Universidade de Aveiro Seção Autónoma de Ciências da Saúde
2013
Diana Inês Costa
Domingues
Perfil Fonológico de Crianças com Perturbação de
Linguagem Primária
Universidade de Aveiro Seção Autónoma de Ciências da Saúde
2013
Diana Inês Costa
Domingues
Perfil Fonológico de Crianças com Perturbação de
Linguagem Primária
Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Fala e da
Audição, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor Luís Miguel
Teixeira de Jesus, Professor Coordenador da Universidade de Aveiro, e
coorientação da Professora Doutora Marisa Lobo Lousada, Professora Adjunta
da Universidade de Aveiro
o júri
Presidente
Vogais
Professora Doutora Rosa Lídia Torres do Couto Coimbra e Silva
Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro
Professora Doutora Letícia Barros de Almeida
Professora Adjunta da Universidade Atlântica
Professor Doutor Luís Miguel Teixeira de Jesus
Professor Coordenador da Universidade de Aveiro (Orientador)
Professora Doutora Marisa Lobo Lousada
Professora Adjunta da Universidade de Aveiro (Coorientadora)
Agradecimentos
Ao professor Luís Jesus pela orientação científica e por todo o apoio e
incentivo dado ao longo de toda a investigação.
À professora Marisa Lousada pela orientação e apoio mas também pela
partilha de conhecimento e incentivo pelo estudo da linguagem e comunicação
humana.
Aos pais e crianças que participaram no estudo, pela disponibilidade e
colaboração, sem a qual este estudo não seria possível!
À psicóloga Sidalina da Mota e ao audiologista David Tomé pela sua
colaboração, disponibilidade e profissionalismo.
Aos agrupamentos de escolas, educadores/professores e terapeutas da fala
pelo empenho na colaboração.
À professora Andreia Hall pela ajuda prestada e pela disponibilidade com que
sempre me recebeu.
Aos meus pais e irmãos, Carolina e Zé Nuno, pelo apoio, carinho e incentivo
que me deram ao longo deste percurso.
Ao Bruno, pela força, incentivo e acima de tudo pela paciência e afeto que
constituíram sem dúvida os “pilares” deste trabalho!
Aos meus amigos, pela amizade e apoio mas também pela compreensão
pelas minhas ausências “em trabalho”.
A todos os meus sinceros agradecimentos!
palavras-chave
Resumo
Perturbação da linguagem primária, desenvolvimento fonológico, perturbação
fonológica, crianças, Português Europeu
O presente estudo tem como objetivo a descrição do perfil fonológico de
crianças com perturbação de linguagem primária (PLP), falantes do Português
Europeu (PE). Foi analisado um conjunto de parâmetros fonológicos em 20
crianças com PLP, em idade pré-escolar, divididas em dois subgrupos, tendo
em conta a severidade do comprometimento fonológico, nomeadamente o
subgrupo com Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) menor que 50%
(11 crianças) e o subgrupo com PCC superior a 50% (9 crianças). O
desempenho dos subgrupos em estudo foi comparado com o de um grupo de
232 crianças com desenvolvimento típico da linguagem, com idade entre os 3
e os 5 anos. Os dados foram recolhidos por recurso a um teste formal e
estandardizado – Teste Fonético-Fonológico (TFF) ALPE – e analisados com
recurso às Ferramentas de Análise Fonológica Automática (FAFA) v0.2.00.
Os resultados revelaram que as crianças com PLP apresentam,
mesmo quando comparadas com a faixa etária mais nova [3A-3A6M[, um
reduzido inventário fonético consonantal e silábico, uma menor Percentagem
Correta de Vogais (PVC) e PCC, não só em termos globais, como para
qualquer modo de articulação (oclusivas, nasais, fricativas, laterais e róticos).
As crianças com PLP apresentaram também padrões silábicos e formatos de
palavra diferentes das crianças com desenvolvimento típico da linguagem.
Registaram-se, na análise destes parâmetros, alguns padrões atípicos: ordem
de aquisição das consoantes no inventário fonético, com o surgimento de
fonemas adquiridos em fases tardias quando ainda não são produzidos outros
de fases anteriores. Identificou-se, ainda, a existência de “plateaus” para
aquisições precoces (nasais e fricativas), com o aparecimento da produção
correta de consoantes de fases posteriores, como as consoantes líquidas. As
crianças com PLP produzem ainda, um conjunto de processos fonológicos
para além da idade esperada de desaparecimento, nomeadamente, processos
de substituição de consoantes e vogais, de estrutura silábica e de assimilação.
Apesar de se verificarem algumas diferenças quanto às frequências de
ocorrência entre os subgrupos de estudo (por exemplo, os processos de
oclusão e anteriorização são mais frequentes no grupo PCC <50% e os
processos de palatalização e despalatalização mais frequentes no grupo PCC>
50%), de forma geral, o processo de desvozeamento de fricativas e os
processos de estrutura silábica são os mais frequentes entre as crianças com
PLP. Identificou-se ainda um conjunto de processos fonológicos (como por
exemplo processos de posteriorização, substituições atípicas de consoantes e
omissão de consoante inicial) considerados atípicos.
A investigação desenvolvida permitiu, então, evidenciar que a
população em estudo apresenta, para além de padrões típicos, mas
persistentes, um conjunto de características que têm vindo a ser atribuídas à
perturbação fonológica, como a existência de “plateaus” para aquisições
precoces, a ocorrência de desencontro fonológico (“chronological mismatch”),
onde se verifica a coocorrência de processos de fases precoces (como o
processo de oclusão) e padrões de erros característicos de fases posteriores
do desenvolvimento fonológico (como os processos de palatalização ou
semivocalização de líquida) e ainda, a ocorrência de processos atípicos.
Conclui-se, portanto, que as crianças com PLP apresentam um grande
comprometimento na componente fonológica, o que vai de encontro ao
defendido em recentes teorias explicativas da natureza desta perturbação da
linguagem, que apontam para um défice inicial ou de especial proeminência
nesta componente da linguagem. Estas conclusões sugerem que uma
intervenção terapêutica adequada e focada na estimulação de competências
fonológicas será essencial junto desta população.
keywords
Primary Language Impairment, phonological development, phonological
impairment, children, European Portuguese
abstract
This study’s main goal is the phonological description of European Portuguese
children with Primary Language Impairment (PLI)’s profile.
A set of
phonological parameters in 20 preschool children with PLI, divided in two
subgroups according to their phonological impairment severity, namely the
PCC < 50% subgroup (11 children) and the PCC > 50% subgroup (9 children),
was analysed. The study subgroups performance was compared with a group
of 232 children with typical phonological development, aged between 3 and 5
years. Data was collected using a formal and standardised test – Teste
Fonético Fonológico (TFF) ALPE - and analysed using the Automatic
Phonological Analysis Tools (APAT) v.0.2.00.
Results revealed that children with PLI, even when compared with the
younger age range [3;0-3;6[, have a reduced phonetic consonantal and syllabic
inventory, a lower Percentage of Vowels Correct (PVC) and PCC, not only in
global terms but also for any manner of articulation (stops, nasals, fricatives,
laterals and rhotics). Children with PLI also present different syllabic patterns
and words structures, from those produced by typically developing children.
While analysing these parameters, atypical patterns were also observed. such
as: the acquisition order of the consonants in the phonetic inventory, with the
appearance of phonemes acquired in later phases while others, of early
acquisition, are not yet produced. “Plateaus” for early acquisitions, were also
identified (for nasals and fricatives consonants), with the appearance of
consonants of later phases, like the liquid. Children with PLI also produce a set
of phonological processes beyond the disappearance expected age, namely,
substitution processes of consonants and vowels, syllabic structure and
assimilation processes.
There were some differences between the study subgroups in terms of
the relative frequency (for example, the stopping and fronting processes were
more frequent in the PCC < 50% group and the palatalization and
despalatalization processes were more frequent in the PCC > 50% group),
generally, the fricatives devoicing process and the syllabic structure processes
were the most frequent in children with PLI. A number of phonological
processes considered atypical (for example, backing processes, atypical
substitutions of consonants and the initial consonant deletion) were also
identified in these children.
Results revealed persistent typical patterns and also a set of
characteristics that have been previously attributed to phonological impairment,
like the existence of “plateaus” for the early acquisitions, the occurrence of
chronological mismatch, where the subjects exhibit the co-occurrence of early
phases processes (like stopping) and errors patterns characteristic of
phonological development later phases (like palatalization or gliding) and even
the occurrence of atypical processes. Children with PLI present considerable
deficit in the phonological component, in accordance with recent explicative
theories about the nature of PLI, which propose an initial deficit or the special
prominence in this language component. These conclusions suggest that an
adequate therapeutic intervention focused in the phonological competencies
stimulation will be essential in this population.
Índice
Capítulo 1: Introdução ........................................................................................................................ 1
1.1.
Motivação do estudo .......................................................................................................... 1
1.2.
Objetivos e Questões de Investigação ............................................................................... 2
1.3.
Organização da Dissertação .............................................................................................. 3
Capítulo 2: Revisão da Literatura ....................................................................................................... 4
2.1. Perturbação de Linguagem ..................................................................................................... 4
2.1.1. Perturbação de Linguagem Primária e Perturbação Específica do Desenvolvimento da
Linguagem................................................................................................................................... 4
2.3. O papel da Fonologia na natureza e causa da PLP ................................................................ 6
2.4. Fonologia clínica: terminologias e classificações .................................................................... 7
2.4.1. Processos Fonológicos ..................................................................................................... 8
2.5. Caracterização Desenvolvimental e Fonético-Fonológica do PE ........................................... 9
A avaliação e caracterização das perturbações fonológicas exigem da parte do avaliador, para
além do conhecimento acerca das características fonológicas da língua, um conhecimento
sobre os principais marcos de desenvolvimento fonológico (Smit, 2004). Desta forma, será,
nesta seção, apresentada uma breve descrição fonético-fonológica do PE, tendo por base o
dialeto padrão. ............................................................................................................................ 9
2.5.1 Sistema vocálico e consonantal do PE .............................................................................. 9
2.5.3. Padrões silábicos do PE ................................................................................................. 10
2.5.4. Processos Fonológicos Naturais .................................................................................... 11
2.6. Perfil Fonológico de crianças com PLP ................................................................................. 13
2.6.1. Inventário Fonético .......................................................................................................... 14
2.6.2. Percentagem de Palavras Corretas (PPC) ..................................................................... 14
2.6.3. Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) e Percentagem de Vogais Corretas (PVC)
.................................................................................................................................................. 14
2.6.4. Estrutura silábica ............................................................................................................. 15
2.6.5. Processos Fonológicos ................................................................................................... 16
Capítulo 3 – Metodologia ................................................................................................................. 18
3.1. Sujeitos do grupo de estudo .................................................................................................. 18
3.1.1. Identificação dos sujeitos ................................................................................................ 18
3.1.2. Materiais e instrumentos utilizados na identificação dos sujeitos .................................. 18
3.1.2. Caracterização do grupo de estudo ................................................................................ 19
3.2. Sujeitos do Grupo de Controlo ............................................................................................. 20
3.3. Recolha de Dados – grupo de estudo ................................................................................... 20
3.3.1. Tarefas e Instrumentos Selecionados ............................................................................ 20
3.3.3. Equipamentos e procedimentos de gravação ................................................................ 21
3.4. Análise dos dados ................................................................................................................. 21
3.4.1. Anotação e extração dos dados – grupo de estudo ....................................................... 21
3.4.2. Anotação dos dados do grupo de controlo ..................................................................... 22
3.5. Medidas de resultados ........................................................................................................... 22
3.6. Análise Estatística ................................................................................................................. 23
Capítulo 4 - Resultados .................................................................................................................... 25
4.1. Percentagem de consoantes e padrões silábicos produzidos .............................................. 25
4.2. PVC e PCC ............................................................................................................................ 25
4.3. PCC por modo de articulação ............................................................................................... 26
4.4. Percentagem de padrões silábicos corretos ......................................................................... 28
4.5 Formato de palavra ................................................................................................................. 30
4.6. Processos fonológicos típicos ............................................................................................... 31
4.6.1. Processos fonológicos de substituição de consoantes .................................................. 31
4.6.2. Processos fonológicos de substituição de vogais .......................................................... 33
4.6.3. Processos fonológicos de estrutura silábica ................................................................... 33
4.6.4. Processos fonológicos de assimilação ........................................................................... 34
4.7. Processos Fonológicos atípicos ............................................................................................ 35
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados .......................................................................................... 36
5.1. Inventário fonético consonantal e silábico ............................................................................. 36
5.2. PVC e PCC ............................................................................................................................ 37
5.3. PCC por modo de articulação ............................................................................................... 37
5.4. Percentagem de padrões silábicos corretos ......................................................................... 38
5.5 Formato de palavra ................................................................................................................. 39
5.6. Processos Fonológicos típicos .............................................................................................. 40
5.7. Processos Fonológicos atípicos ............................................................................................ 43
Capitulo 6 – Conclusões .................................................................................................................. 44
6.1. Resumo do trabalho desenvolvido e principais conclusões .................................................. 44
6.2. Limitações do trabalho e sugestões para investigações futuras ........................................... 45
7. Bibliografia .................................................................................................................................... 46
Anexos .............................................................................................................................................. 52
Índice de tabelas
Tabela 1 - Interpretação da medida de PCC. Adaptado de Shriberg e Kwiatkowski (1982) ........... 15
Tabela 2 – Dados pessoais, demográficos e relativos às avaliações realizadas, dos sujeitos do
grupo de estudo. .............................................................................................................................. 19
Tabela 3 - Grupo de crianças com PLP dividido em dois subgrupos, pelo critério PCC < 50%
(subgrupo1) e PCC > 50% (subgrupo2)........................................................................................... 24
Tabela 4 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à percentagem
de produção correta de padrões silábicos – V, CV, CVG/CGV, VC, CVC, CCV e CCVC - para cada
grupo homogéneo. ........................................................................................................................... 29
Tabela 5 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à percentagem
de produção correta de palavras quanto ao número de sílabas – mono, di, tri e polissilábicas, para
cada grupo homogéneo. .................................................................................................................. 30
Tabela 6 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à percentagem
de ocorrência dos processos fonológicos de substituição de consoantes, para cada grupo
homogéneo....................................................................................................................................... 31
Tabela 7 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à percentagem
de ocorrência dos processos fonológicos de estrutura silábica, para cada grupo homogéneo. ..... 33
Índice de figuras
Figura 1 - Caixas de bigodes para as variáveis PVC e PCC, para os grupos de estudo (a cores) e
de controlo (em tons de cinza). ........................................................................................................ 26
Figura 2 - Caixas de bigodes para as variáveis oclusivas, nasais, fricativas, laterais e róticos para
os grupos de estudo (a cores) e de controlo (em tons de cinza). .................................................... 27
Lista de Abreviaturas
AF – Atraso Fonológico
ANT – Anteriorização
ASHA - American Speech-Language-Hearing Association
CME – Comprimento Médio do Enunciado
DESPAL – Despalatalização
DESV FRI – Desvozeamento de Fricativas
DESV OCL – Desvozeamento de Oclusivas
DV – Dispraxia Verbal
MONOTONG - Monotongação
OCF FRI - Omissão da consoante final – fricativa
OCF LIQ – Omissão da consoante final – liquida
OCL – Oclusão
OSA – Omissão Sílaba Átona
OSA POST - Omissão Sílaba Átona Pós-Tónica
PA – Perturbação Articulatória
PAL - Palatalização
PE – Português Europeu
PEDL – Perturbação Específica do Desenvolvimento da Linguagem
PCC – Percentagem de Consoantes Corretas
PCV – Percentagem de Vogais Corretas
PF – Perturbação Fonológica
PLP – Perturbação de Linguagem Primária
QINV – Quociente de Inteligência Não-Verbal
RGC – Redução do Grupo Consonântico
SAMPA - Speech Assessment Phonetic Alphabet
SFS - Speech Filing System
SL – Substituição de Líquida
SV LIQ – Semivocalização de líquida
TALC – Teste de Avaliação da Linguagem na Criança
TF – Terapeuta da Fala
TFF – ALPE – Teste Fonético-Fonológico – Avaliação da Linguagem Pré-Escolar
WISC - Wechsler Intelligence Scale for Children
WPPSI-R - Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence–Revised
Introdução
Capítulo 1: Introdução
1.1. Motivação do estudo
A Perturbação de Linguagem Primária (PLP) é considerada uma das perturbações linguísticas
mais comuns na infância, afetando cerca de 7% de crianças americanas em idade pré-escolar
(Tomblin et al., 1997). O diagnóstico diferencial é realizado pela confirmação do défice linguístico,
na ausência de fatores que, normalmente, o explicam, como é o caso de perda auditiva,
alterações da estrutura oral, défices neurológicos ostensivos, problemas cognitivos ou
perturbações emocionais, comportamentais e/ou interacionais (Leonard, 1998). Em Portugal,
ainda constitui uma perturbação linguística subdiagnosticada, o que pode estar relacionado com o
facto de se tratar de uma população heterogénea, cujo diagnóstico ainda é realizado por exclusão
e apenas possível de traçar aquando da existência de uma equipa multidisciplinar (psicólogo,
audiologista e Terapeuta da Fala (TF), sendo de especial relevância as informações recolhidas
junto de pais, cuidadores e educadores). Por outro lado, e apesar de nos últimos anos se ter
verificado um aumento dos estudos com esta população, existe ainda pouca investigação no país
que se debruce sobre a caracterização, diagnóstico e prevalência da PLP, o que condiciona a
existência de um maior conhecimento da perturbação. O desconhecimento por parte de
profissionais de saúde, pais e educadores das características, fatores de risco e sinais de alerta
associados à PLP contribuem, muitas das vezes, para a identificação tardia destas perturbações,
o que condiciona o acesso a uma intervenção especializada e precoce que faculte, desde cedo, a
promoção dos níveis de atividade e participação da criança, permitindo a redução dos impactos
negativos da perturbação linguística nas diversas áreas de vida do individuo, nomeadamente a
social e académica (McCormack, Harrison, McLeod, & McAllister, 2011).
As crianças com PLP constituem uma população de características heterogéneas, estando
as principais diferenças relacionados com o grau em que os problemas de compreensão da
linguagem acompanham ou contribuem para os défices de expressão (Leonard, 1998). Não
obstante, a maioria dos sujeitos com PLP apresenta dificuldades com a aquisição e organização
do sistema de sons da sua língua, isto é, apresenta défices na componente fonológica (Leonard,
1998). Estes défices têm ganho especial relevância no estudo nesta população, com o surgimento
de teorias que propõe que os défices linguísticos apresentados advêm de comprometimentos em
capacidades não-linguísticas - défices de processamento temporal (Tallal, 1999), de
processamento geral da informação (Leonard, 1998) ou de memória de trabalho (Montgomery,
Magimairaj, & Finney, 2010). Joanisse e Seidenberg (1998) sugerem que será a componente
fonológica a estabelecer a ligação entre os défices de processamento, defendidos por estas
teorias, e os restantes défices linguísticos apresentados. Já Chiat (2001) vai para além desta
relação causal, defendendo uma teoria fonológica, na qual atribuiu aos défices fonológicos um
carácter primário, estando estes na origem dos subsequentes défices lexicais e morfossintáticos.
Devido a estas novas teorias explicativas da natureza da PLP, observa-se um crescente
investimento em estudos que analisam o perfil fonológico desta população, encontrando-se já
estudos realizados para crianças falantes do Inglês, Francês, Espanhol/Catalão, Italiano e Hebreu
(Aguilar-Mediavilla, Sanz-Torrent, & Serra-Raventos, 2002; Fee, 1995; Maillart & Parisse, 2006;
Orsolini, Sechi, Maronato, Bonvino, & Corcelli, 2001; Owen, Dromi, & Leonard, 2001), que
atestam, por parte destas crianças, dificuldades acentuadas na aquisição do sistema fonológico.
Embora os estudos sejam unânimes nesta conclusão, já não o são quando analisam a natureza e
expressão deste défice. Desta forma, encontram-se estudos que apontam para a existência de um
atraso na componente fonológica, pela presença de desenvolvimento paralelo ao observado para
a normalidade, resultante de uma dificuldade linguística geral. Outros, pelo contrário, sugerem que
a fonologia poderá ser uma área de especial debilidade nesta população, corroborando teorias
que defendem que este défice particular estará na origem de outros apresentados por estas
crianças. Segundo estes estudos, as crianças com PLP apresentarão um desvio na aquisição da
componente fonológica, quer por se verificar que esta área não acompanha o desenvolvimento
das restantes áreas da linguagem, conclusão que advém da existência de diferenças significativas
por comparação dos sujeitos com PLP com pares com o mesmo nível de desenvolvimento
linguístico (Aguilar-Mediavilla, et al., 2002; Aguilar-Mediavilla & Serra-Raventos, 2006; Bortolini &
Leonard, 2000; Maillart & Parisse, 2006; Owen, et al., 2001), quer por apresentarem
características atípicas ou perfis de aquisição diferentes, nomeadamente, pela existência de
desenvolvimento assimétrico dos diferentes parâmetros fonológicos (Aguilar-Mediavilla, et al.,
1
Introdução
2002; Aguilar-Mediavilla & Serra-Raventos, 2006; Maillart & Parisse, 2006). Apesar de algumas
diferenças entre os resultados dos estudos, devido em grande parte às características particulares
da língua (por exemplo, a maior dificuldade na aquisição de vogais no estudo de AguilarMediavilla, Sanz-Torrent et al. (2002), provavelmente pelo ambiente bilingue) e à metodologia
adotada, as conclusões gerais de estudos realizados apontam para teorias que defendem um
défice principal ou primário na componente fonológica.
Para o Português Europeu (PE), o estudo desta componente fonológica é ainda restrito ao
trabalho de Lousada et al. (2013), que incluiu uma análise do parâmetro Percentagem de
Consoantes Corretas (PCC) e processos fonológicos típicos e atípicos presentes nesta população,
corroborando a existência de um perfil de grandes limitações fonológicas e identificando a
ocorrência de padrões atípicos.
O presente estudo pretende, então, contribuir para a caracterização do perfil fonológico de
crianças com PLP falantes do PE, identificando, para isso, um conjunto de parâmetros fonológicos
(inventário fonético e silábico, percentagem de vogais e consoantes corretas, percentagem de
consoantes corretas por modo de articulação, percentagem de padrões silábicos e formatos de
palavra corretos e percentagem de processos fonológicos produzidos) que serão analisados por
comparação a um grupo de crianças com desenvolvimento típico, de forma a investigar a
existência de padrões típicos, mas persistentes, e/ou atípicos. Este conhecimento constitui um
contributo para uma melhor caracterização desta população, tendo como objetivo promover, num
futuro próximo, o diagnóstico precoce destas crianças. De forma mais específica, contribui para a
recolha de informações importantes e ainda pouco estudadas, em Portugal, nomeadamente
quanto aos padrões atípicos, permitindo assim o estabelecimento do diagnóstico diferencial de
entre as perturbações dos sons da fala (“speech sound disorder”), nomeadamente entre o atraso
fonológico e a perturbação fonológica, possibilitando, por sua vez, o estabelecimento de um
prognóstico mais fidedigno e a seleção dos melhores programas e estratégias de intervenção
(Bowen, 2009).
1.2. Objetivos e Questões de Investigação
Nesta seção serão apresentados os objetivos e hipóteses de investigação. O objetivo central do
trabalho é caracterizar o perfil fonológico das crianças com PLP e compara-lo com um grupo de
crianças com desenvolvimento típico com idade compreendida entre os 3 e 5 anos, permitindo,
deste modo, a identificação de padrões de atraso e/ou desvio fonológico. Os objetivos e hipóteses
definidos para análise da componente fonológica foram:
Objetivo 1: Caracterizar o inventário fonético consonantal e o inventário silábico das
crianças com PLP.
 Hipótese 1.1: As crianças com PLP apresentam um número total de consoantes e padrões
silábicos produzidos inferior ao das crianças com desenvolvimento típico.
 Hipótese 1.2: As crianças com PLP apresentam um inventário fonético e silábico
qualitativamente diferente do observado no desenvolvimento típico.
Objetivo 2: Calcular a percentagem de vogais e consoantes produzidas corretamente
pelas crianças com PLP e compará-la com o observado na população com desenvolvimento
típico.
 Hipótese 2.1: As crianças com PLP apresentam valores de PCC inferiores às das crianças
com desenvolvimento típico.
 Hipótese 2.2: As crianças com PLP apresentam valores de PCV inferiores às das crianças
com desenvolvimento típico.
Objetivo 3: Caracterizar a mestria de produção consonantal através do parâmetro
percentagem de consoantes corretas por modo de articulação (oclusivas, nasais, fricativas,
líquidas e róticos).
 Hipótese 3.1: As crianças com PLP apresentam percentagem de produção correta das
diferentes classes de consoantes inferiores, relativamente ao grupo de crianças com
desenvolvimento típico.
 Hipótese 3.2: A ordem de mestria na produção das diferentes classes de consoantes é
semelhante à observada no grupo de crianças com desenvolvimento típico.
2
Introdução
Objetivo 4: Caracterizar a mestria de produção dos diferentes padrões silábicos através do
parâmetro percentagem de padrões silábicos corretos (V, CV, CVG/CGV, VC, CVC, CCV e
1
CCVC ).
 Hipótese 4.1: As crianças com PLP apresentam percentagem de produção correta dos
diferentes padrões silábicos inferiores, relativamente ao grupo de crianças com
desenvolvimento típico.
 Hipótese 4.2: A ordem de mestria na produção dos diferentes padrões silábicos é
semelhante à observada no grupo de crianças com desenvolvimento típico.
Objetivo 5: Caracterizar a mestria de produção dos diferentes formatos de palavra tendo
em conta o número de silabas da palavra, ou seja, através da análise do parâmetro percentagem
de produção correta de monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos.
 Hipótese 5.1: As crianças com PLP apresentam percentagens de produção correta dos
diferentes formatos de palavra inferior às crianças com desenvolvimento típico.
 Hipótese 5.2: A ordem de mestria na produção dos diferentes formatos de palavra é
semelhante à observada no grupo de crianças com desenvolvimento típico.
Objetivo 6: Analisar quais os processos fonológicos típicos produzidos pelas crianças com
PLP e pelas crianças com desenvolvimento típico.
 Hipótese 6.1: As crianças com PLP apresentam diferenças estatisticamente significativas
quanto à percentagem de ocorrência dos diferentes processos fonológicos relativamente
às crianças com desenvolvimento típico.
Objetivo 7: Analisar a existência de processos fonológicos atípicos ou outras
características idiossincráticas na produção das crianças com PLP.
 Hipótese 7.1: As crianças com PLP apresentam processos fonológicos atípicos, ou seja,
que ocorrem em menos de 10% da população com desenvolvimento típico e que não
sejam descritos na literatura como comuns em idades precoces, assim como a presença
de outras características idiossincráticas.
1.3. Organização da Dissertação
A presente Dissertação encontra-se dividida em 6 capítulos. O presente constitui o capítulo da
Introdução, onde foi explorada a motivação e impacto futuro da Dissertação, os objetivos e
hipóteses que se pretendem investigar, assim como a presente seção que pretende descrever a
organização da Dissertação, com vista a facilitar a sua consulta.
No Capítulo 2, reservado à revisão da literatura, abordam-se os tópicos essenciais à
execução do trabalho de investigação que se propõe. Deste modo, será apresentada a definição,
caracterização da PLP e a explicitada a importância do estudo da fonologia nesta população. De
seguida, será abordada a componente fonológica, ou seja a definição de conceitos essenciais,
caracterização fonético-fonológica do PE e revisão dos estudos existentes que se debruçam sobre
a análise de características fonológicas nesta população. No Capítulo 3 procede-se à descrição da
metodologia utilizada no estudo, pela definição dos critérios e caracterização dos sujeitos do grupo
de estudo e do grupo de controlo, dos materiais e instrumentos utilizados na identificação dos
sujeitos com PLP, das tarefas, instrumentos e equipamentos utilizados na recolha e gravação dos
dados, assim como os procedimentos de análise, as medidas de resultados analisadas e uma
breve descrição dos métodos e dos testes estatísticos utilizados para análise dos dados. O
Capítulo 4 é reservado à apresentação dos resultados obtidos para as diferentes variáveis em
estudo e o Capítulo 5 dedica-se à discussão e interpretação dos resultados, tendo em conta a
investigação já existente e o conhecimento do desenvolvimento fonológico do PE. Por fim, o
Capítulo 6 é o espaço reservado à redação das considerações finais. Será realizado um resumo
do trabalho desenvolvido, evidenciando as principais conclusões, assim como as suas implicações
em termos clínicos, por fim, será realizada uma reflexão acerca das principais limitações do
estudo, acompanhada de propostas para futuras investigações.
1
C - Consoante; V- Vogal e G – Glide.
3
Revisão da Literatura
Capítulo 2: Revisão da Literatura
2.1. Perturbação de Linguagem
A linguagem pode ser considerada um sistema complexo e dinâmico de símbolos convencionais,
usado em modalidades diversas, como meio de comunicação e suporte do pensamento (ASHA,
1982; Brandone, Golinkoff, Hirsh-Pasek, & Salkind, 2006). Facultando ao Homem,
independentemente da comunidade linguística a que pertença (língua materna), a competência de
receber, transformar e transmitir informação (comunicação verbal) é, sem dúvida, essencial ao
contexto humano, dada a sua natureza social. Todavia, a linguagem não esgota o seu papel na
função comunicativa, assume também, por exemplo, um papel fulcral na aquisição de outras
competências e em todo o processo de aprendizagem, não sendo portanto, por acaso, que seja
encarada como “a janela do conhecimento humano” Sim-Sim.
A aquisição da linguagem, na sua vertente oral, é natural e espontânea. Não depende,
então, de ensino formal, mas simplesmente da exposição à língua, por interação com a
comunidade linguística. O conhecimento científico confirma que no decorrer do processo de
aquisição de linguagem, quanto maior for a exposição a diferentes interlocutores e à diversidade
de “inputs” e interações comunicativas (por exemplo, cuidadores que estimulem a conversação,
coloquem questões e respondam às iniciativas comunicativas da criança), mais rico será o
desenvolvimento linguístico (Brandone, et al., 2006).
Para a maioria das crianças, o desenvolvimento da linguagem decorre sem dificuldades.
Apesar da variabilidade individual, natural no desenvolvimento humano, é possível prever marcos
de desenvolvimento linguístico que ocorrem, aproximadamente, na mesma idade para todas as
crianças, assim como a ocorrência de um conjunto de erros normais em determinados estádios de
desenvolvimento, como a substituição de sons, sob ou sobre interpretações de conceitos ou sobre
generalização de regras gramaticais. Por volta dos 5/6 anos, a criança domina de forma
satisfatória todos os níveis da linguagem (forma, uso e conteúdo (Bloom & Lahey, 1978)), sendo
necessário apenas refinar e integrar as suas competências, a fim de utilizar a linguagem numa
gama de tarefas cada vez mais complexas (Brandone, et al., 2006).
No entanto, uma percentagem considerável de crianças manifesta alterações de fala e/ou
linguagem que comprometem a sua performance comunicativa (McLeod & Harrison, 2009). A
classificação Perturbação da Comunicação assume, portanto, uma classificação abrangente, onde
se incluem Perturbações da Fala (englobando Perturbações de Voz, de Fluência ou Perturbações
dos Sons da Fala) e Perturbações da Linguagem, definidas como uma alteração na compreensão
e/ou na produção da linguagem, em qualquer das suas modalidades (oral, escrita ou sistemas de
símbolos). A perturbação pode ocorrer em qualquer domínio (forma, uso ou conteúdo) de forma
independente ou em qualquer combinação (ASHA, 1993).
As perturbações de linguagem decorrem frequentemente de outras condições clínicas,
como a síndrome de Down (Abbeduto, Warren, & Conners, 2007; Chapman, 1997) ou a
perturbação do espectro do autismo (Chakrabarti & Fombonne, 2001), mas também como sintoma
secundário de alterações estruturais ou funcionais, como o défice auditivo, cognitivo ou lesão
neurológica (congénita ou adquirida). Contudo, muitas das crianças apresentam alterações
linguísticas que ocorrem de forma independente a outros diagnósticos clínicos, havendo, portante,
necessidade em distinguir entre perturbações de linguagem primárias e secundárias.
2.1.1. Perturbação de Linguagem
Desenvolvimento da Linguagem
Primária
e
Perturbação
Específica
do
Este trabalho debruça-se, especificamente, sobre crianças que apresentam uma significativa
limitação nas suas capacidades linguísticas, sem que haja associada uma causa evidente para
esta perturbação, ou seja, não apresentam características de outras perturbações conhecidas e
que, vulgarmente estão na origem das alterações do desenvolvimento da linguagem (Leonard,
1998). As terminologias utilizadas para classificar esta população têm variado ao longo dos anos.
Atualmente, o termo mais recorrente na literatura e prática estrangeira é o de “Specific Language
Impairment (SLI)”, sendo que em Portugal o termo mais comum é o de Perturbação Específica do
Desenvolvimento da Linguagem (PEDL) ou simplesmente Perturbação Específica da Linguagem
(PEL).
O estabelecimento do diagnóstico diferencial é, ainda, realizado essencialmente através
de um processo de exclusão, do qual fazem parte um conjunto de critérios. Este facto revela que,
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Revisão da Literatura
apesar da existência e estudo de diferentes hipóteses explicativas, estas são, ainda, pouco
robustas para contribuírem com critérios específicos ou marcadores da população. Deste modo, o
diagnóstico é estabelecido pela confirmação do défice linguístico, na ausência de fatores que
normalmente o explicam, como é o caso de perda auditiva, alterações da estrutura oral, défices
neurológicos ostensivos, cognitivos ou perturbações emocionais, comportamentais e/ou
interacionais (Leonard, 1998).
Se por um lado se verifica a existência de consenso, entre clínicos e investigadores, no
que diz respeito aos critérios de exclusão que devem constituir o protocolo de identificação para
esta população, o mesmo não se verifica na definição operacional destes fatores (por exemplo
níveis de corte) ou na necessidade de inclusão do critério de discrepância, ou seja, a identificação
de disparidade entre um função perturbada, como a linguagem, e outra sem alteração, como o
Quociente de Inteligência Não-verbal (QINV) (Aram, Morris, & Hall, 1993).
Relativamente à audição, é comum utilizar como critério a realização de um rastreio
auditivo que, normalmente utiliza a deteção de tons puros, em cada ouvido, nas frequências de
500 Hz, 1000 Hz, 2000 Hz e 4000 Hz, apresentando um limiar de 20 dB (Aguilar-Mediavilla, et al.,
2002; Aram, et al., 1993; Leonard, 1998; Tomblin, et al., 1997), ou de 25 dB numa gama de 2506000 Hz (Stark & Tallal, 1981).
A partir da recolha da história médica e pré, peri e pós natal ou de exames objetivos, deve
ser realizado o despiste de história de trauma crânio-encefálico, epilepsia ou outros indicadores de
lesões neurológicas, assim como alterações estruturais oro-faciais (Leonard, 1998; Stark & Tallal,
1981). Outro critério de exclusão relaciona-se com a existência de alterações na função oral.
Assim sendo, deverão ser avaliadas estas capacidades, por parte do TF, a partir da aplicação de
protocolos de avaliação oro-faciais (Leonard, 1998).
Deve, também, ser confirmada a ausência de perturbação severa do comportamento ou
de sintomas de dificuldade de interação social ou limitações na atividade descritas no DSM-IV
(APA, 1994) que enquadrem no diagnóstico de perturbação do espetro do autismo ou perturbação
global do desenvolvimento sem outra especificação (Leonard, 1998). Stark e Tallal (1981)
consideram que poderão ser incluídas crianças que apresentem nalguma medida um desajuste
emocional e/ou social, sempre que estas características sejam consideradas secundárias aos
problemas linguísticos e /ou de aprendizagem.
Aram, Morris e Hall (1993) referem ainda como critério de exclusão a condição de bilingue.
A condição de bilingue poderá afetar o desempenho linguístico, sendo necessário, nestas
situações, uma avaliação em domínios mais específicos, para que seja possível a realização do
diagnóstico diferencial (Kohnert, Windsor, & Ebert, 2009).
A confirmação do défice linguístico é realizada, maioritariamente, pela aplicação de testes
estandardizados para avaliação deste domínio. Não obstante, as disparidades entre estudos
surgem, sobretudo, nos critérios adotados para a confirmação da perturbação de linguagem.
Nos estudos com esta população são utilizados diferentes procedimentos, entre os quais
se incluem: a confirmação de discrepância entre o QINV e o quociente de linguagem, entre a
idade mental e a idade linguística (Stark & Tallal, 1981), entre a idade cronológica e a idade de
linguagem ou pela utilização de um valor de corte para a performance linguística em testes
padronizados (Aram, et al., 1993). A utilização do critério de discrepância com o QINV tem sido
posto em causa argumentando-se a sua pouca utilidade etiológica ou prognóstica (Tomblin, et al.,
1997). No decorrer desta análise, Lahey (1990) recomenda a utilização da idade cronológica como
base principal à avaliação e julgamento dos desempenhos linguísticos de uma criança.
Atualmente, mais do que o cálculo da idade de linguagem, verifica-se a crescente utilização de
critérios com base no desvio-padrão (DP) obtido quando utilizados instrumentos de avaliação
estandardizados, apesar da ausência de norma quanto ao valor do DP (valores de corte)
necessário para a presença de comprometimento da linguagem (Tomblin, et al., 1997).
A Classificação Internacional de Doenças (ICD-10) (OMS, 2010) propõe a ocorrência da
PEDL, na presença de um desfasamento das competências linguísticas da criança de, pelo
menos, 2 DP abaixo da média. Leonard (1998) propõe que uma criança que apresente
desempenhos dentro do esperado para a sua idade em determinada área ou modalidade
linguística, pode ainda assim cumprir com os critérios de inclusão para a PEDL, caso se observem
dificuldades acentuadas noutras áreas que contribuam para que a pontuação total seja inferior a 1,25 DP. O mesmo autor (Leonard 1998) argumenta que este critério reúne um consenso
considerável entre profissionais, verificando-se também a sua utilização em diferentes estudos,
como o de Tomblin, Records et al. (1997), Owen, Dromi et al. (2001), Fey, Catts et al. (2004) e
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Revisão da Literatura
Boyle, McCartney et al. (2010). Noutros estudos (Ebbels, Van der Lely, & Dockrell, 2007;
Swanson, Fey, Mills, & Hood, 2005) encontra-se, como critério de identificação das crianças com
PLP, a obtenção de mais do que 1,5 DP abaixo da média para a idade, em instrumentos de
linguagem estandardizados.
Um dos critérios fundamentais para o diagnóstico diferencial é a obtenção de níveis de
desempenhos cognitivos não-verbais dentro da média para a idade (Leonard, 1998). Assim sendo,
a definição convencional da PEDL, conforme proposto em Leonard (1998) ou Stark e Tallal (1981),
considera como critério de exclusão a presença de um nível de QINV inferior a 85 (ou seja, mais
do que 1 DP abaixo da média), sendo este avaliado a partir da aplicação de escalas de
2
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inteligência padronizadas, como a WPPSI-R (Wechsler, 2003) ou a WISC (Wechsler, 1992).
Todavia, existe um grupo de crianças que cumprindo todos os critérios propostos para a
classificação de PEDL, até aqui apresentados, falha unicamente na obtenção de um nível de QINV
superior a 85. O termo Perturbação de Linguagem Primária (PLP) tem sido utilizado, por muitos
autores, para dar conta desta diferença. Na maioria dos estudos analisados, é proposta a
classificação geral de PLP para as crianças do grupo experimental, sendo depois
subcategorizadas, tendo em conta o valor de QINV em: PEDL e Perturbação de Linguagem NãoEspecífica (PL-NE) (Bishop & Edmundson, 1987; Fey, et al., 2004; Rice, Tomblin, Hoffman,
Richman, & Marquis, 2004; Tomblin, Zhang, Buckwalter, & O'Brien, 2003; Weismer et al., 2000).
Outros estudos, como o de Boyle, McCartney et al. (2010), optam por apenas utilizar o termo PLP
associado ao critério de um QINV superior a 75. Já Cole, Schwartz et al. (1995), sob a designação
geral de Perturbação de Linguagem distingue os subgrupos, classificando-os como PEDL e
“Development Lag Language Impairment (DLLI)”, para o grupo com resultados inferiores a 85
(QINV).
Não obstante, é de ressalvar que há autores como Kohnert, Windsor et al. (2009) que
consideram os termos PEDL e PLP indiferenciadamente, optando pela utilização do termo
Perturbação de Linguagem Primária. Estes autores defendem que termo específico na
nomenclatura Perturbação Específica da Linguagem, não será o mais apropriado a adotar, dado a
identificação de défices em áreas não linguísticas nestas população (Montgomery, et al., 2010;
Ullman & Pierpont, 2005), não se verificando, portanto, apenas défices linguísticos, como o termo
específico faria supor.
Vários autores têm ressalvado a necessidade de investigar em que medida é que o perfil
linguístico das crianças com diferentes níveis de QINV é semelhante (Plante, 1998). Segundo
Tomblin, Records et al. (1997) as crianças com QINV inferiores a 85 poderão apresentar padrões
linguísticos que as tornem indistinguíveis daquelas que reúnem os critérios mais rigorosos para a
inclusão no grupo de PEDL.
2.3. O papel da Fonologia na natureza e causa da PLP
As crianças com PLP constituem um grupo heterogéneo no que diz respeito à expressão das suas
limitações linguísticas. A existência de um fenótipo que pode ser distinto resulta em grande parte
da forma como são classificadas, isto é, com base num conjunto de critérios de exclusão e
inclusão ao invés de ser nas causas etiológicas da perturbação, dado ainda possuírem pouco
suporte científico (Marinis, 2011). Apesar do número crescente de estudos (Conti-Ramsden &
Botting, 1999; Conti-Ramsden, Crutchley, & Botting, 1997; Friedmann & Novogrodsky, 2008; Rapin
& Allen, 1983; Van Weerdenburg, Verhoeven, & Van Balkom, 2006) que têm como intuito
contribuir para a classificação da PLP, identificando subgrupos de crianças com características
mais homogéneas, ainda não existe um suporte e consenso científico que sustente de forma
inequívoca a existência dos subgrupos propostos pelos diferentes autores (Van Weerdenburg, et
al., 2006), razão pela qual é defendido que seja adotava simplesmente a classificação de PLP,
referindo as vertentes da linguagem afetadas: compreensão, expressão ou mista (Leonard, 1998;
Tomblin, et al., 2003)
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Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence–Revised
3
Wechsler Intelligence Scale for Children
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Revisão da Literatura
Apesar do carácter heterogéneo desta população, a maioria dos sujeitos manifesta
dificuldades com a aquisição e organização do sistema de sons da sua língua, isto é, apresenta
défices na componente fonológica (Bortolini & Leonard, 2000; Leonard, 1998).
Segundo Joanisse e Seidenberg (1998), a componente fonológica da linguagem surge
como elemento chave na explicação dos défices ostentados nesta população, atribuindo-lhe um
papel nuclear, nomeadamente o de estabelecimento da associação entre os défices de
processamento, defendidos por algumas das teorias explicativas da PLP (Gathercole & Baddeley,
1990; Kail, 1994; Leonard, 1998; Tallal, 1999; Tallal, Stark, & Mellits, 1985; Ullman & Pierpont,
2005), e os consequentes défices linguísticos. Deste modo, defendem que os défices de perceção
de fala interferem na aprendizagem do inventário fonológico, assim como na aprendizagem das
regularidades fonológicas da língua a que a criança está exposta (desenvolvimento fonológico), o
que prejudica a construção adequada das representações fonológicas que, por sua vez, afetam o
desenvolvimento de outros aspetos gramaticais. O argumento base é, então, o de que a “SLI is
associated with impairments in the processing of speech; that these impairments affect the
development representations; and that degraded phonological representations are the proximal
cause of deviant acquisition of morphology and syntax, by virtue of their roles in learning and
working memory” (Joanisse e Seindenberg, 1998, p. 241)
Chiat (2001) vai para além desta relação causal, defendendo uma teoria fonológica, na
qual atribuiu aos défices fonológicos um carácter primário, estando estes na origem dos
subsequentes défices lexicais e morfossintáticos. Em suma, a Teoria Fonológica, opondo-se
4
claramente às teorias modulares de aquisição da linguagem , propõe que a perturbação linguística
manifestada pelas crianças com PLP resulta de limitações no processamento fonológico, que
conduz não só a alterações de segmentação e representação fonológica, como também ao
comprometimento do desenvolvimento lexical e sintático, por disrupção da cadeia dos processos
5
de mapeamento (“mapping processes”) .
2.4. Fonologia clínica: terminologias e classificações
A fonologia é uma subdisciplina da linguística cujo domínio de estudo são os sons da fala nas
diferentes línguas, ou seja, sons linguisticamente relevantes do ponto de vista da sua estrutura,
organização e funcionamento (Lowe, 1994). Segundo uma perspetiva clínica, a fonologia é
analisada como uma dimensão da linguagem e importa ao clínico saber identificar em que medida
é que um determinado indivíduo manifesta um comprometimento na utilização do sistema de sons
da sua língua e, naturalmente, na sua capacidade em estabelecer uma comunicação eficaz.
Apesar de apresentarem objetivos de estudo distintos, os conhecimentos obtidos nestas duas
áreas são complementares. De facto, a prática clínica em muito tem beneficiado com os
conhecimentos obtidos pelas teorias fonológicas. A par destas, tem-se registado uma alteração
dos conceitos e terminologia utilizada na classificação das alterações na produção dos sons da
fala e, consequentemente, nos próprios métodos de avaliação e intervenção desenvolvidos.
Atualmente é utilizado na literatura o termo Perturbação dos Sons da Fala (“Speech
Sound Disorder (SSD)”) como classificação abrangente e generalista, salvaguardando-se sempre
a dicotomia articulação/fonologia (ASHA, 2004; Bowen, 2009). Este termo abrange, então, não só
todas as crianças que manifestem erros significativos na produção de sons de causa
desconhecida, erros estes de produção fonética (articulatória) e/ou fonémica (fonológica), mas
também qualquer sujeito que manifeste erros nos sons da fala decorrentes de etiologia conhecida,
como anomalias craniofaciais ou perturbações neurológicas (sensoriais e/ou motoras) (Bowen,
2009). É, portanto, consensual que as crianças incluídas nesta classificação constituem um grupo
4
Teorias que atribuem à perturbação linguística, défices em estruturas específicas da linguagem que
conduzem a alterações limitadas a determinadas componentes da linguagem (fonologia, semântica ou
sintaxe).
5
Este conceito surge na teoria de desenvolvimento da linguagem “Mapping Theory” estudada inicialmente
por Slobin (1973) e pretende expressar as interdependências entre o desenvolvimento dos diferentes
domínios da linguagem, no processo da sua apropriação. Na base dos processos de mapeamento, encontrase o processamento fonológico, que tem vindo a ser apontado como contribuindo, não só na segmentação e
representação fonológica, como de forma mais ampla para o desenvolvimento lexical e morfossintático
(Chiat, 2001).
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Revisão da Literatura
heterogéneo. Bradford e Dood (1996) defendem que os erros de produção destas crianças devem
ser descritos e relacionados com um perfil de desenvolvimento das suas habilidades cognitivas,
linguísticas e motoras, para que seja possível a identificação de défices específicos subjacentes e,
assim, a distinção de diferentes subgrupos.
Neste sentido, o modelo proposto por Dodd (1995) e Bradford e Dodd (1996), propõe que
sob a classificação de Perturbações dos Sons da Fala seja possível determinar, consoante o seu
perfil psicolinguístico e de desenvolvimento oro-motor, um conjunto de subtipos devendo, portanto,
realizar-se o diagnóstico diferencial entre: Perturbação Articulatória (PA) – diagnosticado sempre
que exista um problema no mecanismo de produção de fala, ou seja os erros refletem uma quebra
num nível, relativamente, periférico do processo de articulação; Atraso Fonológico (AF) – é
identificado quando a criança apenas utiliza processos fonológicos observados no
desenvolvimento típico de crianças mais novas, ou seja, verifica-se uma persistência na
ocorrência dos processos para além da idade de desaparecimento. Este subdiagnóstico tem sido
atribuído à existência de um atraso na maturação neurológica ou um ambiente de aprendizagem
empobrecido; Perturbação Fonológica (PF) – constitui o subgrupo onde se incluem as crianças
que manifestam a ocorrência de erros atípicos, ou seja processos fonológicos não identificadas
em crianças com desenvolvimento linguístico típico, a par da persistência de processos
fonológicos naturais. Dodd (1995) propõe ainda que se deve realizar a distinção entre PF
consistente e inconsistente, sendo esta última identificada na presença de uma variabilidade igual
ou superior a 40%, na produção de palavras isoladas. A perturbação fonológica consistente devese a um défice cognitivo-linguístico na abstração das regras que governam a organização dos
sons da fala, o que é sustentado pelo fraco conhecimento meta-fonológico manifestado, e pelos
bons desempenhos em tarefas oro-motoras e de planeamento motor da fala; Apraxia do Discurso
6
na Criança (“Childhood Apraxia of Speech””) – diagnóstico em que as crianças apresentam
padrões de produção verbal oral inconsistentes. A manifestação de um conjunto de
comportamentos indicadores de défices no processamento motor, como baixos desempenhos na
realização de praxias não-verbais ou em tarefas de diadococinésias, constituem as principais
características distintivas da PF.
2.4.1. Processos Fonológicos
O conceito de processo fonológico tem também a sua origem na área da linguística. De facto, este
conceito, amplamente utilizado na prática clínica, tem a sua origem na teoria da fonologia natural
de Stampe (1979). Na conceção de Stampe (1979) todas as crianças, independentemente da
língua em aquisição, possuiriam desde o nascimento (comportamento inato) um reportório
universal de processos fonológicos. Estes eram definidos como operações mentais que alteravam
ou eliminavam unidades fonológicas, refletindo as limitações e capacidades naturais de perceção
e produção de fala. A evolução para produções corretas ocorreria por meio de mecanismos
passivos de limitação, ordenamento e supressão dos processos fonológicos, resultantes do
processo de maturação (Bowen, 2009). A ampla utilização deste termo na área da perturbação
dos sons da fala deve-se a Ingram (1974). Este autor foi dos primeiros a observar que os erros
tipicamente produzidos não constituíam variações aleatórias, mas antes sistemáticas, do modelo
adulto (Bowen, 2009). Deste modo, o conceito de processos fonológicos foi adaptado à área
clínica, como ferramenta na descrição dos desvios dos padrões de fala adulta, de ocorrência
regular, que podem ocorrer sob classes de sons, padrões ou sequências silábicas (Hodson &
Paden, 1981).
Para a análise dos erros de fala das crianças e posterior identificação do subgrupo,
subjaz, como anteriormente explicado, a distinção entre processos fonológicos típicos ou naturais
e processos fonológicos atípicos (Smit, 2004). Os primeiros dizem respeito aos processos
presentes no desenvolvimento fonológico típico, ou seja, são os processos identificados
comumente, entre as crianças, no decorrer da aquisição da linguagem. Já os processos atípicos
constituem padrões de erros não identificados ou raramente produzidos por crianças com
desenvolvimento fonológico típico. A presença destes processos no discurso de uma criança
agrava consideravelmente a inteligibilidade do seu discurso (Smit, 2004).
6
A nomenclatura mais utilizada em Portugal é a de dispraxia do discurso contudo, atualmente o termo Inglês
considerado mais adequado é o de “Childhood Apraxia of Speech (CAS)”, de acordo com as propostas da
American Speech-Language-Hearing Association (2007).
8
Revisão da Literatura
Na literatura, essencialmente para a língua inglesa, têm sido identificados alguns
processos fonológicos classificados como atípicos, tais como: o processo de som favorito
(“favourite sound”), que consiste na substituição de vários sons por um único (Dodd, Holm, Hua, &
Crosbie, 2003; Smit, 2004); o processo de fricatização, que consiste na substituição de oclusivas
por fricativas; o processo de omissão de consoantes iniciais e mediais, que consiste na omissão
de consoantes que ocupam a posição de ataque na sílaba; o processo de posteriorização de
oclusivas e fricativas, que se refere à substituição de um ponto de articulação por outro mais
posteriores; o processo de desnasalização, que consiste na substituição de uma consoante nasal
por outra sem este traço fonológico, é, igualmente, referido como um padrão de substituição
atípica (Beers, 1992; Dodd, et al., 2003). Leonard (1985) refere, ainda, outros comportamentos
fonológicos atípicos, como a substituição de sons adquiridos precocemente por sons que surgem,
presumivelmente, mais tarde; a realização de adições à forma de superfície adulta ou a utilização
de um som ou traço suprassegmental ausente na língua em aquisição ou mesmo não identificado
em nenhuma língua natural.
Para além desta distinção, existem também diferentes propostas para a classificação dos
processos fonológicos, sendo estas determinadas pelo tipo de simplificação associada a cada
processo fonológico. As diferenças entre as classificações residem, essencialmente, na
terminologia adotada, na quantidade de processos fonológicos abrangidos e na forma como os
processos são agrupados nas diferentes categorias. Neste trabalho utilizar-se-á a classificação
proposta por Ingram (1981) que pressupõe a existência de três grandes grupos:

Processos fonológicos de substituição: engloba os processos fonológicos que implicam a
substituição de um segmento por outro, sem que esta alteração ocorra por influência do
contexto.

Processos fonológicos de estrutura silábica: abrange os processos que modificam a
estrutura da sílaba ou, globalmente, da palavra, pela omissão de sílabas da sua
constituição.

Processos fonológicos de assimilação: são agrupados nesta categoria os processos que
compreendem a assimilação de determinadas características tornando os segmentos ou
estruturas silábicas da palavra semelhantes ou iguais.
2.5. Caracterização Desenvolvimental e Fonético-Fonológica do PE
A avaliação e caracterização das perturbações fonológicas exigem da parte do avaliador, para
além do conhecimento acerca das características fonológicas da língua, um conhecimento sobre
os principais marcos de desenvolvimento fonológico (Smit, 2004). Desta forma, será, nesta seção,
apresentada uma breve descrição fonético-fonológica do PE, tendo por base o dialeto padrão.
2.5.1 Sistema vocálico e consonantal do PE
7
O PE apresenta, a nível fonológico, oito vogais orais em contexto tónico (/a, E, e, i, O, o, u, e 6/ e
quatro em contexto átono (/i, u, 6, 1/) (ver Anexo 1). Existem ainda cinco vogais nasais produzidas
em contexto tónico ou pretónico e semivogais ou glides (/j, w,~j, ~w/) (Cruz-Ferreira, 1999; Mateus
& d'Andrade, 2000; Mateus, Falé, & Freitas, 2005; Vigário, Freitas, & Frota, 2006). O estudo de
Fikkert e Freitas (2006) conclui que apesar de existirem alguns traços distintivos, como o traço de
[altura], de aquisição mais tardia, as crianças falantes do PE adquirem o sistema fonológico
vocálico muito cedo, em muito devido à grande variedade sistemática no “input”. Segundo, o
8
estudo de Rangel (2002) o sistema vocálico do português está adquirido a partir do 1A8M . Para o
PE, o estudo de Mendes, Afonso, Lousada e Andrade (2009) identificou que as crianças
produziam de forma adequada as vogais logo na primeira faixa etária analisada [3A-3A6M], não
querendo isso dizer que esta seja a faixa etária de aquisição, uma vez que podem ter sido
adquiridas em fases anteriores.
Quanto aos padrões de aquisição do sistema consonantal do PE (/p, t, k, b, d, g, f, s, S, v,
z, Z, m, n, J, l, L, 4, R\/), e tendo em conta os traços relativos ao modo há tendência para que as
7
Utilizada notação em SAMPA (Wells, 1997).
8
Um (1) ano e oito (8) meses.
9
Revisão da Literatura
oclusivas constituam, universalmente, a classe de consoantes presentes desde cedo no
desenvolvimento típico (Costa, 2010). De facto, são estes sons que estão frequentemente
presentes na fase de balbucio e nas primeiras palavras. A classe das nasais acompanha a das
oclusivas ao serem, normalmente, produzidas em fases precoces. Já as fricativas são infrequentes
nas primeiras palavras, acompanhando junto com as líquidas as classes que tendem a ser
adquiridas num maior período de tempo (Costa, 2010).
Esta foi, de facto, a ordem de aquisição observada no estudo de Freitas (1997), que tinha
como principal objetivo a análise da aquisição dos padrões silábicos no PE:
Oclusivas e Nasais> Fricativas> Líquidas
Quanto à aquisição dos traços de ponto de articulação o estudo de Costa (2010) revelou
que as crianças portuguesas tendem a adquirir as consoantes labiais e coronais ([+ant]) antes das
consoantes posteriores (coronais [-ant] ou dorsais [+recuado]). De facto, o padrão de aquisição
[+ant] >> [-ant] ou [+recuado] é observado, de forma geral, em todas as crianças, para todas as
classes de sons à exceção dos róticos, onde se verificou uma aquisição inversa: a aquisição do
/R/ a preceder a do /4/. Os dados obtidos no estudo de Mendes et al. (2009), quanto à idade de
aquisição das diferentes consoantes do PE, são apresentados no anexo 2.
2.5.3. Padrões silábicos do PE
A sílaba constitui uma unidade prosódica de importância singular dado o seu papel na organização
dos processos fonológicos de uma língua, regulando, portanto, a organização dos sons nas
palavras (Freitas, 1997; Henriques, 2009). A sílaba apresenta, enquanto unidade fonológica
autónoma, uma hierarquia e organização própria. No anexo 3, encontram-se descritos os
9
constituintes silábicos presentes no PE, segundo o modelo Ataque - Rima , assim como os
segmentos associados a cada um deles (restrições fonotáticas, ou seja, a distribuição, regida por
princípios, dos segmentos nos diferentes constituintes silábicos).
Quanto ao inventário silábico do PE, temos as seguintes combinações possíveis (Mateus
& d'Andrade, 2000): V, CV, VC, CVC, CCV, CCVC, sendo o formato CV o mais frequente (Vigário,
Martins, & Frota, 2005). Quanto à aquisição das estruturas silábicas por crianças falantes do PE,
sabe-se que desde o início das suas produções estão disponíveis os ataques não ramificados
(simples e vazios), assim como a rima não ramificada, com núcleo simples (V) (Correia, 2004;
Freitas, 1997). Freitas (1997) propõe que não só os ataques simples (CV) mas também os vazios
(V) constituam as estruturas não-marcadas do PE. Pelo contrário, o ataque complexo (CCV)
constituirá uma estrutura marcada, por ser menos frequente, quer no PE quer noutras línguas e,
por isso, ser das estruturas de aquisição mais tardia. Segundo o estudo de Mendes, et al. (2009)
os grupos consonânticos são adquiridos pelas crianças entre os 4A e os 5A6M, dependendo da
tipologia da sequência consonantal.
No decorrer do desenvolvimento silábico, a aquisição seguinte é a da Rima Ramificada,
com a aquisição do constituinte Coda, sendo que numa primeira fase apenas são produzidas
fricativas nesta posição. Só mais tarde são adquiridas as líquidas em posição de coda. Este
constituinte estabiliza a par dos núcleos ramificados (VG) (Correia, 2004). De ressalvar, que as
crianças iniciam a produção de núcleos ramificados (VG) muito antes de as líquidas surgirem em
final de sílaba, contudo, ainda se regista uma grande alternância (produção de V em substituição
de alvos VG), pelo que a sua produção correta e estabilizada, apenas se verifica em idades
posteriores.
Freitas et al. (2005) concluíram que a frequência do padrão silábico, por si só, não explica
a ordem de aquisição observada para os padrões silábicos. Os mesmos autores, justificam, então,
a aquisição mais precoce das estruturas CVG e CVN, relativamente à do tipo CVC (mais frequente
no PE), pela influência das características prosódicas do “input”. Deste modo, identificaram dois
fatores prosódicos (periferia na palavra e acento) que conduzem a uma maior proeminência do
padrão silábico, acelerando a sua aquisição nestas posições. Segundo estes autores, apenas a
associação destes fatores (prosódicos e frequência do padrão silábico) é capaz de explicar a
seguinte ordem de aquisição encontrada:
CV e V > (C) VG/ (C) VN > (C) VC > CCV
9
Segundo classificação proposta pela teoria autossegmental (Blevins, 1995).
10
Revisão da Literatura
Também Correia (2004) detetou no seu estudo a influência, para além do material
segmental, dos fatores prosódicos na aquisição do constituinte coda. Assim, para além do
aparecimento das fricativas em coda preceder o das líquidas, identificou que este aparecimento
dependia, da seguinte forma, da posição prosódica: final de palavra> posição interna de palavra
posição tónica> posição átona.
2.5.4. Processos Fonológicos Naturais
Nesta seção pretende-se dar conta dos processos fonológicos mais comuns no desenvolvimento
fonológico típico, fornecendo dados de estudos realizados, especialmente para o PE, que
permitam conhecer quais os processos esperados para um determinado estádio do
desenvolvimento fonológico, apontando assim, se possível, uma idade esperada para a supressão
das simplificações observadas. De referir, que as diferenças entre os estudos apresentados,
nomeadamente quanto à idade de supressão dos processos fonológicos, se pode dever à
metodologia e critérios adotados. Por exemplo o estudo de Cambim (2002) não define de forma
precisa o critério de supressão utilizado, enquanto, os estudos de Mendes et al. (2009) e Charrua
(2011) definem como critério de supressão de um processo fonológico quando 85% das crianças
já não o produzem.
2.5.4.1 Processos fonológicos de substituição
O processo de oclusão consiste na substituição de uma consoante fricativa ou africada (presentes
apenas nalguns dialetos do PE (Cruz-Ferreira, 1999; Mateus & d'Andrade, 2000; Mateus, et al.,
2005; Vigário, et al., 2006)) por uma consoante oclusiva (Bowen, 2009; Smit, 2004). Este processo
é comum no PE, visto que as oclusivas são dos primeiros sons a serem produzidos, tornando a
ocorrência destas substituições plausíveis, especialmente em etapas nas quais os restantes
fonemas ainda não estejam adquiridos (Costa, 2010; Freitas, 1997). É, portanto, um processo
identificado em fases mais precoces do desenvolvimento fonológico, conforme mostram os
estudos de Cambim (2002), Guerreiro (2007) e Mendes, et al. (2009) para o PE.
O processo de desvozeamento (Guerreiro, 2007; Mendes, et al., 2009), ou
desvozeamento final (Bowen, 2009) que considera a ocorrência do processo apenas em contexto
final de palavra, é relativo à substituição de uma consoante vozeada pela sua homorgânica nãovozeada. O estudo de Guerreiro (2007) e Castro, Neves, Gomes e Vicente (1999) revelaram que
este constitui o processo de substituição mais frequente em consoantes oclusivas e fricativas, nas
crianças falantes de PE. Os estudos de Cambim (2002) e Coelho (2006) sugerem que este
processo é pouco comum depois dos 3A aos 3A6M. Todavia, Mendes, et al. (2009) identificaram
como faixa etária de supressão do processo fonológico a dos [4A6M - 4A12M [.
Existem diferentes designações para os processos que envolvem a alteração dos traços
de ponto de articulação. Grunwell (1981a) propõe as designações anteriorização velar e
anteriorização palatal que consistem, para a língua inglesa, na substituição de uma oclusiva ou
nasal velar por uma consoante alveolar e pela substituição de uma fricativa palatal por uma
alveolar. Ingram (1981) introduz o termo de despalatalização, para dar conta do processo de
anteriorização de consoantes palatais.
Neste estudo, serão utilizados os termos anteriorização e despalatalização para dar conta,
respetivamente, da substituição de uma consoante velar por uma dental e a substituição de uma
consoante palatal por uma dental.
No estudo realizado por Costa (2010) é constatado que as substituições afetam mais
frequentemente as consoantes coronais [-anteriores], uma vez que as coronais [+ant] são
adquiridas relativamente mais cedo. Deste modo, identificaram-se padrões de substituição do tipo:
[-ant]  [labial]; [-ant]  [+ant]. No mesmo estudo, foi também identificada a ocorrência da
substituição do traço [dorsal] pelo [coronal] (especialmente, [+ant]), ocorrendo, portanto, o
processo de anteriorização, o que é justificado pela aquisição mais tardia do traço [dorsal]. Quanto
à idade de desaparecimento, o estudo de Cambim (2002) revela alguma persistência do processo
de anteriorização até aos 4 anos, devendo estar extinto por volta dos 4A6M (de notar que neste
estudo não foi realizada a distinção entre anteriorização e despalatalização). Este dado é
reforçado no estudo de Guerreiro (2007) onde “as baixas frequências de ocorrência e o reduzido
grau de generalização entre os sujeitos sugerem que este processo se encontra praticamente
extinto aos cinco anos” (Guerreiro, 2007, p. 154).
Inversamente, a substituição de pontos de articulação anteriores, normalmente uma
consoante dental, por posteriores, palatais e velares, designa-se de palatalização e
11
Revisão da Literatura
posteriorização, respetivamente. Há autores que consideram o processo de posteriorização atípico
ou pouco comum no desenvolvimento normal da linguagem (Beers, 1992; Dodd, et al., 2003; Smit,
2004) . Na língua portuguesa, os exemplos de posteriorização mais frequentes ocorrem sobre as
fricativas /s/ e /z/ (palatalização) (Mendes, et al., 2009; Oliveira, 2004 ) . Não obstante, na classe
das fricativas verifica-se com frequência não só o processo de palatalização como o de
despalatalização (processos referidos como confusão das fricativas por Teixeira (1980) ). Segundo
Hernandorena (1993) a ocorrência destes processos fonológicos pode significar a
subcategorização do traço [anterior] relativamente ao traço [coronal].
O processo de posteriorização, no estudo de Cambim (2002), obteve resultados inferiores
ao de anteriorização, o que pode indicar que a superação deste processo possa ocorrer mais
cedo. O estudo de Guerreiro (2007) aponta no mesmo sentido, com ocorrência pouco significativa
deste processo aos 5 anos. O estudo de Mendes, et al. (2009) refere como idade de
desaparecimento do processo de posteriorização a faixa etária dos [3A-3A6M[ ou uma idade
inferior e o processo de palatalização mais tarde, na faixa etária dos [4A-4A6M[.
O processo de semivocalização de líquidas consiste na substituição de uma líquida,
normalmente o /l/ e o /4/, em posição inicial ou intervocálica por uma semivogal (Grunwell, 1981a;
Smit, 2004). Este processo foi identificado no estudo de Freitas (1997), afetando a produção de
consoantes laterais, especialmente de crianças mais novas. Não obstante, outros estudos revelam
que este processo tende a ser, de entre os processos de substituição, um dos mais observados
entre crianças mais velhas (entre os 4 e 5 anos), como comprovado nos estudos de Cambim
(2002) e Guerreiro (2007). De facto, segundo estudos realizados para a língua inglesa, este
processo pode mesmo ser detetado nas produções de crianças com mais de cinco anos (Dodd, et
al., 2003; Grunwell, 1981a; Smit, 1993). O estudo de Mendes, et al. (2009) confirma estes dados,
apontando como faixa etária de supressão a dos [6A6M-6A11M].
O processo de substituição de líquidas (Ingram, 1981), que consiste na substituição de
líquidas entre si, é também um processo fonológico comum na língua portuguesa (Cambim, 2002;
Charrua, 2011; Freitas, 1997; Guerreiro, 2007) . Os estudos citados revelam uma frequência de
ocorrência deste processo inferior à observada para o processo de semivocalização. Neste
processo pode observar-se qualquer padrão de substituição entre liquidas, todavia é mais comum
a substituição do /L/ e do /4/, normalmente, por /l/ (Mezzomo & Ribas, 2004). O estudo de
Guerreiro (2007) confirma este padrão, registando também a substituição do fonema /l/ por /4/, em
25% do total de ocorrência deste processo.
2.5.4.2. Processos fonológicos de estrutura silábica
O processo de omissão da consoante final é bastante comum, uma vez que consiste na redução
de estruturas CVC, de aquisição tardia, à estrutura canónica CV (Ingram, 1981; Mezzomo, 2004;
Smit, 2004). Por outras palavras, este processo consiste na utilização de sílabas abertas devido à
omissão da consoante em posição de coda (Smit, 2004). O estudo de Guerreiro (2007) revela a
persistência deste processo, na faixa etária dos 5 anos, especificamente para consoantes líquidas
em coda medial, confirmando o domínio das consoantes fricativas, nesta posição (dados
confirmados por Correia (2004) e Freitas (1997)). O estudo de Mendes, et al. (2009) identifica
como faixa etária de supressão deste processo fonológico a dos [6A6M-6A11M], o que corrobora,
à semelhança dos restantes estudos, uma persistência do processo fonológico até idades mais
tardias.
O processo de redução do grupo consonântico consiste na omissão de um dos elementos
do grupo consonântico (Grunwell, 1981a; Smit, 2004) , constituindo a estratégia mais frequente,
para o PE, a de redução do segundo elemento do ataque ramificado (Freitas, 1997). O estudo de
Guerreiro (2007) revela que “os processos estruturais de simplificação de estruturas silábicas
complexas, como o Ataque complexo e a Rima ramificada são os mais significativos na fala das
crianças desta idade” (Guerreiro, 2007, p.3). Deste modo, à semelhança do anterior processo
fonológico, existe algum consenso entre estudos ao evidenciarem a sua supressão em idades
mais tardias: [6A6M-6A11M] segundo o estudo de Mendes, et al. (2009). Para a língua inglesa são
apontadas idades mais precoces, nomeadamente por volta dos 4 anos (Grunwell, 1981a).
O processo de epêntese consiste na adição de um elemento não presente na forma alvo
(Smit, 2004). No PE é comum a ocorrência do processo de epêntese vocálica, consistindo na
inserção de uma vogal como forma de simplificar a produção de estruturas CCV e CVC (Castro, et
al., 1999; Freitas, 1997). Segundo Freitas (1997) o recurso a este processo antecede o domínio da
12
Revisão da Literatura
estrutura CCV, e portanto, constitui um indicador da sua estabilização. Por este motivo, será um
processo comum em idades mais tardias (Guerreiro, 2007).
Outro processo também normalmente associado à produção de estruturas CCV ou CVC é
o de metátese. Este processo é descrito como a deslocação de um fonema de uma posição para
outra (Smit, 2004). O estudo de Castro, et al. (1999) revelou uma maior frequência deste erro em
estruturas silábicas CVC relativamente às CCV. À semelhança do anterior processo fonológico, a
produção de metátese representa que a criança já possui um conhecimento da presença das
estruturas silábicas complexas (Ribas, 2004).
O processo de omissão da silaba átona afeta não só o nível da sílaba mas também,
globalmente, o da palavra, pela redução do seu tamanho. Consiste, como o próprio nome indica,
na omissão de uma ou mais silabas átonas na palavra (Smit, 2004). Existem diversos fatores que
podem influenciar quais as sílabas que sofrem supressão, como a sua posição na palavra, sendo
que é considerado que as sílabas em posição pretónica são mais vulneráveis (Snow, 1998) e
mesmo o material segmental da sílaba (Kehoe, 2001, p. 284). Os resultados obtidos no estudo de
Cambim (2002) indicam que este processo poderá persistir na faixa etária [3A6M-4A5M], embora
comece a desaparecer por volta dos 4 anos. O estudo de Guerreiro (2007) conclui que, para a
população de 5 anos, é ainda um processo utilizado por um grande número de crianças, contudo,
com um baixo valor de incidência. Ou seja, deve ter-se em conta que para faixas etárias mais
velhas deixa de ser um processo produtivo, sendo apenas empregue na produção de palavras
polissilábicas. Por este motivo, o estudo de Mendes, et al. (2009) aponta apenas como idade de
supressão deste processo a faixa etária dos [6A6M-6A11M].
Também, o processo de monotongação, cuja ocorrência é frequente no decorrer da
aquisição do núcleo complexo, constitui um processo de estrutura silábica, na medida em que
consiste na omissão da glide, ou seja, a redução do ditongo à vogal acentuada, ocorrendo,
portanto, a alteração da estrutura silábica CVG  CV (Correia, 2004).
2.5.4.3. Processos fonológicos de assimilação
Os processos de assimilação (Dodd, et al., 2003) ou de harmonia consonantal (Grunwell, 1981a)
descrevem uma mudança da consoante tornando-a semelhante, ou mesmo igual, a outra presente
na palavra (Smit, 2004). Dentro desta categoria, realiza-se, frequentemente, a distinção entre
assimilação regressiva, que envolve uma assimilação antecipatória e a assimilação progressiva,
onde ocorre a perseveração de um padrão (Grunwell, 1981a). Segundo Grunwell (1981) o padrão
mais comum de harmonia envolve a assimilação regressiva de traços relativos ao ponto de
articulação. Contrariamente ao referido por Grunwell (1981), o estudo de Guerreiro (2007)
identifica, para o PE, um predomínio da assimilação do traço de nasalidade. Este estudo identifica
frequências de ocorrência deste processo pouco significativas, confirmando os dados propostos
por outros autores, como Grunwell (1981a), ao defenderem que se trata de uma categoria de
processos que ocorre apenas em estádios precoces de desenvolvimento da linguagem, não
devendo persistir para além dos 3 anos.
2.5.4.4. Processos fonológicos associados à produção de vogais
As vogais comportam-se de forma distinta dos segmentos consonantais, dada a sua relevância
fonológica (pelo facto de constituírem o núcleo da sílaba) e as suas características fonéticas, o
que as tornam segmentos de aquisição precoce (Bonilha, 2004; Freitas, 1997).
Não obstante, é comum identificar erros associados à sua produção que passam pela
substituição (por alterações de traços, como o de nasalidade) ou omissão destes segmentos.
A ocorrência destes processos é comum em idades precoces, sendo este facto observado
em estudos como o de Coelho (2006) realizado junto de crianças com 3 anos e o de Guerreiro
(2007), ao identificarem uma baixa frequência de ocorrência para estes processos.
2.6. Perfil Fonológico de crianças com PLP
De seguida serão apresentados os resultados obtidos em estudos que analisaram o perfil
fonológico de crianças com PLP. Há que ter em conta que as diferenças entre a metodologia
adotada nos vários estudos (a escolha do grupo de controlo, o número de sujeitos, os
procedimentos distintos para obtenção do corpus ou a duração da gravação, entre outros,
descritos no anexo 4) condicionam as conclusões, comparações e generalizações que deles
podem advir. Os parâmetros fonológicos analisados nos diversos estudos foram também distintos.
Nesta seção irá, então, fazer-se referência aos dados existentes para cada um destes parâmetros.
13
Revisão da Literatura
2.6.1. Inventário Fonético
Um inventário fonético fornece informação acerca dos sons utilizados pela criança, sem levar em
consideração as palavra-alvo que estão a tentar produzir. Independentemente dos critérios
utilizados para a inclusão do fone no inventário, todos os estudos (Paul & Jennings, 1992;
Rescorla & Ratner, 1996; Roberts, Rescorla, Giroux, & Stevens, 1998; Williams & Elbert, 2003), à
exceção do de Schwartz, Leonard, Folger e Wilcox (1980), indicaram que as crianças com PLP
apresentavam um reduzido inventário fonético, quando comparadas com crianças com um
desenvolvimento típico, com o mesmo nível de linguagem. De entre estes, apenas o estudo de
Rescorla e Ratner (1996) analisou o inventário fonético para sons vocálicos, revelando não
existirem diferenças significativas entre os grupos. A maioria dos estudos sugere que as crianças
com PLP apresentam um padrão de aquisição dos diferentes fones semelhante ao observado nas
crianças com desenvolvimento típico.
Fee (1995) observou que os sujeitos do grupo de estudo realizavam constantemente
novas aquisições segmentais, segundo a ordem esperada para a população normal. Estas
aquisições por serem mais lentas traduziam-se num desfasamento em relação aos pares. De
facto, enquanto a maioria das crianças adquire o inventário fonético para a língua inglesa por volta
dos 6 anos de idade, o mesmo estádio de desenvolvimento raramente é adquirido nesta
população antes dos últimos anos de adolescência (Fee, 1995).
O estudo de Williams e Elbert (2003) não corrobora estes resultados, na medida em que
10
identificou algumas diferenças quanto ao perfil de aquisição dos fones para os sujeitos NC . Para
estes sujeitos observou-se uma ordem de aquisição diferente da considerada típica e registada
para as restantes crianças do estudo (por exemplo, a produção de africadas a preceder a de
fricativas), assim como um aumento, pouco significativo, do inventário ao longo do estudo (não
mais do que 3-4 consoantes entre o início e o final do estudo, ou seja, num intervalo de um ano).
Os estudos que analisaram a variável posição na palavra revelaram uma influência desta
sobre a produtividade na produção das consoantes. Observaram, então, que as diferenças entre
os grupos acentuavam-se em posição final, sugerindo, portanto, ser um ambiente fonológico de
maior exigência para as crianças com PLP (Paul & Jennings, 1992; Roberts, et al., 1998; Williams
& Elbert, 2003).
2.6.2. Percentagem de Palavras Corretas (PPC)
Este parâmetro fornece-nos um conhecimento geral da precisão com que a criança produz
determinada palavra. Menores valores nesta componente revelam a existência de imaturidade
fonológica, pelo afastamento relativamente ao modelo adulto. De facto, os estudos revelam que as
crianças com PLP apresentam menor percentagem de palavras produzidas corretamente (AguilarMediavilla, et al., 2002; Aguilar-Mediavilla & Serra-Raventos, 2006; Bortolini & Leonard, 2000;
Maillart & Parisse, 2006; Owen, et al., 2001). De ressalvar, que o estudo de Maillart e Parisse
(2006) apenas detetou diferenças significativas para o grupo com maior Comprimento Médio de
Enunciado (CME). Uma possível explicação será a existência de uma maior relação, em fases
precoces, entre o desenvolvimento fonológico e o das outras áreas da linguagem (Schwartz, et al.,
1980). Com o aumento da idade e com uma evolução menos significativa da componente
fonológica (Aguilar-Mediavilla, et al., 2002; Aguilar-Mediavilla & Serra-Raventos, 2006)
relativamente às restantes, as diferenças entre grupos surgirão.
2.6.3. Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) e Percentagem de Vogais
Corretas (PVC)
Roberts, et al. (1998) definem o parâmetro Percentagem de Consoantes Corretas (PCC),
originalmente proposto por Shriberg e Kwiatkowski (1982) como uma escala de gravidade do
comprometimento fonológico, estando esta relacionada com os resultados de inteligibilidade do
discurso. Este parâmetro deve ser obtido através de uma amostra de discurso espontâneo e pode
ser interpretado de acordo com a tabela 1.
10
O estudo de Williams e Elbert (2003), por realizar uma análise longitudinal, permitiu diferenciar da
amostra inicial que constituía o grupo experimental, aqueles que, por volta dos 33-35 meses, alcançaram o
desenvolvimento observado para os seus pares (C – “Catch up”), daqueles que não o conseguiram (NC –
“Not Catch up”).
14
Revisão da Literatura
Tabela 1 - Interpretação da medida de PCC. Adaptado de Shriberg e Kwiatkowski (1982)
PCC
85% a 100%
65% a 85%
50% a 65%
Abaixo de 50%
Nível de gravidade da perturbação
Ligeira
Ligeira a moderada
Moderada a grave
Grave
As crianças com PLP apresentam uma menor precisão na produção das consoantes,
tendo em conta as palavras-alvo que estão a tentar produzir (Aguilar-Mediavilla, et al., 2002;
Aguilar-Mediavilla & Serra-Raventos, 2006; Fee, 1995; Lousada, 2012; Rescorla & Ratner, 1996;
Roberts, et al., 1998; Williams & Elbert, 2003), mesmo quando comparadas com crianças com o
mesmo nível de linguagem (Maillart & Parisse, 2006) e inventário fonético (Bortolini & Leonard,
2000).
As únicas exceções encontram-se no estudo de Paul e Jennings (1992), uma vez que não
se detetaram diferenças entre os grupos de idade inferior (18M-23M), e no estudo de Leonard
(1982). O estudo de Paul e Jennings (1992) revela um aumento significativo do valor do PCC com
a idade, sendo este mais acentuado para o grupo de controlo, o que justifica as diferenças
detetadas para a idade dos 24M-34M. Pelo contrário, o estudo longitudinal de Williams e Elbert
(2003) relata uma pequena variação nos valores de PCC, para os sujeitos que não alcançaram o
desenvolvimento observado para os seus pares (variação de 29% para 32% e de 29% para 37%).
Leonard (1982) observou um efeito significativo do fator modo de articulação e posição na
sílaba sobre este parâmetro, conseguindo, por isso, estabelecer a seguinte ordem: nasais>
oclusivas> oclusivas em grupo consonânticas> líquidas e fricativas. Devido à frequência reduzida
de consoantes em posição final, esta ordem foi apenas identificada para a posição inicial.
Aguilar-Mediavilla, et al. (2002) realizaram uma análise mais detalhada das diferentes
classes de consoantes, concluindo que, apesar de uma grande variabilidade na produção da
maioria das classes consonantais pelo grupo em estudo, a comparação com o grupo com a
mesma idade sugere uma ordem de aquisição semelhante.
Apenas o estudo de Aguilar-Mediavilla, et al. (2002) e Maillart e Parisse (2006) analisaram
o nível de precisão na produção de vogais, designando este parâmetro de Percentagem de Vogais
Corretas (PVC). O estudo de Aguilar-Mediavilla, et al. (2002) identificou diferenças significativas
entre o grupo de PEDL e os de controlo. Para o estudo de Maillart e Parisse (2006) esta diferença
foi apenas identificada para as crianças com maior valor de CME.
2.6.4. Estrutura silábica
O estudo de Pharr, Ratner e Rescorla (2000) sugere que as crianças com PLP seguem um padrão
de aquisição das estruturas silábicas semelhante ao observado no desenvolvimento fonológico
típico, apresentando, contudo, uma preferência pela utilização de estruturas silábicas simples e
adquiridas em fases precoces (V e CV). De facto, as crianças com desenvolvimento típico
apresentavam mais cedo o aparecimento de estruturas complexas, como sílabas fechadas (CVC),
grupos consonânticos (CCV) e estruturas CVCV não reduplicadas (Paul & Jennings, 1992; Pharr,
et al., 2000; Rescorla & Ratner, 1996; Williams & Elbert, 2003). O estudo de Paul e Jennings
(1992) destacou o resultado obtido para a estrutura VC, que sendo considerada uma estrutura
11
silábica simples era pouco produzida pelas crianças com PEDL, corroborando a existência de
uma maior dificuldade na produção de consoantes em posição final.
O estudo de Williams e Elbert (2003) registou para os sujeitos NC que, ao contrário do
observado nas restantes crianças e do que é esperado para o desenvolvimento típico, a produção
das estruturas silábicas complexas não ocorria preferencialmente em posição final de palavra. O
estudo de Schwartz, et al. (1980) não detetou diferenças relevantes entre as crianças com
perturbação da linguagem e os seus pares com o mesmo nível de linguagem.
Quanto à distribuição e utilização dos padrões silábicos, Maillart e Parisse (2006)
observaram diferenças significativas apenas para os padrões silábicos V e CVC, sendo estes
produzidos em maior frequência pelo grupo de crianças com PLP e pelo grupo de controlo,
11
De nível 2, segundo níveis de estrutura silábica adotados de Olswang et al. (1987).
15
Revisão da Literatura
respetivamente. Quanto à produção correta das estruturas silábicas, tendo em conta o modelo
adulto, o estudo de Aguilar-Mediavilla, et al. (2002) mostrou diferenças significativas entre o grupo
de PLP e o grupo de controlo, com a mesma idade, para a maioria das estruturas silábicas, à
exceção das adquiridas em fases precoces (compostas apenas por núcleo). Quando comparadas
com o grupo com o mesmo nível de linguagem apresentavam piores desempenhos na produção
da estrutura CV. O mesmo resultado foi obtido no estudo de Maillart e Parisse (2006). Estes
autores sugerem que esta estrutura silábica será alvo de processos de simplificação silábica
(omissão da consoante inicial) o que também explicará a maior frequência de ocorrência obtida
para o padrão silábico V (CVV). Aguilar-Mediavilla, et al. (2002) quantificam a ocorrência destes
processos e, apesar de não existirem diferenças significativas, é observado que o grupo com PLP
apresenta maior frequência na utilização de processos de omissão de fonemas (iniciais e finais).
Os sujeitos do estudo de Aguilar-Mediavilla e Serra-Raventos (2006), os mesmos do estudo de
Aguillar-Mediavilla, et al. (2002), apesar de apresentarem alguma evolução neste parâmetro,
diferenciam-se dos seus pares com o mesmo nível de linguagem na utilização de estruturas
silábicas mais complexas (por exemplo, CCV e CVC). Esta diferença não é observada no estudo
de Maillart e Parisse (2006) o que poderá ser justificado pela existência de um desenvolvimento
mais precoce da estrutura silábica para a língua francesa, com o grupo de PLP a acompanhar, em
certa medida, os seus pares.
O estudo de Fee (1995) revela que a produção correta de consoantes é condicionada
pela sua posição na sílaba. Os sujeitos apresentam especial dificuldade na produção de palavras
com constituintes silábicos ramificados (grupos consonânticos) e em posição de coda. De facto foi
nas palavras com coda ramificada que os sujeitos mais velhos continuavam a apresentar taxas de
sucesso inferiores a 50%.
2.6.5. Processos Fonológicos
A análise dos processos fonológicos permite a descrição das características do sistema fonológico
dos sujeitos, tornando, assim, possível conhecer a natureza dos erros que contribuíram para os
valores obtidos no parâmetro PCC.
Os estudos de Schwartz, et al. (1980) e Roberts, et al.(1998) revelaram não existir
diferenças significativas entre os grupos, isto é, nenhum dos grupos produzia em diversidade ou
em frequência mais processos fonológicos que o outro. Entre os processos fonológicos mais
comuns encontram-se o de omissão da consoante final e redução do grupo consonântico (AguilarMediavilla, et al., 2002; Fee, 1995; Leonard, 1982; Roberts, et al., 1998; Schwartz, et al., 1980),
como os de substituição, nomeadamente, por troca de ponto e modo de articulação mas também
por assimilações (Leonard, 1982; Roberts, et al., 1998). Leonard (1982) detetou também com
grande frequência a omissão da consoante inicial que, apesar de constituir um processo atípico
(Dodd, et al., 2003), ocorre de forma proporcional entre os dois grupos, o que se justifica por se
tratar de um estudo realizado com crianças num estádio precoce de desenvolvimento fonológico
([1A5M-1A10M]). O estudo de Schwartz, et al. (1980) mostrou, em crianças com perturbação da
linguagem, a coocorrência de processos de oclusão e semivocalização para as fricativas,
sugerindo a existência de um perfil de desencontro cronológico. Não obstante, concluem que este
único dado é pouco significativo para analisar o padrão de desenvolvimento fonológico das
crianças em estudo.
Williams e Elbert (2003) observaram que os sujeitos NC apresentavam mais erros de
substituição e omissão que os restantes. Por outro lado, ao contrário dos restantes sujeitos,
produziam várias substituições atípicas (por exemplo [t] por [dz] ou [h] por [d]) que afetavam
fonemas adquiridos em fases precoces.
O processo de omissão de sílabas átonas foi analisado por diversos estudos, devido à
importância que alguns autores atribuem à ocorrência deste processo, como marcador das
crianças com PLP (em razão do surgimento de teorias que atribuem grande importância às
dificuldades de processamento de segmentos menos salientes e das implicações que esta
restrição fonológica pode ter nos défices morfológicos, comuns nesta população). De facto, os
estudos sugerem que as crianças com PLP apresentavam maiores percentagens de ocorrência
deste processo fonológico, mesmo quando comparadas com crianças com o mesmo nível de
linguagem (Aguilar-Mediavilla, et al., 2002; Beers, 1992; Bortolini & Leonard, 2000; Maillart &
Parisse, 2006; Owen, et al., 2001), sugerindo uma maior incidência de processos de simplificação
ao nível da palavra. O estudo de Fee (1995) não corrobora esta conclusão, uma vez que
identificou como mais prevalentes os processos de simplificação de nível segmental (oclusão,
16
Revisão da Literatura
desvozemanento e anteriorização) e de nível silábico (redução de grupo consonântico e omissão
de consoante final), sendo estes últimos produtivos para todos os sujeitos. Estes resultados são,
igualmente, encontrados no estudo de Aguilar-Mediavilla e Serra-Raventos (2006), ao observar
que aos 4 anos as crianças com PLP diferiam do grupo de controlo, com o mesmo nível de
linguagem, pela utilização de processos de estrutura silábica (redução de grupo consonântico e
omissão de consoantes (ataque e coda)). Estes dados são corroborados pelos estudos de
Bortolini e Leonard (2000) e Owen, et al. (2001), ao identificarem maior ocorrência de processos
fonológicos (substituições, redução de grupo consonântico) em crianças com PLP, quando
comparadas com crianças com o mesmo nível de linguagem. Estes autores observaram que as
crianças com PLP apresentavam um desempenho fonológico fraco que, nalgumas situações,
comprometia o desempenho na componente morfológica. Beers (1992) analisa os processos
fonológicos presentes em crianças com PLP e categoriza-os segundo o que é esperado para a
população normal (baseado nos dados de Grunwell, 1981). Assim, identifica nesta população a
ocorrência de processos típicos, mas persistentes (como redução do grupo consonântico, omissão
de consoante final, omissão de sílaba átona, semivocalização, oclusão e desvozeamento), mas
também, a ocorrência de processos atípicos como a velarização, a omissão da consoante inicial e
a nasalização.
Para o PE, o estudo de Lousada (2012) vai ao encontro de muitos dos resultados
apresentados para outras línguas e atrás mencionados, ao identificar que as crianças com PLP se
diferenciavam das crianças do grupo de controlo por apresentarem frequências mais elevadas na
maioria dos processos fonológicos analisados (redução do grupo consonântico, omissão da
consoante final, desvozeamento, redução da sílaba átona, semivocalização de líquidas, oclusão,
anteriorização, omissão da consoante inicial e substituição ou omissão de consoantes). Este
estudo identificou não só a presença de uma utilização persistente de processos fonológicos
típicos, como também, para algumas crianças, a ocorrência de processos atípicos, como a
omissão de oclusivas em posição inicial de sílaba e a substituição ou omissão de consoantes em
posição inicial de silaba, como por exemplo, a substituição de [R] por [n] (Lousada, 2012). Os
processos fonológicos com frequências mais elevadas foram o de redução do grupo consonântico
e omissão da consoante final, confirmando a conclusão de estudos que apontam estes contextos
fonológicos, como especialmente problemáticos para as crianças com PLP.
17
Metodologia
Capítulo 3 – Metodologia
3.1. Sujeitos do grupo de estudo
A seleção dos sujeitos a incluir no grupo de estudo, isto é, com a condição de perturbação de
linguagem primária (PLP), teve em conta, entre outros, os parâmetros e critérios definidos para o
estabelecimento do diagnóstico diferencial com outras perturbações da linguagem (conforme
descrito na seção 2.1.1.), nomeadamente:

Idade entre os 3A6M e 6A6M;

Apresentar como língua materna o PE e ser monolingue;

Apresentar alterações de linguagem (pelo menos 1,5 DP abaixo da média para a idade na
componente de compreensão e/ou expressão);

Apresentar uma audição normal (limiar auditivo igual ou inferior a 20 dB, nas frequências
testadas);
Não apresentar défice cognitivo;
Não apresentar evidências de lesão neurológica ou perturbação da interação com pessoas
ou objetos;
Não apresentar alterações da estrutura e função oral.



3.1.1. Identificação dos sujeitos
A identificação dos sujeitos foi conseguida a partir de pedidos de colaboração através da rede de
contactos de terapeutas da fala (TF) da Universidade de Aveiro e do contacto direto com jardinsde-infância da região de Aveiro e Coimbra. Nesta última situação, o processo iniciou-se com o
contacto à direção do agrupamento, com entrega do pedido de autorização para realizar a
identificação de possíveis sujeitos e sua avaliação linguística (Formulário de Consentimento ao
Órgão da Direção da Instituição – anexo 5). Após aprovação do agrupamento, era realizado o
contacto direto com as educadoras do jardim-de-infância, onde lhes era transmitido, de uma forma
geral, os objetivos do estudo e as características da população alvo. A par da identificação dos
sujeitos, eram contactados os seus encarregados de educação e agendada uma reunião de forma
a transmitir e esclarecer os objetivos e procedimentos do estudo.
Os encarregados de educação de todas as crianças avaliadas, mesmo as que acabariam
por não participar no estudo por não cumprirem algum dos critérios, autorizaram as
avaliações/participação da criança no estudo, assinando uma declaração de consentimento
(Formulário de Consentimento para os Encarregados de Educação – anexo 6).
Os mesmos procedimentos, junto dos encarregados de educação, foram realizados
quando os sujeitos eram identificados por TF em contextos particulares (consultórios ou IPSS).
3.1.2. Materiais e instrumentos utilizados na identificação dos sujeitos
Para a confirmação dos critérios de inclusão e exclusão recorreu-se, numa primeira fase, à
avaliação da componente linguística e se necessário também da motricidade oro-facial, para
despiste de eventuais alterações. Estas avaliações foram realizadas pela autora do estudo,
normalmente em contexto natural da criança (escola ou casa). Na presença de dificuldades de
linguagem e ausência de défices oro-motores, os sujeitos eram encaminhados para uma avaliação
auditiva e cognitiva (QINV). Estas avaliações foram realizadas por um audiologista e uma
psicóloga que colaboraram no estudo e decorreram no Laboratório de Fala, Linguagem e Audição
(SLHlab) da Universidade de Aveiro.
3.1.2.1. Avaliação Linguística
A avaliação da linguagem foi realizada pela aplicação do Teste de Avaliação da Linguagem na
Criança (TALC), de Kay e Tavares (2007) , tratando-se este de um teste formal, estandardizado
para as crianças falantes do PE (entre os 2A11M e os 5A11M). É um teste que apresenta uma boa
fiabilidade, apresentando valores de consistência interna (medida a partir do α de Cronbach) para
os totais da compreensão de 0,84 e para os de expressão de 0,90.
18
Metodologia
A escolha deste teste de avaliação justifica-se, então, pelo facto: de permitir a obtenção de
uma medida quantitativa e fidedigna para o funcionamento linguístico e, consequentemente,
permitir a utilização do critério de inclusão com base no desvio-padrão; de avaliar um conjunto
considerável de competências linguísticas, realizando uma distinção entre a componente
compreensiva e expressiva da linguagem (o que permite a identificação de perfis distintos de
perturbação linguística); de se tratar de um instrumento estandardizado para a faixa etária
envolvida no estudo.
3.1.2.2. Avaliação Auditiva
O rastreio auditivo consistiu na obtenção de alguns informações relacionadas com a história
clínica do foro auditivo e antecedentes otológicos, na realização de uma otoscopia para
visualização do canal auditivo externo e membrana timpânica e exame audiométrico, que avaliou a
audição bilateralmente nas frequências de 250, 500, 1000, 2000, 4000 e 8000 Hz. Estas
avaliações foram realizadas por um audiologista e decorreram nas instalações do SLHlab da
Universidade de Aveiro.
3.1.2.3. Avaliação Cognitiva
Os desempenhos cognitivos não-verbais foram registados pela aplicação da Escala de Inteligência
de Wechsler para a Idade Pré-Escolar e Primária – edição revista (WPPSI-R), estandardizada
para as crianças portuguesas (Seabra-Santos, 2006). Estas avaliações foram realizadas por uma
psicóloga, com prática na aplicação do teste, e decorreram nas instalações do SLHlab da
Universidade de Aveiro.
3.1.2.4. Anamnese
Foi realizada uma breve entrevista aos pais (ou cuidadores) das crianças utilizando, para tal, o
12
Protocolo de Anamnese de Linguagem na Criança da Universidade de Aveiro , disponível em
acsa.web.ua.pt. O objetivo principal deste procedimento consistiu na recolha de informação
relativa, principalmente, à história pré e perinatal, história clínica e desenvolvimento psico-motor e
social, de forma a confirmar alguns dos critérios (por exemplo, a ausência de algum quadro ou
episódio clínico que pudesse ser justificativo da alteração de linguagem manifestada). Na tabela
do anexo 7 apresenta-se, de forma resumida, os principais dados recolhidos na anamnese.
3.1.2. Caracterização do grupo de estudo
Este estudo integrou um total de 20 crianças (6 identificadas e avaliadas pela autora – PC, BA,
RP, RS, MP e VN - e as restantes 14 integrantes do grupo de estudo da Tese de Doutoramento de
Lousada (2012)) com idades compreendidas entre os 3 anos e 8 meses e os 6 anos e 7 meses
(idade média de 61,25 meses ± 11,67), monolingues e falantes nativas do PE. Verificou-se que
nos sujeitos identificados existia um maior número de crianças do sexo masculino (15), o que é
congruente com os dados da literatura que indicam uma maior incidência da PLP neste sexo
(Leonard, 1998; Tomblin, et al., 1997).
Na tabela 2 apresentam-se alguns dados pessoais, demográficos e relativos às avaliações
realizadas, dos sujeitos do grupo de estudo.
Tabela 2 – Dados pessoais, demográficos e relativos às avaliações realizadas, dos sujeitos do grupo de
estudo.
Criança
Idade
Sexo
PC
6A6M
M
BA
5A10M
F
Distrito
Coimbra
Aveiro
Linguagem
Compreensão Expressão
Audição
13
QINV
Normal
<1,5 DP
Normal
92
Normal
<7,5 DP
Normal
84
12
Protocolo de Anamnese de Linguagem na Criança da Universidade de Aveiro (Processo INPI 465220 com
despacho de concessão em 27/8/2010, inserido no Boletim da Propriedade Industrial Número 2010/08/31
(168/- 2010); Deferimento pela IGAC em 2/06/2010)
13
Classificação de acordo com o proposto pelo BIAP 02/1 (Bureau International D’Audiophonologie, 2003)
19
Metodologia
RP
4A10M
M
RS
5A1M
M
MP
3A7M
M
VN
3A8M
M
AD
4A2M
F
AM
5A4M
M
AP
6A3M
M
CA
4A2M
F
DG
5A3M
M
DM
6A7M
M
FP
6A3M
M
JC
6A5M
M
LA
5A2M
F
MR
4A
F
MS
4A
M
RF
4A9M
M
RM
5A4M
M
TM
4A11M
M
Coimbra
Aveiro
Aveiro
Coimbra
Viseu
Aveiro
Coimbra
Aveiro
Aveiro
Aveiro
Coimbra
Aveiro
Aveiro
Aveiro
Aveiro
Aveiro
Aveiro
Aveiro
Normal
<3 DP
Normal
109
Normal
<5 DP
Normal
114
Normal
<5 DP
Normal
111
Normal
<3,5 DP
Normal
109
Normal
<8 DP
Normal
82
Normal
<3 DP
Normal
66
Normal
<8 DP
Normal
66
Normal
<2 DP
Normal
117
Normal
<3 DP
Normal
87
Normal
<1,5 DP
Normal
109
Normal
<8 DP
Normal
66
Normal
<5 DP
Normal
63
Normal
<4 DP
Normal
83
Normal
<3 DP
Normal
89
Normal
<3 DP
Normal
85
<1.5 DP
<4 DP
Normal
84
Normal
<3 DP
Normal
62
<2 DP
<4 DP
Normal
116
3.2. Sujeitos do Grupo de Controlo
O grupo de controlo foi constituído por um subconjunto de sujeitos que integraram o projeto de
validação do Teste Fonético-Fonológico – Avaliação da Linguagem Pré-Escolar (TFF-ALPE)
(Mendes, et al., 2009) tratando-se, portanto, de um conjunto de sujeitos com desenvolvimento
típico da linguagem e fala.
Neste estudo, selecionou-se um conjunto de dados correspondentes à produção de 232
crianças, de idade compreendida entre os 3A e os 5A, de todas as regiões/distritos que integraram
os diferentes estratos de amostragem (anexo 8). A seleção da faixa etária referida é justificada por
ser nestas idades que os processos fonológicos ocorrem de forma mais diversificada e produtiva.
3.3. Recolha de Dados – grupo de estudo
3.3.1. Tarefas e Instrumentos Selecionados
Para a avaliação fonológica das crianças do grupo de estudo utilizaram-se os procedimentos
adotados no estudo de Lousada (2012). Estes consistiram no registo da produção de palavras
isoladas e fala encadeada por implementação de três tipos de tarefas, a referir, a nomeação de
imagens, descrição de imagens de ação e reconto de uma história.
20
Metodologia
Para a tarefa de palavras isoladas aplicou-se o TFF-ALPE (Mendes, et al., 2009). A
escolha deste teste justifica-se por se tratar do único instrumento de avaliação fonético-fonológico
aferido para a população portuguesa, na faixa etária [3A-6A11M]. Este teste consiste, portanto,
num procedimento de avaliação formal que permite analisar a produção das 19 consoantes, 9
vogais e ditongos (orais e nasais) do PE, em diferentes posições na palavra, assim como de
grupos e encontros consonânticos comuns, através da nomeação de 67 imagens (anexo 9). As
palavras que compõem o teste são formadas pelos diversos padrões silábicos existentes no PE
(V, CV, CGV/CVG, VC, CVC, CCV e CCVC). Para além de uma análise fonética (subteste
fonético) e fonológica (subteste fonológico) analisando a percentagem de ocorrência de um
conjunto de 10 processos fonológicos (omissão da consoante final, omissão da sílaba átona
pretónica, redução do grupo consonântico, semivocalização da líquida, oclusão, anteriorização,
despalatalização, posteriorização, palatalização e desvozeamento), o teste é ainda constituído por
um subteste de inconsistência e um registo do inventário fonético.
A duração da aplicação do TFF-ALPE variou entre 15 a 20 minutos. Foram utilizados os
procedimentos de aplicação descritos no manual do teste, nomeadamente as questões de
incitação da resposta e as estratégias para a sua obtenção, como o recurso a pistas semânticas
ou não-verbais e, apenas em último caso, solicitando a resposta por repetição verbal (Mendes et
al., 2009).
A implementação das tarefas de incitação da fala encadeada teve uma duração de 10 a
20 minutos.
3.3.3. Equipamentos e procedimentos de gravação
A recolha dos dados decorreu nas instalações do SLHlab da Universidade de Aveiro,
especificamente no interior de uma cabine insonorizada, ABS-AUD.45.1, com uma atenuação de
45 dB. No interior da cabine, a criança sentava-se em frente de um microfone Cirrus Research
MK224 (conectado a um pré-amplificador Cirrus Research MV181A e a um amplificador de
potência Cirrus Research ZE901B com um ganho linear de +40dB), colocado a uma distância
aproximadamente de 1 metro da criança e alinhado com o nível da boca. O sinal acústico captado
era gravado num sistema Marantz PMD671, a 16bits e com uma frequência de amostragem de
48kHz.
3.4. Análise dos dados
3.4.1. Anotação e extração dos dados – grupo de estudo
Depois de gravados, os ficheiros foram transferidos para um computador portátil, onde através do
programa Audacity 1.3.14 – beta foram segmentados em trechos mais pequenos de forma a
facilitar a sua análise. Posteriormente, utilizou-se o programa Speech Filing System (SFS),
Release 4.8/Windows, para a anotação dos dados.
De referir que apenas foram analisados os dados extraídos da tarefa de nomeação de
imagens, pela aplicação do TFF-ALPE. Esta opção metodológica foi adotada essencialmente por
dois motivos: o primeiro relaciona-se com o facto de algumas crianças do grupo de estudo
apresentarem pouco oralidade o que, limitou ou impossibilitou a obtenção da fala encadeada nas
tarefas de descrição de imagens e reconto da história; o segundo, com o facto de serem apenas
estes, os dados disponíveis para as crianças que constituíram o grupo de controlo. É importante
referir que esta opção metodológica poderá condicionar os resultados obtidos na análise
fonológica. Por um lado, constitui um tipo de procedimento que permite controlar o tipo de
segmentos e sequências de segmentos, uma vez que as palavras são pré-selecionadas (nesta
situação é possível avaliar todos os segmentos do PE, assim como alguns dos grupos e encontros
consonânticos mais comuns), facilita a análise dos padrões fonológicos de crianças com discursos
ininteligíveis, uma vez que existe um alvo que é do conhecimento do avaliador (Wolk & Meisler,
1998). Uma das desvantagens da utilização deste procedimento relaciona-se com o facto de ser
um procedimento formal e, portanto, desprezar fatores ambientais, emocionais e motivacionais
que influenciam, em contexto natural, a produção de fala. Por fim, e apesar de controverso, o
estudo de Wolk e Meisler (1998) identificou, para as duas tarefas, padrões de erro semelhantes e
medidas de gravidade correlacionadas.
Para a anotação e transcrição dos dados, realizada pela autora do estudo, foram
utilizados os auscultadores Sennheiser HD 215 que permitiram uma maior qualidade na audição
do sinal acústico e, portanto, uma melhor avaliação percetiva. De referir, que a anotação dos
21
Metodologia
dados foi efetuada, não só com base na perceção auditiva, mas também na análise acústica a
partir da forma de onda e dos espectrogramas gerados pelo SFS. A transcrição de alguns
segmentos mais ambíguos foi conferida com a análise dos dois orientadores do estudo, sendo que
todos os casos de desacordo entre as transcrições eram discutidos até que tivesse sido alcançado
amplo acordo (Maillart & Parisse, 2006).
Os procedimentos para a anotação dos dados foram idênticos aos adotados no estudo de
Lousada (2012). Para tal foram criados no SFS quatro níveis distintos de anotação (anexo 10),
nomeadamente:
 Transcrição fonética alvo – Foi realizada uma transcrição fonética larga da palavra-alvo,
utilizando o Speech Assessment Phonetic Alphabet (SAMPA) (Wells, 1997) e de acordo
com a descrição fonético-fonológica descrita em Cruz-Ferreira (1999), Mateus e
d’Andrade (2000), e Vigário et al. (2006). As transcrições alvo correspondem ao dialeto
padrão. Não obstante, importa referir que na análise dos resultados se teve em conta as
variações, que poderiam ocorrer nas produções das crianças de acordo com a sua
proveniência, de forma a não serem classificadas como produções incorretas.
 Transcrição fonética da produção da criança – Como referido, a transcrição fonética da
produção da criança foi realizada com recurso à perceção auditiva e análise acústica,
utilizando, igualmente, o alfabético fonético SAMPA.
 Estrutura silábica alvo – Neste nível era anotada a estrutura silábica da palavra alvo,
sendo adotadas as descrições propostas por Mateus e d’Andrade(2000) quanto às
estruturas silábicas do PE. A anotação foi realizada com recurso aos grafemas C, V e G,
que representam uma consoante (C), vogal (V) e glide (G), respetivamente. Para além
destes, o símbolo " assinalava a sílaba acentuada.
 Estrutura silábica da produção da criança – Por fim, neste nível era assinalada a
estrutura silábica da palavra produzida pela criança, recorrendo aos mesmos símbolos
do nível anterior.
Depois de concluída a anotação dos dados, estes foram transferidos, nível a nível, para
uma folha de cálculo do programa Excel: Ferramentas de Análise Fonológica Automática (FAFA)
v0.2.00, encontrando-se no anexo 11 um exemplo desta ferramenta.
3.4.2. Anotação dos dados do grupo de controlo
Os dados das crianças do grupo de controlo encontravam-se anotados, em suporte de papel, nas
folhas de registo do TFF-ALPE, utilizadas durante o processo de estandardização do instrumento
(Lousada, Mendes, Valente, & Hall, 2012; Mendes, et al., 2009) . Houve, então, necessidade de os
transferir para a mesma folha de Excel utilizada para análise de dados das crianças do grupo de
estudo. A cada criança foi associado um código que continha informação acerca do seu distrito,
sexo e idade (por exemplo: 06Fem3A6M, indicando que é do distrito de Coimbra, do sexo
feminino, com 3A6M).
3.5. Medidas de resultados
O perfil fonológico das crianças com PLP foi analisado partindo da comparação, com um grupo de
controlo, de um conjunto de parâmetros fonético-fonológicos, que constituíram as variáveis
dependentes do estudo.
O sistema fonológico dos sujeitos foi, então, estudado segundo uma análise
independente e relacional, conforme proposto por Stoel-Gammon e Dunn (1985). Numa análise
independente, o sistema fonológico da criança é analisado de forma autónoma, sem ter por base a
comparação com o modelo correto, isto é, o sistema fonológico adulto. Enquadrado nesta análise,
realizou-se um levantamento, para cada sujeito do estudo, do inventário fonético consonantal e
silábico, sendo estes um inventário dos sons e padrões silábicos que a criança é capaz de
produzir, sem atender se são utilizados corretamente ou não. Para ser incluído no inventário
(fonético ou silábico), cada consoante ou estrutura silábica teria de ser produzida, pela menos, em
duas palavras da amostra de fala da criança (Carol Stoel-Gammon, 1985; Williams & Elbert,
2003). Este critério foi adotado para todas as consoantes, à exceção do /L/ e do /J/ uma vez que
na versão do teste utilizado (Mendes, et al., 2009) estas consoantes surgem apenas numa
palavra.
22
Metodologia
Numa análise relacional é comparada a produção da criança com o alvo adulto.
Enquadrado nesta análise e a um nível segmental foi calculado, para cada criança o valor da PVC
e PCC (já descritos na secção 2.6.3). Para além desta análise geral, foi estudada a percentagem
de consoantes corretas por modo de articulação (oclusivas, nasais, fricativas, laterais e róticos),
permitindo uma análise mais pormenorizada do comportamento fonológico das crianças face à
produção das diferentes classes de consoantes. Ao nível da estrutura silábica, realizou-se um
levantamento das percentagens de padrões silábicos corretos, de forma a conhecer quais os
padrões silábicos produzidos sem erros e quais constituem os padrões mais difíceis e ainda alvo
de alteração. Foi também analisado o parâmetro formato de palavra, onde se identifica a
percentagem de produção de palavras corretas quanto à variável número de sílabas (mono, di, tri
e polissilábicas).
Por fim, a análise dos processos fonológicos permitiu estudar a tipologia de erro realizado,
que contribuiu para os valores obtidos nas restantes variáveis. Os processos fonológicos foram
analisados e serão apresentados segundo a seguinte classificação: processos fonológicos de
substituição, de consoantes e vogais; processos fonológicos de estrutura silábica; processos
fonológicos de assimilação.
Nas FAFA v0.2.00, adaptadas do estudo de Lousada (2012), foram desenvolvidas
fórmulas para calcular automaticamente algumas das variáveis atrás referidas. Deste modo, as
variáveis de análise independentes (inventário fonético, inventário silábico e de formato de
palavra) foram calculadas pelo número de ocorrências de determinado alvo fonológico (segmento,
padrão silábico ou formato de palavra) nas produções das crianças.
As variáveis como a PCC e PCV, percentagem de consoantes corretas por modo de
articulação e percentagens de padrões silábicos corretos foram calculados dividindo o número
total dos alvos fonológicos (segmentos ou padrões silábicos) corretos pelo número total desses
alvos, e multiplicando por 100. Ou seja, ao calcular o PCC, por exemplo para a palavra /pe4aS/
que é produzida como [pej6S] é contabilizado o número total de consoantes corretas (duas) pelo
número total de consonantes da palavra (três), pelo que esta palavra apresenta um PCC de
2/3*100=67%.
Quanto aos processos fonológicos, foram desenvolvidas fórmulas para cálculo automático
(FAFA v0.2.00) de um conjunto de processos fonológicos, para todas as crianças. De entre estes,
fazem parte: a semivocalização de líquidas, oclusão, anteriorização, despalatalização,
posteriorização, palatalização, desvozeamento, substituição de líquidas (processos de substituição
de consoantes); substituição de vogais e desnasalização (processos de substituição de vogais);
omissão da consoante final liquida e fricativa, omissão da silaba átona, redução do grupo
consonântico e monotongação (processos de estrutura silábica). As fórmulas para as
percentagens de ocorrência dos processos foram calculadas de forma idêntica às anteriores: o
número de vezes que o processo fonológico foi produzido pela criança a dividir pelo número total
de elementos que pode conter o processo. A ocorrência de outros processos fonológicos era
calculada pontualmente consoante os processos fonológicos que eram identificados na produção
das crianças analisadas.
Importa referir que para processos como a assimilação, ou outros, como a adição de
sílaba ou segmento e, dada a dificuldade de prever o contexto em que ocorrem, foi considerado o
número total de palavras como número de possibilidades para a ocorrência do processo
(Guerreiro, 2007).
3.6. Análise Estatística
Os dados obtidos através das FAFA v0.2.00, relativos às variáveis consideradas no estudo, foram
exportados para o programa SPSS 17.0, possibilitando, assim, a sua análise estatística,
particularmente a caracterização do perfil fonológico do grupo de estudo (pela estatística
descritiva) e a sua comparação com o grupo de controlo (pela estatística inferencial).
Importa referir que, dada a grande disparidade face ao comprometimento da componente
fonológica nas crianças do grupo de estudo, se optou por criar dois subgrupos mais homogéneos,
a partir do critério PCC <50% ou PCC> 50% (ver tabela 3). O critério dos 50% foi utilizado uma
vez que este constitui um valor de corte (ver tabela 1) para distinção de níveis de gravidade em
perturbações dos sons da fala (Shriberg & Kwiatkowski, 1982).
23
Metodologia
Tabela 3 - Grupo de crianças com PLP dividido em dois subgrupos, pelo critério PCC < 50% (subgrupo1) e
PCC > 50% (subgrupo2).
Subgrupo
N
PCC (média;
mínimo e máximo)
Idade (média;
mínimo e máximo)
< 50%
11
29,10%
(16,04% – 48,13%)
5A3M
(3A7M - 6A7M)
> 50%
9
61,30%
(50,80% – 73,80%)
4A10M
(4A – 6A6M)
A primeira análise estatística implementada pretendeu averiguar o comportamento das de
crianças com desenvolvimento típico em 4 faixas etárias pré-estabelecidas ([3A-3A6M[, [3A6M4A[, [4A-4A6M[ e [4A6M-5A[) para cada variável (e.g., processos fonológicos, PCV, PCC, e PCC
por modo de articulação). Para tal, utilizou-se uma ANOVA paramétrica de um fator, uma vez que
a dimensão dos diferentes grupos era razoavelmente grande (n=58) e homogénea,
correspondendo a um planeamento equilibrado. Na existência de diferenças entre os grupos, foi
utilizado o teste Tuckey, de comparações múltiplas, permitindo, deste modo, a formação de novos
grupos homogéneos. Sempre que necessário, estes novos grupos foram reajustados de forma a
não haver sobreposição, optando por colocar os subgrupos que apareciam repetidos no grupo
onde a homogeneidade era maior.
Por fim, e utilizando os novos grupos homogéneos obtidos para as crianças do grupo de
controlo (consoante cada variável), comparou-se os dois subgrupos de crianças com PLP com as
crianças de desenvolvimento típico, a partir da utilização de uma ANOVA não-paramétrica (teste
de Kruskal-Wallis), realizando, sempre que necessário, uma análise das comparações múltiplas
(teste de U de Mann-Whitney com correção de Bonferroni). A escolha de teste não-paramétricos
para estas últimas análises deve-se ao tamanho reduzido do grupo de estudo e à assimetria
manifestada pela maioria dos gráficos de caixas de bigodes.
24
Resultados
Capítulo 4 - Resultados
No presente capítulo serão apresentados os resultados relativos aos parâmetros fonológicos
considerados em análise no estudo. Estes serão descritos pela ordem apresentada na seção
medida de resultados, do anterior capítulo.
4.1. Percentagem de consoantes e padrões silábicos produzidos
A análise de variância (ANOVA paramétrica de um fator de amostras independentes) permitiu
concluir que, os subgrupos etários do grupo de controlo se comportam de forma distinta,
dependendo da variável em análise. Resumidamente, formou-se um único grupo [3A-5A[ para a
variável % de consoantes produzidas (F (3,228) =1,846; p=0,140), com uma média de 96,92% (±
4,52%) e mediana de 100%, e dois grupos homogéneos não sobrepostos ([3A-4A[ e [4A-5A[), para
a variável % de padrões silábico produzidos (F (3,228) =6,724; p=0,000, e posteriores
comparações múltiplas, pelo método de Tukey), com média de 92,49% (±11,38%) e 97,29
(±7,52%), ambos com mediana de 100%.
Os grupos PCC <50% e PCC> 50% apresentam uma média de 62,68% (±15,52%), com
mediana de 57,89%, e 83,63 (±6,68%), com uma mediana de 84,21%, na variável % de
consoantes produzidas, respetivamente, Na variável % de padrões silábicos produzidos, o grupo
PCC <50% apresenta uma média de 41,56 (±10,01%), com mediana de 42,86%, e o grupo PCC>
50% uma média de 77,78% (±12,60%), com uma mediana de 71,43%.
A comparação dos grupos de estudo com os grupos de controlo formados, por meio da
ANOVA não paramétrica de um fator de amostras independentes (teste de Kruskal-Wallis)
evidenciou a existência de pelo menos um grupo cuja mediana é diferente das restantes (p=0,000,
para ambas as variáveis).
Pelo cálculo do teste de U de Mann-Whitney (com correção de Bonferroni), conclui-se que
o grupo PCC <50% apresenta uma mediana estatisticamente inferior à do grupo [3A-5A[, para a
variável % de consoantes produzidas (puni=0,000), e dos grupos [3A-4A[ e [4A-5A[ na variável %
de padrões silábicos produzidos (puni=0,000, para ambas as comparações). O grupo PCC > 50%
apresenta, igualmente, uma mediana inferior à do grupo de controlo [3A-5A[ quanto à
percentagem de consoantes produzidas (puni=0,000), e inferior à dos grupos [3A-4A[ e [4A-5A[ na
variável % de padrões silábicos produzidos (puni=0,004 entre PCC> 50% e grupo [3A-4A[;
puni=0,000 entre PCC> 50% e grupo [4A-5A[).
Conclui-se, assim, que ambos os grupos de estudo apresentam nos seus inventários
fonéticos consonantais e silábicos (anexo 12) um número de consoantes e padrões silábicos
significativamente inferior ao observado nas crianças pertencentes ao grupo de controlo.
4.2. PVC e PCC
Na figura 1, encontram-se representados os dados relativos às variáveis PVC e PCC produzidas
pelas crianças com PLP e pelas crianças com desenvolvimento típico. Do gráfico observa-se que
as crianças com PLP (PCC <50% e PCC> 50%) apresentam uma menor percentagem de acerto
na produção tanto de vogais como de consoantes. Para as crianças com desenvolvimento típico
(caixas a cinzento), observa-se um comportamento mais homogéneo dos subgrupos etários na
variável PVC, com valores mais altos e próximos uns dos outros. Para a variável PCC, observa-se
um aumento gradual da percentagem média de consoantes corretas com o aumento da idade e
uma maior variabilidade nas diferentes faixas etárias.
25
Resultados
Figura 1 - Caixas de bigodes para as variáveis PVC e PCC, para os grupos de estudo (a cores) e de controlo
(em tons de cinza).
A análise de variância (ANOVA paramétrica de um fator de amostras independentes)
permitiu concluir que, os subgrupos do grupo de controlo se comportam de forma distinta,
formando: dois grupos homogéneos ([3A-4A[, com média de 97,03% ±4,04%; e [4A-5A[com uma
média de 98,18% ±1,62%) para a variável PVC (F (3,228)=2,940, p=0,034, e posteriores
comparações múltiplas, por método Tukey); três grupos homogéneos não sobrepostos ([3A-4A[,
[4A-4A6M[ e [4A6M-5A[)para a variável PCC (F (3,228) =19,40;p=0,000, e posteriores
comparações múltiplas, por método Tukey), com médias de 84,67% (±10,34%), 90,69% (±7,73%)
e 95,11% (±7,11%) (conforme se encontra representado na tabela 9 do anexo 13).
As crianças do grupo PCC <50% apresentam valores médios inferiores de PVC com
média de 61,28% (±20.85%) (com mínimo de 34,29% e máximo de 95,71%); PCC média de
29,07% (±11,87%) (a variar entre 16,04% e 48,13%). Já o grupo PCC> 50% apresenta um valor
médio para a variável PVC de 84,69% (±8,49%) (a variar de 65,71% a 93,57%) e para a PCC de
61,32% (±8,12%) (a variar de 50,80% a 73,80%).
A ANOVA não-paramétrica de um fator independente, utilizada para averiguar a existência
de diferenças entre os grupos de controlo formados e os grupos de estudo, revelou para ambas as
variáveis (PVC e PCC) a existência de pelo menos um grupo com uma mediana diferente dos
restantes (p=0,000, para ambas as variáveis). Por sua vez, o teste U de Mann Whitney (com
correção de Bonferroni) permitiu concluir que ambos os grupos de estudo (PCC <50% e PCC>
50%), apresentam medianas inferiores na produção quer de vogais, quer de consoantes corretas
(PVC e PCC), relativamente a qualquer um dos subgrupos formados para a população com
desenvolvimento típico (puni=0,000 para todos os pares de comparações realizados).
Conclui-se, então, que as crianças com PLP apresentam, estatisticamente, menor
correção na produção de vogais e consoantes, relativamente às crianças com desenvolvimento
típico.
4.3. PCC por modo de articulação
Na figura 2, encontram-se representados os dados relativos à percentagem de oclusivas, nasais,
fricativas, laterias e róticos produzidos corretamente pelas crianças com PLP ( PCC < 50% e PCC
> 50%) e pelas crianças com desenvolvimento típico ([3A-3A6M[; [3A6M-4A[; [4A-4A6M[; [4A6M5ª[). Observa-se que é na classe das oclusivas e nasais que, a população com desenvolvimento
típico, apresenta maior percentagem de acerto, verificando-se, igualmente, uma menor
variabilidade. Identifica-se, para as restantes classes de consoantes, nomeadamente fricativas,
26
Resultados
líquidas e róticos, uma diminuição gradual da média de produção correta das consoantes, assim
como um aumento da variabilidade no interior dos grupos.
Figura 2 - Caixas de bigodes para as variáveis oclusivas, nasais, fricativas, laterais e róticos para os grupos
de estudo (a cores) e de controlo (em tons de cinza).
Constata-se ainda que a percentagem média de produção correta das diferentes classes
de consoantes é inferior para os grupos de estudo, apresentando estes, contrariamente aos
grupos de controlo, uma maior variabilidade para as consoantes oclusivas, nasais e fricativas.
De registar, que foi para a classe das nasais que se verifica a maior discrepância entre os
grupos de estudo, com o grupo PCC <50% a apresentar uma percentagem média notoriamente
inferior à do grupo PCC> 50% e, igualmente, em disparidade face ao comportamento das crianças
com desenvolvimento típico, que obtêm para esta consoantes percentagens médias de acerto
elevadas (próximas dos 100%).
A ANOVA paramétrica, de um fator de amostras independentes, aplicada ao grupo de
controlo, para verificar a significância estatística das diferenças de médias entre os diferentes
subgrupos etários, realizada para as diferentes classes de consoantes, permitiu concluir que não
existem diferenças significativas entre a média dos diferentes subgrupos etários para a variável
oclusivas (F (3,228) =2,578, p=0,055), havendo, portanto, a formação de um único grupo ([3A-5A[)
para esta classe de consoante, apresentando uma média de 98,68% (±3,22%). Para as restantes
classes de consoantes, o teste revelou a existência de diferenças significativas entre os grupos
(nasais F (3,228) =3,494, p=0,016; fricativas F (3,228) =10,713, p=0,000; laterais F (2,228) =8,371,
p=0,000; róticos F (3,228) =16,266, p=0,000), identificando-se pelas comparações múltiplas,
através do método Tukey, a formação dos seguintes grupos homogéneos, não-sobrepostos
(conforme se encontra representado na tabela 10 do anexo 13):
 [3A-4A[ e [4A-5A[ para as variáveis nasais (com média de 97,91% ±4,62% e 99,32%
±2,30%, para cada grupo, respetivamente) e laterais (65,91% ±30,71% e 82,50%
±21,07%, respetivamente);
 [3A-3A6M[, [3A6M-4A[ e [4A-5A[para a variável fricativas, com percentagens médias de
87,42% (±11,93%), 91,61% (±10,06%) e 95,88% (±7,58%), respetivamente;
 [3A-4A[, [4A-4A6M[ e [4A6M-5A[ para a variável róticos, com percentagens médias de
acerto de 50,96% (±34,67%), 67,66% (±32,94%) e 86,00% (±26,02%);
A análise de variância (ANOVA paramétrica de 2 fatores (indivíduo e classe de
consoantes), com design em blocos aleatorizados), a que se recorreu para verificar a existência de
27
Resultados
diferenças entre as médias relativas à produção correta das diferentes consoantes, por parte dos
sujeitos com desenvolvimento típico, revelou que a produção média de, pelo menos, um grupo de
consoantes é estatisticamente diferente dos restantes (F (4,924) =174,055; p=0,000). Através das
comparações múltiplas pelo método de Tukey (anexo 14) e da análise da estatística descritiva
encontramos a seguinte ordem de mestria:
Oclusivas = nasais > fricativas > laterais > róticos
A comparação realizada entre os grupos de estudo e os grupos homogéneos formados
para o grupo de controlo, por meio da análise de variância (ANOVA não paramétrica um fator –
teste de Kruskal-Wallis) permitiu concluir a existência de diferenças significativas em pelo menos
um dos grupos, obtendo-se um valor de p-value de 0,000 para todas as classes de consoantes
analisadas. Houve, pois, a necessidade de recorrer às comparações múltiplas, por meio do teste
de U de Mann Whitney com correção de Bonferroni. A realização destes testes evidenciou que os
grupos de estudo apresentam, para todas as classes de consoantes, medianas quanto à
percentagem correta das consoantes significativamente inferiores às dos grupos de controlo.
Obteve-se, então, um p-valueuni =0,000 para todas as comparações realizadas, à exceção da
comparação do grupo PCC> 50% e o grupo [3A-4A[, na variável laterais onde se obteve um pvalue uni de 0,008. Evidencia-se, assim, que as crianças de ambos os grupos de estudo
apresentam percentagens médias de produção correta das diferentes classes de consoantes
inferiores às de qualquer grupo de controlo analisado: PCC < 50% (oclusivas – 47,19% ±16,27%;
nasais – 31,97% ±17,80%; fricativas – 19,65% ±16,23%; laterais – 7,27% ±9,84%; róticos – 3,86%
±7,18%); PCC > 50% (oclusivas – 82,79% ±12,05%; nasais – 80,95% ±13,36%; fricativas -54,80%
±16,33%; laterais - 35,56% ±17,40%; róticos – 13,80% ±13,22%).
A realização de uma análise de variância (ANOVA não paramétrica de um fator – teste de
Kruskal-Wallis), para verificar a significância estatística da diferença entre médias para o fator
modo de articulação permitiu concluir que, para ambos os grupos de estudos, existe pelo menos
um grupo (um tipo de consoantes) com percentagem média de produção diferente dos restantes
(p=0,000 para ambos os grupos de estudo). Havendo uma suspeita inicial de uma ordem
subjacente às 5 variáveis, foram feitos 4 testes unilaterais (teste de U-Mann Whithney com
correção de Bonferroni, com p-values apresentados no anexo 14) comparando os sucessivos
pares de variáveis em questão. Os resultados obtidos podem ser resumidos da seguinte forma:
PCC <50%:
Oclusivas > nasais = fricativas = laterais = róticos
PCC> 50%:
Oclusivas = nasais > fricativas = laterais > róticos
4.4. Percentagem de padrões silábicos corretos
Na tabela 4 encontra-se informação relativa aos valores da estatística descritiva (média, mediana
e desvio-padrão), para cada um dos grupos de estudo, bem como para cada grupo homogéneo e
não sobreposto, formado para o grupo de controlo, em cada padrão silábico analisado. Pode-se
observar um elevado domínio das estruturas V, CVG/CGV e CV, para as diferentes faixas etárias
da população com desenvolvimento típico (acima dos 90% de acerto). Para os restantes padrões
silábicos observa-se um aumento da média com a faixa etária, verificando-se, ainda assim, uma
maior variabilidade dentro dos subgrupos. Observa-se, ainda, que ambos os grupos de estudo
apresentam percentagem médias inferiores na produção dos diferentes padrões silábicos, assim
como uma maior variabilidade na produção dos padrões V, CVG/CGV e CV, contrariamente ao
registado na população do grupo de controlo. A variabilidade diminui para os padrões silábicos
complexos, uma vez que, na generalidade, as crianças de ambos os grupos de estudo, produzem
ainda de forma residual estes padrões. Verifica-se mesmo, uma mediana de 0 para o grupo PCC <
50% nas variáveis VC, CVC, CCV e CCVC, e para o grupo PCC> 50% na variável CCVC
(representação gráfica dos dados no anexo 15).
28
Resultados
Tabela 4 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à percentagem de
produção correta de padrões silábicos – V, CV, CVG/CGV, VC, CVC, CCV e CCVC - para cada grupo
homogéneo.
Grupo de Controlo
[3A-3A6M[
[3A6M-4A[
V
[4A-4A6M[
Grupo de estudo
[4A6M-5A[
94,11 (8,57)
100,00
PCC <50%
PCC> 50%
82,22 (15,63)
80,00
78,89 (14,76)
83,33
CV
95,74 (4,01)
96,63
97,63 (2,43)
97,75
56,36 (29,42)
60,00
52,85 (23,20)
44,44
CVG/
CGV
97,03 (6,77)
100,00
99,04 (3,46)
100,00
33,33 (22,77)
33,33
74,08 (15,71)
77,78
VC
75,69 (24,15)
80,00
88,28 (17,90)
100,00
0,00 (0,00)
0,00
20,00 (20,00)
20,00
89,41 (19,38)
100,00
2,16 (4,45)
0,00
25,40 (11,67)
23,81
CVC
60,18 (27,42)
57,14
73,54 (25,86)
76,19
CCV
40,84 (37,52)
25,00
60,02 (36,08)
71,88
82,11 (27,77)
93,75
0,00 (0,00)
0,00
9,03 (11,32)
6,25
CCVC
43,39 (40,34)
33,33
68,39 (40,19)
100,00
86,78 (28,57)
100,00
0,00 (0,00)
0,00
3,70 (11,11)
0,00
A análise de variância (ANOVA paramétrica de um fator de amostras independentes)
aplicada, ao grupo de controlo, para verificar a significância estatística das diferenças de médias
entre os diferentes subgrupos etários, permitiu concluir que não existem diferenças significativas
entre as médias dos subgrupos etários para o padrão silábico V (F (3,228) =0,716;p=0,544). Para
os restantes padrões silábicos conclui-se que existem diferenças entre os grupos: CV – F (3,228)
=7,089, p=0,000; CVG/CGV – F (3, 228) =2,999, p=0,031; VC – F (3, 228) =6,822, p=0,000; CVC
F (3,228) =14,680, p=0,000, CCV F (3,228) =18,577, p=0,000; CCVC – F (3,228) =18,583,
p=0,000. Por meio das comparações múltiplas, através do método Tukey, identificou-se a
formação dos seguintes grupos homogéneos, não-sobrepostos, e resumidos na tabela 4:

[3A-4A[ e [4A-5A[ anos para as variáveis CV, CVG/CGV e VC;

[3A-3A6M[, [3A6M-4A6M[ e [4A6M-5A[ para a variável CVC;

[3A-4A[, [4A-4A6M[ e [4A6M-5A[ para as variáveis CCV e CCVC;
Como forma de conhecer a mestria de produção dos diferentes padrões silábicos na
população com desenvolvimento típico, recorreu-se à análise de variância (ANOVA paramétrica de
2 fatores (indivíduo e padrão silábico) com design em blocos aleatorizados), como meio de
confirmação de diferenças entre as médias relativas à produção correta dos diferentes padrões
silábicos. Este teste evidenciou a existência de, pelo menos, um grupo (tipo de padrão silábico)
cuja média difere das restantes (F (6, 1386) =168,874; p=0,000). Através das comparações
múltiplas, pelo método Tukey (anexo 16), associado à análise da estatística descritiva
encontramos a seguinte ordem de mestria:
V = CV = CVG/CGV > VC > CVC > CCV = CCVC
A comparação realizada entre os grupos de estudo e os grupos homogéneos formados
para o grupo de controlo, por meio da análise de variância (ANOVA não paramétrica um fator –
teste de Kruskal-Wallis) permitiu concluir a existência de diferenças significativas em pelo menos
um dos grupos (p=0,000) para todos os padrões silábicos analisados. Deste modo, houve
necessidade de recorrer às comparações múltiplas, por meio do teste U de Mann Whitney com
correção de Bonferroni.
Estas comparações evidenciaram que os grupos de estudo apresentam medianas, para
todos os padrões silábicos, inferiores à de todos os grupos de controlo com o qual foram
29
Resultados
comparados. Obteve-se um puni de 0,000 para todas as comparações realizadas, à exceção da
comparação entre o grupo PCC> 50% e o grupo [3A-5A[, na variável V, onde se obteve um pvalue de 0,002, e o grupo PCC> 50% e o grupo [3A-4A[ na variável CCV, com um puni de 0,018 e
na variável CCVC com um puni de 0,006. De forma a definir a ordem de mestria de produção dos
diferentes padrões silábicos, pelas crianças de cada subgrupo de estudo, começou-se por realizar
uma análise de variância (ANOVA não paramétrica de um fator – teste de Kruskal-Wallis), que
evidenciou a existência de diferenças entre os grupos, para ambos os subgrupos analisados
(p=0,000). Deste modo, houve necessidade de recorrer à análise por comparações múltiplas, a
partir da aplicação do teste de U-Mann Whithney com correção de Bonferroni (p-values
apresentados no anexo 16). Havendo uma suspeita inicial de uma ordem subjacente às 7
variáveis, foram feitos 6 testes unilaterais comparando os sucessivos pares de variáveis em
questão. Os resultados obtidos podem ser resumidos da seguinte forma:
PCC <50%:
V = CV = CVG/CGV > VC = CVC = CCV = CCVC
PCC> 50%:
V= CV= CVG/CGV> VC= CVC> CCV> CCVC
Dois dos valores p apresentados (P=0,048 e p=0,042) correspondentes às comparações,
para o grupo PCC> 50%, entre as estruturas CVC-CCV e CCV-CCVC, respetivamente,
encontram-se muito próximos de 0,05 o que levanta algumas dúvidas quanto à validade das
conclusões. No entanto, tendo em conta que a correção de Bonferroni é altamente conservativa,
com tendência para não rejeitar H0 quando esta é verdadeira, iremos considerar que as diferenças
apresentadas são de facto significativas.
4.5 Formato de palavra
Na tabela 5 encontra-se informação relativa aos grupos homogéneos, não sobrepostos, formados
para as variáveis palavras monossilábicas, dissilábicas, trissilábicas e polissilábica, assim como os
respetivos valores da estatística descritiva (média, mediana e desvio-padrão). Observa-se, pela
estatística descritiva, que as crianças sem perturbação da linguagem apresentam já uma produção
frequente de palavras mono, di e trissilábicas aos 3 anos de idade, identificando-se uma
discrepância entre a produção destas e a de palavras polissilábicas (representação gráfica dos
dados no anexo 17).
Tabela 5 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à percentagem de
produção correta de palavras quanto ao número de sílabas – mono, di, tri e polissilábicas, para cada grupo
homogéneo.
Grupo de Controlo
[3A-3A6M[
[3A6M-4A[
Monossilábicas
Dissilábicas
Trissilábicas
Polissilábicas
98,86 (2,83)
100,00
Grupo de estudo
PCC < 50%
PCC > 50%
95,69 (11,21)
100,00
99,55 (1,22)
100,00
75,76 (26,21)
66,67
71,09 (34,56)
92,00
74,07 (27,78)
66,67
96,44 (3,57)
98,00
95,78 (5,98)
100,00
40,91 (32,08)
50,00
76,67 (15,00)
80,00
22,73 (32,51)
0,00
38,89 (25,34)
25,00
65,95 (25,09)
75,00
[4A-4A6M[
[4A6M-5A[
79,31 (23,94)
87,50
A análise de variância (ANOVA paramétrica de um fator de amostras independentes),
permitiu concluir que não existem diferenças significativas entre as médias dos subgrupos etários,
para a produção de palavras monossilábicas e trissilábicas, havendo, por isso, a formação de um
único grupo (F (3,228) =2,648;p=0,050, F (3,228) =0,915, p=0,434, respetivamente). Para as
variáveis dissilábicas e polissilábicas conclui-se que há diferenças significativas entre os grupos
etários (F (3,228) =3,073, p=0,029 e F (3,228) =4,773, p=0,003, respetivamente), identificando-se
pelas comparações múltiplas, através do método Tukey, a formação dos seguintes grupos
30
Resultados
homogéneos, não-sobrepostos: [3A-3A6M[ e [3A6M-5A[ para a produção de palavras dissilábicas
e [3A-4A6M[ e [4A6M-5A[ para a produção de palavras polissilábicas (ver tabela 5).
Quando comparadas as variáveis em análise, por meio da análise de variância (ANOVA
paramétrica de 2 fatores (indivíduo e formato de palavra) com design em blocos aleatorizados), de
forma a obter um perfil de aquisição dos formatos de palavra, para o grupo de controlo, conclui-se
que existe pelo menos um grupo (um tipo de formato de palavra) diferente dos restantes (F (3,693)
=246,058, p=0,000). Através das comparações múltiplas, pelo método de Tukey (anexo 18), e da
análise da estatística descritiva identifica-se a seguinte ordem de mestria:
Dissilábicas > Monossilábicas = Trissilábicas > Polissilábicas
A comparação realizada entre os grupos de estudo e os grupos homogéneos formados
para o grupo de controlo, por meio da análise de variância (ANOVA não paramétrica um fator –
teste de Kruskal-Wallis) permitiu evidenciar a existência de diferenças significativas em pelo
menos um dos grupos (p=0,000) para todos os formatos de palavra analisados. Deste modo,
houve necessidade de recorrer às comparações múltiplas, por meio do teste de U de Mann
Whitney com correção de Bonferroni.
Destas comparações, concluiu-se que os grupos de
estudo (PCC <50% e PCC> 50%) apresentam medianas estatisticamente inferiores em relação às
apresentadas pelos grupos de controlo, para todas as variáveis (p uni=0,000, em todas as
comparações).
Com vista a definir, também para a população em estudo, uma ordem de mestria na
produção dos diferentes formatos de palavra, recorreu-se primeiramente à análise de variância
(ANOVA não paramétrica de um fator – teste de Kruskal-Wallis), que evidenciou a existência de,
pelo menos um grupo (um formato de palavra) diferente dos restantes, para ambos os subgrupos
analisados (PCC <50%, p=0,002; PCC> 50%, p=0,000). Assim, houve necessidade de recorrer à
análise por comparações múltiplas, pela aplicação do teste U-Mann Whithney com correção de
Bonferroni (p-values apresentados no anexo 18), tendo os resultados permitido obter a seguinte
ordem:
PCC <50%
Monossilábicas = Dissilábicas > Trissilábicas = Polissilábicas
PCC> 50%
Monossilábicas = Dissilábicas > Trissilábicas > Polissilábicas
4.6. Processos fonológicos típicos
4.6.1. Processos fonológicos de substituição de consoantes
Na tabela 6 encontra-se informação relativa aos grupos homogéneos, não sobrepostos, formados
para os processos fonológicos de substituição de consoantes analisados, assim como, os
respetivos valores da estatística descritiva (média, mediana e desvio-padrão). No anexo 19,
encontra-se uma representação gráfica destes dados.
Tabela 6 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à percentagem de
ocorrência dos processos fonológicos de substituição de consoantes, para cada grupo homogéneo.
Grupo de Controlo
[3A-3A6M[
[3A6M-4A[
OCL
DESV
FRI
DESV
OCL
DESPAL
31
Grupo de estudo
[4A6M-5A[
0,33 (3,54)
0,00
0,21 (2,12)
0,00
11,48 (24,31)
0,00
0,11 (0,80)
0,00
ANT
PAL
[4A-4A6M[
12,16 (23,76)
0,00
5,48 (14,15)
0,00
2,82 (11,34)
0,00
0,71 (3,02)
0,00
PCC < 50%
PCC > 50%
18,47 (17,18)
12,1
15,24(12,91)
10,34
18,18 (30,23)
0,00
9,40 (15,61)
4,35
5,46 (15,08)
0,00
4,28 (9,15)
0,00
2,01 (2,62)
0,00
2,29 (3,43)
0,00
75,91 (26,51)
83,30
3,87 (5,07)
0,00
8,89 (10,54)
10,00
7,19 (10,91)
0,00
Resultados
SV LIQ
SL
16,42 (21,25)
5,00
3,17 (8,19)
0,00
8,71 (14,97)
0,00
0,91 (2,52)
0,51
8,98 (9,99)
5,30
3,81 (8,87)
0,00
16,14 (14,37)
10,50
5,38 (8,69)
0,00
A análise de variância (ANOVA paramétrica de um fator de amostras independentes)
aplicada, ao grupo de controlo, para verificar a significância estatística das diferenças de médias
entre os diferentes subgrupos etários, permitiu concluir que não existem diferenças significativas
da média para os processos fonológicos de oclusão (F (3,228) =0,915, p=0,435), anteriorização (F
(3,228) =0,928, p=0,428), desvozeamento de oclusivas (F (3,228) =1,534, p=0,207),
desvozeamento de fricativas (F (3,228) =1,446, p=0,230) havendo, portanto, a formação de um
único grupo dos [3A-5A[. Para os restantes processos fonológicos existem diferenças significativas
entre os grupos, identificando-se pelas comparações múltiplas, realizadas através do método
Tukey, a formação dos seguintes grupos homogéneos, não-sobrepostos, apresentados na tabela
6:


[3A-4A[ e [4A-5A[ para os processos fonológicos palatalização (F (3,228) =5,058,
p=0,002), despalatalização (F(3,228)=4,736, p=0,003) e semivocalização de líquidas
(F(3,228)=3,707, p=0,012), observando para todos estes uma redução da percentagem
média de ocorrência dos [3A-4A[ para os [4A-5A[.
[3A-3A6M[ e [3A6M-5A[ para o processo de substituição de líquidas (F (3,228) =3,712,
p=0,012, registando-se, para cada grupo, uma média de 3,17% e 0,91%, respetivamente.
A comparação realizada entre os grupos de estudo e os grupos homogéneos formados
para o grupo de controlo, por meio da análise de variância (ANOVA não paramétrica um fator –
teste de Kruskal-Wallis) permitiu concluir que não existem diferenças significativas entre os grupos
para o processo substituição de líquidas (p=0,245). Para os restantes processos, esta análise
revelou a existência de diferenças significativas em pelo menos um dos grupos (p=0,000, para os
processos de oclusão, anteriorização, desvozeamento de fricativas, desvozeamento de oclusivas,
palatalização, um p-value de 0,001 para o processo de despalatalização e um p-value de 0,008
para o processo de semivocalização de líquida). Houve, pois a necessidade de recorrer às
comparações múltiplas, por meio do teste U de Mann Whitney com correção de Bonferroni.
Importa mencionar que a partir desta seção serão realizados testes bilaterais para comparação
dos grupos, uma vez que se pretende investigar se existem diferenças entre os grupos (hipótese
de investigação 6.1.) não sendo, assim, apontada uma suspeita acerca do comportamento dos
dados. A realização destes testes permitiu concluir que:



32
Existem diferenças significativas entre ambos os grupos de estudo e o grupo de controlo
formado, para as variáveis oclusão, anteriorização e desvozeamento de oclusivas
(p=0,000 para todas as comparações realizadas), observando-se que as crianças com
PLP apresentam frequências de ocorrência superior, e dentro destas, o grupo PCC <50%
é o que apresenta a maior ocorrência dos processos referidos;
Para o processo fonológico desvozeamento de fricativas apenas se verificam diferenças
entre o grupo de PCC> 50% e o grupo de controlo [3A-5A[ (p=0,000). Pela estatística
descritiva observa-se que o grupo PCC > 50% é o que apresenta, em relação ao grupo de
controlo e PCC < 50% (entre os quais, não se identificam diferenças significativas,
p=0,998), a maior percentagem média de ocorrência do processo;
Para os processos palatalização, despalatalização e semivocalização de líquidas concluise que não existem diferenças entre os grupos de estudo e o grupo de controlo mais novo,
[3A-4A[ (p=1,000, para ambas as comparações, em todos os processos fonológicos).
Quando comparados com o grupo mais velho, o subgrupo PCC <50% continua a não
apresentar diferenças significativas (p=1,000, p=0,052 e p=0,676, para cada processo
fonológico, respetivamente). Já o grupo PCC> 50%, que nestes processos apresenta uma
maior percentagem média de ocorrência dos processos fonológicos, apresenta diferenças
do grupo de controlo [4A-5A[ (p=0,004, p=0,024 e p=0,036, respetivamente).
Resultados
4.6.2. Processos fonológicos de substituição de vogais
A análise empreendida com o intuito de estudar o comportamento dos subgrupos etários face à
produção dos processos de substituição de vogais, permitiu concluir que não existem diferenças
significativas entre os diferentes grupos, para os processos substituição de vogais (F (3,228)
=1,960, p=0,121) e desnasalização (F (3,228) =2,687, p=0,047), havendo, portanto, a formação de
um único grupo dos [3A-5A[, com médias de 1,18% (±1,88%) e 0,53% (±2,37%). Observa-se,
assim, que o grupo de crianças com desenvolvimento típico apresentam, já a partir dos 3 anos,
percentagens médias de ocorrência baixas para ambos os processos analisados.
A comparação realizada entre os grupos de estudo e os grupos homogéneos formados
para o grupo de controlo, por meio da análise de variância (ANOVA não paramétrica um fator –
teste de Kruskal-Wallis) revelou a existência de diferenças significativas em pelo menos um dos
grupos (p=0,000 para ambos os processos fonológicos). Houve pois necessidade de recorrer às
comparações múltiplas, por meio do teste U de Mann Whitney com correção de Bonferroni, tendo
estes revelado a existência de diferenças significativas entre ambos os grupos de estudo e o
grupo de controlo, para os dois processos fonológicos analisados (p=0,000 para todas as
comparações realizadas). Desta forma, e por observação da estatística descritiva, identifica-se
que os grupos de estudo apresentam percentagens médias de ocorrência superiores, distinguindose o subgrupo PCC <50% (35,35% ±16,35%; 17,23% ±10,20%) do grupo PCC> 50% (14,81%
±13,61%, 10,45% ±11,66%), por apresentar as maiores frequências de ocorrência (conforme
apresentado na tabela 17 do anexo 20).
4.6.3. Processos fonológicos de estrutura silábica
Na tabela 7 encontra-se informação relativa aos grupos homogéneos, não sobrepostos, formados
para os diferentes processos fonológicos de estrutura silábica analisados, assim como, os
respetivos valores da estatística descritiva (média, mediana e desvio-padrão). No anexo 21,
encontra-se uma representação gráfica destes dados.
Tabela 7 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à percentagem de
ocorrência dos processos fonológicos de estrutura silábica, para cada grupo homogéneo.
Grupo de Controlo
[3A-3A6M[
MONO
TONG
OCF
LIQ
[3A6M-4A[
3,45 (11,89)
0,00
30,51 (26,78)
26,32
OCF
FRI
[4A-4A6M[
Grupo de estudo
[4A6M-5A[
0,70 (3,41)
0,00
18,42 (22,77)
5,26
6,99 (17,51)
0,00
1,92 (6,08)
0,00
OSA
7,12 (4,99)
6,90
OSA
POST
RGC
5,23 (4,58)
3,45
0,00 (0,00)
0,00
48,64 (35,82)
52,63
32,85 (34,73)
18,42
11,80 (25,54)
0,00
PCC < 50%
PCC > 50%
35,35 (16,35)
33,33
14,81 (13,61)
11,11
63,64 (21,11)
66,67
46,91 (30,62)
42,11
62,68 (19,35)
66,67
23,91 (30,78)
11,11
43,64 (19,85)
45,50
26,55 (22,89)
18,20
28,99 (38,74)
3,77
0,42 (0,83)
0,00
66,02 (25,17)
78,90
76,03 (8,35)
78,90
Como representado na tabela 7 e, através da ANOVA paramétrica de um fator de
amostras independentes, conclui-se que não existem diferenças significativas entre os subgrupos
etários para os processos fonológicos de Omissão da Consoante fricativa Final (OCF fri) (F (3,228)
=2,104, p=0,100), e de Omissão da Silaba Átona (OSA) pós-tónica, havendo, portanto, formação
de um único grupo dos 3 aos 5 anos. Observa-se que a ocorrência do processo fonológico OCF
fricativa é já muito reduzida e que o processo OSA pós-tónica é mesmo inexistente a partir dos 3
anos de idade, não ocorrendo em nenhuma das crianças analisadas no grupo de controlo. O
comportamento dos subgrupos etários é distinto para os restantes processos fonológicos,
33
Resultados
revelando a existência de diferenças significativas entre eles (Monotongação “MONOTONG” F
(3,228) =3,020,p=0,031; OSA pretónica F (3,228) = 3,607, p=0,014; OCF líquida F (3,228)
=14,082, p=0,000; RGC F (3,228) =15,938, p=0,000). Deste modo, e por recurso às comparações
múltiplas (através do teste de Tukey), identificou-se a formação dos seguintes grupos
homogéneos, não-sobrepostos: [3A-3A6M[ e [3A6M-5A[ para o processo de monotongação; [3A4A[ e [4A-5A[ para o processo de OSA pretónica; os grupos [3A-4A[, [4A-4A6M[ e [4A6M-5A[ para
o processo OCF líquida e Redução do Grupo Consonântico (RGC), observando-se, em todos os
processos, uma redução da percentagem de ocorrência com o aumento da faixa etária.
A comparação realizada entre os grupos de estudo e os grupos homogéneos formados
para o grupo de controlo, por meio da ANOVA não paramétrica de um fator (teste de KruskalWallis), demonstrou a existência de diferenças significativas em pelo menos um dos grupos
(p=0,000 para todos os processos fonológicos), em todos os processos analisados. Deste modo, e
por meio do teste U de Mann Whitney com correção de Bonferroni, foi possível mostrar que:



