Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto Universidade Camilo Castelo Branco – UNICASTELO Curso de Psiquiatria TRANSTORNOS ANSIOSOS Prof. Carlos Roberto Feres Disciplina de Psiquiatria Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG F41.1 TAG 1. Ansiedade ou preocupação excessiva sobre diferentes circunstâncias da vida durante a maior parte dos dias, por pelo menos seis meses. 2. Dificuldade de controlar essas preocupações. 3. Nos últimos 6 meses, a ansiedade e preocupação estiveram associadas a 3 ou + dos seguintes sintomas: • • • • • • Inquietação Irritabilidade Fadiga fácil Dificuldade de concentração Tensão muscular Distúbios do sono 4. O foco da ansiedade não está relacionado a outros transtornos psiquiátricos. 5. A ansiedade causa intensa aflição ou prejuízo significativo ao indivíduo. 6. Os sintomas não estão relacionados ao uso de drogas ou outras condições médicas e não ocorrem apenas durante o curso de um outro transtorno psiquiátrico. TAG – TRATAMENTO 1. Psicoterapia 2. Orientações gerais 3. Medicações: • Tricíclicos: Imipramina • ISRS: fluoxetina, sertralina, paroxetina • Benzodiazepínicos: Alprazolam, Diazepam, Lorazepam • Buspirona Transtorno de Pânico – TP F40.1 TP 1. Ataques de pânico freqüentes e inesperados. 2. Pelo menos um dos ataques foi seguido durante 1 mês ou + das seguintes características: • Preocupações com as implicações do ataque ou suas conseqüências • Preocupação persistente sobre a possibilidade de ter outros ataques • Mudança comportamental significativa relacionada aos ataques 3. Os ataques de pânico não são induzidos por uso de drogas, relacionados a uma condição clínica ou mais bem explicados pela presença de um outro transtorno psiquiátrico. 4. Pelo menos 4 dos seguintes sintomas se desenvolveram repentinamente, atingindo um pico dentro de 10 minutos, durante um dos ataques: • • • • • • • • • • • • • Palpitações ou taquicardia Tremor ou abalos Sensação de asfixia Náusea ou desconforto abdominal Tontura, sensação de instabilidade, vertigem ou desmaio Desrealização ou despersonalização Sudorese Sensação de falta de ar Dor ou desconforto torácico Medo de morrer Medo de perder o controle ou enlouquecer Parestesias Calafrios ou ondas de calor AGORAFOBIA F40.0 AGORAFOBIA 1. Ansiedade acerca de estar em locais ou situações de onde possa ser difícil ou embaraçoso escapar ou onde o auxílio pode não estar disponível, na eventualidade de ter um ataque de pânico. 2. As situações agorafóbicas são evitadas ou suportadas com acentuado sofrimento ou com ansiedade acerca de ter um ataque de pânico, ou o paciente pode necessitar de uma companhia para enfrentar tais situações. 3. A ansiedade ou esquiva agorafóbica não é mais bem explicada por um outro transtorno mental. TP E AGORAFOBIA- TRATAMENTO 1. Psicoterapia 2. Medicação: • ISRS: Paroxetina, Sertralina, Citalopram • Tricíclicos: Imipramina, Clomipramina • Benzodiazépínicos: Alprazolam, Clonazepam • IMAO FOBIA SOCIAL F40.1 FOBIA ESPECÍFICA F40.2 FOBIA SOCIAL E FOBIA ESPECÍFICA 1. Medo acentuado e persistente de passar por situações embaraçosas ou humilhantes em certos contextos sociais (fobia social) ou medo irracional de outro estímulo específico (ex: animais, sangue, altura, etc – fobia específica) 2. A exposição ao estímulo ou à situação temida provoca ansiedade, podendo assumir a forma de um ataque de pânico. 3. A pessoa geralmente reconhece que o medo é excessivo ou irracional. 4. O medo ou esquiva não se devem ao uso de substâncias, a uma condição médica geral ou a outro transtorno mental. 5. As situações ou os estímulos específicos são evitados ou suportados com intensa ansiedade, o que geralmente interfere na rotina e no funcionamento social do paciente ou causa-lhe intenso sofrimento. Fobias – TRATAMENTO 1. Psicoterapia: Dessensibilização sistemática e técnica de exposição (para fobias específicas) e TCC (para fobias sociais). 2. Medicação: • Betabloqueadores: Propanolol (tomado antes de situações fóbicas) • Antidepressivos: imipramina, fluoxetina, paroxetina (para fobia social generalizada) Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC F42 Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC Obsessões ou compulsões que causam acentuado sofrimento, consomem tempo (tomam mais de 1 hora por dia) ou interferem significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional ou relacionamentos sociais do paciente. 1. Obsessões: pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são experimentados como intrusivos e inadequados. A pessoa reconhece que os pensamentos são produto de sua própria mente e tenta ignorá-los ou suprimi-los com algum outro pensamento ou ação. 2. Compulsões: comportamentos repetitivos ou atos mentais que a pessoa se sente compelida a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas e que visam a prevenir ou reduzir o sofrimento. Geralmente, essas compulsões são reconhecidas pelo paciente como excessivas ou irracionais. TOC – TRATAMENTO 1. Psicoterapia: TCC 2. Medicações: • Tricíclicos: Clomipramina • ISRS: Fluoxetina, Paroxetina, Sertralina, Citalopram 3. Psicocirurgia Transtorno de estresse póstraumático TEPT F43.1 Transtorno de estresse pós-traumático – TEPT Ocorre em pessoas que foram expostas a um evento traumático (estupro, seqüestro, acidente) ou o presenciaram em terceiros. A resposta da pessoa envolveu intenso medo, impotência ou horror. 