Universidade Estadual de Montes Claros Departamento de Ciências Exatas Curso de Licenciatura em Matemática Notas de Aulas de Cálculo Rosivaldo Antonio Gonçalves Notas de aulas que foram elaboradas para orientar o estudo de conteúdos básicos de Matemática para o curso de Licenciatura em Matemática. Montes Claros, - 24 de março de 2012 Capı́tulo 1 Introdução 1.1 1.1.1 Coordenadas Cartesianas Plano Os pontos de um plano são identificados com pares ordenados de números naturais reais; P = (x, y), sendo x a abscissa de P e y a ordenada de P . 1.1.2 Espaço Os pontos do espaço são identificados com ternos ordenados de números reais; P = (x, y, z), sendo x a abscissa de P, y a ordenada de P e z a cota de P . 1 1.2 1.2.1 Vetores Plano −→ O par ordenado (x, y) é identificado com o vetor OP , sendo O a origem do sistema ortogonal de coordenadas cartesianas e P o ponto de coordenadas (x, y). 1.2.2 Espaço Os vetores no espaço são introduzidos como ternos ordenados de números reais. 1.2.3 Operações i) (x, y, z) + (x0 , y 0 , z 0 ) = (x + x0 , y + y 0 , z + z 0 ) ii) λ(x, y, z) = (λx, λy, λz); − − − iii) o oposto do vetor → v = (x, y, z), é o vetor −→ v = (−1)→ v = (−x, −y, −z); iv) (x, y, z) − (x0 , y 0 , z 0 ) = (x, y, z) + (−1)(x0 , y 0 , z 0 ) = (x − x0 , y − y 0 , z − z 0 ). → − Nota 1.2.1 0 = (0, 0, 0) é chamado vetor nulo. 1.2.4 Propriedades − − − Quaisquer que sejam os vetores → u ,→ v e→ w e os escalares λ e β temos, − − − − i) → u +→ v =→ v +→ u; − − − − − − ii) (→ u +→ v)+→ w =→ u + (→ v +→ w ); → − − − iii) → u + 0 =→ u; → − − − iv) → u + (−→ u)= 0; − − − v) (λ + β)→ u = λ→ u + β→ u; − − − − vi) λ(→ u +→ v ) = λ→ u + λ→ v; − − vii) (λβ)→ u = λ(β → u ); 2 − − viii) 1→ u =→ u. Demonstração − − i) Sejam → u = (x, y, z) e → v = (x0 , y 0 , z 0 ). Então → − → − u + v = (x, y, z) + (x0 , y 0 , z 0 ) = (x + x0 , y + y 0 , z + z 0 ) = (x0 + x, y 0 + − − y, z 0 + z) = (x0 , y 0 , z 0 ) + (x, y, z) = → v +→ u. As demonstrações dos outros itens ficam como exercı́cios. 1.2.5 Norma −→ − Geometricamente, a norma de um vetor → v = OP é o comprimento do segmento geométrico OP que representa o vetor. √ i na reta: k x k= x2 =| x | p − − ii no plano: → v = (x, y), k → v k= x2 + y 2 p − − iii espaço: → v = (x, y, z), k → v k= x2 + y 2 + z 2 1.3 Produto Escalar Definimos a adição e subtração de vetores e multiplicação de um vetor por um escalar. Agora iremos definir uma operação de multiplicação de dois vetores, chamada produto escalar. − − Definição 1.3.1 Se → v1 = (x1 , y1 , z1 ) e → v2 = (x2 , y2 , z2 ), então o produto escalar − − de → v e→ v é dado por 1 2 → − − v1 · → v2 = x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 Exemplo (2, 3, −1) · (5, 1, 2) = 10 + 3 − 2 = 11 Propriedades − − − Quaisquer que sejam os vetores → u ,→ v e→ w e o escalar λ temos, − − − − u ·→ v =→ v ·→ u i) → 3 − − − − − − − ii) → u · (→ v +→ w) = → u ·→ v +→ u ·→ w − − − − − − iii) (λ→ u)·→ v = λ(→ u ·→ v)=→ u (λ→ v ); − − − iv) → u ·→ u =k → u k2 As demonstrações ficam como exercı́cios. Nota 1.3.2 Sobre as posições relativas de duas retas, relembremos que: 1. Consideremos as retas r1 e r2 , cujas equações paramétricas são dadas,respectivamente, por (x, y) = t(a1 , b1 ) e (x, y) = t(a2 , b2 ), 2. Sabemos que r1 e r2 são perpendiculares se, e somente se, b1 b2 a1 a2 = 1, ou a1 a2 + b1 b2 = 0, ou (a1 , b1 ) · (a2 , b2 ) = 0 Assim, temos a seguinte definição. − − Definição 1.3.3 Dizemos que os vetores → u e→ v são ortogonais (ou perpendiculares) se, e somente se, → − − u ·→ v = 0. Interpretação geometrica do produto escalar − − − − i) → u ·→ v =k → u kk → v k cos α; − − − ii) seja → w o vetor projeção do vetor → v sobre o vetor → u , então → − → − k w k=k v k cos α. como, → − − − − u ·→ v =k → u kk → v k cos α − − =k → u k (k → v k cos α) − − =k → u kk → w k, − − − temos que o produto escalar de → u e→ v é o comprimento de → u multiplicado − − pelo comprimento da projeção de → v sobre → u. 4 1.4 Retas no espaço − − Definição 1.4.1 Dois vetores → u e→ v são colineares ou paralelos se existe um − − número r tal que → u = r→ v. i) Conhecidos um ponto e um vetor: P − P0 = t(P1 − P0 ) P = (1 − t)P0 + tP1 . Exemplos Determinar a equação da reta que passa pelo ponto P0 = (8, 12, 6), paralela − ao vetor → v = (11, 8, 10). − P − P0 = t→ v (x, y, z) − (8, 12, 6) = t(11, 8, 10) (x, y, z) = (8, 12, 6) + t(11, 8, 10). 