CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLíNICA LINGUAGEM ALFABETIZAÇÃO - UM PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DISCUSSÃO SOBRE O USO DA LETRA CURSIVA Márcia Regina Schweling Scala SÃO PAULO 1997 CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA LINGUAGEM ALFABETIZAÇÃO - UM PROCESSO DE INTEGRAÇÃO Discussão sobre o uso da letra cursiva “MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LINGUAGEM ” MÁRCIA REGINA SCHWELING SCALA RESUMO O objetivo do presente trabalho foi estudar o desenvolvimento do grafismo infantil desde uma fase tida como primitiva , dentro do Nível Pré -Silábico , até atingir o Nível Alfabético com a finalidade de encontrar um momento adequado para a passagem da letra tipo “bastão” ( “palito”) para a letra cursiva . RESSOAM OS SINOS Admira a beleza , defende a verdade , venera a nobreza , escolhe a bondade ! Assim é que o homem será conduzido às metas na vida ; aos retos caminhos na hora em que age ; à paz , quando sente ; à luz , quando pensa ; e aprende a confiar na regência divina de tudo o que há no vasto Cosmo , no fundo d’alma . Rudolf Steiner Agradeço aos meus filhos Camila , Maíra e Raphael por todo carinho e compreensão . E ainda , às professoras Cida , Ana , Regina e Marisa por toda coleta de dados . SUMÁRIO I - INTRODUÇÃO II - DISCUSSÃO TEÓRICA III - PESQUISA IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS V - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS I - INTRODUÇÃO : ` A escola, nos últimos anos, foi bastante atingida pelas inovações nos campos da ciência e da tecnologia . Muitas teorias acerca de aprendizado e do desenvolvimento cognitivo avançaram , trazendo consigo a reformulação dos métodos educacionais . Além disso , os computadores chegaram às escolas , dinamizando o ensino e promovendo uma reavaliação do papel do educador , passando ainda a serem utilizados como mais uma opção de ferramenta de trabalho e , um recurso adicional na aquisição de conhecimentos . Nesse contexto , interessei-me em averiguar como estava transcorrendo a adaptação da escola à essa nova realidade , especificamente , a fase de alfabetização , que sem dúvida alguma , é um marco na vida da criança . Foi a partir de uma polêmica levantada nas escolas e em revistas especializadas , acerca da introdução da letra cursiva em escolas ditas sócio-construtivistas que tive que ampliar os horizontes dessa questão para poder entender o que estava ocorrendo com as escolas e com as crianças. Para que pudesse compreender a realidade escolar precisei aprofundar meus conhecimentos acerca de desenvolvimento infantil ,dos métodos educacionais , e questões mais amplas , porém ìntimamente relacionadas ao aprendizado e à aquisição de conhecimentos . Ao retroceder no tempo e encarar a escola pude constatar que o ensino era encarado pelos educadores como uma questão de método , com um conjunto de materiais , técnicas e procedimentos visando finalidades muito definidas , com atividades para o professor e para o aluno (Kato ,1984) ficando o aluno relegado a um plano inferior . A visão de alfabetização era a de um processo mecânico , onde a aprendizagem era encarada como ocorrendo de “fora para dentro” , como resposta aos estímulos provenientes do meio . E ainda , vista como um processo técnico no qual o fator tempo era tido como importante para a avaliação do método .Quanto melhor o método , mais rapidamente a criança aprende (Gnerre , 1983) . A mesma filosofia de trabalho era utilizada indiscriminadamente para as mais diversas regiões , abrigando os mais variados tipos de clientela . O conteúdo e a forma do que era ensinado para as crianças de regiões urbanas era também aplicado às crianças de áreas rurais . Como resultado ocorriam altos índices de problemas escolares culminando , muito freqüentemente , com evasão escolar . Nos locais que dispunham de mais recursos financeiros e sociais , os casos eram individualmente estudados e as crianças eram encaminhadas para profissionais especializados . Ocorria que nos anos que se sucediam novos casos apareciam . Muitos estudos foram desenvolvidos para tentar identificar os fatores que levavam às dificuldades no aprendizado . Inicialmente , atribuiu-se ao aluno dificuldades específicas que iam de problemas que eram rotulados de imaturidade , atenção , memória , alterações perceptuais chegando a justificativas sócio- econômicas . Os estudiosos foram gradualmente levantando uma série de possibilidades , e em associação com os estudos relativos a como ocorria o processo de aquisição de conhecimentos pelos indivíduos normais , chegou -se à possibilidade de questionar a forma e o conteúdo do que era ensinado nas escolas. A Gramática Gerativa de Noam Chomsky , teoria lingüística que dá ênfase a aspectos sintáticos , foi determinante na psicolinguística contemporânea , pois teve poderoso impacto na psicologia levando esta a adotar essa nova teoria como ponto de partida para provar a realidade psicológica . A concepção de aprendizagem , coincidente com a concepção sustentada por Piaget , acabou por determinar mudanças nos campos da Psicologia , Lingüística , Neuropsicolínguística , Educação e Fonoaudiologia . Muitas questões relativas ao desenvolvimento cognitivo , aprendizagem , linguagem e pensamento foram reformuladas , e conceitos importantes foram aprofundados , estabelecendo-se inter- relações entre eles . Com isso , a realidade escolar precisou ser revista . O aprendizado passou a ser visto não apenas como um acúmulo linear de informações retidas na memória (Gnoni ,1981) e sim passou a encarar o indivíduo como um ser ativo e pensante , construtor do próprio processo de aquisição de conhecimentos . Nesse processo pode ser incluído o de aquisição de leitura e escrita , que mantém a interdependência de muitos fatores dentre eles o social , o cultural , o pedagógico , o econômico e também , o desenvolvimento cognitivo (Rego,1985) . O processo inicia-se desde o nascimento com conquistas graduais de habilidades motoras, perceptuais , cognitivas ingresso na escola e portanto , anteriores ao . No decurso desse desenvolvimento desenvolvendo a capacidade de elaborar a criança “teorias explicativas” mundo que a rodeia , fazendo uso de estruturas mentais e vai acerca do desenvolvendo elaborados esquemas de ação (Ferreiro et alii ,1979 ) . Portanto , a criança muito antes de receber a instrução formal para ler e escrever já teve determinado o inicio do processo de aquisição dos componentes necessários para a realização dessas atividades . Possui estruturas mentais diferenciadas e, seus próprios caminhos para determinar a realidade e, desenvolvendo gradativamente suas hipóteses sobre o sistema de escrita . Mediante esta ótica , a aquisição do conhecimento passou a ser vista como fundamentada na interação entre a criança e o objeto a ser conhecido , implicando numa postura bastante ativa por parte dela . O trabalho de Ferreiro e colaboradores (l982), utilizado como referencial , compreende uma série de três fascículos onde são consideradas a leitura e a escrita de crianças que cursam o seu primeiro ano em escolas de zonas de alta porcentagem de fracasso na fase inicial tida como alfabetizante , no México . Neste , os autores tentam elucidar os motivos que levam ao fracasso escolar . Dentre esses fascículos, o II é o que nos interesse pois são analisadas as escritas dessas crianças . Utiliza resultados da psicolinguística atual e da teoria psicológica e epistemológica de Piaget como marco de referência, tentando mostrar como as crianças constróem diferentes hipóteses de escrita antes de chegarem a compreender a base do sistema alfabético . Analisa os níveis de conceitualização de crianças de quatro a seis anos , antes de ingressarem na escola primária , e a inter relação entre esse desenvolvimento e o processo de aquisição de leitura e escrita . Constatou a existência de um padrão evolutivo que vai da primeira concepção sobre a linguagem escrita, até o seu uso efetivo, caracterizado por quatro níveis : Pré-silábico,Silábico, SilábicoAlfabético e Alfabético . Tais níveis ocorrem para todas as crianças , que por suas características individuais , atingem cada estágio em idades diferenciadas . Sugere a duração média de dois meses e meio em cada estágio . O meu interesse ao evidenciar as questões acima é caracterizar o contexto em que ocorre tal processo , considerando um fato importante : as crianças tomadas como referencial para este trabalho , apresentam uma realidade diferente das crianças citadas na pesquisa pois são de um nível sócio-econômico cultural médio , ingressam na escola por volta de dois anos e meio , estabelecendo já uma relação formal com a mesma . De acordo com a filosofia educacional adotada pelo estabelecimento são preparadas para o processo de alfabetização . Em decorrência desse ingresso precoce , acabam sendo estimuladas a interagir com o grafismo mais exaustivamente , possibilitando a emergência das fases mencionadas por Ferreiro em momentos anteriores . Dessa forma , precisarei fazer menção ao desenvolvimento do grafismo , partindo de uma fase tida como primitiva dentro do nível pré-silábico , atingindo uma fase designada como alfabética , para tentar entender , por que numa visão sócio construtivista existe alguma dificuldade por parte das escolas para escolher o momento adequado de introduzir o uso da letra cursiva no processo de alfabetização . Tentarei desenvolver um trabalho de revisão bibliográfica que possa orientar-nos quanto à possível existência de um momento que favoreça a introdução da referida letra . Para tal , foi realizado um levantamento de temas relacionados aos processos de evolução do grafismo , a partir de uma fase mais primitiva, percorrendo o caminho que leva a criança a perceber as características , valor e função da escrita , enquanto objeto de conhecimento . Tomando por base a experiência de quatro educadores de três escolas diferentes que adotam a filosofia do sócio-construtivismo com experiência em alfabetização , e que iniciam as crianças no uso de letra cursiva em fases diferentes do processo de alfabetização , procuro na literatura o que justifique o uso , as vantagens e desvantagens em qualquer uma dessas fases , citadas pelos educadores Além disso , foram analisadas crianças as produções gráficas de . cinquenta e três de dois a seis anos , cursando o período pré-escolar que vai do maternal ao pré II , a fim de atualizar os dados referentes à evolução do grafismo e ,ainda , mais dez crianças cursando a primeira série. As crianças consideradas estão numa faixa etária de dois a sete anos e seis meses , não apresentam déficit cognitivo , alterações psicoemocionais , problemas de aprendizagem e nem problemas de desenvolvimento ou de integridade neuromotora . O objetivo básico ao consultar os educadores foi tentar entender o que ocorria nos diferentes grupos . Em um a letra cursiva era introduzida no jardim , em outro no pré e no último na primeira série . Considerando-se as diferentes fases de um mesmo processo , existiria um momento que fosse mais adequado para processar a transferência ? O meu interesse pelo tema surgiu após muitos anos de atendimento clínico , voltado para área escolar . Muitas vezes, as escolas detectavam alguma alteração de fala , problemas perceptuais ou de coordenação que pudessem comprometer a alfabetização e, encaminhavam para a avaliação . Em outros momentos , encaminhavam crianças com os mais diversos problemas de aprendizagem seja durante o processo de alfabetização ou posterior a ele, muitas vezes tendo dificuldade para separar uma dificuldade conceitual de uma questão de transcodificação de letras . Com isso, pude ir me familiarizando com a realidade escolar e,acompanhar o que ocorreu com as escolas a partir da divulgação dos trabalhos de Ferreiro e colaboradores (1985 ). A princípio, a maior parte das escolas fazia uso de métodos de alfabetização que num primeiro momento, priorizavam atividades de coordenação motora , e perceptuais , visuais e auditivas , para , a seguir , iniciar um processo de codificação e decodificação . Como se a primeira etapa fosse um preparo para a segunda . E nós , fonoaudiólogos , acabávamos por avaliar e prescrever procedimentos terápicos segundo a mesma filosofia . A partir de Ferreiro e colaboradores , passamos a enxergar o desenvolvimento da leitura e da escrita sob uma nova ótica , priorizando o aspecto conceitual . Muitas escolas , gradualmente , foram modificando os seus métodos e adequando os profissionais para a nova realidade . Porém , a eficácia dessa filosofia educacional implica num conhecimento mais aprofundado sobre o desenvolvimento infantil , principalmente , com visão mais aprofundada sobre os trabalhos de Piaget , teórico no qual fundamenta-se o trabalho de Ferreiro e colaboradores . Além disso, é necessário trazer e aplicar na realidade escolar os novos conhecimentos adquiridos nas áreas afins como a lingüística , psicologia , neuropsicolinguística de modo a prover os professores da bagagem intelectual necessária para a condução