a gente fazia uma espécie de ata, vamos chamar assim, então
a gente tem todo esse material registrado direitinho, e assim, tem todo o
material com imagens também, tem relatos de experiência, tem todo esse
material... “
E7 “Com reuniões marcadas! Os encontros para apresentação dos resultados
do que já tinha sido feito, na própria Universidade Federal foi feito tipo um
seminário, um encontro maior em que os acadêmicos levaram os dados que
eles coletaram, vários departamentos estavam interessados em desenvolver
algum tipo de trabalho nessas comunidades.”
A análise das citações dos entrevistados representantes da parceria leva a concluir que,
de alguma forma, existe um acompanhamento das atividades desenvolvidas pelo projeto. Para
alguns, o acompanhamento se faz através de relatórios apresentados pelos executores do
projeto; para outros o acompanhamento se faz com reuniões periódicas e, finalmente, para
outros, o acompanhamento se faz de forma presencial, nas ações do dia a dia.
65
Sobre a necessidade de replanejamento, os coordenadores se manifestam:
P1 “o tempo inteiro, a gente refaz o projeto o tempo todo”
P6 “o replanejamento é feito de forma participativa envolvendo todos os
atores do projeto, incluindo aí os parceiros externos.
P7 “O tempo todo (referindo-se ao replanejamento e avaliação, porque o
horizonte de meu projeto é muito complexo, trabalha no médio prazo,[...]”
E8 “[...] ficou faltando isso, simplesmente por falta de recursos, não tinha
recursos disponíveis para isso”.
P8 “...o que precisa revê, replaneja, mas nada assim muito... que traga
grandes modificações no projeto original não.”
Em sua maioria, as respostas mostram afirmativa a existência do replanejamento em
parte ou de todo projeto considerando a experiência adquirida e as novas demandas. Afirmam,
portanto, que replanejamento se faz o tempo todo.
Os parceiros se queixam das dificuldades de proceder ao replanejamento por falta de
tempo ou por falta de recursos. Entendo que a referência à falta de recursos se deve ao ônus
do processo de coleta de dados para análise. A queixa sobre a falta de recursos para o
replanejamento pode também estar vinculado às dificuldades de implementar outros
procedimentos mais onerosos que se vislumbram com a adequação dos projetos.
A análise dos resultados do projeto ficou prejudicada uma vez que faltaram recursos
para avaliação posterior conforme dito pelo parceiro externo.
Sobre replanejamento, “, .....o que precisa revê, replaneja, mas nada assim muito... que
traga grandes modificações no projeto original não.”
Sobre o tema “avaliação”, os coordenadores se manifestaram mostrando que alguns
fazem avaliação frequente, a cada momento; outros esporadicamente e outros anualmente.
Porém, foi unânime que, seja através de reuniões, seminários ou da análise de relatórios, os
coordenadores praticam processos avaliativos. Algumas declarações enfatizam a participação
dos parceiros no processo avaliativo. Eis a seguir algumas citações sobre o tema:
P8 “... então uma vez por semana a gente se reúne com o pessoal do serviço
para avaliar as necessidades da semana,”
P8 “E a outra a gente faz a cada semestre, exatamente antes de mandar o
66
relatório para a ProEx, daí a gente faz uma avaliação mais formal.”
P8 “Sim, a gente sempre faz juntos”
P6 “todo final de ano a gente faz um relatório completíssimo[...]então
normalmente são as residentes com as bolsistas que fazem todo o relatório. E
a gente faz também uma reunião.
P4 “A todo momento, cada atividade que a gente desenvolve, a cada ida a
campo, a gente vai pesquisar alguma coisa e descobre outras que a gente
não tinha pensado, [...]”
P4 “tem uma avaliação que ela acontece no decorrer daquela atividade que
está dentro do programa e que a gente avalia o bolsista.[...] tem uma
avaliação que é feitas nas próprias reuniões comunitárias[...].”
P7 “que o projeto está andando mais devagar do que eu gostaria, e mesmo
assim eu acho que continua sendo válido.”
P7 “você tem ações de vários tempos, em escalas de tempos diferentes, e em
todo momento você tem que estar fazendo avaliação, eu acho que a grande
avaliação que eu vou fazer vai ser nesse seminário e no final,[...]”
P5 “Constantemente, existe essa coisa de demanda espontânea que fura todo
o cronograma todo ano.”
P5 “...o projeto ele é pró-ativo o tempo inteiro e esse é um problema do
projeto, a gente não tem tempo de avaliar,...”
P2 “Avaliações a gente faz todo período, porque ao final de cada mês eu
exijo um relatório de todas as atividades que são feitas com esses pacientes,
então os alunos obrigatoriamente para receber a bolsa e ganhar frequência,
eles me entregam todo mês um relatório de todas as atividades que são
executadas, e ao final do período a gente faz esse levantamento de todo esse
relatório, e faz um relatório final para poder mandar para Proex.”
Na fala dos parceiros, verifica-se que algumas instituições fazem avaliação dos
resultados da parceria de forma isolada, como também acontece por parte da Universidade em
alguns casos.
Observa-se ainda na análise das respostas, que as avaliações são feitas na maioria das
vezes com muita frequência e com a participação da universidade. Algumas parcerias
envolvem a comunidade beneficiada pelo projeto no processo avaliativo. Para tanto,
promovem reuniões abertas à comunidade ou com a participação de lideres comunitários.
67
E2 “as avaliações são cotidianas [...] Agora eu não sei como é essa avaliação
da Universidade com a (coordenadora do projeto), aí ela deve ter lá os
critérios dela, eu não conheço.”
E4 “Isso é feito, pelo menos anualmente, para a gente também redefinir
algumas coisas, continuidade, o caminho a ser feito, se a gente conseguiu
atingir o objetivo que foi previsto, porquê que não foi conseguido[...]”
E7 “Olha, a questão é o seguinte: na semana que vem a gente vai reunir para
ver o que que pode dar continuidade”
E5 “nós tivemos vários encontros com a comunidade sobre o projeto, eu
acho que essa parte foi feita, agora é questão de dar continuidade.”
O desenvolvimento do projeto é acompanhado pela instituição e tudo que acontece
durante as ações são registradas e documentadas para uma posterior avaliação. Essa avaliação
é sempre conjunta, ou seja, sempre com a participação do pessoal da universidade e da
instituição parceira. Assim se verifica na fala da entrevistada parceira:
E4 “é também uma exigência do projeto, que se feche um relatório final para
a gente poder prestar contas realmente do que aconteceu. [...] “Então a gente
monta juntos os projetos, as estratégias e os objetivos, tudo a gente monta
junto, [...]”
5.8 DIFICULDADES E ENTRAVES
Destaco aqui declarações que abordam as dificuldades e entraves encontrados na
execução dos projetos, segundo a visão dos professores coordenadores.
P8 “...de infraestrutura (referindo-se à instituição parceira), porque como é
um serviço da prefeitura, eles também têm uma carência muito grande de
recursos,...”
P1 “[...] eu costumo dizer que sempre trabalhando com rede e com escola as
pessoas têm uma ideia, e isso deu até um texto que a gente produziu, que a
Universidade tem um “saber”, o (setor público parceiro) tem o “poder” e
(órgão público trabalhado) o “fazer”. Então essa relação que existe quando
você trabalha com parceiros de outras instâncias é uma relação difícil de
você administrar, porque sempre parece que a Universidade está querendo
impor um determinado saber, um determinado conhecimento.”
68
P7 “[...] que o aluno, [...] temho muito dificuldade com esses meninos
(refere-se aos alunos que participam do projeto) quando começa a época das
provas, então a predominância excessiva do ensino curricular, de sala de
aula, [...]”
P7 “Eu não tenho tido dificuldade nenhuma com a Universidade, [...] mas eu
percebo que o ritmo as vezes que a Prefeitura está andando, na (órgão da
prefeitura), por exemplo, tem atrapalhado um pouco, cada hora é uma
novidade que surge, você não tem um horizonte de planejamento tranquilo
não...”
P3 “... a gente sabe que está sendo manipulado por muitas prefeituras, não
posso falar quais para você, mas assim em muitos casos o interesse do
prefeito é dizer que está tendo um convênio com a Universidade, ...”
P3 “...já me levaram para um conselho municipal de saúde e eu fiquei lá
igual um... o vereador falava que tem convênio coma Universidade e
apontava para mim, o prefeito fazia discurso e eu estou lá... aí no final me
deram 3 minutos para falar, aí 3 minutos, 4 minutos, o que você vai falar?”
P5 “ao longo desses dez anos de projeto, que é a falta de manutenção, um
problema sério de arranjos e desarranjos na organização: mudança de
secretários, mudança de prefeitos, administração que também não é estática,
ela é dinâmica,...”
P5 “A dificuldade é a frequente mudança do Secretário (setor afeto ao
projeto), a cada mudança do Secretário o projeto para de dois a três meses
até ele entender os objetivos e perceber a visibilidade do projeto para a
Secretaria, isso é frequente, porque isso passa por ele, mudou o Secretário, o
convênio tem que ser modificado para receber o nome do novo secretário.”
P2 “O problema que a gente tem observado mais agora é que a grade
curricular dos bolsistas, dos alunos que trabalham está ficando muito
comprometida, quer dizer: como são doze horas semanais de projeto, as
vezes o aluno fica oito horas (diárias) nas instituições ou dentro da
Faculdade, mas também tem uma carga horária que eles fazem levantamento
bibliográfico, estudo de caso, estudam, fazem pesquisas, isso tudo dentro
dessa carga horária,...”
Na visão da maioria dos professores coordenadores dos projetos, verificam-se fatores
que interferem no desenvolvimento das ações extensionistas. Quando da parceria com órgãos
públicos, denunciam a influência nem sempre positiva dos políticos que estão, em alguns
casos, mais interessados em autopromoção e fortalecimento da sua imagem do que participar
de forma mais incisiva no apoio às ações desenvolvidas.
Destaca-se ainda na fala dos coordenadores sobre a falta de regularidade dos atores
69
das instituições públicas parceiras, que muitas vezes, como cargos de confiança dos
comandos, são trocados frequentemente, o que prejudica a dinâmica dos procedimentos
previstos nos projetos.
Ainda, como entrave importante, alguns professores denunciam a excessiva carga
horária prevista nos projetos pedagógicos dos cursos que tradicionalmente são voltados
exclusivamente, ou acentuadamente, para as atividades dirigidas em sala de aula. Tal questão
impede uma participação mais efetiva dos acadêmicos nos projetos de extensão.
Sob o ponto de vista dos parceiros, os principais problemas e entraves no
desenvolvimento dos projetos de extensão são comentados a seguir. Verifica-se que um
número grande de acadêmicos interessados e participantes, tende a tumultuar o ambiente,
porém enfatizam que o docente coordenador do projeto tem sabido lidar bem com o problema
e consegue coordenar os trabalhos de forma apropriada.
E2 “Apesar de ter muitos alunos e a gente acha que ter muitas pessoas juntas
a casa não comporta,...”
E4 “Às vezes a disponibilidade do bolsista, que as vezes não coincide com a
que o projeto naquele momento pede, então a gente tem que andar e ele não
pode participar de algumas coisas, então ele perde.”
E1 “... eu vou ser bem sincera, eu não percebi nenhum entrave não. Porque,
como eu estava desde o início, então isso foi uma coisa muito linear. Agora,
em outras (instituições), muitos desistiram no meio do caminho, porque as
vezes um profissional que se dispôs em um primeiro momento desistiu. Não
teve, por exemplo, seu contrato renovado, porque não eram cargos efetivos,
então isso também eu acho que é um fator que ajuda muito: o fato de você
ter aquela segurança de estar naquela instituição, desenvolvendo seu trabalho
e não ter aquela fragmentação.”
E8 “O professor coordenador do projeto, inclusive, conversando comigo
pediu até o que nós começássemos a pensar a revisão desses planos, mas a
gente tem o problema eleitoral, que os prefeitos estão indo embora no ano
que vem. Aí eu não sei se é o momento para conversarmos com eles, ou se
deixaria para o próximo mandato para pegarmos já os prefeitos novos e
fazermos a revisão dos planos diretores.”
E8 “[...] as prefeitura que não conseguiram acompanhar o deslocamento dos
alunos, isso foi a maior dificuldade que nós tivemos, foi da nossa parte, não
foi da Universidade, que era contra-partida das Prefeituras, que, não vou
dizer todas, algumas não conseguiram acompanhar.”
E3 “São essas mesmo, a questão do tempo e do número de pessoas, que a
gente precisaria de um aporte maior. Mas nós sabemos que é um projeto de
70
extensão, ele 9referindo-se ao coordenador do projeto) tem lá as 40 horas,
ele tem todos os compromissos acadêmicos.”
A parceira relata que tem algumas dificuldades para dar regularidade às ações do
projeto.
E6 “Tem período que é melhor e tem período que é pior.”
As dificuldades apresentadas no projeto são, segundo a parceira, não ter os
equipamentos adequados para o bom desenvolvimento dos trabalhos. Algumas atividades
ficam comprometidas e não podem ser feitas.
Em outro momento também a entrevistada fala da falta de regularidade da atuação dos
extensionistas. Afirma ainda que os acadêmicos fazem o trabalho sozinhos, não têm o
acompanhamento presencial do coordenador ou outro professor. O acompanhamento é feito
através de relatório apresentado pelos acadêmicos.
Observa-se, pelos comentários dos parceiros entrevistados, que os entraves têm alguns
pontos comuns com a visão dos coordenadores dos projetos. Nota-se, por exemplo, que o
pouco tempo disponível dos acadêmicos para a participação nas ações programadas dificulta a
regularidade das atividades.
Outro exemplo coincidente com as avaliações de alguns coordenadores é a não
regularidade das pessoas ligadas à instituição parceira que, ocupantes de cargos, são
transferidas e substituídas com relativa frequência.
A indisponibilidade de recursos por parte da instituição parceira é apontada também
como um problema e desafio a ser enfrentado, em especial no apoio de transporte e
alimentação dos extensionistas.
Existe intenção de realizar novos projetos conjuntos? Esta pergunta foi feita tanto para
os professores coordenadores de projetos como para os entrevistados da instituição parceira.
Alguns coordenadores se mostram favoráveis ao desenvolvimento de novos projetos
comuns:
P4 “[...] acabei de entrar em um edital da FAPEMIG, e acabei de entrar
também em um do Ministério da Cultura, eu acho que isso é algo que assim
que a gente acaba também reciclando sempre.”
P7 “[...] eu sou muito entusiasta da extensão [...]eu estou na dedicação
exclusiva e, muitas vezes, eu particularmente para mim, eu prefiro a
extensão do que a pesquisa, quer dizer: a pesquisa para mim é indissociável,
não vejo uma coisa separada da outra, mas vejo a extensão como uma
possibilidade e sou entusiasta sempre.”
71
P3 “uai, se tiver, se me convidarem... “
As manifestações seguintes destoam das demais posições dos coordenadores uma vez
que não pretendem participar de novos projetos de extensão, não devido a posicionamentos
críticos às parcerias, mas por outros motivos:
Um dos coordenadores não planeja novos projetos:
P1 “... não planeja por falta de tempo uma vez que: “[...] “esse projeto está
ramificando”, ou seja, está gerando subprojetos que, concluo, está
envolvendo o coordenador em suas atividades.”
P5 “No momento não porque eu acho que já tem até quatro projetos e é
muita coisa, eu procuro manter esses projetos... e não sei, de repente aparece
uma idéia de melhorar ou de fazer uma outra coisa relacionada.”
O posicionamento dos parceiros é comum e são unânimes em se manifestarem
interessados por novas parcerias com a Universidade. Todos avaliam como positiva a
proximidade da instituição com a Universidade e vêem nessa proximidade a possibilidade de
aperfeiçoar os trabalhos da instituição parceira, seja pela contribuição dos projetos no dia-adia do atendimento, como pelo aprendizado que conseguem os que nela trabalham, fruto dessa
convivência.
E4 “Se não pararem a gente, eu acho que nós não paramos assim não (risos).
[...]A gente pensa que só tem ganho, não tem perda, porque é ganho para
nós..... gente tem que estar atualizado o tempo todo, tem que estar estudando
junto, então para nós é bom, para o bolsista que vai pegando um pouco mais
de confiança,... mas nós amadurecemos muito no processo, e a comunidade
que se beneficia diretamente.”
E1 “[...] eu acho que foi tão produtivo, que a gente teve um grande ganho,
que a gente teve a oportunidade de estar contribuindo em algum aspecto com
o pessoal da Universidade também. Eu acho que foi positivo para os dois
lados, [...].”
Apesar da pouca participação da parceria no acompanhamento e desenvolvimento de
projetos, a mesma afirma que deseja fazer novos projetos em conjunto com a Universidade.
Um dos representantes da parceria externa se manifesta de forma muito positiva em
manter e renovar a presença da Universidade junto à instituição parceira:
E5 “Eu tenho em conta de muito positiva, [...] Eu achei positiva, achei muito
importante e vejo que é necessária essa participação, de qualquer setor da
Universidade.”
72
E5 “...eu pratico essa ação social no meu dia a dia, na minha vida, que dirá
com o suporte da Universidade aqui, com profissionais, com acadêmicos que
têm todo um desafio de estudos, de metas... com certeza isso aí vai nos dar
uma ajuda e avançar muito mais. E lançar idéia, nós comunidade (nome da
comunidade) abraçamos realmente essas idéias e vejo com um olhar
positivo.”
E3 “Com a Universidade, temos! Nós até temos outros projetos... com
certeza.”
E2 “...se estiver muito próximo de nossas necessidades e não acarretando em
prejuízos para a instituição, a gente vai estar sempre abertos.”
As respostas são consensuais verificando-se o interesse dos parceiros em se articular
com a Universidade em novos projetos. A avaliação positiva do envolvimento dos parceiros
nas atividades extensionistas da universidade pode ser entendida de algumas formas. Uma
delas é que a parceria supre deficiências estruturais da instituição parceira que pode ser
atenuada com a presença da Universidade. De um modo geral as deficiências estruturais mais
comuns são a falta de pessoal especializado, falta de equipamentos, as dificuldade de
organização, dentre outras, criando uma dependência da parceria para a continuidade dos
trabalhos.
5.9 INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
Uma característica do projeto é trabalhar com pessoas que farão parte dos Conselhos
Municipais e Regionais do setor abordado. Assim se manifesta o parceiro quando perguntado
sobre a possível contribuição que o projeto pode dar na elaboração de políticas públicas para o
setor:
E4 “Eu só vejo que contribui, uma vez que nesses meses estamos
trabalhando com a formação de conselhos, com capacitação de conselheiros
que estão tanto no nível regional, mas que estão no nível municipal também,
porque o representante do municipal ele sai da região, e toda a discussão da
saúde em Juiz de Fora tem que passar pelo conselho municipal, então existe
votos que são feitos por pessoas que saem dos usuários.”
E5 “...eu vejo que essa participação da Universidade, ela com certeza lança
idéia que a comunidade pode avançar e crescer muito mais.”
E1 “Bom, eu acho que de uma maneira decisiva, porque eu acho que vai ser
o primeiro momento que todo mundo vai parar e pensar: “é viável, não é
viável?”;
73
E1 “Mas eu acho que a partir do momento que forem publicados esses
resultados que a gente efetivamente está colhendo nesse material todo, eu
acho que vai ser o primeiro momento de parada para uma avaliação mais
efetiva. Eu acho que isso pode estar interferindo de uma maneira mais
decisiva na definição de políticas públicas.”
O parceiro entende que o projeto pode contribuir para a formação de políticas públicas
e considera que “... ele (referindo-se ao projeto) é muito importante, porque ele define e
ordena a (questão abordada pelo projeto), sem ele continua tudo desordenado,[...]”.
Outro parceiro avalia que as atividades previstas podem influir na definição de
políticas públicas. Esta, segundo ele, é uma característica do projeto, ou seja, colher dados
para subsidiar políticas públicas na área de atuação.
Na leitura das falas dos representantes da comunidade externa, conclui-se que a
parceria com a universidade através dos projetos de extensão tem influência na definição de
políticas públicas.
Ao terminar esta apresentação das respostas às entrevistas, tanto dos professores
coordenadores dos projetos analisados, como dos representantes das instituições parceiras,
verifica-se a queixa comum pela falta de financiamento para que as ações extensionistas se
desenvolvam. Às vezes com alguns bolsistas remunerados pela própria Universidade,
raramente pela instituição parceira e, com o subterfúgio da inclusão de pesquisa no projeto de
extensão, conseguem-se alguns recursos de órgãos de fomento. Tal constatação confirma em
parte a posição de Jezine (2006), que debita a falta de financiamento próprio para a extensão à
falta de política do Ministério da Educação voltada para a prática extensionista, baseada em
princípios filosóficos e com diretrizes metodológicas.
Vê-se a necessidade de promover discussão permanente sobre as ações extensionistas
que despertem a comunidade acadêmica sobre a importância do seu caráter emancipador.
Santos (2001) defende as ações que não se limitem ao assistencialismo, que a relação sujeitoobjeto é substituída pela reciprocidade entre os sujeitos tendo como base a solidariedade.
Alguns projetos apresentaram característica assistencialista indo em direção a uma das
concepções ideológica apontadas por Jezine (2006), que pensa a extensão como um
instrumento de prestação de serviços voltados para o assistencialismo, sem se comprometer
com as mudanças sociais. A autora critica essa concepção descomprometida com as ações que
promovam a justiça social e não estimule formas de intervenção organizada. A segunda
concepção, incorporada como conceito de extensão pelo FORPROEX, também encontrada
entre alguns dos projetos analisados, que promovem ações concretas junto a grupos sociais,
74
buscando construir a emancipação dos indivíduos.
Há, certamente, um entendimento geral entre os entrevistados de que o contato com os
parceiros através dos projetos de extensão traz benefícios para formação do conhecimento
acadêmico. Em geral, a relação dialógica se faz nos projetos em parcerias. Os extensionistas
professores entrevistados e os parceiros, portanto, comungam com a posição de Freire (1997)
quando afirma que o conhecimento não se dá daqueles que se julgam conhecedores para os
que se julgam não saberem. Freire defende que o conhecimento se adquire nas relações
homem-mundo, vai se aperfeiçoando à medida que se tem uma visão crítica dessas relações.
Na mesma linha de pensamento os entrevistados vão ao encontro do posicionamento de
Bauman (2001, p. 157) que escreveu, “é preciso que os cientistas tragam as notícias
cientificamente processadas de volta ao domínio de onde pela primeira vez as instituíram:
para o mundo das questões humanas e da ação humana.”
Lê-se das respostas às perguntas da entrevista, que tanto os professores como os
parceiros externos se entusiasmam com a desenvoltura e com o aprendizado, sobretudo na
formação cidadã, dos estudantes na prática extensionista.
A visão geral dos projetos de extensão investigados tanto pelos seus documentos
escritos como pelos professores e parceiros externos, indicam que a universidade não pode
deixar de se aproximar da sociedade. A importância desta aproximação se dá na sua
capacidade de promover as transformações sociais, além de se reciclar, se aperfeiçoar,
adquirir novos conhecimentos, abraçar novos paradigmas, enfim, seguir seu papel histórico de
ensinar, investigar, buscar a verdade sempre.
75
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Questões fundamentais que definem o papel da extensão na abordagem do
compromisso social da universidade foram pesquisadas nos projetos desenvolvidos pela UFJF
junto a parceiros externos. A característica assistencialista de algumas ações de extensão foi
investigada assim como projetos cujas ações apontavam para a construção da emancipação da
população alvo ou da autonomia da instituição parceira.
A investigação ainda buscou verificar como se dá a aproximação da universidade com
as instituições parceiras e ainda os aspectos acadêmicos dos projetos, tais como a
interdisciplinaridade, a articulação entre ensino, pesquisa e extensão e a interação dialógica
entre a universidade e a sociedade. É na presença da universidade junto ao meio social que a
instituição pode se completar, conferindo-lhe uma direção, um norte para a produção de
conhecimento. A relação da universidade com a sociedade, no sentido de buscar sua
transformação, traz um saldo positivo para a própria universidade que se vê, pela observação
e informações colhidas junto ao ambiente social, compelida a também se transformar, a se
aperfeiçoar, a abrir horizontes do conhecimento. A extensão é , indubitavelmente, um canal
importante de construção da identidade institucional e da aspiração histórica das Instituições
de Ensino Superior (IES)..
Foi investigado até que ponto as ações extensionistas, que atuam junto a instituições
parceiras, podem contribuir para mudanças curriculares e de foco nas disciplinas ministradas.
Como indício ainda da interação dialógica com a sociedade, buscou-se conhecer se as
atividades junto aos parceiros estimularam a realização de pesquisa. A investigação procurou
verificar junto aos parceiros, até que ponto as atividades de extensão podem influir na
formação de políticas públicas.
A diversidade dos projetos pesquisados representou a estratificação do conjunto de
projetos extensionistas, tanto no que tange às áreas do conhecimento como o tipo de parcerias,
se com o setor público ou com instituições da sociedade civil.
Os itens pesquisados foram pautados no conceito de extensão universitária defendido
pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras e levaram em
conta as teses do compromisso social das IES. A extensão, no seu importante papel
fomentador da aproximação da Universidade com a sociedade, deve ter suas ações voltadas
para a solução de seus problemas, em especial em apoio aos excluídos e discriminados, não
no formato assistencialista, mas pautada nas ações que visem à emancipação do individuo, sua
76
autonomia e capacidade crítica que fortaleça sua luta pela sua dignidade, no caminho da
solidariedade e do respeito mútuo.
Verifica-se pelas entrevistas que a origem das parcerias não passou por uma política ou
plano de extensão da instituição, mas nasceu da iniciativa individual tendo como base
ligações outras de professores e estudantes com as instituições parceiras. Portanto, a ponte
entre a universidade e a sociedade não se faz de forma planejada, com seu projeto pedagógico
norteando a relação de parceria. Verifica-se também, na análise das entrevistas, que as
relações de parceria já existentes suscitam outras parcerias com a mesma instituição ou com
outras instituições idênticas, que, se não houvesse tantas limitações de financiamento, de
recursos humanos, de infraestrutura e organizacional, teria um potencial de crescimento
exponencial.
A efetivação das parcerias se deu pelo interesse comum de ambas as
instituições. No caso da universidade, verifica-se que, de forma geral, o grande interesse dos
coordenadores dos projetos foi de oferecer campo de treinamento prático para os discentes de
suas disciplinas.
Como se observa na análise dos trechos das entrevistas, nem sempre acontece a
participação da instituição parceira no planejamento, na execução e na avaliação do projeto. O
que se observa, é que em alguns casos a instituição parceira participa ativamente da
concepção e da elaboração do projeto e na execução das ações. Em outros projetos, a
instituição parceira tem um papel passivo em todas as fases dos mesmos.
Em alguns casos existe uma boa sintonia entre a Universidade e a instituição parceira,
porém, verifica-se certo descompasso entre os mesmos em alguns projetos. Observo que,
neste último caso, os professores coordenadores, nas entrelinhas da entrevista, não vêem a
parceria de forma dialógica e entendem o conceito de extensão como uma ação unilateral da
universidade que leva o conhecimento acadêmico, pronto, estruturado e acabado, para o
ambiente social.
Sobre o caráter assistencialista ou emancipador dos projetos, verifica-se que a maioria
dos parceiros entrevistados considera relevante que a busca da emancipação do público alvo
seja considerado. Criar condições para que o indivíduo, ou um coletivo, siga com suas
próprias pernas ao terminar a interferência da universidade é característica intrínseca da
extensão praticada pela universidade comprometida socialmente. As ações emancipatórias
devem promover nos sujeitos, a capacidade crítica, de observação e de intervenção.
Ressalta-se na análise das observações dos entrevistados, que as atividades
desenvolvidas através dos projetos de extensão junto aos parceiros externos é uma das poucas
possibilidades de vivência dos acadêmicos no contato com o mundo extra muros da
77
universidade. Foi comum nas entrevistas, tanto na visão dos professores coordenadores como
dos parceiros externos, verificação da formação positivamente diferenciada dos estudantes
extensionistas em relação aos que não se envolveram com esta prática. Percebe-se em suas
falas a visão de que o envolvimento dos acadêmicos nos projetos de extensão contribui para o
amadurecimento do estudante e, em especial, desenvolve neste a consciência para o melhor
uso dos seus conhecimentos e das suas potencialidades na prática cidadã, mais antenados com
o mundo a sua volta, com a diversidade social, despertando para a necessidade de uma relação
mais horizontal e hamoniosa entre eles (acadêmicos profissionais) e os usuários.
Os professores, quando perguntados sobre o retorno para o ambiente acadêmico dos
frutos das práticas extensionistas, são unânimes em afirmar que seu respectivo projeto leva o
conhecimento acadêmico para a sociedade e traz de volta para o seio da universidade o
conhecimento e informações gerados pela sociedade. Porém, no conjunto das respostas
registradas pelas entrevistas, observa-se que, em alguns dos projetos, este retorno para a
universidade se faz de forma incipiente, não regulamentado, não institucionalizado,
interferindo pouco nos currículos e originando poucas pesquisas. Portanto, fica evidenciado
pela leitura do resumo dos projetos e pelas entrevistas, que tanto o professor como o
acadêmico, com as práticas extensionistas, levam e trazem informações, da universidade e
para ela, porém, esta relação dialógica fica fragilizada pela ausência de mecanismos que
facilitem, estimulem e possibilitem influir de forma mais incisiva nos procedimentos
acadêmicos.
