ABSTRACT: This study analyses the initial stages of the acquisition of Brazilian Portuguese as a second language (BPL2) by a Chinese-speaking adult. The syntactic phenomenon adopted was the Null Subject Parameter. The principles and parameters model of generative grammar theOfy (Chomsky.1981.1986). has been used in this study). KEYWORDS: second language acquisition; principles and parameters; null su~iect; agreement A teoria gerativista, principalmente a partir da abordagem de princlplos e parametros,( Chomsky, 1981), tern sido instrumento de analise relevante para explicar a aquisi~ao da linguagem tanto no que se refere it aquisi~ao de primeira lingua quanto a aquisi~ao de segunda lingua. Trata-se de uma teoria inatista que pressupoe que a crian~a quando nasce ja traz urn "conhecimento previo" geneticamente codificado. Esse conhecimento inato da linguagem e referido como Gramatica Universal (GU), ou "estado inicial". De acordo com essa teoria, a GU compreende urn conjunto de principios inatos universais, invariaveis, aos quais estao associados panlmetros, definidos como uma especie de "comutadores lingiiisticos" cujo valor final <+> ou <-> so e atingido durante 0 processo de aquisi~ao atraves da sua fixa~ao numa das posi~oes possiveis, com base no input que a crian~a recebe da sua comunidade (Chomsky, 1981,1986). Num estado inicial de aquisi~ao da linguagem, haveria duas possibilidades para a posi~ao de urn parametro encontrar-se ligado: numa posi~ao neutra que independe das duas posi~oes possiveis em que urn parametro po de ser fixado. "Neste caso. a crianra tem de decidir. a partir de sua experiencia lingiiistica. se a fixariio e feita em <+> ou em <->, ou seja, nlim determinado momento, 0 parametro e "ligado" llum destes dois valores a partir de lima posiriio previamellte neutra "(Raposo, 1992:57); numa posi~ao nao-marcada, ou seja, com urn valor primitivo nao-marcado, 0 processo de aquisi~ao se inicia com 0 parametro fixado em urn desses dois val ores, mesmo antes de a crian~a ter sido exposta aos dados da lingua a ser adquirida. Partindo do pressuposto de que as linguas variam com rela~ao ao valor atribuido a determinado parametro, e de que a crian~a, ao aprender sua lingua nativa, marca 0 valor do parametro de acordo com a lingua a que esta exposta, como se comporta urn adulto ao aprender uma segunda lingua (L2), uma vez que ele .ia marcou o valor do parametro para sua primeira lingua (L I), no caso em que sua lingua nativa c a lingua a ser adquirida apresentem valores diferentes para urn mesmo parametro? Para responder a essa questao, de urn lado, varios estudos partem do <+> ou <->. Nesse caso pressuposto de que a aquisi9ao de segunda lingua e semelhante it aquisi9ao de primeira lingua, ou seja, que a GU e acessivel ao adulto aprendiz de L2 (White 1985, Flynn, 1987, Cyrino, 1986, Dulay, Burt & Krashen, 1982). Outros estudos, por outro lado, argumentam que ha diferen9as na aquisi9ao de Lie L2, considerando, entre outras coisas, que a aquisi9ao de L2 se da atraves da transferencia dos val ores parametricos da Ll para a L2 (Vainikka and Young-Scholten, 1996, Schwartz and Sprouse,1996, entre outros). Para delimitar 0 objeto de estudo dentre os varios niveis de analise que poderiam ser abordados para explicar 0 processo de aquisi9ao de L2, optei pelo fenomeno sintatico, referido na literatura como Para metro do Sujeito Nulo (PSN). Neste estudo, prctendo verificar como se da a realiza9ao do sujeito nulo na aquisi9ao do portugucs brasilciro (doravante PB) como segunda lingua por urn falante de chines que tcm 0 inglcs como segunda lingua. As questoes que procuro responder, atravcs de sse estudo, podem scr colocadas da seguinte forma: Qual 0 