1.5 Planos no espaço Equação de um plano por um ponto P0 = (x0 , y0 , z0 ), perpendicular a um − vetor → v = (a, b, c). − P − P0 ⊥ → v, isto é, → − v · (P − P0 ) = 0, ou a(x − x0 ) + b(y − y0 ) + c(z − z0 ) = 0, ou ax + by + cz + d = 0. Observações i) Dois planos são paralelos se, e somente se, seus vetores normais forem paralelos; ii) Dois planos são perpendiculares se, e somente se, seus vetores normais forem perpendiculares; − iii) -plano:ax + by + cz + d = 0; → η (a, b, c) → − -plano:xy(z = 0); η = (0, 0, 1) (a, b, c) · (0, 0, 1) = 0 → os dois planos são perpendiculares Um plano tendo uma equação sem termo em z é perpendicular ao plano xy e, portanto, paralelo ao eixo Oz. 5 iv) -plano:by + cz + d = 0 Perpendicular ao plano yz e portanto paralelo ao eixo Ox. v) -plano: ax + cz + d = 0 Perpendicular ao plano xz e portanto paralelo ao eixo Oy. Exemplo Determinar a reta interseção dos planos de equações x − 2y + z − 1 = 0 e 3x + y − 2z − 3 = 0. Resolvendo o sistema de equações obtemos x = 1 + 37 zey = 57 z. Assim, temos as equações parametricas, x = 1 + 73 t; y = 57 t; z = t. Trata-se da reta que passa pelo ponto P0 = (1, 0, 0) na direção do vetor ~v = ( 37 , 57 , 1). Faça o mesmo para os planos de equações: z = −3x + 4 e z = −2y + 1. 1.6 Bola aberta Definição 1.6.1 Sejam a um ponto no Rn e r > 0 um número real. O conjunto B(a; r) = {x ∈ Rn ; k x − a k< r} denomina-se bola aberta de centro a e raio r. -reta B = {x ∈ R; k x − x0 k< r} -plano B = {(x, y) ∈ R2 ; k (x, y) − (x0 , y0 ) k< r} -espaço B = {(x, y, z) ∈ R3 ; k (x, y, z) − (x0 , y0 , z0 ) k< r} 6 1.7 Conjunto aberto Definição 1.7.1 Dizemos que (x0 , y0 ) ∈ A é um ponto interior de A se existir uma bola aberta de centro (x0 , y0 ) contida em A. Exemplo A = {(x, y) ∈ R2 ; x ≥ 0ey ≥ 0} i) Todo (x, y) com x > 0 e y > 0 é ponto interior de A; ii) Todo (x, y) com x = 0 ou y = 0 não é ponto interior de A. Definição 1.7.2 Dizemos que A é um conjunto aberto se todo ponto de A for ponto interior. Exemplo O conjunto A acima não é aberto. 1.8 Ponto de acumulação Definição 1.8.1 Seja um subconjunto do R2 e seja (a, b) ∈ R2 ((a, b) pode pertencer ou não a A). Dizemos que (a, b) é ponto de acumulação de A se toda bola de centro (a, b) contiver pelo menos um ponto (x, y) ∈ A com (x, y) 6= (a, b) Observação (a, b) é o ponto de acumulação de A se existirem pontos de A, distintosde (a, b), tão próximos de (a, b) quanto se queira. Exemplos (1) A = {(x, y) ∈ R2 ; x > 0 e y > 0} (i) Toda (x, y) com x ≥ 0 e y ≥ 0 é o ponto de acumulação de A; (ii) (− 21 , 1) não é ponto de acumulação de A. (2) A = {(1, 2), (−1, 0), (1, 3)} não admite ponto de acumulação. 7 Exercı́cios 1. Marcar, num sistema de coordenadas, os pontos: (a) A = (2, 3, 4), B = (3, 2, −4), C = (−2, 1, 3); (b) D = (−3, 2, −1), E = (−1, −2, 3), F = (−2, −1, −3). 2. Nos itens abaixo, os pontos dados são vertices opostos de um paralelepipedo retângulo de arestas paralelas aos eixos de coordenadas. Determinadas os outros seis vértices e fazer gráficos em cada caso: (a) A = (0, 1, 1) e B = (1, 0, −3); (b) A = (1, 2, 1) e B = (0, −3, −1). 3. Calcular a norma do vetor dado: − (a) → u = ( 21 ); − (b) → u = (0, 1, 2). 4. Calcular a distância entre os dois pontos dados: A = ( 12 , −1, −1 ) e (−1, 21 , −3 ) 3 2 5. Dados A = (−4, −2, 4), B = (2, 7, −1)eC = (5, 4, −3) calcular: (a) A · (B + C); (b) (2A + 3B) · (4C − D); (c) (A · B)(C · D). 6. Determinar o ponto P tal que AP = 3AB, sendo A = (10, 3, 7) e B = (2, −1, 5). 7. Determinar o ângulo entre os vetores dados: − − v = (1, 1, 4); (a) → u = (1, 1, 21 ) e → → − − (b) u = (−2, 1, 0) e → v = (0, −3, 2) 8. Determinar as equações paramétricas da reta pelos pontos dados: (a) A = (1, −2, −1) e B = (4, −1, 5); (b) A = (1, 7, 3) e B = (−1, 7, 5). 10. Determinar as equações paramétricas da reta pela origem, perpendicular ao plano de equação 2x − y + 3z − 6 = 0. 8 11. Determinar o ponto de interseção do plano de equação 2x − y − 3z − 4 = 0 com a reta pelo ponto (0, 1, −1), na direção do vetor (1, −2, 1). 