Observa-se ainda nas entrevistas que os atuantes no projeto sempre consideram que as
ações previstas em seus respectivos projetos têm caráter multidisciplinar. Ao analisar os
objetivos e metas, não se vê em alguns projetos o reflexo dessas falas. Com exceções entre os
projetos pesquisados, faltou uma articulação com outras disciplinas ou outras áreas de
conhecimento para que se caracterize de forma efetiva a presença da multidisciplinaridade no
planejamento e na execução dos mesmos.
Os professores entrevistados, em sua maioria, consideram que seus respectivos
projetos têm um potencial para incentivar e suscitar pesquisas. A análise das respostas das
entrevistas aponta para a grande parte das investigações realizadas ter caráter de levantamento
das características da população alvo dos projetos, para que os mesmos projetos fossem
elaborados e executados. Portanto, algumas das pesquisas realizadas não são consequências
das informações colhidas com as práticas das ações extensionistas, mas sim, uma preparação
para elas.
Um dos quesitos que teve unanimidade dos parceiros refere-se à potencial
78
contribuição que os projetos de extensão em parceria podem dar na elaboração de políticas
públicas. Em alguns casos isso já acontece, em especial quando a parceria é com os
municípios através das prefeituras.
As dificuldades e entraves se referem de forma mais concentradas em algumas
questões. Uma delas é a falta de financiamento. Alguns conseguem financiamento por órgãos
de fomento aproveitando o viés de pesquisa que compõe o projeto de extensão. Outra
verificação de entraves concentra-se na falta de tempo dos acadêmicos que estão sempre
envolvidos com as práticas direcionadas para a sala de aula. Críticas de alguns coordenadores
de projetos alertam para a necessidade de reformular o projeto pedagógico dos cursos
procurando dar mais ênfase ao envolvimento dos discentes com as atividades de extensão.
Outro aspecto verificado nas manifestações, tanto dos professores como dos parceiros, foi a
influência dos políticos que usam esses projetos para promoção pessoal, procurando dar apoio
aparente ao projeto mas que, na realidade, não conseguem responder às demandas exigidas
para sua execução.
Apesar dos problemas e entraves relatados, verifica-se que, somente a falta de tempo
por envolvimento com as múltiplas atividades acadêmicas, levou dois dos professores
entrevistados a se posicionarem contrários à articulação de novas parcerias. Alguns
manifestaram abertos e interessados em analisar novas propostas e outros até já estão
promovendo entendimentos com outras instituições para implantação de novos projetos em
parceria. Quanto ao interesse dos parceiros em se envolver com a UFJF em outros projetos de
extensão, se mostraram interessados de forma unânime, mesmo com alguns condicionantes.
Não se tem facilidades quando se trata de desenvolver projetos de extensão. As
parcerias externas, embora promovam uma relação dialógica mais efetiva entre a universidade
e a sociedade, acumulam os problemas próprios da universidade pública brasileira, tanto no
nível macro - falta de recursos e de políticas de governo voltadas para a extensão, como no
nível interno - relações com os setores acadêmicos tais como projetos acadêmicos de cursos
impróprios para o exercício da extensão, excesso de aulas, desvalorização das atividades
extensionistas etc. Avalio que, pelo entusiasmo das declarações dos entrevistados,
especialmente pelos relatos quando se referem ao diferencial na vida dos sujeitos envolvidos e
no processo de formação integral do acadêmico extensionistas, o meio acadêmico e as
autoridades deveriam se convencer da importância da extensão para a universidade e para a
sociedade. Desta forma, a extensão se fará presente de forma incisiva e geral nas atividades de
ensino e de pesquisa. Para começar, torna-se relevante promover estudos e debates que levem
aos mecanismos de valorização das atividades extensionistas considerando-as, como o são,
79
importantes e essenciais para o desenvolvimento pleno das práticas acadêmicas, e motivando
os professores e estudantes a participarem dos projetos. Os parceiros estão de prontidão,
atuando e aguardando o apoio da universidade para ganharem consistência conceitual e
estrutural e seguirem em suas propostas. A sociedade está ávida para sorver e repassar
conhecimentos e, desta forma, a universidade cumprir com mais eficiência e eficácia seu
compromisso social.
80
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84
APÊNDICE
ROTEIRO DAS ENTREVISTAS
O roteiro dos questionários aplicados nas entrevistas dos coordenadores dos projetos e dos
representantes dos parceiros externos, procuraram, no conjunto, abordar as seguintes
questões:
NO PLANEJAMENTO:
De que modo as parcerias emergem?
Como se organizou o projeto? (se colaborativo, se participativo, encomendado)
Quem participou?
Quais problemas tais parcerias buscam responder? Expectativas e desafios;
NAS CARACTERÍSTICAS GERAIS:
O que caracterizam as parcerias?
São ações focadas? Contínuas? Participativas?
As ações são pulverizadas? Pontuais?
Qual a modalidade de atividades encontradas? Assessorias? Intervenção direta?
NAS CARACTERÍSTICAS ACADÊMICAS:
Como os projetos preveem e realizam ações interdisciplinares?
Que mudanças curriculares o projeto suscita?
Que pesquisas foram realizadas suscitadas pelo projeto em parceria?
De que modo verifica-se a articulação entre ensino, pesquisa e extensão?
Houve ampliação das possibilidades formativas dos discentes?
De que forma os discentes participam?
NA GESTÃO
Quais as formas de gestão das parcerias?
Utilizam-se práticas colegiadas?
85
NO FINANCIAMENTO:
Como e por quem as ações em parceria são financiadas?
NA EXECUÇÃO:
Quais os processos de acompanhamento?
Existem ou ocorreram alguns entraves?
Pontos positivos?
Envolvimento dos acadêmicos?
Houve necessidade de replanejamento?
NA AVALIAÇÃO:
Estavam previstas avaliação?
Quais os processos de avaliação?
As avaliações aconteceram?
Tanto Universidade como parceiros participaram do processo de avaliação?
NO RESULTADO:
Estão previstas nas parceiras a análise de resultados e a definição de metas?
Quais os resultados e desdobramento dos projetos?
Que potencialidades apresentam para a continuidade das ações?
Que resultados do projeto podem interferir na argumentação de novas políticas para o
setor?
A Universidade tem intenção de realizar novos projetos conjuntos?
ENTREVISTAS
Para assegurar um padrão de sigilo da fonte das informações, os nomes dos
professores orientadores dos projetos de extensão e dos parceiros externos envolvidos foram
respectivamente trocados pelas expressões “(professor orientador)” e “(parceiro externo)”,
assim como o nome das instituições parceiras foram substituídas pela expressão “(instituição
parceira)”, como também, quando citados, os nomes dos projetos foram substituídos pela
expressão “(nome do projeto)”. Alguns nomes ou expressões foram omitidas, com a
substituição das mesmas por “(...)”.
86
ENTREVISTA 1
Entrevistador: Como a parceria surgiu?
Entrevistada: A parceria com a Universidade, ela surgiu, a partir do momento que nós,
enquanto (instituição parceira), começamos um trabalho de implantação das Escolas de
Tempo Integral. E aí nós não tínhamos um norte, por assim dizer. Esse foi um projeto na
época, daquela gestão municipal, e nos foi proposto um desafio. E aqui a escola foi a segunda
escola da rede a ser implantado o Tempo Integral. E aí nós começamos na própria escola a
perceber, no nosso dia a dia, a necessidade de uma formação, porque a gente precisava de ver
o que era tempo integral, ver como isso ia estar acontecendo efetivamente. Então a gente
então montou na escola um grupo de estudo, e a partir desse grupo de estudo, nós tivemos
contato também com (professor orientador), lá da Universidade, que se propôs a estar nos
ajudando também nesse movimento. E aí nós, todos voluntariados, fomos convidados a
participar do grupo. E aí na época eu estava ainda em sala, e aí eu fui uma professora
voluntária da escola para estar ingressando no grupo. E desde o início eu pude participar e
acompanhar todo o desenrolar. E aí a gente foi percebendo o quanto isso foi sendo bom para a
escola. Por quê? Porque tudo que ocorri lá, de estudo, de movimento, eu trazia para a escola.
Aí a gente tinha um momento na reunião pedagógica para estar repassando para o grupo,
discutindo com o grupo, e depois levando de volta. Sabe, todo esse movimento de vai-e-vem,
né, e foi um projeto que veio a contribuir, a corroborar com todas as nossas expectativas,
enquanto formação. E dessa participação toda, do desenrolar todo do projeto lá da
Universidade, ter então as diretrizes, conhecer outros lugares, mesmo fora de Juiz de Fora,
onde tava já implantado já o sistema. E aí isso foi muito bom, porque a gente trouxe
experiências de fora, para adaptar com a nossa realidade.
Entrevistador: podemos dizer que foi um processo colaborativo entre ambas as partes?
Entrevistada: claro, sem sobra de dúvida. Porque também a gente levava muito material para
as discussões na Universidade, entendeu, exatamente esse movimento de vai-e-vem que foi
construindo todo esse processo de implementação de tempo integral. E aí depois foram
implantadas em outras escolas e atualmente nós somos cinco escolas. A pesar de cada uma
ser uma, em si, ter suas peculiaridades, pelo menos uma linha norteadora de tempo integral a
gente pode ter e perceber. Aí que surgiram então as diretrizes, porque não tinha uma
87
legislação até então.
E foi através desse movimento de parceria que pudermos estar
construindo tudo isso, e foi muito bom porque houve de fato uma participação efetiva de
quem estava, podemos dizer, com a mão na massa, que somos nós, as escolas.
Entrevistador: essas atividades, levando em conta a participação dos acadêmicos, foram
atividades de auxilio, execução direta... como ocorreu isso?
Entrevistada: olha, veja bem como aconteceu para que a gente chegue juntos a essa conclusão.
Inicialmente, foram estudos que foram desenvolvidos, de formação mesmo. Textos, palestras
foram nos proporcionando todo um suporte teórico, porque a gente estava precisando disso,
para a gente compreender. Então a gente foi estudar o histórico do tempo integral, voltamos lá
no Anísio Teixeira... Então nesse primeiro momento foi exatamente a questão da formação. E
a partir dessa segurança que a gente foi adquirindo no dia a dia através desses estudos, das
conversas e das trocas de experiências... “não minha escola está sendo feito desse jeito, na
minha desse jeito, daí trazia-se um autor... olha gente o autor tal, vamos estudá-lo ele pode
nos dar um suporte daqui e dali...” Então nós fomos construindo essa prática na escola. E aí,
de tempos em tempos também, além da gente levar essa discussão da escola para lá e trazer de
lá para cá, a gente criou uma estratégia no grupo que foi muito rica e produtiva que é assim: a
gente apresentava para o grupo os trabalhos que a gente estava desenvolvendo na escola,
como estava acontecendo de fato na prática todo aquele arcabouço teórico que a gente estava
ali discutindo, e tendo oportunidade de acesso. Aí fazia-se isso, relatos de experiência e tudo
mais... E como a (professor orientador) sempre foi uma pessoa muito disponível também, e já
assim, a gente já se conhece há muito tempo e ela já vinha, o grupo já vinha com o desenrolar
do tempo, então ela veio aqui até a escola para ver na prática como tudo estava acontecendo.
E como eu participei desde o início, então teve todo um fio condutor, né, e depois eu vim a
assumir a direção da escola... mas isso tudo serviu só para fortalecer ainda mais, pois um
coisa é você ser parte de uma equipe e outra é você ter uma oportunidade a mais de puxar o
grupo e incentivar mais ainda, isso é o que a direção proporciona, é um fator a mais. Então
isso é uma coisa que aconteceu dessa forma. Então foi um conjunto de situações que veio a
ajudar a gente muito.
Entrevistador: na execução das atividades, podemos dizer que foram ações eventuais ou
que foram ações mais contínuas ao longo desse processo?
88
Entrevistada: Olha, eu julgo que foi contínuo, sabe por quê? Tudo que ia ocorrendo foi muito
acompanhado, entendeu? Então assim, a gente fazia as coisas, se organizava, viajava,
participava de seminários, a gente participava de encontros, aí a gente trazia, discutia com o
grupo, levava para a Universidade, e Universidade dava mais um suporte, dava uma luz a
mais para a gente, aí a gente retornava, então o que mais marca todo o trabalho é essa coisa
viva: é a gente perceber que teoria e prática se ajudam mutuamente e efetivamente dão um
resultado muito positivo.
Entrevistador: Você acha que com o desenvolvimento desse projeto, ele possibilita,
digamos, uma emancipação de ações da instituição, da própria escola?
Entrevistada: Sim, sabe por quê? Porque o projeto nos proporcionou mais segurança para que
a gente pudesse caminhar um passo. A gente sempre assim: a gente se fortalecia, caminhava
um passo, se fortalecia novamente, caminhava um outro passo. Então assim, todas as ações
que nós fomos tendo, não fizemos assim num achismo, não foi às escuras, então a gente teve
todo um suporte no grupo, então a gente vinha ver na prática. Foi muito bom, foi muito
positivo.
Entrevistador: A respeito do desenvolvimento, como que, vocês como parceiros, foram
acompanhando a execução? Houve um acompanhamento com relatórios? Foi algo
documentado?
Entrevistada: A gente tem tudo, assim: cada encontro nossa a gente fazia uma espécie de ata,
vamos chamar assim, então a gente tem todo esse material registrado direitinho, e assim, tem
todo o material com imagens também, tem relatos de experiência, tem todo esse material... A
gente teve o cuidado de ir construindo, mas ir registrando também, para que a gente tentasse
assim, a medida do possível, não ter nenhuma perda eu não diria, mas uma perda mínima de
tudo isso que veio ocorrendo, e que a gente tivesse registro disso tudo e que tivesse material
mesmo para estar trabalhando em cima. Tanto que desse material todo, e tudo mais, surgiu as
diretrizes. É um documento agora que a gente já tem e até é... na própria Câmara dos
Vereadores tem toda uma regulamentação, porque até então não tinha nada. Nós fomos assim
a estaca zero, pioneiros que nos foi lançado o desafio.
Entrevistador: Nós poderíamos dizer que trabalharam mais com grupos de estudos
89
baseados em práticas desenvolvidas aqui...
Entrevistada: Sim. E esses autores que a gente foi estudando, e as palestras, e seminários que
a gente foi participando, teve encontros também, na Unirio, que nos fomos, então tudo isso...
muita leitura, muito estudo, foi nos dando bastante segurança para estar desenvolvendo o
trabalho.
Entrevistador: Quais as dificuldades na operacionalização do projeto? Verificou-se
algum entreve ao longo desse percurso?
Entrevistada: Olha, aqui na escola, eu vou ser bem sincera, eu não percebi nenhum entrave
não. Porque, como eu estava desde o início, então isso foi uma coisa muito linear. Agora, em
outras escolas, muitos desistiram no meio do caminho, porque as vezes um profissional que se
dispôs em um primeiro momento desistiu. Não teve, por exemplo, seu contrato renovado,
porque não eram cargos efetivos, então isso também eu acho que é um fator que ajuda muito:
o fato de você ter aquela segurança de estar naquela instituição, desenvolvendo seu trabalho e
não ter aquela fragmentação. Mas assim, aqui na escola eu não percebi nenhum entrave não.
Eu trazia textos, as meninas estudavam, eu sempre incentivando, estimulando: “não, vamos,
vamos”, mesmo que elas não tivessem lá, apesar disso ter sido aberto a todas, mas aí nem
todo mundo também podia, pois tinha gente que tinha dois cargos... então as reuniões
aconteciam na quinta-feira, na parte da tarde, então nem sempre os profissionais tinham com
estar sendo liberados em uma escola. Como o encontro era semanal, se fosse com um
espaçamento maior entre os encontros talvez desse de organizar de outra forma, mas como era
semanal, então tem os deveres de casa, tem os textos para ler, as produções para fazer... então
eu acho que aqui não houve esse problema quanto a isso, pelo envolvimento mesmo e
participação, que foi continuada.
Entrevistador: Como que ocorreu a participação dos estudantes da Universidade? Você
saberia relatar?
Entrevistada: Sim, o que que acontece, as meninas lá do curso elas vinham à escola também e
elas faziam um acompanhamento de todo o trabalho que vinha sendo desenvolvido na escola,
participavam de nossas reuniões pedagógicas, do dia a dia mesmo da escola. E elas
contribuíram também, tanto elas relataram que foi muito positivo para elas, que elas tiveram
90
oportunidade de ver na prática de ter um aprendizado, como também foi positivo para as
escolas, pois elas ajudaram a gente em muitos aspectos.
Entrevistador: O número de acadêmicos envolvidos? Vocês acham que foram
suficientes?
Entrevistada: Aqui na escola foi suficiente, porque é uma escola pequena, focada na Educação
Infantil, então por esse foco mais direcionado, então para nós eu acho que funciona melhor as
coisas. Porque eu tenho uma escola menor, uma área de atuação de quatro a cinco anos, é
somente educação Infantil, então eu acho que isso favoreceu também. Mas foi o suficiente o
número de alunos da Universidade que esteve conosco aqui.
Entrevistador: Estava prevista alguma análise de resultados? Foram fixadas metas,
prazos, reuniões de avaliação?
Entrevistada: Olha, inicialmente, a gente pensou em estudar, em busca teorias que viessem a
nos dar uma luz, um suporte, mas com o desenrolar do trabalho, foi ficando tão envolvente,
tão interessante, e a gente vendo resultados acontecendo, que foi nos motivando cada vez
mais. Aí sempre a gente tinha encontro, claro, fazendo as nossas avaliações de todo o
trabalho. Aí depois a gente resolveu caminhar para as diretrizes, daí “as diretrizes estão
prontas, então o que que a gente vai fazer agora?”, aí veio toda uma nova discussão. “Ah,
vamos para os relatos de experiências”, porque a gente já teve um caminhar, a gente já pode
estar vendo como está essa questão na prática. Logo depois a gente resolveu que teria que
estar associado aos relatos de experiência a continuidade desse processo de formação mesmo,
de teorias, de estudos e tudo mais... Aí depois a gente teve essa decisão então de fazer grupo
focal, para a gente estar meio que amarrando agora tudo isso nesse caminhar todo, e a gente
está preparando agora um relatório, por assim dizer, de tudo isso que ocorreu e como que foi a
Implantação do Tempo Integral na Rede Municipal. Nós estamos trabalhando nesse momento
nesse foco, exatamente organizando esse material que a gente colheu do grupo focal para estar
publicando agora como aconteceu na visão dos pais, na visão dos profissionais que atuavam,
na visão dos alunos.
Entrevistador: Talvez não seja a intenção de vocês e nem tanto da pesquisadora, mas
como se daria o desenvolvimento das ações caso houvesse o término da presença da
91
Universidade na escola?
Entrevistada: Olha, aqui na escola eu vislumbro o seguinte ângulo: como o projeto foi muito
sério, foi muito denso, ele realmente contribuiu, então eu acho que a gente já está num
momento de nossa caminhada que a escola eu acho que ela já é capaz de, por ela, caminhar.
Eu acho que esse foi o grande ponto positivo desse projeto, ele não deixou a gente engessada.
Então eu acho que teve esse preocupação de estar possibilitando um fortalecimento na
unidade escolar, para que ela, por si só, seja capaz de caminhar com as próprias pernas.
Entrevistador: De que forma o resultado desse projeto pode interferir ou auxiliar na
proposição de políticas públicas para o setor?
Entrevistada: Bom, eu acho que de uma maneira decisiva, porque eu acho que vai ser o
primeiro momento que todo mundo vai parar e pensar: “é viável, não é viável?”, apesar de
toda uma questão legal, não estou dizendo nesse ângulo não. Mas eu acho que a partir do
momento que forem publicados esses resultados que a gente efetivamente está colhendo nesse
material todo, eu acho que vai ser o primeiro momento de parada para uma avaliação mais
efetiva. Eu acho que isso pode estar interferindo de uma maneira mais decisiva na definição
de políticas públicas.
Entrevistador: Vocês, como parceiros, teriam intenção de realizar novos projetos
conjuntos?
Entrevistada: Ah, sim, sem sombra de dúvida, eu acho que foi tão produtivo, que a gente teve
um grande ganho, que a gente teve a oportunidade de estar contribuindo em algum aspecto
com o pessoal da Universidade também. Eu acho que foi positivo para os dois lados, e a gente
aqui na escola, a fala do grupo é nesse sentido: de que se houver algum outro programa ou
projeto gostaríamos de estar participando sim.
ENTREVISTA 2
Entrevistador: Gostaríamos de saber de que modo essas parcerias emergem? De que
modo elas aconteceram?
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Entrevistada: Bem, no caso da enfermagem, essa parceria já existe a alguns anos, não sei nem
te precisar a quanto tempo a (professor orientador) tem essa parceria com a gente, mas ela já
acontece a alguns anos, e eu não estava na coordenação quando ela começou, eu tenho 4 anos
que estou na coordenação, e tem bem mais que isso que a (professor orientador) já participa
aqui, dessas atividades aqui de parceria com o (instituição parceira). Atualmente a
Universidade tem convênio com a Prefeitura. E a (professor orientador) renova todo ano seu
compromisso junto à (instituição parceira) para estar fazendo esse projeto aí, ela me traz
sempre toda a documentação pertinente, assina, mas ela tem o convênio... e o que a
(instituição parceira) nos instrui, o que o departamento de pessoal nos instrui? Que essa
parceria tem que ser conveniente tanto para a instituição de ensino quanto para a instituição
que recebe. Então não pode ser uma via de mão única, então tem de ser de interesse de fato da
instituição, tem que trazer para instituição um benefício para além da questão só do ensino. E
para a gente aqui as parcerias de fato estão sendo importantes, apesar de a gente está
restringindo muito atualmente, porque tem muito interesse não só da Universidade pública,
mas das faculdades particulares também, a gente tem muita demanda nesse sentido, porque o
(instituição parceira) é um projeto inovador, é um projeto contemporâneo aí de inclusão
social, que fala de uma realidade social importante, então tem muitos interessados para estar
aqui: projetos de pesquisa e professores. Mas a gente tem restringindo, porque senão a gente
não faz outra coisa a não ser receber. E por que estou te falando isso? Porque a gente precisa
ter uma contra-partida, então a questão das pessoas circularem aqui é importante, porque isso
leva o nosso trabalho para fora daqui, fora a dimensão da instituição unicamente, então isso é
importante porque divulga o trabalho do (instituição parceira), o que que é o (instituição
parceira)? Sobre a importância da reinserção social das pessoas portadoras de sofrimento
mental. Quanto mais a gente puder disseminar essa ideia, melhor para o projeto, o próprio
(instituição parceira). Mas só isso não basta, é preciso também que as pessoas que chegam
aqui, os alunos que chegam aqui, também tragam alguma contribuição para além da questão
do ensino, que é uma contrapartida. No caso, a contrapartida dos alunos da (professor
orientador), eles fazem oficinas terapêuticas aqui com a gente, eles fazem uma oficina
chamada “oficina da saúde”, eles fazem agendamento de consultas de enfermagem, que para a
gente é muito importante aqui no cotidiano da (instituição parceira).
Entrevistador: A respeito dessa questão de modalidades de atividades, são atividades
planejadas...
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Entrevistada: São planejadas, a (professor orientador) traz um projeto ou então ela propõe
alguma coisa e a gente discute em equipe as propostas, avalia em equipe as propostas e
retorna para ela a viabilidade disso. Então ela não vem com nada pronto, chega na instituição
e a gente avalia e retorna a possibilidade e muitas atividades também são demandas da própria
instituição para ela.
Entrevistador: Então são atividades de assessoria, auxilio dos acadêmicos ou já é uma
intervenção direta feitas pelos discentes, como que funciona isso?
Entrevistada: Não, ela fica aqui junto com os alunos, ela vem com os alunos toda quarta de
manhã e quinta a tarde, os professores estão aqui com os alunos. E ela supervisiona esse
trabalho, é uma parceria também da nossa enfermeira aqui e da (professor orientador), que
elas trabalham juntas aí com supervisão em relação a esse trabalho com os alunos.
Entrevistador: Quais problemas essa parceria busca responder, resolver?
Entrevistada: Olha, talvez um déficit de recursos humanos aqui da casa, a gente acaba, com
essas parcerias, aumentando as possibilidades de intervenção, então nesse sentido é
interessante sim. Contar com essas pessoas aqui, contar com a (professor orientador) que é a
professora, que dizer, os alunos não estão sozinhos, eles são monitorados, são orientados.
Então no que toda a escassez de recursos humanos que permeia as instituições públicas em
geral isso contribui de fato com a dinâmica da instituição.
Entrevistador: As ações que são realizadas, são ações eventuais, contínuas....
Entrevistada: Contínuas. De forma nenhuma eventuais, a gente entra na rotina da casa, porque
eventuais a gente acredita que seriam situações, assim, que desorganizariam, porque a gente
tem mesmo uma rotina de trabalho, então eles entram na dinâmica, na rotina da instituição.
Eventuais assim: quando há alguma proposta de alguma coisa eventual... se houver, se couber
uma forma das pessoas aí participarem... então o eventual também é programado, alguma
coisa que é discutida, mas nada passa sem que haja uma discussão, uma programação.
Entrevistador: Quais as expectativas ou avaliação que vocês têm sobre a execução do
projeto pela Universidade até o momento?
94
Entrevistada: olha para mim sempre foi muito favorável, a estada da (professor orientador)
aqui sempre foi uma favorável. Ela está realmente muito próxima aos alunos, a gente vê que
as propostas são muito coerentes com a realidade da casa.
Entrevistador: essa parceria tem como marca induzir à emancipação social do usuário,
ou não é o caso do projeto, são ações que precisam ser repetidas com frequência? Como
é essa questão?
Entrevistada: isso aí eu acho que tem que imaginar em cada instituição. Aqui a gente trabalha
com doença mental grave, com pessoas portadoras de sofrimento mental grave, onde o
cotidiano é que trata dessas pessoas. Então é o dia a dia, um dia após o outro, então, ou seja,
tempo aí é um tempo que é característico dessa instituição.
Entrevistador: por isso mesmo a (professor orientador) tenha renovado tanto o projeto...
Entrevistada: há uma continuidade, tem renovado o contrato com a instituição, por causa dos
vínculos que se estabelece, da necessidade manutenção mesmo daquilo que se propõe, por
isso também a gente restringiu de mais a entrada de outros projetos de pesquisa, porque as
vezes querem passar aqui meio período e, então, a gente não acha isso favorável. E uma
determinação do departamento de pessoal atualmente é que a gente só aceite projeto de
pesquisa depois de avaliado se está de acordo com a necessidade da instituição, só pela
questão da transmissão do ensino a gente não abre mais.
Entrevistador: Só para reforçar um pouco do que você já vinha falando, de que forma
vocês, como parceiros vêm acompanhando a execução do projeto? De forma presencial?
Tem alguma documento, relatório...
Entrevistada: Tem, de forma presencial, as reuniões de equipes têm a participação sempre de
um aluno. As reuniões de terça-feira são reuniões de toda a equipe... eles passam a compor a
equipe e esse feedback é constante, essa avaliação é constante, tanto pela (professor
orientador) quanto pelo profissional responsável pela enfermagem também. Elas estão sempre
avaliando e a gente está sempre retomando as discussões. O trabalho de um (instituição
parceira) é muito dinâmico, a realidade de um (instituição parceira) não é uma realidade
95
burocrática, é diferente de outras instituições, então a gente tem muitas reuniões de equipe,
exatamente para estar pensando e repensando a nossa prática, a prática mesmo do cotidiano.
Entrevistador: Agora sim falando sobre as dificuldades, haveriam ou quais seriam as
dificuldades de operacionalização do projeto? Verifica-se algum tipo de entreve?
Entrevistada: Não, não. Apesar de ter muitos alunos e a gente acha que ter muitas pessoas
juntas a casa não comporta, a (professor orientador) consegue viabilizar isso de uma forma
interessante, sabe? Então, realmente são muitos, então a (professor orientador) realmente dá
conta disso.
Entrevistador: A respeito do envolvimento dos acadêmicos, como é? É uma participação
ativa...
Entrevistada: Monitorada, eles não têm e não podem assim estar desenvolvendo nenhum tipo
de trabalho clínico sem monitoramento não, é monitorada...
Entrevistador: O número de estudantes envolvidos tem sido suficiente...
Entrevistada: Não, acho que é superior à necessidade da casa. Por conta de uma parceria
antiga e da presença constante da (professor orientador), a gente acaba sedendo a isso aí. Se
fosse menor seria melhor. Por conta mesmo da instituição, do espaço físico, da movimentação
que faz, na quarta-feira fica um monte de gente aqui porque vem a (professor orientador) com
os alunos, mas acaba-se viabilizando de uma forma possível, se fosse menos seria melhor, ela
sabe disso, mas não pode, não tem como organizar isso lá na turma, né.
Entrevistador: Agora, mais diretamente a respeito de avaliações: estavam previstas
avaliações? Quais os processos de avaliação previstos? Essas avaliações aconteceram?
Tanto a Universidade quanto os parceiros participaram desse processo de avaliação?
Entrevistada: Não, é o que eu te falei anteriormente, as avaliações são cotidianas, nas reuniões
de equipe, nas discussões de casos, na importância da manutenção do trabalho ou não, a gente
discute cotidianamente. Agora eu não sei como é essa avaliação da Universidade com a
(professor orientador), aí ela deve ter lá os critérios dela, eu não conheço.
