VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA VERSUS DESVIO FONOLÓGICO Tatiane da Silva Vieira (ICV), Loremi Loregian-Penkal (Orientadora – Dep. de Letras/UNICENTRO) e-mail: [email protected] Palavras-chave: variação lingüística, desvio fonológico, caracterização, diferenças. Resumo: Trata-se de uma investigação sobre o que são variação lingüística e desvio fonológico, indicando de que forma tais processos interferem nas relações interpessoais. Além disso, a pesquisa analisou em que consistem os dois casos em termos de alterações fonoaudiológicas. Pudemos, ainda, averiguar quais dos dois casos mais são constatados na Clínica Escola de Fonoaudiologia da Unicentro. Introdução Segundo Tarallo (1997), em toda comunidade existem variações lingüísticas na fala e a isso se dá o nome de “variantes”. O autor conceitua as variantes lingüísticas como sendo muitas maneiras diferentes para se dizer a mesma coisa, estando num mesmo contexto e tendo, com isso, um mesmo valor de verdade. Esse conjunto de variantes recebe o nome de "variável lingüística". As variáveis lingüísticas acontecem pela influência social, cultural e intelectual que ocorrem em determinada língua, se tornando universais ou não, podendo ser adquiridas pelas crianças no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem ou depois pela influência do meio social em que vivem. O desvio fonológico é apresentado pela criança no período de aquisição dos fonemas e no desenvolvimento da linguagem, não sendo encontrada para ele nenhuma etiologia orgânica ou problemas de articulação, mas sim de organização do sistema fonológico (Oliveira e Oliveira, 2004; Mota, 1998). O presente trabalho teve início frente às dificuldades em se diferenciar a variação lingüística do desvio fonológico, as mesmas que se mostram tanto em escolas (aspecto de alfabetização, aquisição e desenvolvimento da escrita) como em clínica fonoaudiológica (processos terapêuticos). Com base nisso, surge o interesse em aprofundar meu conhecimento em que seria realmente variação lingüística e desvio fonológico. Para tanto, fui buscar conhecimentos embasados na lingüística e na fonoaudiologia. Materiais e Métodos O estudo se realizou na Clínica Escola de Fonoaudiologia da Unicentro, com a interpretação e análise dos prontuários sobre os casos de desvios fonológicos e variações lingüísticas - encaminhados por escolas da rede municipal e estadual da cidade de Irati/PR e região. A investigação desses prontuários teve como principal objetivo a obtenção de dados de características e etiologia dos desvios fonológicos, a verificação da existência de encaminhamentos de crianças que tivessem variações lingüísticas, quais os critérios de encaminhamento foram adotados e saber se realmente existiu algum critério para isso. Foram utilizados 7 dos 25 prontuários analisados, de crianças entre 5 e 8 anos de idade, que tinham como hipótese diagnóstica o desvio fonológico. Descartamos os prontuários que não apresentavam o mesmo padrão de informações e também os que não utilizaram para a coleta de dados o instrumento proposto por Yavas, Hernandorena e Lamprecht (2001). A análise e interpretação dos dados coletados visaram esclarecer e verificar se realmente existe diferenciação entre variação lingüística e desvios fonológicos para uma posterior análise da necessidade de orientação e esclarecimento de dúvidas de educadores, terapeutas, bem como da população em geral, se necessário. Resultados e discussão Não foi encontrado em nenhum dos prontuários caso que fosse identificado como variação lingüística e nem informações de hipóteses da existência dos mesmos. Isso pode ter ocorrido por falta da própria análise dos tipos de “erros e acertos” da criança, pelo instrumento de análise não prever a análise sociolingüística ou, então, pela falta dessa observação durante o contato com os pais, fato que iria auxiliar muito na análise do possível desvio fonológico. O instrumento utilizado observa processos fonológicos, traços distintivos, se o inventário fonético da criança está completo e como tem sido sua utilização durante a fala da criança. Notou-se que, de todas as crianças analisadas, nenhum inventário fonético estava completo, com ênfase para a aquisição das líquidas laterais, líquidas nãolaterais e fricativas. Observou-se também que a maioria das crianças analisadas utiliza-se, principalmente, dos seguintes processos fonológicos: semivocalização de nasal, líquida lateral, líquida não-lateral; apagamento de líquida intervocálica, líquida inicial, líquida final, lateral e não-lateral; dessonorização de plosiva palatal, plosiva bilabial, fricativa bilabial, fricativa palatal e obstruinte fricativo; posteriorização de fricativa palatal e plosivas; anteriorização de fricativa velar; substituição de líquida não-lateral e nasal; apagamento de líquida lateral e não–lateral. Notou-se que desses processos fonológicos, nenhum ocorreu isolado e assim, como afirma a literatura, a incidência foi em conjunto de dois ou mais processos e isso aconteceu com todas as crianças analisadas. Uma questão levantada é quanto aos processos relatados por Yavas, Hernandorena e Lamprecht (2001), que afirmam que todos os processos acontecem em crianças na fase de aquisição da linguagem, mas os processos comumente encontrados em crianças com desvios fonológicos são: nasalização de líquida; africação; desafricação; plosivisação de líquida; semivocalização de nasal. No entanto, como podemos notar acima, foram na maioria encontrados outros tipos de processos fonológicos, observando um caso apenas dos mais comuns em desvios fonológicos: o de semivocalização de nasal. Conclusões Com isso, podemos concluir que todas as crianças analisadas utilizam processos fonológicos e não têm o inventário fonético completo, precisando, portanto, de reabilitação fonoaudiológica. Mas o que se questiona é até onde o instrumento utilizado na coleta dos dados pode trazer um resultado fidedigno? Pergunta-se isso pelo fato de que não é levada em consideração, por tal instrumento proposto pela literatura, a questão sociolingüística da criança no momento da avaliação e isso deixa o resultado no mínimo duvidoso, pois a criança pode acabar fazendo uma substituição de líquida lateral por uma líquida não-lateral como, por exemplo, na palavra sol --> /sor/ e ser considerado um desvio fonológico. No entanto, isso poderia se constituir em um dialeto vindo do grupo social em que a criança convive. Referências MOTA, H.B. Terapia fonoaudiológica para os desvios fonológicos, Rio de Janeiro: Revinter, 2001. OLIVEIRA, J.T.N.; OLIVEIRA, Z.S.B. Desvio fonético X Desvio fonológico: Algumas considerações. Jornal Brasileiro de Fonoaudiologia, 2004. 5(20): 172-176. TARALLO, F. A pesquisa sociolingüística, São Paulo: Ática, 1997. YAVAS, M.; HERNANDORENA, C.L.M. e LAMPRECHT, R.R. Avaliação fonológica da criança - Reeducação e terapia. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.