Existem diferenças significativas entre os grupos de estudo e os grupos de controlo
formados, para os processos fonológicos monotongação, omissão da consoante fricativa
final, omissão da silaba átona pretónica (p=0,000 para todas os pares de combinação
realizados) e omissão da sílaba átona pós-tónica (p=0,000, grupo PCC <50% [3A-5A[;
p=0,002 PCC > 50% [3A-5A[), observando-se uma maior percentagem de ocorrência dos
processos nos grupos de estudo.
Existem diferenças significativas entre o grupo PCC <50% e os diferentes grupos de
controlo formados, para o processo fonológico omissão da consoante líquida final
(p=0,000), observando-se que o grupo PCC <50% apresenta maior percentagem média de
ocorrência. Para o grupo PCC> 50%, apenas, se registam diferenças significativas com os
grupos [4A-4A6M[ (p=0,024) e [4A6M-5A[ (p=0,000), observando-se, pela estatística
descritiva, que é o grupo de estudo que apresenta a maior percentagem média de
ocorrência.
Para o processo fonológico redução do grupo consonântico registam-se apenas diferenças
significativas entre os grupos de estudo e as faixas etárias mais velhas, nomeadamente
[4A-4A6M[ (p=0,024 e p=0,018) e [4A6M-5A[ (p=0,00, para ambas as comparações). Pela
estatística descritiva observa-se uma elevada percentagem de ocorrência deste processo
fonológico nos grupos de estudo. Não obstante, este também ocorre de forma produtiva
na população normal, especialmente para a faixa etária dos [3A-4A[, a partir da qual se
identifica uma redução na ocorrência do processo.
4.6.4. Processos fonológicos de assimilação
Por meio da análise de variância, utilizada para verificar a existência de diferenças entre os
subgrupos etários no grupo de crianças com desenvolvimento típico, foi possível concluir que não
existem diferenças significativas para o processo fonológico assimilação regressiva, ocorrendo a
formação de um único grupo (F (3,228) =1,070, p=0,363) – 0,08% (±0,41%). Já para o processo
de assimilação progressiva obteve-se a formação de dois grupos homogéneos e não-sobrepostos,
pelo método de Tukey [3A-4A[ (0,22% ±0,56%) e [4A-5A[ (0,04% ±0,24%), uma vez que a ANOVA
indicou a existência de diferenças em pelo menos um grupo etário (F (3,228) =0,792, p=0,006).
Observa-se, pela estatística descritiva, uma baixa ocorrência destes processos fonológicos, na
população com desenvolvimento típico, logo a partir dos 3 anos de idade (conforme apresentado
na tabela 18 do anexo 22).
Ao comparar os grupos de estudo com os de controlo, para ambos os processos, a partir
da ANOVA não paramétrica (teste de Kruskal-Wallis) conclui-se que existem diferenças
significativas em pelo menos um dos grupos (p=0,000, para ambos os processos). Desta forma, e
por meio das comparações múltiplas, conclui-se que, para o processo assimilação regressiva,
existem diferenças significativas entre os grupos PCC <50% (4,89% ±8,98%) e PCC> 50% (0,50%
±0,75%) e o de controlo formado, (p=0,000 e p=0,014, respetivamente), apresentando os grupos
de estudo maiores percentagens médias de ocorrência. Por fim, para o processo assimilação
progressiva observam-se diferenças significativas entre o grupo PCC <50% (2,58% ±3,07%) e os
grupos de controlo (p=0,000), e o grupo PCC> 50% (0,83% ±1,32%) e o grupo [4A-5A[ (p=0,004).
Ou seja, apenas para a comparação entre o grupo [3A-4A[ e o grupo PCC > 50% se identificou
não existirem diferenças estatisticamente significativas (p=0,140).
34
Resultados
4.7. Processos Fonológicos atípicos
Nesta seção serão apresentados os processos fonológicos classificados como atípicos,
produzidos por mais do que uma criança do grupo de estudo, i.e., não descritos na literatura como
processos comuns ao desenvolvimento típico e que apresentam, na população de controlo
analisada, uma percentagem inferior a 10% (Dodd, et al., 2003) .
O processo de posteriorização foi classificado em diferentes subcategorias de acordo com
o tipo de consoante alvo de substituição. Assim, o processo de posteriorização 1 corresponde à
posteriorização de consoantes oclusivas dentais, nomeadamente /t/ e /d/ (referido por Beers
(1992)como “velarization”), e ocorre nos grupos PCC <50% e PCC> 50% com frequências médias
de ocorrência de 6,99% ±10,29% e 1,28% ±1,93%, respetivamente. O processo de posterização 2
que corresponde à posteriorização de consoantes oclusivas bilabiais, /p/ e /b/, ocorre apenas no
grupo PCC < 50%, com uma frequência média de 9,57% ±11,35% e o processo de posteriorização
3, que engloba a substituição de consoantes fricativas labio-dentais, /v/ e /f/, por outras
consoantes de ponto de articulação mais posterior (em Beers (1992) ambos englobados no
processo designado de “delabialisation”), ocorre em ambos os grupos de estudo, com uma
percentagem média de 8,44% ±7,01% (PCC < 50%) e 11,11% ±20,24% (PCC > 50%). O processo
de substituição atípica (Dodd & Bradford, 2000; Lousada, 2012), designado globalmente, nestes
estudos, por “initial and medial consonante deletion and substituition”, corresponde, no presente
estudo, à substituição de consoantes oclusivas, nasais ou fricativas por consoantes líquidas e
expressa-se nos grupos PCC <50% e PCC> 50%, com frequências médias de ocorrência de
7,54% ±12,20% e 1,96% ±5,88%, respetivamente. O processo de Omissão do Grupo
Consonântico (OGC) (em Beers (1992) designa-o de “cluster deletion” e coloca-o na categoria “b”
– “unusual processes”) corresponde à omissão total do grupo, ou seja, omissão do ataque
ramificado da sílaba e ocorre em ambos os grupos com uma expressão de 7,18% ±7,17% e 1,75%
±5,26%, ocorrendo em maior frequência no grupo PCC <50%. Por fim, o processo de Omissão da
Consoante Inicial (OCI) (Beers, 1992; Dodd, et al., 2003) que corresponde à omissão da
consoante em posição de ataque. No presente estudos os resultados foram divididos pelo tipo de
consoante omitida, nomeadamente: fricativa, apresentando o grupo PCC <50% uma média de
19.57% ±13,64% e o grupo PCC> 50% 7,51% ±9,53%; nasal, com o grupo PCC <50% a
apresentar uma média de 9,09% ±7,01% e o grupo PCC> 50% uma de 6,67% ±8,66%; oclusiva,
sendo identificada uma percentagem média de ocorrência de 22,97% ±25,68% para o grupo PCC
<50% e de 19,60% ±25,98%, para o grupo PCC> 50%.
Estes processos fonológicos apresentam frequências médias de ocorrência muito baixas
para as crianças com desenvolvimento típico, uma vez que são produzidas de forma residual e
apenas por algumas crianças (a maior frequência foi observada para o processo de omissão da
consoante inicial – oclusiva, produzido por 6 das 232 crianças, que constituem o grupo de
controlo), conforme se pode constatar pelos valores de estatística descritiva, apresentados no
anexo 23. Quando comparados os grupos de estudo e os grupos homogéneos formados para o
grupo de controlo, através da ANOVA não paramétrica (teste de Kruskal-Wallis) concluímos que
existe, pelo menos, um grupo, para todos os processos fonológicos analisados, cuja mediana é
diferente dos restantes (p=0,000 para todos os processos fonológicos). Recorrendo a
comparações múltiplas, através do teste de U de Mann Whitney com correção de Bonferroni,
conclui-se que o grupo PCC <50% apresenta percentagens médias de ocorrência superiores à de
todos os grupos de controlo formados, para todos os processos fonológicos analisados, obtendose para todas as comparações realizadas um p-value unilateral de 0,000. Para o grupo PCC>
50%, não se obteve diferenças significativas com o grupo de controlo formado ([3A-5A[) para os
processos posteriorização 2 (p =1,00), substituição atípica (p=0,074) e Omissão do Grupo
Consonântico (p=0,082). Para os restantes processos, conclui-se que o grupo PCC> 50%
apresenta percentagens médias superiores: p uni= 0,002 para o processo posteriorização 1; p uni
=0,000 para o processo posteriorização 3; p uni= 0,000 para os processos de omissão da
consoante inicial, para todos os grupos de controlo formados.
Para além dos processos fonológicos atípicos, acima referidos, observou-se nesta
população a substituição de fonemas por sons ininteligíveis ou não presentes no PE (como se
verificou numa criança, pela substituição frequente da oclusiva /t/ pela africada /tS/, não sendo
esta uma troca derivada de regionalismo). Este tipo de erros obteve uma ocorrência média de
24,66% ±23,72% e 10,08 ±5,03 nos grupos PCC <50% e PCC> 50%, respetivamente, não se
verificando em nenhuma das crianças do grupo de controlo.
35
Discussão dos resultados
Capítulo 5 – Discussão dos Resultados
No presente capítulo serão discutidos os resultados apresentados anteriormente, recorrendo para
isso a uma análise crítica dos mesmos, tendo em consideração a informação recolhida na
literatura analisada. De forma a facilitar a sua leitura e interpretação, este seguirá uma ordem
idêntica à do capítulo anterior.
5.1. Inventário fonético consonantal e silábico
As diferenças observadas no comportamento dos subgrupos etários de controlo confirmam uma
aquisição mais lenta de estruturas silábicas em relação à aquisição das diferentes consoantes do
PE (Mendes et al., 2009; Guerreiro, 2007, Freitas, 1997). No entanto, verifica-se, logo a partir dos
3 anos, a obtenção de percentagens médias próximas de 100%, o que indica que há, a partir
desta idade, a presença da maioria das consoantes e padrões silábicos nos seus inventários
fonéticos e silábicos. O presente estudo corrobora o de Orsolini (2002), que ao analisar o
comportamento fonético-fonológico de crianças com desenvolvimento típico dos 3 aos 5 anos,
observou que já aos 3 anos de idade, a maioria das crianças produzia a totalidade do reportório
consonantal da língua. Apenas para algumas, o desenvolvimento fonético não estava concluído,
em particular, na ausência de um ou dois sons, na maioria dos casos de líquidas (como o /4/ ou
/L/), assim como pela ausência das estruturas silábicas mais complexas.
As comparações realizadas, entre os grupos de estudo e os de controlo, confirmam a
hipótese 1.1 colocada de que as crianças com PLP apresentam menor número de consoantes e
padrões silábicos produzidos, em relação às crianças com desenvolvimento típico. Este resultado
corrobora estudos como o de Paul e Jennings (1992), Rescorla e Ratner (1996), Roberts et al.
(1998) e Williams e Elbert (2003). Para além disso, e conforme se pode constatar na tabela 8 do
anexo 12, identifica-se, para algumas crianças com PLP, especialmente as do grupo PCC <50%,
um perfil distinto de aquisição dos diferentes fonemas consonantais, o que confirma a hipótese
1.2. colocada. Igual observação foi apenas realizada em Williams e Elbert (2003), ao identificar
que as crianças com maiores dificuldades de linguagem exibiam diferenças ligeiras no
desenvolvimento do seu inventário fonético. Verifica-se, então, nos dados analisados que ocorre a
aquisição de consoantes liquidas como o /l/ e /4/, quando ainda não são produzidas consoantes
oclusivas, nasais ou fricativas, como o /f/ ou /v/, consideradas adquiridas em fases anteriores
14
(conforme constatado em estudos como o de Costa (2010)). A existência deste “plateau” para
aquisições precoces, com o aparecimento de outras, de fases posteriores, está patente nos
seguintes inventários fonéticos, tomados como exemplo:
Informante VN (3A8M, grupo PCC <50%): /p, t, b, m, n, v, l, 4/
Informante RP (4A10M, grupo PCC> 50%): /p, t, k, b, d, m, n, J, f, s, S, v, l, L, 4, R\/
Observa-se que o informante VN apresenta no seu inventário fonético os fonemas /l/ e /4/
quando ainda não são produzidas outras consoantes como as oclusivas /d/, /k/ e /g/ ou a fricativa
/f/. No outro inventário apresentado (informante RP), correspondente a uma criança do grupo
PCC> 50%, verifica-se a presença de todas as consoantes líquidas, quando ainda não é
produzida a consoante /g/ nem as consoantes fricativas vozeadas, /z/ e /Z/.
Quanto ao inventário silábico, o presente estudo vai ao encontro do sugerido no estudo de
Pharr, Ratner e Rescorla (2000), ao ser identificado um padrão de aquisição semelhante ao
observado no desenvolvimento fonológico típico, contudo, com um predomínio na produção de
padrões silábicos simples e adquiridos em fases precoces (V, CV e CGV/CVG). Ou seja, verificase um padrão de aquisição lento, o que se traduz no desfasamento face aos seus pares etários,
com as crianças com desenvolvimento típico a apresentarem mais cedo a produção de estruturas
silábicas complexas: sílabas fechadas e com grupos consonânticos (Paul & Jennings, 1992; Pharr,
et al., 2000; Rescorla & Ratner, 1996; Williams & Elbert, 2003). Por exemplo, no grupo PCC <50%
a maioria das crianças apresenta apenas os padrões V CV ou CGV/CVG nos seus inventários
fonéticos (conforme se pode observar no anexo 12). No grupo PCC> 50%, apesar de surgirem
alguns dos padrões silábicos complexos (na maioria, apenas, o padrão CVC), nenhuma criança
apresenta no seu inventário silábico a totalidade dos padrões silábicos.
14
Neste estudo, este conceito é entendido como estagnação, falta de progresso.
36
Discussão dos resultados
5.2. PVC e PCC
Os resultados mostram que as crianças com PLP apresentam valores de PCC significativamente
inferiores às crianças com desenvolvimento típico mais novas (3A) (confirmando a hipótese 2.1.),
o que revela uma menor precisão na produção das consoantes, tendo em conta as palavras-alvo.
Isto vai ao encontro da maioria dos estudos que analisa a produção de crianças com perturbação
da linguagem ao evidenciarem a imaturidade desta população na produção correta de consoantes
(Aguilar-Mediavilla, et al., 2002; Aguilar-Mediavilla & Serra-Raventos, 2006; Bortolini & Leonard,
2000; Fee, 1995; Lousada, 2012; Maillart & Parisse, 2006; Rescorla & Ratner, 1996; Roberts, et
al., 1998; Williams & Elbert, 2003). Os únicos estudos que não confirmam estes resultados são os
de Paul e Jennings (1992) e o de Leonard (1982), o que se justifica pela idade precoce dos
sujeitos ([1A6M-1A11M]), no primeiro, e pela comparação com um grupo de controlo mais novo
([1A5M-1A10M]), emparelhado pelo nível de linguagem, no caso do segundo estudo. Deste modo,
e ao analisar, de forma geral, os diversos estudos, evidencia-se que as crianças com PLP não
acompanham o desenvolvimento observado nas crianças sem perturbação linguística,
manifestando, em idades posteriores, um desfasamento na componente fonológica, mesmo
quando comparadas com crianças com o mesmo nível de linguagem (Maillart & Parisse, 2006).
Este estudo permitiu, ainda, evidenciar, na população de crianças com PLP, uma menor
precisão na produção de vogais (hipótese 2.2.), mesmo quando comparadas com as crianças com
desenvolvimento típico mais novas (3A), o que corrobora os dados obtidos nos estudos de Maillart
e Parisse (2006) e Aguilar-Mediavilla, et al. (2002) . Esta evidência torna-se especialmente
relevante dado o carácter nuclear destes segmentos na fonologia do PE. No desenvolvimento
fonológico típico estas constituem segmentos de aquisição precoce (Mateus, et al., 2005; Mendes,
et al., 2009; Priester, Post, & Goorhuis-Brouwer, 2011), devido, essencialmente às suas
características fonéticas e estatuto na sílaba. No processo de desenvolvimento da linguagem, é
proposto que a criança faça uso de pistas de natureza percetiva para retirar informação das
propriedades rítmicas e segmentais do continuum sonoro. Cutler (1994) propõe que uma das
pistas extraídas possa ser fornecida pelas vogais, dado constituírem sons mais estáveis (“vowels
are relatively steady-state sounds, while consonants are often more transient”, Cutler, 1994, p.96)
e serem os únicos a ocupar o núcleo da sílaba. Dada esta hipótese, que denota especial
relevância no papel do reconhecimento das vogais no processo de apropriação da linguagem, a
ocorrência de erros significativos nestes segmentos, como foi identificado na população em
estudo, poderá fazer prever dificuldades acrescidas na construção das representações
fonológicas, o que se reflete no desenvolvimento fonológico e, consequentemente, como é
proposto por Chiat (2001), em todo o processo de desenvolvimento da linguagem.
Apesar das diferenças identificadas, observa-se que as crianças, de ambos os grupos,
produzem de forma mais adequada os segmentos vocálicos, o que vai ao encontro do descrito na
literatura, apontando as vogais como segmentos adquiridos em etapas iniciais do desenvolvimento
fonológico e, portanto, de uma maneira geral, pouco afetadas a partir de idades precoces (Bonilha,
2004; Charrua, 2011; Freitas, 1997). De facto, nos dados analisados para a população com
desenvolvimento típico, observa-se já, a partir dos 3 anos, uma percentagem média de acerto
destes segmentos de 97,03%. Como seria de esperar, observa-se que as crianças do grupo de
estudo PCC <50% manifestam menores percentagens médias de acerto na produção das vogais,
o que é congruente com o maior comprometimento da componente fonológica evidente pelos
menores valores da PCC (PCC <50% corresponde a um nível grave de perturbação fonológica,
segundo classificação de Shriberg e Kwiatkowski (1982)).
5.3. PCC por modo de articulação
Os resultados obtidos para as variáveis PCC por modo de articulação (nomeadamente oclusivas,
nasais, fricativas, laterais e róticos) permitiram analisar o nível de mestria, ou seja, comparar o
nível de proficiência na produção das diferentes classes de consoantes.
Para o grupo de controlo obteve-se a seguinte ordem de mestria:
Oclusivas = nasais> fricativas> laterais> róticos
Este resultado é congruente com a ordem de aquisição referida na bibliografia (Costa,
2010; Freitas, 1997). Observa-se, então, um nível de mestria elevado para consoantes oclusivas e
nasais logo a partir dos 3 anos (com médias para esta faixa etária de 98,68% e 97,91%,
respetivamente), o que corrobora estudos que identificam estes segmentos como adquiridos e
37
Discussão dos resultados
estabilizados precocemente no sistema fonológico (Charrua, 2011; Costa, 2010; Freitas, 1997;
Mendes, et al., 2009). Os valores obtidos para as consoantes fricativas (87,42% na primeira faixa
etária analisada) revelam que, apesar de, na sua maioria, já serem produzidas pelas crianças,
constituem, ainda, alvos regulares de processos fonológicos. Os resultados inferiores para as
consoantes laterais e róticos, confirmam a aquisição e estabilização mais tardia das consoantes
líquidas, conforme é referido nos estudos de Charrua (2011), Lamprecht (1993) e Mendes et al.
(2009), ao concluírem que estas consoantes só começam a ser adquiridas depois dos 3 anos.
A comparação entre os grupos evidenciou que as crianças com PLP apresentam uma
menor proficiência na produção das diferentes classes de consoantes, mesmo quando
comparadas com o grupo de crianças mais novas, o que é indicador do grande desfasamento no
desenvolvimento fonológico observado nestas crianças. Estes resultados distinguem-se dos
obtidos no estudo de Aguilar-Mediavilla et al.(2002), na medida em que, neste estudo, apenas
foram identificadas diferenças significativas entre o grupo de crianças com PEDL e o grupo de
controlo etário ([3A6M-4A[) para consoantes oclusivas, nasais e laterais.
Ao analisar a mestria de produção das diferentes classes de consoantes para o grupo
PCC <50% obteve-se a seguinte ordem: Oclusivas> nasais = fricativas = laterais = róticos.
Estes dados distinguem-se do observado na população normal, ao não se observar uma
diferenciação na mestria entre as consoantes nasais e as restantes classes consonantais. Estes
dados sugerem a existência de “plateaus” em aquisições precoces, com o aparecimento de
aquisições de etapas mais tardias. Este comportamento é observado igualmente no estudo de
Aguilar-MediaVilla et al. (2002) ao identificar, apenas, a existência de diferenças significativas para
a classe das consoantes nasais entre o grupo de crianças com PEDL e o grupo de controlo, com o
mesmo nível de linguagem. Os autores sugerem, então, que este resultado indica a existência de
“plateau” para esta aquisição precoce.
No grupo PCC> 50% observa-se a seguinte ordem de mestria: Oclusivas = nasais>
fricativas = laterais = róticos.
Para este grupo, apesar de se observar uma maior maturidade na produção de nasais,
observa-se para a classe de fricativas a ocorrência de “plateau”, ou seja, estagnação na sua
mestria de produção, com a produção aproximada das consoantes líquidas e róticos, não se
registando, portanto, diferenças de mestria entre estas, como é visível no desenvolvimento típico.
Deste modo, confirmam-se as hipóteses estabelecidas (hipóteses 3.1. e 3.2.), concluindose, portanto, que as crianças com PLP apresentam percentagens de produção correta das
diferentes classes de consoantes inferiores às crianças com desenvolvimento fonológico típico e,
apesar, de não se poder afirmar que apresentem uma ordem de mestria distinta, observa-se a
existência de “plateaus” para aquisições precoces (como a aquisição de nasais e fricativas), o que
conduz à inexistência de diferenças significativas com as classes de consoantes consideradas de
aquisição em idades mais tardias, como é o caso das consoantes líquidas. Apesar de diferenças
em resultados particulares, esta conclusão geral é congruente com a obtida no estudo de AguilarMediavilla et al. (2002).
5.4. Percentagem de padrões silábicos corretos
Quanto à análise da mestria de produção dos diferentes padrões silábicos (objetivo 4), conclui-se
que os resultados obtidos, para as crianças do grupo de controlo, vão ao encontro do descrito na
literatura, com o maior domínio de estruturas de ataque não ramificado (simples ou vazio, como
nos formatos CV e V, respetivamente) e de rima também não ramificada (Correia, 2004; Freitas,
1997). A par destas estruturas evidenciou-se a produção do padrão silábico CVG/CGV, ou seja um
padrão com a ramificação do núcleo, que apesar de constituir um padrão silábico que poderá
estabilizar em fases posteriores é esperado que comece a ser produzido aquando das primeiras
estruturas silábicas (V e CV), e antes do aparecimento, por exemplo, da rima ramificada CVC
(Correia, 2004). De seguida, identificou-se a produção do padrão silábico VC (aparecimento da
rima ramificada), seguido da estrutura CVC e, só por último, os padrões CCV e CCVC
(correspondentes ao aparecimento do ataque ramificado), o que corrobora os resultados
reportados em estudos anteriores (Correia, 2004; Freitas, 1997; Guerreiro, 2007; Mendes, et al.,
2009).
Quanto ao comportamento das crianças com PLP, face à produção dos diferentes padrões
silábicos, verificou-se que, ambos os grupos (PCC <50% e PCC> 50%), apresentam uma
produção estatisticamente inferior dos diferentes padrões silábicos, em comparação com todas as
faixas etárias do grupo de controlo. Ou seja, as crianças com PLP apresentam um domínio do
38
Discussão dos resultados
nível estrutural (padrões silábicos) inferior ao das crianças de 3 anos com desenvolvimento típico,
confirmando a hipótese 4.1. estabelecida. Quanto à ordem de mestria dos diferentes padrões
silábicos, nos grupos de estudo, observa-se para o grupo PCC <50% a formação de dois
conjuntos distintos, o primeiro com os padrões V, CV e CVG/CGV, apresentando estas
percentagens superiores de acerto, conforme se observa no desenvolvimento fonológico típico.
Este grupo distingue-se do formado com os restantes padrões silábicos VC, CVC, CCV e CCVC,
para os quais não se identificaram diferenças significativas. De facto, evidencia-se, neste grupo a
ausência de produção dos padrões VC, CCV e CCVC. O padrão CVC é produzido se bem que
apresentando percentagens médias muito reduzidas (2,16% ±4,45%). O que se conclui é que a
ramificação da rima começa a surgir neste grupo, não se tratando, portanto, de uma aquisição
ainda estabilizada. A ausência de produção do padrão VC poder-se-á justificar não só pela
omissão da consoante em posição de coda, mas antes, pela omissão desta sílaba, que nas
palavras do teste utilizado constitui, na maioria dos casos, uma sílaba átona em palavras
trissilábicas (por exemplo, escrever ou hospital).
O grupo PCC> 50% apresenta a mesma ordem de mestria dos padrões silábicos, contudo
verifica-se um maior domínio das estruturas com rima ramificada e o aparecimento da produção
de estruturas com ataque ramificado (CCV e CCVC), se bem que ainda de forma esporádica.
Dado o aumento de produção correta dos padrões silábicos com rima ramificada, observa-se,
neste subgrupo, percentagens médias superiores para a produção correta dos padrões silábicos
VC e CVC relativamente aos padrões silábicos de ataque ramificado (CCV e CCVC).
Os resultados sugerem, então, que as crianças com PLP apresentam uma ordem semelhante de
aquisição dos diferentes padrões silábicos, relativamente ao observado no desenvolvimento
fonológico típico, confirmando a hipótese 4.2., o que poderá ser resumido da seguinte forma:
ataques simples e rimas não ramificadas > rimas ramificadas > ataques ramificados.
Este resultado é congruente com o observado em outros estudos com crianças com
perturbação da linguagem, nomeadamente Pharr, Ratner e Rescorla (2000). As crianças do grupo
de estudo apresentam uma preferência pela utilização de padrões silábicos simples e adquiridos
em fases precoces (V e CV) e apresentam um grande desfasamento na produção de outras
estruturas silábicas (com rimas e ataques ramificados), o que confirma a evidência identificada em
outros estudos que atestam nesta população especial dificuldade na produção de consoantes em
posição final, ou seja, a ocupar a posição de coda na estrutura silábica (Fee, 1995; Paul &
Jennings, 1992; Rescorla & Ratner, 1996). Apesar das estruturas silábicas mais simples
constituírem as mais produzidas pelas crianças com PLP, apresentam, como já referido,
percentagens médias de acerto estatisticamente inferiores às das crianças do grupo de controlo.
Estes resultados não são totalmente compatíveis com o obtido em outros estudos, como o de
Aguilar-Mediavilla et al.(2002), uma vez que este não identificou diferenças significativas entre o
grupo de estudo e de controlo etário para o padrão silábico V. Tal facto poder-se-á justificar pelas
diferenças observadas no processo de omissão da silaba átona que ocorre em maior frequência
no presente estudo, levando à omissão de silabas com padrão V (por exemplo [lo] para /oLu/,
(informante VN, 3A8M, grupo PCC <50%). Verificou-se, também, nalgumas crianças do grupo de
estudo a inserção de consoante, ocorrendo a seguinte transformação: V  CV (por exemplo:
[du46] para /lu6/, informante BA; [baw6] para /agw6/, informante RS; [SuJ6] para /uJ6/, informante
RP; [lu] para /uJ6/, informante VN), o que justifica a diminuição da produção correta do padrão V.
As diferenças observadas para o padrão CV, que constitui o padrão silábico mais frequente e a
estrutura não-marcada (Freitas, et al., 2005; Vigário & Falé, 1994), podem justificar-se não só pela
ocorrência elevada da omissão de sílabas átonas, mas também, pela frequência de erros na
produção do constituinte ataque, com ocorrência significativa da omissão de consoantes nesta
posição (processo fonológico analisado na seção 5.7. - Processos fonológicos atípicos). Esta
evidência vai ao encontro do referido em estudos como o de Maillart e Parisse (2006) e AguilarMediavilla, et al. (2002). No primeiro estudo o grupo de crianças com PLP produz em maior
quantidade o padrão silábico V, resultado que é justificado pela ocorrência desta simplificação
silábica (CV  V).
5.5 Formato de palavra
Os resultados obtidos permitiram identificar a seguinte ordem de mestria, quanto à produção de
diferentes formatos de palavra, nas crianças com desenvolvimento típico:
Dissilábicas> monossilábicas e trissilábicas> polissilábicas
39
Discussão dos resultados
Esta ordem é de esperar na medida em que as palavras dissilábicas, por serem de menor
extensão e, portanto, menos exigentes (quer em termos de memória fonológica quer pela menor
exigência articulatória) são menos propícias à ocorrência de processos de omissão de sílaba
átona. De seguida, as palavras monossilábicas (que no TFF-ALPE constituem palavras de
estrutura CVC e CCVC) e trissilábicas que, relativamente às dissilábicas, constituem,
respetivamente, contextos mais propícios à ocorrência de erros como os de epêntese (como por
exemplo [t14eS] para /t4eS/ ou [sOl1] para /sOl/) e omissão da sílaba átona. A ocorrência de
processos de omissão silábica aumenta em palavras polissilábicas, razão pela qual estas
apresentam valores inferiores de produção correta. De facto, ao analisar os dados observou-se
que o processo de omissão silábica continuava a ocorrer na faixa etária mais velha ([4A6M-5A[),
na sua maioria, em palavras polissilábicas, por exemplo [t1fOn1] para /t1l1fOn1/.
Este resultado corrobora alguns estudos que têm vindo a analisar o efeito do formato de
palavra sobre parâmetros como a frequência de produção de palavras e o desempenho em tarefas
de consciência fonológica. De facto, as palavras dissilábicas têm sido identificadas como sendo o
formato de palavra mais frequente na produção da criança, seguidas de palavras mono e
trissilábicas, constituindo as palavras polissilábicas as menos frequentes (Vigário, et al., 2006;
Vigário, et al., 2005). Observa-se, ainda, a existência de um efeito do formato de palavra no
desempenho em tarefas de consciência fonológica, concluindo-se que as crianças apresentam
piores desempenhos na segmentação de palavras mono e polissilábicas (Marchetti, Mezzomo, &