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Entrevistador: Estava prevista uma análise de resultados?
Entrevistada: Dá nossa parte é o que eu te disse, no cotidiano mesmo, e o que a gente observa
que não está sendo alvo demetrio, que está contribuindo, a gente está mantendo de uma forma
viva mesmo, sempre reavaliando a todo instante, mudando aspectos que a gente acha que
devem ser mudados, a gente conversa sempre, as coisa são muito dinâmicas, o trabalho é
muito dinâmico. Agora eu não sei se existem critérios de avaliação da (professor orientador)
junto à Universidade desse projeto aí, eu desconheço, teria que ver com ela.
Entrevistador: No período que você está responsável por essa parceria, até agora, quais
foram os resultados....
Entrevistada: é o que eu já te falei, foram muito bons, muito adequados, as pessoas
desenvolvem muito, elas entendem a dinâmica desse serviço, elas compartilham dessa
realidade, participam mesmo. Olha, a gente tem uma festa junina que acontece, o pessoal da
enfermagem vem em peso e ajudam, arrumam a praça, põem bandeirinhas, quer dizer: eles
entram mesmo na instituição, entendeu?
Entrevistador: De que forma dos resultados do projeto podem auxiliar na proposição de
políticas para esse setor?
Entrevistada: Em todos os sentidos, porque, olha, do o movimento político que a gente faz
engloba a instituição como um todo, então eu sempre digo “a pessoa que entra aqui, seja ela
de qualquer tipo de categoria profissional, estagiário, etc, ele se torna um trabalhador de saúde
mental”. Então aqui dentro estão trabalhadores dessa realidade. Então todo movimento social
e político que a gente faz todos participam. Então agora temos o dia 22 de maio que o dia da
Luta Antimanicomial, então a gente vai fazer uma Semana de Saúde Mental, todos são
convocados para pensar essa realidade, inclusive o pessoal do projeto de pesquisa, a medida
que eles estão aqui dentro. Entrou aqui dentro, faz parte. A gente não tem nenhuma posição
excludente aqui, “esse pessoal só pode fazer isso”, entrou na dinâmica da equipe.
Entrevistador: Vocês, como parceiros, têm a intenção de realizar novos projetos
conjuntos?
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Entrevistada: É isso que eu te falei, se estiver muito próximo de nossas necessidades e não
acarretando em prejuízos para a instituição, a gente vai estar sempre abertos.
ENTREVISTA 3
Entrevistador: Primeiramente a gente gostaria de saber como começou essa parceria
especificamente com a Universidade?
Entrevistada: Oh, isso eu não sei te falar ao certo, quando eu cheguei na (instituição parceira),
tem alguns meses, e o (professor orientador) já vem participando desse projeto a mais tempo,
então eu não sei te falar ao certo, eu posso olhar ali e te falar direitinho.
Entrevistador: A respeito das atividades realizadas, você sabe como são feitas, como é a
participação dos acadêmicos? Se são atividades de assessoria, auxílio ou se é uma
intervenção direta... como funciona essa dinâmica entre vocês?
Entrevistada: Vou te dar um exemplo em concreto, hoje nós temos aqui duas estagiárias, nós
temos a necessidade de mudar a Secretaria para um outro prédio, esse prédio aqui a
concepção dele é um hospital. E a gente tem várias dificuldades, conforme é a disposição
deles, e hoje nós solicitamos ao (professor orientador) para nós fazermos o dimensionamento
de uma outra área, que a gente tem possibilidade de lidar, e, para isso, a gente precisa
identificar as nossas necessidades, em cima de uma lógica, não atual, conforme nós
trabalhamos hoje. Então se fosse pedir alguém normal, do mercado, ele não teria essa
capacidade de identificar, então hoje nós temos uma estrutura que é, ela está toda
compartilhada, em compartimentos mesmo, e numa lógica que não é funcional, então dentro
de uma nova lógica, um modelo mais atual, onde as pessoas trocam, não é lugar fechado, é
aberto, onde você interage com diversos setores, então nós estamos fazendo esse trabalho de
dimensionamento, o próprio trabalho é uma nova lógica funcional para um novo prédio, para
a gente poder partir para um novo prédio. Então nós temos aqui dois estagiários que estão
trabalhando fazendo esse levantamento, não só medindo área física, mas também entendendo
do fluxo, da forma de trabalho dentro desse novo modelo de gestão, não dentro dessa questão
mesmo fechadinha, cada um na sua caixinha.
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Entrevistador: De uma forma mais resumida, quais os problemas essa parceria estaria
tendo resolver?
Entrevistada: Elá já resolve, hoje, também um exemplo concreto, nós temos o nosso prédio o
Pan Marechal, que é um local muito nobre, mas é um prédio residencial, o INSS ocupou por
muitos anos, ele foi concebido para ser residência depois ele passou para o INSS, depois ficou
em utilização pela Casa de Saúde, muitas dificuldades estavam ali colocadas de que ele não
serviria para a área de saúde, e foi lá colocado, implantado, um Centro de Especialidade
Odontológica, o CEO, isso tem uns três meses, acho que foi em fevereiro, que foi feito em
uma concepção que hoje já modificou a forma de ver o Pan Marechal. O local que ocupa
central, tem como que utilizar para a saúde, mudou, porque a forma com que foi concebido, a
forma com que tá funcionando, a questão do pé direito, apartamentos duplex, então a forma
como ficam os andares falaram que não dava para atender a saúde, e, por esse projeto, a
utilização do espaço foi tão boa, inclusive tivemos aí um Secretário de Estado, que gostou
muito de termos redimensionado a forma de trabalharmos o Pan Marechal.
Entrevistador: Há uma fixação de metas, quais seriam alcançadas?
Entrevistada: Olha, as nossas necessidades são imensas, então a gente tem a questão do tempo
e da equipe que ele tem, então se pudesse ampliar aí, seria muito melhor, inclusive essa
questão do Pan Marechal dessa nova remodelagem do conceito, a gente está aguardando uma
outra análise, então a gente tem muitas demandas e ele tem uma equipe limitada, então
precisaria até de ampliar um pouco mais.
Entrevistador: Como que se dá o financiamento dessas ações?
Entrevistada: É um convênio, né, eu não sei te falar bem ao certo como é esse convênio. Eu
sei que o convênio tem uma bolsa, eu não sei bem ao certo, sei que ela não deve ser muito
interessante para a equipe, a gente tem até interesse de melhorar isso. Hoje eles são uma
referência para nós, inclusive com a reunião que tivemos agora com o vereador ele fez uma
demanda de intervenção lá na Unidade de Benfica, primeira ação “pegar parecer do (professor
orientador)”, e eu conheço o (professor orientador) desde o HU, então a gente tem um
trabalho de confiança muito grande, pela qualidade, pelo profissionalismo que ele tem.
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Entrevistador: Sobre a periodicidade, as ações executadas são ações mais eventuais, são
mais contínuas...?
Entrevistada: Da forma que hoje a gente está levando a saúde, a gente tem muitas ações que
precisam serem feitas em um curto espaço de tempo, então essas ações é pra serem mais
exploradas, é um espaço mais contínuo mesmo, não faz mais pela limitação mesmo de tempo
dele.
Entrevistador: Como é a relação entre vocês, há uma participação na elaboração dos
projetos?
Entrevistada: Muito boa, com certeza, nós quisemos alugar um prédio para transferir a SubSecretaria de Regulação, aí, como eu disse para você, antes nós temos de conversar com o
professor (professor orientador), e ligamos para a Universidade para esse novo prédio, com
possibilidade de locação, quando ele colocou lá as nossas necessidades e o espaço, o custobenefício era muito caro o imóvel e naquele dia não atende para o que a gente precisava,
então com o conhecimento que ele tem das áreas da (instituição parceira), que já é histórica,
inclusive a ocupação desse prédio, isso aqui era um hospital e aí mudou prefeito, antes isso
aqui era ocupado pelo hospital, que ele participou do projeto de reforma, então ele conhece
todas as áreas da (instituição parceira). Então ele é que descobriu, sugeriu um área lá na
Rodoviária, onde tem um espaço grande, tem condição da gente fazer o que a gente precisa,
dentro dos conceitos, e é da (instituição parceira), então nós estamos transferindo a Secretaria
aqui para ir para lá, mas a gente sempre espera ouvi-lo antes de fechar qualquer contrato,
mesmo que as obras sejam menores a gente tem a necessidade de ouvir a arquitetura do
(professor orientador), hoje nós temos um grau de dependência muito grande.
Entrevistador: Quais as expectativas ou avaliação sobre o que já tenha acontecido em
relação à execução desse projeto?
Entrevistada: Oh, o que a gente sente é isso, ele tem uma equipe pequena, precisava ampliar
essa equipe para poder atender a demanda que é muito grande. Então a gente tem hoje um ano
e meio de licitação, então a gente precisa fazer muita coisa, a demanda é muito grande, hoje
se a gente fosse avaliar é muito bom e a gente precisava de dar um suporte, uma ampliação
disso, inclusive a remuneração, que a gente sabe que o quadro não é tão bem remunerado. E
100
isso é reconhecido pelo (parceiro externo), todo mundo, toda a área de saúde sabe dessa
importância, não é só nós da Secretaria de Saúde não, inclusive pela (instituição parceira).
Entrevistador: A respeito do desenvolvimento do projeto, de que forma, vocês como
parceiros acompanham a execução do projeto? É um acompanhamento mais
documental, presencial no dia a dia, com relatórios, é algo frequente... como é que
funciona isso?
Entrevistada: É produto mesmo, a gente senta para construir juntos o produto, entregou o
produto, não tem relatório não, é bem “resultado”.
Entrevistador: Quais as dificuldades na operacionalização do projeto?
Entrevistada: São essas mesmo, a questão do tempo e do número de pessoas, que a gente
precisaria de um aporte maior. Mas nós sabemos que é um projeto de extensão, ele tem lá as
40 horas, ele tem todos os compromissos acadêmicos.
Entrevistador: Não sei se você chegou a acompanhar, mas como ocorre o envolvimento
dos estudantes? Como é a participação deles? É algo mais direto, é um auxilio que eles
dão ao professor... como funciona isso?
Entrevistada: Olha vou falar o caso que está acontecendo aqui agora, eles auxiliam,
dimensionam a área física, é um apoio mesmo para o professor, um suporte.
Entrevistador: Estavam previstas análises de resultados sobre o que tem sido feito? Por
exemplo, havendo fixadas metas, há uma análise do que foi feito?
Entrevistada: É, as metas variam muito, hoje a questão lá do Pan Marechal, como eu disse o
CEO, a intenção era trabalhar o próprio Marechal só que surgiram novas demandas e novas
prioridades em outros locais, mas um relatório e tal nós não trabalhamos.
Entrevistador: De que forma o projeto pode interferir ou auxiliar na proposição de
políticas para esse setor especificamente?
Entrevistada: Não é de forma sistematizada, mas de forma do dia a dia, como disse a questão
101
lá da Regulação, uma área, uma estrutura muito nobre da área da Secretaria, ele interagiu,
modificou, deslocou o eixo da questão de um local para outro, com uma nova modalidade de
intervenção, de atendimento ao usuário, e esse processo todo não de forma planejada,
anualmente..., porque a própria urgência atropela. Então, voltando ao Pan Marechal, a ideia
era que o CEO, a concepção lá, que ficou tão bom, abrisse para os outros, para os outros
andares, e isso dá que ficaria no Pan Marechal, mas por outro lado isso vai da necessidade,
então a questão da Regulação, que não deu para ficar em um local pronto, no imóvel que seria
alugado, então ele está dimensionando um novo espaço para poder construir e mudar para lá.
Então é uma coisa muito gigante, é tudo para ontem, fora a questão da vigilância sanitária,
que você faz um projeto e aí eles pedem alguma alteração. O novo hospital que tá sendo
construído ele também está interagindo, participa de reuniões, qual que é o conceito, qual que
é o material que está sendo utilizado. Então é uma questão que a gente tem o (professor
orientador), com pessoa da Universidade, e pelo profissional que ele é, que tem nos dado um
respaldo muito grande na área da Arquitetura.
Entrevistador: Vocês têm intenção de realizar novos projetos conjuntos, com esse tipo de
parceria?
Entrevistada: Com a Universidade, temos! Nos até temos outros projetos... com certeza.
ENTREVISTA 4
Entrevistador: Primeiro a gente gostaria de saber como que essa parceria aconteceu?
Como que isso aconteceu?
Entrevistada: Bom, aqui é uma unidade de saúde, ligada à (instituição parceira) de Juiz de
Fora, à Secretaria de Saúde, e com um diferencial de ser uma Unidade de Residência de
Saúde da Família, então desde 2002 a gente trabalha com a formação de profissionais para
atuarem dentro da lógica de Saúde da Família. E esses residentes ficam com a gente durante
dois anos, são Assistentes Sociais, Enfermeiros e Médicos, então todo ano tem processo
seletivo, então desde 2002 a gente recebe alunos todo ano. Da parte do Serviço Social, nós
temos eu que fico com preceptora no local, no serviço, né, como a gente costuma dizer, e a
professora (professor orientador), que é preceptora de ensino. Então a professora (professor
orientador), na residência, é que... então ela faz inferência com os alunos e esse
acompanhamento. Então essa parceria acaba gerando outros projetos, a gente também sempre
recebeu estágio, aqui é uma Unidade ligada muito à questão de ensino, e a gente recebe
102
estágio das diferentes categorias, dentista, acadêmicos de medicina... E aí veio a questão de a
gente estar reforçando alguns trabalhos que a gente já entendia como importantes serem
feitos, e através de um projeto de extensão a gente teria alunos específicos para aquele
projeto. Então já aproveitando um pouco essa questão que a gente já tinha com a residência.
Entrevistador: Qual a modalidade de atividades planejadas? São atividades de auxilio
dos estudantes, são atividades de execução mais direta... como que funciona essas
atividades? Como que os estudantes participam no projeto?
Entrevistada: Eles, a gente até está com bolsista nova agora, eles são inseridos gradualmente
dentro da dinâmica. Então, por exemplo, essas últimas, primeiro a gente tenta que eles
entendam um pouco a dinâmica do local onde eles estão, conhecer a área, conhecer a equipe,
conhecer o processo de trabalho da Unidade. Se o tema, por exemplo, a gente está trabalhando
com a questão da participação popular, o que que nós já fizemos até então com relação ao
tema, então eles leem todo esse material para se apropriar um pouco da história que já existe.
E também do lugar onde eles estão, a partir daqui, todas as atividades que diz respeito
específico ao projeto eles participam do planejamento, da discussão, e da execução
propriamente dita também. E a gente vai vendo também qual que é a possibilidade que ele
tem, ele vai crescendo um pouco dentro do projeto, lógico que no início ele tem maiores
dificuldades, porque ele ainda está chegando, então a formação dele ainda não está completa,
e a medida que a gente vai sentindo que ele tem força a gente vai soltando, então se tem uma
oficina para fazer, ele participa do planejamento, ele que organiza junto com a gente e
também, na execução, algumas dinâmicas que precisam ser feitas, ele é que conduz, algumas
análises. Então depende muito do aluno também, daquilo que a gente consegue ver que ele
consegue, em tudo que diz respeito àquela atividade na unidade, embora ele venha de um
período menor, ele não está aqui todos os dias, a gente vai atualizando ele do que está
acontecendo nos dias que ele não está, e a gente vai fazendo um planejamento mensal de
todas as atividades mesmo ligadas ao projeto. E no projeto que estamos agora ele trabalha
com horários diversificados, às vezes tem reuniões a noite, às vezes tem trabalhos no final de
semana, então ele tem que se adaptar um pouco também a essa variedade aí. Depende muito,
tem aqueles que são extremamente interessados, acabam indo até além de carga horária e de
tudo, mas é isso.
Entrevistador: De que modo o projeto foi organizado? Foi algo colaborativo, com a
103
participação de todos, ou foi algo encomendado....
Entrevistada: Bom, foi uma ideia que surgiu nos dois lados, tanto da (instituição parceira)
quanto da Universidade, da (professor orientador) e da gente, quando a gente organizando um
pouco o processo de trabalho a gente via que tinha determinadas áreas que estavam
precisando de ter uma atenção um pouco mais de... dentro da nossa formação, um pouco mais
efetiva. Então porque não pensar num projeto que teria pessoas que viriam para isso, para
pensar isso junto com a gente, aí a organização do projeto foi feita em comum com os
parceiros. Lógico que o bolsista já ingressou com o projeto já aprovado, mas a gente constrói
juntos, até porque por mais que a (professor orientador) participe desde 2002 com a gente, ele
não conhece a nossa dinâmica, não conhece os nossos conselheiros... Então essa parte a gente
constrói juntos, porque não tem como trazer um projeto pronto, vamos fazer isso aí... Porque a
gente sabe no que que dá para ir e onde não dá, onde as coisas funcionam, como funcionariam
melhor..., então foi construído junto mesmo. O projeto que a gente está hoje é uma
continuação de um que a gente começou em 2005.
Entrevistador: Quais problemas essa parceria busca responder? Haveria uma fixação de
metas a serem alcançadas?
Entrevistada: Quando a gente, depois se você quiser dar uma olhada no projeto... lógico que a
gente tem todo um cronograma, um tempo a cumprir, e a gente vai avaliando isso a medida
que vai acontecendo, o que está andando o que que não tá. Não sei dizer que dificuldade a
gente teria ou não? As vezes a disponibilidade do bolsista, que as vezes não coincide com a
que o projeto naquele momento pede, então a gente tem que andar e ele não pode participar de
algumas coisas, então ele perde. Então, por exemplo, nós tínhamos no ano passado algumas
atividades que só davam para acontecer no período da manhã, por conta da população, a gente
trabalhava alguma coisa com adolescentes, e os adolescentes estudavam a tarde e só pudiam
estar na Unidade de manhã, e a bolsista nunca pode estar de manhã, porque era o horário que
ela tinha aula, então as vezes a gente tinha que ficar sempre repassando, como ela conseguia
estar no planejamento mas não pode estar no dia da execução, então as dificuldades são mais
dessa ordem, pois existe uma informação muito grande entre quem está conduzindo, tanto a
(instituição parceira) quanto a Universidade, o contato é muito frequente.
Entrevistador: A respeito disso eu também queria perguntar, sobre as ações, são ações
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eventuais, contínuas... na verdade isso é uma questão mais orgânica, né. Como é a
relação de vocês com o pessoal do projeto na organização das atividades a serem
executadas?
Entrevistada: Toda a organização é junta, é o que eu disse: não tem como vir pronto, então a
gente já está delimitando o projeto, então uma coisa que vai acontecer, vai acontecer uma
reunião de liderança na comunidade, vamos dizer, como isso vai acontecer? Isso é planejado
pela equipe: quem são as pessoas, qual o melhor local para isso acontecer, qual oficina que a
gente vai fazer, como que vai ser abordado o tema, isso tudo é organizado junto com os
bolsistas, a gente, e com a Universidade sabendo, já bem delimitado isso, mas é a gente que
trabalha isso juntos, não vem pronto para a gente executar.
Entrevistador: A respeito de expectativas ou de avaliação do projeto, o que você poderia
dizer?
Entrevistada: A (parceiro externo) é Assistente social também, ela assumi junto com a gente o
projeto aqui. Uma avaliação, de continuidade até, nós valorizamos muito esse tipo de ação
aqui no Serviço Público, pela característica da Unidade mesmo, eu não acredito que seja fácil
com Unidades de Saúde, pelo tipo de demanda mesmo que a gente tem, que são muito
grandes, mas a gente já tem todo um processo de receber alunos, que facilita a gente
conseguir se organizar, os residentes também, que são profissionais, já estão em uma
especialização, são residentes, não são alunos estagiários. Eles também trabalham juntos com
a gente. Então acaba que o bolsista fica bem assistido, não só por nós mas também pelos
residentes, nós temos só de residentes aqui de Assistência Social, seis, e aqui é a única
Unidade da (instituição parceira) que tem duas Assistentes Sociais também. Então isso
permite que todo mundo saiba... por exemplo, nós já marcamos uma reunião para sexta-feira
com todos do projeto de extensão, com nós todos, com todos os residentes, com todos os
bolsistas, para a gente já delimitar como vai ser o mês de maio. Então como a gente tem muita
flexibilidade para poder fazer esse planejamento e muito apoio, no caso da Universidade na
figura da (professor orientador), isso torna assim: é um trabalho a mais? É! Mas não é penoso
para a gente porque a gente está bem estruturado para ter o projeto e a gente entende que ele
contribui, ele contribui porque é de repente uma pessoa que está ali centrado no assunto, a
gente acaba discutindo uma coisa e depois está discutindo outra totalmente diferente. E a
atenção primária não é um assunto especializado, onde as pessoas estão tratando só de um
105
assunto, então questão renal... a gente atende HIV, a gente atende doença renal, atende
crianças abandonada, negligência, violência com o idoso, tudo está no mesmo bolo. É muitas
situações diferentes, muitas frentes de trabalho, muitos projetos, então tem alguém que está
focando um pouco, numa partezinha desse processo, que é extremamente importante, faz com
que a gente consiga delimitar melhor esse universo, que é tão grande, força a gente a falar:
“não, o projeto de extensão tem que andar, a gente precisa estar atento a isso”, então eu
entendo que ele colabora nisso, a gente nunca recusou projeto de extensão e acha que ele
deveria ter continuidade, e a gente tem um preocupação com o bolsista que vem, para que ele
consiga extrair o máximo desse período enquanto experiência, nós já tivemos bolsista aqui
que entrou como bolsista, depois ficou como estagiário um ano e meio e dois anos como
residente. E praticamente para ir embora foi difícil, foi preciso falar: “acabou, não tem
mais...”
Entrevistada2: E a gente vem atender uma demanda também que é da comunidade, está aí
colocada para a gente, a gente não está criando a mais, uma demanda que já existe no dia a
dia, que é da atenção primária, a gente só vai organizar isso de uma forma melhor.
Entrevistador: Esse tipo de atividade de vocês é um tipo de atividade que, por acaso,
precisa ser repetido com frequência na sociedade ou é algo que vá levar a uma
emancipação social?...
Entrevistada: É um trabalho contínuo, nós trabalhamos com lideranças, com conselhos, com
participação e isso é uma coisa que não se consegue de um minuto por outro, e a gente avança
em passos lentos, tentando não recuar e deixar de trabalhar, mas a gente vê como contínuo,
Entrevistada2: E agente tem que estar mostrando a importância desse trabalho o tempo
inteiro, a comunidade...
Entrevistada: Para eles entenderem a diferença que faz isso na vida deles, na vida humana.
Entrevistador: A respeito do desenvolvimento do projeto, ou dos projetos, de que forma
é acompanhada a execução desses projetos? É algo mais presencial, tem algum tipo de
documentação, de relatório, é algo mais frequente...
106
Entrevistada: A gente relata tudo desde o início, esse aqui é o primeiro projeto, e isso é
também uma exigência do projeto, que se feche um relatório final para a gente poder prestar
contas realmente do que aconteceu. Aí o bolsista junto com a gente e os residentes tem que
estar registrando tudo que está acontecendo, as oficinas que foram realizadas, as pesquisas
que já foram feitas na área, isso normalmente geral trabalhos que são apresentados em
congressos, que a gente estimula muito participar de congressos e seminários, tudo que é feito
o nome do bolsista vai junto. As oficinas quando elas acontecem são todas descritas para
quando precisar repetir também ficar bem fácil, há uma descrição de tudo que aconteceu,
porque no momento do projeto, na questão da participação a gente construiu com eles qual
que era a prioridade para eles em termos de saúde para se trabalhar no bairro, e na escola, com
a questão do adolescentes, a gente enxergava como algo que precisava que fosse trabalhado
com mais atenção, então caiu um pouco nesse trabalho com adolescente, mas em tudo tem
descrição, tem foto de tudo, depois volta para a participação como um todo, eles criaram um
projeto mais específico. Até as entrevistas que já foram feitas com os conselheiros fica tudo
registrado aqui, por quê? Quando chega um bolsista igual chegou esse ano, com esse material
todo ele consegue recuperar um pouco a história, porque as vezes as pessoas chegam como se
não houvesse história: “vamos fazer isso aqui, vamos tentar isso... mas nós já tentamos, não
funcionou...”. Então a gente monta juntos os projetos, as estratégias e os objetivos, tudo a
gente monta junto, como que te falei ela não está aqui na realidade com a gente, tudo que vai
ser feito, reuniões, oficinas, salas de espera, convites para chamar para as reuniões, apresentar
diagnóstico de saúde, o passo a passo já fica aqui. E um cronograma do que vai acontecer, até
as oficinas que vão acontecer já estão montadas. Aí a gente faz adaptações mesmo para cada
realidade.
Entrevistada2: E aí a gente já tem também um planejamento das reuniões com os bolsistas.
Entrevistada: Aqui é a entrada deles que eu te falei, que eles recuperam um pouca as leituras,
de relatórios, e participam de reuniões de equipe...
Entrevistador: Nesse caso, vocês, como assistentes sociais e que fazem a integração dos
bolsistas aqui dentro...
Entrevistada2: Não tem outra forma, se não for a gente não tem como chegar e fazer isso. A
gente tem que fazer o percusso deles, fazer leituras, conhecer a área e isso realmente
107
aconteceu até aqui.
Entrevistador: E a importância do parceiro nesse caso é essencial...
Entrevistada: E até a aceitação da comunidade de alguém que vem de fora, ele vai com a
gente, e a gente já tem muito tempo aqui, então isso abre as possibilidades, a gente já
identifica: tal lugar, tal pessoa, como ficar aqui e ali, tem lideranças que a gente não pode
estimular muito porque são lideranças que não trazem benefícios para aquela comunidade, e a
gente já sabe disso, embora as vezes sejam presidentes de bairros... têm até cargos
importantes, mas que se a pessoa vem desavisadamente tende as vezes a se juntar a grupos
que não são... que estão com outros interesses que não seja a comunidade, as vezes estão com
interesses próprios, então esse tipo específico, ainda mais trabalhando com participação,
depende muito de conhecer... e para o bolsista, com esse pouco período que tem não dá
tempo.
Entrevistador: Vocês acham que número de estudantes envolvido foi o suficiente?
Entrevistador: Não, eu acho que tinha de diminuir, pois não dá para colocar mais ninguém
aqui, além dos residentes, tem os técnicos em saúde, que estão começando agora, e eu tenho
estagiária também, então do Serviço Social que é o projeto que fica mais com a gente, já é
muita gente, então a gente tem que medir um pouco aquilo que a gente dá conta de atender
também.
Entrevistador: Ao longo desse projeto todo que vocês vêm desenvolvendo há momentos
de avaliação? De análises de resultado? Algum momento para sentar com todo mundo
para ver o que deu certo ou errado...
Entrevistada: Isso é feito, pelo menos anualmente, para a gente também redefinir algumas
coisas, continuidade, o caminho a ser feito, se a gente conseguiu atingir o objetivo que foi
previsto, porquê que não foi conseguido. E é feito também até para que se gere esse relatório,
tem um relatório aqui que é até bem claro com isso, porque nós temos duas áreas de frente de
trabalho, isso é até complicado para nós porque são dois bairros longes, então tudo que a
gente tem que fazer para um bairro, tem que fazer duplicado, então não pode fazer uma coisa
só. Então as ideias delas lá são outras, os grupos de adolescentes são de outra escola, aí você
108
tem que ter uma equipe para ir na escola de lá e outra para vir na daqui. Então você tem duas
experiências e as vezes o de lá funciona de uma forma e as vezes o de cá o interesse é outro. E
aí eu me lembro que na avaliação dessa área aqui não conseguiu avançar em algumas coisas, e
que na outra avançou, e aí por conta dessa variação que nós tivemos que mudar um pouco a
direção, sem contar que estamos sempre avaliando junto com eles, por exemplo a gente fez
esse planejamento aqui que está encerrando agora, a gente já tem uma reunião amanhã para
ver com o bolsista se isso aqui deu conta o que era do objetivo.
Entrevistador: De que forma o projeto pode auxiliar ou interferir não proposição
políticas para esse setor?
Entrevistada: Eu só vejo que contribui, uma vez que nesses meses estamos trabalhando com a
formação de conselhos, com capacitação de conselheiros que estão tanto no nível regional
mas que estão no nível municipal também, porque o representante do municipal ele sai da
região, e toda a discussão da saúde em Juiz de Fora tem que passar pelo conselho municipal,
então existe votos que são feitos por pessoas que saem dos usuários.
Entrevistada2: E o conselho regional, ano passado fechando o ano, eles valorizaram e pediram
que continue em ter trabalhos juntos com o conselho local, como o conselho regional, e eu
penso que esses conselheiros regionais é que vão levar essa reivindicação ao conselho
municipal, e tentar quem tem realmente de fato um acompanhamento melhor, trabalhando a
participação mais de perto.
