SALA DE AULA
O modo de aprender e
o jeito de ensinar
Docentes tendem a não avaliar sua prática
A
Por A nd ré Dor nel l e s P a re s
prendemos de algum modo o
que sabemos. Quando temos
que ensinar, será da mesma
maneira pela qual aprendemos? Assuntos despercebidos como esses no cotidiano de qualquer um
se tornam fundamentais na vida profissional
de um professor. Pois na especificidade de
sua profissão está justamente o fazer aprender – por meio do ato de ensinar.
O quanto será que do modo de aprender do professor está na sua maneira de
ensinar? Seja o quanto for, funcionará
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pedagogicamente? Este foi o mote de uma
pesquisa recentemente realizada dentro da
Rede Sinodal de Educação. O objetivo do
estudo era conhecer e compreender como
o professor aprende para então estabelecer
relações possíveis com seu jeito de ensinar.
O grupo de pesquisa, formado por cinco
professoras e duas estudantes da Faculdade
IENH (Instituição Evangélica de Novo
Hamburgo) e ISEI (Instituto Superior de
Educação Ivoti), ambas pertencentes à Rede
Sinodal de Educação, partiu de uma observação específica para produzir o estudo.
Chamou a atenção das pesquisadoras que,
mesmo considerando a característica histórica da Rede Sinodal em investir sistematicamente na formação continuada dos professores, eram perceptíveis apenas discretas
mudanças na sua prática em sala de aula. Daí,
o problema que norteou os trabalhos de pesquisa: descobrir como a forma de aprender
interfere no jeito de ensinar do professor.
Participaram da pesquisa professores de
anos finais do Ensino Fundamental de seis
instituições da Rede Sinodal de Educação, o
que correspondeu a 162 docentes. Embora
os dados reunidos até agora sejam apenas
uma amostragem, as pesquisadoras puderam
Pesquisa
mostrou que
professores não
estabelecem
relação entre
o seu modo de
aprender e o
de ensinar
inferir algumas questões. Entre elas está a entendam bem como o
percepção de que os professores, em geral, aluno aprende e, conparticipam de processos internos de capaci- sequentemente, não
tação docente, mas não os enxergam como atentem à relevância
formação continuada: eles tendem a valori- disto no processo de
zar mais os eventos realizados fora do seu ensino.
local de trabalho.
Licenciaturas e
Também se percebe, segundo a equipe
de pesquisa, que a maioria dos professores equipes pedagógicas
A professora Lara
não estabelece relação entre o seu modo
de aprender e o de ensinar. Ao contrário, Sayão leciona para
tendem a avaliar, naturalmente – embora ex- futuros professores na
clusivamente –, os resultados do aluno, e não Universidade Católica
a influência da sua prática na aprendizagem de Petrópolis/RJ e
do estudante. Isto é, se os resultados forem para diversas turmas de ensino médio em
bons, sua prática é considerada satisfatória; escolas da cidade. Em trânsito permanente
se não, na maioria das vezes, o problema é nos dois extremos – entre aqueles que estão
aprendendo para ensinar, nos cursos de lido aluno.
Uma conclusão possível da amostra é a de cenciatura; e aqueles que estão aprendendo,
que ainda não se tem, entre os docentes de no ensino médio –, ela diz que é urgente
educação básica, uma cultura da avaliação voltar o olhar da academia para a formação
dos processos, já que a informação colhida docente “para que entreguemos à sociedade
foi a de que a maioria dos professores pes- pessoas preparadas para o ensino”. Segundo
quisados tende a não avaliar sua prática. a professora, não existe problema de defasaSem poder identificar possíveis falhas, não gem se os professores seguem ensinando do
haveria como se dar conta de que, em alguns modo como aprenderam, pois não há tecnocasos, é preciso mudar a metodologia de logia que torne o ensino mais significativo;
ensino. Isso fica mais claro quando a pes- “o que o torna significativo é o sentido. Há
quisa mostra que quase todos os entrevista- que se pensar a educação na perspectiva do
dos não sabem explicar como seu modo de encontro que altera o ser do outro, e isso não
aprendizagem interferiria no seu jeito de depende de novos recursos, mas da abertura
ensinar. Por isso, talvez, os professores não às possibilidades de diálogo significativo
entre o sujeito e o conhecimento”, afirma. Se os futuros
professores aprenderem tal
prática na sua formação, ensinar do modo como aprenderam provavelmente não
deverá ser um problema.
Em consonância, a assessora pedagógica da direção
da Rede Metodista de
Educação do Sul, no Colégio
Americano, de Porto Alegre,
Maria Lipinski, afirma que
o modo de aprender influencia, sim, na maneira de ensinar do professor,
e lembra que a prática docente não se dá
apenas com os saberes acadêmicos, específicos de cada área de conhecimento, mas que a
identidade do professor é formada por implicações dos saberes existenciais que ele acumulou na sua vida, bem como o cotidiano de
sala de aula. Para ela, “esta identidade inclui
as ações do currículo oculto (dentre as quais
está a personalidade do professor) que refletem em suas atitudes e ações em aula, e que
são de fundamental importância no processo
de ensino-aprendizagem e na construção do
conhecimento”.
Quanto ao papel das equipes pedagógicas
dentro desse processo, a assessora pedagógica tende a concordar com as observações das
pesquisadoras de que é preciso valorizar iniciativas inovadoras e incentivar projetos de
trabalho na escola. Segundo ela, às direções
cabe a incumbência de criar espaços para
mudanças, inovando currículos, estruturas e
aprimorando a formação continuada, não somente com equipamentos tecnológicos – que
fazem parte da mudança e são a realidade dos
estudantes –, mas também por meio da provocação à reflexão, individual ou coletiva (de
preferência), promovendo o diálogo, como
sugere, por fim, o grupo de pesquisa.
SAIBA MAIS
Professores valorizam mais eventos realizados fora da instituição
Confira na página on-line da
Educação em Revista uma
reflexão sociológica sobre a
aprendizagem em sociedade.
Saiba mais em: www.sinepe-rs.
org.br
Educação 13
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