de um processo tão importante quanto é a alfabetização . Tal fato implica em reciclagem de profissionais , muito compromisso com o trabalho e um rompimento com o passado , prática esta muito difícil de ser atingida. Como resultado , temos várias abordagens educacionais , de uma mesma filosofia , com prejuízo para a criança e muita angústia para os pais . Diante de alguns questionamentos por parte de orientadores escolares e da necessidade de encontrar respostas mais precisas acerca do desenvolvimento do grafismo , do uso da letra cursiva e de muitas outras questões referentes à alfabetização interessei-me por avaliar o uso da referida letra nas escolas ditas sócio-construtivistas . Ao questionar educadores a respeito de sua introdução e uso , obtinha as mais inusitadas respostas . De acordo com a escola , o professor introduz a referida letra em diferenciadas fases do processo .Os profissionais que introduzem mais tardiamente alegam que existe complexidade no traçado , que devemos respeitar o desenvolvimento visual e motor , levantando ainda a dificuldade imposta mediante o domínio de relações de tamanho (maiúscula e minúscula) bem como , a irregularidade diante do uso da linha (nem sempre permanecem sobre a linha) . Os que introduzem o uso mais precocemente, alegam que nós é que temos algumas visões pré-concebidas sobre o que possa causar dificuldades para a criança ; que elas apresentam grande capacidade para lidar com signos e têm especial motivação por fazer uso da mesma forma de escrita utilizada pelos pais . Para minha surpresa , nenhum profissional consultado fez menção quanto ao fato de estarmos diante do processo conceitual que é a leitura e a escrita , sendo portanto , mais importante que a criança entenda o valor , a função e as características deste objeto cultural (Contini Jr, ) do que a forma (tipo de letra) que ela possa vir a assumir . importante e real questão Portanto , parece existir uma outra que é a distância entre a teoria e a prática educacional. Ao considerar a escrita como uma capacidade de representar idéias com formas gráficas e a letra como um recurso instrumental da leitura e da escrita, acredito que a passagem da letra Bastão para a letra cursiva deve fundamentar-se: 1-) Nas supostas habilidades cognitivas que permitem à criança lidar com muitos signos, apresentados segundo uma única forma desde as fases iniciais do processo de alfabetização . Deve ser primeiro enfatizar o completo conhecimento dos mecanismos envolvidos na leitura e na escrita para , finalmente , efetuar a transcodificação para a cursiva ; 2-) Que devemos fazer diferenciação do processo de escrita enquanto processo conceitual de um processo de escrita motora , podendo estimular o uso de ambas as formas desde que o contexto o possibilite e que este de uso fique claro para o educador e para criança ; 3-) O uso da letra bastão pode ser estendido até a fase de elaboração de narrativas , pela simplicidade que oferece . A transferência de uso de letra pode implicar em perda temporária na velocidade de codificação com algumas quebras no conteúdo das narrativas mas , são alterações rápidamente superadas pela criança. Dessa forma , se a criança atingir o completo conhecimento dos mecanismos da leitura e da escrita no período pré -escolar , a partir de então , a transferência torna-se viável .Se tal fato ocorrer no primeira série , o mesmo procedimento de transferência deve ser adotado . II - DISCUSSÃO TEÓRICA Ao abordar o tema referido , torna-se inevitável a compreensão da natureza e função do sistema de escrita abordado por Ferreiro e Teberosky(1986) como também indispensável a compreensão Piagetiana que aborda a natureza e o desenvolvimento do ato de pensar . Embora Piaget não tenha feito uma reflexão sistemática sobre o tema da leitura e escrita , encontramos em diversos textos referências quanto ao tema em questão . No geral , de tal teoria podemos abstrair uma teoria geral dos processos de aquisição de conhecimentos , que se aplicam à nossa finalidade. Em sua teoria , Piaget conceitua desenvolvimento como sendo os mecanismos gerais do ato de pensar , pertencente à inteligência no seu sentido mais amplo e completo . O desenvolvimento geral da inteligência é espontâneo e é a base sobre a qual repousa qualquer tipo de aprendizado específico . O aprendizado é tido como dirigido e só se torna possível se a criança tiver os mecanismos necessários que a possibilitem relacionar as informações contidas nele . Dessa forma , o aprendizado depende da capacidade geral de relacionar fatos específicos , de maneira significativa . O segundo princípio de Piaget diz respeito à interação entre a hereditariedade , a maturidade psicológica e o ambiente de modo a possibilitar o desenvolvimento e , o próprio desenvolvimento da inteligência . Segundo o autor , esses fatores estão subordinados a um mecanismo regulador de crescimento situado dentro da própria inteligência ( “Fator de Equilíbrio “) . Além disso , coloca a importância do uso de atividades que estimulem e conduzam a criança a fazer uso de comportamentos de Alto Nível , pois estes levam-na a comportamentos abertos , críticos , inteligentes e responsáveis . Por este comportamentos entende-se como sendo uma forma mais elaborada de comportamento em relação à fase de desenvolvimento em que se encontra a criança (Furth e Wasch,1989). Para Piaget , o pensamento (ou inteligência ) está presente nas ações , nas percepções , nas imagens , na linguagem , e pode ser aplicado a todas as extensões da área de interesse . Afirma que o ser humano apresenta uma motivação interna de busca do saber e , que desenvolve os seus próprios mecanismos de recompensas . Em seu trabalho algumas abordagens conceituais devem ser enfatizadas : Aprendizado ocorre através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo e com isso construindo categorias de pensamento ao mesmo tempo que organiza o seu mundo . O conhecimento objetivo não ocorre de forma linear , com a somatória de experiências mas sim através de grandes reestruturações globais ; os estímulos não atuam diretamente sobre o indivíduo mas sim que são transformados pelos esquemas de assimilação e ,é somente através dessa interpretação que a conduta do sujeito se faz compreensível ; concepção de aprendizagem conhecimento , supõe entendida como processo de aquisição de que existem processos de aprendizagem que não dependem do método .O método , enquanto ação do meio , pode ajudar , frear , facilitar ou dificultar , porém não criar aprendizagem . A