Entrevistada: Levando mais propostas, porque eles entram dentro desses conselhos um pouco
mais desfavorecidos de formação, porque o conselho é composto de profissionais de saúde, de
gestores e de usuários, então a gente entende que os usuários precisam se apropriar mais de
algumas informações e compreender mais o jogo que acontece na aprovação de alguma
demanda de saúde, senão ele acaba sendo muito usado dentro desse contexto para aprovar
coisas de forma corrida, sem conseguir avaliar e analisar. Que são estratégias usadas mesmo
para se aprovar alguma coisa de hoje para amanhã, entrega: “nós precisamos aprovar isso
hoje, porque senão a gente vai perder recursos”, aí eles logo acham que têm que aprovar a
coisa nessa pressa mesmo, então tão rápido, porque não apresentou isso antes?, então é tentar
um pouco dessa discussão, acho que a gente percebe lá não muito diretamente, mas de uma
forma indireta.
109
Entrevistada2: De forma que eles comecem a reivindicar mais tempo, alguém que discuta
mais esses temas com eles que eles não dominam, para que eles possam se apropriar mais do
tema para poder realmente decidir na hora da votação de uma forma mais consciente mesmo.
Entrevistada: E isso que a gente está falando na compreensão que a gente tem mesmo de
saúde, na questão da habitação, no que tem a ver com a saúde, e aí a gente discute, sobretudo
com eles, não só na saúde, mas de eles estarem buscando também outros espaços para poder
fazer valer direitos.
Entrevistador: Vocês têm a intenção de realizarem novos projetos conjuntos?
Entrevistada: Se não pararem a gente, eu acho que nós não paramos assim não (risos)...
Entrevistada2: Porque esses projetos são interessantes e estimula a gente que já tem um
trabalho com a comunidade, e a gente vai pensar, rediscutir, isso faz com que você reorganize
tudo para todo o trabalho.
Entrevistada: A gente pensa que só tem ganho, não tem perda, porque é ganho para nós,
também nós obriga, a gente já formou um tempinho já atrás, mas automaticamente a gente
tem que estar atualizado o tempo todo, tem que estar estudando junto, então para nós é bom,
para o bolsista que vai pegando um pouco mais de confiança, tem esses bolsistas que a gente
vê crescer aqui, e é um momento que eles ainda estão chegando, então ainda não se sentem
tão cobrados de ter que ser um executor, de tomar todas as decisões sozinho, mas nós
amadurecemos muito no processo, e a comunidade que se beneficia diretamente. Tem mais
alguém pensando junto, a Universidade dando esse suporte para nós que estamos aqui direto,
sem isso ficaria bem complicado a gente pensar essa parte.
ENTREVISTA 5
Entrevistador: Nós gostaríamos de saber como aconteceu a parceria?
Entrevistada: Para te falar a verdade ela aconteceu, iniciou em uma reunião em que nós
estávamos participando do... eu enquanto conselheira municipal de saúde, e o (professor
110
orientador) como professor... Não sei te falar dia, sei que o motivo foi a questão de terapia não
convencionais, foi lá no Pan Marechal, numa sala lá no Pan Marechal, e eu sentei perto do
(professor orientador) e ali assistimos a reunião, comecei a conversar com ele, falei dos
trabalhos nossos na comunidade, e iniciou com esse encontro.
Entrevistador: Como foram planejadas as atividades, levando em conta o envolvimento
dos acadêmicos? Os Discentes estiveram aqui assessorando, dando auxilio ou foram
atividades mais diretas de execução? Como foi isso?
Entrevistada: Bom, na minha conversa com o (professor orientador), ele colocou essa parceria
Universidade e a Boa Vizinhança, e aí eu me interessei, me interessei porque a gente já tinha
uma iniciação de chazinhos, e eu mexia com jardim, então nós fizemos através da botânica
essa parceria, e com esse momento o (professor orientador) veio fazer uma palestra no nosso
salão da UBS, convidei a comunidade, o grupo da terceira idade, a gente faz uma mistura boa
e ele veio fazer a palestra, falou sobre o chá, sobre a terapia, e começou assim... Daí o
(professor orientador) elaborou com os seus alunos uma pesquisa sobre os chás, qual seria a
preferência da comunidade com os chás, estivemos nas casas com os alunos, com o (professor
orientador), levei os alunos em várias residências, a gente dividiu por rua, e começou a
pesquisa com esse primeiro encontro, que a gente teve nas casas.
Entrevistador: Esse projeto teve uma participação de forma colaborativa entre a
comunidade...?
Entrevistada: Muito importante essa pergunta, porque a adesão da comunidade em falar dos
chás, em falar qual chá ela usava... eu me lembro que eu fui com o (professor orientador) na
casa de uma senhora e que ela... e eu acho isso muito importante, porque o (professor
orientador) ele vai naquela conversa ali, mas aprendendo também com aquela simplicidade
dele, com aquele jeito de ser dele, aprendendo com os idosos aqueles chás lá vovós e foi essa
participação que motivou muito a comunidade, teve uma aceitação muito grande que pode
nessa área daqui, Nossa Senhora das Graças, Vista Alegre, Eldorado, ele pegou essa parte toda
aqui assim, fazendo a pesquisa, ele e os alunos.
Entrevistador: Quais os objetivos, na verdade, então o projeto pretendia alcançar?
111
Entrevistada: Ele queria saber quais os chás da preferência da comunidade... eles falavam,
sugeriam, e a questão a hortinha medicinal, que essa era a nossa meta, fazer a hortinha
medicinal, com a participação da comunidade, e todos eles falavam qual o chá preferido, e
nesse trabalho o (professor orientador) concluiu com um banner das preferências, esse banner
com certeza ele tem lá, né, que ficou aqui na Unidade para a comunidade ver, é foi um
trabalho de pesquisa muito importante, na qual depois iniciou-se a hortinha medicinal. E
muitos no questionamento feito pelo (professor orientador), sugeriam, davam ideia, já a
participação na comunidade, “ah, vou ajudar plantar, vou ajudar...”, muitos falavam que não
iam mesmo ajudar, falavam que estavam dando só sugestão.
Entrevistador: E essa hortinha medicinal, como se desenvolveu?
Entrevistada: Essa hortinha ela desenvolveu com os chazinhos, e praticamente muitos
convites foram feitos, mas a adesão da comunidade no cuidar não, eles queriam os chazinhos,
alguns ali naquele local que te mostrei, ali nos iniciamos, depois é que plantamos o capim
cidreira naquela parte maior, com os chazinhos no meio. Mas vou te falar a verdade, eu
cuidei, meus filhos as vezes ia lá para ajudar, mas a dificuldade foi na participação da
comunidade em abraçar realmente o projeto.
Entrevistador: Essa relação de vocês, o pessoal da comunidade, com o pessoal lá da
Universidade, como é que se dava?
Entrevistada: Eles acolhiam muito bem os acadêmicos, tinha aquela boa vontade de falar dos
chás, o que que a vó ensinava... quais os chás que ele tomava, então a participação com os
acadêmicos, com o (professor orientador), foi muito gratificante, a acolhida muito grande,
teve outros encontros, que ele trouxe os chás para mostrar, ensinou a fazer alguns chás, houve
essa participação na palestra, isso aí foi muito importante.
Entrevistador: As ações eram eventuais, eram mais contínuas? Esses encontros que você
sitou aí, de quanto em quanto tempo aconteciam?
Entrevistada: Houve as palestras, né, eu sempre procurava grupos da terceira idade, a nossa
supervisora Estela, quero que você tendo oportunidade até venha a conhecer, porquê? Nos
temos a Estela que ensina chazinhos, ou para dor de estômago, e tínhamos mais próximo ali
112
plantados, ela “oh, temos esse chazinho, pode apanhar lá”, e a pessoa apanhava, então quem
estava sentindo muito questão de dor de estômago.... Mas a participação da Doutora Helena,
enquanto pediatra, referenda também nos chazinhos, a Doutora Maria do Carmo, com a
ginecologia, também ela é bem produto natural, ela orienta nesse sentido, então foi o que
motivou o trabalho e todo esse movimento.
Entrevistador: Qual a avaliação que você tem sobre a execução do projeto pela
Universidade?
Entrevistada: Eu tenho em conta de muito positiva, muito importante, vejo que a parceria da
Universidade nas comunidades, que é a Universidade e a Boa Vizinhança, que somos nós,
uma vizinhança mais distante, mas eu me enquadrei na Boa Vizinhança até pelo perfil do
(professor orientador) em relação à nossa visão de Meio Ambiente, dos chás, da hortinha
medicinal que a gente já tinha... Eu achei positiva, achei muito importante e vejo que é
necessária essa participação, de qualquer setor da Universidade.
Entrevistador: A partir da realização desse projeto, você acha que a comunidade vai
conseguir realizar uma certa emancipação? Eles conseguirem se organizar sozinhos com
relação a esse projeto? Ou não se trata de um objetivo...
Entrevistada: Olha, é igual nós temos no projeto, eu sou conselheira de saúde já desde 95,
tenho já o dom, porque esse dom que a gente tem de envolvimento social, então nos temos um
grupo aqui... ASPM, o Conselho Local de Saúde, a gente tem uma interação muito grande
com o movimento social, e sonhamos alto, temos um projeto Convivendo em Comunidade, na
qual a gente trabalha a questão do esporte, a questão da hortinha também, temos sonhos em
relação a questão do idoso, nosso projeto é da criança ao idoso, o que estiver inserido nesse
projeto nós abraçamos. Vejo que temos um grande desafio para motivar a comunidade a
participar, interagir, isso aí é desafio, mas nós acreditamos nesse desafio e portanto estamos aí
acreditando, sonhando e atuando.
Entrevistador: De que forma vocês, como parceiros, acompanharam a execução dessas
atividades? Foi algo esporádico, foi um acompanhamento documental?
Entrevistada: Pela Universidade, eu entendo que nós ainda estamos com essa parceria em
113
relação à questão do meio ambiente, temos o projeto aqui “Sementinha”, que plantamos
árvores ali na nossa quadra poliesportiva, com a participação do (professor orientador), com a
participação do acadêmico Bruno, e ainda continuamos, eu acredito que temos desafios aí pela
frente, mas é aquilo que eu falei com você, por exemplo, plantamos a árvore do pau-brasil,
plantamos canela. No primeiro momento, no dia 3 de maio, eu tenho uma plaquinha até com
uma senhora que nós prestamos uma homenagem... documentamos essa questão do projeto
Sementinha, isto nós pretendemos dar continuidade, haja vista a gente, por exemplo,
plantamos o pé do ipé amarelo, fizemos aquele momento, o Bruno tem isso tudo
documentado, para nós também, vamos estar encarando desafios, dando continuidade com as
nossas sementinhas, a gente fez a relação da sementinha do ipé amarelo com as sementinhas
da creche, uma sementinha viva, e fizemos esse momento, só que a gente vê muito
vandalismo, arrancaram o pé do ipé, o pessoal do Demlurb foi lá roçar e roçaram um oiti que
nós plantamos e colocamos uma madeirinha envolta ele foi protegido, mas o pau-brasil e a
canela, a canela está mais baixinha mas está lá, mas na poda eles vêm podando tudo, eles não
querem ver, não querem saber se aquilo ali é um trabalho de comunidade, e a gente encara
esses desafios.
Entrevistador: Você acha que o número de acadêmicos envolvidos foi um número
suficiente?
Entrevistada: Eu acho que para aquela demanda do (professor orientador), que era a pesquisa,
houve um trabalho assim de equipe que pode, em relação a esse projeto da Universidade, eu
colo Universidade e a Boa Vizinhança, né, acho que pode crescer muito mais, até em outras
áreas.
Entrevistador: A respeito de avaliações, por acaso vocês programaram um momento
para avaliar as ações que estavam acontecendo?
Entrevistada: Foi feito pelo professor (professor orientador) e a equipe, nós tivemos vários
encontros com a comunidade sobre o projeto, eu acho que essa parte foi feita, agora é questão
de dar continuidade.
Entrevistador: A respeito de resultados, estavam previstas análises de resultados? Foram
pré-fixadas metas?
114
Entrevistada: Essa questão das metas foram a pesquisa, naquele momento da visita dos
acadêmicos nas residências, essas metas foram concluídas. A apresentação do projeto na
comunidade com o banner e o professor (professor orientador), houve todo um
acompanhamento e finalizou com o resultado, que aconteceu, que foi positivo.
Entrevistador: De que forma os resultados do projeto podem interferir ou auxiliar na
proposição de políticas para o setor?
Entrevistada: Por exemplo, a questão do projeto que nós vivenciamos, a comunidade tem
consciência da importância dos chás, usa com o apoio de nossos médicos, que a gente tem
aqui também, foi positivo, e eu vejo que essa participação da Universidade, ela com certeza
lança ideia que a comunidade pode avançar e crescer muito mais.
Entrevistador: Vocês têm intenção de realizar novos projetos conjuntos?
Entrevistada: E, vejo, por exemplo, você que é da área social, eu para mim, meu filho, eu
pratico essa ação social no meu dia a dia, na minha vida, que dirá com o suporte da
Universidade aqui, com profissionais, com acadêmicos que têm todo um desafio de estudos,
de metas... com certeza isso aí vai nos dar uma ajuda e avançar muito mais. E lançar ideia, nós
comunidade Nossa Senhora das Graças abraçamos realmente essas ideias e vejo com um olhar
positivo.
ENTREVISTA 6
Entrevistador: Professora, a gente gostaria de um esclarecimento a respeito dos
objetivos do projeto, que objetivos ele prende alcançar?
Entrevistada: Esse projeto, em especial, (nome do projeto), ele é uma avaliação do programa
Escola em Tempo Integral do município de Juiz de Fora, e o objetivo é avaliar o programa em
todos os seus elementos, a partir da fala dos alunos, dos pais, de funcionários da equipe
gestora da Escola em Tempo Integral em Juiz de Fora. Juiz de Fora tem 5 escolas hoje de
educação em tempo integral. Então tem uma escola de tempo integral que foi implantada em
2006, e nessa época a gente começou uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação,
115
essa parceria envolvendo a Universidade, as escolas, as cinco escolas, na época eram quatro e
depois foi para cinco, e a Secretaria de Educação, técnicos, funcionários da Secretaria. Esse
projeto chama Tempos na Escola, era um projeto de pesquisa e extensão, onde a gente foi
acompanhando a escola na implantação do programa de tempo integral. Esse de Educação
Integral em Foco, que foi realizado ano passado, a intenção era avaliar o desenvolvimento
desse programa todo, a gente foi identificar quais foram os ganhos, quais foram as falhas que
precisavam ser trabalhadas nessa discussão da Educação Integral no ensino.
Entrevistador: Nesse programa específico, quais as metas a serem alcançadas?
Entrevistada: O Educação em Tempo Integral tem o objetivo de melhorar a qualidade da
educação das crianças, quer dizer: ampliar o tempo de permanência na escola para que elas
possam ter uma educação de melhor qualidade. Então envolve toda uma infraestrutura na
escola com um tempo maior, dai mais professores, mais atividades a serem desenvolvidas
dentro das escolas, uma outra organização curricular, que o menino não fica só quatro horas
na escola, estão ficando de oito a nove horas dentro da escola, então a intenção do programa
da (instituição parceira), em função da própria legislação federal que exige que as escolas de
todo município tenham gradativamente implantado um número de escolas com tempo
integral.
Entrevistador: Essas metas estão descritas em algum outro documento que não seja só o
projeto?
Entrevistada: A gente chegou a elaborar a partir de todo o desenvolvimento do primeiro
projeto, o Tempos na Escola, a gente fez junto com a (instituição parceira) o “Caderno de
Educação em Tempo Integral em Juiz de Fora”, então foi feita uma publicação da (instituição
parceira) e uma lei municipal que regulamenta o programa de Educação em Tempo Integral
em Juiz de Fora. Foi feito em parceria, da Universidade com as escolas e com a Secretaria. A
lei, claro, aprovada na Câmara, na época o vereador Flávio Cheker encampou com a gente,
então existe a lei e o Caderno de Educação em Tempo Integral, que é um documento que
também foi publicado pela (instituição parceira), como Caderno do Professor, que orienta e
traz todos as diretrizes sobre o programa de Educação em Tempo Integral.
Entrevistador: Agora, já a respeito das características acadêmicas, você acha que existe
116
uma articulação entre pesquisa, ensino e extensão? Como que ela acontece, como que ela
se verifica?
Entrevistada: Assim... a Universidade não auxilia muito para esse processo acontecer, eu
sempre reclamei isso, porque, o que acontece... Eu faço pesquisas que envolvem escolas e a
Secretaria de Educação desde sempre, poucas foram as minhas pesquisas teóricas na
Universidade, a grande maioria de minhas pesquisas, quase todas envolvem diretamente a
Rede Municipal de Educação, principalmente a Rede Municipal, também algumas escolas da
Rede Estadual, mas a maioria da Rede Municipal. E eu tenho um vínculo forte com o pessoal
da Secretaria de Educação, meus projetos todos sempre foram com o pessoal da Secretaria de
Educação, que estavam aqui conosco desenvolvendo projetos, só que é uma ação muito
individual minha, de acreditar nisso e querer fazer essa articulação. Então eu encaminho um
projeto com perfil de pesquisa para a Propesq e com um perfil de extensão para a Proex, e
com um perfil de graduação para o Treinamento Profissional, e tenho bolsistas envolvidos
nesses projetos, tanto do treinamento profissional, quanto da extensão, quanto da pesquisa,
eles trabalham juntos, fazer praticamente as mesmas coisas, porque eu não consigo ver que
eles possam fazer coisas tão diferentes assim, produzem para os congressos, da mesma forma
que estão dentro da escola, junto com a escola, a gente não fica assim com uma equipe só
lendo teoricamente sobre Educação Integral e outra equipe só dentro da escola fazendo
treinamento, e outra equipe só com a Secretaria de Educação pensando sobre o programa, a
gente faz tudo ao mesmo tempo, mas são três projetos. E antigamente, em outros projetos que
eu já fiz, eu punha até nome diferente, agora eu para marcar uma posição eu deixo o mesmo
nome, esse daí acabou ficando com nome diferente. Mas o Tempos na Escola, que aconteceu,
sem estar nessa parte da avaliação, ele tinha um mesmo nome, Tempos na Escola na Extensão,
no Treinamento e na Graduação e no Apoio Estudantil também, nos quatro lugares. Mas essa
articulação é feita por mim, aí eu tenho que mandar relatórios para cada um, eu tenho que
cumprir as frequências e as datas de cada um isoladamente. Não há na Universidade uma
articulação dessas instâncias, o professor que quer é que faz e desenvolve esse processo,
porque tudo indica que é importante dar essa contribuição para a sociedade, utilizando os
recursos que a gente tem.
Entrevistador: Quais as possibilidades formativas dos projetos para os discentes? De
que forma eles participam?
117
Entrevistada: Ah, são excelentes, eu tenho meninas que foram discentes nesses projetos que
hoje são técnicas na Secretaria de Educação, formaram e estão na Secretaria, tem algumas que
são professoras em universidades, dão aulas no mestrado, pelo menos na graduação dão, que
já têm doutorado... Se a gente for ver a trajetória dos alunos que participam da pesquisa, em
relação a outros que não participam, o processo formativo é completamente diferente, elas
saem assim... Primeiro que em educação, se a gente ficar só em sala de aula, a gente não sai
da sala de aula, então não choca com a realidade, a realidade é completamente móvel,
complexa, e a sala de aula não dá conta de responder essas questões, então quando o aluno se
insere desde o início... No projeto atual que desenvolvo, em outra escola, eles chegam assim
com as dúvidas, com as questões: “mas os meninos não aprendem, o outro não faz”, e assim
você dá uma oportunidade a ele de fazer uma leitura do processo educacional muito mais
ampla do que só com as matérias escolares, é uma formação mais integral mesmo, né, permite
uma reflexão da prática. Essa relação teoria-prática ela se dá quando você pode acompanhar o
dia a dia, com o aluno dentro de todo o processo, e com a pesquisa e com a extensão isso é
viável. Elas conhecem a Rede, elas conhecem o sistema da Secretaria de Educação, elas veem
como funciona tudo dentro da Universidade, dentro da Secretaria de Educação e dentro da
escola. É outra lógica formativa, a gente chama de lógica de formação diferenciada.
Entrevistador: O projeto planeja ações de cunho interdisciplinar? De que modo?
Entrevistada: O projeto, por exemplo, tem uma doutoranda minha e um mestrando que fazem
uma pesquisa sobre as questões da Educação Integral em função desse projeto, e eles
participam do Núcleo de Estudo e Pesquisa da Educação Integral da Federal do Estado do Rio
de Janeiro, com o grupo da professora Lígia, que é nossa colega de outra instituição, a gente
tem uma meia parceria com eles também, mas a integração das disciplinas acadêmicas do
curso de graduação de pedagogia, para os alunos ela acontece de uma forma muito natural no
projeto, porque você para pensar a matemática precisa de utilizar a história, a sociologia, a
psicologia, e uma coisa que eu faço de propósito também... Como os alunos estão dentro da
escola, eu procuro trazer o estágio acadêmico que eles têm que fazer do curso de pedagogia
para o próprio campo de trabalho da pesquisa e da extensão. Então, se eles tem que fazer
estágio em Educação Infantil, eles fazem dentro da própria escola, e isso acaba gerando um
processo assim de articulação, porque eles estão fazendo uma disciplina acadêmica orientados
para a graduação, com as questões que eles desenvolvem nas escolas com a pesquisa. Teve
um de meus alunos que formou no final do ano, Lucas, que hoje é professor da rede em
118
Barbacena, passou em um concurso lá, e ele foi o que fez isso de forma mais brilhante em
todo o tempo que eu tenho de Universidade, ele utilizou muito da escola, no final ele já era
colaborador da escola nos processos pedagógicos, e aprendeu muito com isso, e fazia
parcerias com as professoras na escola, pensando a prática pedagógica, desenvolvendo a
prática pedagógica, e fazia uma demanda grande para os professores daqui pensarem e
modificarem essa lógica de estágio, em função disso também. Porque aí, ele falava assim “a
gente pode fazer melhor do que isso, a gente pode fazer diferente”, aí ele começou a fazer
demandas para cá também em termos da formação.
Entrevistador: Essa relação com os parceiros já suscitou em algum momento a
realização de alguma nova pesquisa?
Entrevistada: Acaba que essa que a gente está estudando, que é a Educação Integral em Foco,
é uma pesquisa também, porque é uma avaliação do programa, ela vem do outro que a gente
estava desenvolvendo, e aí a gente pensou: vamos sentar e avaliar o programa. Na verdade,
um projeto de pesquisa que a gente faz hoje, que é o (cita nome do projeto), também é
derivado dessas parcerias, a gente foi pensando com que os usos desses tempos são feitos na
escola, porque não adianta você só aumentar o tempo, você tem que dar uma qualidade a esse
tempo, então como que esse tempo é utilizado? Como que ele é pensado nas escolas? Em
geral, não só com alunos de Educação em Tempo Integral, então uma pesquisa vai derivando
outra. A gente já gerou dissertações, já gerou teses... nesses temas todos que a gente
trabalha.... A gente tem dois mestrandos e um doutorando trabalhando essas temáticas, então
vai gerando, não tem como, você vai estudando, aquilo vai te dando ideias, o que que a gente
pode pensar disso? Vai gerando projetos para eles e para a pesquisa do grupo também.
Entrevistador: Agora, já no financiamento, como e por quem as ações em parceria são
financiadas?
Entrevistada: Olha, como eu sempre faço a pesquisa envolvendo pesquisa e extensão, eu
sempre tenho financiamento do CNPq e da FAPEMIG, então na realidade o que sustenta os
nossos projetos são esses financiamentos das agências mesmo de fomento. Porque aí eu tenho
as bolsas de pesquisa, mas eu também tenho o edital Universal da FAPEMIG, o edital
Universal-CNPq, para computador, tinta, papel, essas coisas. Quando envolve a Secretaria de
Educação, se se precisa assim de.... igual quando a gente fez os Cadernos do Professor lá da
119
(instituição parceira), a (instituição parceira) que bancou o material, porque era um
documento que estava sendo feito pela própria (instituição parceira), mas normalmente o
financiamento das verbas é pelos editais de pesquisa que eu me inscrevo e a gente sempre
consegue. Aí não tem problemas assim... claro que em educação a gente gasta é papel e tinta,
cd, a gente tem filmadora, tem máquina fotográfica, tudo comprado com verba do próprio
projeto.
Entrevistador: No desenvolvimento, quais as dificuldades de operacionalização do
projeto? Verificam-se entraves?
Entrevistada: Com certeza, assim, eu costumo dizer que sempre trabalhando com rede e com
escola as pessoas têm uma ideia, e isso deu até um texto que a gente produziu, que a
Universidade tem um “saber”, a Secretaria de Educação tem o “poder” e a Escola tem o
“fazer”. Então essa relação que existe quando você trabalha com parceiros de outras
instâncias é uma relação difícil de você administrar, porque sempre parece que a Universidade
está querendo impor um determinado saber, um determinado conhecimento. Mas no nosso
caso específico, isso é muito limitado porque lá é uma relação antiga que a gente tem, pelo
tempo que a gente tem de parceria com a rede, por eu ter vindo da rede como professora, por
ter uma relação de amizade com as pessoas da Secretaria de Educação, que foram as minhas
colegas de trabalho na rede como professora em escolas ou da própria rede municipal, então
isso miniminiza um pouco, porque a gente não é alguém que estudou, estudou, estudou, veio
da Universidade com um saber instalado e chegou lá na Secretaria para dizer o que eles têm
que fazer num programa deles. E também porque essas demandas, esses projetos juntos com a
(instituição parceira), vêm deles para mim, eles solicitaram o trabalho, então isso miniminiza
um pouco. Então a maior dificuldade, o entrave maior que a gente tem é essas parcerias, em
termos financeiros é a questão de verbas para os alunos no deslocamento, que a bolsa deveria
ser utilizada para isso, para o desenvolvimento da pesquisa, mas os nossos alunos na
graduação estão cada vez mais carentes, que vivem dessas bolsas, essas bolsas são para
custear o curso deles, para eles virem à aula, porque os pais são muito pobres e a situação
financeira fica muito difícil, então se a gente tivesse mais condições de dar a eles passagem
para ir para a escola. As vezes, na extensão, a gente está trabalhando com cinco escolas, com
um bolsista, aí eu ponho um da extensão numa escola, um da pesquisa em outra escola,
porque a gente não tem como pedir para um bolsista, com uma bolsa, ir em cinco escolas. Não
assim... “não tem temo hábil também”, mas uma dessas escolas é em Torreões, demora um
120
tempão... então é essa questão mesmo... nos nossos programas internos da Universidade as
pessoas têm essa ideia de “melhor atender vários professores com uma bolsa para cada um” e
aí a gente as vezes vai tentar, justifica: “são cinco escolas envolvidas, é necessário... o
trabalho não é...”. Mas aí atualmente estou focando o trabalho numa escola, porque você
desiste, você fala assim: “gente, não é possível!”, você tem que ficar garimpando, implorando
à Universidade para entender que você está trabalhando com um programa onde os alunos vão
em cinco escolas, em locais diferentes, e que você precisa de gente para estar nas cinco
escolas. Não adiantar ir um bolsista cada dia em uma escola diferente porque isso não vai
fazer o mesmo sentido, mas você explica, você justifica, mas nessa ideia de atender o maior
número de professores, eles não avaliam a qualidade disso. Mas a gente faz com o que a gente
tem, a gente se divide, pega um bolsista da extensão, do treinamento... Eu para ser sincera eu
falei que esse ano estou cansada disso, vou ficar com bolsa só de pesquisa não entrei com o
projeto na Extensão. Esse projeto novo não tem perna na extensão, mas ele é uma extensão
também, mas eu não entrei com o projeto na Extensão, não entrei com ele na monitoria, não
entrei em nada, só estou com o bolsista de pesquisa, porque eu estou cansada de ficar fazendo
essas demandas, implorando à Universidade para entender uma coisa que para mim é óbvia.
Eu estava foram também fazendo o pós-doutorado, eu retornei ao país porque meu enteado
faleceu em um acidente.
Entrevistador: No desenvolvimento, houve em algum momento a necessidade de
replanejar?
Entrevistada: Isso sim, o tempo inteiro, a gente refaz o projeto o tempo todo, mas como a
gente já tem uma experiência grande com pesquisa e envolvimento com escola... mas assim,
os nossos projetos sempre implicam uma ação de planejamento junta com a própria equipe
toda parceira do projeto, são reuniões semanais, a gente mantem até hoje todo quinta-feira,
agora está de quinze em quinze dias porque a gente está fechando o texto final dessa avaliação
no Tempo Integral, então o pessoal está só apresentando o que produziu. Mas do ano de 2006
até o ano passado, toda a quinta-feira, de duas às quatro da tarde estávamos todos reunidos,
pensando no que foi feito, no que a gente ia fazer, todas as ações para fazer, desenvolver, uma
ação contínua de avaliação e planejamento também, normalmente semanalmente.
Entrevistador: Nesse processo de avaliação, há participação do pessoal da Universidade
quanto dos parceiros?
121
Entrevistada: Essas reuniões de quinta-feira era da Secretaria de Educação, da Universidade e
das Escolas, as diretoras, as coordenadoras, as vezes alguma professora que tinha
disponibilidade de vir também, e vinha, era aberto para elas, o pessoal técnico da Secretaria
de Educação, todo mundo da Universidade, alunos, os alunos e eu no caso, todos nós juntos,
nos conversávamos juntos, umas vinte pessoas planejando toda semana.
Entrevistador: Professora, você tem intenção de realizar novos projetos em conjunto,
desse tipo?
