ENTENDA A CRISE NORTE-AMERICANA
Entenda a evolução da crise que atinge a economia dos EUA
Bancos de diversos ramos - investimentos, varejo, hipotecas -,
nos Estados Unidos e em outros países, principalmente a
Europa, já sofreram prejuízos bilionários e em alguns casos
fecharam, desde agosto do ano passado. A raiz do problema
está no mercado de hipotecas norte-americano.
O mercado imobiliário dos EUA passou por uma fase de
expansão acelerada logo depois da crise das empresas
"pontocom", em 2001. O Federal Reserve (Fed, o BC
americano) passou a reduzir sua taxa de juros, a fim de
baratear empréstimos e financiamentos e encorajar
consumidores e empresas a voltarem a gastar.
O setor imobiliário se aproveitou desse momento de juros baixos: a
demanda por imóveis cresceu, atraindo compradores. Em 2003, por
exemplo, os juros do Fed chegaram a cair para 1% ao ano --menor taxa
desde o fim dos anos 50.
Em 2005, o "boom" no mercado imobiliário já estava avançado; comprar
uma casa (ou mais de uma) tornou-se um bom negócio, não só para
quem queria adquirir a casa própria, mas também para quem procurava
em que investir. Também cresceu a procura por novas hipotecas, a fim de
usar o dinheiro do financiamento para quitar dívidas e consumir.
As companhias hipotecárias descobriram nessa época um nicho ainda a
ser explorado no mercado: o de clientes do segmento "subprime",
caracterizados, de modo geral, pela baixa renda, por vezes com histórico
de inadimplência e com dificuldade de comprovar. O segmento
"subprime", assim caracterizado, representa um risco maior de
inadimplência que os de outras categorias de crédito, mas justamente
por ser de maior risco, as taxas de retorno são bem mais altas.
A promessa de retornos altos atraiu gestores de fundos e bancos, que
compraram esses títulos "subprime" das companhias hipotecárias e
permitiram que uma nova quantia em dinheiro fosse emprestada, antes
mesmo do primeiro empréstimo ser pago. Um outro gestor, interessado
no alto retorno envolvido com esse tipo de papel, comprou o título
adquirido pelo primeiro, e assim por diante, gerou uma cadeia de venda
de títulos.
Porém, se a ponta (o tomador) não consegue pagar sua dívida inicial, ele
dá início a um ciclo de não-recebimento por parte dos compradores dos
títulos. O resultado: todo o mercado passa a ter medo de emprestar e
comprar os "subprime", o que termina por gerar uma crise de liquidez
(retração de crédito).
Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis, no entanto,
passaram a cair. Os juros do Fed, que vinham subindo desde 2004,
encareceram o crédito e afastaram compradores; com isso, a oferta
começou a superar a demanda e, desde então, o que se viu foi uma
espiral descendente no valor dos imóveis.
Com os juros altos, a inadimplência aumentou e o temor de novos calotes
fez o crédito sofrer uma desaceleração expressiva no país como um todo.
Sem oferta suficiente de crédito, a economia dos EUA desaqueceu. Com
menos liquidez (dinheiro disponível), menos se compra, menos as empresas
lucram e menos pessoas são contratadas.
No mundo da globalização financeira, créditos gerados nos EUA podem ser
convertidos em ativos que vão render juros para investidores na Europa e
outras partes do mundo. Por isso o pessimismo influencia os mercados
globais e atinge tão profundamente a Europa.
Primeiros efeitos Agosto/2007
Esse era o cenário quando o BNP Paribas Investment Partners - divisão do
banco francês BNP Paribas-- congelou, em agosto do ano passado (2008),
cerca de 2 bilhões de euros dos fundos Parvest Dynamic ABS, o BNP Paribas
ABS Euribor e o BNP Paribas ABS Eonia. A alegação do banco era de
preocupações sobre os pagamentos de crédito "subprime" nos EUA.