compreensão Piagetiana é operatória pois entende que para haver compreensão de um objeto de conhecimento deve existir a possibilidade do sujeito reconstruir esse objeto , por ter compreendido quais são suas leis de composição . Em sua teoria , Piaget descreve sucessivos estágios de desenvolvimento que iniciam a partir do nascimento e vão se sucedendo até a adolescência . Não ocorrem meramente através de um aumento de conhecimentos (aprender) mas sim , do desenvolvimento das estruturas de pensamento (desenvolver ) respeitando a variações individuais . Tais estágios não são delimitados de forma rígida , pois apresentar transição . características o final de um estágio pode do estágio subsequente , tidos como fases de Tendo por base o foco deste trabalho , abordarei os Períodos Pré - Operatório e Operatório , lembrando que as fases que anteriores ( Período Sensório -Motor e fase de Transição ) foram de importância absoluta para a emergência e construção das estruturas mentais que possibilitaram à criança organizar as experiências através da ação e, que a possibilitarão evoluir no processo de simbolização e de representação de imagens . O Período Pré - Operatório é longo o que faz com que muitos autores o dividam em duas fases : uma dos 2 aos 5 anos e outra dos 5 aos 7 anos . É nesta fase que temos o desenvolvimento da função semiótica . Para Piaget , a função semiótica é uma forma diferenciada de prosseguir as ações sensório-motoras iniciais . A linguagem , o jogo simbólico , a imitação diferida , a imagem mental e a expressão gráfica envolvem a referida função . Na posse dela , a criança é capaz de usar significante diferenciados , sejam estes símbolos individuais ou sinais sociais . A escrita também é um objeto simbólico,um substituto (significante ) que representa algo . Desenho e escrita tidos como substitutos materias de algo evocado são manifestações posteriores da função semiótica mais geral , O jogo simbólico emerge com formas evolutivas de condutas , iniciando a partir de uma conduta de transição aonde ocorre uma forma de imitação mas ainda sem atingir uma condição de simbolismo total . Passando assim por uma conduta simbólica , propriamente dita , em que algo experênciado pela criança é representado através de ações e culminando com os jogos com regras , estágio em que ao imitar comportamentos ou ações começa a estabelecer normas . Nessa fase , a do jogo com regras , a criança está com cerca de 6/7 anos está lidando com noções de causa /efeito pois antecipa as brincadeiras , combina regras , onde a noção de reversibilidade deve estar estabelecida . desenvolver Como reversibilidade , entende-se a capacidade da criança um esquema , chegar ao final do mesmo e poder retornar à situação inicial . A reversibilidade tende a auxiliar tarefas de categorização permitindo à criança uma avaliação mais pormenorizada do todo e sua composição em partes , retornando ao todo através das partes . Tal processo , espera-se estar maduro por volta de sete anos , tendo reflexos importantes na construção da escrita . Nesse Período Pré-Operatório , a linguagem desenvolve-se muito , ocorrendo grande aumento de vocabulário e de estruturação frasal . As suas ações ainda estão muito presentes mas gradualmente elas vão sendo acompanhadas pela linguagem , até chegar a um ponto onde a linguagem é que passa a ser acompanhada das ações . É considerado um Período Intuitivo pois age sobre o mundo sem verbalizar as justificativas que a levaram a assumir um dado comportamento . Nessa fase ocorre a sistematização e a estabilidade de muitas noções relacionadas aos objetos ,tendo como referência o sujeito . As experiências são formalizadas ou seja , depois de experienciar passa a se aventurar a descobrir como as coisas acontecem , ficando observável o sentido de causa . Além disso , evolue de um egocentrismo para um comportamento mais social , passando a querer partilhar as suas experiências . Existe ainda , uma evolução quanto a classificação e seriação havendo uma sofisticação nesses processos .Da interseção de categorias é que se estabelecem classes diferentes . É através da maleabilidade da criança perceber que pode combinar arranjos de diferentes formas , de acordo com o que lhe é solicitado ( cores , formas , tamanhos , funções ,...) que , mais tarde , passará a ter a mesma maleabilidade para lidar com os signos , letras e números . Passa a trabalhar não só com as diferenças como com a semelhanças e , com ambas . Na seriação , vivencia as relações de tamanho e , vai estabelecendo relações entre os objetos . É uma fase muito importante pois , é nela que ocorre o preparo para a alfabetização. Tudo aquilo que ela representou através da linguagem oral e de desenhos , assume novas formas quando lida com essa nova representação. Antes do ingresso no Período Operatório , passará por uma fase de transição em que estabelece relações como por exemplo uma criança que organiza os grafemas segundo critérios de espaço e de tempo , fazendo uma extensão para as palavras . Além disso , realiza operações básicas de adição e subtração que repercutem na escrita . No Período Operatório a criança passa a dissociar a ação da expressão oral ; passa do conceito falado ao conceito escrito e , lida com operações matemáticas . Após ter visto o que está ocorrendo em termos cognitivos e suas implicações passarei a colocar quais são os caminhos que as crianças percorrem para compreender o uso de nosso sistema de escrita , até o efetivação do processo . Tal fato implica em salientar as habilidades da criança sob uma ótica evolutiva , fazendo uso de estágios progressivos enfocando o desenvolvimento natural das estratégias por parte do aprendiz . A fim de possibilitar a melhor compreensão da evolução da escrita , passarei a discorrer sobre a visão tida como histórica e coincidente para a maioria dos lingüistas . Segundo estes , a primeira tentativa histórica do homem se comunicar na forma gráfica foi através do pictograma . Os pictogramas foram se tornando estilizados dando origem aos ideogramas passaram a ter e estes , por sua vez uma relação arbitrária com o objeto ou com o conceito representado . Dessa forma , o ideograma além de representar um objeto ou conceito , passa a representar a palavra que representa esse objeto ou conceito , passando com isso a ter um estatuto de símbolo de segunda ordem (Contini , 1985 ) . A fonetização dos pictogramas ocorreu com os hieróglifos que inicialmente eram pictográficos e se desenvolveram em direção ao sistema silábico . Alguns símbolos