Entrevistada: Eu estou realizando um novo projeto com a Secretaria de Educação e com as
escolas, só que eu não oficializei convênio, eu não oficializei nada na Extensão dessa vez,
nesse ano eu não fiz isso, então eu ia estar fora de qualquer forma esse ano... mas os prazos
também não dariam, quando eu resolvi voltar também não daria, aí se você for falar na
Universidade assim “olha, eu estava fora, eu não ia ficar aqui, mas eu estou desenvolvendo
um projeto...”, “ah, mas você está fora de todos os prazos...”, então eu não vou tentar isso esse
ano não, quem sabe no ano que vem...
ENTREVISTA 7
Entrevistador: Primeira coisa, a gente gostaria de saber como que surgiu essa parceria?
E qual objetivo esse projeto pretende alcançar?
Entrevistada: Bem, como eu acabei de falar com você, eu tenho vários projetos de extensão, o
primeiro que eu iniciei foi a Clínica de Adolescentes, que sempre me preocupou sob o aspecto
do adolescente, que fica marginalizado quanto ao atendimento, que ele faz o odontopediatra e
depois ele não tem o atendimento específico para adolescentes, que dizer, fica só em um
tratamento dentário para adulto, e ele fica em uma faixa etária sem um atendimento
específico. Minha preocupação de começar o projeto de extensão, há doze anos atrás, esse foi
o primeiro projeto que eu lancei na Faculdade de Odontologia e com essa preocupação de ter
um profissional específico da área para adolescentes. Depois surgiu minha outra preocupação,
que foi com os idosos, os idosos também é uma faixa etária que passa até a terceira idade, ou
idade melhor, também é uma faixa etária difícil de atendimento, porque tem toda uma
problemática envolvida com o idoso, preocupação com relação a doenças, são pacientes que
122
existe um grande número de perdas dentárias, e uma série de doenças provocas pela saúde
bucal deficiente que eles têm, então é também realmente uma faixa etária que eu preocupei
bastante de pensar em projetos de extensão para atender os idosos. E outra preocupação, que é
projeto de extensão que é o Programa Preventiva e Educativa para Gestantes, também é uma
faixa etária que na maioria também ninguém atende especificamente, é uma faixa etária que a
gente também preocupa de dar o atendimento à gestante, para evitar que haja problemas com
a gestante e problemas futuros com o bebê, que está relacionado com a gestação e com o
problema bucal. E a gente não poderia deixar também de falar de crianças, que é um outro
projeto de extensão junto ao (parceiro externo), do Instituto Maria do Dom Orione, e a gente
fica também preocupado com o grande número de processos cariosos que existem nessas
crianças em semi-internato, então são os quatro projetos que a gente procura abranger, e o
público-alvo são crianças, idosos, gestantes ao redor do Campus, que era um dos maiores
objetivos, mas também a gente dá atendimento ao (parceiro externo), ao Abrigo Santa Helena,
às gestantes da Saúde da Mulher da UBS de São Pedro.
Entrevistador: Quais as metas a serem alcançadas? Há algum outro documento que
descreva essas metas? Tipo um convênio, termo de cooperação...
Entrevistada: Não, convênio mesmo a gente não tem, convênio não, é mesmo uma parceria
com a Universidade, que a gente tem que... como sempre, a doze anos atrás eu já estava
preocupada com a Universidade, no tripé de ter ensino, pesquisa e extensão, então pesquisa, já
gosto de fazer muita pesquisa, fiz mestrado e doutorado. E a muitos anos atrás fiz muitas
pesquisas, já estava preocupada em ter um melhor atendimento dentro da odontologia, e
mostrar para o aluno desenvolver habilidades e senso crítico de trabalhar com essas pacientes
carentes.
Entrevistador: Já falando de características acadêmicas, você acredita que há realmente
essa articulação entre ensino, pesquisa e extensão? Como que ela se verifica nesses seus
trabalhos?
Entrevistada: Olha, com certeza, porque além de estar atuando nesses locais de atendimento
que a gente faz nesses abrigos, nesses locais de atendimento fora a Universidade, que a gente
faz a orientação de saúde bucal, de saúde geral do organismo do paciente, a gente está
ensinando esse aluno a ter conta com esse tipo de população e saber lidar com eles, e fazer
123
com que haja um treinamento dos acadêmicos na prática da odontologia social, isso em
termos de atenção primária na saúde bucal, e não só no atendimento curativo, mas também no
atendimento preventivo e restaurador.
Entrevistador: Já falando sobre a atuação dos discentes, quais as possibilidades
formativas desses alunos? Como que eles participam?
Entrevistada: Olha, eles participam através de orientações de evidenciação de placa, de
orientações mesmo verbal, de explicações para as crianças, para os adolescentes, que além do
tratamento restaurador bucal, como nas orientações sexuais, com relação a drogas... e de todos
aqueles “distúrbios” provocados durante a adolescência. E os idosos também, com todos
aqueles problemas de doenças gerais de saúde, então o aluno procura evidenciar esses
problemas e atuar junto a esses problemas, dando palestras, estudando fazendo pesquisa a
respeito do assunto, levantamento bibliográfico a respeito do assunto, e, por fim, fazer o
tratamento reabilitador, levando à saúde geral do paciente.
Entrevistador: O projeto planeja ações de cunho interdisciplinar?
Entrevistada: Isso é fundamental para mim, porque eu sou uma pessoal que não consegue
trabalhar diretamente só numa área, eu gosto da odontologia de uma maneira geral, então tudo
que eu pego para fazer é relacionado com outras áreas, com outras disciplinas, isso para
mim... tudo que eu programo é ação multidisciplinar, a gente não consegue trabalhar sozinho,
a gente tem que trabalhar em equipe, e como os nossos trabalhos são feitos não somente de
prevenção, de aplicação de flúor ou de identificação de placa, então a gente faz um tratamento
reabilitador geral do paciente, a gente precisa de outras disciplinas que atuem com a gente.
Entrevistador: Ao longo do projeto, já houve algum momento que as situações
suscitaram novas pesquisas? Ou, senão, suscitaram novas ações, viram que precisava
planejar algo diferente...
Entrevistada: Isso acontece a todo momento, a cada período a gente está se inovando, sempre
surgindo questões diferentes, tanto é que, por exemplo, o adolescente e idoso, que eu vi que
era uma área que estava precisando de mais da nossa ajuda, e isso me levou a criar duas
disciplinas dentro do curso de odontologia, que estão hoje como disciplinas opcionais, que vai
124
se tornar, a partir do ano que vem, como disciplina obrigatória, que é a Odontoebiatria, que
trata de adolescentes, que Ebi, na etimologia da palavra, quer dizer Deusa da Eternidade,
então Odontoebiatria, que trata dos adolescentes, e a Odontogeriatria. Então são duas
disciplinas que eu criei, oriundas desses projetos, porque dentro dos projetos me motivaram a
criar essas disciplinas, então eu acho que é um avanço importante, porque isso permite fazer
com que os alunos tenham um bom relacionamento profissional-paciente, ele conhecendo
esses adolescentes, esses idosos, tendo um bom relacionamento entre eles, eu acho que torna o
cirurgião-dentista diferenciado no mercado de trabalho.
Entrevistador: Inclusive, minha próxima pergunta seria a respeito disso, sobre possíveis
mudanças curriculares ou de foco dos conteúdos ministrados nas disciplinas, então no
caso já ocorreu aí...
Entrevistada: Já ocorreu, com a criação dessa disciplina, não só na graduação, mas também eu
dou aula no mestrado e também essas duas disciplinas fazem parte da grade do mestrado, e
isso surgiu a partir do projeto de extensão.
Entrevistador: A respeito do financiamento, como e por quem as ações em parceria são
financiadas?
Entrevistada: Pois é, porque, olha só, lá no (parceiro externo), ele é mantido por uma
entidade, que eu não sei te dizer especificamente, eu acho que é CAPM ou esse Centro
Espírita aqui da Dona Isabel, eu acho que também eles têm ajuda... e o abrigo Santa Helena é
uma instituição pública, eu não sei te dizer especificamente, não posso entrar no que
especificamente no que mantem aquele abrigo, há ajuda para ativar aquele consultório, que
estava desativado, a gente conseguiu e os alunos vão lá no abrigo Santa Helena e aí, nesses
casos, como são pacientes realmente muito problemáticos, a gente sempre faz uma ação
pequena no abrigo, bem pequena porque ninguém pode fazer alguma coisa muito grande, e
quando é uma coisa mais extensa a gente leva para a Faculdade de Odontologia, e a gente tem
uma clínica específica de atendimento dos idosos. Então como a gente está fazendo um
trabalho pela Universidade, com a Faculdade de Odontologia, a Universidade nos ajuda a
manter toda a clínica, com o material da Faculdade de Odontologia, e quando a gente pode às
vezes capturar algum tipo de material para levar para o (parceiro externo), ou para o Abrigo
Santa Helena, alguns materiais a gente consegue para poder dar atendimento a essa
125
população.
Entrevistador: A respeito do desenvolvimento dessas atividades, quais as dificuldades de
operacionalização do projeto? Verifica-se algum tipo de entreve?
Entrevistada: O problema que a gente tem observado mais agora é que a grade curricular dos
bolsistas, dos alunos que trabalham está ficando muito comprometida, quer dizer: como são
doze horas semanais de projeto, as vezes o aluno fica oito horas nas instituições ou dentro da
Faculdade, mas também tem uma carga horária que eles fazem levantamento bibliográfico,
estudo de caso, estudam, fazem pesquisas, isso tudo dentro dessa carga horária, tanto é que a
gente está publicando, já publiquei alguns artigos provenientes de pesquisas dentro desses
projetos. Agora muito do que a gente está escrevendo, que é um assunto bastante atual, mas
que já me preocupa há alguns anos, é sobre o bulling com a odontologia, a gente está fazendo
uma pesquisa em colégios públicos e em colégios particulares, porque muitos problemas
bucais, as crianças que são acometidas sofrem bulling, porque é chamado de dentuço, boca
fedorenta, boca de cárie, eles sofrem agressões diante desses problemas bucais, então a gente
está pensando através dessas informações dento-faciais restabelecer a função e a estética
desses pacientes, para eles se livrarem desse bulling.
Entrevistador: No decorrer dos projetos, estavam previstas avaliações a respeito das
atividades que vinham sendo desenvolvidas?
Entrevistada: Avaliações a gente faz todo período, porque ao final de cada mês eu exijo um
relatório de todas as atividades que são feitas com esses pacientes, então os alunos
obrigatoriamente para receber a bolsa e ganhar frequência, eles me entregam todo mês um
relatório de todas as atividades que são executadas, e ao final do período a gente faz esse
levantamento de todo esse relatório, e faz um relatório final para poder mandar para Proex,
que pedi isso para a gente, e isso gera apresentação em congresso, em novembro agora a gente
vai a Porto Alegre apresentar alguns casos que a gente fez.
Entrevistador: Nos processos de avaliação, há participação também da comunidade ou
das instituições em que o projeto está instalado? Como funciona a avaliação de
atividades...
126
Entrevistada: Olha, avaliação a gente vê assim pelo resultado satisfatório com que a gente as
vezes é recebido, com os problemas que você resolve, com a participação dos pacientes então
essa é a avaliação que a gente faz, tanto é que a gente tem continuidade nesses locais, pelo
fato de estar fazendo um bom trabalho, lógico que alguns problemas existem, existem! Mas a
gente continua já a esses anos todos fazendo esse trabalho por ele ser bem feito, né.
Entrevistador: Vocês têm intenção de realizar novos projetos conjuntos, desse tipo?
Entrevistada: No momento não porque eu acho que já tem até quatro projetos e é muita coisa,
eu procuro manter esses projetos... e não sei, de repente aparece uma ideia de melhorar o de
fazer uma outra coisa relacionada, no momento estou tentando ficar com esses quatro
projetos.
ENTREVISTA 8
Entrevistador: Qual objetivo projeto pretende alcança? Explica um pouco para a
respeito desse projeto?
Entrevistado: Então, o projeto é uma forma de assistência, no sentido de assistência técnica a
prefeituras no entorno de Juiz de Fora, na implantação de fitoterapia no serviço público,
naquelas localidades. Então a gente oferece esse serviço, que é o serviço de assistência
técnica, e fica à disposição das prefeituras, a gente apresenta esse projeto para as prefeituras, o
esboço dele, a gente tem ele resumido, a gente envia. Agora, sempre passa por um contato
pessoal de um aluno, de um médico ou de algum enfermeiro, de alguém conhecido que vai
fazer a interface, o intercâmbio, sempre passa por isso, são cidades do entorno que são
trabalhadas. Eu já tenho trabalhos em Rio Preto, em Lima Duarte já fui e não terminou, em
Matias Barbosa já fui e ainda não terminou, Bicas, Tabuleiro, São João Nepomuceno, agora
estou para ir em Vieiras, e já fui em Muriaé. Então são essas cidades do entorno que têm essa
abertura, com interesse de implantação da fitoterapia, mas o detalhe é que é a fitoterapia no
SUS. Passa por você utilizar o sistema formal de saúde, é diferente de outros projetos de
extensão. Por exemplo, em Viçosa tem um projeto de extensão que forma pessoas na
sociedade, e aglutina essas pessoas para ter um trabalho de fitoterapia, mas não só fitoterapia,
como a homeopatia, mas de uma maneira independente do sistema forma. O meu não, o meu
trabalho junto com o sistema formal.
127
Entrevistador: resumidamente, haveria uma fixação de metas, quais metas a serem
alcançadas? Essas mestas estão descritas em algum documento, algum convênio, termo
de cooperação?
Entrevistado: o convenio que a gente faz, formalizado, a gente utiliza o formulário de
convênio da Pró-Reitoria de Extensão, então tem um modelo, eu passo esse modelo para as
prefeituras, sempre tem que se esperar um tempo para o setor jurídico das prefeituras dar uma
analisada, para ver se está tudo certo, mas a discriminação dos detalhes do projeto vai
anexado no projeto especificamente, mas o formulário de convênio é o estabelecido pela PróReitoria de Extensão.
Entrevistador: a respeito de metas, há alguma meta prefixada...
Entrevistado: o projeto em si, que é um programa também, ele visa três fases de implantação.
Fase 1: levantamento etnico-farmacológico, tanto quantitativo quanto qualitativo; fase 2, é a
escolha das plantas, cultivo dessas plantas, cursos, a gente dá cursos também para médicos,
para enfermeiros, para a população, para técnicos, tudo com enfoque diferenciado para cada
um deles, tem parte teórica e parte prática, tudo de graça, a gente não cobra nada, mas no
formulário, quando a gente leva para eles o resumo do projeto, a gente leva também as
demandas, então eles pagam a nossa passagem e alimentação. Até hoje nós não tivemos uma
cidade tão longe que a gente tivesse que dormir no local, mas se tiver que dormir eles vão
pagar, agora é só isso também que a gente cobra. Eu já tenho bolsa de extensão, eu já tenho 13
bolsas, 13 ou 14, não lembro mais, da pró-reitoria de Extensão que eu divido com meus
alunos, tem alunos dos cursos de biologia, farmácia, odonto, enfermagem e medicina, isso
varia um pouco, de ano para ano, de semestre para semestre, e tal. Mas as metas são essas:
primeiro deixa claro que a gente vai fazer um levantamento etnico-farmacológico, é um
resgate que a gente faz da cultura do local, faz um diagnóstico, mostra isso para eles, para
dizer para eles o seguinte: não da para a gente chegar e ir impondo plantas medicinais, a gente
resgata isso da própria comunidade, e esse é um diferencial que a gente tem, tem outros
diferenciais, mas o tempo previsto é curto, senão eu ficava falando aqui duas horas...
Entrevistador: a respeito de características acadêmicas, você acha que nesse tipo de
trabalho existe uma articulação entre ensino, pesquisa e extensão?
128
Entrevistado: com certeza, no caso deste projeto que eu fiz, desse programa-projeto, eu nunca
sei como falar, porque ele é as duas coisas, na parte de pesquisa porque a gente faz
levantamento, levanta dados de uma comunidade, fazendo pesquisa de uma comunidade, faz
estatística com esses dados, depois a gente pega as plantas que eles apontaram, as mais
usadas, a finalidade de uso, e a gente faz uma identificação botânica dessas plantas, a gente
coleta amostras das plantas deles, traz para o herbário e identifica. Depois disso a gente faz
uma validação científica dessas plantas, com base do que já tem na comunidade científica, a
gente passa a usar o nome científico. Pega o apelido que eles dão, bota o nome científico,
porque a gente pego amostra da planta, e aí a gente então entrou no mundo acadêmico. A
pesquisa aí, nesse caso, tem outras formas de pesquisa... essas são assim, as principais são:
pesquisa na comunidade para diagnóstico, e a pesquisa no sentido de validação científica das
plantas a serem indicadas. Num segundo momento, então, a gente reúne com os profissionais
de saúde daquela comunidade e vai ver junto com eles quais daquelas plantas indicadas pela
população que eles vão aceitas que elas sejam utilizadas no programa formal de saúdo do
município, porque a gente já tem um escrutínio de validação daquela lista de plantas
elencadas pela própria população, a gente faz um rank das mais citadas, e aí a gente faz uma
validação científica delas, isso como pesquisa. No ensino, a gente trabalha coma alunos de
todas essas áreas, principalmente eu tenho como meu associado, colaborador, o professor
Kiko da Medicina, que trabalha com atenção básica, professora (professor orientador), já tive
professora da farmácia, depende do semestre, quando tem mais disponibilidade de
professores. E todo esse material de ensino que a gente fala é a participação dos alunos, eles
me ajudam na formulação dos cursos, preparo dos cursos, na parte teórica e na parte prática,
eles dão uma parte desses cursos, eu vou junto e eles dão o curso, em termos de ensino que eu
lembre assim rapidamente é isso. E extensão é o caso então que a gente leva para a
comunidade o que ela já tinha, só que não tinha agregado e organizado, a gente organiza os
dados da própria comunidade e leva de volta para ela e faz palestras em cima dos
levantamentos que foram feitos. Muita gente passa a se conhecer como amigos e interessados
em plantas medicinais, e isso fomenta a agregação da própria comunidade, a gente então está
deixando de ser paternalista e assistencialista e entregando para eles uma ferramenta que é
deles, então nesse aspecto de extensão a gente faz um trabalho extensionista, não só
assistencialista, afim de fomentar a própria organização social, não é só pelo discurso mas
isso acontece na prática. Eles passam a se identificar, principalmente a população, uma pessoa
não conhecia a outra, aí as duas têm interesse em plantas medicinais, entendeu? E em termos
também de extensão, a gente também está dando cursos, e aí tem médico lá na cidade que não
129
sabe nada de fitoterapia, aí ele vai passar a aprender, ele vai saber mais sobre fitoterapia, e a
gente entrega CD com revisão de literatura, tudo isso, a gente forma eles na área de
fitoterapia, cursos rápidos focalizando só naquelas plantas selecionadas naquela comunidade,
é bem objetivo o negócio. E a parte de prescrição a gente só fala com o médico, para ele
manter o sistema formal funcionando da forma que ele é, porque o prescritor é o médico,
odontólogo e, em alguns casos, o enfermeiro, e em outros casos o nutricionista.
Entrevistador: falando de formação, quais a possibilidades formativas desse projeto, no
caso, para os discentes? De que forma eles participam?
Entrevistado: a maioria dos alunos que saem do projeto, por que esse já está durando desde
2003, então muita gente já saiu, e normalmente quem sai, sai falando isso para mim: a
formação que tem nesse projeto, é uma formação... pelo menos o pessoal da medicina, sai
com uma cancha em fitoterapia muito grande, então no mínimo a cada 15 dias a gente tem
reunião para ver como estão andando os trabalhos, existem várias equipes, existem várias
frentes de trabalho, cada cidade a gente tem um estágio de desenvolvimento, uma já está lá na
parte de escolha de plantas, uma está na parte de levantamento ainda, sabe?Então a equipe se
encontra, e eu faço questão que a equipe se encontre toda, porque é sempre muito interessante
a discussão, porque você tem a visão do Biólogo, do Farmacêutico, do Odontólogo, do
Médico, em formação, são os alunos! Mas rola essa integração e é interessante que a gente
sempre percebe que cada um está dando um choque dentro de sua própria área...
Entrevistador: Isso já tem a ver com uma pergunta que eu viria fazer depois que é a
respeito da interdisciplinaridade....
Entrevistado: Sim, e lá no caso das discussões dos postos de saúde, a gente faz uma discussão
que a gente engloba todos os profissionais, então já é interdisciplinar lá, quando a gente dá
curso para a comunidade, é interdisciplinar. O enfoque mais técnico para médico, mais
abrangente para a população, isso muda um pouco, mas não deixa de ser interdisciplinar,
porque o próprio tema plantas medicinais é interdisciplinar, ele passa pela coleta de plantas,
pelo cultivo, que é agronomia, passa pela manipulação dessa planta, que é farmácia, passa
pela prescrição que é medicina, odonto, e todo esse desenvolvimento a gente faz com PSF
(Programa de Saúde da Família), então você está sempre envolvendo assistência social e
enfermagem, que fazem parte da equipe do Programa de Saúde da Família. Ainda na questão
130
de formação discente, além dessas reuniões periódicas que têm, os alunos me auxiliam na
montagem dos cursos específicos para cada planta e nas revisões na questão da validação
científica, então eles aprendem muito mais. E, além disso, a gente faz resumo para congresso,
manda tudo para congresso, eles participam dos congressos, vão nos congressos, ano passado
eu paguei 12 alunos com o programa do Pro-este, convênio com o Pro-este, eu paguei 12
alunos para irem em João Pessoa, eles foram para o congresso, e aí essa coisa de congresso,
montagem de painel, para fazer resumo, as vezes é resumo expandido, aí já fica quase um
artigo científico, já teve trabalho então que está sendo enviado para revista como artigo
científico, estão aprendendo mais sobre isso também, eles saem daqui com uma formação
científica boa.
Entrevistador: Essa relação de parceria já suscitou, em algum momento, a realização de
alguma nova pesquisa?
Entrevistado: Sim, então, por exemplo, tem uma planta que em várias dessas comunidades ela
foi citada para a utilização popular e quando a gente foi avaliar para fazer a validação
científica, essa planta não tinha citação científica, então o que a gente pode fazer? Um é
abandonar a planta, porque a planta não tem validação científica, e outro é entender que não
tem ainda, mas você pode fazer, então tem alunos meus trabalhando com várias plantas
provenientes desses levantamentos, por relatos populares de que funciona e tal a gente vai
fazer a validação farmacológica, vai não, tá fazendo... Só um detalhe: eu não viso patente, o
que que a gente visa? A gente visa avaliar e validar essas plantas, mas voltar essa informação
para a população, porque tem gente que faz biopirataria, pega essa informação e vai patentear,
eu não trabalho com patente.
Entrevistador: A execução do projeto provocou ou pode provocar alguma mudança
curricular ou de foco nos conteúdos ministrados nos cursos envolvidos?
Entrevistado: Então, na minha disciplina, é uma disciplina optativa, plantas tóxicas e
medicinais, é oferecida para toda a área de saúde, e esse disciplina minha, mais da metade da
disciplina eu abordo questões que eu acumulei de experiência desse projeto desde 2003.
Apresento como são as experiências nas populações, tudo isso a gente faz, por exemplo, só
essa disciplina que é optativa, mas tem botânica econômica, que é obrigatória para Ciências
Biológicas, que eu procuro abordar, pois tem o tema de plantas medicinais, mas que eu saiba é
131
só na minha. O (professor da Ufjf) está começando agora em Atenção Básica, ele pode inserir
isso na disciplina dele, no curso de medicina.
Entrevistador: A respeito do financiamento, como e por quem as ações em parceria são
financiadas? Como isso acontece?
Entrevistado: Então é o que eu te falei lá no começo, as bolsas são pagas pela Pró-Reitoria de
Extensão e os gastos de locomoção, alimentação e viagens para as cidades é pago pelas
prefeituras, só que a estadia até hoje não teve. A gente está sempre indo em cidades próximas,
já teve vez de eu levar os meus alunos no meu carro, aí a prefeitura paga a gasolina, agora eu
não faço isso mais não, agora só deixo ir se a prefeitura pagar o ônibus para os alunos ou se
pagar um carro, pegar um carro da prefeitura e vir buscar os alunos.
Entrevistador: no desenvolvimento, quais as dificuldades de operacionalização do
projeto? Verificam-se entreves?
Entrevistado: sim, uma coisa que acontece desde 2003, a gente sabe que está sendo
manipulado por muitas prefeituras, não posso falar quais para você, mas assim em muitos
casos o interesse do prefeito é dizer que está tendo um convênio com a Universidade, já me
levaram para um conselho municipal de saúde e eu fiquei lá igual um... o vereador falava que
tem convênio coma Universidade e apontava para mim, o prefeito fazia discurso e eu estou
lá... aí no final me deram 3 minutos para falar, aí 3 minutos, 4 minutos, o que você vai falar?
O pessoal querendo ir embora, a noite, tarde, num ginásio com luz fraca... assim, eu sei que
tem manipulação da parte deles, mas o que que eu levo disso aqui, no mínimo, eu falo isso
muito com os alunos, aqui vocês estão aprendendo, estão relacionando com as comunidades,
as comunidades estão tendo chance de agregação, a gente faz os cursos, faz os encontros...
isso no mínimo está acontecendo, a gente chega lá dá os cursos para os médicos, para todos os
profissionais, e aí então eles aprendem um pouco mais de fitoterapia, perdem o medo, o
preconceito, então isso a gente faz, fica meio assistencialista quando a gente pensa assim.
Mas, por exemplo, até hoje a gente não terminou nenhum projeto, nenhum projeto está com a
fitoterapia em andamento, mas, de qualquer forma, a gente já fez todo um envolvimento,
várias pessoas ficaram sabem sobre fitoterapia, mas realmente terminar não terminou porque
muitas vezes a prefeitura troca a equipe do PSF, despede o médico que está engajado com a
gente e coloca outro no lugar por questão política. Teve eleição, por exemplo, e teve prefeito
132
que saiu do mandato, estava trabalhando com a gente, as vezes o secretário de saúde perde a
oportunidade daquele Plano Pluri-Anual, e aí ele perde aquele prazo e a gente tende o trabalho
de esperar... então é muita luta que a gente tem, os entreves principais são esses. Trabalhar no
sistema formal leva a gente a vulnerabilidade de você trabalhar misturado com a política, mas
isso faz parte do aprendizado dos alunos, eles vão aprender a lidar com a política.
Entrevistador: Estavam previstas avaliações com o desenvolvimento do projeto? Quais
os processos de avaliação? Essas avaliações aconteceram? E também a questão do
replanejamento, houve a necessidade de replanejar as ações de vocês conforme acontecia
o projeto?
Entrevistado: Com certeza, e ainda continua, o tempo todo a gente passa por isso, porque cada
prefeitura tem diversidades. A forma com que a gente chegou na prefeitura, por exemplo, em
(instituição parceira) a gente chegou agora porque uma menina que faz medicina aqui é filha
do prefeito, aí a gente entrou, eu estava tentando a um tempão com o secretário de saúde e não
conseguia, aí a filha do prefeito veio trabalhar com a gente e projeto andou, então assim, você
depende da cidade, cada uma vai ter uma característica, tem um projeto básico, mas eu já
aprendi assim que cada... até mesmo na mesma cidade, cada polo do PSF tem característica
diferentes: zona rural tem diferença para a zona urbana, o médico que é responsável por
determinado polo do PSF, se ele for muito velho ele apoia a fitoterapia, se ele for novo ele não
apoia, então o preconceito vai estar envolvido com a idade do médico, então tem muita coisa
que varia, então a gente reformula o tempo todo o projeto, por isso essas reuniões quinzenais,
são para isso, a gente vai refazendo a atividade.
Entrevistador: Essas reuniões quinzenais seriam tipo que momentos de avaliação...
Entrevistado: De avaliação, de relatos também, “como é que está o andamento da cidade de
Rio Preto”, então a equipe fala como está, quais os relatos que tem e tal. Além de cidades a
gente tem também, por exemplo, o bairro Dom Bosco aqui, o pessoal da ABAN, uma ong que
tem um trabalho já antigo no Dom Bosco e chamaram a gente para auxiliar no processo de
montagem de uma horta medicinal lá, que era demanda da comunidade, então a gente entra,
entendeu?, a gente está aberto para esse tipo de parcerias.
Entrevistador: O senhor tem intenção de realizar novos projetos conjuntos desse tipo?
133
Entrevistado: uai, se tiver, se me convidarem...
ENTREVISTA 9
Entrevistador: levando em conta a parceria, qual a objetivo o projeto pretende
alcançar?
Entrevistado: Bom, na verdade eu coordeno um programa de extensão, que é mais do que um
projeto, pois envolve projetos. E esse programa, ele trabalha com os municípios,
particularmente com os municípios aqui da região da Zona da Mata, polarizados por Juiz de
Fora, no sentido de atender a determinadas demandas que a gente sabe e percebe que as
prefeituras têm, então na questão do planejamento urbano, na questão das políticas públicas
mais ligadas ao planejamento, na questão da partitura, da paisagem também, então falta para
eles capacidade técnica mesmo para resolver algumas questões, falta condição mesmo de
pessoal com formação, então tem esse lado de atender às demandas ligadas a essa área, no
sentido de apoiar as prefeituras com esse conhecimento que a gente discute aqui na
Universidade. O sentido é de melhorar, requalificar, né, o ambiente das cidades, qualificar as
cidades sustentáveis sob vários aspectos que a gente aí coloca em termos de ocupações, tem
muita gente morando em áreas de risco. Há uma condição ainda, que a gente gostaria que não
se perdesse, de uma tradição de determinados conjuntos urbanos, que por um processo de
renovação acaba, acaba se perdendo, e a gente acaba perdendo parte de nossa cultura. No
caso, um pouco a cultura do edificado, do construído.