papel da L2 de Johnny (0 inglcs) no processo de aquisi9ao do PB? Ha algum tipo de interferencia do Ingles para a aquisi9ao do PB no que se refere ao parametro pro-drop? Qual 0 papel da Ll (0 chines) na aquisi9ao do PB como L2? Existe transferencia do chines para 0 PB? Em outros termos, 0 estado inicial de aquisi9ao do PB, como L2, por Johnny deve ser considerado como 0 estado final de sua Ll? Ou a GU seria 0 estado inicial para a aquisi~ao do PB? A minha hip6tese e que 0 pro-drop chines, Ll de Johnny, e 0 valor "default" da GU e que, portanto, no caso dele, GU e Ll se confundem. Assim, Johnny devera, inicialmente, apresentar sujeito nulo para as tres pessoas do discurso, e concordancia unipessoal (cf. Kato (no prelo». Nesse caso especifico, entretanto, nao se pode decidir se 0 aprendiz esta utilizando a GU como 0P9ao "default" ou sua L I. Posteriormente, com base nos dados do input, ele devera remarcar 0 parametro para 0 pro-drop do PB e, consequentemente, passara a exibir concordancia para mais de uma pessoa gramatical. o sujeito dessa pesquisa c urn adolescente chines bilingfie, atualmente com 18 anos de idade. Johnny, 0 sujeito, aprendeu e falou apenas chines ate os 4 anos de idade. Dai em diante, passou a conviver com dois sistemas lingfiisticos distintos: continuou falando chines em casa, com os pais, e passou a falar Ingles na escola. Johnny chegou it cidade de Salvador em 25 de julho de 1997, atraves de urn programa de intercambio, e morou com uma familia brasileira durante 11 meses. Nao tinha estado em contato com a lingua portuguesa antes de vir para 0 Brasil, nem havia recebido qualquer tipo de instru9ao formal. Os dados que compoem 0 corpus dessa pesquisa foram obtidos de urn total de 4 horas de grava90es quinzenais da fala de Johnny, isto e, de 6 sessoes de 30 minutos cada, e de I se9ao de 60 minutos. As grava90es foram realizadas em situa90es de intera9ao normal, sem planejamento de cunho experimental, para que se pudesse obter uma amostra 0 mais natural possivel. As intera90es ocorreram atraves de dialogos que tinham como objetivo estimular a capacidade de narrar do informante, com exce9ao da 7Q grava9ao que constou de urn relato de Johnny sobre a sua estadia no Brasil. A partir da analise dos dados, constatei que os "erros" cometidos pelo aprendiz de L2 podem ser comparados aos "erros" cometidos por crian9as quando da aquisi9ao de L I, devido it ad09ao do valor "default" do parametro, que, no caso, coda L I do aprendiz. Aquilo que a primeira vista parece ser transferencia, pode ser analisado como sendo caracteristicas desse valor "default" que gera uma gramlitica que apresenta estruturas autorizadas pel a GU. Nao posso determinar, com certeza, se C 0 valor "default" (=chines) ou a Ll do sujeito que esta em jogo, mas a teoria dos Principios e Pariimetros fornece esta possivel analise, atraves da GU, para aquilo que antes s6 podia ser analisado como transferencia de L 1. A partir da analise das respostas curtas encontradas nos dados de Johnny, fica evidente que a presenya de sujeito pronominal nulo nos dados aqui analisados constitui contra evidencia para a hip6tese da transferencia de categorias funcionais de L2 para L3. Os dados de Johnny mostram evidencias de que na gramatica do PB em aquisiyao cncontram-se tanto sujeitos nulos quanto sujeitos pronominais plenos, no contexto de respostas a perguntas simlniio. Foi comum na sua fala, numa me sma sessao de gravayao, e ate mesmo numa mesma fala, a preseny'a do sujeito nulo e do sujeito pleno, como pode ser observado nos exemplos abaixo. (72) A: 0 que voce gostaria de fazer nas suas ferias? Voce gostaria de passear, viajar? g J: cv Gosto. Eu gosto. (2 grava9ao) (73) A: Voce foi pro Serra Folia? J: cv Fui. (3ggrava9ao) (74) A: Tern alguma hist6ria interessante la do colegio que voce queira me contar? g J: Eu quero.