Setembro/2008
A crise, longe de perder fôlego, teve suas forças renovadas em
setembro deste ano. As gigantes hipotecárias americanas Fannie
Mae e Freddie Mac deram sinais de que poderiam quebrar. Com
quase a metade dos US$ 12 trilhões em empréstimos para a
habitação nos EUA em seus registros, o Departamento do Tesouro
interveio para evitar o pior: anunciou uma ajuda de até US$ 200
bilhões.
O Lehman Brothers, no entanto, foi deixado à própria sorte:
afetado pelas perdas com a crise dos "subprime", o banco viu
malograrem tentativas de encontrar um comprador e de levantar
fundos junto a outras instituições privadas para tocar suas
operações financeiras. Mesmo o governo negou um empréstimo.
No último dia 15, a solução encontrada pelo banco foi pedir
concordata.
Ao fim do Lehman se seguiram a venda do Merrill Lynch ao Bank of
America; a ajuda de US$ 85 bilhões à seguradora AIG, também sob
risco de quebrar por falta de fontes de captação de empréstimos; a
quebra do banco do segmento de empréstimos em poupança
("savings & loans") Washington Mutual (WaMu) --no que, segundo
analistas, foi a maior falência de um banco nos Estados Unidos--; e a
venda do Wachovia, quarto maior dos EUA, que anunciou a fusão
com o Wells Fargo, em uma operação de US$ 15,1 bilhões em troca
de ações.
Os problemas do Wachovia têm boa parte de sua origem na aquisição
da companhia hipotecária Golden West Financial em 2006, por cerca
de US$ 25 bilhões, quando o mercado imobiliário ainda estava em um
momento de euforia. Com a compra, o Wachovia assumiu US$ 122
bilhões em hipotecas do tipo 'Pick-A-Payment', na qual a Golden West
era especialista. Nessa modalidade, os mutuários tinham permissão
para deixar de fazer alguns pagamentos.
Para combater a onda de quebradeira entre as instituições
financeiras e acalmar o mercado, o Congresso dos EUA aprovou o
plano de ajuda de US$ 700 bilhões. A aprovação coloca na mão do
secretário do Tesouro, Henry Paulson, dinheiro para tentar reverter
a crise que abala o mercado financeiro mundial.
O plano do governo americano é usar os US$ 700 bilhões para
comprar um artigo conhecido por um nome pouco atraente: títulos
"podres", ou papéis cujo resgate é muito improvável -conseqüentemente, cujo risco de calote é alto. A maioria destes
ativos são ligados justamente às hipotecas "subprime" (de alto
risco).
Antes de ser aprovada, a proposta de Bush foi bastante modificada
pelos senadores e deputados. A versão incluiu no plano mais US$
150 bilhões em corte de impostos, benefícios fiscais para a classe
média, pequenos empresários e famílias atingidas por acidentes
naturais.
Além disso, o pacote limita os poderes do Executivo para gerir o
pacote, estreita a vigilância sobre a aplicação dos recursos e
reduz os pagamentos milionários aos grandes executivos por trás
das instituições financeiras que quebraram.
Antes do pacote bilionário, um outro pacote de estímulo foi
aprovado em fevereiro e surtiu algum efeito, com o envio de
cheques de restituições aos contribuintes. O dinheiro extra
favoreceu os gastos dos consumidores entre abril e julho, o que
se refletiu nos dados do PIB (Produto Interno Bruto). No
segundo trimestre, a economia cresceu 2,8% (ligeiramente
menor que os 3,3% em um cálculo prévio). Analistas dizem, no
entanto, que, sem o benefício do dinheiro extra, nos próximos
trimestres o desempenho econômico americano deverá ser
inferior.