Entrevistador: Nesse sentido, quais as metas a serem alcançadas, elas estão descritas em
algum outro documento que não seja só o projeto? Há algum termo de convênio ou de
cooperação?
Entrevistado: bom, as metas a gente programa, tem as metas do programa como um todo, de
maneira global, que é atingir esses municípios e poder apoiar as políticas públicas
relacionadas a nossa área de atuação, ligado à Arquitetura, Urbanismo, ao Planejamento
Urbano. E nos convênios que a gente faz tem aquelas metas específicas, então, por exemplo,
no ano passado a gente pegou um projeto de um parque linear, Parque Monte Alegre, em
Matias Barbosa, mas para trás a gente apoiou a elaboração de planos diretores. E com cada
134
prefeitura a gente elaborou um convênio específico para atingir aquele determinado objetivo.
Então as metas, no caso, estariam dentro desses objetivos específicos.
Entrevistador: Nas características acadêmicas, você acha que existe uma articulação
entre ensino, pesquisa e extensão? Como que ela acontece, como que ela se verifica?
Entrevistado: Então, no caso, a gente tem conseguido realmente aliar ensino, pesquisa e
extensão no momento em que a gente chega até às comunidades, né, a gente faz reuniões com
pessoas da comunidade, com lideranças, enfim com representantes da administração, com
vereadores, a gente conversa com o prefeito, com os funcionários das prefeituras, então
realmente a Universidade amplia a sua condição de estar presente mesmo, muito além da sala
de aula, a partir do momento em que a gente vai para campo, desenvolvendo um trabalho de
campo ali ou apresentando resultados parciais em determinadas reuniões, ou em processos de
construção dos objetivos, a gente envolve a comunidade também, hoje com o Estatuto das
Cidades a participação é essencial, então em todo o processo em que a gente está atuando nos
municípios a comunidade ela é requisitada a participar.
Entrevistador: Quais as possibilidades formativas dos projetos para os discentes? De
que forma eles participam?
Entrevistado: Ah, então, os alunos, eu sempre falo isso, trata-se de uma capacitação, é uma
especialização na graduação. Que o aluno vai para campo, vê realidades diferentes, ele vê
coisas que ele só viu na teoria, ele vê também que a realidade é muito diferente da teoria, ele
vê dificuldades, desafios e ele até se motiva para poder se preparar mais. E a gente sente
também, num trabalho como esse, quando a gente chega e consegue mudar um pouco aquele
aspecto acomodado e monótono local. No mento que a Universidade está lá, executando
alguma tarefa não deixa de ser para a comunidade e para a gente, para os professores e alunos,
um pouco de “renovar o espírito”, a gente aprende também nessa troca, é uma mão dupla, a
gente passa para a comunidade, a comunidade passa também questões específicas dela. E o
aluno, com isso, ele realmente, ele acaba assim tendo uma formação diferenciada, aquele
aluno que só ficou na sala de aula, durante o curso e tal, ele vai ser um aluno que vai ter uma
visão e esse outro que foi para campo, que viveu realidades distintas, ele está mais preparado.
Então eu não tenho dúvidas disso.
135
Entrevistador: O projeto planeja ações de cunho interdisciplinar?
Entrevistado: Ele é totalmente interdisciplinar, o programa na verdade a gente trabalha... eu
tenho bolsista de todas as áreas, da comunicação, do turismo, da geografia, e a gente já
trabalha nisso, tem professores de outras áreas que também colaboram, pesquisadores
externos à Universidade ou formados aqui que já não estão mais com vínculo com a
Universidade. Esse alunos que a gente tem hoje, amanhã eles vão se formar e a intenção é que
eles continuem vinculados ao núcleo, na verdade ao Núcleo de Urbanismo MG, que
desenvolve essas atividades.
Entrevistador: Essa relação de parceria já levou, em algum momento do projeto, já
suscitou em algum momento a realização de alguma nova pesquisa?
Entrevistado: O que a gente vê nas comunidades acaba gerando, então, por exemplo, agora a
gente mandou uma proposta para a FAPEMIG no edital de pesquisa e extensão que a gente
vai trabalhar com Patrimônio Cultural, então a gente percebeu que nessa área de patrimônio,
quando a gente estava trabalhando com os Planos Diretores, que é um campo específico que
está muito pouco resolvido. A gente tem organizações aqui que se dizem não... que tem cunho
só social, mas elas não conseguem atingir plenamente os objetivos, então no tocante, por
exemplo, à questão do Patrimônio Cultural, a gente tem incrementado um pouco mais a
pesquisa por sentir que as comunidades têm uma demanda nesse sentido. Então a todo
momento, assim, nessa questão ambiental, por exemplo, então a gente está ampliando o leque
mesmo do que pensávamos inicialmente, em função do que é colocado pela s próprias
comunidades.
Entrevistador: A execução do projeto, ela provoca, provocou ou pode provocar alguma
mudança curricular ou de foco no conteúdo ministrado nos cursos envolvido?
Entrevistado: Eu acredito que sim, porque eu mesmo, nas minhas disciplinas, eu coloco muito
questões locais, questões regionais, e quando eu comecei a lecionar eu não tinha essa
realidade para apresentar. Então, na verdade, no início a gente tinha uma maneira de focar
determinadas disciplinas que hoje a gente tem essa experiência toda de aproximação com os
municípios da região, e não só daqui da região, a gente já foi para o norte de Minas, a gente já
também participou, coordenou projetos e operações do Projeto Rondom, então a gente foi até
136
para fora de Minas Gerais, e realmente isso acaba reverberando nos conteúdos das disciplinas,
não tem jeito.
Entrevistador: A respeito do financiamento, como e por quem essas ações em parceria
são financiadas?
Entrevistado: Então, de um lado editais, CNPq... os Planos Diretores foi através de edital do
CNPq, e de outro lado também, além dos editais dos órgãos de fomento: FAPEMIG, CNPq,
Ministério da Cultura, a gente tem também as Prefeituras, elas acabam entrando também,
então quando a gente desenvolve um projeto, na verdade é uma parceria que a gente
estabelece através de um convênio, em que a prefeitura ela vai participar com alguma coisa,
ou ela sede uma sala, com um computar para o bolsista, para quando ele for a campo ele ter
uma base de trabalho, até para ele apresentar para a comunidade o que ele está
desenvolvendo. O transporte, que é uma dificuldade, a prefeitura paga a passagem dos alunos.
Eventualmente até um pró-labore mesmo, dependo do tipo de atividade que a gente vai
desenvolver, em que a gente tem que, por exemplo, ter a participação de um consultor de um
determinado campo, então esse consultor é pago e esse é um ônus para a prefeitura. Então é
isso: a gente tem bolsas, que a gente consegue nesses editais, equipamentos que a gente
consegue adquirir também, com rubricas específicas desses editais. Outros que a gente não
consegue com os órgãos de financiamento a gente estabelece uma parceria com as prefeituras,
tem dado certo isso.
Entrevistador: No desenvolvimento, quais as dificuldades operacionais do projeto?
Verifica-se algum entreve?
Entrevistado: Sempre tem entreves, então a gente sabe que essas cidades são lugares de
disputa de poder, são lugares de contradições, tem o jogo que envolve essa disputa pelo poder,
e tem questões econômicas, então muitas vezes o que a gente tenta sempre trabalhar é que a
gente não está sendo contratado pela prefeitura. O programa de extensão e de pesquisa que a
gente desenvolve é um programa da Universidade, então quando a gente está no município, a
gente tem um crachá, que a gente mostra que a gente é da Universidade, e que trabalha para a
comunidade como um todo, independe de quem está a frente do poder naquele momento
administrando, por que sempre tem oposição e situação, então essa é uma das dificuldades
que a gente tem, então muitas vezes quem está lá na situação administrando não quer que
137
alguém do lado oposto fique sabendo ou tome parte daquele determinado projeto. Então a
gente tem reuniões comunitárias que dizem “oh, não pode chamar fulano ou sicrano”, então a
gente explica para o prefeito que o trabalho é da Universidade, não é da prefeitura, então a
gente consegue reverter isso. Fora as dificuldades que, como a gente tem envolvimento muito
intenso aqui na Universidade, então sair a campo é complicado, dependo, as vezes a gente tem
que dormir no município, então a gente tem que ficar lá, muitos finais de semana a gente
acaba perdendo com a família por causa disso, então tem dificuldades operacionais, tem
dificuldades dessa disputa pelo poder que ocorre nas cidades, e também de logística, né,
muitas vezes a gente consegue o apoio do órgão de fomento, mas ele não dá para a gente
poder comprar o equipamento que a gente precisa para aquele determinado trabalho. Ou as
vezes, a gente precisava de 5 bolsistas e só consegue uma bolsa, então tem sempre essas
dificuldades assim também de ordem de logística, fora essa do ir e vir que nos obriga a perder
final de semana. Sair da rotina é bom, mas ao mesmo tempo incomoda também.
Entrevistador: No decorrer do desenvolvimento, houve necessidade de replanejamento
das ações? Como isso tem sido feito?
Entrevistado: A todo momento, cada atividade que a gente desenvolve, a cada ida a campo, a
gente vai pesquisar alguma coisa e descobre outras que a gente não tinha pensado, então a
todo momento, na verdade assim, a gente tem o objetivo principal e objetivos específicos,
mas o próprio encaminhamento do trabalho vai gerando uma rotina específica, que a gente
tem que estar preparado para ser um pouco camaleão e mudar de acordo com a situação ali
necessária, então os Planos Diretores, por exemplo, a gente pensou uma coisa de inicio... E
uma coisa é essa também, quando você faz um projeto ou um programa, pensa alguma coisa
antes de trabalho iniciado, você imagina várias coisas, várias situações, então as vezes você
pensa numa sala para conversar com a comunidade que tem tamanho tal e chega lá é um
cubículo, então a gente está sempre adaptando à situação, mas é claro, o projeto tem um
objetivo, então no caso esse objetivo principal a gente vai alcançá-lo, agora o caminho para
chegar até ele é que exige algumas posturas aí mais flexíveis para poder dar conta de chegar
ao objetivo final. Se você se colocar dentro de uma camisa de força, não consegue chegar a
um objetivo final. Então trabalhar com cidade na dimensão que a gente trabalha, você vai
sempre que estar consideram que deverá estar alterando determinado caminho, determinado
projeto, em função do que a realidade apresenta para a gente.
Entrevistador: Estavam previstas avaliações, quais os processos de avaliação? Como têm
138
acontecido as avaliações que vocês têm feito.
Entrevistado: Então avaliação, primeiro, no Núcleo a avaliação é em função do que os
bolsistas alcançam em termos de ampliar a formação e tudo mais, então tem uma avaliação
que ela acontece no decorrer daquela atividade que está dentro do programa e que a gente
avalia o bolsista. E tem uma pós-avaliação também, que é ver que o bolsista que trabalhou em
tal projeto agora está no mestrado, aplicando o que ele aprendeu em uma outra capacitação,
ou ele continua envolvido no Núcleo, desenvolvendo atividades. Com a comunidade, ela está
avaliando o tempo todo assim, aceitando ou não, trazendo mais coisas para subsidiar o que a
gente está estudando, então tem uma avaliação que é feitas nas próprias reuniões
comunitárias. E a minha avaliação é que eu considero assim de passar para a comunidade a
ideia de continuidade, e com isso a gente tem nos municípios que a gente atua, a gente
consegue permanecer, então eu acho que isso também é uma forma de o projeto estar sendo
avaliado também. Nos municípios que a gente acompanhou aqui na região qualquer coisa que
a gente propõe eles estão aceitando, estão interessados que a gente participe. Então eu
acredito numa avaliação no Núcleo e na cidade, no momento em que a gente faz essas
audiências e reuniões públicas.
Entrevistador: Professor, o senhor tem intenção de realizar novos projetos conjuntos,
com esse tipo de parceria?
Entrevistado: Eu estou realizando, eu continuo realizando, acabei de entrar em um edital da
FAPEMIG, e acabei de entrar também em um do Ministério da Cultura, eu acho que isso é
algo que assim que a gente acaba também reciclando sempre. E a gente tem participado de
eventos, divulgado esses resultados parciais em reuniões científicas, em eventos... E como
tudo que a gente tem trabalhado está reverberando bem, nas disciplinas, na maneira da gente
abordar as questões da Arquitetura e do Urbanismo, cada vez mais a gente fica com interesse
em dar continuidade, e abrir novas frente dentro dessa coisa de trabalhar o ensino, a pesquisa
e a extensão de maneira integrada.
ENTREVISTA 10
Entrevistador: Levando em conta essa parceria, qual o objetivo esse projeto pretende
alcançar?
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Entrevista: O objetivo do projeto que a gente tem com a secretaria de saúde é criar uma
relação com a realidade do projeto de arquitetura na sociedade, né, que acontece na disciplina,
no curso que tem esse viés, que é a arquitetura. A avaliação científica é muito interessante,
mas a repercussão prática e o projeto é bem diferente da avaliação científica, então, por
exemplo, o projeto que... eu tenho um projeto de pesquisa que eu desenvolvo na área de
qualidade de vida dos catadores, que não tem uma repercussão com o projeto de arquitetura
diretamente, mas com o conceito de percepção de espaço urbano do que propriamente com o
projeto de urbano. Então quando a gente faz uma relação com a Secretaria de Saúde, a gente
tem na verdade uma resposta do cliente, vamos chamar assim, que diz o seguinte: o que eu
projetei é excelente em nível de fluxo, mas não interessa ao cliente, porque tem muitas
relações que a academia não vai conseguir responder. Então isso é uma coisa importante em
projetos de arquitetura, engenharia em geral. As vezes o melhor projeto, o melhor cálculo, não
é aquele de fácil execução.
Entrevistador: Professor, quais as metas a serem alcançadas? Essas metas estão
descritas em algum outro documento que não seja só o projeto? Talvez um convênio,
termo de cooperação...
Entrevistado: Existe esse projeto de extensão, o projeto de extensão ele passa por uma
transformação, para virar um convênio entre a (instituição parceira) e a Universidade,
explicitando o projeto de extensão como elemento desse convênio.
Entrevistador: quais as metas a serem alcançadas?
Entrevistado: Existe uma demanda, que é uma demanda negociada. São quatro unidades
primárias de atenção primária à saúde, são dois institutos ou clínicas especializadas, são metas
traçadas anualmente, todo ano a gente faz uma análise da perspectiva de projetos para aquele
ano. E tem a demanda espontânea, demandas que não são planejadas, por exemplo, a gente
pegou agora a regulação do sistema SAMU para reorganizar, eles estão saindo do Pan
Marechal, indo para outro lugar, então é uma demanda não planejada. E aí envolve hortas e
próteses, administração de internação hospitalar, administração de enxames, envolve uma
série de coisas que a gente está trabalhando e que não tava planejado.
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Entrevistador: a respeito das características acadêmicas, você acha que existe uma
articulação entre ensino, pesquisa e extensão? Como que ela acontece nesse caso?
Entrevistado: Existe, no começo não apareceu tanto, mas ao longo, quer dizer não foi no
primeiro nem no segundo ano, nos estamos no décimo ano desse projeto de extensão, né, de
renovação, no primeiro e segundo ano foi executivo mesmo: demanda de projetos de
arquitetura, desenvolvimento de projetos de arquitetura, e complementação e construção da
obra propriamente dita, que aí a gente não faz parte, entrega para a secretaria de obras e ela
que vai fazer. A partir do terceiro ano, foi possível realizar uma análise do contexto, e a partir
dessa análise de contexto a gente atrelou algumas pesquisas, temas do próprio projeto, com
financiamento da FAPEMIG, financiamento do CNPq, e atualmente com repercussão até no
mestrado. A gente tem uma menina que é engenheira, que está fazendo mestrado em cima das
unidades de atenção primária a saúde por conta de um problema que a gente percebeu ao
longo desses dez anos de projeto, que é a falta de manutenção, um problema sério de arranjos
e desarranjos na organização: mudança de secretários, mudança de prefeitos, administração
que também não é estática, ela é dinâmica, então a gente percebeu que com isso fácil, vamos
dizer entre aspas “é mais fácil” fazer um edifício novo do que manter um edifício existente.
Por conta do quê? Pela falta de planejamento, de organização, e aí a gente está tendo uma
pesquisa agora de mestrado em cima disso.
Entrevistado: Quais as possibilidades formativas desses projetos para os discentes? De
que forma eles participam?
Entrevistado: Participam... quer dizer, eu não faço nenhum projeto de extensão sem a
participação de alunos, na verdade eu sou orientador de desenvolvimento de trabalho de
alunos, a gente tem uma disciplina aqui chamada Projeto de Arquitetura e Urbanismo, é quase
que essa participação com um foco específico na saúde, então todo projeto, por exemplo, hoje
a gente tem 5 alunos diretamente envolvidos nesses desenvolvimentos, eles que fazem na
verdade a proposição, eu coordeno o trabalho, eu dificilmente ponho a mão em cima para
desenhar mesmo.
Entrevistador: O projeto planeja ações de cunho interdisciplinar?
Entrevistado: Planeja, a gente tem esse projeto de mestrado, por exemplo, eu sou na verdade
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co-orientador, a orientadora mesmo, por conta da formação, é uma professora da engenharia,
que é engenharia civil, que trabalha com gerenciamento e manutenção de edificações, então
ela orienta a aluna e eu dou todo o suporte metodológico e de informação do trabalho, e sou
co-orientador na pesquisa.
Entrevistador: A execução do projeto, ela provocou ou pode provocar mudanças
curriculares ou de foco nos conteúdos das disciplinas ministradas?
Entrevistado: Não, porque na verdade já existe uma disciplina que trabalha com... isso para a
gente não é um projeto de saúde, tem uma disciplina no curso que trabalha equipamentos
públicos de interesse social. Então essa disciplina acaba sendo adequada para você colocar
uma unidade de saúde, uma escola, um centro cultural, então quer dizer: ela atende diversos
objetos, então não houve essa necessidade de mudança não. Eu particularmente na disciplina
de Projetos de Arquitetura e Urbanismo eu trabalho com Unidades de Saúde, porque a
Unidade de Saúde ela tem um diferencial, por exemplo, em relação ao centro cultural, que eu
também trabalho no sétimo período, e o diferencial é o seguinte: a Unidade de Saúde tenho
que atender a um programa fechado, então como que um aluno estabelece uma arquitetura
com um programa que não é estabelecido por ele, ele não tem a liberdade de projeto, com o
campo da definição da necessidade do projeto. O centro cultural, que em termos de
equipamentos é a mesma coisa, é equipamento público de interesse social, ele tem exatamente
o inverso, ele mantem um programa e o aluno tem que elaborar as condições que vão ser
limitadoras do projeto dele, então quer dizer... é um objeto interessante em determinado
período do curso, e isso se enquadra em metas já existentes.
Entrevistador: A respeito do financiamento, como e por quem essas ações em parceria
são financiadas?
Entrevistado: Olha só, existe uma tradição nesse projeto, que é o seguinte: a Secretaria de
Saúde oferta de três a quatro bolsas de estágio, equivalente a estágio na prefeitura, todo ano,
para uma bolsa de extensão do projeto. Então tem uma bolsa de extensão, três bolsas de
estágio pela Secretaria de Saúde. Esse ano eu entrei e foi aceito uma bolsa de Treinamento
Profissional, mas esse é o primeiro ano que eu tentei e consegui esse bolsa. E em dez anos
sempre foi essa outra lógica, eram três para uma. Em termos de financiamento, né, aí varia
ano a ano, já teve essa que o Mistério da Saúde liberou equipamentos de informática... e esse
142
ano, particularmente, fechado o convênio, a (instituição parceira) se comprometeu a fazer
todo o upgrade de equipamentos, então o projeto tem recursos só isso, e os custos
operacionais todos por conta da (instituição parceira). O que eu chamo de custo operacional?
É o CREA, o Relatório de Aprovação de Projeto, que vai para a vigilância sanitária, tem os
projetos complementares, e todos os custos de impressão, que não são baratos. Isso tudo entra
como recursos de projetos, mas fica a cargo da (instituição parceira).
Entrevistador: No desenvolvimento, houve alguma dificuldade de operacionalização do
projeto? Verificou-se algum entreve, alguma coisa que dificultasse?
Entrevistado: A dificuldade é a frequente mudança do Secretário de Saúde, a cada mudança do
Secretário de Saúde o projeto para de dois a três meses até ele entender os objetivos e
perceber a visibilidade do projeto para a Secretaria de Saúde, isso é frequente, porque isso
passa por ele, mudou o Secretário de Saúde, o convênio tem que ser modificado para receber
o nome do novo secretário.
Entrevistador: Houve em algum momento necessidade de replanejamento das ações?
Entrevistado: Constantemente, existe essa coisa de demanda espontânea que fura todo o
cronograma todo ano. Então, por exemplo, a demanda desse ano era fazer 4 Uaps para entrar
dentro do PAC2, nós conseguimos já fazer duas, estamos com mais uma sendo desenvolvida,
para-se tudo, né, para o Uaps agora, porque entrou regulação... (risos). Um projeto que a gente
fez três anos antes, que foi um projeto da vigilância de saúde, onde era o Pronto Socorro na
Avenida dos Andradas, o projeto todo é nosso ali, feito aqui, um projeto bem grande, um
projeto aí de DSTs, AIDS, vai pegar vigilância sanitária, zoonoses, laboratório de controle
de... então um projeto grande, levou três anos para licitar, agora licitou, começa as demandas
desse projeto: “a escada teve que alterar porque o corpo de bombeiros exigiu uma mudança”,
vamos nós lá, e aí é emergencial, não dá para esperar, porque senão para a obra. Então coisas
desse tipo, a gente já sabe, começou um projeto grande, vai aparecer muitas demandas em
função desse projeto. Por exemplo, a gente fez um pré-dimensionamento de vestiário, para
atender na época a norma do Ministério do Trabalho, hoje se mudou a forma até de
organização da dengue, por exemplo, provavelmente o vestiário muda. Coisas assim, básicas,
que aí a gente já fica na expectativa.
143
Entrevistador: A respeito de avaliação, estavam previstas avaliações ao longo do
projeto? Como acontece o processo de avaliação?
Entrevistado: Não, o projeto ele é pró-ativo o tempo inteiro e esse é um problema do projeto,
a gente não tem tempo de avaliar, muito por conta da própria Secretaria de Saúde, que ela vê
nesse projeto hoje um apoio efetivo da Secretaria, inclusive eu tentei nesse ano não fazer o
projeto. Eles pediram “continua”, porque... com o mestrado aqui começou a ficar mais
apertado, hoje eu quero fazer mais pesquisa do que o projeto, assim... tá tendo que planejar
atualmente para falar: olha, no ano que vem não vai ter projeto, vamos estabelecer um limite e
tal...
Entrevistador: O senhor tem intenção de realizar novos projetos conjuntos desse tipo?
Entrevistado: Não, chega, esse aí tá mais do que suficiente.
ENTREVISTA 11
Entrevistador: Qual objetivo seu projeto pretende alcançar? Do que se trata esse projeto
de extensão?
Entrevistada: Bom, o projeto, o objetivo básico desse projeto é trabalhar com a participação e
com o controle social na saúde. Então gente desde 2005 vem trabalhando nesse sentido, de
fortalecer a participação popular, de fortalecer o controle social e aí trabalhando em especial
com os movimentos já organizados, os organizados e institucionalizados, os conselhos locais
de saúde, e também outros movimentos informais, lideranças comunitárias. Então a proposta
básica desse projeto é trabalhar com a questão de fomentar, incitar, de ampliar, de fortalecer a
participação e o controle social na saúde.
Entrevistador: quais as metas a serem alcançadas? elas estão descritas em algum outro
documento que não seja só projeto?
Entrevistada: não, a gente assim, em se tratando dos objetivos mesmo desse projeto, está
trabalhando com a questão da participação, a gente não tem assim números, né, consegui que
x pessoas participam, conseguir levantar tantas novas lideranças, a gente não tem essas metas
nesse sentido, na verdade assim a meta é de estar fortalecendo mesmo esses espaços. Quando
144
o projeto surgiu, em 2005, com esse propósito, foram feitas uma série de atividades com as
comunidades dos três bairros que a gente trabalhava, hoje são só dois, mas na época eram três,
que eram exatamente os bairros onde a gente tem o programa de residência em saúde da
família. E esse projeto é vinculado ou programa de residência em saúde da família. A gente,
durante o ano de 2005, nos desenvolvemos várias atividades, que foram no sentido de estar
conhecendo mais essas comunidades e a própria comunidades estar-se reconhecendo.
Estabelecendo suas prioridades, reconhecendo seu território, reconhecendo os problemas que
elas têm. Então esse ano foi um ano de muito trabalho, muito junto comunidade. Aí nós
tínhamos uma meta, que era chegar no final desse ano com um diagnóstico de saúde dessas
comunidades e possíveis propostas para a gente atender, responder às demandas. Então nós
trabalhamos o ano inteiro com isso e chegamos no final desse ano, final de 2005 e início de
2006, nós fizemos um grande encontro com essas comunidades, e as três comunidades,
aprontaram o principal problema de saúde das comunidades era a questão das crianças e a do
problemas de drogas e violência na juventude e com crianças. Aí nós começamos a trabalhar
alguns projetos, para trabalhar a questão da criança e da juventude, tendo como objetivo
trabalhar questão do uso da droga e da violência. Então, com isso, a gente montou subprojetos, dentro dos dois, que são esses projetos que elas trabalham com crianças e
adolescentes, e hoje em 2 bairros.
Entrevistador: Poderíamos dizer que esses sub-projetos, são na verdade resultantes de
pesquisas suscitadas por alguma situação na realização do projeto geral?
Entrevistada: Na verdade, não são projetos de pesquisa, são projetos de intervenção com
grupos de adolescentes. A gente fez a pesquisa no ano anterior, nesse ano de 2005 agente fez
todo o levantamento, nós fizemos o que a gente chamou de mapa falado. Nós fizemos o
diagnóstico através de entrevistas, aí foi a pesquisa. Hoje são projetos de intervenção. Então
hoje, o que que a gente tem hoje? Um projeto no Progresso, com crianças e adolescentes, no
Parque Guarani, no Santa Rita, que é outro bairro que a gente tinha, não tem mais porque a
gente não tem residência mais lá. Como é um projeto que precisa de muita gente, como a
gente não tem mais residência, em então fechamos o projeto lá. Aí o que que aconteceu nesses
anos, então nós começamos a investir nesses projetos, nesses sub-projetos. Então nos temos
um projeto, um projetão... o guarda-chuva é o Promoção da Saúde ..., desse projeto surgiram
outros dois sub-projetos. Esse ano, o que que nós começamos a perceber: a gente perdeu um
pouco o foco do projeto, porque nós deixamos de lado, de estar trabalhando com conselhos
locais, com o conselho regional, com as lideranças informais, com os outros grupos o
145
indenizados da comunidade, então estávamos com o terceiro sub-projeto, que é um projeto de
fortalecimento da saúde e do controle social. Então estamos começando a trabalhar de novo
com os conselhos locais e regional de saúde, das duas comunidades que a gente trabalha.
Então estamos começando tudo de novo, na verdade, recuperando um pouco do que a gente
fez em 2005, que é estar trabalhando com essas comunidades, assessorando esses grupos,
então a gente está nesse movimento que na verdade é um movimento de resgatar a proposta
original. E esses dois sub-projetos têm tudo a vez com a participação e com controle. Ainda
nessa questão desses grupos institucionalizados ou não que trabalham com a questão da
saúde, perdemos um pouco desse foco, então hoje a gente visa recuperar nosso foco.
Entrevistador: nas características acadêmicas desses projetos, você acha que existe uma
articulação entre ensino, pesquisa e extensão? como ela se verifica?
Entrevistada: por exemplo, na pesquisa agente fez lá atrás, fez dessa do diagnóstico, fizemos
uma depois, quando a gente começou a trabalhar com os jovens, a gente fez todo um
levantamento, quem são esses jovens, onde estão esses jovens... então assim a questão da
pesquisa a gente está sempre trabalhando. No que diz respeito mais ao ensino, a gente faz
regularmente grupos de estudo, por exemplo agora a gente voltou a estudar a questão da
participação do controle social. Agora a gente estudou muita a questão da infância, da
juventude, da violência junto a esse público. Então a gente tem sempre um momento muito
grande, muito constante. Como é um grupo grande, sou eu, são as assistentes sociais, são três
assistentes sociais da secretaria de saúde e atualmente nós temos oito residentes e 2 bolsistas.
Então é um grupo grande e a gente se encontra muito regularmente, então eu acho que é um
projeto que a gente tem uma articulação interessante.
Entrevistador: quais as possibilidades formativas dos projetos para os discentes? de que
forma eles participam?