12. NOs itens abaixo determinar equações paramétricas das retas interseções dos planos dados: (a) 2x − y − z − 1 = 0 e x + y − 2z + 7 = 0; (b) 2x − y + 5z = 0 e x + y − 5z = 10; (c) x = −4 e y = 5; (d) x + y = 0 e y + z = 0. 13. Determinar a equação do plano que passa pelo ponto dado e que seja per− pendicular à direção do vetor → η dado: − (a) (1, 1, 1) e → η = (2, 1, 3); − (b) ((2, 1, −1) e → η = (−2, 1, 2). 14. Determine a equação vetorial da reta que passa pelo ponto dado e que seja perpendicular ao plano dado: (a) (0, 1, −1) e x + 2y − z = 3; (b) (2, 1, −1) e 2x + y + 3z = 1. − − 15. Determine um vetor não nulo que seja ortogonal aos vetores → u e→ v dados: − − (a) → u = (1, 2, −1) e → v = (2, 1, 2); − − (b) → u = (3, 2, −1) e → v = (−1, 2, 1). 16. Trace um esboço do plano com equação: (a) 2x + 4y + 3z = 8 (b) 3x + 2y − 6z = 0 17. Encontre a equação do plano que contém o ponto (4, 0, −2) e é perpendicular aos planos x − y + z = 0 e 2x + y − 4z − 5 = 0 18. Verificar quais dos conjuntos abaixo são abertos em R2 : (a) {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 < 1}; (b) {(x, y) ∈ R2 ; x + y ≥ 1} (c) {(x, y) ∈ R2 ; x + y > 3 e x2 + y 2 < 16}. 9 19. Determine o conjunto dos pontos de acumulação do conjunto dado: (a) {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 < 1} (b) {(x, y) ∈ R2 ; x e y inteiros }. 10 Capı́tulo 2 Funções de várias variáveis reais a valores reais 2.1 Funções de duas variáveis reais a valores reais Uma função de duas variáveis reais a valores reais é uma função f : A ⊂ R2 → R. O conjunto A é o domı́nio de f e será indicado por Df ; o conjunto Im(f ) = {f (x, y) ∈ R; (x, y) ∈ Df } é a imagem de f. Exemplos 2.1.1 (1) f (x, y) = √ y−x+ Df = {(x, y) ∈ R2 ; y ≥ x e y ≤ 1} Imf = [0, +∞[ (2) f (x, y) = 5x2 y − 3x Df = R2 Imf = R 11 √ 1−y (3) Seja a função w = f (u, v) dada por u2 + v 2 + w2 = 1, w ≥ 0 (i) u2 + v 2 + w2 = 1 ⇒ w = √ (ii) f (u, v) = 1 − u2 − v 2 √ 1 − u2 − v 2 (iii) Df = {(u, v) ∈ R2 ; 1 − u2 − v 2 ≥ 0} Imf = [0, 1] (4) f (x, y) = p y − x2 Df = {(x, y) ∈ R2 ; y − x2 ≥ 0} Imf = [0, +∞] 2.2 Gráfico Definição 2.2.1 Seja f : A ⊂ R2 → R. O conjunto Gf = {(x, y, z) ∈ R3 ; z = f (x, y), (x, y) ∈ A} denomina-se gráfico de f . Nota 2.2.2 O gráfico de f pode ser pensado como o lugar geométrico descrito pelo ponto (x, y, f (x, y)) quando (x, y) percorre o domı́nio de f . Exemplo 2.2.3 f (x, y) = 2 2.3 Curvas de nı́vel Definição 2.3.1 Sejam z = f (x, y) uma função e c ∈ Imf. O conjunto de todos os pontos (x, y) ∈ Df tais que f (x, y) = c denomina-se curva de nı́vel de f correspondente ao nı́vel z = c. Nota 2.3.2 (i) f é constante sobre cada curva de nivel; 12 (ii) O gráfico de f é um subconjunto do R3 ; uma curva de nı́vel é um subconjunto do domı́nio de f , portanto do R2 . Exemplos 2.3.3 (1) f (x, y) = x2 + y 2 (i) curvas de nı́vel: x2 + y 2 = c → circunferência de centro na origem e √ raio c (ii) z = 0 → origem x = 0 → z = y2 y = 0 → z = x2 (iii) Df = R2 Imf = [0, +∞[ (2) f (x, y) = p 25 − x2 − y 2 p 25 − x2 − y 2 = c ⇒ x2 + y 2 = 25 − c2 , circun√ ferências de centro na origem e raio 25 − c2 (i) curvas de nı́vel: (ii) Df = {(x, y) ∈ R2 ; 25 − x2 − y 2 ≥ 0} Imf = [0, 5] (3) f (x, y) = 8 − x2 − 2y curvas de nı́vel: 8 − x2 − 2y = c ⇒ x2 + 2y = 8 − c ⇒ y = - f (x, y) = x2 + y 2 - f (x, y) = p 25 − x2 − y 2 13 −1 2 x 2 + 8−c 2 - 8 − x2 − 2y Exercı́cio 2.3.4 1. Seja (x, y) = x+y . x−y (a) Determine o domı́nio de f . (b) Calcule f (2, 3) e f (a + b, a − b). 2. Represente graficamente o domı́nio da função z = f (x, y) dada por: (a) f (x, y) = x2 −3xy+1 ; x2 y 2 +1 (b) x + y − 1 + z 2 = 0, z ≥ 0; p √ (c) z = y − x2 + 2x − y; p (d) z = | x | − | y |; √ x2 +y 2 −25 (e) z = ; y (f ) f (x, y) = √ x−y 1−x2 −y 2 ; (g) z 2 + 4 = x2 + y 2 , z ≥ 0. 3. Toda função f : R2 → R dada por f (x, y) = ax + by, sendo a e b reais, demonina-se função linear. Seja f : R2 → R uma função linear. Sabendo que f (1, 0) = 2 e f (0, 1) = 3, calcule f (x, y). 4. Uma função f : A ⊂ R2 → R denomina-se função homogênea de grau n se f (tx, ty) = tn f (x, y) para todo t > 0 e para todo (x, y) ∈ A tais que tx, ty ∈ A. (a) Mostre que f (x, y) = x2 + 3xy é homogênea de grau 2. 