foram adaptados para representar sons individuais (consoantes /vogais) , surgindo o sistema alfabético (Cagliari ,1995). Nos trabalhos desenvolvidos por Ferreiro e Teberosky bem como no de Kato (1984) , ocorre o estabelecimento de relações entre a visão histórica desse sistema com o desenvolvimento da escrita infantil . Segundo estes autores , a criança percorre na construção da escrita o mesmo caminho percorrido pelos seus ancestrais . Tal visão é partilhada e ampliada por Gelb (1981) , quando coloca que este um desenvolvimento é mais natural do ponto de vista psicológico , pois o primeiro passo para a análise de uma palavra é dividi-la em seus componentes silábicos , para depois atingir-se o componente sonoro . Segundo Ferreiro, a alfabetização é a construção de um objeto conceitual , o qual é um conceito de natureza complexa , cuja apropriação requer um processo de longa duração ou vários anos . Esse processo progressivo de elaboração denomina-se psicogênese da alfabetização e se constitue na seqüência crescente de níveis de complexidade de compreensão que o sujeito vivencia em direção à silabação, leitura e escrita . Assim , o conhecimento desses níveis que caracterizam o núcleo da psicogênese da alfabetização é um auxiliar importante para a organização das atividades didáticas numa perspectiva científica . Os níveis são quatro : Pré-Silábico ,Silábico , Silábico Alfabético e Alfabético . Encontram-se no Capítulo II do fascículo e encontramse assim caracterizados (Ferreiro ,1982): No nível Pré- Silábico , a característica básica é que a construção de escrita não ocorre pela correspondência grafia e som , e sim por outros tipos de considerações. A criança descobre que o desenho e a escrita não a mesma coisa ; faz uso de sinais gráficos na tentativa de reproduzir letras ; varia a ordenação linear dos elementos gráficos na escrita . Tenta fazer diferenciações entre as escrita através de critérios intrafigurais atribuindo a necessidade de uma quantidade mínima de letras e , variação no uso de caracteres e , interfigurais onde as letras não tem valor em si mesmas . No nível Silábico ,a criança procura efetuar uma correspondência entre grafia e sílaba , geralmente fazendo uso de uma grafia para cada sílaba (p.25) .Nesta fase o processo de análise fonética começa a trazer reflexos na escrita , passando a ter relações com as propriedades sonoras das palavras . Ela passa ainda , a dispender maior atenção às características sonoras dos significados , a estabelecer uma relação entre a quantidade de letras e de partes que se reconhece na palavra , associando uma letra a uma parte (sílaba) . No nível Silábico -Alfabético , coexistem duas formas de fazer corresponder sons e grafias : a silábica e a alfabética . É a fase em que algumas grafias representam silabas e outras representam fonemas sendo portanto o “ passo intermediário entre os dois sistemas de escrita “ ( p.30) . Nessa fase a criança compreende que uma só letra pode não ser suficiente para representar as sílabas , fazendo uso do processo de análise fonética de uma forma mais pormenorizada . No nível Alfabético , a escrita é organizada segundo a correspondência entre grafias e fonemas . Ocorre uma sistematização das descobertas envolvendo as relações entre as propriedades sonoras e as letras que representam os sons . Considerando a caracterização de fases da evolução do grafismo elucidada por Ferreiro , uso da citação de Zorzi ao considerar a fase de pré letramento abrangendo as fases pré -silábica , silábica e a silábica -alfabética ; a fase de letramento como sendo a alfabética , seguida do pós letramento . O passo seguinte será elucidar de modo mais pormenorizado essas fases de pré - letramento para poder compreender a evolução do grafismo . Diante da necessidade de estudar a fase Pré - Silábica farei uma explanação sobre duas formas de categorização encontradas na literatura especializada : uma de Ferreiro (1982) e outra de Contini (1985) .O estudo feito por Contini ( 1983 ) , considera uma amostragem de 72 crianças de uma escola da rede particular de ensino de São Paulo . As crianças pertenciam ao nível Pré -escolar assim distribuídas : maternal (2 a 3 anos ) , jardim (3 a 4 anos) , Pré I ( 4 a 5 anos ) e Pré II (5 a 6 anos) . A escola adota um modelo tradicional de ensino e, seu objetivo era estudar como as crianças em idade pré escolar concebem o nosso sistema de escrita tomando por base os estudos de Emília Ferreiro e colaboradores (1982). Os estudos de Ferreiro (1982) e de Contini (1985) diferem quanto à forma de abordar as etapas do desenvolvimento da escrita em fase pré-escolar . Contini (1985) refere que as etapas que ocorrem no período pré-silábico não são tão discretas quanto foram conceituadas por Ferreiro (1982) mas , que elas podem se apresentar superpostas . Tal fato foi evidenciado por Ferreiro e colaboradores (1982) somente para o nível silábico-alfabético . Além disso , no trabalho de Contini (1985) existe o estudo de uma faixa etária de 2 a 5 anos e , portanto podendo apresentar fases de desenvolvimento anteriores às citadas por Ferreiro (1982) que trabalhou com crianças de 4 a 6 anos . Em sua classificação Contini (1985) inicia fazendo uma classificação mais pormenorizada das formas de grafismo , por acreditar que existem formas diferentes que vão evoluindo e vão demonstrando progressos na representação . O primeiro tipo de grafismo é executado com rabiscos indecifráveis , esses por sua vez vão evoluindo através da descoberta por parte da criança da direção da escrita . Além disso , executa seus escritos variando a quantidade e o tamanho dos movimentos , simulando movimentos ondulatórios . Insere uma nova categoria denominada “Escrita Pictográfica” , posterior ao grafismo primitivo , justificando a sua inserção por ser históricamente a primeira tentativa do homem comunicar-se de forma gráfica . Não chegou a observar coexistência entre escrita primitiva e pictográfica pois esta última exige maior controle na sua elaboração . Tal fato atesta ainda , que as crianças ao perceberem a direção da escrita estão mais aptas a desenvolverem atividades de escrita que necessitem de maiores habilidades de coordenação motora fina . Adotou a nomenclatura de “Escrita Ideográfica” em substituição à nomenclatura de “Escrita Unigráfica “ utilizada por Ferreiro (1982) com a finalidade de estabelecer uma relação histórica e também , por encontrar evidências de tentativas por parte da criança de diferenciar suas escritas através da variação da grafia empregada , não ocorrendo o uso de uma mesma grafia para palavras diferentes (cf. Ferreiro et.alii , 1982 :20) , o que poderia levar a uma confusão com “Escrita fixa “. As demais categorias são coincidentes com as adotadas por Ferreiro . O quadro I reflete a forma categorizada por Ferreiro (1982) quanto ao Nível Pré -Silábico . As categorias que são citadas ocorrem segundo uma ordem que é observável no desenvolvimento infantil , O quadro II coloca a classificação de Contini (1985) seguida de gráficos que elucidam a ocorrência de tipos de representações gráficas e a correlação com as faixas etárias . Quadro I -Demonstrativo do Nível Pré -Silábico (Ferreiro - 1982 ) Categorias Subcategorias A1 Grafismos Primitivos A A2 Unigráficas Escritas controle Predomínio de rabiscos e pseudo-letras .Desenvolvem procedimentos para diferenciar escritas.Utilização de grafias convencionais é um intento para a criança . Utilização de uma única grafia para cada nome(quantidade constante ).Pode ser a mesma grafia ou uma diferente . Escritas A3 Características Chega ao limite da folha de papel a sua sem sucessão de grafias. de qualidade B Escritas fixas A mesma série de letras numa mesma ordem serve para diferentes nomes. Predomínio de grafias convencionais . C1 As grafias utilizadas aparecem na mesma Repertório Fixo c/ ordem , porém com quantidade quantidades diferentes . variável C2 Quant. Cte.c/repertório fixo parcial Algumas grafias aparecem na mesma ordem e lugar enquanto outras servem p/ diferenciar Exemplos C3 C Escritas Diferenciadas ocorre de forma s1emelhante ao Quant. variável esquema anterior com com repertório variações na quantidade de grafias fixo parcial C4 Quant. constante com repertório variado Para para as representações faz uso da mesma quantidade de grafias porém ,as letras mudam de uma grafia para outra ,ou mudam a ordem . C5 Apresentam a maior diferenciação possível Quant. variável e para diferenciar uma repertório variável escrita de outra . D Quantidade e Presença de letras que tenham a ver com a Escritas diferenciadas repertórios sonoridade da palavra . com valor sonoro variáveis e A construção total não está determinada pôr inicial presença de valor uma intenção de sonoro inicial . correspondência sonora ,porém a letra que inicia cada escrita tem a ver com o valor sonoro da primeira sílaba da palavra . Ao observar o início de representação gráfica infantil , nos primeiros traços desenho e escrita se confundem . Dentro de uma perspectiva Piagetiana , o desenho sendo uma imitação gráfica , reprodução material de um modelo , implica a função semiótica entendida como a possibilidade de diferenciar significantes de significados . A gênese da escrita não aparece dissociada da leitura , pois será através da exposição a materiais gráficos que a criança vai construindo as suas hipóteses gráficas . A evolução que a criança passa na forma como encara o desenho e a escrita espelham na grafia . Inicia como uma indiferenciação entre desenho e escrita . Ela passa de um sistema para o outro sem modificar o ato de interpretação , porque para ela a escrita e imagem formam um todo complementar , uma unidade podendo buscar na imagem o que texto não oferece . Para a criança , a escrita nessa fase inicial parece ser a linguagem . Depois vai diferenciando a escrita da imagem transcrição da , podendo associar a uma imagem uma representação gráfica do objeto (nome do objeto) ou uma oração relacionada à imagem . Mais tarde , vai fazendo uma correspondência entre os fragmentos gráficos com os segmentos do enunciado verbal que ela associa ao desenho , estabelecendo a associação entre os sons da fala e a escrita . Passa assim ,por um processo evolutivo na maneira de identificar as grafias e grafá-las . Confirmando os dados , a conclusão de uma pesquisa de Lavine que mostra que as crianças a partir de três anos identificam algumas características nos textos escritos que a levam a concluir se tratar de escrita : linearidade (grafias alinhadas ) , multiplicidade ( contraste entre uma grafia e seis grafias alinhadas ) e variedade de caracteres .Tal fato confirma o quão coerentes são os critérios de classificação de um material gráfico que as crianças fazem muito antes de poder ler , no sentido convencional . Quadro II - Demostrativo do Nível Pré -Silábico (Contini -1985 ) Categorias-Características Subcategorias A1- Sem Linearidade A- Grafismo Primitivo Uso de rabiscos ou pseudoletras .Diferenciam a escrita variando a A2- Sem e Com Linearidade Exemplo quantidade de rabiscos. A3- Com Linearidade B- Pictográfica Uso do desenho do próprio objeto para representar a palavra solicitada. C - Ideográfica Consiste no uso de um simples sinal para representar um conceito ou uma palavra . D- Escrita Sem Controle de Qualidade Esta escrita apresenta repetição da mesma grafia até atingir o limite da folha de papel . (*) E- Escrita Fixa Predomínio de convencionais e controle de quantidade grafias de grafias . Um mesmo tipo de seqüência pode ser utilizado p/ representar palavras diversas. F1-Quantidade Constante com Repertório Fixo Parcial . F- Escritas Diferenciadas F2 -Quantidade Variável com Uso de grafias convencionais com Repertório Fixo Parcial . quantidade controlada .(**) F3 -Quantidade Variável Com Repertório Fixo Variável G- Escritas Diferenciadas com - Valor Sonoro Inicial . A letra que inicia a escrita relaciona-se com o valo sonoro da primeira sílaba da palavra. (*) - A repetição seguida da mesma grafia é tida como “Princípio Recorrente” (Clay,1975) que sugere aaaque a criança não diferencia as palavras pela quantidade de letras porém, pode existir uma intenção em diferenciar através da variação de grafias . (**) - Nessa fase a criança descobre que a escrita é constituída de um número fixo de sinais combinados de forma variada .