Levetiracetam para o tratamento de convulsões neonatais Levetiracetam for treatment of neonatal seizures J Child Neurol. 2011 April ; 26(4): 465–470. Nicholas S. Abend, Ana M. Gutierrez-Colina, Heather M. Monk, Dennis J. Dlugos and Robert R. Clancy Apresentação: Carla Regina Silva Araújo Coordenação: Paulo R. Margotto Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS/SES/DF) Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul www.paulomargotto.com.br Brasília, 22 de agosto de 2012 INTRODUÇÃO • Levetiracetam é um medicamento antiepiléptico usado no manejo da epilepsia crônica e é aprovada pela FDA em crianças maiores que 4 anos • Parece também ter papel no manejo de crises epilépticas agudas sintomáticas e status epilepticus em crianças maiores e adultos • Ensaios randomizados controlados não avaliaram o uso desse medicamento em crianças criticamente enfermas (inclusive neonatos) • Levetiracetam é comumente usado off-label para convulsões neonatais MÉTODOS • Estudo retrospectivo de coorte • Neonatos com crise epiléptica eletrograficamente confirmada que receberam Levetiracetam para crises eletroclínicas ou somente eletrográficas (subclínicas ou não convulsivas) no Newborn Infant Intensive Care Unit of The Children’s Hospital da Filadélfa no período de 1 ano (Out 2008-Out 2009) MÉTODOS • Os dados foram obtidos por revisão das gravações eletrônicas do Hospital e revisões de gravações dos eletroencefalogramas • Dados recolhidos: • Dados demográficos: história gestacional e de nascimento, idade • • • • gestacional, idade pós-natal e etiologia da crise epiléptica neonatal Comorbidades (cardiopulmonar, renal etc) Tipos de convulsão (para as eletroclínicas) Duração eletrográfica da crise Administração de medicação anticonvulsivante (sequência das drogas, intervalo de tempo, dose, duração e relação com alteração eletrográfica) • Todos os neonatos foram monitorizados do ponto de vista cardiopulmonar e eletroencefalográfico (continuado até 24h após a convulsão) MÉTODOS • Dose inicial: 10-20mg/kg em bolus (15min) • Dose de manutenção: 2x/dia (concentração 20mg/ml) • Níveis séricos da droga não foram obtidos • Efeitos cardiopulmonares foram considerados presentes se após 2 horas da administração da droga houvesse registro de dessaturação, queda do padrão respiratório, aumento do suporte ventilatório, arritmias, aumento de pressão arterial ou frequência cardíaca (ou queda em mais de 10%), início ou aumento de vasopressores • Levetiracetam foi considerada efetiva se a administração foi associada com uma redução maior que 50% nas convulsões eletrográficas até 24h de tratamento RESULTADOS • 23 neonatos: 11 meninos e 12 meninas • Idade gestacional média: 38,7 +- 1,7 semanas (35-41) • Idade pós-concepcional média de administração: 40,7 +- 1,5 (38-42) • Idade pós-natal de administração: 14 +- 13 dias (0-41) RESULTADOS • Etiologias das crises epilépticas neonatais: encefalopatia hipóxico-isquêmica (8), desordens genéticas/metabólicas (4), malformações cerebrais (3), infecção do sistema nervoso central (3), acidente vascular, convulsões criptogênicas (2) e tumor (1) • Tipos de convulsões clínicas: focal ou multifocal, clônica ou tônica (18), convulsões sutis (5) e apneia com dessaturação (2) • Crises epilépticas somente eletrográficas (não convulsivas): 13 neonatos • 12: status epilepticus • 10: praticamente somente crises não convulsivas RESULTADOS • Levetiracetam • 1ª linha: 4 neonatos (17%) • 2ª linha: 14 neonatos (61%) fenobarbital • 3ª linha: 5 neonatos (22%) fenobarbital e fenitoína • Dose inicial média: 16+-6 mg/kg (5-22) • Dose máxima média: 45+-19 mg/kg/dia (10-80) RESULTADOS • Nenhum efeito adverso cardiopulmonar sério foi identificado • Nenhum paciente teve o tratamento descontinuado devido a efeitos adversos • Tratamento efetivo (melhora em mais 50% até 24h): 8 (35%) • Resolução: 7/8 (88%) • 1ª linha: 1 ; 2ª linha: 5; 3ª linha: 2 • Melhora com 24-72h: 4 (17%) • Resolução: 2/4 (50%) • Ausência de resposta: 8 (35%) • Não puderam ser avaliados: 3 (13%) – receberam tratamento após cessarem as convulsões • Dose máxima diária não foi significativamente diferente entre os neonatos com ou sem tratamento eficaz (p=0,78) RESULTADOS • Dos 21 pacientes que sobreviveram até a alta: 17 (81%) saíram com Levetiracetam • 8/8 que tiveram tratamento efetivo (5 somente com Levetiracetam e 3 com fenobarbital associado) • 8/12 que tiveram resposta após 24h (5 associado a fenobarbital e 3 associado a fenobarbital e topiramato ou fenitoína) • 1/3 sem eficácia de tratamento (somente levetiracetam) DISCUSSÃO • Dados atuais sugerem que Levetiracetam é comumente recomendada por neurologistas pediatras no manejo das convulsões neonatais, à despeito da escassez de dados sobre segurança, tolerabilidade e eficácia • Esse estudo não identificou nenhum efeito cardiopulmonar sério e nem teve descontinuidade por efeitos adversos • Essa droga se associou com melhora das crises epilépticas em 35% dos neonatos, dos quais 88% tiveram resolução completa DISCUSSÃO • Segurança: farmacocinética da droga sugere que ela pode ser útil para controle das crises epilépticas em neonatos criticamente enfermos • Levetiracetam tem mínima ligação à proteína • Neonatos possuem baixa proteína sérica – drogas altamente ligadas às proteínas (ex: fenitoína) podem levar à toxicidade devido à elevada concentração de droga livre • Neonatos criticamente enfermos geralmente estão em uso de diversos fármacos Levetiracetam não tem interação com citocromo P-450 DISCUSSÃO • Em crianças epilépticas, bolus intravenoso dessa droga acima de 60mg/kg administrado por 5-6 minutos, atingiram nível sérico de mais de 100mg/ml, sem mudanças significativas na pressão arterial, anormalidades eletrocardiográficas ou reações no sítio de infusão Pode sugerir um possível papel no manejo das crises agudas • Séries de casos e relatos de casos descreveram tolerabilidade e possível eficácia de Levetiracetam para crises epilépticas neonatais • Há ligeiramente mais dados para crianças maiores DISCUSSÃO • Não há estudo prospectivo comparando levetiracetam a outros anticonvulsivantes • Um número crescente de relatos de caso e séries de casos retrospectivos proporcionaram evidência adicional de que levetiracetam pode ser segura e efetiva para tratar status epilepticus e convulsões agudas repetitivas em crianças não-neonatais DISCUSSÃO • Limitações: • A natureza retrospectiva da revisão dos prontuários limita as conclusões sobre segurança e tolerabilidade • Apesar do perfil de segurança ser consistente com outros estudos, ainda são raros os estudos sobre elevação de enzimas hepáticas, possível insuficiência hepática fulminante e trombocitopenia • O estudo é pequeno para detectar eventos raros e não foi realizado teste de laboratório extensivo de forma padronizada • Dosagem não foi padronizada, e não é possível saber se atingiu níveis ótimos, pois não há dados neonatais disponíveis estudo retrospectivo com crianças com epilepsia refratária não mostrou correlação entre nível plasmático e eficácia • Esse estudo pequeno não gerou dados de eficácia de qualidade demonstra a necessidade de estudo prospectivo sobre esse medicamento • Como as crises epilépticas causadas por encefalopatia aguda costumam cessar com o tempo, a eficácia do medicamento naqueles 4 pacientes que tiveram melhora no 2º ou 3º dia pode ser atribuível à resolução espontânea da crise • Sem um grupo controle ou padronização de tempo, não é possível determinar se alguns dos casos de melhora não estão relacionados à passagem de tempo ou à administração do medicamento DISCUSSÃO • Apesar das