14 (b) Suponha que f : R2 → R seja homogênea de grau 2 e f (a, b) = a para √ todo (a, b) com a2 + b2 = 1. Calcule f (4 3, 4) e f (0, 3). 5. Desenhe as curvas de nı́vel e esboce o gráfico: (a) f (x, y) = 1 − x2 − y 2 ; (b) f (x, y) = 1 + x2 + y 2 ; (c) f (x, y) = x2 , −1 ≤ x ≤ 0, y ≥ 0; (d) f (x, y) = 1 − x2 , x ≥ 0, y ≥ 0 e y ≤ 1; (e) f (x, y) = x, x ≥ 0; (f ) f (x, y) = x + 3y; p (g) g(x, y) = 1 − x2 − y 2 ; p (h) z = x2 + y 2 ; (i) f (x, y) = √ 1 1−x2 −y 2 6. Determine a imagem: (a) f (x, y) = x − 2y; (b) z = y ; x−2 (c) z = 4x2 + y 2 . 15 16 Capı́tulo 3 Limite e continuidade 3.1 Limite Sejam f : A ⊂ R2 → R uma função, (x0 , y0 ) um ponto de acumulação de A e L um número real. Definimos lim f (x, y) = L (x,y)→(xo ,y0 ) se, somente se, para cada ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo (x, y) ∈ A 0 <k (x, y) − (x0 , y0 ) k< δ ⇒| f (x, y) − L |< ε Observações (i) lim f (x, y) = L significa: dado ε > 0, existe δ > 0 tal que f (x, y) (x,y)→(x0 ,y0 ) permanece em (L − ε, L + ε) quando (x, y), (x, y) 6= (x0 , y0 ), varia na bola aberta de centro (x0 , y0 ) e raio δ. (ii) Sempre que falarmos que f tem limite em (x0 , y0 ) fica implı́cito que (x0 , y0 ) é ponto de acumulação de Df . Exemplos (1) lim 2x + 3y = 0 (x,y)→(0,0) Devemos mostrar que dado ε > 0, existe δ > 0 tal que 0 <k (x, y) − (0, 0) k< δ ⇒| 2x + 3y − 0 |< ε (i) | 2x + 3y |≤| 2x | + | 3y |= 2 | x | +3 | y | 17 (ii) | x |≤ p x2 + y 2 e | y |≤ p x2 + y 2 p p (iii) De (i) e (ii) temos que | 2x + 3y |≤ 2 x2 + y 2 + 3 x2 + y 2 Assim, dado ε > 0 e tomando δ = 5ε , p 0 <k (x, y) − (0, 0) k< δ ⇒ x2 + y 2 < 5ε , ou seja, 0 <k (x, y) − (0, 0) k< δ ⇒| 2x + 3y |< 5 5ε = ε Logo, lim (2x + 3y) = 0 (x,y)→(xo ,y0 ) (2) f (x, y) = x2 −y 2 x2 +y 2 tem limite (0, 0)? (i) sobre o eixo x : f (x, 0) = 1 (ii) sobre o eixo y : f (0, y) = −1 Não existe número L tal que f (x, y) permaneça próximo de L para (x, y) próximo de (0, 0); este fato indica-nos que f não deve ter limite em (0, 0). De fato, dado ε = 21 temos – se L ≤ 0, | f (x, 0) − L |≥ – se L > 0, | f (0, y) − L |≥ 1 2 1 2 para todo x 6= 0 para todo y 6= 0 Teorema 3.1.1 Se a função f tem limites diferentes quando (x, y) tende a (x0 , y0 ) através de dois conjuntos distintos de pontos que tem (x0 , y0 ) como um ponto de acumulação, então lim f (x, y) não existe. (x,y)→(x0 ,y0 ) Exemplos (1) f (x, y) = x2 −y 2 x2 +y 2 (i) S1 conjunto de todos os pontos no eixo x x2 lim f (x, y) = lim 2 = 1 x→0 x (x,y)→(0,0) (ii) S2 conjuntos de todos os pontos no eixo y −y 2 lim f (x, y) = lim 2 = −1 y→0 y (x,y)→(0,0) 2 2 x −y não existe. Logo lim (x,y)→(0,0) x2 + y 2 18 (2) x2 y (x,y)→(0,0) x4 + y 2 lim 0 =0 (x,y)→(0,0) x4 (ii) S2 conjunto de todos os pontos na reta y = x x3 x =0 lim = lim 4 2 2 (x,y)→(0,0) x + x (x,y)→(0,0) x + 1 (iii) S3 conjunto de todos os pontos na parábola y = x2 x4 1 lim = 4 4 (x,y)→(0,0) x + x 2 x2 y Assim lim não existe. (x,y)→(0,0) x4 + y 2 (i) S1 conjunto de todos os pontos no eixo x lim Observação As propriedades ja conhecidads de limites continuam válidas para fuções de várias variáveis. 3.2 Continuidade Sejam f : A ⊂ R2 → R e (x0 , y0 ) ∈ A um ponto de acumulação de A. Dizemos que f é contı́nua no ponto (x0 , y0 ) se, somente se, as três condições seguintes forem satisfeitas, (i) f (x0 , y0 ) existe; (ii) lim f (x, y) existe; (x,y)→(x0 ,y0 ) (iii) lim (x,y)→(x0 ,y0 ) f (x, y) = f (x0 , y0 ) Observação As propriedades já conhecidas de continuidade continuam válidas para funções de várias variáveis. Exemplos (1) f (x, y) = 2 lim f (x, y) = (x,y)→(x0 ,y0 ) lim (x,y)→(x0 ,y0 ) 2 = 2 = f (x0 , y0 ) (2) Discuta a continuidade de x2 + y 2 , se x2 + y 2 ≥ 1; f (x, y) = 0, se x2 + y 2 < 1. 