Transtorno do Pânico e Diagnósticos diferenciais Dra. Débora Costa da Silveira Hospital Universitário São José Ambulatório de Adolescência - FCMMG A.S, 17 anos 29/10/09 QP: “problema emocional”, “teve desmaios e ficou nervoso”. HMA: - Há 4 anos teve desmaios, sem alterações neurológicas, acompanhamento psicológico. Pais estavam em processo de separação. - Medo “quando está em locais cheios como ônibus e supermercado”, “sua frio”, sente “dor de barriga”. - Enurese há 3 anos - Há 2 meses teve novo episódio de desmaio, foi iniciado Clonazepam, sem boa adaptação. Queixa ansiedade em excesso, relata que a responsabilidade do trabalho é grande, afastado do serviço há 45 dias. HF: tio usuário de drogas (adulto de referência) Desenvolvimento: “Perdeu” 3 anos na escola/ Está na primeira série do segundo grau/ Trabalha há 2 anos • Hipóteses Diagnósticas: ??? - TAG Fobia específica (claustrofobia) Transtorno do pânico com agorafobia Fobia escolar Epilepsia Depressão leve-moderada (HARD) - - - Prescrita Carbamazepina 200mg/dia ( nos primeiros 15 dias meio comprimido) em 29/10. 19/11/09: Leve melhora da ansiedade, episódios de fobia e ataque de pânico, fica triste quando eles acontecem, tem medo de ir a escola. Consegue andar de ônibus quando alguém conversa com ele e o distrai. Mantido Carbamazepina/ Iniciado Tofranil(25 mg/dia) 11/02/10 – Há um mês sem medicações, teve parestesias e sonolência as quais associou ao Tofranil. Relata ataques de pânico e ansiedade em locais públicos em que sente nervosismo, parestesia em membros, dispnéia, escurecimento da visão. Quando pensa nas crises sente mais ansiedade e medo de tê-las e desmaiar. Relata emagrecimento e hiporexia. Dormindo bem. Não teve mais “desmaios” . Refere melhora dos sintomas de ansiedade com o uso da Carbamazepina. Retorno Carbamazepina (200mg/dia), suspenso Tofranil, iniciado Citalopram (10mg/dia). - - 22/03/10 – Sentindo-se bem com a medicação, consegue sair, algumas vezes, de casa mas não está frequentando a escola. Mantida Carbamazepina , suspenso Citalopram e iniciada Fluoxetina (40mg/dia). 18/05/10 – Paciente e sua mãe referem melhora importante do quadro, “está sentindo-se muito bem”, sono adequado, não está estudando (greve ), está trabalhando. Suspendeu as medicações há 20 dias, por conta própria e relatou sentir-se bem nesse período, conseguindo até mesmo andar de ônibus. Suspensa as medicações. Introdução • Definição de ansiedade: sentimento vago e desagradável de apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. • Ansiedade normal x patológica • Predisposição neurobiológica herdada • Sintomas ansiosos • Trantornos ansiosos • 50 % = transtorno ansioso + outro transtorno* * CASTILLO, A.R.; RECONDO, R.; ASBAHR, F.R.; MANFRO, G.G. Transtornos de Ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.22, s.2, 2000. Epidemiologia (dados Fuliban/2009) 42 atendimentos ( 17% - Brasil: 10 a 15% ) • Idade : 8 – 20 anos (14 anos) • Sexo ♀: 19 pacientes ♂: 23 pacientes • Transtornos - Ansiedade Generalizada: 7% - TOC: 10% - Fobia social: 5% - Fobia específica:14% - Ansiedade de Separação: 10% - Transtorno do Pânico: 7% - Transtorno de Estresse pós Traumático: 2% - SOE: 45% Sintomas comuns: • timidez • alterações do sono • sintomas somáticos • roer unha • baixa auto estima • alucinações visuais e auditivas • alterações alimentares • agressividade • insegurança • irritabilidade • enurese • dificuldades escolares • evasão escolar • sonambulismo • Doenças e fatores associados - Depressão: 31% - TDAH: 12% - Obesidade:5% - Dificuldades escolares:5% - Outros(Transtorno de Conduta, Drogas, Deficiência cognitiva): 8% OBS: 9,5% tinham mais de um TA. • História familiar - Depressão: 24% - Alcoolismo: 24% - Separação dos pais: 14% - Abandono: 5 % • Tratamento - Antidepressivos: Tricíclicos (Imipramina, Clomipramina), Inibidores da recaptação de serotonina(Citalopram, Sertralina, Fluoxetina, Paroxetina) - Betabloqueador: Propranolol - Anticonvulsivante: Carbamazepina - Benzodiazepínicos: Alprazolam, Lorazepam - Fitoterápicos: Passiflora, Ginkgo biloba Causa e evolução • Causa desconhecida,provavelmente multifatorial (incluindo fatores hereditários e ambientais diversos) • Curso crônico, embora flutuante ou episódico • Avaliar: - início dos sintomas, - possíveis fatores desencadeantes - desenvolvimento - temperamento - tipo de apego com os pais - estilo de cuidados paternos - presença de comorbidade. Transtorno do Pânico Introdução • Ataque de Pânico = período distinto de intenso temor ou desconforto, no qual quatro (ou mais) dos seguintes sintomas desenvolveram-se abruptamente e alcançaram um pico em 10 minutos: - palpitações ou taquicardia - sudorese - tremores ou abalos - sensações de falta de ar ou sufocamento - sensações de asfixia - dor ou desconforto torácico - náusea ou desconforto abdominal - sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio - desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (estar distanciado de si mesmo), medo de perder o controle ou enlouquecer - medo de morrer - parestesias - calafrios ou ondas de calor • Agorafobia (do grego ágora - lugar em que a assembléia se reúne; praça pública + phobos - medo)= Ansiedade acerca de estar em locais ou situações de onde possa ser difícil (ou embaraçoso) escapar ou onde o auxílio pode não estar disponível • Os ataques não se devem: - efeitos fisiológicos diretos de uma substância - uma condição médica geral - outro transtorno mental : Fobia Social - esquiva se limita a situações sociais Fobia Específica - esquiva se limita a uma única situação Transtorno Obsessivo-Compulsivo - esquiva à sujeira Transtorno de Estresse Pós-Traumático - esquiva de estímulos associados com um estressor severo Transtorno de Ansiedade de Separação - esquiva a afastar-se do lar ou de parentes Curso • Início: - variável - distribuição bimodal - poucos casos iniciam na infância. • O curso é crônico porém flutuante (surtos episódicos com anos de remissão x sintomas graves e contínuos) • A Agorafobia : geralmente inicia-se no primeiro ano da ocorrência de ataques recorrentes. Seguimento (6-10 anos pós tratamento)* - cerca de 30% dos indivíduos estão bem - 40-50% melhoraram mas ainda são sintomáticos - 20-30% tem sintomas iguais ou ligeiramente piores Fatores influentes * - Genética: 8x / 20x - Ambiente: 50 a 75% TP não tem parente de primeiro grau afetado. * CASTILLO, A.R.; RECONDO, R.; ASBAHR, F.R.; MANFRO, G.G. Transtornos de Ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.22, s.2, 2000. Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) • Desenvolvimento de sintomas característicos após a exposição a um extremo estressor traumático. • O evento traumático é persistentemente revivido Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) • Esquiva persistente de estímulos associados com o trauma e redução da responsividade geral (não presente antes do trauma) • Alterações do comportamento (não presentes antes do trauma): - inibição excessiva ou desinibição, Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) - agitação e reatividade emocional aumentada, - hipervigilância, - pensamentos obsessivos com conteúdo relacionado à vivência traumática. • A perturbação é superior a 1 mês, causa sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social,ocupacional e de outras áreas do indivíduo. Transtorno de ansiedade de separação • Ansiedade inapropriada e excessiva em relação ao nível de desenvolvimento, envolvendo a separação do lar ou de figuras de vinculação, evidenciada por três (ou mais) dos seguintes aspectos: - sofrimento excessivo e recorrente frente à ocorrência ou previsão de afastamento de casa ou de figuras importantes de vinculação - preocupação persistente e excessiva acerca de perder, ou sobre possíveis perigos envolvendo figuras importantes de vinculação - preocupação persistente e excessiva de que um evento indesejado leve à separação de uma figura importante de vinculação (por ex., perder-se ou ser seqüestrado) - relutância persistente ou recusa a ir para a escola ou a qualquer outro lugar, em razão do medo da separação - temor excessivo e persistente ou relutância em ficar sozinho ou sem as figuras importantes de vinculação em casa ou sem adultos significativos em outros contextos - relutância ou recusa persistente a ir dormir sem estar próximo a uma figura importante de vinculação ou a pernoitar longe de casa - pesadelos repetidos envolvendo o tema da separação - repetidas queixas de sintomas somáticos (tais como cefaléias, dores abdominais, náuseas ou vômitos) quando a separação de figuras importantes de vinculação ocorre ou é prevista • duração mínima de 4 semanas • inicia-se antes dos 18 anos • não ocorre exclusivamente durante o curso de um outro transtorno • não é melhor explicada por Transtorno de Pânico Com Agorafobia • Início Precoce: antes dos 6 anos. Transtorno de ansiedade generalizada • Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias pelo período mínimo de 6 meses, com diversos eventos ou atividades. • Difícil controlar a preocupação • O foco da ansiedade não está confinado a aspectos de outro transtorno ansioso. • medo excessivo, preocupações ou sentimentos de pânico exagerados e irracionais • estão constantemente tensos. • sempre muito preocupados com o julgamento de terceiros. • dificuldade para relaxar, queixas somáticas sem causa aparente e sinais de hiperatividade autonômica (palidez, sudorese, tensão muscular, vigilância aumentada) • tendem a ser crianças/adolescentes autoritárias • Ansiedade e a preocupação estão associadas a pelo menos um: - inquietação/ sensação de “nervos à flor da pele” - fatigabilidade - dificuldade de concentração (“brancos na memória”) - irritabilidade - tensão muscular - perturbação do sono (sono insatisfatório e inquieto) • Tornam-se crianças/adolescentes difíceis, pois mantêm o ambiente a seu redor tenso. • Início insidioso, dificultando precisar o começo. Transtorno obsessivo compulsivo • São obsessões ou compulsões recorrentes, que causam sofrimento acentuado ou prejuízo significativo. • Obsessões: são idéias, pensamentos, impulsos ou imagens persistentes, que são vivenciadas como intrusivos e inadequados e causam ansiedade ou sofrimento. • são produto de sua mente e não impostas pelo exterior. (Ex: pensamentos repetidos a cerca de contaminação, dúvidas repetidas, necessidade de organizar as coisas em determinada ordem, impulsos agressivos ou horrorizantes) • tenta ignorar ou suprimir esses pensamentos ou impulsos ou neutralizá-lo com algum outro pensamento ou ação(compulsão). • Compulsões: são comportamentos repetitivos ou atos mentais cujo objetivo é prevenir ou reduzir a ansiedade ou sofrimento, em vez de oferecer prazer ou gratificação. Na maioria dos casos, a pessoa sente-se compelida a executar a compulsão para reduzir o sofrimento que acompanha uma obsessão ou para evitar algum evento ou situação temidas(ex: obsessão de contaminação - compulsão em lavar as mãos até ferílas). • As compulsões ou são claramente excessivas ou não tem conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar. Fobia social • Medo de situações onde: se está exposto a pessoas estranhas ou a avaliação de terceiros. Expressa por choro, "acessos de raiva" ou afastamento de situações sociais nas quais haja pessoas não familiares. • Exemplos: falar em sala de aula, comer na cantina próximo aos outros, ir a festas, escrever na frente de outros colegas, usar banheiros públicos, dirigir a palavra a figuras de autoridade como professores e treinadores. • Sintomas físicos: palpitações, tremores, calafrios e calores súbitos, sudorese e náuseas. • Comorbidade frequente:depressão Fobias específicas • Presença de medo excessivo e persistente relacionado a um determinado objeto ou situação, que não seja situação de exposição pública ou medo de ter um ataque de pânico. • Reações de fuga, choro, desespero, agitação psicomotora ou até ataque de pânico. • Exemplos: Animais, Ambiente Natural, SangueInjeção-Ferimentos, Situacional(locais fechados, exposições à doenças, sons altos, personagens fantasiados), Fobia escolar. • Constituem uma reação excessiva e desadaptativa, que foge do controle do indivíduo, leva a reações de fuga, é persistente e causa comprometimento no funcionamento da criança e do adolescente… diferente dos medos comuns da infância. • Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração mínima é de 6 meses. Tratamento Abordagem multimodal - orientação aos pais e à criança / adolescente, - psicoterapia - psicofármacos - intervenções familiares. Conclusão Até a década de 80, havia a crença de que os medos e preocupações durante a infância eram transitórios e benignos. Reconhece-se hoje que estes podem constituir transtornos bastante freqüentes, causando sofrimento e disfunção à criança ou ao adolescente. A identificação precoce dos transtornos de ansiedade pode evitar repercussões negativas na vida do adolescente, tais como o absenteísmo e a evasão escolar, a utilização demasiada de pronto atendimentos por queixas somáticas associadas à ansiedade e, possivelmente, a ocorrência de problemas psiquiátricos na vida adulta. Referências bibliográficas CASTILLO, A.R.; RECONDO, R.; ASBAHR, F.R.; MANFRO, G.G. Transtornos de Ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.22, s.2, 2000. Organização Mundial da Saúde (OMS). CID-10 -Classificação Internacional de Doenças, décima versão. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 1992. DSM-IV-TR – Manual diagnóstico e estatístico de Transtornos Mentais. Trad. Cláudia Dornelles; - 4.ed.rev – Porto Alegre: Artmed, 2002. Psicofármacos: consulta rápida / Aristides Volpato Cordioli …[et al.].– 2.ed.– Porto Alegre: Artmed, 2000. KAPLAN H.I., SADOCK B.J., GREBB J.Á. Compêndio de Psiquiatria: Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica. 7ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas. 1997. OBRIGADA ! [email protected]