CRISE FINANCEIRA NA EUROPA
Em um mercado financeiro cada vez mais integrado --efeito da globalização
nos últimos anos--, o efeito do não-pagamento de um empréstimo na ponta
(quem toma o empréstimo) gera um ciclo de não-recebimento por parte dos
compradores dos títulos. Isso cria uma desconfiança generalizada que se
espalha por praticamente todas as categorias de crédito. O resultado é uma
relutância cada vez maior por parte das instituições financeiras em oferecer
crédito, e o reflexo dessa desconfiança é a paralisia em curso nos mercados
financeiros.
Muitas das instituições européias hoje (2008) beirando a falência acabaram,
assim, com papéis "podres" (de resgate muito improvável, ou seja, sob sério
risco de calote) em suas reservas, adquiridos de instituições americanas.
Muitas das instituições européias hoje beirando a falência acabaram, assim,
com papéis "podres" (de resgate muito improvável, ou seja, sob sério risco
de calote) em suas reservas, adquiridos de instituições americanas.
BCs mundiais reduzem juros para conter crise; Fed corta taxa de 2% para
1,5%
O Federal Reserve (Fed, o BC americano) baixou em 08/10/08 quarta-feira
sua taxa de juros em 0,5 ponto percentual (p.p.), em uma ação
coordenada com outros bancos centrais, na tentativa de combater a crise
financeira que se alastra pelo mundo.
"Ao longo da crise financeira atual, bancos centrais se engajaram em
consultas contínuas e em cooperação em medidas conjuntas sem
precedentes, tais como a oferta de dinheiro para reduzir as pressões nos
mercados financeiros", informou o Fed, em um comunicado publicado
hoje.
Os outros bancos que agiram com redução em suas taxas de juros foram: o
Banco do Canadá, Banco da Inglaterra (BC britânico), o BCE (Banco Central
Europeu), o Sveriges Riksbank (da Suécia) e o SNB (Banco Nacional da
Suíça, na sigla em inglês).
17/09/2008
Prevenção
Em comunicado, o Fed declarou que a decisão sobre o resgate da AIG contou com
"todo o apoio do Tesouro(americano)" e o acordo para o empréstimo inclui
condições feitas para "proteger os interesses do governo americano e dos
contribuintes".
O banco central americano afirmou ainda que agiu para prevenir um fracasso que
poderia prejudicar a economia global. Segundo o analista econômico da BBC Greg
Wood, a amplitude do pacote de resgate da AIG é um sinal da preocupação
causada pela crise financeira.
Ele afirma ainda que o fracasso da empresa - que possui segurados em 100 países
e garante negócios e investimentos ao redor do mundo - teria um impacto maior
no mercado financeiro do que o colapso do Lehman Brothers.
17/09/2008
Por que a AIG necessitava de um pacote de resgate?
A seguradora American International Group (AIG) foi fortemente afetada pela crise
no mercado de crédito que vem sacudindo os mercados financeiros há pouco mais
de um ano.
O principal negócio da empresa é vender seguros, mas não apenas para pessoas
comuns que compram seus serviços, como seguro imobiliário.
A companhia também fornece serviços para grandes empresas, especialmente
bancos.
Ao fazerem grandes operações, os bancos contratam seguradoras, como a AIG,
para socorrê-las no caso de seus negócios darem errado.
17/09/2008
Por que o governo resgatou a AIG e não o banco Lehman Brothers?
A AIG oferece seguros para muitas instituições bancárias que fazem empréstimos
corporativos e imobiliários.
Os bancos contrataram seus serviços para se proteger contra os riscos que esses
empréstimos representam, como inadimplência dos clientes.
Uma das razões por trás do contrato das seguradoras é garantir às instituições
reguladoras que esses empréstimos representam o menor risco possível.
Com isso, elas podem emprestar mais dinheiro do que, de fato, possuem. Se a AIG
quebrasse, tais transações de alto risco não poderiam ser asseguradas e colocaria
toda a indústria financeira global em sérios apuros.
18/09/2008
"O temor com o crédito alcançou o clímax. É presunção acreditar que isso acabaria
em um dia", afirmou Harushige Kobayashi, do Securities Japan. "O mercado ignora
os fundamentos e deixa 95% ser guiado por fatores psicológicos.“
O valor empregado pelo governo para salvar a AIG e outras empresas financeiras
americanas como o Bear Stearns e as gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie
Mac "assusta não só por acontecer no país que é o bastião do capitalismo de livre
mercado, mas porque abre a porta para futuras operações, de outras instituições e
setores da economia”.
17/09/2008
O que deu errado?
Para Martin Wolf: A resposta curta é: Hyman Minsky, da obra-prima "Stabilizing an
Unstable Economy" [Estabilizando uma Economia Instável], tinha razão. Um longo
período de crescimento rápido, baixa inflação, baixas taxas de juros e estabilidade
macroeconômica gerou complacência e aumentou a disposição a assumir riscos. A
estabilidade levou à instabilidade.
A securitização inovadora, o financiamento fora dos balanços foram uma grande
parte da história. Como Minsky advertiu, a fé indevida em mercados
desregulamentados se revelou uma armadilha. É o progresso indevido desfrutado
pelos EUA e pelos países da Europa na última década.
Veja a lista de medidas já anunciadas no Brasil para combater a crise
Apesar de negar que haja um pacote brasileiro de combate aos efeitos da crise
internacional de crédito no país, o governo já anunciou uma série de medidas nas
últimas semanas para evitar uma piora no sistema financeiro.
Veja as principais medidas:
19 de setembro
Quatro dias após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, o crédito
internacional seca e o dólar dispara no Brasil. O Banco Central anuncia um leilão
de US$ 500 milhões com compromisso de recompra da moeda após 30 dias.
Nessa operação o BC "empresta" os dólares às instituições financeiras durante
esse período. Os recursos servem para que os bancos possam financiar as
exportações brasileiras.
24 de setembro
A crise de confiança nos bancos internacional e a falta de crédito externo afetam
os bancos pequenos e médios no Brasil. O BC anuncia então mudanças no
recolhimento de depósitos compulsórios, que beneficia bancos menores e
instituições que trabalham com leasing. Com isso, o BC garante a injeção de R$ 13
bilhões no mercado.
26 de setembro
O BC realiza uma nova operação de venda de dólares com compromisso de recompra,
no valor de mais US$ 500 milhões, e ajuda a manter a moeda no patamar de R$ 1,80. *
1º de outubro
O Banco do Brasil antecipa R$ 5 bilhões em crédito para o setor agrícola para suprir a
falta de recursos causada pela crise financeira.
2 de outubro
O BC anuncia a redução do compulsório para os bancos grandes que comprarem parte
das carteiras de crédito dos bancos pequenos. A avaliação do governo é que os
grandes bancos estão preferindo segurar os recursos a emprestar para essas
instituições. A estimativa do BC é que a mudança injete R$ 23,5 bilhões na economia,
além de ajudar as instituições menores.
3 de outubro
"Com o objetivo de melhorar a distribuição de recursos no Sistema Financeiro
Nacional, em função das restrições de liquidez que têm sido verificadas no ambiente
internacional, o Banco Central do Brasil decidiu fazer alterações no recolhimento
compulsório, em títulos públicos federais, incidente sobre depósitos a prazo.”
8 de outubro
O dólar chega a R$ 2,48 pela manhã e obriga o BC a queimar parte das reservas
internacionais para acalmar o mercado. Pela primeira vez, desde o dia 13 de fevereiro
de 2003, o BC realiza um leilão em que vende parte dos US$ 208 bilhões que tem em
caixa.
Nos leilões anteriores, o BC vendia a moeda com um compromisso de recompra. Na
prática, isso funcionava como um empréstimo e não afetava as reservas. Foram
realizados três leilões. Os valores não foram divulgados.
13 de outubro
O BC informa mais mudanças no compulsório, que significam a liberação na economia
de R$ 47,1 bilhões dos R$ 100 bilhões que foram prometidos pela manhã.
13/10/2008
BC anuncia liberação de até R$ 100 bi do compulsório para ajudar bancos
O Banco Central poderá colocar mais R$ 100 bilhões na economia por meio de
novas mudanças nas regras do recolhimento compulsório feito pelos bancos.
O compulsório é a parcela do dinheiro depositado pelos clientes que os bancos
precisam recolher junto ao BC. Esse mecanismo ajuda a autoridade monetária a
controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia.
16 de outubro
O Banco Central anunciou mais uma mudança nas regras dos depósitos
compulsórios. Agora, o BC ampliou as possibilidades para que esses bancos possam
elevar o dinheiro que têm em caixa com a venda de ativos para bancos maiores.
O Banco Central poderá determinar que as operações de empréstimos de dólares
por meio do redesconto sejam direcionadas para ajudar as empresas exportadoras
com dificuldade de obter crédito junto aos bancos. A medida foi anunciada hoje
pelo governo em reunião extraordinária do CMN (Conselho Monetário Nacional).
Entenda o que é o compulsório e como ele coloca mais dinheiro na economia
O depósito compulsório é um dos instrumentos que o Banco Central usa para
controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. O mecanismo
influencia o crédito disponível e as taxas de juros cobradas.
Por meio do depósito compulsório, o Banco Central obriga os bancos a depositar
em uma conta no próprio BC parte dos recursos captados dos seus clientes nos
depósitos à vista, a prazo ou poupança.
Quando reduz o compulsório, o BC dá aos bancos mais dinheiro para emprestar
aos seus clientes. Isso pode ajudar a reduzir os juros bancários ou, em momentos
de mais escassez de dinheiro, como agora, impedir que sequem as fontes de
crédito para o consumidor e para empresas.
Assim, as medidas anunciadas no dia 24/09, por exemplo, foram tomadas para
reduzir os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira. Hoje, as
empresas brasileiras estão com dificuldade para conseguir recursos fora do país
para investimentos, o que aumenta a dependência delas em relação aos bancos
brasileiros. Com mais dinheiro no caixa, os bancos poderão evitar possível falta de
liquidez.
Leasing
Hoje, o BC anunciou que irá adiar o aumento da alíquota do compulsório sobre
leasing. Esse compulsório, que começou a ser cobrado neste ano, era uma das
medidas do governo para reduzir a quantidade de crédito na economia e,
conseqüentemente, segurar o consumo e a inflação.
A alíquota, que é hoje de 15%, iria subir para 20% em novembro e 25% em janeiro.
Os aumento iriam tirar cerca de R$ 8 bilhões da economia. Com o adiamento em
dois meses de cada elevação, o sistema financeiro ganhará mais dinheiro nesse
período.
Outros depósitos
A outra medida do BC diz respeito à exigência adicional sobre depósitos. Hoje, os
bancos são obrigados a depositar no BC 45% do dinheiro captado nos depósitos à
vista, 15% dos depósitos A prazo e 20% da poupança.
"Com o objetivo de preservar o sistema financeiro nacional dos efeitos da
restrição de liquidez que vem sendo observada no sistema financeiro
internacional, o Banco Central do Brasil decidiu fazer as seguintes alterações, de
caráter pontual", diz o BC em nota.
O depósito compulsório obriga que as instituições financeiras
recolham junto ao BC parte do dinheiro depositado pelos seus
clientes. Com isso, os bancos ficam com menos dinheiro para
emprestar e fazer outras operações.
Hoje, as empresas brasileiras estão com dificuldade para
conseguir recursos fora do país para investimentos, o que
aumenta a dependência delas em relação aos bancos
brasileiros. Com mais dinheiro no caixa, os bancos poderão
evitar possível falta de liquidez.
16/10/2008
BC poderá direcionar empréstimo de dólares para empresas exportadoras
O Banco Central poderá determinar que as operações de empréstimos de dólares
por meio do redesconto sejam direcionadas para ajudar as empresas exportadoras
com dificuldade de obter crédito junto aos bancos. A medida foi anunciada hoje
pelo governo em reunião extraordinária do CMN (Conselho Monetário Nacional).
Os empréstimos em dólares por meio do redesconto fazem parte de uma
resolução publicada pelo BC na última quarta-feira (9). Essa resolução determinou
as regras pelas quais o BC poderia ajudar as instituições financeiras e os
exportadores em dificuldades de obter empréstimos.
O direcionamento era uma reivindicação do setor industrial, pois hoje não havia
regras que obrigassem os bancos a repassar esses dólares para as indústrias.
Agora, o BC poderá obrigar os bancos a fazer o repasse de pelo menos parte desse
dinheiro.
Crise no Brasil (2008)
No Brasil, a crise pode se mostrar de forma diferente que nos Estados Unidos.
Os bancos brasileiros não operam com empréstimos de risco elevado, mas são
importantes credores das empresas e, como o crédito está escasso no mundo, o
custo do dinheiro vai ficar mais caro, dificultando os planos das companhias.
Por isso, alertam os economistas, o Banco Central deveria repensar a política
monetária e reduzir a taxa Selic (juros básicos da economia), contribuindo para
baratear o crédito.
"O país possui a taxa de juros real mais alta do mundo e com a escassez global de
crédito, o custo de captação vai ficar muito mais alto. E também já foi provado que
não temos mais inflação. Então, abre espaço para o BC reduzir juros e também
estimular as linhas de crédito, mexendo no limite do compulsório”.
Entenda a crise do subprime
A chamada crise do subprime, ou hipotecas de risco, acontece nos
Estados Unidos desde o ano passado e vem se intensificando.
Nos últimos anos, com a alta dos preços de imóveis nos Estados Unidos e
a alta liquidez (dinheiro disponível para empréstimos) no mercado
internacional, os bancos e financeiras norte-americanas começaram a
emprestar mais dinheiro para que pessoas com histórico de crédito
considerado ruim comprassem casas. Antes, só tinham acesso a essas
hipotecas credores com bom histórico de pagamento de empréstimos e
renda comprovada.
O uso da securitização é importante fonte de captação de recursos para o
setor privado, tem crescido em um ritmo acelerado nos principais mercados
globais. Este movimento deve continuar e, no Brasil, as condições
econômicas têm contribuído para que, cada vez mais, estes instrumentos
ganhem popularidade entre as empresas e os investidores.
Dentro deste contexto, conversas sobre o assunto têm se tornado cada vez
mais comuns, mas nem todos têm perfeito conhecimento do que,
exatamente, se trata quando se fala em securitização.
Na verdade, este quadro não reflete apenas a "pouca idade" deste tipo de
produto, mas também a sua complexidade, que varia dependendo de
questões específicas da estruturação da operação, aspectos legais e do
tipo de ativo que está sendo securitizado.
Além das hipotecas terem risco maior devido ao perfil dos tomadores de
crédito, os bancos também passaram a fazer empréstimos não-tradicionais,
com juros mais baixos nos primeiros anos do contrato (depois reajustados
para taxas mais altas) e prestações iniciais só com o pagamento dos juros.
Os tomadores dessas hipotecas acreditavam que, com o preço das casas
em alta, conseguiriam reajustar seus empréstimos e obter condições mais
favoráveis quando o período de juros mais baixos terminasse. Porém, a
“bolha” dos preços de casas estourou e eles começaram a cair; com isso,
muitas famílias passaram a não conseguir pagar suas hipotecas e
perderam suas casas. Como o preço das casas caiu, muitas vezes o banco
não consegue reaver o que já emprestou ao cliente.
Securitização
Além de o banco que fez o empréstimo ter prejuízo com essa situação,
muitas dessas hipotecas são securitizadas nos EUA (agrupadas e
transformadas em papéis que são comprados e vendidos). A securitização
espalha o risco por todo o mercado e permite que os bancos emprestem
mais dinheiro para financiamentos imobiliários; mas essas mesmas
características fizeram com que, com a crise, os prejuízos atingissem
dezenas de instituições financeiras e de fundos de investimento.
Com o risco espalhado por todo o setor, acontece também uma crise de
liquidez, já que as instituições relutam em emprestar dinheiro umas às
outras.
A crise pode ter impacto na economia brasileira porque, com a
desorganização das finanças das famílias e com a redução do crédito
disponível nos EUA, pode haver redução no consumo e conseqüente
recessão no país. Isso pode fazer com que os EUA comprem menos
produtos do Brasil. Além disso, a menor liquidez no mercado global pode
fazer com que os investidores prefiram investir em papéis de menor risco,
como os do Tesouro dos EUA, tirando dinheiro de mercados como o
brasileiro, que têm melhor retorno, mas maior risco.
Securitização: O que é?
Sendo assim, vale a pena entender o conceito de securitização. De acordo
com a Moody's, securitização nada mais é do que um processo através do
qual uma variedade de ativos financeiros ou não-financeiros, os ativos
base, é "empacotada" na forma de títulos que podem ser vendidos aos
investidores.
Assim, qualquer fluxo de caixa, seja atual ou futuro, que é gerado por
ativos, pode ser securitizado e, à medida que o mercado de securitização
tem crescido e ficando cada vez mais sofisticado, a variedade de ativos
securitizados tem aumentado.
Entre estes, os tipos mais comuns incluem empréstimos hipotecários,
financiamento de automóveis, recebíveis de cartões de crédito e
empréstimos educacionais. Entre os tipos menos usuais estão, por
exemplo, empréstimos para franqueados e financiamento para taxistas.
Assim, qualquer fluxo de caixa, seja atual ou futuro, que é gerado por
ativos, pode ser securitizado e, à medida que o mercado de securitização
tem crescido e ficando cada vez mais sofisticado, a variedade de ativos
securitizados tem aumentado.
Entre estes, os tipos mais comuns incluem empréstimos hipotecários,
financiamento de automóveis, recebíveis de cartões de crédito e
empréstimos educacionais. Entre os tipos menos usuais estão, por
exemplo, empréstimos para franqueados e financiamento para taxistas.
Três lados
Cada operação de securitização conta, normalmente, com três partes. Uma
delas é o originador, ou seja, aquele que gera o ativo que pode ser um
empréstimo, um leasing, recebível ou qualquer outra forma de fluxo de
pagamento.
Além dele, existem os intermediários, cuja atribuição é estruturar a
operação de securitização e viabilizar a distribuição aos investidores, que
são os últimos participantes da negociação.
Quando tudo começou
Atrativo para as empresas, o mercado de securitização teve início no
começo dos anos setenta, quando empréstimos hipotecários reunidos na
forma de pool e garantidos pelo Governo foram vendidos.
Um pouco mais tarde, em 1985, o mercado de securitização de longo prazo
foi estabelecido nos Estados Unidos e, desde então, cresceu
substancialmente, tendência que deve permanecer nos próximos anos.
Além disso, como uma alternativa para os investidores que preferem se
proteger de créditos de qualidade deteriorada, o mercado de securitização
de curto prazo, chamado Asset Backed Commercial Paper também
experimentou uma impressionante trajetória de crescimento.
O que é securitização de créditos imobiliários?
Securitização é um processo estruturado, coordenado por uma instituição
especializada (companhia securitizadora), através do qual os créditos
imobiliários descontados por originadores (incorporadoras, instituições
financeiras, imobiliárias etc.) são transformados em títulos, denominados
Certificados de Recebíveis Imobiliários – CRI, a serem negociados nos
mercados financeiros e de capitais.
Fonte: Paula Leite, repórter Último Segundo e Fernanda Senra, InfoMoney
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