19 (i) f está definida em todos os pontos de R2 , assim a condição (i) é verificada em todo ponto (x0 , y0 ) (ii) Consideremos os pontos (x0 , y0 ) tais que x2 0 + y 2 0 6= 1 ∗ x0 2 + y0 2 > 1, lim f (x, y) = ∗ (x,y)→(x0 ,y0 ) x0 2 + y 0 2 < 1, f (x, y) = lim lim (x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) lim (x,y)→(x0 ,y0 ) x2 + y 2 = x0 2 + y0 2 = f (x0 , y0 ) 0 = f (x0 , y0 ) Então f é contı́nua em todos os pontos (x0 , y0 ) tais que x0 2 +y0 2 6= 1 (iii) Consideremos os pontos (x0 , y0 ) tais que x0 2 + y0 2 = 1(devemos mostrar que lim f (x, y) existe e é igual a 1). (x,y)→(x0 ,y0 ) ∗ Seja S1 o conjunto de todos os pontos (x, y) tais que x2 + y 2 ≥ 1 lim f (x, y) = lim x2 + y 2 = x20 + y02 = 1 (x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 ) ∗ Seja S2 o conjunto de todos os pontos (x, y) tais que x20 + y02 < 1 lim f (x, y) = lim 0=0 (x,y)→(x0 ,y0 ) Assim (x,y)→(x0 ,y0 ) lim f (x, y) não existe. (x,y)→(x0 ,y0 ) Portanto, f é descontı́nua em todos os pontos (x0 , y0 ) para os quais x0 2 + y0 2 = 1 (3) Discuta a continuidade de f (x, y) = √ y x2 +y 2 −25 (i) g(x, y) = y é contı́nua p (ii) h(x, y) = x2 + y 2 − 25 é contı́nua em todos os pontos de R2 para os quais x2 + y 2 > 25. Então, f é contı́nua em todos os pontos de R2 para os quais x2 +y 2 > 25 20 Exercı́cios 1. Calcule, caso exista: 1 ; (x,y)→(0,0) x2 + y 2 x+y ; (b) lim (x,y)→(0,0) x − y (a) (c) (d) lim x sin xy 2 ; (x,y)→(0,0) x2 − y 2 lim lim x3 + 2x2 y − y 2 + 2; (x,y)→(0,0) x p ; (x,y)→(0,0) x2 + y 2 xy . (f) lim 2 (x,y)→(0,0) x + y 2 (e) lim 2. Prove, usando a definição, que: (a) lim k = k; (x,y)→(x0 ,y0 ) (b) lim (x,y)→(x0 ,y0 ) x = x0 . 3. Determine o conjunto dos pontos de continuidade de f (x, y).Justifique a resposta. (a) f (x, y) = 3x2 y 2 − 5xy + 6; x−3y , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 (b) f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). (c) f (x, y) = xy ; sqrt16−x2 −y 2 (d) f (x, y) = xln(x, y; ) sin(x+y) , se(x, y) 6= (0, 0); x+y (e) f (x, y) = 1, se(x, y) = (0, 0). (f) f (x, y) = ln x2x−y +y 2 ; (g) f (x, y) = √ x−y 1−x2 −y 2 . 21 4. f (x, y) = xy 2 , se(x, y) x2 +y 2 6= (0, 0); 0, se(x, y) = (0, 0). 22 é contı́nua em (0, 0)? Justifique. Capı́tulo 4 Derivadas parciais 4.1 Derivadas parciais Tratamos uma função de n variáveis como uma função de uma variável, variando uma delas e mantendo as outras fixas; isto leva ao conceito de uma derivada parcial. Seja z = f (x, y) uma função real de duas variáveis reais e seja (x0 , y0 ) ∈ Df . Fixado (y0 ) podemos considerar a função g de uma variável dada por g(x) = f (x, y0 ) . A derivada da função g no ponto x0 , caso exista, denomina-se derivada parcial de f , em relação a x, no ponto (x0 , y0 ) e indica-se por ∂f (x0 , y0 ). ∂x ∂f 0 Assim, ∂x (x0 , y0 ) = g (x0 ) e temos, ∂f g(x) − g(x0 ) (x0 , y0 ) = g 0 (x0 ) = lim x→x0 ∂x x − x0 , ou seja, ∂f f (x, y0 ) − f (x0 , y0 ) (x0 , y0 ) = lim , x→x0 ∂x x − x0 ou ainda, ∂f f (x0 + ∆x, y0 ) − f (x0 , y0 ) (x0 , y0 ) = lim . ∆x→0 ∂x ∆x 23 De modo análogo define-se derivada parcial de f em relação a y, no ponto (x0 , y0 ), ∂f f (x0 , y) − f (x0 , y0 ) (x0 , y0 ) = lim y→y0 ∂y y − y0 , ou ∂f f (x0 , y0 + ∆y) − f (x0 , y0 ) (x0 , y0 ) = lim ∆y→0 ∂y ∆y , Observações (i) ∂f (x, y) ∂x é a derivada, em relação a x, de f (x, y) mantendo-se y constante; (ii) ∂f (x, y) ∂y é a derivada, em relação a y, de f (x, y) mantendo-se x constante. Exemplos (1) f (x, y) = 2xy − 4y ∂f f (x + ∆x, y) − f (x, y) (x, y) = lim ∆x→0 ∂x ∆x 2(x + ∆x)y − 4y − 2xy + 4y ∆x→0 ∆x = lim 2y∆x = 2y ∆x→0 ∆x = lim ∂f f (x, y + ∆y) − (f (x, y)) (x, y) = lim ∆y→0 ∂y ∆y 2x(y + ∆y) − 4(y + ∆) − 2xy + 4y ∆y→0 ∆y = lim 2xy + 2x∆y − 4y − 4∆y − 2xy + 4y ∆y→0 ∆y = lim 2x∆y − 4∆y = 2x − 4 ∆y→0 ∆y = lim 24 - para obter ∂f (x, y) devemos olhar y como constante e derivar em ∂x ∂f relação a x : ∂x (x, y) = 2y - para obter ∂f (x, y) devemos olhar x como constante e derivar em ∂y ∂f relação a y : ∂y (x, y) = 2x − 4 (2) f (x, y) = x3 −y 2 , se(x, y) x2 +y 2 6= (0, 0); 0, se(x, y) = (0, 0). - se (x, y) 6= (0, 0) podemos aplicar a regra do quociente 3x2 (x2 + y 2 ) − (x3 − y 2 )2x ∂f (x, y) = ∂x (x2 + y 2 )2 = 3x4 + 3x2 y 2 − 2x4 + 2xy 2 (x2 + y 2 )2 = x4 + 3x2 y 2 + 2xy 2 (x2 + y 2 )2 ∂f −2y(x2 + y 2 ) − (x3 − y 2 )2y (x, y) = ∂y (x2 + y 2 )2 = −2x2 y − 2x3 − 2x3 y + 2y 3 (x2 + y 2 )2 = −2x2 y − 2x3 y (x2 + y 2 )2 - Em (0, 0) ∂f f (x, 0) − f (0, 0) (0, 0) = lim x→0 ∂x x−0 = lim x→0 x =1 x ∂f f (0, y) − f (0, 0) (0, 0) = lim y→0 ∂y y−0 −1 y→0 y = lim , que não existe. 