A Economia Global, a Nova Organização e o RH Estratégico. Alguns fatores condicionam atualmente a gestão das empresas obrigando-as a pensar e a agir em paradoxos. Vamos analisar primeiro quais são tais fatores e depois tentaremos mostrar a necessidade de planejar e operacionalizar ações dentro de uma lógica de paradoxos. Hoje existe uma competição global, (e também acordos comerciais e alianças estratégicas), entre EUA, Mercado Comum Europeu, Japão e China, envolvendo inúmeros outros países como Índia, Coréia do Sul, Rússia, Brasil, África do Sul, bem como outras nações. Novos competidores estão entrando na cena mundial como os antigos países da Europa Oriental, que estavam na órbita da antiga União Soviética. O novo sistema financeiro, com seus mecanismos de investimento e de negociação está presente nas inúmeras fusões e aquisições. Cada vez mais se percebe o respeito pela diversidade e pelas necessidades psicológicas e motivacionais dos colaboradores das grandes organizações e também dos seus clientes. Busca-se criar uma nova organização que incentive a participação em programas de governança corporativa, a qual envolve resultados econômicos, responsabilidade social e também gestão do meio ambiente. Surgiram novas redes de comunicação como a Internet, a intranet e a videoconferência que aproximam pessoas distantes em um tempo cada vez mais reduzido. Esta tecnologia provoca um processo decisório ágil, próximo à demanda do cliente, delegação de tarefas e empowerment e também a ocorrência de estruturas matriciais. Devido a estes fatores mencionados, a chave do sucesso empresarial está baseada numa abordagem da administração que não ignore a existência de contradições e incertezas e a existência de paradoxos. Ou seja, os executivos competentes deverão lidar com os paradoxos que influenciam o desenvolvimento, a ação e a transformação contínua de suas empresas. Após as colocações anteriores, vamos descrever cinco paradoxos que permeiam a gestão moderna das empresas: - Primeiro Paradoxo: Mudanças positivas exigem boa dose de estabilidade; quando se realiza uma transformação devem ser identificadas fontes críticas de estabilidade, como cultura, comunidade, visão estável, missão, estratégia, e competências básicas. Mudanças intensas exigem elementos de estabilidade. Se os mesmos não existirem a mudança vira ação tumultuada e confusa. - Segundo Paradoxo: Para construir uma empresa é preciso focar o indivíduo; para criar uma organização complexa e/ou global deve-se reconhecer que o desempenho coletivo tem como base o desempenho individual. Deve-se atentar para a maioria, para o coletivo, otimizando o desempenho do conjunto, maximizando, porém o potencial de cada elemento do todo. - Terceiro Paradoxo: A cultura deve ser focada de forma direta e não indireta; entende-se hoje a importância da cultura e a forte alavancagem obtida quando comportamentos e decisões sustentam consistentemente a estratégia da organização. A cultura de uma empresa é forte determinante do comportamento dos colaboradores e das decisões que são tomadas. A cultura, por sua vez depende de um trabalho contínuo sobre elementos como: liderança, visão, estratégia, medidas de desempenho, estrutura, práticas adotadas e contexto competitivo. - Quarto Paradoxo: A verdadeira delegação de poderes requer liderança firme: sem liderança consistente, dirigida e objetivando um fim, o empowerment não ocorrerá. Observa-se o surgimento de um modelo interativo de liderança, que depende mais do poder de influência e da capacidade de motivar do que do comando e do controle, baseado em respeito mútuo, alicerçado numa comunicação eficaz. Assim, deve-se conciliar necessidade crescente de liderança firme com o instinto de liberdade e de iniciativa de cada pessoa. Este novo modelo de gestão e liderança também pressupõe a existência de colideranças numa equipe ou num projeto. A razão é simples: vivemos na Sociedade do Conhecimento e num mundo científico e tecnológico que demanda diferentes formações educacionais, diversas experiências profissionais e múltiplas competências. - Quinto Paradoxo: Para construir é preciso demolir: sempre imaginamos que o que construímos tem estabilidade e vai durar para sempre; no entanto, as forças que impelem as organizações a mudarem hoje são tão fortes que muitas soluções e modelos criados no passado já não funcionam. Fica claro que a organização criada, adequada para pouco tempo atrás, não irá resistir à competição crescente e terá que se adaptar e mudar. Assim é preciso conscientizar o que é preciso demolir para construir algo novo. A conclusão possível é que, no novo cenário de negócios, a mudança contínua é uma necessidade. A melhor forma de conduzi-la passa por uma lógica de paradoxos que deve ser utilizada na análise dos elementos que compõem uma transformação organizacional. Temos que trabalhar, concomitantemente, fatores como: modelos de negócio, estratégia, estrutura organizacional, estilos de liderança, delegação e empowerment. Temos ainda de implementar: medidas de avaliação de potencial e desempenho, aperfeiçoamento da cultura organizacional, tecnologia da informação, e focar e motivar o colaborador individualmente e não só como membrode uma equipe ou de uma área de trabalho. Em resumo, todas estas ações pressupõem uma boa administração geral, mas também uma criativa Gestão de Pessoas e um RH estratégico focado no negócio. Ugo Barbieri Membro do Grupo de Excelência em Administração de Pessoas do CRA-SP.