1. O evento traumático é persistentemente revivido em um (ou +) das seguintes maneiras: • Recordações aflitivas, recorrentes e intrusivas do evento, incluindo percepções imagens, pensamentos ou • Sonhos aflitivos e recorrentes com o evento • Agir ou sentir como se o evento traumático estivesse ocorrendo ilusões) • Sofrimento novamente (flashbacks, alucinações, psicológico intenso ou reatividade fisiológica quando da exposição a indícios internos ou externos que simbolizam ou lembram algum aspecto do evento traumático. 2. Esquiva persistente de estímulos associados com o trauma e entorpecimento da responsividade geral (ex: redução do interesse, sensação de distanciamento, incapacidade de sentir carinho, etc) 3. Surgimento de 2 ou + dos seguintes sintomas de excitabilidade aumentada: • • • • • Dificuldade em conciliar ou manter o sono Irritabilidade ou surtos de raiva Dificuldade em concentrar-se Hipervigilância Resposta de sobressalto exagerada 4. A duração da perturbação é superior a 1 mês e está associada a intenso sofrimento ou prejuízo significativo ao paciente. TEPT - TRATAMENTO 1. Psicoterapia: técnicas de exposição, relaxamento e técnicas cognitivas. 2. Medicação: Apenas para tratar sintomas associados: depressão ou outros sintomas associados. Pra que se descabelar??? Ansiedade tem tratamento CASOS CLÍNICOS "O despertador tocou às 6:32 am, virei três vezes na cama, apertei o pino com a mão direita e peguei o chinelo com a mão esquerda. Caso não fizesse dessa forma, algo de muito ruim poderia acontecer com minha mãe, talvez uma doença grave ou até a morte. Troquei de roupa lentamente para que eu não invertesse a ordem das coisas. Coloquei primeiro a camisa, abotoando-a de baixo para cima, depois guardei meu pijama, bem dobrado. Ao entrar no banheiro, com o pé direito, olhei três vezes no espelho para assegurar-me de que estava tudo bem. Lavei as mãos quatro vezes, para descontaminar, germes causam doença. No café da manhã, jamais coloquei o açúcar depois do café, porque o doce é sempre antes do amargo. Ao sair de casa verifiquei quatro vezes se a porta estava trancada, porque portas abertas podem trancar o futuro, esta frase sempre repeti três vezes, para sentir-me aliviado." "Após aquela crise sentia-me muito cansado e com as roupas amarrotadas. Caí no sofá. Aquele dia passou e vieram os outros, mas algo havia mudado em mim. Não era mais corajoso como antes, tinha a impressão que meu corpo funcionava diferente, frágil. Fiquei preocupado com o que iria acontecer comigo. Após alguns dias, tive uma má notícia. Soube que um colega havia falecido de enfarte e fui ao seu enterro, aí, piorei muito. Senti mais uma crise de pânico, mais uma e mais outras. O medo de morrer ou passar mal passou a conviver comigo. Cheguei a ter mais de quatro crises em um mês apenas. Meu comportamento começou a mudar, passei a sentir-me muito doente e com medo de estar com alguma doença grave, no coração talvez. No trabalho já não era mais o mesmo de antes. Meus colegas logo perceberam. Eu vivia assustado. Seria o coração ou eu estaria ficando louco?" "Aquele dia poderia ter sido apenas mais um, mas na realidade ele mudou completamente minha vida. estava com meu pai em um pequeno supermercado perto de casa e, quase já saíamos, quando apareceram dois indivíduos encapuzados. Foi tudo muito rápido. Apontarem suas armas para nós, que estávamos no caixa e deram uma coronhada no dono do mercadinho para intimidá-lo. Meu pai, por puro reflexo, tentou ampará-lo e acabou levando dois tiros. Enquanto ele estava caído, sangrando muito, um dos ladrões mantinha sua arma em minha cabeça e o outro roubava. Fui levado como refém, sofrendo ameaças de morte constantes. Após rodar duas horas pela cidade e ter que sacar dinheiro em caixas eletrônicos, fui abandonado numa avenida muito longe do local onde eu estava anteriormente. Quando cheguei ao hospital meu pai já estava morto. Já faz três meses e não consigo esquecer, tenho pesadelos diários com o ocorrido, não entro mais em supermercados, não tenho vontade de sair com meus amigos, falar a respeito de tudo aquilo me faz muito mal, começo a suar e tremer. Ultimamente, não tenho conseguido dormir direito. passei a andar armado, tenho tido algumas visões, parece pedaços de um filme que passam em minha mente, flashes do ocorrido. Desconfio de todos, tenho até medo de atirar em alguém suspeito." "Sempre fui um menino mais tímido do que extrovertido. Quando tinha nove anos sentava no fundo da classe e às vezes escondia-me atrás de um colega, para não ser chamado pela professora. O tempo foi passando e eu evitando algumas situações; grupos de colegas no recreio, falar com uma menina tendo muito interesse. Quando conseguia, acabava falando besteira o que me deixava mais constrangido. Aos doze anos, comecei a ser convidado para festas e aí meu problema piorou. Sentia-me um peixe fora d´água. Zoavam de mim, do meu jeito desajeitado, de minhas roupas e até de minha voz . Quando riam ou faziam algum comentário, parecia que era sempre a meu respeito. Comecei a evitar festas e até colegas que iam à minha procura. O cursinho chegou, o vestibular e a faculdade, aí fiquei mal. Tinha que participar de tudo. Não agüentei, tranquei a matrícula" FIM