25 - Interpretação geométrica Suponhamos que z = f (x, y) admite derivadas parciais em (x0 , y0 ) ∈ Df . O gráfico da função g(x) = f (x, y0 ), no plano x0 y00 z, é a interseção do plano y = y0 com gráfico de f . Então, ∂f (0, 0) é o coeficiente angular da reta tangente T a esta interseção ∂x no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )). Observação A existência de derivada parcial num ponto não implica a continuidade da função neste ponto; por exemplo, xy , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). (i) f admite derivadas parciais em (0, 0): f (x, 0) − f (0, 0) ∂f (0, 0) = lim x→0 ∂x x 0 =0 x→0 x lim ∂f (0, 0) ∂y f (0, y) − f (0, 0) y→0 x = lim 0 =0 y→0 y lim (ii) f não é contı́nua em (0, 0): – (a)S1 conjunto de todos os pontos no eixo x lim f (x, y) = lim 0 = 0 (x,y)→(0,0) x→0 – (b)S2 conjunto de todos os pontos na reta y = x x2 1 lim f (x, y) = lim 2 = x→0 (x,y)→(0,0) 2x 2 Como a existência de derivadas parciais não implica em continuidade temos que ela não é uma boa generalização do conceito de diferenciabilidade dado para funções de uma variável. Veremos agora qual é a boa generalização do conceito de diferenciabilidade para funções de várias variáveis reais. Exercı́cios 26 1. Determine as derivadas parciais: (a) f (x, y) = 5x4 y 2 + xy 3 + 4; (b) z = cos(xy); (c) f (x, y) = e−x (d) z = x3 +y 2 x2 +y 2 (e) f (x, y) = ; 2 −y 2 ; x+y 4 , se(x, y) x2 +y 2 6= (0, 0); 0, se(x, y) = (0, 0). (f) f (x, y) = (4xy − 3y 3 )3 + 5x2 y; (g) z = xyexy ; (h) g(x, y) = xy . 2. Dada f (x, y) = (a) (b) x3 +y 3 , se(x, y) x2 +y 2 6= (0, 0); encontre: 0, se(x, y) = (0, 0). ∂f (0, 0) ∂x ∂f (0, 0) ∂y 3. Encontre a declividade da reta tangente à curva de interseção da superficie z = x2 + y 2 com o plano y = 1 no ponto (2, 1, 5). 4. Dizemos que (x0 , y0 ) é um ponto critico de f (x, y) se ∂f (x0 , y0 ) = ∂y 0.Determine, caso existam, os pontos crı́ticos da função dada: (a) f (x, y) = x2 + y 2 ; (b) f (x, y) = x2 − 2xy + 3y 2 + x − y; (c) f (x, y) = 2x + y 3 ; (d) f (x, y) = x3 + y 3 − 3x − 3y (5.) Seja z = f (x, y) dada implicitamente por x2 + y 2 + z 2 = 1, z > 0. Temos, ∂ 2 ∂1 (x + y 2 + z 2 ) = ∂x ∂x 2x + 2z 27 ∂z =0 ∂x ∂z −2x −x −x = = =p , x2 + y 2 < 1 2 2 ∂x 2z y 1−x −y (a) Calcule ∂z ∂y (b) Seja z = f (x, y) dada implicitamente pela equação exyz = x2 + y 2 + z 2 . ∂z ∂z Calcule ∂x e ∂y . 28 Capı́tulo 5 Funções diferenciáveis Diferencial f : R → R 5.1 Definição 5.1.1 Definimos a diferencial de f : R → R no ponto x0 como sendo a função linear L : R → R dada por L(h) = f 0 (x0 )h. Observação Em notação clássica:dy = f 0 (x0 )dx Interpretação geométrica • equação da reta tangente: Y − f (x0 ) = f 0 (x0 )(x − x0 ) Y = f (x0 ) + f 0 (x0 )h = f (x0 ) + L(h) L(h) = Y − f (x0 ) , isto é, a diferencial é a variáção que sofre a reta tangente quando se passa do ponto x0 ao ponto x0 + h. Assim, a diferencial fornece uma boa aproximação para o acréscimo f (x0 + h) − f (x0 ) quando h é pequeno. 29 • O acréscimo dy pode ser olhado como um valor aproximado para ∆y = f (x0 + ∆x) − f (x0 ); o erro ∆y − dy que se comete na aproximação de ∆y por dy será tanto menor quanto menor for ∆x. Exemplo √ Calcule um valor aproximado para 1, 01 √ (i) y = x, dy = 2√1 x dx (ii) x = 1, dx = 0, 01 Para x = 1 e dx = 0, 01 dy = 1 · 0, 01 = 0, 05 2 1 + dy = 1, 005 ∼ = √ 1, 01 Definição 5.1.2 Uma função f : R → R é diferenciável em x0 se, e somente se, existir um real a tal que f (x0 + h) − f (x0 ) − ah =0 h→0 |h| lim Observação (i) f é diferenciável ⇔ f é derivável f (x0 + h) − f (x0 ) − ah =0 h→0 |h| lim f (x0 + h) − f (x0 ) − ah =0 h→0 h ⇔ lim f (x0 + h) − f (x0 ) = a = f 0 (x0 ) h→0 h ⇔ lim h=x−x f (x0 + h) − f (x0 ) − ah z}|{ 0 (ii) f é diferenciável ⇔ lim = 0 ⇔ existe uma reta h→0 |h| passando por x0 de equação f (x0 ) + a(x − x0 ) tal que a distância f (x) − f (x0 ) − a(x − 0), entre a curva e a reta, tende a zero mais depressa que h = (x − x0 ), ou seja, esta reta é tangente à curva no ponto (x0 , f (x0 )). 30 5.2 Função diferenciável Uma função f : A ⊂ R2 → R é diferenciável em (x0 , y0 ) se, e somente se, existirem reais a e b tais que f (x0 + h, y0 + k) − f (x, y) − ah − bk (h,k)→(0,0) ||(h, k)|| lim - Interpretação geométrica p Façamos,h = x − x0 , k = y − y0 e δ = (x − x0 )2 + (y − y0 )2 f é diferenciável ⇔ f (x0 + h, y − y0 + k) − f (x0 , y0 ) − ah − bk =0 (h,k)→(0,0) ||(h, k)|| lim ⇔ existe um plano passando por (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) de equação Z = f (x0 , y0 )+ a(x − x0 ) + b(y − y0 ) tal que a distância f (x, y) − Z, entre a superficie e o plano, ao longo das perpendiculares ao plano Oxy, tende a zero mais depressa que δ, ou seja, este plano é tangente à superficie no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )). Observações (i) Se f for diferenciável em (x0 , y0 ), f admitirá derivadas parciais neste ponto. – Fazendo k = 0, f (x0 + h, y0 ) − f (x0 , y0 ) − ah =0 h→0 |h| ⇔ lim f (x0 + h, y0 ) − f (x0 , y0 ) − ah =0 h→0 h f (x0 + h, y0 ) ∂f =a= (x0 , y0 ) ⇔ lim h→0 h ∂x ⇔ lim – Fazendo h = 0, b = ∂f (x0 , y0 ) ∂y (ii) A recı́proca é falsa. Exemplos (1) f (x, y) = x2 y ∂f (x, y) ∂x = 2xy; ∂f (x, y) = x2 ∂y f (x + h, y + k) = (x + h)2 (y + k) = (x2 + 2xh + h2 )(y + k) 31 x2 y + x2 k + 2xyh + 2xhk + yh2 + h2 k f (x + h, y + k) − f (x, y) − ah − bk (h,k)→(0,0) ||(h, k)|| lim x2 y + x2 k + 2xyh + yh2 + h2 k − x2 y − 2xyh − x2 k √ (h,k)→(0,0) h2 + k 2 lim 2xhk + yh2 + h2 k √ (h,k)→(0,0) h2 + k 2 k h h lim [2xh √ + yh √ + hk √ ]=0 (h,k)→(0,0) h2 + k 2 h2 + k 2 h2 + k 2 lim Então f é diferenciável em todo (x, y) ∈ R2 . x3 , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 ; é diferenciável em (0, 0) (2) f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). ∂f f (x, 0) − f (0, 0) (0, 0) = lim x→0 ∂x x−0 x lim = 1 x→0 x ∂f f (0, y) − f (0, 0) (0, 0) = lim y→0 ∂y y−0 0 = lim = 0 y→0 y (0, 0)h − f (0 + h, 0 + k) − f (0, 0) − ∂f ∂x √ lim (h,k)→(0,0) h2 + k 2 h3 −h h2 +k2 lim √ 2 (h,k)→(0,0) h + k2 h3 − h(h2 + k 2 ) √ (h,k)→(0,0) (h2 + k 2 ) h2 + k 2 lim −hk 2 √ (h,k)→(0,0) (h2 + k 2 ) h2 + k 2 lim – S1 conjuntos de todos os pontos no eixo h: −h3 1 √ =− √ h→0 2h2 2h2 2 2 lim 32 ∂f (0, 0)k ∂y – s2 conjunto de todos os pontos na reta k = h: −h3 −h √ = lim √ , h→0 2h2 2h2 h→0 2 2|h| lim que não existe. Então f não é diferenciável em (0, 0). Teorema 5.2.1 Se f for diferenciável em (x0 , y0 ) então será continua em (x0 , y0 ) Observação A recı́proca é falsa, como mostra o exemplo abaixo. Exemplo x3 , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). Mostramos no exemplo (2) acima que esta função admite derivadas parciais em (0, 0) e não é diferenciável, mas ela é continua, pois lim (x,y)→(0,0) 5.3 f (x, y) = lim (x,y)→(0,0) x x2 = 0 = f (0, 0) x2 + y 2 Condição suficiente para diferenciabilidade Teorema 5.3.1 Se as derivadas parciais de f : A ⊂ R2 → R existem e são contı́nuas num aberto, então f é diferenciável nesse aberto. Exemplo Seja f (x, y) = x2 y; temos que ∂f (x, y) = 2xy e ∂f (x, y) = x2 , que são contı́∂x ∂y nuas em R2 ; e mostramos na página 33 que esta função é diferenciável. 5.4 Plano tangente Definição 5.4.1 Seja f diferenciável no ponto (x0 , y0 ). O plano 33 z = f (x0 , y0 ) + ∂f ∂f (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ), ∂x ∂y denomina-se plano tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )). 5.5 Reta Normal O plano tangente é perpendicular à direção do vetor ∂f ∂f → − η = ( (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), 1) ∂x ∂y Reta que passa pelo ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) e é paralelo ao vetor (∗) denomina-se reta normal ao gráfico de f no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )). A equação de tal reta é, (x, y, z) = (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) + λ( ∂f ∂f (x0 , y0 ), (x0 , y0 ), 1), λ ∈ R ∂x ∂y Exemplo Dada f (x, y) = 3x2 y − x, determine as equações do plano tangente e da reta normal no ponto (1, 2, f (1, 2)). (i) ∂f (x, y) ∂x = 6xy − 1, ∂f (1, 2) = 11 ∂x (ii) ∂f (x, y) ∂y = 3x2 , ∂f (1, 2) = 3 ∂y (iii) f (1, 2) = 5 (iv) equação do plano tangente: T (x, y) = f (x0 , y0 ) + ∂f ∂f (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) ∂x ∂y z = 5 + 11(x − 1) + 3(y − 2) z = 5 + 11x − 11 + 3y − 6 = −12 + 11x + 3y 11x + 3y − z − 12 = 0 (v) vetor normal: (11, 3, −1) (vi) equação da reta normal: (x, y, z) = (1, 2, 5) + λ(11, 3, −1), λ ∈ R 34 5.6 Diferencial Definimos a diferencial de f : R2 → R no ponto (x0 , y0 ) como sendo a transformação linear L : R2 → R dada por, L(h, k) = ∂f ∂f (x0 , y0 )h + (x0 , y0 )k ∂x ∂y Observação (x, y)dx + Em notação clássica: dz = ∂f ∂x Interpretação geométrica -equação do plano tangente: ∂f (x, y)dy ∂y ∂f ∂f (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) ∂x ∂y fazendo x = x0 + h e y = y0 + k temos T (x, y) = f (x0 , y0 ) + ∂f ∂f (x0 , y0 )h + (x0 , y0 )k ∂x ∂y T (x, y) = f (x0 , y0 ) + L(h, k) T (x, y) = f (x0 , y0 ) + L(h, k) = T (x0 + h, y0 + k) − f (x0 , y0 ), isto é, a diferencial é a variação que sofre o plano tangente quando se passa do ponto (x0 , y0 ) ao ponto (x0 + h, y0 + k) Exemplo Dada f (x, y) = x2 y, calcule um valor aproximado para a variação ∆z quando se passa se x = 1 e y = 2 para x = 1, 02 e y = 2, 01. (i) ∂f (x, y) ∂x = 2xy, ∂f (x, y) = x2 ∂x (ii) dx = 0, 02, dy = 0, 01 dz = 2xydx + x2 dy dz = 4 · 0, 02 + 1 · 0, 01 dz = 0, 09 ∼ = ∆z (iii) erro cometido: 0, 001204, pois ∆z = f (x + dx, y + dy) − f (x, y) = (x + dx)2 (y + dy) − x2 y = (1, 02)2 · 2, 01 − 2 = 0, 091204 35 Exercı́cios 1. Prove que as funções dadas são diferenciáveis: (a) f (x, y) = xy (b) f (x, y) = x + y (c) f (x, y) = x2 + y 2 (d) f (x, y) = x2 y 2 2. f é diferenciável em (0, 0)? Justifique. x2 −y2 , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 (a) f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). x2 y , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 (b) f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). x4 , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 (c) f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). 3. Determine o conjunto dos pontos em que a função dada é diferenciável: xy , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 (a) f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). x3 , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 (b) f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). xy3 , se(x, y) 6= (0, 0); x2 +y 2 (c) f (x, y) = 0, se(x, y) = (0, 0). 4. Determine as equações do plano tangente e da reta normal ao gráfico da função dada, no ponto: (a) f (x, y) = 2x2 y em (1, 1, f (1, 1)); (b) f (x, y) = x2 + y 2 em (0, 1, f (0, 1)); 36 (c) f (x, y) = 3x3 y − xy em (1, −1, f (1, −1)); (d) f (x, y) = xy em ( 12 , 12 , f ( 21 , 12 )) 5. z = 2x + y é a equação do plano tangente ao gráfico de f (x, y) no ponto (1, 1, 3). Calcule ∂f (1, 1) e ∂f (1, 1) ∂x ∂y 6. Determine o plano que seja paralelo ao plano z = 2x + y e tangente ao gráfico de f (x, y) = x2 + y 2 , no ponto (1, 1, 2) 7. Determine o plano que seja paralelo ao plano z = 2x + 3y e tangente ao gráfico de f (x, y) = x2 + xy, no ponto (−1, 1, 0) 8. Calcule a diferencial: (a) z = x3 y 2 (b) z = sin(xy) 9. Seja z = xex 2 −y 2 (a) Calcule a diferencial de z (b) Calcule um valor aproximado para a variação ∆z em z, quando se passa de x = 1 e y = 1 para x = 1, 01 e y = 1, 002 (c) Calcule um valor aproximado para z, correspondente a x = 1, 01 e y = 1, 002. √ √ 10. Seja z = x + 3 y (a) Calcule a diferencial de z no ponto (1, 8); (b) Calcule um valor aproximado para z, correspondente a x = 1, 01 e y = 7, 9 37 38 Capı́tulo 6 Gradiente 6.1 Vetor gradiente Definição 6.1.1 Seja z = f (x, y) uma função que admite derivdas parciais em (x0 , y0 ). O vetor, ∇f (x0 , y0 ) = ( ∂f ∂f (x0 , y0 ), (x0 , y0 )) ∂x ∂y , denomina-se gradiente de f em (x0 , y0 ). -Interpretação geométrica Seja f (x, y) = x2 + y 2 , então ∇f (x, y) = (2x, 2y). • ∇f ( √ √ 2 , 22 ) 2 √ √ = ( 2, 2) • ∇f (1, 0) = (2, 0) Assim, temos que o vetor gradiente é um vetor normal à curva de nı́vel. Observações (i) O gradiente não é perpendicular ao gráfico, e nem poderia, pois ∇f ∈ R2 ; já vimos que o vetor normal ao gráfico é ( ∂f (x0 , y0 ), ∂f (x0 , y0 ), −1). ∂x ∂y 39 (ii) Para funções de uma variável real temos, dy = f 0 (x0 )dx para funções de duas variáveis reais, temos dz = =( ∂f ∂f (x0 , y0 )dx + (x0 , y0 )dy ∂x ∂y ∂f ∂f (x0 , y0 ), (x0 , y0 )) · (dx, dy) ∂x ∂y Assim, se f é diferenciável em (x0 , y0 ) definimos a derivada de f em (x0 , y0 ) por f 0 (x0 , y0 ) = ( ∂f ∂f (x0 , y0 ), (x0 , y0 )) = ∇f (x0 , y0 ) ∂x ∂y Exercı́cios 1. Calcule o gradiente de f; (a) f (x, y) = x2 y (b) f (x, y) = ex (c) f (x, y) = 2 −y 2 x y 40