C., 2010; Santos, 2012), o que revela constituírem contextos mais difíceis de processar. Afonso
(2008) reforça estas conclusões ao referir, na sua Tese, que “os estímulos trissilábicos
paroxítonos eram mais difíceis de processar e demoravam mais tempo a ser segmentados do que
estímulos dissilábicos paroxítonos” (Afonso, 2008, p.137).
Quanto à comparação dos grupos de estudo com os de controlo, os resultados
distinguem-se dos obtidos no estudo de Aguilar-Mediavilla et al. (2002), ao evidenciar uma
percentagem média inferior na produção correta de todos os formatos de palavra, pelas crianças
com PLP, confirmando a hipótese 5.1. estabelecida e, não apenas nas palavras trissilábicas, como
no referido estudo. Estas diferenças podem ser justificadas, por um lado, pela maior ocorrência do
processo de omissão da silaba átona (quer pré quer pós tónica), que condiciona a produção
correta de palavras di, tri e polissilábicas. As palavras monossilábicas são produzidas em menor
percentagem devido à ocorrência de erros de simplificação de estruturas silábicas complexas,
como a vocalização, observado em muitas das crianças do grupo de estudo, que consiste na
substituição de uma consoante por uma vogal (por exemplo, [kO1] para /sOl/ e [lO6] para /flo4/).
Identifica-se uma ordem distinta, da obtida para o grupo de controlo, na mestria dos
diferentes formatos de palavra, por parte das crianças com PLP, contrariando a hipótese 5.2.
colocada. As crianças do grupo PCC <50% apresentam a seguinte ordem: monossilábicas e
dissilábicas> trissilábicas e polissilábicas e as do grupo PCC> 50% a ordem: monossilábicas e
dissilábicas> trissilábicas> polissilábicas.
Estas diferenças devem-se, sobretudo, à elevada frequência de ocorrência do processo
de omissão de sílaba átona no grupo de crianças com PLP, especialmente no grupo PCC <50% o
que justifica, neste grupo, não existirem diferenças entre as palavras trissilábicas e polissilábicas.
Por existirem muitos erros desta natureza em palavras trissilábicas, estas distinguem-se das
palavras monossilábicas, ao apresentarem percentagens médias de acerto inferiores. As palavras
dissilábicas não se distinguem das monossilábicas, pelo mesmo motivo, ou seja, a percentagem
de palavras dissilábicas corretas é prejudicada pela ocorrência de omissão silábica, aproximandose da produção observada nas palavras monossilábicas.
5.6. Processos Fonológicos típicos
Foi analisado um conjunto de processos fonológicos típicos para o PE (Costa, 2010; Freitas, 1997;
Guerreiro, 2007; Mendes, et al., 2009) de forma a investigar a natureza dos erros que contribuíram
para os valores obtidos no parâmetro PCC.
Observou-se que os processos de oclusão, anteriorização e desvozeamento de oclusivas
15
já não são produtivos aos 3 anos de idade, sendo, portanto, processos típicos de fases precoces
15
Os processos fonológicos são descrições de mudanças de sons sistemáticas e, portanto, devem ocorrer com
alguma regularidade (Smit, 2004). Apesar de existirem diferentes critérios (por exemplo Stoel-Gammon’s (1987)
propõe que um processo deva ocorrer, três ou mais vezes, para que seja considerado produtivo), o conceito de
produtividade assegura, então, que um determinado processo fonológico é relevante, para uma dada criança ou
população, e não ocorre de forma esporádica ou idiossincrática.
40
Discussão dos resultados
do desenvolvimento fonológico (Costa, 2010; Guerreiro, 2007; Mendes, et al., 2009). As crianças
com PLP apresentam frequências de ocorrência superior, levando à identificação de diferenças
significativas entre os grupos. De entre as crianças com PLP, o grupo de PCC <50% é o que
apresenta uma maior frequência de ocorrência destes processos, o que se deve ao facto destas
crianças se encontrarem num estádio mais precoce de desenvolvimento fonológico.
Ao analisar os processos fonológicos produzidos em consoantes fricativas (palatalização,
despalatalização e desvozeamento de fricativas), observa-se que apenas para o processo de
desvozeamento de fricativas não se verificam diferenças entre as faixas etárias do grupo de
controlo. Este resultado sugere que este constitui, de entre os processos produzidos sobre
consoantes fricativas, o mais frequente e persistente, produzido por crianças falantes do PE
(Castro, et al., 1999; Guerreiro, 2007). Os restantes processos (palatalização e despalatalização)
sofrem uma redução significativa da faixa etária dos [3A-4A[ para os [4A-5A[. Para estes
processos, observa-se um padrão comum no grupo de estudo, com as crianças com PCC> 50% a
apresentarem as frequências médias mais elevadas. Pela análise da estatística descritiva, o
processo de desvozeamento de fricativas sobressai dos restantes, ao apresentar uma mediana de
83,30% para o grupo PCC> 50%, o que confirma os resultados obtidos por Yavas e Lamprech
(1988) realizado com crianças, falantes do Português Brasileiro (PB), com perturbação fonológica.
A observação de frequências de ocorrência inferiores, para este conjunto de processos
fonológicos, no grupo PCC <50%, deve-se ao facto de muitas das crianças pertencentes a este
grupo não produzirem ainda consoantes fricativas, identificando-se, antes, neste segmentos,
processos como os de oclusão ou omissão silábica. Por este motivo, não se identificam diferenças
significativas entre o grupo PCC <50% e os grupos de controlo, para a maioria dos processos
fonológicos analisados em consoantes fricativas. Ou seja, este resultado corrobora que as
crianças com PCC < 50% se encontram num estado de desenvolvimento fonológico mais precoce,
não existindo ainda um contexto fonológico (neste caso, consoantes fricativas) para que os
referidos processos ocorram. De referir, que a rejeição da diferença entre as medianas dos grupos
PCC < 50% e [3A-4A[, na variável despalatalização, foi influenciada pela correção de Bonferroni,
uma vez que este processo ocorre no grupo de PCC <50%, não sendo já significativo na produção
de crianças com idade entre os [3A-4A[. Registam-se diferenças significativas entre o grupo PCC>
50% (resultante das frequências de ocorrência elevadas) e o grupo de controlo [3A-5A[ (variável
desvozeamento de fricativas e oclusivas) e, nos restantes processos fonológicos, para o grupo
mais velho ([4A-5[), uma vez que é nesta faixa etária que se regista, como referido, uma redução
significativa da ocorrência destes processos.
Observa-se um comportamento semelhante para o processo de semivocalização de
líquidas com o grupo PCC> 50%, com uma frequência média de ocorrência superior. Para o grupo
de controlo, observa-se uma diferença entre as faixas etárias [3A-4A[ e [4A-5A[, contudo, o
processo apresenta uma maior frequência nesta última faixa etária, relativamente aos processos
referidos anteriormente. Esta observação vai ao encontro do referido na bibliografia ao apontar
que este processo tende a ser, de entre os processos de substituição, um dos mais observados
entre crianças mais velhas (Dodd, et al., 2003; Guerreiro, 2007; Mendes, et al., 2009; Smit, 2004).
Para este processo, apenas se verificam diferenças significativas entre o grupo PCC > 50% e a
faixa etária [4A-5A[, observando-se que o grupo de estudo apresenta uma frequência de
ocorrência superior, sendo esta semelhante à identificada para a faixa dos [3A-4A[. O grupo PCC
< 50% não apresenta diferenças significativas relativamente aos grupos de controlo. A frequência
de ocorrência inferior neste grupo de estudo deve-se à utilização de outras simplificações
fonológicas, características de fases mais precoces (como a omissão da consoante, por exemplo
[bad1] e não [bawd1] para a palavra balde), aquando da produção de palavras com estas
consoantes.
Os resultados, relativos aos processos fonológicos em segmentos vocálicos, revelaram
que estes são pouco frequentes na produção de crianças a partir dos 3 anos, o que é congruente
com os dados normativos indicados noutros estudos (Bonilha, 2004; Guerreiro, 2007; Pollock &
Keiser, 1990). As crianças com PLP apresentam, no geral, frequências de ocorrência mais
elevadas, para os processos fonológicos analisados, o que conduz à existência de diferenças
significativas com o grupo de controlo. Reynolds (1990) revela que as dificuldades com vogais
podem estar relacionadas com as dificuldades no sistema consonantal, ou mesmo com
41
Discussão dos resultados
16
dificuldades com traços prosódicas ou paralinguísticos . De facto, foram identificados nos dados
analisados substituições de vogais associadas à alteração da acentuação da palavra (por
exemplo, [se"ba] para /"zeb46/, informante RP de 4A). A persistência de erros nestes segmentos
considera-se um indicador da existência de graves comprometimentos na componente fonológica
pois são segmentos de aquisição precoce (Donicht & Lamprecht, 2009).
A ocorrência produtiva de processos fonológicos de nível segmental (processos
fonológicos de substituição) identificada, neste estudo, em crianças com PLP é, corroborada
noutros estudos (Beers, 1992; Fee, 1995; Williams & Elbert, 2003; Yavas & Lamprecht, 1988). Há
estudos como o de Leonard (1992) e Roberts, et al. (1998), que não identificaram diferenças
significativas entre os grupos, o que se deve à idade precoce dos participantes. Estes resultados
não corroboram os apresentados em Aguilar-Mediavilla, et al.(2002) na medida em que não foram
identificadas diferenças significativas entre o grupo de estudo e o grupo de controlo etário, para
este subgrupo de processos fonológicos. Há que referir, contudo, que muitos processos
fonológicos analisados foram diferentes, dos do presente estudo.
Os processos de estrutura silábica constituíram, juntamente com o processo de
desvozeamento para o grupo PCC> 50%, os mais produtivos nas crianças com PLP (AguilarMediavilla & Serra-Raventos, 2006; Beers, 1992; Bortolini & Leonard, 2000; Fee, 1995; Lousada,
2012; Owen, et al., 2001). Ambos os grupos de estudo apresentam frequências elevadas não só
no processo de omissão da líquida final mas também no de omissão da fricativa final, para o qual
as diferenças com a população do grupo de controlo se acentuam (dado que as fricativas em
posição de coda surgem mais precocemente no desenvolvimento fonológico típico, conforme é
apresentado em Freitas (1997)). Este resultado vai ao encontro de outros estudos, onde foi
observada uma maior dificuldade na produção de consoantes em posição final / coda (Paul &
Jennings, 1992; Pharr, et al., 2000; Rescorla & Ratner, 1996; Williams & Elbert, 2003). O processo
de monotongação é produzido, igualmente, em maior frequência, pelas crianças do grupo de
estudo. No grupo de controlo, a diferenciação da faixa dos [3A-3A6M[, corrobora os resultados de
Correia (2004) ao referir uma aquisição mais prolongada do núcleo ramificado. Outra característica
apontada a esta população (Aguilar-Mediavilla, et al., 2002; Bortolini & Leonard, 2000; Maillart &
Parisse, 2006; Owen, et al., 2001) diz respeito à dificuldade no processamento de segmentos
menos salientes, como sílabas em posição átona. Este estudo reforça esta evidência ao
identificar, na população em estudo, frequências de ocorrência elevadas para o processo de
omissão da sílaba átona pretónica. Para além disso, as crianças com PLP também omitem sílabas
em posição pós-tónica, o que contribui para a maior evidência das dificuldades em produzir
segmentos em posição átona. Por outro lado, observa-se que nenhuma das crianças do grupo de
controlo produz o processo de omissão da sílaba átona em posição pós-tónica, o que corrobora
tratar-se de um erro incomum, a partir dos 3 anos (Snow, 1998) . Observa-se, ainda, na população
normal, uma percentagem muito inferior na ocorrência do processo omissão de sílaba átona
pretónica, o que corrobora os dados normativos ao indicar se tratar de um processo mais
produtivos em fases precoces, podendo continuar-se a observar a sua produção em palavras
polissilábicas (Cambim, 2002; Castro, et al., 1999; Charrua, 2011; Guerreiro, 2007). O processo de
redução do grupo consonântico constituiu o processo de estrutura silábica produzido com maior
frequência tanto pelas crianças com PLP como pelas crianças do grupo de controlo, o que
corrobora a aquisição tardia de estruturas silábicas complexa do tipo CCV (Castro, et al., 1999;
Fee, 1995; Freitas & Santos, 2001; Guerreiro, 2007; Mendes, et al., 2009). Todavia, este processo
ocorre de forma mais frequente nas crianças do grupo de estudo, evidenciando-se as diferenças
com as faixas etárias a partir dos 4 anos, uma vez que, a partir desta idade, se verifica uma
diminuição na ocorrência deste processo na população com desenvolvimento típico. Estes
resultados indicam que a aquisição de sílabas complexas é especialmente difícil para crianças do
grupo em estudo, mantendo, por isso, a sua simplificação em idades em que esta já não deveria
ocorrer.
Embora com inferiores percentagens de ocorrência, as crianças com PLP produzem
ainda, e com diferenças significativas do grupo de controlo, os processos de assimilação,
especialmente o processo de assimilação regressiva. As percentagens de ocorrência reduzidas,
16
Os traços paralinguísticos dizem respeito ao modo como se diz ou comunica algo, as qualidades da voz, a
altura, o ritmo, a articulação, a dicção, pausas, variações de entoação, posturas faciais e corporais, e
constituem o que se designa por paralinguagem (Trager, 1958).
42
Discussão dos resultados
observados nos grupos de controlo, confirmam que se tratam de processos fonológicos
característicos de etapas precoces, que refletem ainda a imaturidade do sistema produção de fala,
ocorrendo portanto a harmonização da palavra, pela simplificação da sua articulação (Guerreiro,
2007). Deste modo, a existência de percentagens médias superiores, especialmente para o grupo
PCC < 50%, confirmam a maior imaturidade fonológica manifestada pelas crianças deste grupo.
5.7. Processos Fonológicos atípicos
Para além da ocorrência, no grupo de crianças com PLP, de processos típicos, mas persistentes,
identificou-se a utilização de processos atípicos, por ocorrerem em mais de uma criança do grupo
de estudo (e assim, não assumirem um carácter idiossincrático) e por ocorrerem em menos de
10% da população com desenvolvimento típico analisada (Dodd, et al., 2003). De entre os
processos identificados, salienta-se a omissão de consoante oclusiva inicial por apresentar as
maiores frequências médias de ocorrência, bem como, o maior número de crianças a produzi-lo
(10 crianças do grupo PCC < 50% e 5 do grupo PCC > 50%). Observou-se, igualmente, se bem
que de forma menos frequente, a omissão da consoante fricativa e nasal inicial. O processo
fonológico omissão do grupo consonântico, identificado como processo atípico ao ser produzido
pelas crianças do grupo de estudo de forma significativamente superior (especialmente no grupo
PCC < 50%), juntamente com os restantes, sugerem que as crianças com PLP, apresentam, para
além de dificuldades com o elemento coda da estrutura silábica (observado pelas grandes
dificuldades na produção de sílabas fechadas VC e CVC), limitações na produção do constituinte
ataque: quer do ataque simples, omitindo para além das consoantes líquidas (processo normal no
desenvolvimento fonológico típico), oclusivas, nasais e fricativas, quer do ataque complexo,
omitindo todo o grupo consonântico (por exemplo, [uka] para /b4i~ka4/ no informante RS de
5A1M). Estes processos atípicos foram também identificados noutros estudos com crianças com
perturbação de linguagem, nomeadamente o processo de omissão da consoante inicial (AguilarMediavilla, et al., 2002; Beers, 1992; Dodd, et al., 2003; Maillart & Parisse, 2006), e o de omissão
do grupo consonântico (Beers, 1992), assim como em estudos com crianças com desenvolvimento
típico, sendo identificados como processos atípicos por apresentarem frequências de ocorrência
residuais (Dodd, et al., 2003). Identificou-se, ainda, como processos atípicos os de posteriorização
que, no presente estudo, foram analisados de forma separada, tendo em conta, o tipo de
consoante alvo do processo. Deste modo, foi possível verificar que: o processo de substituição de
consoantes dentais por velares ocorreu em ambos os subgrupos de estudo, mas de forma mais
frequente no PCC <50%; o processo de substituição de consoantes labiais por outras com pontos
de articulação posterior, ocorreu apenas no grupo PCC <50%; a posteriorização de consoantes
labiodentais /f, v/ (posteriorização 3) que ocorreu em maior frequência no grupo PCC> 50%. Este
comportamento explica-se pelo facto das consoantes labiodentais serem de aquisição precoce, e
portanto, já adquiridas pelo grupo PCC> 50%. Por outro lado, o processo de posteriorização 3 é
realizado em menor frequência no grupo PCC <50%, à semelhança do observado para outros
processos, uma vez que as fricativas (contexto fonológico que promove este processo) ainda não
são produzidas por muitas crianças deste subgrupo. Dodd, et al. (2003) no seu estudo de análise
de dados normativos para a língua inglesa, também identificaram o processo de posteriorização
(“backing”) como atípico, definindo-o, de forma geral, como “um ponto de articulação que é movido
para outro, mais posterior” (Dodd, et al. 2003, p. 643). O presente estudo corrobora, ainda, o
apresentado por Beers (1992), ao identificar, em crianças com PLP, a ocorrência atípica do
processo de posteriorização.
Ocorreram, ainda, outras substituições consideradas atípicas, por envolverem sons
adquiridos em estádios precoces por outros adquiridos em fases mais tardias, como nos seguintes
exemplos: [lo] para /go4du/ (informante VN) e [f6ni46] para /fu4mig6/ (informante BA). Esta
evidência está ao encontro do descrito em Aguilar-Mediavilla, et. al. (2002), ao identificar que as
crianças com PLP eram menos precisas na produção de alguns sons adquiridos em estádios mais
precoces (como, oclusivas e nasais), corroborando a existência de “plateaus” em aquisições
precoces, com o aparecimeno de padrões de aquisição mais tardia, facto este, que foi também
identificado no presente estudo. Este padrão de susbtituição atípica foi também identificado no
estudo de Lousada (2012), referindo-se à ocorrência produtiva, no grupo de estudo, de
substituições ou omissões de consoantes.
43
Conclusões
Capitulo 6 – Conclusões
6.1. Resumo do trabalho desenvolvido e principais conclusões
O presente estudo surgiu, motivado pela crescente importância atribuída à componente fonológica
na explicação da natureza da PLP, com o objetivo de descrever o perfil fonológico da população
em estudo, ambicionando, deste modo, promover um maior conhecimento desta perturbação, da
sua expressividade em termos de características fonológicas e, por conseguinte, contribuir para a
identificação e intervenção precoce e a mais adequada junto destas crianças, que se sabe ser
essencial, na minimização dos impactos nos diferentes níveis de funcionalidade e participação do
dia-a-dia.
De forma a empreender a análise proposta, a investigação iniciou-se pela identificação de
crianças com o perfil de PLP, o que dependeu de uma avaliação prévia das competências
linguísticas, auditivas e cognitivas da criança. Caso se identificasse um perfil compatível com a
perturbação de linguagem de caracter primário e, dependendo dos consentimentos legais, era
realizada a avaliação específica da componente fonológica, por recurso ao teste TFF-ALPE
(Mendes et. al, 2009). Com os dados recolhidos e analisados (no âmbito do presente estudo,
como também no estudo de Lousada (2012)), com as Ferramentas de Avaliação Fonológica
Automática (FAFA) v0.2.00, foi construída uma base de dados no programa SPSS 17.00 que
permitiu testar as hipóteses colocadas.
Dos resultados obtidos foi possível concluir que as crianças com PLP apresentam graves
dificuldades na componente fonológica da linguagem, apresentando, a sua maioria, um perfil de
perturbação fonológica, e não de atraso fonológico. Estas evidenciaram limitações ao nível do
inventário fonémico consonantal e inventário silábico, demonstrando grandes restrições
segmentais e de estruturas silábicas para a sua faixa etária; apresentaram uma percentagem
reduzida de consoantes e vogais corretas, assim como de consoantes, por modo de articulação
(oclusivas, nasais, fricativas, laterais e róticos). Estas limitações verificaram-se não só a nível
segmental mas também a nível silábico e da palavra, o que se traduziu em desempenhos
inferiores na produção correta dos diferentes padrões silábicos e formatos de palavra. De forma
geral, as crianças com PLP apresentam, ainda, uma elevada frequência de ocorrência de
diferentes processos fonológicos típicos (por exemplo, oclusão, desvozeamento de fricativas ou
omissão da consoante fricativa final), para além da idade de desaparecimento, diferenciando-se
das crianças com desenvolvimento típico da linguagem. Identificou-se, ainda, nesta população um
conjunto de características reveladoras de um perfil desviante de aquisição fonológica,
nomeadamente, a ordem de aquisição das consoantes no inventário fonético, com o surgimento
de fonemas adquiridos em fases tardias quando ainda não são produzidos outros de fases
anteriores, e a identificação de uma ordem distinta na mestria das diferentes classes de
consoantes, verificando-se a existência de “plateaus” para aquisições precoces, como por
exemplo, para consoantes nasais e fricativas. Esta conclusão decorreu, igualmente, da
identificação da ocorrência de processos fonológicos atípicos (como a omissão da consoante
inicial e diferentes processos de posteriorização), ou seja, que não ocorrem de forma frequente na
população com desenvolvimento fonológico típico. Por fim, a identificação frequente de sons
ininteligíveis, na produção das crianças com PLP, sugere a existência, para além da omissão,
adição e substituição, de padrões de distorção dos sons da fala.
A investigação desenvolvida permitiu, então, evidenciar que, a população em estudo,
apresenta, para além, da persistência de padrões típicos, um conjunto de características que tem
vindo a ser atribuídas à perturbação fonológica, como a existência de “plateaus” para aquisições
precoces, a ocorrência de desencontro fonológico (“phonological mismatch”) (Grunwell, 1981b),
onde os sujeitos exibem a coocorrência de processos de fases precoces (como o processo de
oclusão) e padrões de erros característicos de fases posteriores do desenvolvimento fonológico
(como os processos de palatalização ou semivocalização de líquida), e ainda a ocorrência de
processos atípicos.
A identificação de padrões fonológicos típicos e atípicos permitiu, não só conhecer e
caracterizar o perfil fonológico das crianças com PLP, como também fornecer, de forma geral,
informação para a identificação de alguns padrões atípicos no PE, o que contribui para o
estabelecimento do diagnóstico diferencial de entre as perturbações dos sons da fala,
nomeadamente entre o atraso e a perturbação fonológica.
O presente estudo permitiu, então, concluir que as crianças com PLP falantes do PE
apresentam um grande comprometimento da componente fonológica, o que corrobora as
44
Conclusões
conclusões obtidas em estudos semelhantes realizados já em diferentes línguas (AguilarMediavilla & Serra-Raventos, 2006; Bortolini & Leonard, 2000; Maillart & Parisse, 2006; Owen, et
al., 2001).
Conclui-se, então, que os resultados obtidos vão ao encontro de recentes teorias
explicativas da natureza desta perturbação da linguagem, que apontam para um défice inicial ou
de especial proeminência na componente fonológica da linguagem. Estas conclusões sugerem
que uma intervenção terapêutica adequada e centrada na estimulação de competências
fonológicas será essencial a adotar junto desta população, de forma a maximizar e rentabilizar o
desenvolvimento linguístico e, desta forma, promover a funcionalidade comunicativa e sucesso
escolar do indivíduo.
6.2. Limitações do trabalho e sugestões para investigações futuras
Importa referir que no decorrer da execução do presente trabalho se identificaram um conjunto de
fatores que podem ter influenciado os resultados obtidos. Nomeadamente, a variabilidade
observada entre as crianças com PLP, que se tentou minimizar pela formação dos subgrupos, o
que contribuiu para a redução do número de crianças em cada subgrupo. Para além disso,
considera-se que existe um conjunto de variáveis (como o meio social e o tempo de intervenção
em terapia da fala) que pode ter tido alguma influência nos resultados obtidos. Não obstante,
durante o processo de identificação das crianças, considerou-se difícil delimitar estas variáveis
dado as dificuldades sentidas para sinalizar/referenciar as crianças com o perfil pretendido. Desta
forma, sugere-se a expansão gradual desta base de dados, com crianças com o diagnóstico
estudado, de forma a dar continuidade ao estudo das características desta população, falantes no
PE, permitindo assim, a análise de diferentes variáveis.
Apesar da escolha da faixa etária se considerar pertinente e adequada para o estudo em
questão, uma vez que é na idade pré-escolar que se verificam e analisam a maioria dos
comportamentos fonológicos (erros realizados e identificação da sua supressão, bem como a
perceção da ordem de aquisição de diferentes estruturas), a imaturidade linguística observada nas
crianças do grupo de estudo, com estas idades, condicionou a utilização de outras metodologias
como a comparação com um grupo emparelhado pela variável Comprimento Médio do Enunciado
(CME). Por este motivo, considera-se importante, como meio de confirmar as teorias de base
fonológica explicativas da natureza da PLP, a replicação do presente estudo com crianças mais
velhas e utilizando um grupo de controlo, com mesmo nível de linguagem (pela utilização, por
exemplo, da variável CME).
Por outro lado, a imaturidade linguística e a ininteligibilidade identificada nas crianças
avaliadas condicionou a extração de dados a partir de tarefas espontâneas. Desta forma, e tendo
em conta as eventuais diferenças que possam surgir derivadas da utilização de diferentes tarefas
de incitação, considera-se importante incluir esta análise em metodologias de estudos futuros.
A título de proposta, considera-se interessante uma análise futura das relações entre os
défices fonológicos, ostentados por esta população, e os identificados a nível da componente
morfossintática, estudando os impactos das dificuldades no reconhecimento e organização dos
sons da fala na aquisição e correta utilização das regras morfossintáticas características do PE.
Por fim, seria de extrema importância para a prática profissional, o estudo dos benefícios da
estimulação específica da componente fonológica, no desenvolvimento global da linguagem (como
por exemplo, em parâmetros de aquisição de vocabulário e domínio de regras morfossintáticas).
45
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Anexos
Anexos
Anexos
Anexo 1
Centrais
Anteriores ou avançadas
Posteriores ou Recuadas
/1/
Altas e fechadas
/u, u~/
/i , i~/
Semifechadas
/e , e~/
/o, o~/
/E/
Semiabertas
/O/
/6, 6~/
/a/
Baixas ou abertas
Arredondadas
Tabela 1 – Espaço das vogais do PE (Adaptado de Cruz-Ferreira, 1999)). Nota: As semivogais
[j] e [w] têm características idênticas às das vogais [i] e [u] distinguindo-se no parâmetro
‘duração’, ao serem mais breves que as vogais, por não poderem receber o acento na palavra
nem constituírem núcleo da sílaba (Mateus, et al., 2005).
Modo de Articulação
Consoantes
do PE
Ponto de Articulação
Bilabial
Oclusivas
Nasais
Fricativas
Líquidas
Róticos
p
LábioDental
b
Dental Alveolar
t
PalatoAlveolar
d
k
m
v
s
z
l
4
g
J
n
f
Palatal Velar Uvular
S
Z
R
L
R\
Tabela 2 - Classificação das consoantes do PE Adaptado de Cruz-Ferreira (1999), Mateus e
d’Andrade (2000), e Vigário et al. (2006).
Anexos
Anexo 2
Consoantes
Faixa etária
/p/
[3A-3A6M[
/t/
[3A-3A6M[
/k/
[3A-3A6M[
/b/
[3A-3A6M[
/d/
[3A-3A6M[
/g/
[3A-3A6M[
/m/
[3A-3A6M[
/n/
[3A-3A6M[
/J/
[3A-3A6M[
/f/
[3A-3A6M[
/s/
[3A-3A6M[
/S/
[3A-3A6M[
/v/
[3A-3A6M[
/R/
[3A-3A6M[
/l/
[3A-3A12M[
/L/
[3A-3A12M[
/S/ em posição final de sílaba
[3A-3A12M[
/z/
[4A-4A6M[
/Z/
[4A-4A6M[
/4/
[4A-4A6M[
/4/ em posição final de silaba
[4A-4A12M[
/l/ em posição final de sílaba
[5A-5A6M[
Tabela 3 Faixa etária em que 75% das crianças produziram corretamente as consoantes
(Mendes, et al., 2009). Nota: Deve-se ter em conta que a primeira faixa etária analisada no
estudo foi a de [3A-3A6M[ pelo que alguns fonemas podem apresentar uma idade de aquisição
inferior à referida na tabela.
Anexos
Anexo 3
Figura 1- Modelo Ataque-Rima para a estrutura interna da silaba.
Ataque: o ataque é preenchido apenas por consoantes. No PE existem três tipos de ataque:
não-ramificado simples (C), como em ‘pé’, não-ramificado vazio (∅) como em ‘_u.va’ ou
ramificado (CC), como em ‘cru’.
Todas as consoantes podem constituir ataque de sílaba, no início ou no meio da
palavra, embora, o /J/, /L/ e /4/ dificilmente surjam em início de palavra (Mateus & d'Andrade,
2000). As maiores restrições ocorrem na formação do ataque ramificado, sendo neste contexto
admitidas as sequências obstuinte+líquida (oclusiva ou fricativa + vibrante [4] ou lateral [l]), por
respeitarem os princípios silábicos (Mateus & d'Andrade, 2000).
Rima: A rima apresenta uma estrutura binária. Pode ser formada apenas pelo núcleo (rima
não-ramificada), que é de preenchimento obrigatório ou pelo núcleo e coda (rima ramificada).

Núcleo: Qualquer uma das 9 vogais orais ou das 5 nasais podem ocupar a posição de
núcleo. Neste caso, designado de núcleo não-ramificado (V). O núcleo ramificado ou
complexo é composto por qualquer um dos ditongos decrescentes (VG).

Coda: é o constituinte silábico que impõe mais restrições ao inventário segmental que
lhe está associado, sendo apenas possível que ocorram os fonemas /s/, /l/ e /4/
(Mateus, et al., 2005). No PE só existem codas não-ramificadas.
Anexos
ANEXO 4
Referência do
estudo
Leonard (1982)
Paul e Jennings
(1992)
Pharr, Ratner et al.
(2000)
Rescorla e Ratner
(1996)
Roberts, Rescorla
et al. (1998)
Beers (1992)
Metodologia
Procedimentos para obtenção
Sujeitos
de corpus
Grupo Experimental – 13 crianças com
Amostra de discurso
PEDL, entre os 2A8M e os 3A4M.
espontâneo: interação
Grupo de Controlo – 13 crianças, com
investigador – criança;
desenvolvimento típico da linguagem,
num estádio precoce do
Tarefa de nomeação,
desenvolvimento fonológico – entre o
induzindo a nomeação dos
1A5M e o 1A10M .
objetos que não foram
referidos espontaneamente.
Grupo experimental: 28 crianças
Amostra de discurso
identificadas com “slow in expressive
espontâneo obtido através da
language development” - SELD,
interação promovida entre a
divididas em dois grupos:
mãe e a criança.
18-23 M;
Transcritos e analisados 10
24-34M;
minutos da gravação.
Grupo de controlo: 25 crianças com
desenvolvimento típico da linguagem,
emparelhadas pela mesma idade
cronológica.
Grupo Experimental – 20 crianças com
Amostra de discurso
PEDL – E, entre os 24 e os 27 meses,
espontâneo obtido através da
à data da primeira avaliação;
interacção promovida entre a
mãe e a criança:
Grupo de controlo – 15 crianças, com
- 2 momentos de
desenvolvimento típico da linguagem,
observação: 24 e 36 meses;
emparelhadas por idade, sexo e nível
- Duração da gravação: 10
socioeconómico.
minutos.
Grupo Experimental – 30 crianças com
Amostra de discurso
PEDL-E, entre os 24-31M;
espontâneo obtido através da
Grupo de controlo – 30 crianças, com
interação promovida entre a
desenvolvimento típico da linguagem,
mãe e a criança.
emparelhadas por idade.
Transcritos e analisados 10
minutos da gravação.
Grupo experimental – 29 crianças
Amostra de discurso
identificadas com o diagnóstico de
espontâneo obtido através da
PEDL-E aos 24-31M no estudo de
interação promovida entre a
Rescola e Ratner (1996) – neste
mãe e a criança.
estudo com 3 anos de idade;
Grupo de controlo – 19 crianças, com
Transcritos e analisados 10
desenvolvimento típico da linguagem,
minutos da gravação.
emparelhadas pela mesma idade
cronológica.
Grupo experimental:
Amostra de discurso
15 crianças, com o diagnóstico de
espontâneo, durante conversa
PEDL, entre os 4-6 anos.
informal ou discurso
provocado pela apresentação
de uma imagem – gravação de
20 minutos.
Transcrição de 100 produções
diferentes.
Anexos
Williams e Elbert
(2003)
Grupo experimental:
5 crianças identificadas como ‘late
talkers’, divididas em dois grupos.
- Grupo mais novo: acompanhado
dos 22M até aos 33M;
-Grupo mais velho: acompanhado
dos 30-31M até aos 40-42M.
Aguilar-Mediavilla,
Sanz-Torrent et al.
(2002)
Aguilar-Mediavilla e
Serra-Raventos
(2006)
Beers (1992)
Bortolini e Leonard
(2000)
Grupos experimentais:
5 crianças com ADL;
5 crianças com PEDL;
Idade: 3A6M - 4A
Grupos de controlo:
5 crianças emparelhadas pela
idade;
5 crianças emparelhadas pela
variável MLU.
Grupo experimental:
5 crianças com PEDL (as mesmas
estudos no estudo de AguilarMediavilla, Sanz-Torrent et
al.,2002) – 4A9M
Grupos de controlo:
5 crianças emparelhadas pela
idade;
5 crianças emparelhadas pela
variável MLU.
Grupo experimental:
15 crianças, com o diagnóstico de
PEDL, entre os 4-6 anos.
Estudo Inglês:
Grupo experimental – 9 crianças
com PEDL, entre os 3A7M e os
5A9M.
Grupo de controlo – 9 crianças,
com desenvolvimento típico da
linguagem, emparelhadas pela
variável MLU e dimensão do
inventário fonético.
Estudo Italiano:
Grupo experimental – 12 crianças
com PEDL entre os 4A1M e os 7A.
Grupo de controlo – 12 crianças,
emparelhadas pela variável MLU e
dimensão do inventário fonético.
Amostra de discurso
espontâneo, obtido a partir de
interação livre entre criançacuidador ou criança-terapeuta:
duração 30-40 minutos;
Tarefa de nomeação de objetos
e itens, para avaliar todas as
consoantes do inglês, em todas
as posições.
Observações mensais.
Palavras extraídas da gravação
do momento de avaliação da
linguagem com o protocolo
AREL.
Gravação de discurso
espontâneo – entrevista
estruturada
Amostra de discurso
espontâneo, durante conversa
informal ou discurso provocado
pela apresentação de uma
imagem – gravação de 20
minutos.
Transcrição de 100 produções
diferentes.
Tarefa de responsive naming,
cuja resposta envolvia apenas
uma palavra ou a construção de
uma frase.
Anexos
Owen, Dromi et al.
(2001)
Maillart e Parisse
(2006)
Fee (1995)
Grupo experimental – 15 crianças
com PEDL, entre os 4A2M e os
6A1M
Grupo de controlo:
15 crianças com desenvolvimento
típico da linguagem, emparelhadas
por valor de MPU (Morphemes per
utterance), entre os 2A8M e
3A11M.
15 crianças, com desenvolvimento
típico da linguagem, emparelhadas
pela idade – 4A4M a 6A1M
Grupo Experimental – 16 crianças
com PEDL. Sub-grupos baseados
na idade e medida de MLU:
- Grupo mais velho: 8A6M (média)
e MLU de 3.7
- Grupo mais novo: 3A11M
(média) e MLU de 2.4
Grupos de controlo emparelhados
por valores de MLU:
Grupo mais velho – 4A (média);
Grupo mais novo – 2A3M.
Grupo experimental – 8 sujeitos
com PEDL, entre os 7 e os 46
anos, pertencentes à mesma
família.
Grupo de controlo – 4 membros da
mesma família, entre os 12 e os
17 anos, com desenvolvimento
normal da linguagem
Discurso provocado a partir da
exploração de 5 histórias:
- Tarefa de responsive naming:
contexto para a produção de um
determinado tempo e forma
verbal.
Gravação de 20 minutos de
discurso espontâneo/provocado:
- estratégias de estimulação do
discurso diferentes consoante
as idades dos sujeitos.
Gravação de discurso
espontâneo, através da
realização de diferentes tarefas.
2 sessões de gravação com
intervalo de 1A6M (só para
alguns sujeitos)
Tabela 4 - Descrição da metodologia dos estudos que se debruçam sobre a análise da componente
17
fonológica em crianças com PLP , apresentados na seção 2.6.
17
De facto, apesar de nos estudos referidos, as crianças do grupo experimental cumprirem os critérios da
PLP (presença de atraso linguístico na ausência de outros défices) tem idades muitos precoces razão
pela qual nem sempre o diagnóstico de PLP possa ser estabelecido com certeza. Estas crianças
apresentam, de facto, um atraso linguístico em fases precoces, contudo pode seguir-se um período de
rápida aquisição linguística, alcançando, normalmente, por volta dos 3 anos o desenvolvimento dos pares.
Os estudos variam na denominação atribuída a esta população (por exemplo, “late talkers”, “specific
expressive language impairment – SLI-E” e “slow expressive language development”). No texto, utilizouse a denominação PLP, com o intuito de homogeneizar as referências ao grupo experimental, facilitando
assim a sua leitura. Independentemente da denominação defendida e adotada pelos autores, a análise
dos resultados deve, nestes estudos, ser prudente e ter em conta os aspetos atrás mencionados.
Anexos
Anexo 5
Diana Inês Costa Domingues
Terapeuta da Fala
Aveiro, 30 de Abril de 2012
Exmo. Senhor Diretor do Agrupamento de Escolas (…),
Estou a frequentar o Mestrado em Ciências da Fala e da Audição, na Universidade de
Aveiro e, no âmbito da Dissertação do Mestrado, estou a desenvolver um projeto, sob
coordenação do Professor Luís Jesus, que pretende avaliar as características fonológicas em
crianças com Perturbação Específica do Desenvolvimento da Linguagem (PEDL), em idade
pré-escolar (4-6 anos).
Deste modo, para a realização deste estudo será necessário efetuar uma avaliação
inicial das competências linguísticas da criança, utilizando, para tal, uma bateria de avaliação
formal - Teste de Avaliação da Linguagem na Criança (TALC) de Sua-Kay e Tavares (2006).
Esta servirá para traçar o diagnóstico diferencial apresentado pela criança, constituindo um
passo essencial, uma vez que, se pretende estudar uma população específica, como a referida
anteriormente.
Junto, em anexo, a apresentação do estudo, já entregue às educadoras dos jardins-deinfância com o intuito de lhe transmitir as informações essenciais à identificação das crianças.
De referir, que será salvaguardada a aprovação da referida avaliação por parte dos
responsáveis legais das crianças, bem como garantida a confidencialidade dos dados
recolhidos e a privacidade do sujeito.
Neste sentido, solicito a Vossa Excelência a autorização para realizar a referida
avaliação.
Agradecendo, desde já, a atenção dispensada, apresento os meus melhores
cumprimentos,
_____________________________________
Diana Domingues
Anexos
Projeto: “Perfil Fonológico de Crianças com Perturbação da Linguagem Primária”
Chamo-me Diana Domingues e estou a frequentar o Mestrado em Ciências da Fala e
da Audição, na Universidade de Aveiro. No âmbito da Dissertação do Mestrado, estou a
desenvolver um projeto, sob coordenação do professor doutor Luís Jesus, que pretende avaliar
as características fonológicas em crianças com perturbação de linguagem, isto é, crianças que
apresentem um défice linguístico, na ausência de fatores que, normalmente, o explicam, como
é o caso de perda auditiva, défices neurológicos ou cognitivos, perturbações emocionais,
comportamentais e/ou interacionais (designado, comummente, o diagnóstico clínico como
Perturbação Específica do Desenvolvimento da Linguagem - PEDL).
Este diagnóstico é feito, portanto, com base em critérios de exclusão e inclusão,
constituindo fatores de exclusão, como já referido, a existência de:

Alteração da estrutura oral;

Perda auditiva;

Alterações cognitivas;

Problemas emocionais;

Fatores ambientais prejudiciais;

Lesão neurológica ostensiva;
Apesar de se tratar de uma população heterogénea, existem algumas características
linguísticas e comportamentais que poderão estar presentes, pelo que o seu conhecimento
poderá ajudar na identificação de crianças com este diagnóstico. A referir:
Nível Linguístico:

Produção tardia das primeiras palavras (2/3 anos);

Aquisição lenta de vocabulário;

Tendência para utilizar a expressão não-verbal (como por exemplo gestos ou
expressão facial) de forma preferencial ou simultânea à fala;

Alterações fonológicas (dificuldades de consciência fonológica, diversos erros
na produção das palavras, o que contribui para um discurso ininteligível);
Nível Comportamental:

Evitam atividades comunicativas;

Têm baixa autoestima;

Têm pouca tolerância à frustração (birras frequentes);

Dependem dos outros como tradutores;

Imaturidade social (cumprimento de regras).
Anexos
Esta resposta comportamental poderá ser explicada pela discrepância existente
entre aquilo que pretendem comunicar e aquilo que realmente conseguem expressar (surgindo,
nestas situações, normalmente, a frustração e as birras). Por outro lado, a consciência,
presente nalgumas destas crianças, das suas limitações comunicativas, leva-as a assumir um
perfil passivo em atividades comunicativas (preferem não falar, optando por brincadeiras que
envolvam mais a expressão motora/corporal, a expor as suas dificuldades em frente aos
pares). Para a realização deste trabalho de investigação, pretende-se avaliar crianças com
perturbação de linguagem, sendo esta proeminente na componente fonológica, em idade préescolar (entre os 4A0M e os 6A0M). Estas crianças podem apresentar um discurso ininteligível,
pela ocorrência de diferentes processos fonológicos, isto é, a presença de erros ao nível da
produção de fala (omissão, substituição ou adição de sons ou classes de sons).
As crianças que participarão no estudo serão alvo de uma avaliação audiológica,
psicológica (avaliação do Q.I. não verbal) e linguística, que possibilitará traçar de forma precisa
o seu diagnóstico diferencial. Os dados para o estudo serão obtidos pela gravação em áudio,
da produção da criança, de um corpus constituído por palavras isoladas e discurso contínuo.
Importa referir, que a participação neste estudo não envolve custos, e será
garantida a confidencialidade dos dados recolhidos e a privacidade do sujeito.
A motivação deste trabalho prende-se, essencialmente, com a escassez de
estudos para o Português Europeu que investiguem as características fonológicas na
população referida. Alguns estudos confirmam que a componente fonológica é, de entre as
áreas da linguagem, a mais afetada em muitas destas crianças. Neste sentido, este estudo
pretende ser um contributo para um melhor conhecimento do desenvolvimento fonológico nesta
população, contribuindo, consecutivamente, para uma melhor avaliação e diagnóstico desta
entidade nosológica.
Deste modo, venho solicitar a sua preciosa colaboração na obtenção da amostra
necessária para efetuar este estudo. Neste sentido, se conhecer ou acompanhar alguma
criança com as referidas características, agradecia que me contactasse, para que de forma
mais pormenorizada possamos trocar informações e esclarecimentos. Informo que a minha
disponibilidade é total para responder a qualquer esclarecimento ou dúvida que surja, o que
poderá fazer através do contacto: [email protected]
Agradeço, desde já, a sua atenção e colaboração,
Os melhores cumprimentos,
___________________________________________
(Diana Domingues)
Anexos
ANEXO 6
DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO
Considerando a “Declaração de Helsínquia” da Associação Médica Mundial
(Helsínquia 1964; Tóquio 1975; Veneza 1983; Hong Kong 1989; Somerset West 1996; Edimburgo 2000; Washington 2002; Tóquio
2004; Seoul 2008)
Children’s Speech and Language Databases
(Bases de Dados de Fala e Linguagem na Criança)
Eu,
abaixo-assinado,
_____________________________________________________________,
pela
criança,
responsável
___________________________________________,compreendi
a
explicação que me foi fornecida acerca do seu caso clínico e da
investigação que se tenciona realizar, bem como do estudo em que será
incluída. Foi-me dada oportunidade de fazer as perguntas que julguei
necessárias, e de todas obtive resposta satisfatória.
Tomei conhecimento de que, de acordo com as recomendações da
Declaração de Helsínquia, a informação ou explicação que me foi prestada
versou os objetivos, os métodos, os benefícios previstos, os riscos potenciais e o
eventual desconforto. Além disso, foi-me afirmado que tenho o direito de
recusar a todo o tempo a sua participação no estudo, sem que isso possa ter
como efeito qualquer prejuízo na assistência que lhe é prestada.
Eu compreendo que os resultados do estudo podem ser publicados em
revistas
científicas,
apresentados
em
conferências
e
usados
noutras
investigações, sem que haja qualquer quebra de confidencialidade. Portanto,
dou autorização para a utilização dos dados para esses fins.
Por isso, consinto que lhe seja aplicado o método, o tratamento ou o inquérito
proposto pelo investigador.
Data: ____ / _________________ / ____
Assinatura do Responsável pela criança:
__________________________________________________
O Investigador responsável:
Nome: Diana Inês Costa Domingues
Assinatura:
Anexos
ANEXO 7
Profissão
do pai
Profissão
da mãe
PC
Grupo 7
Grupo 4
BA
Grupo 7
Grupo 7
Terapia
da Fala
Sim,
desde
Outubro/1
1
Sim,
desde os
3 anos
História familiar
de alterações de
linguagem e fala
História pré
e peri-natal
Sim. Primo em 2º
grau.
Pré-termo
(36
semanas)
Sim. Tios
maternos.
Parto
provocado
História
médica
Sem
informação
relevante
História de
internamen
to por
infeção na
bexiga
RP
Grupo 7
Grupo 9
Sim,
Sim. Irmão e primo. Gravidez de
Ocorrência
desde os
risco. Sem
de otites
3 anos
outras
(episódios
alterações
há mais de
um ano)
RS
Grupo 7
Grupo 7
Sim,
Sim, um primo.
Sem
Ocorrência
desde
informação
de otites
Abril/12
relevante
(episódio
há 6
meses)
MP
Grupo 2
Grupo 2
Sim,
Não.
Sem
Sem
desde
informação
informação
Março/12
relevante.
relevante.
VN
Grupo5
Desempregada
Não
Primos
Administração
Ocorrência
maternos (em
da vacina da
regular de
3º grau)
rubéola antes
otites
de engravidar.
(episódio há
menos de 3
meses)
Tabela 5 - Principais dados recolhidos na anamnese para as 6 crianças identificadas pela
autora do estudo.
Nota: A profissão dos pais foi classificada com base na Classificação Nacional das Profissões
proposta pelo Instituto Nacional de Estatística, nomeadamente:
 Grupo 1 – quadros superiores da administração pública, dirigentes e quadros
superiores de empresas
 Grupo 2 – especialistas das profissões intelectuais e científicas
 Grupo 3 – técnicos e profissionais de nível intermédio
 Grupo 4 – pessoal administrativo e similares
 Grupo 5 – pessoal dos serviços e vendedores
 Grupo 6 – agricultores e trabalhadores qualificados da agricultora e pesca
 Grupo 7 – operários, artífices e trabalhadores similares
 Grupo 8 – operadores de instalações e máquinas e trabalhadores de montagem
 Grupo 9 – trabalhadores não qualificados
Anexos
ANEXO 8
3A – 3A6M
3A6M – 4A
4A – 4A6M
4A6M – 5A
Masc.
Fem.
Masc.
Fem.
Masc.
Fem.
Masc.
Fem.
TOTAL
POR
REGIÃO
Viana do
Castelo (01)
0
1
1
2
1
0
1
2
8
Vila Real (02)
0
0
0
1
0
2
1
1
5
Porto (03)
4
4
3
3
3
4
4
4
29
Aveiro (04)
6
6
3
3
4
4
4
4
34
Viseu (05)
2
0
4
2
1
1
1
0
11
Coimbra (06)
4
4
2
2
3
2
0
3
20
Castelo
Branco (07)
2
2
2
2
2
2
2
2
16
Lisboa (08)
4
4
3
3
4
4
4
4
30
Setúbal (09)
3
4
3
3
3
4
4
3
27
Évora (10)
0
0
1
2
2
2
2
2
11
Faro (11)
0
0
1
2
2
0
2
1
8
Açores (12)
1
1
3
1
1
1
1
0
9
Madeira (13)
3
3
3
3
3
3
3
3
Total por
sexo/faixa
etária
29
29
29
29
29
29
29
29
Total por
faixa etária
24
232
58
58
58
58
Tabela 6 – Caracterização das crianças integradas no grupo de controlo, por região, sexo e faixa
etária.
Anexos
ANEXO 9
Palavra
Fone Alvo
Estrutura Silábica Alvo
Peras
pe46S#
"CV-CVC#
Sapato
s6patu#
CV-"CV-CV#
Jipe
Zip1#
"CV-CV#
Televisão
t1l1viz6~w#
CV-CV-CV-"CVG#
Rato
Ratu#
"CV-CV#
Pente
pe~t1#
"CV-CV#
Cabelo
k6belu#
CV-"CV-CV#
Faca
fak6#
"CV-CV#
Bola
bOl6#
"CV-CV#
Dedo
dedu#
"CV-CV#
Balde
bald1#
"CVC-CV#
Gato
gatu#
"CV-CV#
Água
agw6#
"V-CGV#
Café
k6fE#
CV-"CV#
Vassoura
v6so46#
CV-"CV-CV#
Chapéu
S6pEw#
CV-"CVG#
Caixa
kajS6#
"CVG-CV#
Peixe
p6jS1#
"CVG-CV#
Chave
Sav1#
"CV-CV#
Zebra
zeb46#
"CV-CCV#
Mesa
mez6#
"CV-CV#
Janela
Z6nEl6#
CV-"CV-CV#
Queijo
k6jZu#
"CVG-CV#
Cama
k6m6#
"CV-CV#
Nariz
n64iS#
CV-"CVC#
Telefone
t1l1fOn1#
CV-CV-"CV-CV#
Unha
uJ6#
"V-CV#
Carro
kaRu#
"CV-CV#
Comer
kume4#
CV-"CVC#
Lua
lu6#
"CV-V#
Sol
sOl#
"CVC#
Olho
oLu#
"V-CV#
Tabela 7a – Palavras do TFF-ALPE ((Mendes, et al., 2009)
Anexos
Brincar
b4i~ka4#
CCV-"CVC#
Cobra
kOb46#
"CV-CCV#
Três
t4eS#
"CCVC#
Quatro
kwat4u#
"CGV-CCV#
Prato
p4atu#
"CCV-CV#
Soprar
sup4a4#
CV-"CCVC#
Frango
f46~gu#
"CCV-CV#
Gravata
g46vat6#
CCV-"CV-CV#
Tigre
tig41#
"CV-CCV#
Dragão
d46g6~w#
CCV-"CVG#
Vidro
vid4u#
"CV-CCV#
Creme
k4Em1#
"CCV-CV#
Livro
liv4u#
"CV-CCV#
Planta
pl6~t6#
"CCV-CV#
Bicicleta
bisiklEt6#
CV-CV-"CCV-CV#
Flor
flo4#
"CCVC#
Porco
po4ku#
"CVC-CV#
Porta
pO4t6#
"CVC-CV#
Gordo
go4du#
"CVC-CV#
Carne
ka4n1#
"CVC-CV#
Força
fo4s6#
"CVC-CV#
Formiga
fu4mig6#
CVC-"CV-CV#
Garfo
ga4fu#
"CVC-CV#
Alto
altu#
"VC-CV#
Almofada
almufad6#
VC-CV-"CV-CV#
Calças
kals6S#
"CVC-CVC#
Colchão
kolS6~w#
CVC-"CVG#
Polvo
polvu#
"CVC-CV#
Hospital
OSpital#
VC-CV-"CVC#
Pesca
pESk6#
"CVC-CV#
Pasta
paSt6#
"CVC-CV#
Estrela
1St4el6#
VC-"CCV-CV#
Escrever
1Sk41ve4#
VC-CCV-"CVC#
Ponte
po~t1#
"CV-CV#
Umbigo
u~bigu#
V-"CV-CV#
Tabela 7b – Palavras do TFF-ALPE ((Mendes, et al., 2009)
Anexos
ANEXO 10
Figura 2 - Exemplo de anotação da palavra “cabelo”( [k6belu], primeiro nível), produzida pela
informante BA, como [bE4u] (segundo nível). O terceiro nível (CV-“CV-CV#) e quarto nível (“CVCV#), representam a estrutura silábica alvo e a produzida pela criança, respetivamente.
Outros símbolos utilizados no processo de anotação:



“#”, que em todos os níveis indica o final de uma palavra;
“…” que significa omissão, quando colocadas nos níveis de produção por parte da
criança, e inserção, quando colocadas nos níveis de anotação dos alvos corretos. Este
símbolo neste nível significava, então, que a criança produzia algum fone/estrutura
silábica não presente no modelo adulto (alvo).
“?” representa um fone ou estrutura silábica ininteligível.
Anexos
ANEXO 11
Figura 3 – Exemplo de folha de Excel (integrante da Ferramenta para Análise Fonológica
Automática v.0.2.00) utilizada para o cálculo do parâmetro PCC por modo de articulação.
Figura 4 – Exemplo de folha de Excel (integrante da Ferramenta para Análise Fonológica
Automática v.0.2.00) utilizada para o cálculo do parâmetro PVC.
Nota: Todos os parâmetros foram calculados com base em fórmulas construídas para o efeito,
de forma a tornar automático o cálculo das diferentes variáveis. Em baixo encontra-se um
exemplo da fórmula utilizada para calcular o item “Vogal Correta”:
=SE(E(B190="a";A190="a");1;SE(E(B190="i";A190="i");1;SE(E(B190="u";A190="u");1;"")))&SE(
E(EXACTO(B190;"e");EXACTO(A190;"e"));1;SE(E(EXACTO(B190;"E");EXACTO(A190;"E"));1;
SE(E(EXACTO(B190;"o");EXACTO(A190;"o"));1;SE(E(EXACTO(B190;"O");EXACTO(A190;"O")
);1;SE(E(EXACTO(B190;"6");EXACTO(A190;"6"));1;SE(E(EXACTO(B190;"1");EXACTO(A190;"
1"));1;""))))))
ANEXO 12
Grupos
PCC <
50%
Sujeitos
Idade
INVENTÁRIO FONÉTICO
INVENTÁRIO SILÁBICO
M.P.
3A7M
/p, t, k, b, d, m, n, v/
V, CV, CGV/CVG
V.N.
3A8M
/p, t, b, m, n, v, l, 4/
V, CV, CGV/CVG
A.D.
4A2M
/p, t, k, b, d, m, v, s, S, l, R\/
V, CV, CVG/CGV
T.M.
4A11M
/p, t, k, b, d, g, m, n, f, s, S, v, Z, l, L/
V, CV, CVG/CGV
R.S.
5A1M
/p, t, k, b, d, g, m, n, S, v, l, L, R\/
V, CV, CVG/CGV
A.M.
5A4M
/p, t, k, b, m, v/
V, CV
B.A.
5A10M
/p, t, k, b, d, g, m, n, f, s, S, v, 4, R\/
V, CV, CVG/CGV, CVC
A.P.
6A3M
/p, t, k, b, d, g, m, f, s, v, l/
V, CV
F.P.
6A3M
/p, t, k, b, d, m, n, f, s, v, L/
V, CV
J.C.
6A5M
/p, k, b, g, m, n, J, v, R\/
V, CV, CVG/CGV
D.M.
6A7M
/p, t, k, b, m, n, J, f, s, S, v, L/
V, CV, CVG/CGV
PCC >
M.R.
4A
/p, t, k, b, d, g, m, n, J, f, s, S, l, R\/
V, CV, CVG/CGV
50%
M.S.
4A
/p, t, k, b, d, g, m, n, J, f, s, S, v, l, 4/
V, CV, CVG/CGV, CVC
C.A.
4A2M
/p, t, k, b, d, g, m, n, J, f, s, S, v, l/
V, VC, CV, CVG/CGV, CVC
R.F.
4A9M
/p, t, k, b, d, g, m, n, J, f, s, S, v, l, R\/
V, CV, CVG/CGV, CVC
R.P.
4A10M
/p, t, k, b, d, m, n, J, f, s, S, v, l, L, 4, R\/
V, VC, CV, CVG/CGV, CVC, CCV
L.A.
5A2M
/p, t, k, b, d, g, m, n, J, f, s, S, v, z, Z, l, 4, R\/
V, CV, CVG/CGV, CVC, CCV
D.G.
5A3M
/p, t, k, b, d, g, m, n, J, f, s, S, v, l, L, 4/
V, VC, CV, CVG/CGV, CVC
R.M.
5A4M
/p, t, k, b, d, m, J, f, s, S, v, l, R\/
V, CV, CVG/CGV, CVC
P.C.
6A6M
/p, t, k, b, d, g, m, n, f, s, S, v, z, Z, l, 4, R\/
V, VC, CV, CVG/CGV, CVC
Tabela 8 – Inventário fonético consonantal e silábico das crianças com PLP, divididas pelos subgrupos PCC <50% e PCC> 50%, ordenados por ordem
crescente de idade.
ANEXO 13
Grupo de Controlo
[3A-3A6M[
[3A6M-4A[
PVC
97,03 (4,04)
97,86
PCC
84,67 (10,34)
84,66
[4A-4A6M[
Grupo de estudo
[4A6M-5A[
98,18 (1,62)
98,57
90,69
(7,73)
92,59
95,11
(7,11)
98,41
PCC < 50%
PCC > 50%
61,28
(20,85)
57,04
84,69
(8,49)
87,68
29,07
(11,87)
23,53
61,32
(8,12)
59,89
Tabela 9 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à PVC e PCC,
para cada grupo homogéneo.
Grupo de Controlo
[3A-3A6M[
Oclusivas
[3A6M-4A[
[4A-4A6M[
Grupo de estudo
[4A6M-5A[
PCC < 50%
82,79
(12,05)
81,82
Nasais
80,95
97,91 (4,62)
99,32 (2,30)
31,97 (17,80)
(13,36)
100,00
100,00
28,57
85,71
Fricativas
87,42
91,61
54,80
95,88 (7,58)
19,65 (16,23)
(11,93)
(10,06)
(16,33)
100,00
15,91
91,11
95,56
56,82
Laterais
35,56
65,91 (30,71)
82,50 (21,07)
7,27 (9,84)
(17,40)
75,00
90,00
0,00
40,00
Róticos
67,66
86,00
13,80
50,96 (34,67)
3,86 (7,18)
(32,94)
(26,02)
(13,22)
45,45
0,00
80,31
96,97
6,06
Tabela 10 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à
percentagem de produção correta de consoantes “oclusivas”, ”nasais”, ”fricativas”, “líquidas” e
“róticos”, para cada grupo homogéneo.
98,68 (3,22)
100,00
47,19
(16,27)
42,67
PCC > 50%
ANEXO 14
Percentagem
Tukey HSD
a,,b
Subset
Variáveis
N
1
2
3
4
Róticos
232
Laterais
232
Fricativas
232
Nasais
232
98,6147
Oclusivas
232
98,6828
Sig.
63,8932
74,2026
92,6987
1,000
1,000
1,000
1,000
Means for groups in homogeneous subsets are displayed.
Based on observed means.
The error term is Mean Square(Error) = 330,568.
a. Uses Harmonic Mean Sample Size = 232,000.
b. Alpha = 0,05.
Tabela 11 – Grupos formados pelo método Tukey, para o modo de articulação das consoantes no
grupo de controlo.
Pares de comparações
PCC < 50%
PCC > 50%
Oclusivas – Nasais
punilateral= 0,012
Nasais – Fricativas
p=0,444
punilateral=0,004
p= 0,172
p=0,116
p= 1,000
punilateral=0,024
Fricativas - Laterais
Laterais - Róticos
p= 1,000
Tabela 12 – p-values obtidos nos testes de U-Mann Whithney, com correção de Bonferroni,
empregues para comparação dos diferentes modos de articulação de consoantes, no grupo de
estudo.
ANEXO 15
Figura 5 - Caixas de bigodes relativas às percentagens de produção correta dos diferentes
padrões silábicos – V, CV, CVG/CGV, VC, CVC, CCV e CCVC, para os grupos de estudo (a
cores) e de controlo (em tons de cinza).
ANEXO 16
Percentagem
Tukey HSD
a,,b
Subset
Variáveis
N
1
2
3
4
CCV
232
55,9537
CCVC
232
60,4883
CVC
232
VC
232
V
232
94,1082
CV
232
96,6858
CVG/CGV
232
98,0366
Sig.
74,1689
81,9828
,197
1,000
1,000
,362
Means for groups in homogeneous subsets are displayed.
Based on observed means.
The error term is Mean Square(Error) = 411,993.
a. Uses Harmonic Mean Sample Size = 232,000.
b. Alpha = 0,05.
Tabela 13 – Grupos formados pelo método Tukey, para o modo de articulação das consoantes, no
grupo de controlo.
Pares de comparações
V – CV
CV – CVG/CGV
CVG/CGV – VC
VC – CVC
CVC – CCV
CCV – CCVC
PCC < 50%
PCC > 50%
p=1,00
p=1,00
p=1,00
p=1,00
p unilateral=0,000
p unilateral =0,000
p=1,00
p=1,00
p=1,00
p unilateral=0,048
p=1,00
p unilateral=0,042
Tabela 14 – P-values obtidos nos testes de U-Mann Whithney, com correção de Bonferroni,
empregues para comparação dos diferentes padrões silábicos, no grupo de estudo.
ANEXO 17
Figura 6 – Caixas de bigodes relativas às percentagens de produção correta dos diferentes
formatos de palavra – mono, di, tri e polissilábicas, para os grupos de estudo (a cores) e de
controlo (em tons de cinza).
ANEXO 18
Percentagem
Tukey HSD
a,,b
Subset
Variáveis
N
1
2
Polissilábicas
232
Monossilábicas
232
95,6901
Trissilábicas
232
95,7759
Dissilábicas
232
Sig.
3
69,2888
99,3793
1,000
1,000
1,000
Means for groups in homogeneous subsets are displayed.
Based on observed means.
The error term is Mean Square(Error) = 183,123.
a. Uses Harmonic Mean Sample Size = 232,000.
b. Alpha = 0,05.
Tabela 15 – Grupos formados pelo método Tukey, para o fator formato de palavra, no grupo de
controlo.
Pares de comparações
PCC < 50%
PCC > 50%
Monossilábicas – Dissilábicas
p= 1,00
Dissilábicas – Trissilábicas
P unilateral=0,036
punilateral=0,000
p= 0,303
P unilateral=0,000
Trissilábicas - Polissilábicas
p= 1,00
Tabela 16 – p-values obtidos nos testes de U-Mann Whithney, com correção de Bonferroni,
empregues para comparação dos diferentes formatos de palavra, no grupo de estudo.
ANEXO 19
Figura 7 – Caixas de bigodes relativas às percentagens de ocorrência dos diferentes processos
fonológicos de substituição de consoantes, para os grupos de estudo (a cores) e de controlo (em
tons de cinza).
ANEXO 20
Grupo de Controlo
[3A-3A6M[
SUBST
VOGAIS
[3A6M-4A[
[4A-4A6M[
Grupo de estudo
[4A6M-5A[
PCC < 50%
PCC > 50%
17,23
10,45
(10,20)
(11,66)
17,91
5,97
DESNAS
41,41
17,28
0,53 (2,37)
VOGAIS
(23,36)
(19,33)
0,00
44,44
22,22
Tabela 17 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à
percentagem de ocorrência dos processos fonológicos de substituição de vogais, para cada grupo
homogéneo.
1,18 (1,88)
0,00
ANEXO 21
Figura 8 – Caixas de bigodes relativas às percentagens de ocorrência dos diferentes processos
fonológicos de estrutura silábica, para os grupos de estudo (a cores) e de controlo (em tons de
cinza).
ANEXO 22
Grupo de Controlo
[3A3A6M[
[3A6M-4A[
ASSIMIL
REGR
ASSIMIL
PROGR
[4A-4A6M[
Grupo de estudo
[4A6M-5A[
0,08 (0,41)
0,00
0,22 (0,56)
0,00
0,04 (0,24)
0,00
PCC < 50%
PCC > 50%
4,89 (8,98)
2,99
0,50 (0,75)
0,00
2,58 (3,07)
1,49
0,83 (1,32)
0,00
Tabela 18 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à
percentagem de ocorrência dos processos fonológicos de assimilação, para cada grupo
homogéneo.
ANEXO 23
Grupo de Controlo
[3A3A6M[
[3A6M4A[
[4A4A6M[
Grupo de estudo
[4A6M5A[
PCC <50% (N=11)
N*
Post.
1
PCC> 50%
(N=9)
N*
6,99
1,28
(10,29)
6
(1,93)
3
3,85
0,00
Post.
9,57
0,04 (0,42)
0,00
2
(11,35)
6
0
0,00
(0,00)
4,56
Post.
8,44
11,11
0,15 (1.55)
3
(7,01)
8
(20,24)
3
0,00
7,14
0,00
Subst.
7,54
1,96
0,02 (0,35)
Atip.
(12,20)
4
(5,88)
1
0,00
0,00
0,00
OGC
7,18
1,75
0,07 (0,60)
(7,17)
7
(5,26)
1
0,00
5,26
0,00
OCI fri
19,57
7,51
0,06 (0,70)
(13,64)
9
(9,53)
4
0,00
16,00
0,00
OCI
9,09
6,67
0,12 (1,32)
nas
(7,01)
8
(8,66)
4
0,00
10,00
0,00
[3A6M[3A[4APCC <
PCC >
[4A6M-5A[
4A[
3A6M[
4A6M[
50%
50%
OCI
0,23
22,97
19,60
0,02 (0,20)
ocl
(0,76)
(25,68)
10
(25,98)
5
0,00
0,00
14,29
12,50
Tabela 19 - Média, desvio-padrão (entre parêntesis) e mediana (a cinzento) relativa à
percentagem de ocorrência dos processos fonológicos atípicos/idiossincráticos, para cada grupo
homogéneo.
0,07 (0,50)
0,00
*- Número de crianças, de cada subgrupo, que produziram o processo fonológico.
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