Entrevistada: eles participam dos grupos de estudos, eles participam dos planejamentos de
todas as ações. Então planejamento, a gente faz planejamento, por exemplo agora, no projeto
que a gente está começando de novo agora, então nós estamos exatamente nessa parte, temos
um projeto novo dentro do projeto, e isso eles fazem juntos, então eles estão aprendendo a
fazer projetos. Aí lá vem todo o planejamento para fazer oficinas de capacitação para
conselheiros, para essas oficinas o bolsistas, ele senta com o residente, com o assistente social
e comigo. Então, como que vai ser isso? Ah vai ter que ter uma oficina... a oficinal como é
que vai ser feita? e então tem um quadrinho que a gente coloca oficina para capacitação, então
146
elas colocam lá: de nove às dez, dinâmica de aquecimento, elas colocam "que dinâmica?", vai
ser dinâmica da teia de aranha, " que material a gente precisa?", a gente precisa de barbante, a
gente precisa de papel craft, " qual o objetivo?", " aquecer e as pessoas se conhecerem
melhor". Dois: "discussão do texto X"..., então elas fazem todo esse planejamento. Quando
ela sentam para fazer isso elas estão aprendendo já a montaram oficina. Então chegou no dia
da oficina, elas estão juntas, elas fazem toda a coordenação, fazem relatórios, então elas
fazem um relator todo minucioso para mim.
Entrevistador: o projeto planejam ações de cunho interdisciplinar?
Entrevistada: a princípio sim, mas a gente não consegue. a princípio a idéia é... como se trata
de um projeto da residência, a residência é múltiprofissional, então é a assistência social,
enfermagem e medicina. Então quando a gente criou, quando a gente pensou no projeto, era
um projeto interdisciplinar e a gente ia ir envolvendo as outras categorias, mas só em alguns
momentos a gente consegue envolver um pouco a Enfermagem, mas não é não, é um projeto
do Serviço Social, com desejo de aproximar, de chamar... mas existem muitas dificuldades...
as outras categorias estão desenvolvendo suas práticas de ensino... na verdade não é o projeto,
a gente não consegue desenvolver uma prática interdisciplinar de uma forma geral, isso é na
saúde, isso não é em Juiz de Fora, a saúde tem um discurso de multidisciplinar,
interdisciplinar e a gente consegue muito pouco, mal porcamente a gente consegue trabalho
multidisciplinar. Se é desse jeito com outras ações, isso também acontece no Serviço Social.
Entrevistador: a execução do projeto provocou ou pode provocar a mudança curricular
ou de foco nas disciplinas ministradas dos cursos envolvidos?
Entrevistada: olha eu acredito que sim, por exemplo, para falar assim mais do serviço social,
por exemplo, eu trabalho muito na área da saúde, as disciplinas de uma forma geral são
voltadas para a saúde. Eu aproveito muito do projeto de extensão para trazer para a sala de
aula. A gente não conseguiu oficializar isso, de forma a mudar o currículo, mas certamente
são experiências que contribuem muito com as disciplinas da área da saúde aqui. Acho que o
projeto está me alimentando muito para eu dar um outro rumo à disciplina. Mas infelizmente
a gente não conseguiu assim:" ah não foi a partir do projeto que a gente conseguiu uma
reforma, por exemplo, na ementa dessa disciplina, no programa dessa disciplina, isso não...
Entrevistador: a respeito do financiamento, como e por quem as ações em parceria são o
financiadas?
Entrevistada: isso é um problema sério, a gente só tem bolsas. E não tem financiamento, por
147
exemplo, se você trabalha com o comunidade, um trabalho que a gente faz com as crianças e
adolescentes é o "cinema no bairro". Para ter cinema no bairro tem que ter pipoca, quem paga
a pipoca são os profissionais. Por exemplo, nas capacitações que nós vamos fazer agora, que
precisa de uma relação mais próxima, mais informal, então tem que ter um lanche, quem faz o
lanche? Somos nós. Faz uma vaquinha e faz o lanche. Nos bairros, às vezes elas conseguem,
"ah conseguimos o suco na padaria", como não é uma coisa frequente, então às vezes
consegue suco, consegue pipoca, às vezes consegue nada, então a gente não tem. O nosso
propósito inicial do projeto era a gente conseguir fazer o todo o movimento que te falei e
chegar nas prioridades o das unidades das comunidades e fazer projetos, e conseguir
encaminhar esses projetos sociais para esses orgãos de financiamentos, porque tem muitos
órgãos, né, agências que financiam projetos dessa natureza... mas nós não tivemos pernas para
isso não, sabe a gente não conseguiu, é uma coisa que você tem que ter maior, a gente chegou
a fazer, chegou a mandar, mas nunca conseguiu. Então é isso, é com bolsas, é com boa
vontade, financiamento a gente não tem não, só as bolsas.
Entrevistador: no desenvolvimento, quais as dificuldades de operacionalização do
projeto? verificam-se entraves?
Entrevistada: olha, eu acho que o principal entrave esse, a falta de recursos. A falta de
recursos inviabiliza o muita coisa. A falta às vezes de espaço. Agora eu acho que a gente está
tendo um período até melhor. Teve uma umidade que a gente não tinha espaço para reunir
com os meninos, então a gente tem que pegar a garagem de fulano, em outro dia o salão da
igreja, então isso dificultando muito, por que fica a uma coisa muito domestica. Por isso que
eu te falei então de pegar a pipoca, tem, não tem, então é muito doméstico. Por exemplo, tem
grupos de trabalhar a questão da arte com os meninos, para fazer arte, qualquer coisa é preciso
de tecidos, precisa de cola... então isso tudo é muito complicado. Então a gente anda sempre
com pires na mão, um dá um pouquinho... e isso desestimula muito. Então acho que esses são
os principais entraves, porque é um grupo bom, tem pessoas muito interessadas, e isso, um
grupo muito grande de assistentes sociais. E eu acho que o trabalho em equipe também, coisa
é a gente tem de estar envolvendo também as outras categorias das unidades de saúde, porque
o projeto está muito vinculado a unidade de saúde.
Entrevistador: onde necessidade ao longo do projeto de replanejar o as ações?
Entrevistada: eu acho que sim, esse momento agora é isso que está acontecendo. A gente
começou, chegamos ao projeto com os adolescentes e o que a gente constatou, o que a gente
148
faz no final do ano é uma avaliação do projeto, sobre como vamos continuar o projeto, em
que bases a gente quer continuar o projeto... e desde o ano passado a gente começou a sentir
que estava perdendo foco principal do projeto, a gente começou a pensar, e agora estamos
organizando e reavaliando os projetos.
Entrevistador: explique melhor essas avaliações, como vocês as planejaram?
Entrevistada: todo final de ano a gente faz um relatório completíssimo, o relatório da Propesq
ele é mínimo, então a gente faz no final do ano, então normalmente são as residentes com as
bolsistas que fazem todo o relatório. E a gente faz também uma reunião.
Entrevistador: há uma participação também do parceiro nessa avaliação?
Entrevistada: o parceiro é secretaria de saúde, né, quem fica diretamente com as residentes e
com as bolsistas no cotidiano são elas, as assistentes sociais, tanto é que você vê aqui que elas
estão como colaboradoras, e eu coloco elas como coordenadoras, coordenadoras técnicas, nos
relatórios sempre está isso, coordenadora acadêmica sou eu, e as coordenadoras técnicas são
as assistentes sociais das unidades. Então elas cuidam de tudo, essas reuniões que eu te falei
de grupos de estudo estão sempre presentes, quando a gente faz a seleção para bolsistas, via
de regra elas vêm comigo para fazer a seleção. Todas as atividades que os bolsistas residentes
fazem elas estão juntas, então tem capacitação e elas estão juntas, nas reuniões, em tudo que a
gente faz aqui nos grupos de estudo elas estão sempre, em reuniões de avaliação elas estão
sempre. A gente faz o relatório, a gente discute o relatório, e eu sempre todo ano avalio com
elas:"a gente continua? como que a gente continua? o que que a gente vai fazer esse ano? a
gente vai continuar... a a gente vai priorizar alguma coisa", então é o momento do final do ano
de avaliação e pensar o ano que vem.
Entrevistador: professora você tem intenção de realizar novos projetos conjuntos, com
esse tipo de parceria?
Entrevistada: não, por falta de tempo, agora não. Até por que esse projeto está ramificando.
Em extensão, esse é o único, o Promoção da Saúde, e ano passado a gente estava com esses
dois, e esse ano já são três, então ele da cria. Então agora não.
ENTREVISTA 12
Entrevistador: levando em conta essa parceria externa, qual objetivo seu projeto
pretende alcançar?
149
Entrevistado: Eu sou professor da área de saúde coletiva, a gente trabalha com planejamento
da saúde, e dentro da organização do sistema de saúde contemporânea, eles se estruturam a
partir da atenção primária, então desde o início, um conceito chave hoje do sistema de saúde é
a definição de região, regionalização da assistência, então isso acontece desde a atenção
primária que deve hoje em dia ter uma área bem delimitada, sobre a qual ela é responsável,
onde se vai atuar, não só atendendo a demanda espontânea da população, mas também uma
vigilância da saúde da população daquele território. Dentro também desse conceito, nós
trabalhamos com o conceito ampliado de saúde, saúde não é só ausência de doença, nós temos
a qualidade de vida, e nós vivemos num país da desigualdade social, onde os bolsões de
pobreza predominam, então eu estou partindo de uma demanda da Secretaria de Saúde para
fazer o trabalho da Territorialização, onde as unidades básicas de saúde aqui do entorno do
campo, numa dessas ainda tem o Programa de Saúde da Família, que é Borboleta, Santos
Dumont e São Pedro..., eu resolvi escrever um projeto também para encarar esse desafio que é
trabalhar a questão da promoção da saúde, a promoção da saúde não é uma coisa que você
trabalha só a partir do setor saúde, a promoção da saúde interfere em toda a complexidade do
sistema social e ecológico de um dado território, porque o território não é só físico, ele é
humano também. E então essa metodologia que a gente trabalha na Territorialização das
Unidades Básicas de Saúde, percebe o território dessa forma, mapeia o território, e a partir
desse mapeamento do território, a gente devolve esse diagnóstico então, que é uma coisa,
dentro da saúde é um princípio, que é a participação popular, porque construiu os projetos
juntos com a população, e a partir desse diagnóstico, aí sim você ira realizar algum projeto,
uma intervenção, que é o que caracteriza a extensão. Então, não minha visão, não tem como
de trabalhar uma ação assistencial sem antes conhecer, ter um diagnóstico da população sobre
a qual você vai atuar, e isso é um princípio também do planejamento da saúde, e atuar na
questão da melhoria da qualidade de vida é o grande desafio hoje, tanto da gestão, e não só a
gestão da saúde, porque qualidade de vida vai depender então da saúde, da habitação, da área
ambiental, da educação, do transporte, da segurança. Então é um desafio a gente poder estar
abrindo caminhos dentro da Universidade e também na parceria, que você tem que trabalhar
com a (instituição parceira), então eu acho que um projeto desse é estruturante de novos
paradigmas, tanto na área do conhecimento, aí você vai trabalhar com a interdisciplinaridade,
quanto na área da ação governamental, onde você vai ter que trabalhar necessariamente com a
integração de vários setores em prol de um objetivo comum.
150
Entrevistador: Mais especificamente, quais seriam as metas a serem alcanças? E essas
metas estão descritas em algum outro documento que não seja só o projeto? Como
convênio, termo de cooperação...
Entrevistado: Sim, a gente tem um convênio assinado (parceiro externo), que tem lá, eu
recomendo que vocês analisem o conteúdo, o texto, o discurso que está ali contido naquele
convênio, você percebe que não é difícil você realizar, formalizar uma parceria, no caso do
meu projeto, foi fácil e aconteceu esse convênio... o que que aconteceu? A gente na hora que
cadastra um projeto de extensão, e coloca lá que tem parceiro externo, automaticamente o
setor de convênios da pró-reitoria vai encaminhar esse projeto para o parceiro assinar, é lógico
que o parceiro aí no caso é o (parceiro externo), ele vai ver de que área é esse projeto, ele vai
encaminhar para a Secretaria correspondente, o secretário de saúde, ao receber esse
documento, vai chamar a pessoa lá da secretaria de saúde que é responsável pela
Territorialização das unidades básicas, com certeza essa pessoa já minha parceria, e eu fiz
esse projeto até junto com ela, então ela deu o aval, e aí o (parceiro externo) assinou. Só que
daí para frente há uma outra ordem de problemas, até aí não foi difícil, eu acho que basta o
professor, que é o proponente realmente ter essa parceria, porque só colocar lá no papel e ela
não existir de verdade, então a pessoa simplesmente lá não vai assinar, agora se existe a
intenção realmente de fazer esse projeto junto com o parceiro, o parceiro vai assinar. Eu tenho
inclusive uma portaria assinada pelo Custódio que tem uma vigência de cinco anos para mim
realizar esse projeto. Agora, você perguntou das metas... aí está lá escrito, não lembro assim
de cabeça e tudo, mas basicamente o foco principal é a geração de renda e ambiente, e
também, não posso deixar de ser, o dimensionamento da estrutura do sistema de saúde na
região. Mas o principal não é isso, o principal realmente é o desafio de trabalhar com a
interdisciplinaridade nas ações, inclusive para melhorar a qualidade de vida da população,
geração de renda, deficiência energética, então eu vou procurar o pessoal da engenharia que
tem projetos de aquecimento solar, vai significar economia de gás, isso para os mais pobres
pesa, e o estímulo à formação de cooperativas populares, a gente tem esse projeto Bolsa
Família que não é só assistencialista, então eu enxergo que a interferência aí é muito
importante também, até porque principalmente onde há políticas públicas, sociais, de estar
fazendo esse link, de estar tentando potencializar. Então a ideia de fazer o projeto num área
menor torna possível mostrar que é possível fazer na cidade toda também. Então basicamente
a meta é interferir na questão da geração de renda, melhoria da qualidade de vida, identificar a
partir de todos os problemas que foram levantados e ter uma interferência, então a meta
151
basicamente é fazer um bom diagnóstico da situação da região para que no final do ano a
gente possa fazer um seminário, e uma das formas que eu acho que é inovadora também é o
estímulo a … porque existe os concelhos de políticas públicas hoje, na saúde, na educação, na
área social, na área ambiental, mas eles não se comunicam, cada um tem sua abordagem só
dentro de seu setor, então eu visualizei para a gente tentar fomentar que haja uma conferência
inter setorial, regional, não para discutir o setor, mas para discutir os problemas da região, que
são complexos. Seria uma estratégia interessante, então um dos objetos é realizar um
seminário intersetorial aqui na região.
Entrevistador: Nas características acadêmicas, você acha que existe uma articulação
entre ensino, pesquisa e extensão?
Entrevistado: Na minha visão, no meu projeto, isso fica claro que... a pesquisa está liga ao
projeto como pré-requisito dele, o diagnóstico da saúde na população demanda pesquisa,
temos que levantar dados, e no ensino também vejo essa articulação perfeitamente, porque ao
envolver o aluno num projeto desse ele está realmente aprendendo muito mais do que se
estivesse sentado em sala de aula, aliás o problema do ensino não é a articulação ensinopesquisa-extensão, é o ensino burocrático de sala de aula, um método desde 1950 que já está
superado, um método disciplinar que Michael Foucault tanto discute, nós, os brasileiros, ainda
temos o Paulo Freire como exemplo, que levantou esse bandeira lá nos porões da ditadura
militar, e até hoje nós continuamos reproduzindo aí, acriticamente, por que?, porque é mais
fácil, não dá trabalho, fazer extensão dá muito trabalho, acho que o principal obstáculo é a
preguiça mesmo ou a falta de estímulo para o professor estar em dedicação exclusiva.
Entrevistador: Quais as possibilidades formativas desse projeto para os discentes? De
que forma eles participam nesse processo?
Entrevistado: Ao participar de todas as fases do processo, em que estão envolvidos, eles estão
entendendo todo um objeto complexo, até porque não se aprende a trabalhar com objetos
complexos de outra forma a não ser se envolvendo com ele, então é importante que o aluno
participe de todas as fases do projeto, desde o planejamento, a avaliação, a implementação...
ele entende perfeitamente quando ele se apropria, quando ele se mistura, sai do ambiente da
sala de aula, vai para a comunidade, vê a dificuldade que é de conseguir as coisas, vê que
aquilo não funciona no automático.
152
Entrevistador: Com a realização do projeto, teve algum momento em que a própria
situação suscitou a realização de alguma nova pesquisa?
Entrevistado: O tempo todo, o tempo todo... eu estou te falando porque eu não sai da fase da
pesquisa, até porque as circunstâncias externas da realidade, principalmente em relação ao
ritmo que a (instituição parceira) coloca, então, por exemplo, uma parceira já foi deslocada
várias vezes do trabalho dela, que é trabalhar com a territorialização, para atender demandas
emergenciais da Secretaria de Saúde, cada hora uma coisa diferente, um incêndio para apagar,
um aqui e outra ali, e as vezes desvia mesmo até de função mesmo para fazer coisas que não é
da função dela. Por exemplo, agora surgiu o censo de 2010, então nós vamos nos apropriar
desses dados, surgiu também: antes eram só três unidades, agora já tem projetos, por exemplo,
tem a UPA, dados para atendimento, e já tem projeto de construir mais duas unidades, então
isso muda tudo na questão que a gente tinha planejado inicialmente.
Entrevistador: A execução do projeto, ele provocou ou pode vir a provocar alguma
mudança curricular ou de foco no conteúdo das disciplinas ministradas nos cursos
envolvidos?
Entrevistado: Com certeza, na medida que a gente está trabalhando com aquele objeto a gente
está levando para dentro de sala de aula exemplos e dados, mas isso tem uma influência muito
fraca, o ideal mesmo, a gente percebe que há uma influência curricular em todos os cursos de
flexibilização, que o aluno, principalmente a gente que trabalha com aluno de medicina, tem
muito dificuldade com esses meninos quando começa a época das provas, então a
predominância excessiva do ensino curricular, de sala de aula, é difícil você quebrar isso se
você não começar a atuar a partir da mudança mesmo das regras, então eu acho que o ponto
chave disso daí está na mão do coordenador de curso, em modificar o projeto pedagógico e a
grade curricular, até porque uma andorinha só não faz verão. A gente percebe que a extensão é
ainda muito pontual, existem muitos incentivos ao professor para fazer pesquisa, para publicar
e nem sempre a qualidade importa, e apenas a quantidade e já para a extensão, para você ter
uma ideia, você sabe disso, não tem cinco anos que... só de uns três ou quatro anos para cá é
que começou a sair edital de fomento, é de financiamento de projetos de extensão, que isso,
ninguém financiava projetos de extensão, então o recurso para a extensão é ainda muito
pouco, ela é patinho feio ainda dentro da estrutura universitária, e eu sou extensionista, sou
entusiasmado, eu acho que a extensão é a chave que a gente tem de mudança dentro disso
153
tudo aí, é a chave que proporciona o encontro da interdisciplinaridade, de sair fora da prisão,
que é essa grade curricular, mas ainda tem muito o que fazer, tanto internamente, quanto
externamente, internamente que eu digo é que acho que tem muita coisa que se pode fazer que
está na mão do reitor ter autonomia universitária para estimular um pouco mais a extensão, e
estar, por exemplo, estimulando aos coordenadores de curso para colocarem a extensão
valendo crédito, botando na grade curricular, abrindo espaço dentro da grade curricular,
eliminando, tentando mudar mesmo, fazendo com que as disciplinas se articulem nos projetos
de extensão.
Entrevistador: A respeito do financiamento, como e por quem as ações em parceria são
financiadas?
Entrevistado: O meu projeto não tem financiamento não, mas eu estou esperando ele criar um
pouco mais de massa crítica, de corpo, e de um ritmo de funcionamento, a partir daí, minha
intenção era essa, a partir desse diagnóstico e desse seminário eu elaborar então os projetos de
intervenção e buscar os financiamentos.
Entrevistador: Ele tem bolsas, tem alguma bolsa?
Entrevistado: Por enquanto o número de bolsas que eu tenho são duas, e, apesar de eu já ter
dois anos que o projeto foi iniciado, eu tive esse problema com o meu acidente, e deu uma
parada de mais de um ano, e por enquanto duas bolsas ainda estão sendo suficientes para
mim.
Entrevistador: No desenvolvimento, quais as dificuldades na operacionalização do
projeto? Verificam-se entraves?
Entrevistado: Eu não tenho tido dificuldade nenhuma com a Universidade, inclusive em 2009
e nove a gente fez a contagem do número de domicílios, uma das reivindicações da população
aí, do conselho regional de saúde era provar que aqui tinha mais habitantes do que a projeção
do censo estava indicando, a projeção do senso indicava uma população de 26 mil habitantes
na região sanitária norte, e nós conseguimos contar, 10 mil domicílios, ou seja, 40 mil
habitantes, considerando a média de 4 habitantes por domicílio, foi um processo interessante
que eu trabalhei com dois alunos bolsistas de medicina, que coordenaram um grupo de vinte
154
voluntários e a universidade foi totalmente cooperativa, em questão de transporte, da logística,
tiveram apoio também do Capitão Pena, aqui da policia militar, que deu segurança, então
quando a população está interessado em ver as coisas acontecerem têm dado apoio, e
realmente não tem dito dificuldades, mas eu percebo que o ritmo as vezes que a (instituição
parceira) está andando, na Secretaria de Saúde, por exemplo, tem atrapalhado um pouco, cada
hora é uma novidade que surge, você não tem um horizonte de planejamento tranquilo não.
Mas as coisas vão as vezes um pouco lenta para o ritmo que a gente gostaria de tivesse. Então,
por exemplo, eu vou ter que ver a previsão da (instituição parceira) de construir essas novas
unidades, e definir local... o que que eu posso fazer enquanto eles não definem as coisas?
Entrevistador: Ao longo do projeto, houve, em algum momento, a necessidade de
replanejamento das ações?
Entrevistado: O tempo todo, porque o horizonte de meu projeto é muito complexo, trabalha
no médio prazo, é igual habitação popular, não tem como haver planejamento, o governo as
vezes chega com recursos: “ah, você tem que gastar até dezembro, senão vai ter que devolver
o dinheiro”, por exemplo, “Minha Casa, Minha Vida”, aí eles constroem um loteamento lá na
Avenida Sete, no Bairro Santa Cândida, lugares que não têm assim, não estava escrito que ali
ia ser aquilo, não tem menor sentido loteamentos populares na beira da BR 040, então cadê o
planejamento urbano nessa cidade?
Entrevistador: Agora já tratando a respeito de avaliação, estavam previstas avaliações?
Quais os processos de avaliação das ações?
Entrevistado: Essas avaliações é o cumprimento, né, das metas, e eu avalio que o projeto está
andando mais devagar do que eu gostaria, e mesmo assim eu acho que continua sendo válido,
porque na medida que os meninos percebem a realidade, isso é realidade, e a função dos
projetos de extensão é sobretudo ensinar o aluno no contexto da realidade.
Entrevistador: Tem sido feito uma avaliação com os estudantes, um processo de
avaliação em que o parceiro externo também participe?
Entrevistado: Eh, você tem ações de vários tempos, em escalas de tempos diferentes, e em
todo momento você tem que estar fazendo avaliação, eu acho que a grande avaliação que eu
155
vou fazer vai ser nesse seminário e no final, né, por enquanto eu avalio que eu estou muito
preocupado que eu queria ver a coisa andar mais rápido, mas a avaliação é terrível, né. Quanto
mais você tem um projeto fechado, com objetivos bem definidos, mais frustado você fica de
ver que os resultados estão longe, mas eu não vejo isso de forma negativa não, eu acho que os
planos existem como guia para o presente, não simplesmente para atingir tal ou tal objetivo,
então ele serve para me guiar e corrigir o rumo das coisas no presente.
Entrevistador: Professor, o senhor tem intenção de realizar novos projetos conjuntos,
com esse tipo de parceria?
Entrevistado: Tenho, eu sou muito entusiasta da extensão, sou rondonista, é difícil, mas eu
estou na dedicação exclusiva e, muitas vezes, eu particularmente para mim, eu prefiro a
extensão do que a pesquisa, quer dizer: a pesquisa para mim é indissociável, não vejo uma
coisa separada da outra, mas vejo a extensão como uma possibilidade e sou entusiasta sempre.
ENTREVISTA 13
Entrevistador: Bom, o trabalho de pesquisa foca mais a questão das parcerias e essa
relação com a coordenação dos projetos e com a universidade, e daí, levando em conta
essa relação com as parcerias, com os parceiros, no caso aqui a (parceiro externo), qual
seria o objetivo do projeto, qual o objetivo ele pretende alcança?
Entrevistada: A história é um pouco grande, porque o (parceiro externo) é um campo de
prática da disciplina em que eu atuo, que é …, lá é campo de prática da graduação, os alunos
do sétimo período têm aula prática lá, então, quando a gente começou com as aulas práticas, a
gente identificou lá algumas necessidades que eles teriam, onde a gente poderia estar
contribuindo com algumas ações nossas, e aí a gente tentou com a coordenador de lá
conversar sobre isso, e ela fez algumas demandas, perguntando se a gente poderia estar
atuando em algumas áreas lá dentro, para contribuir com o serviço e tal, e a gente viu que
seria interessante, porque seria uma oportunidade dos alunos estarem exercitando algumas
ações diferentes, que eles não teria oportunidade de fazer em outro lugar e ao mesmo tempo
dando uma contrapartida para o serviço que estava se abrindo para a gente como campo de
prática, e assim que nasceu o projeto: foi uma necessidade nossa, enquanto uma disciplina da
graduação, mas de acordo com uma demanda deles, uma necessidade deles.
156
Entrevistador: Aqui mais claramente, quais as metas a serem alcançadas e essas metas
estão descritas em algum outro documento que não seja só o projeto, talvez um
convênio, termo de compromisso com a instituição ou alguma coisa do tipo?
Entrevistada: Não, o único documento que a gente tem é o projeto, que foi elaborado junto, e
eles têm uma cópia, como é um serviço de saúde mental, ele passou também pelo gestor de
saúde mental da (instituição parceira), mas é o único documento que a gente tem, e o objetivo
principal dele é prestar assistência à saúde física dos portadores do transtorno mental, porque
lá, é uma característica do (instituição parceira), eles não têm médico clínico e não tem
assistência clínica, em (instituição parceira) nenhum, não faz parte do serviço, e as vezes
muitas pessoas que têm transtorno mental, têm transtornos, problemas físico-orgânicos que
passam desapercebidos e a gente está se propondo a fazer isso, então a gente faz: consulta de
enfermagem, grupos educativos para saúde e oficinas de auto-cuidado.
Entrevistador: Passando para características mais acadêmicas, você acha que existe uma
articulação entre ensino, pesquisa e extensão? Nesse caso, como ela acontece? Como ela
se verifica?
Entrevistada: bom, existe sim e começou até por causa do ensino, como a gente precisava de
um campo de prática para o ensino, foi a primeira motivação! Daí veio o projeto de extensão,
os bolsistas de extensão começaram a fazer pesquisas também lá dentro, então nós temos
hoje as três coisas articuladas e com a participação também de algumas estagiárias de
psicologia que atuam lá, de outros cursos da cidade, de outras faculdades, e da enfermeira do
serviço também. Então está bem articulado, e a gente publica artigos também como resultado
dessas pesquisas, e dos resultadas das ações do projeto de extensão.
Entrevistador: Você já deve ter colocado isso um pouquinho nessa fala, mas só
reforçando, quais a possibilidades formativas dos projetos para os discentes? De que
forma eles participam?
Entrevistada: Então, eles participam, de várias maneiras, enquanto alunos da graduação,
enquanto bolsistas do projeto, enquanto pesquisadores, e tem sido muito legal que a gente tem
percebido que a cada ano está aumentando o interesse dos alunos, por que saúde mental não é
um tema que atrai muito, a coisa da psiquiatria é vista sempre como muito pesada, tem muito
157
preconceito em torno disso. Eu acho que isso, inclusive é um dos grandes resultados para o
ensino, é essa possibilidade de aproximação de pessoas que tenham um transtorno mental sem
grandes receios, sem grandes preconceitos, e tem sido muito legal, porque a cada ano que
passa tem aumentado o interesse dos alunos, então a concorrência para as bolsas está
aumentando, ano passado a gente trabalhou... só tinha uma bolsa e a gente trabalho com seis
voluntários, esse ano eu pedi mais uma bolsa, vamos ver se vai vir mais uma, então um dos
recursos que a gente encontrou também foi abrir vaga para a monitoria, que também foi super
concorrida, então está sendo muito legal ver isso, como os interesses dos alunos aumento pela
área, inclusive.
Entrevistador: O projeto, ele planeja ações de cunho interdisciplinar? De que modo?
Entrevistada: Planeja, até pela própria característica do serviço, porque o (instituição
parceira), o princípio básico dele é o trabalho interdisciplinar, então ali, embora cada
profissional tenha sua especificidade, né, então só o médico é que faz a consulta, prescreve e
tudo mais, só psicólogo faz a terapia, só o enfermeiro faz a consulta de enfermagem e
administra medicação, mas todo mundo faz tudo, porque funciona com oficina terapêutica,
então tem oficinas de artesanato, de música, de pintura, de não sei o quê... e todo mundo é
monitor de tudo, é feito um plano de cuidado para os usuários, que é feito pela equipe, em
conjunto, então isso faz parte da filosofia do serviço.
Entrevistador: O projeto, ele pode ou já levou à realização de alguma nova pesquisa, que
tenha sido demanda lá daquele ambiente? Quais seriam?