(2 gravayao) o fato de 0 ingles nao ter movimento V-para-I impede 0 verbo principal de aparecer em respostas curtas. Somente auxiliares e modais tern esse movimento, donde s6 eles poderem aparecer. Se 0 ingles estivesse na base da aquisiyao do PB, poderiamos esperar que apenas auxiliares aparecessem nas respostas. Mas nao e 0 que acontece, como se ve nos exemplos acima. Alem disso, quando aparece 0 auxiliar na pergunta, nem sempre ele e usado na resposta como se ve no exemplo (75): (75) A: Ela ta gostando da familia? g J: cv Gosta. Ela falou cv gosta. (6 gravayao) Logo, em pelo menos dois pariimetros, 0 do sujeito nulo e 0 do movimento do verbo, Johnny nao apresenta sinais de estar usando a gramatica do ingles, sua segunda lingua. Para tentar responder a segunda pergunta, estou assumindo, seguindo Kato (no prelo), a hip6tese de que 0 pro-drop chines, Ll de Johnny, e 0 valor "default" da GU. Portanto, no caso dele, GU eLl se confundem. o resultado da analise dos dados mostra que Johnny come'ta a adquirir 0 PB a partir da marca'tao "default" do chines. 0 uso do nulo com a forma indistinta de terceira pessoa nao-marcada usada para a primeira pessoa do discurso mostra nao so que Johnny come'ta com uma gramlitica unipessoal, como tambem que a ela ele recorre 'quando nao dispoe da morfologia de algum verbo novo. (76) a. A: E televisao? 0 que voce assiste na televisao? J: Eh ... cv assiste televisao eh ... Domingo. (2~ grava'tao) b. Quando eu viajar, quando eu fui viajar, todo dia cv sai festa e ai, muito cansado, na Ano Novo eu fui dormir. (Y grava'tao) Supondo que 0 nulo do chines seja 0 proprio "default", nao posso responder se o sujeito nulo apresentado por Johnny e 0 nulo do chines, sua lingua nativa, ou se Johnny esta utilizando a GU da mesma forma que uma crian'ta quando da aquisi'tao de sua lingua nativa, ou seja, come'tando com 0 para metro pro-drop no valor nao-marcado. Considerando 0 fato de que, ao contrario de uma crian'ta em fase inicial de aquisi'tao, Johnny nao utiliza nomes proprios para se refcrir as pessoas do discurso, mas os pronomes pcssoais, poderiamos presumir que, no processo de aquisi~ao do PB, cle esta partindo da sua Ll. Por outro lado, observando 0 seu comportamento com rcla~ao as respostas curtas, talvez pudcssemos sugerir que cle estaria utilizando a GU, ja que segue uma caminho semelhante ao de uma crian~a adquirindo 0 PB como lingua materna. Johnny come'ta respondendo as perguntas simlniio atravcs da extra~ao de urn segmento contido na pergunta como em (84-85), em seguida, ele passa a usar a forma de terceira pessoa nao-marcada em suas respostas como mostrado em (86 a 89), e, finalmentc elc passa a mostrar alternancia de pessoa como em (90 a 92), 0 que mostra que elc ja esta chegando a concordancia do PB. (84) A: Mas se voce falar chines em qualquer lugar da china cles van entendcr voce? . J: cv Entender. (1~grava'tao) (85) A: Eu quero voltar a conversar com voce dentro de dez, quinze dias, ta certo? J: Ah ... eu quero. (Fgrava'tao) (86) A: Ele corre? (referindo-me ao pai) J: Ele corre. (2~grava~ao) (87) A: Ese urn amigo for te buscar, ele deixa voce sair? J: Hum, hum. A: Deixa? J: cv Deixa. (2~grava'tao) (88) A: Voce trouxe? (musica de Hong Kong) J: cv Trouxe.(2~grava~ao) (89) A: Voce nao vai muito ao cinema? J: Eh ... eu, eu vai muito. (2~ grava'tao) (90) A: Voce gostou da praia? J: Eu gostei. (3~ grava~ao) (91) A: Voce nao foi ontem pro carnaval? J: Eu nao fiJi. ( 411grava~ao) (92) Conhece Bel? J: Ah ... Eu conhe~o. (511grava~ao) A: Levando em considera~ao 0 fato de que 0 chines so possui concordancia de uma pessoa gramatical para as tres pessoas do discurso, ou seja, a forma nao marcada de terceira pessoa do singular para todas as pessoas do discurso, conforme Kato (no prelo) e considerando que 0 PB possui urn sistema de concordancia diferente daquele do chines, ao observarmos os exemplos (101), (102) e (103), que apresentam flexao verbal para a primeira pessoa do singular, poderiamos sugerir que Johnny ja esta come~ando a produzir 0 sujeito nulo da variante do PB que ainda usa sujeito nulo referencial, em especial no contexto de respostas curtas. (101) A: Voce foi pro Serra Folia? J: cv Fui. (311grava~ao) (102) A: Essa e L. Voce lembra dela? J: cv Lembro. cv Conhe~o. (3Ugrava~ao) (103) A: Voce viu Daniela Mercury? J: Sim. A: Gostou dela? J: cv Gostei. (511grava~ao) Esse trabalho teve como objetivo responder as questoes sobre a aquisi~ao dc PB como segunda lingua, por urn adulto falante do chines. Assim, para saber se Johnny estaria utilizando a sua experiencia do chines (sua lingua nativa), do ingles (sua segunda lingua), ou se ele estaria se comportando como urn aprendiz de Ll, a fala de Johnny foi analisada a luz do Parametro do Sujeito Nulo. Ha, nos dados, uma primeira fase cuja caracteristica principal e a presen~a da forma verbal de terceira pessoa, 0 que indica que Johnny ao adquirir 0 PB como L2 estu seguindo urn caminho semelhante aquele percorrido pela crian~a quando da aquisi~ao de uma lingua materna, ou seja, vai usar, inicialmente, 0 nulo "default", isto e, com a forma gramatical de terceira pessoa para referir-se a si proprio, a segunda pessoa e a terceira pessoa, exceto com verbos de alta recorrencia formular. A segunda fase da aquisi~ao da concordancia e aquela em que Johnny come~a a apresentar urn sistema flexional de concordancia, em que estando 0 NP-sujeito na primeira pessoa, 0 verbo tambem C flexionado na primeira pessoa. A partir de entao podem ser observadas formas gramaticais diferentes para a primeira e terceira pessoas do discurso na fala de Johnny, 0 que sugere que ele esta adquirindo a concordancia do PB, .ia que 0 chines, sua lingua nativa, apresenta concordancia apenas para uma pessoa gramatical. Com base nos resultados da nossa analise, posso dizer que 0 nulo scm pcssoa marcada e 0 do chines, e 0 nulo com pessoa marcada c do PB. Ha, porem, momentos em que Johnny parece fazer uso tanto do chines quanto do PB. Contudo, nao se pode dizer que ele tem uma Iingua-I mista. 0 que ele faz c um "code-switching" gramatical de uma lingua para Olltra. um fenomeno de uso. Enquanto Johnny nao sabe a morfologia propria daquela pessoa para aquele verbo, ele vai usando a vc1ha gramatica. Mas ele mostra saber que c preciso modificar a flexao. Enfim, embora Johnny use a velha estratcgia. sua gramMica do PB ja tem os tral;os formais deste. RESUMO: Este trabalho analisa os estagios iniciais de aquisil;aO do portugucs brasileiro eomo segunda lingua. por um adulto falante do chines. 0 fenomeno sintatico adotado foi 0 Pariimetro do Sujeito Nulo. Esse estudo ampara-se no modelo de principios e parametros da teoria da gramMica gerativa (Chomsky. 19XI, 19X6). PALA VRAS-CHA VE: aquisi~ao de segunda lingua: principios nulo; concordflllcia e para metros; sujcito CHOMSKY. N. Principles and Parameters in syntactic theory. In: HORNSTEIN. N .. and LIGHFOOT, D., (eds)., E'l:planations in Linguistics. New York: Longman, 19RI. __ Knoll'ledge (?fLanguage: its nature. origin and use. New York: Praeger, 19R6. CYRINO, S. M. L. The Pro-drop Parameter and Second Language Acquisition. Tcse de mcstrado, Universidade de Iowa, EUA, 1986. DULAY, H.; BURT, M.; KRASHEN, S .. Language two. 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