Fenobarbital profilático e resfriamento completo do corpo na encefalopatia hipóxico-isquêmica Prophylactic Phenobarbital and Whole-Body Cooling for Neonatal Hypoxic-Ischemic Encephalopathy Donald F. Meyn Jr., Jayne Ness, Namasivayam Ambalavanan and Waldemar A. Carlo J Pediatr (August) 2010;157: 334-336 Internato em Pediatria – HRAS/SES/DF Ana Flávia Alves Bittar Coordenação: Paulo R. Margotto www.paulomargotto.com.br 29/8/2010 Introdução A encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) é uma importante causa de morbidade e mortalidade neonatal. Recentes estudos randomizados têm demonstrado que a hipotermia terapêutica reduz a morbidade e mortalidade em crianças nascidas a termo com diagnóstico de EHI. Anticonvulsivantes profiláticos também foram investigados para a prevenção de crises e a preservação do potencial de desenvolvimento neurológico. O presente estudo retrospectivo foi concebido para testar a hipótese de que a administração profilática de fenobarbital para recém-nascidos com EHI submetidos ao resfriamento de todo o organismo reduz o comprometimento neurológico (NDI) ou morte. Metodologia Foram incluídas todas as crianças submetidas a hipotermia de corpo inteiro, de um único centro de referência (Universidade de Alabama) entre os anos de 1999 e 2007. Os pacientes foram classificados em dois grupos, com base receberam, ou não, fenobarbital profilático. Todos os examinadores do seguimento foram cegos para o uso do fenobarbital profilático. A análise multivariada foi realizada através de regressão, seguida pela regressão logística múltipla das variáveis identificadas usando Sigmastat. A significância foi estabelecida em 0,05. Resultados 42 crianças foram submetidas a hipotermia em todo o corpo no período de 1999 a 2007. Vinte destes também receberam uma única dose de fenobarbital profilático. A crianças no grupo do fenobarbital profilático alcançaram uma temperatura corporal de 33,5°C em ± 3 horas após o nascimento, e os do grupo controle alcançado 33,5 ° C em ± 5 horas (P = 0,03, Tabela I). Tabela I Características Neonatais Birth weight (g) Gestational age (wks) Male sex Race White Black Other Emergent cesarian section Outborn Intrapartum complications Abruption Decreased fetal heart tones Vacuum/forceps extraction Uterine rupture Shoulder dystocia Unknown Apgar score <5 1 min 5 min 10 min Cord pH (mean) First infant pH (mean) Base deficit (mmol/L) Time 33.5°C reached (hours after birth) Initial phenobarbital dose (median, mg/kg) Time given (mean hours after birth) Median total phenobarbital dose before discharge (mg/kg) Prophylactic phenobarbital and whole-body cooling (n = 20) Whole-body P value cooling (n = 22) No. (%) 3167 ± 643 38 ± 1 11 (55) No. (%) 3215 ± 835 38 ± 2 9 (40) .7 .3 .5 6 (30) 9 (45) 5 (25) 15 (75) 10 (50) 10 (45) 11 (50) 1 (5) 17 (77) 16 (73) .5 .3 .5 .9 .2 4 (20) 9 (45) 3 (15) 2 (10) 2 (10) 0 8 (36) 7 (31) 4 (18) 1 (5) 1 (5) 1 (5) .2 .4 .9 .5 .5 .9 20 (100) 18 (90) 16 (80) 6.90 ± 0.12 7.10 ± 0.20 16 ± 6.7 21 (95) 16 (73) 14 (64) 6.77 ± 0.18 7.09 ± 0.30 16 ± 7.5 .2 .3 .6 .2 .7 .8 3±2 5±2 .03 40 20 <.0001 5±4 5 ± 11 .1 40 43 .9 Resultados O seguimento foi realizado por 18 a 46 meses para 17 pacientes no grupo profilático fenobarbital, e por de 18 a 49 meses para 21 pacientes no grupo controle. No grupo profilático, 23% das crianças apresentaram NDI moderada a grave ou morte em comparação com 45% das crianças do grupo controle (P = 0,3). Quinze por cento daqueles que receberam fenobarbital profilático foram diagnosticados com crises convulsivas durante o curso da UTIN em comparação com 82% dos indivíduos controle (P <0,0001, Tabela II). Não houve diferenças significativas nos pacientes observados no uso de fenobarbital ou da taxa de NDI, no período de 7 anos. TABELA II Death or moderate to severe NDI at >18 mo Death Seizure in the NICU First seizure in the first 24 hours of life First seizure after the first 24 hours of life Multiple days of seizure Discharged on phenobarbital Days until discharge (mean) Required intubation Prophylactic phenobarbital and whole-body cooling Whole-body cooling No. (%) No. (%) 4 (23) (n = 17) 9 (42) (n = 21) .3 0 (0) 3 (15) 3 (14) 18 (82) .3 <.0001 1 (5) 14 (64) <.0001 2 (10) 4 (19) .3 3 (15) 2 (10) 17 ± 12 16 (80) 8 (37) 10 (45) 21 ± 17 17 (77) .1 .01 .4 .8 P value Resultados A análise multivariada identificou maior peso ao nascer (odds ratio 0,998/g, P: 0,046), maiores escores de Apgar de 5 minutos (0.462/point, P: 0,005) e fenobarbital profilático (0,069, P: 0,03 ) como associado com o resultado melhorou. A equação de regressão logística múltipla foi: Logit P: 7,724 - (0,0016 * PV (g)) - (0,773 * Apgar de 5 minutos) - (2,678 fenobarbital profilático *). A sensibilidade do modelo é de 85%, a especificidade é de 91% e o valor preditivo positivo é de 85%. Discussão Estudo realizado para determinar se a adição de fenobarbital ao resfriamento de todo o corpo proporcionou maior efeito neuroprotetor. Descobrimos que o fenobarbital profilático combinado com o resfriamento de todo o corpo reduziu convulsões clinicamente detectáveis, mas não melhorar significativamente o desfecho neurológico por meio de análise univariada, embora a análise estatística multivariada sugeriu que o uso do fenobarbital foi associado com melhores resultados. Discussão O resultado que mostra que as crianças do grupo profilático alcançaram uma temperatura corporal de 33,5 °C aproximadamente duas horas mais cedo do que os indivíduos de controle representa potencial fator de confusão. Uma análise mais aprofundada do grupo controle não revelou nenhuma diferença no resultado entre os refrigeração inferior a três horas desde o nascimento e os de refrigeração 3-6 horas após o nascimento. Conclusão O uso de anticonvulsivantes profiláticos para neuroproteção em lactentes com HIE é controversa. A droga mais eficaz, a sua dose e tempo de administração não são conhecidos. Apesar de anticonvulsivantes poderem causar aumento da apoptose neuronal em modelos animais, convulsões neonatais associamse com pior NDI. O tratamento de HIE com anticonvulsivantes profiláticos em vigência de hipotermia pode interromper a cascata de injúria neuronal. Um grande estudo multicêntrico randomizado controlado com longo prazo de acompanhamento neurológico é necessário para confirmar o benefício do incremento da profilaxia anticonvulsivante para o reduzir ou evitar o comprometimento neurológico. Referências: 1 C. Robertson, N. Finer and M. 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