Entrevistada: Então, uma das pesquisas que já foram feitas e a gente está retomando agora e
fazendo de novo para comparar com o que foi a cinco anos, foi o impacto da
“desospitalização”, por que os (instituição parceira) surgiram com um projeto de lei da
reforma psiquiátrica que prevê a diminuição gradativa dos leitos psiquiátricos em hospitais,
em manicômios, então a cinco anos atrás a gente fez uma pesquisa sobre esse impacto para os
usuários e para as famílias dos usuários e a gente vai repetir agora a mesma pesquisa, essa é a
pesquisa maior, fora as outras menores que a gente tem feito lá dentro.
Entrevistador: A execução do projeto provoca ou pode provocar mudanças curriculares
ou de foco nos conteúdos ministrados nos cursos envolvidos?
158
Entrevistada: Com certeza, a gente tem feito modificações principalmente na nossa disciplina
a partir dessas atuações lá a partir do projeto.
Entrevistador: A respeito do financiamento, como e por quem as ações em parceria tem
sido financiadas?
Entrevistada: Por ninguém, nós não temos financiamento, só tem bolsa, uma bolsa só e um
monte de voluntários... (risos), e é legal mesmo, porque está aumentando o número de
voluntários e eu usei isso até como argumento para ver se consigo, pelo menos, mais uma
bolsa agora.
Entrevistador:
A
respeito
do
desenvolvimento,
quais
as
dificuldades
na
operacionalização do projeto? Verificam-se entraves?
Entrevistada: Uma é essa: a gente não ter conseguido ainda financiamento, mas nessa área de
saúde mental é muito difícil mesmo, não é uma área privilegiada para financiamento,
normalmente financiamento vem muito para essas áreas que você trabalha com as questões de
mais impacto na sociedade, tipo na área de saúde, tipo AIDS, câncer, alguma coisa assim, a
saúde mental não é uma prioridade, então essa eu acho que é uma dificuldade nossa, mas não
é um empecilho, porque quem tá trabalhar lá é porque gosta e porque quer trabalhar... e a
outra, aí não é nossa, é mais deles, porque é de infraestrutura, porque como é um serviço da
(instituição parceira), eles também têm uma carência muito grande de recursos, então o prédio
é uma casa adaptada, que as vezes está de reforma para tudo quanto é lado, aí as vezes a gente
não tem sala direito para atender, é umas coisas assim, sabe, então gira entorno das questões
econômicas e financeiras. É muito precário, porque também para a (instituição parceira) eles
não são prioridades, né, prioridade para a (instituição parceira) é UTI Neonatal, é o HPS e
tudo mais...
Entrevistador: Continuando, houve necessidade de replanejamento? Se houve, como foi
feito? Por quem?
Entrevistada: É sim… o replanejamento grande, não, mas a gente tem feito no final de cada
ano, toda vez que vou mandar o relatório para a Pró-reitoria, eu faço o relatório junto com
159
eles, então a gente já vai fazendo ali os ajuste necessários para o ano seguinte, o que precisa
revê, replaneja, mas nada assim muito... que traga grandes modificações no projeto original
não.
Entrevistador: Já que você estava falando de relatório, indo para o lada da avaliação...
estavam previstas avaliações? Quais os processos de avaliação? Como aconteceram essas
avaliações?
Entrevistada: A gente tem dois tipos de avaliação lá, uma é rotineira, porque, até também por
conta da filosofia de trabalho do (instituição parceira), é necessário supervisão dos alunos que
trabalham lá, então uma vez por semana a gente se reúne com o pessoal do serviço para
avaliar as necessidades da semana, para ver se pode ser feito diferente para a semana
seguinte... essa é uma, então é um tipo de avaliação contínua que a gente faz. E a outra a gente
faz a cada semestre, exatamente antes de mandar o relatório para a ProEx, daí a gente faz uma
avaliação mais formal.
Entrevistador: Tanto a Universidade como parceiros participam do processo de
avaliação?
Entrevistada: Sim, a gente sempre faz juntos
Entrevistador: Você, como professora, tem intenção de realizar novos projetos
conjuntos? Com esse tipo de parceria?
Entrevistada: Com certeza, e nos tivemos um relacionamento muito bom lá dentro, de anos,
tem mais de dez anos, esse projeto ficou quatro anos parado, porque foi o tempo que eu tive
fora por conta do doutorado, mas quando eu retornei a gente retomou o projeto, então é uma
parceria já bem consolidada essa aí, muito bom para os dois lados, eu acho.
ENTREVISTA 14
Entrevistador: Inicialmente, para começar nossa conversa, eu gostaria de saber como
essa parceria aconteceu? Como que ela se iniciou?
160
Entrevistada: Nós temos um voluntário, no caso um dentista, que na época começou com o
atual (...), professor (da Ufjf), ele até veio aqui, e isso teve de ter uns quatro anos, eu acredito,
quatro, cinco anos, daí para mais. Esse dentista foi aluno dele, daí conversando com ele, ele
veio inclusive com ele aqui, aí surgiu a ideia de desenvolver algum projeto que de alguma
forma beneficiasse, ele nem era reitor ainda, a proposta era de fazer trabalho, e ele realmente
entrou como reitor e ai não teve como dar continuidade. E de lá para cá a gente tem esse
projeto, alguns períodos bem desenvolvido, outros, mal.
Entrevistador: Quais as modalidades de atividades planejadas para serem executadas
aqui? Como é a interação deles aqui dentro, fazem atendimento...
Entrevistada: Fazem atendimento, é um trabalho voltado para o atendimento e a questão da,
eu imagino que devam usar o termo prevenção, aí ensinam escovação e fazem o atendimento
no consultório, e houve também períodos que eles faziam encaminhamento para atendimento
lá em cima no consultório da Universidade.
Entrevistador: A respeito da organização do projeto, como foi planejado aqui, eles
conversaram, já vieram...
Entrevistada: Já veio pronto, basicamente assim, nós encaixaram em alguma coisa que já
existia para esse atendimento, e os estagiários, os acadêmicos começaram a fazer esse
atendimento no consultório aqui.
Entrevistador: Esse projeto visa responder quais tipos de problemas? Qual seria o
objetivo principal?
Entrevistada: É só o tratamento odontológico mesmo, que é totalmente precário na cidade.
Entrevistador: A respeito da execução das atividades, é algo eventual, ou é mais
contínuo, como é essa questão temporal na hora de serem realizadas as atividades do
projeto?
Entrevistada: Esse período não começou ainda.
161
Entrevistador: E isso acontece com muita frequência...
Entrevistada: Tem período que é melhor e tem período que é pior, por exemplo, estamos em
maio, junho já entra de férias de novo, então, pelo jeito, a gente não vai ter, não vai acontecer
nesse período, tem período que é bem fraquinho, e tem período que começa: setembro, e aí
vai e novembro já terminou, outras vezes começa em março, no primeiro semestre do ano
passado foi bom, foi um período maior, começou em março, a menina que estava foi até, acho
que parece 17 de julho, ela já estava de férias na Federal e ela continuou a atividade dela aqui.
Entrevistador: Qual a expectativa de vocês ou avaliação pela execução do projeto pela
Universidade aqui?
Entrevistada: A expectativa que a gente tem é que o benefício é muito grande, e realmente
existe um posto de saúde no Santa Efigênia, que atende alguns casos de emergência, que a
pessoa tem que chegar quatro horas para poder ficar na fila e conseguir marcar. Criança é
mais difícil ainda, vai apodrecendo os dentes e vai ficando, então a nossa expectativa, o
período em que o trabalho é desenvolvido de acordo, muitas crianças são beneficiadas. Os
encaminhamentos que são dados, porque a gente ainda passa... igual, elas encaminham e a
gente dá o respaldo da passagem, então eles não deixam de ir por esse motivo. Tem uma
criança nossa em tratamento lá, que foi marcado direto e continua, então a gente dá todo esse
apoio para a pessoa ir, raio X, tudo que é feito, então ajuda muitíssimo, aí quando não
acontece...
Entrevistador: Vocês acompanham a execução do projeto? De que forma seria,
acompanham presencialmente, tem um tipo de relatório...
Entrevistada: Tem um tipo de chamada, tem, a professora (professor orientador) liga, no
período que está acontecendo ela liga, igual no final do período passado ela entrou em contato
comigo, eu passei para ela, em termos até de número, a quantidade de atendimento, e a gente
tem todos esses dados, porque inclusive a gente também passa para a nossa sede todos esses
atendimentos que são feitos.
Entrevistador: Quais as dificuldades de operacionalização do projeto? Verifica-se algum
tipo de entrave? Alguma dificuldade?
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Entrevistada: A única dificuldade que a gente tem aqui, mas não sei se é do desenvolvimento
do projeto, porque também depende do objetivo do projeto, é que nós não temos raio X, então
tem determinas atividades que elas não podem ser feitas.
Entrevistador: Durante a participação dos estudantes, os acadêmicos da Universidade,
como tem sido o envolvimento desses discentes? É uma participação mais ativa, direta...
Entrevistada: Também é cíclico, depende de quem está naquele período. Como falei, a moça
que foi no primeiro semestre do ano passado tava tendo um envolvimento imenso, uma
disponibilidade, uma boa vontade, nem coloco uma boa vontade de vir várias vezes, de vir
além não, digo assim, no momento em que está, realmente há muita disponibilidade. E outras
pessoas não, elas vêm, fazem o que tem que fazer e tchau, e vão embora, as vezes, igual o
caso, até cheguei a conversar isso também: vir três acadêmicas, o consultório é pequeno,
como que três? Não tem como, fica prejudicado as crianças, porque se fosse em um outro dia
mais crianças seriam atendidas.
Entrevistador: Essa participação dos acadêmicos, é uma participação mais direta, ou são
auxiliares, a professora vem junto?
Entrevistada: Não, eles vêm sozinhos.
Entrevistador: O número de estudantes envolvidos, o que vocês acham: é suficiente? Ou
é um número muito grande?
Entrevistada: Não, eu acho pequeno, eles normalmente são três, aí vêm as vezes, nos temos o
consultório e fica vazio a semana inteira, as vezes é atendido duas vezes por semana apenas,
quando vêm duas vezes.
Entrevistador: Quando foi iniciado o projeto, estava previsto algum tipo de avaliação foi
realizada diretamente com vocês?
Entrevistada: Não, não...
163
Entrevistador: Ocorreu alguma análise de resultados? Análise de metas prefixadas?
Entrevistada: Não, no ano passado, dezembro, foi a primeira vez que a professora (professor
orientador) me ligou e me pediu algumas informações sobre o atendimento, então não.
Entrevistador: Os resultados foram alcançados como previstos, ao longo do tempo que
foram realizados os atendimentos? Estavam sendo satisfatórios?
Entrevistada: Ah, como eu te respondi, tem período que sim e tem período que não, tem
período que é um atendimento excelente, tem período que fica a desejar.
Entrevistador: Vocês têm intenção de realizar novos projetos conjuntos, com esse tipo de
parcerias?
Entrevistada: Com certeza, acho extremamente bem-vindos.
ENTREVISTA 15
Entrevistador: Primeiro, o que eu gostaria de saber é como se iniciou essa parceria?
Queria saber um pouquinho desse processo e o qual seria o objetivo dessa parceria?
Entrevistada: Bom, o início da parceria é que eu conheço o professor (professor orientador) há
mais de vinte anos, então ele já trabalhou aqui na Secretaria de Saúde, conhece o meu
trabalho, que eu sempre trabalhei com Unidade Básica de Saúde, fazendo territorialização. E
já houve, antes desse, outros projetos, outras parcerias, então o início desse é por justamente
eu já ter um conhecimento prévio, muito antigo, e de uma necessidade. Basicamente, esse
projeto veio casar o que o professor (professor orientador) estava pensando em termos,
principalmente da cidade alta, de desenvolver projetos comunitários, e uma necessidade da
(instituição parceira), que era basicamente saber qual era a população real do entorno do
Campus, das unidades do entorno do Campus. Desde o senso de 2000 a gente trabalhou com
população por estimativa e por ser uma região da cidade que cresce muito, eu tinha essa noção
de que mesmo estimando estaria bem abaixo do que deveria ser lá. E disso teve uma
preocupação, principalmente por nosso interesse em implantar a Saúde da Família na maioria
das Unidades, e é muito difícil você fazer esse tipo de trabalho, de implantação da Saúde da
Família, num território que você não sabe qual é a população, pelo menos para você tentar
164
aproximar o máximo do real, e lá, em São Pedro, Santos Dumond e Borboleta, eu tinha
certeza de que estaria muito aquém da real população. E conversando com o (professor
orientador) eu coloquei para ele essa minha preocupação, então ele estava pensando um
projeto, então juntos com esse projeto vamos tentar amarrar essa questão, para tentar
aproximar em termos de população uma ideia bem mais próxima da população que se tem.
Então esse início começou disso, de vários encontros que tenho com o (professor orientador)
e até outros trabalhos que eu desenvolvo com ele dentro da Universidade. Então, quer dizer,
são trabalhos assim esporádicos desses 20 anos... e a minha necessidade, da Secretaria de
Saúde, de saber a real população das Unidades, então começou por aí, de conversas que são
20 anos de conhecimento, mas de conhecimento pessoal.
Entrevistador: Qual a modalidade de atividades planejadas? Como que se dá a
participação dos dois lados nesse projeto?
Entrevistada: Olha só, nesse projeto toda a estrutura, de vale-transporte, estagiário,
financiamento, tudo veio da Universidade Federal, todo o suporte do projeto veio da
Universidade Federal. O (professor orientador) criou um instrumento de contar essa
população, que está dentro do próprio projeto, a discriminação do que se propõe o projeto está
lá, está escrito, então os questionários, as entrevistas para serem aplicadas para a população...
Então ouve toda uma preparação. A Universidade chegou com todo o suporte, e eu disse que
com a (instituição parceira) não adianta querer recurso que não consegue, em serviço público
municipal é muito difícil você conseguir alguma contrapartida em termos de recursos, e tudo
isso tem que vir da Federal e está tudo descrito no projeto como um todo. Então eu participei
de que forma? Participando do treinamento desses acadêmicos, falando o que seria
territorialização, falando qual seria o objetivo, do que a (instituição parceira) estaria
interessada, e treinando. Então a gente fez várias reuniões com os estudantes para uniformizar
como é que seria a fala, para eles entenderem o porquê de se falar em território, qual que é a
história desse processo dentro da saúde pública? Então eu coloquei para os estudantes que iam
estudar desse processo isso aí. E eles me passaram como seria a metodologia: trabalharia com
setor censitário, teria um percurso definido... se tentou amarrar metodologicamente a melhor
forma de executar.
Entrevistador: Essa comunicação entre vocês era algo mais eventual? Contínua? Como
era a programação? De quanto em quanto tempo vocês se reuniam?
165
Entrevistada: Não tinha... pelo menos eu posso falar da minha parte, não tinha um tempo
definido não: “ah, uma vez por mês...”, não! O (professor orientador) preparava o material,
que ele que desenvolvia o projeto, e ele me ligava e dizia: “oh, vamos nos reunir, qual data
que você pode?”, para a gente acertar com os estudantes, para serem treinados... então aí eles
partiam para a execução. As vezes “precisamos de marcar de novo para dar um retorno e ver
isso assim e assim”, então não tinha regularidade não, é claro que tinha regularidade ele com
os estudantes, mas não tinha regularidade comigo, porque dentro do projeto eu entro como
colaboradora externa. Existe também os colaboradores, existem as pessoas de dentro da
Universidade, então entre eles eu acredito que tenha tido uma regularidade de encontros e
etcs, mas isso eu falo em relação a mim. Então eu entrava no projeto nos momentos que havia
necessidade, então era essa a minha comunicação.
Entrevistador: Podemos dizer que seja uma intervenção mais direta por parte do pessoal
da Universidade? E vocês dando um suporte de como deveria ser feito...
Entrevistada: Olha só, eu vejo esse projeto assim: a Universidade tocou o projeto inteiro, o
tempo todo, a (instituição parceira) entrou com a minha participação, com o suporte de
esclarecer algumas dúvidas, por exemplo, como é questão de território, algumas dúvidas do
que seria território, como é que estaria hoje o território da Cidade Alta... É claro que o projeto
em si é muito mais amplo do que aonde ele chegou. Por exemplo, a proposta de quarta-feira
que vem é de encontrar com eles para tentar dar continuidade, ver o que a Universidade está
pensando em dar continuidade e no que a (instituição parceira) está pensando. Porque o
objetivo nosso é contar a população do entorno para eu aproximar essa população da minha
realidade, isso já foi feito, foi realizado, inclusive, reuniões com a participação da
comunidade, dos conselheiros locais de saúde das três Unidades Básicas. Foi feito reuniões
com os profissionais, com os agentes, quer dizer: houve encontros, que foram encontros
definidos e marcados para que, como os estudantes iam sair pelas comunidades, então eles
tinham que tomar ciência do processo, saber que tem, em tais dias assim, em determinada
época, em uma data definida, que tantos estudantes iriam percorrer as ruas dos trechos dos
bairros, realizando isso. Então a comunidade teve esse conhecimento. Então houve essa
participação da população, sim. O projeto, ele é muito mais amplo do que isso, esse é um
projeto que tem a intenção de desenvolver junto à comunidade projetos de cooperativas, sabe
assim... enfim! E os conselheiros, pessoal da comunidade, tendo esse conhecimento, e tem
166
interesse nisso. Então houve várias reuniões da Universidade com as comunidades, que a
(instituição parceira), por exemplo, eu não participei, então esse projeto correu muito
Universidade Federal e comunidade e tal, então assim, a minha entrada foi esporádica.
Entrevistador: Vocês acompanhavam o desenvolvimento do projeto de que forma?
Presencialmente, conversando ou tinha alguma documentação...?
Entrevistada: Com reuniões marcadas! Os encontros para apresentação dos resultados do que
já tinha sido feito, na própria Universidade Federal foi feito tipo um seminário, um encontro
maior em que os acadêmicos levaram os dados que eles coletaram, vários departamentos
estavam interessados em desenvolver algum tipo de trabalho nessas comunidades. E também
se apresentou alguma proposta, alguma ideia do que se poderia vir a fazer. E os conselheiros,
os representantes dessas comunidades foram convidados para participar e tudo, então foi feito
contagem dos domicílio, foi feito algumas entrevistas para fazer alguns levantamentos de
necessidades, que não deu para consolidar. O que deu para consolidar? A contagem dos
domicílio, teve-se uma reunião, um encontro, com todos que participaram da comunidade
para mostrar o resultado. Então se reuniram para mostrar até onde esse projeto foi.
Entrevistador: Haviam sido fixadas algumas metas e prazos? Como foi com relação a
isso?
Entrevistada: Olha só, tinha alguns prazos no sentido de que foi definido o cronograma e se
definiu assim: “no mês tal seriam realizada a contagem”, mas assim, como eu te falei, eu não
acompanhei esse projeto de perto não. É claro que tinha prazos, que tinha datas que o
(professor orientador) desenvolveu junto com a Universidade, mas eu não acompanhei isso.
Entrevistador: Houve alguma dificuldade na operacionalização do projeto? Teve algum
tipo de entrave?
Entrevistada: Olha, eu não tenho conhecimento, assim: foi feito um prazo para fazer a
contagem dos domicílios. Eu peguei esses dados, inclusive são dados que eu já estou
utilizando no serviço, que são úteis inclusive, para você ter uma ideia: a questão populacional
no serviço público ela é fundamental, porque é a partir dessa população que a gente pode
planejar e programar todas as ações, tipo assim, vacinas, que tipo de vacinas, a quantidade de
167
vacinas que eu tenho que enviar. Ou, por exemplo, para eu saber a cobertura vacinal eu
preciso da população... o mesmo com medicamentos. Então é uma coisa fundamental para o
serviço público saber bem próxima essa população, essa contagem que foi feita, porque a
partir disso a gente pode melhorar o nosso trabalho em termos de programar, de planejar...
porque tinha uma discrepância, eu tinha uma população, que era bem abaixo, e a necessidade
real era totalmente diferente. Bom, com uma população de 12 mil você gastaria tantos
Carpitopril, que é uma porcentagem da população idosa, acima de 12 mil é isso, né... e depois
na realidade são 24 mil... Entendeu como é que é, depois da contagem se chegou à conclusão
de que é quase 24 mil, então muda tudo.
Entrevistador: Podemos dizer que é um tipo de projeto que pode interferir ou auxiliar
na proposição de políticas públicas para o setor?
Entrevistada: Eu acho que auxilia, porque se você tem a questão populacional como base de
tudo que você vai desenvolver dentro de uma unidade básica, ele altera, porque é
fundamental: se você não tem uma população real, você fica trabalhando com dados que você
começa a perceber que começa a falhar, começa a dar entreve. Então tem tal medicamento
para essa população... aí quando você vê você põe lá, “nossa sumiu”, é claro que vai sumir...
Entendeu? Fica complicado.
Entrevistador: A respeito do número de estudantes envolvidos, você acha que foi
suficiente?
Entrevistada: Para fazer a contagem populacional eu acho que foi suficiente, sim, porque eles
estavam programando de terminar de ir a campo em um período e eles concluíram sim. Quer
dizer: essa é a minha visão que eu tenho de externa, quem acompanhou diretamente, bem de
pertinho, foi o (professor orientador).
Entrevistador: Até agora, quais as expectativas ou uma avaliação sobre o que já
aconteceu a respeito da execução desse projeto?
Entrevistada: Olha, a questão é o seguinte: na semana que vem a gente vai reunir para ver o
que que pode dar continuidade: foi feita a contagem, parou, mas tem a proposta de
levantamento de interesses, de necessidades, de qualidade de vida, que foi um questionário
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que o (professor orientador) preparou por amostragem, foi feito esse levantamento, mas não
conseguiu-se fazer uma consolidação dessas informações, houve alguns problemas técnicos, e
que a proposta é, a partir de semana que vem, tentar ver se resga esse levantamento, porque já
se tem os endereços, as pessoas, já se tem a amostra. Então a ideia que o (professor
orientador) me colocou é de que vamos dar continuidade ao projeto, vamos dar continuidade
de fazer essas entrevistas, porque a partir dessas entrevistas a ideia é de desenvolver. Porque
junto desse projeto sai outros, por exemplo, de economia doméstica, enfim... as possibilidades
são amplas, e para isso a comunidade está bem interessada, os conselheiros estão bem
interessados, porque a proposta é desenvolver questão de renda para a comunidade.
Entrevistador: Você tem intenção de realizar novos projetos conjuntos com esse tipo de
parceria?
Entrevistada: Ah sim! A gente tem n projetos aí, estamos até aí com um projeto lá da
Faculdade de Enfermagem, os estudantes de enfermagem já estão aí com um projeto de
extensão também, vendo a questão de gestão... Estamos sempre fazendo (risos).
ENTREVISTA 16
Entrevistador: Como aconteceu a parceria?
Entrevistado: Eu sei que o professor (professor orientador) participou aqui de uma parceria
aqui conosco e fez nove planos diretores conosco aqui.
Entrevistador: Você sabe as atividades de planejamento dos planos diretores foram
elaboradas em conjunto?
Entrevistado: Foi, mas naturalmente os técnico são deles. Pesquisa de campo e essas coisas.
Tivemos a parceria juntos, mas a pesquisa de campo foi toda deles, os dados técnicos com
toda a pesquisa, a conversação, elaboração toda deles. Deles que eu falo é da equipe dele.
Entrevistador: Quais problemas essa parceria estaria tentando responder?
Entrevistado: É a falta de planejamento urbano que os municípios não têm na nossa região, a
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maioria deles foi crescendo desordenadamente, alguns entorno de velhas estações rodoviárias.
Então eles não têm nada de planejamento, de loteamento, com dificuldades terríveis de áreas
públicas, as construções totalmente irregulares, lotes que não são padronizados, dificuldades
de vias de acesso, tudo errado, por que? não teve planejamento.
Entrevistador: por acaso, quais foram os objetivos a serem alcançados, foram traçadas
metas?
Entrevistado: Foram traçadas metas nos planos diretores. E parece que inclusive só um ainda
não foi aprovado como lei. Os outros foram aprovados como lei e agora fazem parte do
ordenamento urbano dos municípios. É muito importante o trabalho, é importante o
planejamento, qualquer planejamento.
Entrevistador: No planejamento dessas ações, foram realizadas ações eventuais ou mais
contínuas?
Entrevistado: Foram ações programadas. Algumas as prefeituras tiveram dificuldades para
cumpri-las. Também foram solucionadas a médio prazo, mas todas programadas foram
efetivadas.
Entrevistador: Nessa programação, como foi a participação de vocês, vocês ajudaram a
elaborar essa programação?
Entrevistado: nó ajudamos a apoiar a programação. A programação foi feita pela
Universidade, apresentada à prefeitura e nós, juntos com a prefeitura, tentávamos com que a
programação se efetivasse.
Entrevistador: qual a expectativa ou avaliação que vocês têm com relação à execução do
projeto pela Universidade?
Entrevistado: o projeto, no meu entendimento, ficou muito bom, pena que nós só fizemos
nove municípios. O professor (professor orientador), inclusive, conversando comigo pediu até
o que nós começássemos a pensar a revisão desses planos, mas a gente tem o problema
eleitoral, que os prefeitos estão indo embora no ano que vem. Aí eu não sei se é o momento
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para conversarmos com eles, ou se deixaria para o próximo mandato para pegarmos já os
prefeitos novos e fazermos a revisão dos planos diretores. Precisa ser revisto, né, já tem algum
tempo, tem expansão o urbana, então é natural que se precise revisar.
Entrevistador: a respeito do desenvolvimento, de que forma vocês acompanharam a
execução do desse projeto? foi algo preferencial, com relatórios, com frequência...
Entrevistado: foram reuniões periódicas e com presença nos locais das audiências públicas.
Entrevistador: quais as dificuldades na operacionalização do projeto? verificou-se
algum tipo de entrave?
Entrevistado: verificou por parte das prefeitura que não conseguiram acompanhar o
deslocamento dos alunos, isso foi a maior dificuldade que nós tivemos, foi da nossa parte, não
foi da Universidade, que era contra-partida das Prefeituras, que, não vou dizer todas, algumas
não conseguiram acompanhar.
Entrevistador: O senhor saberia me falar sobre o envolvimento dos acadêmicos, se foi
uma participação mais ativa, mais...
Entrevistado: Não, os alunos participaram muito do trabalho, estavam entusiasmados,
participaram muito bem, foram excelentes alunos aqui, pode falar excelente.
Entrevistador: Você acha que o número de estudantes envolvidos foi suficiente?
Entrevistado: foi, foi...
Entrevistador: foram previstas avaliações conforme fosse realizadas as ações?
Entrevistado: Estavam, estavam! Foi bem programado, não teve assim nem desvio de
programação... foi bem programado...
Entrevistador: Sobre resultados, estavam previstas análises dos resultados com a
realização do projeto?
171
Entrevistado: na parte do resultado, no meu entendimento, faltou recursos para
acompanhamento a posteriore, se tivesse recurso financeiro para acompanhar o projeto
depois, na Câmara, fazer uma comunicação dele com os funcionários das prefeituras e com a
comunidade em geral, eu acho que ficou faltando isso, simplesmente por falta de recursos,
não tinha recursos disponíveis para isso.
Entrevistador: De que forma o senhor acredita que esse projeto possa auxilar ou
interferir na proposição de políticas para o setor?
Entrevistado: ah, ele é muito importante, porque ele define e ordena a ocupação urbana, sem
ele continua tudo desordenado, como tava, então se você começa a organizar através de um
plano diretor, de planejamento de ocupação urbana, de setorizar as áreas de ocupação com
área industrial, com área de lazer etc, eu acho tudo isso importantíssimo, muito importante.
Entrevistador: O senhor teria intenção de realizar novos projetos em conjunto, desse
tipo?
Entrevistado: com a Universidade teria, com a equipe do professor (professor orientador) teria
sim, o problema nosso é recurso. inclusive eu conversei em Belo Horizonte, na semana
passada a respeito disso, na secretaria que cuida disso, que é a Secretaria de Desenvolvimento
Regional Urbano, para eu ver se eu arruma algum recurso lá e eles me disseram que tá muito
difícil recurso esse ano lá para esse assunto, então morreu a nota. É... teríamos que procurar
em outros endereços, e acho que nós precisamos revisar esses planos e continuar com essa
ação e agora eu peço que da próxima vez nós temos que pensar uma maneira de fazer uma
comunicação com os funcionários das prefeituras para eles ficarem envolvidos, pois eu achei
que eles ficaram um pouco alijados do processo, no meu entendimento. Isso depois que o
processo foi montado, e ele foi muito bem montado, com a comunidade participando, com
audiência pública e tudo. Mas depois eu acho que nós tínhamos que interiorizar isso dentro da
(instituição parceira). E acho que não interiorizou por falta de recursos, o recurso foi muito
pequeno.
Entrevistador: então seria recurso para continuar...
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Entrevistado: o primeiro passo foi de rever o projeto dentro da (instituição parceira), e isso
faltou, para os funcionários das (instituição parceira)s comprarem realmente aquilo. E agora,
já passado algum tempo, nos precisamos de fazer uma revisão dele, porque, se não, ele não
acompanha a realidade da coisa, e falta recurso.
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Completa - Universidade Estácio de Sá