limitações desse pequeno estudo retrospectivo • • • • • observacional, os achados são condizentes com outros relatos de casos e sugerem que Levetiracetam é seguro e bem tolerado quando administrado em neonatos criticamente enfermos Há associação com redução de convulsões nas primeiras 24h primariamente quando administrada como 2ª linha de tratamento Estudos prospectivos maiores devem ser garantidos para definir o exato papel desse medicamento na convulsão neonatal Um estudo para determinação da dose pode ser necessário e deve incluir dados referentes aos níveis séricos de Levetiracetam No presente estudo, dose de 40mg/kg/dia não foi associada a maior efeito adverso e nenhum neonato descontinuou o tratamento por intolerabilidade, portanto parece ser uma dose razoável para estudo Consistente com estudos com fenitoína e fenobarbital, a administração de levetiracetam se associou à melhora das crises em menos de 50% dos neonatos, e essa baixa resposta esperada tem implicações para o cálculo do tamanho amostral em futuros estudos prospectivos comparativos REFERÊNCIAS CONSULTEM TAMBÉM: Tratamento das convulsões neonatais Autor(es): Janet Rennie, Geraldine Boylan. Realizado por Paulo R. Margotto e Martha G. Vieira • Há muito se sabe que o fenobarbital, ainda a DAE mais utilizada no período neonatal, tem efeitos a longo prazo no crescimento cerebral. Novos estudos têm evidenciado aumento da degeneração apoptótica no cérebro do rato em desenvolvimento após a exposição ao fenobarbital, difenilhidantoína e aos benzodiazepínicos. O ácido valpróico é tóxico ao cérebro em desenvolvimento, como evidenciado pela Síndrome Fetal do Valproato, que se acompanha de riscos de distúrbios no aprendizado e desenvolvimento. • Novos agentes como o topiramato e levetiracetam parecem mais promissores com respeito a estas alterações, não havendo evidência experimental de neurotoxicidade nos cérebros em desenvolvimento, em concentrações anticonvulsivantes. O topiramato tem a vantagem adicional de poder prolongar a janela de tempo na qual a terapia com hipotermia é efetiva. Topiramato para o tratamento das convulsões neonatais Autor(es): Glass HC et al. Apresentação: Roberta R. Almeida, Débora Cristiny • O estudo incluiu 6 crianças com crise convulsiva refratária às doses • • • • • habituais de fenobarbital e fenitoína que usaram Houve uma aparente redução ou ausência de novas crises em 4 das 5 crianças que receberam dose de ataque, A criança que recebeu apenas dose de manutenção continuou a apresentar crises convulsivas Nenhuma apresentou efeitos colaterais que resultasse em suspensão do topiramato Resultado de estudos em animais sugere que o topiramato é eficaz como um anticonvulsivante e como neuroprotetor Não aumenta a apoptose Pharmacokinetics of levetiracetam in neonates with seizures. Merhar SL, Schibler KR, Sherwin CM, Meinzen-Derr J, Shi J, Balmakund T, Vinks AA. J Pediatr. 2011 Jul;159(1):152-154.e3 • A farmacocinética do levetiracetam foi determinada prospectivamente em 18 RN (<=30dias/ >-32 semanas). Em relação aos adultos e crianças maiores respectivamente, os recém-nascidos apresentaram menor clearance (1,21 x 0,96 x 1,43-1,46 mL/min/kg, provavelmente devido a menor taxa de filtração glomerular e menor atividade esterase plasmática),maior volume de distribuição (0,89 x 0,5-0,7 x 0,6-0,7 L/kg) e maior vida média (8,9 x 6-8 x 5-7 horas). Devido ao reduzido clearance da droga, , esta deveria ser administrada 2 vezes ao dia, ao invés de 3 vezes ao dia. A leve sonolência foi o único evento adverso, porém não interferiu na dieta e ão necessitou de aumento de suporte ventilatório. OBRIGADA! Drs Ana Catarina, Diogo Pedroso, Liana de Medeiros, Sandra Lins Paulo R. Margotto, Rodrigo Coelho Moreira e Carla Araújo Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF