Alexandre Lopes e Rivaldo Moreira, da Abraceel: Estrutura Tarifária: eficiência para o setor Nova estrutura tarifária traz avanços para o setor ao corrigir distorções no cálculo da Tusd e induzir ao uso mais eficiente dos sistemas de distribuição Alexandre Lopes e Rivaldo Moreira, da Abraceel, para a Agência CanalEnergia, Artigos e Entrevistas 06/01/2012 A nova estrutura tarifária, aprovada pela Aneel no final de 2011, traz avanços para o setor elétrico ao corrigir distorções no cálculo da Tusd e induzir ao uso mais eficiente dos sistemas de distribuição. A nova sistemática, a ser implementada a cada processo de revisão tarifária, permitirá a adequação de diversos aspectos das tarifas de uso, como as relações dos valores da Tusd entre os níveis de tensão e entre os horários de ponta e fora de ponta e a metodologia de construção da tarifa horo-sazonal verde, além da criação da tarifa branca para consumidores de baixa tensão. A atual estrutura de tarifas, praticada desde o início da década de 80, tem levado os consumidores a comportamentos indesejáveis do ponto de vista da eficiência sistêmica, como a utilização de geradores a óleo diesel para substituir o consumo nos horários de ponta e a migração física de consumidores atendidos em 138kV para a rede básica, além da própria formação da ponta de todo o sistema de distribuição, provocada pela ausência de sinais econômicos para consumidores de baixa tensão. Dessa forma, o processo de aprimoramento da estrutura tarifária tem grande potencial para aumentar a eficiência do setor elétrico brasileiro. É importante que, sem prejuízo das mudanças a serem implementadas no próximo ciclo de revisões tarifárias, a Aneel dê continuidade aos estudos sobre a estrutura tarifária, com o envolvimento dos agentes setoriais, para que nos próximos ciclos de revisão possam ser introduzidos outros aprimoramentos no modelo. Nesse sentido, a estrutura tarifária deve ser aprimorada de forma que inovações tecnológicas como a medição eletrônica e as redes inteligentes, além da geração distribuída de energia elétrica de pequeno porte, possam ser introduzidas e utilizadas massivamente. É importante destacar que a adoção de tais tecnologias tem o potencial de abrir novas fronteiras de expansão para o mercado livre de energia ao permitir, ao menos operacionalmente, que a competição do ACL chegue à baixa tensão. Diferentemente do que vem ocorrendo no âmbito da União Européia (UE), que abriu seu mercado de energia a todos os consumidores de energia elétrica e gás em 2007, os benefícios da liberalização poderão ser mais rapidamente sentidos no Brasil. Pois, considerando-se que o sistema brasileiro é interligado nacionalmente, e o despacho centralizado num único operador, tem-se uma pluralidade ímpar de atores e possibilidades de comercialização que permitem que os benefícios do mercado livre sejam transferidos de forma eficaz para os consumidores. Além dos sinais econômicos da Tusd, a nova estrutura tarifária aprovada pela Aneel corrige diversas distorções atuais no pagamento do uso das redes pelos consumidores cativos e livres. Pela nova regulamentação, será criada a modalidade verde da Tusd também para os consumidores livres e especiais. Atualmente, segundo dados da Aneel, 54% do mercado cativo de alta tensão são atendidos pela tarifa horo-sazonal verde, e hoje os consumidores são obrigatoriamente enquadrados na modalidade azul ao realizarem a migração, acarretando o aumento de custos e desincentivando a ida para o mercado livre. Alem disso, também será extinta a tarifa convencional de alta tensão, indisponível para o mercado livre, e equalizado o pagamento da Tusd AS Subterrâneo de consumidores cativos e livres. Dessa forma, a nova estrutura tarifária também permitirá uma competição mais isonômica e equilibrada entre os dois ambientes de contratação. Os estudos desenvolvidos no âmbito do Comitê de Revitalização do Setor Elétrico (Reseb), em 2002, (relatório de progresso n° 02/2002), concluíram, à época, que era necessário incentivar o processo de transformação de consumidores cativos em livres, especialmente através de uma sinalização econômica adequada na estrutura tarifária. Algumas medidas apresentadas pelo comitê, visando a aumentar a eficiência do sinal econômico e a competição no setor, já foram adotadas pela Aneel nos últimos anos, como a inclusão dos encargos setoriais na Tusd, a abertura e o realinhamento tarifários, a regulamentação dos consumidores parcialmente livres e a possibilidade de agregação de cargas para migração de consumidores especiais. Entre as propostas apresentadas pelo Reseb, e ainda não implementadas, destaca-se a exigência de contratação de energia por quantidade pelos consumidores cativos e a criação de um cronograma de redução dos limites de migração para o mercado livre, conforme previsto pela Lei 9.074/95. Embora os requisitos de migração para o ACL sejam os mesmos desde 1998, o mercado de livre contratação de energia elétrica tem se desenvolvido e consolidado como um importante mecanismo para estimular a eficiência do setor, promovendo a competição entre os agentes e permitindo a reação da demanda aos sinais de preços. No último ano, o mercado livre representou 27% do consumo nacional, atendendo a mais de 1100 consumidores com uma carga de aproximadamente 15.000 MW médios. Em termos de volume negociado, o mercado livre transacionou cerca de 31.000 MW médios no mesmo período, o que representa 41% de todo o volume contratado. A liquidez proporcionada pelo mercado livre beneficia a concorrência entre os agentes de mercado e é um importante atrativo para novos investimentos em geração. Em 2011, diversas ações permitiram o desenvolvimento do mercado. Além das inovações trazidas pela nova estrutura tarifária, a Aneel também regulamentou o tratamento da inadimplência de usinas em atraso comprometidas com o ACR, que afetava todo o setor. O próprio mercado também desenvolveu diversas outras iniciativas, como o primeiro processo de certificação dos profissionais de comercialização de energia elétrica, a elaboração do Contrato Padrão Abraceel e a criação de plataformas de negociação de energia no ACL. Para o ano de 2012, avocado pelas associações setoriais como o “Ano do Mercado Livre”, permanecem como desafios importantes temas da pauta do setor, como o tratamento das concessões vincendas, a regulamentação da venda de excedentes contratuais pelos consumidores livres, o aprimoramento do modelo de garantias financeiras da CCEE, e a criação do comercializador varejista. A redução dos limites de migração dos consumidores livres, que possui previsão legal desde 2003, também deve ser debatida de forma ampla e transparente pela sociedade, de modo a permitir a criação de uma agenda para evolução segura, sustentável e equilibrada do mercado livre, estendendo seus benefícios a um conjunto cada vez maior de consumidores. Alexandre Lopes e Rivaldo Moreira são, respectivamente, assessor e assistente técnicos da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel)