Sociedade da Informação e Produção de Subjetividade Prof. Liliana M. Passerino Ufrgs, 2006 je So c In ieda for de ma da çã o e og cn ol o açã uc Te Ed ias Le tra Di men git to al sub d ida tiv 1 O que é subjetividade? Conceituando Subjetividade • A palavra subjetividade é associada à Psicologia; • No senso comum transmite a idéia de sujeito, de pessoal; • Porém, o conceito de subjetividade surge com a ciência moderna e está vinculado às Ciências Sociais e Humanas e à Psicologia Social em especial; • Conceituação dependente do momento histórico; 2 Subjetividade ou produção de subjetividade? • Na atualidade, a subjetividade é vista como um processo de constituição do ser enquanto indivíduo que pertence a grupos sociais e a uma cultura compartilhando crenças e valores nessa dimensão cultural. • Essa constituição não é determinista! mas dialética e resulta tanto na produção de individualidade quanto na constituição da sociedade; “Produzimos a Sociedade que nos produz”(Morin, 1999, p.23) “...nem somos, mulheres e homens, seres simplesmente determinados nem tampouco livres de condicionamentos genéticos, culturais, sociais, históricos, de classe, de gênero, que nos marcam e a que nos achamos referidos." (Freire, 1996,:111) 3 Relação entre o Social e o Psicológico: dicotomias Objetividade X Subjetividade Indivíduo X Sociedade Corpo X Mente Natural X Cultural Razão X Emoção Exclusão X Inclusão Superando Dicotomias • A Psicologia Social surge para estabelecer uma ponte entre a psicologia e a sociologia. • Seu objeto de estudo é a interação social e existem muitas escolas de pensamento que tentaram superar as dicotomias anteriores, entre elas: – Interacionismo Simbólico (Mead) – Teoria do Posicionamento (Harré, Gillet,etc.) – Erving Goffman (Teoria dos Papéis); – Psicologia Soviética (Vygotsky); 4 Psicologia Social Soviética • A subjetividade é construída nas relações sociais, da interação entre os homens e destes homens com o meio (físico, social, etc.) • A psicologia social soviética estuda o processo de desenvolvimento do homem buscando compreender como se dá a construção dos Processos Psicológicos Superiores a partir das relações sociais nas quais está imerso. • O mundo objetivo passa a ser visto, não como fator de influência para o desenvolvimento da subjetividade, mas como fator constitutivo; Psicologia Social Soviética • Cada indivíduo se constitui como tal nas relações com os outros e na apropriação da realidade criada pelas gerações anteriores (cultura). • A apropriação acontece através do uso e criação de instrumentos e signos em práticas culturais. 5 Processo de Desenvolvimento INDIVÍDUO CULTURA Interação MEDIAÇÃO BASE BIOLÓGICA + ESPAÇO SÓCIO-HISTÓRICO Mediação • Mediação é um processo dinâmico, no qual intervém ferramentas e signos numa ação (contexto social) • A atividade humana só pode ser compreendida se consideramos os instrumentos e signos que mediam a mesma (Werstch, 1993) 6 Instrumentos Psicológicos: signos • Os signos são: – Intersubjetivos porque são socialmente compartilhados. incorporam as várias formas de interpretar intersubjetivamente o mundo que se acumularam numa cultura ao longo da sua história. – Perspectivos porque sua aprendizagem é feita a partir da perspectiva do outro, o que permite que o mesmo símbolo possa ser utilizado desde perspectivas diferentes. (Tomasello, 2003) Tecnologias como signos • As tecnologias são signos na medida que permitem estruturar e organizar a ação humana; • As atividades humanas são interações estabelecidas entre: – Pessoas – Objetos (naturais ou artificiais) – Idéias e representações • As tecnologias são produtos de uma cultura, numa dinâmica entre sociedade, tecnologia e cultura; • As tecnologias não determinam a cultura. Porém condicionam a mesma (Levy, 1999); • Criando novas possibilidades de interação e, portanto, de subjetivação; 7 Tecnologias e novas formas de interação: Cibercultura • Ciberespaço: novo meio que surge a partir da interconexão global e que envolve: – Infraestrutura; – Informações; – Pessoas; • “é o espaço conceitual em que palavras, relacionamentos, dados, riqueza e poder são manifestados pelas pessoas que usam uma infraestrutura tecnológica”(Rheinghold apud Pallof;Pratt, 2002) – Cibercultura: é um novo universal composto de conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), práticas, atitudes, modos de pensamentos, crenças e valores. (Levy, 1999) Sociedade da Informação: origem e conceito • Também chamada de Sociedade do Conhecimento, o termo SI surge no fim do século XX como derivado do fenômeno da Globalização; • De acordo com Glossário da Sociedade da Informação (ADPSI, 2005): – SI é a etapa no desenvolvimento da civilização moderna que é caracterizada pelo papel social crescente da informação, por um crescimento da partilha dos produtos e serviços de informação no PIB e pela formação de um espaço global de informação. 8 Sociedade da Informação: origem e conceito • A SI é conseqüência da explosão informacional, caracterizada sobretudo pela aceleração dos processos de produção e de disseminação de informação e de conhecimento aliado ao uso intenso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) Características da Sociedade da Informação • Para Takahashi (2000) três são os fenômenos que caracterizam a SI: –Convergência tecnológica: –Dinâmica da Industria: baixo custo e aumento de produção –Expansão da Internet 9 Sociedade da Informação: Visão Paradigmática • Constitui um novo paradigma; • Conceito de Paradigma: – estrutura mental, consciente ou não que serve para classificar o mundo e poder abordar. – Corpo de conhecimentos científicos e crenças tidas como verdadeiras por uma comunidade científica(Kuhn, 1989); • Para Capra, um paradigma social é “uma constelação de concepções, de valores, de percepções e de práticas compartilhados por uma comunidade, que dá forma a uma visão particular da realidade, a qual constitui a base da maneira como a comunidade se organiza”(1996:25) Importância dos Paradigmas: • Proporcionam uma imagem de mundo e crenças básicas da realidade (filosófico); • Definem uma estrutura e identidade de uma comunidade estabelecendo a estrutura das relações internas e externas de tal comunidade (sociológico) • Oferecem um marco operativo de trabalho (metodológico); • Condicionam decisões que afetam o resto da sociedade (político/econômico) 10 Produção de Subjetividade e SI • As tecnologias são a base da SI e esta enquanto sociedade estabelece um marco de produção de subjetividade; • Mas como acontece essa produção? – A partir de novas possibilidades de interação; – De atualização de interações sociais já existentes; – Pela apropriação de novas formas culturais que se instauram no ciberespaço e a Educação? • Educação é um pilar na SI; • Educar para a SI: – Desenvolver novas competências – Aprender a aprender; – Promover a inclusão social: apropriação de práticas culturais da SI; – Evitar reducionismo: a mera instrumentalização tecnológica ou inserção tecnológica não é suficiente; – É preciso promover o letramento digital 11 Letramento Digital Letrar é mais que alfabetizar • Letramento: é desenvolver domínios de técnicas e habilidades para atribuir e produzir significados; • Letramento Digital é, portanto, desenvolver domínios de técnicas e habilidades que permitam atribuir e produzir significados no Ciberespaço; Um exemplo de escrita digital • Celulares com telas pequenas (aspectos de espaço) deram origem a mensagens curtas rápidas e com uso de recursos gráficos e abreviaturas: – – – – – Letras ou símbolos como ideogramas (menin@) Iniciais com valor de palavra completa (Br –Brasil) Letras com valor silábico (qq – qualquer) Símbolos com valor de ícones ( ;-) ou []s) Ignorar gramática e ortografia; • São respostas à novas condições e funções do texto nessa tecnologia: – Limitações espaciais/temporais; – Funcionalidade diferenciada; – Rapidez de leitura/escrita 12 Letramento Digital e Inclusão Letramento Digital promove a Inclusão ao permitir que as pessoas passem a participar dos usos e costumes de outro grupo; • Objetivos do Letramento Digital: – Acessar, interagir, processar e desenvolver multiplicidade de competências na leitura/escrita das mais variadas mídias; – Construir sentidos a partir de textos que se conectam a outros textos, e mesclam elementos pictóricos e sonoros numa mesma superfície; Objetivos do Letramento Digital (2) – Localizar, filtrar e avaliar criticamente informação disponibilizada eletronicamente; – Apropriação das normas que regem a comunicação com outras pessoas através dos sistemas computacionais (netiqueta, por exemplo); – Participar das práticas sociais do ciberespaço... ....ou seja se apropriar da Cibercultura e habitar Comunidades Virtuais! 13 Comunidades virtuais • Para Levy(1999) comunidade é um grupo de pessoas se correspondendo mutuamente por meio de computadores interconectados; • Para Recuero(2002) uma comunidade é um grupo de pessoas que estabelecem entre si relações sociais durante um tempo suficiente para que elas possam constituir um corpo organizado, através da comunicação mediada por computador. 14 Finalizando... • A produção da subjetividade, como processo social, hoje é permeada pela Sociedade da Informação que se embasa no uso intensivo e ostensivo das TICs e que encontra na Educação um pilar para sua atualização. 15 Links Recomendados • Observatório da Sociedade da Informação – Unesco http://osi.unesco.org.br/ • Sociedade da Informação – Brasil – http://www.socinfo.org.br • Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação - http://www.apdsi.pt Bibliografia Consultada • • • • • • • • • • • • • ADPSI (2005). Glossário da Sociedade da Informação. Portugal. Disponível em: www.apdsi.pt/Actividades_2005/Glossario/glossario.html. Acessado em 26/09/2006 CASTELLS, M. (1996). La era de la information. Vols I, II e III. Alianza, Madrid. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo, Paz e Terra, 2000. CAPRA, F.(1996). A teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Ed. Cultrix. COSCARELLI, C.; RIBEIRO, A E. (2005) Letramento Digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica. FREIRE, P. (1996).Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra. LEVY, P.(1999). A revolução contemporânea em matéria de comunicação. In: Martins, F.; Silva, J. (org). Para navegar no século XXI: tecnologias do imaginário e cibercultura. Porto Alegre: EDIPUCRS, Ed. Sulina. p. 195-216. LEVY, P. (1999). Cibercultura. São Paulo: Editora 34 MOLON, S. I.(2003). Subjetividade e Constituição do Sujeito em Vygotsky. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes. MORIN, E. (1999). Da necessidade de um pensamento complexo. In: Martins, F.; Silva, J. (org). Para navegar no século XXI: tecnologias do imaginário e cibercultura. Porto Alegre: EDIPUCRS, Ed. Sulina. p.19-42. PALLOF, R.; PRATT, K.(2002). Construindo Comunidades de Aprendizagem no Ciberespaço: estratégias para salas de aula on-line. Porto Alegre: ArtMed. RECUERO, R. C. (2001). Comunidades Virtuais, uma abordagem teórica. Revista da Escola de Comunicação Social da Universidade Católica de Pelotas.Volume 5, número2 – Julho a Dezembro de 2001. (págs. 109 a 126) RECUERO, R. C. (2002). Comunidades Virtuais no IRC - O Caso do #Pelotas. Um estudo sobre a comunicação mediada por computador e a estruturação de comunidades virtuais. Dissertação de mestrado.Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. 16 Bibliografia Consultada (2) • • • • • • • • • TAKAHASHI(org) (2000). Livro Verde: Sociedade da Informação. Disponível em: http://www.socinfo.org.br TOMASELLO, M.(2003). Origens Culturais da Aquisição do Conhecimento Humano. São Paulo: Marins Fontes,. VYGOTSKY, L. S Formação Social da Mente. 6º Edição.- São Paulo: Martins Fontes, 1998. VYGOTSKY, L. S Pensamento e Linguagem. 6º Edição.- São Paulo: Martins Fontes, 1998a. VYGOTSKY, L. S Obras Escogidas: Fundamentos de Defectologia. Tomo V. Madrid: Visor, 1997. VYGOTSKY, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem (texto integral traduzido do russo). São Paulo: Martins Fontes, 2001. WARSCHAUER, M.(2006). Tecnologia e Inclusão Social: a exclusão digital em debate. São Paulo: Ed. Senac. WATZLAWICK, P et alli. Pragmática da Comunicação Humana: um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da interação. São Paulo: Editora Cultrix, 1967. WERSTCH, James. Vygotsky y la formación social de la mente. Série Cognición y desarrollo humano. Barcelona: Ed. Paidós, 1988 17