É a fase que por tais características obedece o “ Princípio Gerativo ” onde descobre a arbitrariedade dos sinais . No trabalho de Contini existe ainda uma tentativa de identificar os tipos de grafismos mais frequentes segundo as faixas etárias e o nível de escolaridade . Ao transportar os resultados de sua pesquisa para gráficos ilustrativos fica evidenciada a heterogeneidade de níveis de grafias que existe dentro de uma sala de aula . Segundo Ferreiro e Teberosky (1986) essa heterogeneidade é de grande valia em situações de grupo pois , na realização das tarefas o grupo exerce uma função socializadora de conhecimentos e informações . Até a fase de Pré I os grupos estudados apresentaram o predomínio de um tipo de grafia sobre as demais , com aumento da segmentação de níveis . Nos Prés I e II começam a emergir crianças com níveis conceituais mais avançados (Nível Silábico ) . Representações Gráficas Infantis segundo o nível de escolaridade Tipos de Grafismos encontrados no maternal 3-Grafismo Primitivo c/ linearidade 15% 1-Grafismo Primitivo s/ linearidade 1-Grafismo Primitivo s/ linearidade 50% 2-Grafismo Primitivo s/ e c/ linearidade 35% 2-Grafismo Primitivo s/ e c/ linearidade 3-Grafismo Primitivo c/ linearidade No maternal , de acordo com o gráfico , existe predomínio da categoria grafismo primitivo . Um primeiro tipo de grafismo ,o grafismo primitivo sem linearidade , deve ser considerado pois fica claro nesse que as crianças fazem uso de rabiscos indecifráveis para representar palavras . Ocorre porém que existe diferenciações quanto ao tipo de grafismo primitivo sendo observável a emergência em 35% das crianças a busca do sentido da escrita (direção) , a realização de movimentos circulares , com variações na extensão (curto/logo) , na quantidade e no tamanho ,característico do grafismo primitivo com linearidade. O grupo intermediário (12%) , grafismo primitivo com e sem linearidade , corresponde às crianças que mesclam as duas formas . Tipos de Grafismos encontrados no Jardim 4-Pictográfica 3-Grafismo 12% Primitivo c/ linearidade e picto. 18% 1-Grafismo Primitivo s/ Linearidade 18% 1-Grafismo Primitivo s/ Linearidade 2-Grafismo Primitivo c/ linearidade 3-Grafismo Primitivo c/ linearidade e picto. 2-Grafismo Primitivo c/ linearidade 52% 4-Pictográfica No jardim , o percentual de crianças de crianças pertencentes à categoria de grafismo primitivo sem linearidade cai de maneira significativa (18%) , elevando-se a quantidade de crianças que apresentam grafismo primitivo com linearidade . Além disso , emerge uma nova categoria que exige maior controle na elaboração pois utiliza o desenho como forma de representar as palavras , a escrita pictográfica (12%) . Através do gráfico pode-se identificar um grupo intermediário que faz uso da categoria grafismo primitivo com linearidade e pictográfica (18%) . Tipos de Grafismo encontrados no Pré I 5-Silábica Própriamente dita 10% 1-Grafismo Primitivo c/ linear. e 3-Ideográfica picto 47% 4-Ideográfica e Silábica 4-Ideográfica e Silábica 19% 3-Ideográfica 10% 1-Grafismo Primitivo c/ linear. e picto 2-Pictográfica 2-Pictográfica 14% 5-Silábica Própriamente dita As crianças do Pré I apresentaram categorias de grafismos diferenciados . Nessa fase aparecem crianças que ainda persistem no grafismo primitivo e no grafismo tipo pictográfico mas também , aparecem crianças em fases tida como um pouco mais evoluída dentro do processo de alfabetização . O grafismo primitivo com linearidade e pictográfica responde por um percentual alto (47%). A do tipo pictográfico responde por 14% ; ideográfica surge na amostra e consite no uso de um simples sinal para representar um conceito ou palavra correspondendo a 10% dos tipos de grafismos ; Ideográfica e silábica respondem por 19% .Nessa etapa , algumas crianças passaram para o Nível Silábico (10%). No Nível Silábico inicia a tentativa de dar valor sonoro a cada uma das letras que compõem a escrita . É um período de grande importância evolutiva pois cada letra vale por uma sílaba , tida como hipótese silábica . É a primeira vez que a criança estabelece a relação entre as partes sonoras da fala e da escrita .Nessa fase , ao ser exposta a orações e textos ,vai fazendo uso da hipótese silábica para ir analisando as unidades menores que compõem a totalidade que quer representar por escrito . Tal fato estará vinculado à categorização inicialmente elucidada por Piaget que vai lhe permitindo fazer arranjos e combinações . Tipos de Grafismos encontrados no Pré II 5-Silábica Própriamente dita 32% 1-Ideográficas 14% 2-Ideográfica e Silábica 14% 4-Silábica do tipo B 9% 1-Ideográficas 2-Ideográfica e Silábica 3-Silábica do tipo A 4-Silábica do tipo B 5-Silábica Própriamente dita 3-Silábica do tipo A 31% Nessa etapa , as crianças atingiram conceitos mais elaborados acerca da escrita , com predomínio numérico de crianças com tipo de escrita silábica .Todas usaram sinais convencionais do alfabeto atestando domínio do uso de caracteres . O grafismo do tipo ideográfico agora corresponde a 14% e , o ideográfico e pictográfico responde por 14% . Deve ser salientado que estas crianças fizeram uso de uma representação (letra ou símbolo gráfico) para representar uma palavra mas sem discriminar os segmentos silábicos que a compõe . A seguir , aparece a escrita silábica do “tipo A” com 31% do total das representações. Ela consiste na identificação por parte da criança , da primeira sílaba que compõe a palavra ,representando as demais partes como um só bloco .Ex: b a = bolinha . A escrita do “ tipo B“ que responde por 9% das representações , consiste na identificação de todas as sílabas de palavras dissílabas e de todas as sílabas de palavras trissílabas , ou apenas a sua primeira sílaba , considerando as demais em um mesmo bloco . Ex: to ta = co ca ; no aao = ma gico Após a observação dos quadros é possível concluir que os níveis mais elementares de grafismos são encontrados em crianças menores , ocorrendo níveis conceituais mais elaborados em crianças mais velhas . Devo ressaltar que tal tentativa de associação com a faixa etária só se torna útil para a observação da heterogeneidade pois , começam a aparecer outras variáveis que impedem a adoção de tais medidas como padrões . A colocação de Araújo ( 1982 ) evidencia a possibilidade de termos variações na construção da escrita segundo a forma que ocorrem as interações entre as crianças e , do grupo com o professor ; segundo as condições de ensinar e de aprender ; de acordo com as condições sócio -culturais do ensinoaprendizagem do professor e, até mesmo das relações que são estabelecidas com a escola . Considerando o tempo transcorrido , torna-se pertinente ao momento a consideração de Abud ( 1986 ) quanto a alfabetização : “ A alfabetização em seu sentido mais amplo é tida como um fator de mudanças de comportamentos diante do Universo , possibilitando a integração social , com repercussões nos aspectos psicológico , social , pedagógico , moral , estético e econômico . Do ponto de vista Sócio -Interacionista devemos considerar que a sociedade é dinâmica , passa por mudanças exigindo que as pessoas passem por constantes mudanças para que possam fazer parte dela . O fluxo das transformações existe no interesse e nas necessidades de ambas as partes . A realidade ao mudar , leva consigo alterações nesses comportamentos , com uma sociedade mais competitiva e mais exigente . Teremos reflexos dessas mudanças no ensino , com a adequação no dos mecanismos para o ensino , no comportamento dos educadores , das crianças e dos familiares . “ Tomo por base tais citações para evidenciar que após essas publicações a realidade foi gradualmente modificando-se com reflexos no comportamento das pessoas . O universo infantil ampliou-se muito , sendo este um alvo dos veículos de comunicação em massa e da mídia . A quantidade e a qualidade das publicações destinadas a esse público aumentaram muito permitindo a esses uma maior empatia com o universo adulto . Além disso , o acesso ao conhecimento está com caminho encurtado via uso do computador . Frente a tantas possibilidades de interação , de ação , não fica difícil entender por que o desenvolvimento infantil tenha sido alterado com um aumento qualitativo e quantitativo , nos últimos anos . III - PESQUISA Segundo um estudo abreviado que fiz para dar um suporte mais atualizado das informações discorridas nos trabalhos , pude constatar a presença de níveis conceituais de escrita em idades anteriores às citadas pelos autores , sugerindo que o ingresso precoce pode influenciar no desenvolvimento . Além disso , a constação de que já em muitas escolas , a criança termina o ciclo pré-escolar vivenciando a construção de narrativas . Aí , pode estar a dificuldade na inserção da letra cursiva . A possibilidade de entender a alfabetização globalizada , contextualizada mas também de acordo com uma visão , particular à cada grupo que é trabalhado . Dados recentes de Níveis Conceituais de Escrita obtidos em escolas de classe média em São Paulo -capital Tipos de Grafismos encontrados no Maternal 3-Pictográfica 10% 2-Grafismo Primitivo c/ linearidade 40% 1-Grafismo Primitivo s/ linearidade 1-Grafismo Primitivo s/ linearidade 50% 2-Grafismo Primitivo c/ linearidade 3-Pictográfica Nesse nível de escolarização ocorre predomínio do grafismo primitivo sem linearidade com representado por 50% das crianças ,valor coincidente com o trabalho de Contini . O grafismo primitivo com linearidade aparece em 40% das representações das crianças , conferindo uma elevação de 25 percentuais e aparição de representação tipo pictográfica já a esse nível , diferindo do que foi encontrado por Contini . Assim , um grupo maior de crianças já percebe a orientação da escrita bem como faz a utilização do desenho do próprio objeto para representar a palavra solicitada . Tipos de Grafismos encontrados no Jardim 3-Escrita sem Controle de Qualidade 25% 1-Grafismo Primitivo s/ e c/ linearidade 25% 1-Grafismo Primitivo s/ e c/ linearidade 2-Grafismo Primitivo c/ linearidade 3-Escrita sem Controle de Qualidade 2-Grafismo Primitivo c/ linearidade 50% No Jardim observa-se a presença de um grupo de crianças apresentando o tipo de Grafismo Primitivo sem e com linearidade (25%) ; outro grupo com Grafismo Primitivo com linearidade (50%) e outro grupo de crianças em níveis mais elevados dentro do nível Pré-Silábico que corresponde à Escrita sem Controle de Qualidade . Tipos de Grafismos encontrados no Pré I 3-Escrita Diferenciada c/ Valor Sonoro Inicial 17% 1-Pictográfica 17% 1-Pictográfica 2-Escrita Diferenciada 3-Escrita Diferenciada c/ Valor Sonoro Inicial 2-Escrita Diferenciada 66% No pré I , 17% das crianças fizeram uso de desenho do próprio objeto para representar a palavra solicitada ou seja , uso da categoria Pictográfica ; 66% utilisaram de grafias convencionais fazendo uso de combinações de quantidade e de repertório de caracteres que corresponde à Escrita Diferenciada e, 17% fizeram uso de Escrita Diferenciada com valor sonoro inicial onde , a primeira letra que inicia a escrita tem relação com o valor sonoro da primeira sílaba da palavra . Tipos de Grafismos encontrados no Pré II 1-Silábica 19% 2-SilábicaAlfabética 9% 1-Silábica 2-Silábica-Alfabética 3-Alfabética 3-Alfabética 72% No Pré II ,19% das crianças atingiram o Nível Silábico onde elas tentam dar valor sonoro a cada uma das letras que compõem a escrita (hipótese silábica) ; 9% das crianças atingiram o Nível Silábico - Alfabético que é caracterizado por uma busca por parte da criança numa análise que vá além da hipótese silábica mas também com a exigência de uma quantidade mínima de grafias (característica intrafigural) . Além disso, estabelece-se o conflito entre as formas que o meio lhe propõe a a leitura dessas formas , mantendo agora um conflito entre uma exigência externa e uma realidade exterior a ela . Temos ainda que 72% das crianças atingiram o Nível Alfabético ,o final desta evolução . Elas compreendem o sistema de escrita , atribuindo a cada um dos caracteres da escrita uma correspondência com os valores sonoros . A partir dessa fase tomará contato com valores secundários da escrita , mas necessários à compreensão da mesma : ortografia , sinais gráficos de acentuação , pontuação ..... Convém lembrar que já poderá estar fazendo uso de tal nível conceitual na elaboração de narrativa , não sendo incomum encontrar crianças terminando o ciclo pré -escolar a esse nível . IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante o que foi colocado não fica difícil entender a dificuldade do educador em repensar algumas questões referentes à alfabetização . A alfabetização é um processo de integração onde encontramos atuações individuais influenciando em uma dinâmica grupal que por sua vez é influênciada por outros fatores de ordem sócio-cultural e econômica . Atualmente a relação aluno professor atende a uma denominação de simétrica onde o professor assume a postura de mediador entre o aluno e os conhecimentos . O professor deve lidar com seres individualizados , ao mesmo tempo que lida com relações grupais , entendendo que em uma sala de aula poderá haver diferentes níveis conceituais em relação à escrita crianças em . Deve estar atento às modificações socio-culturais e as implicações no ensino ; deve estar atento ao processo de desenvolvimento sem deixar de atender às solicitações instituição e dos pais “àvidos” pelos conteúdos da e formas e portanto , influenciados por toda dinâmica envolvida na alfabetização . Cumpre lembrar que as práticas habituais de ensino de língua escrita estavam muito apoiadas no que se sabia da aquisição da língua oral , com a progressão de iniciar o ensino pelas vogais , seguida da combinação de consoantes bilabiais com vogais , daí para a duplicação de sílabas de modo a formar as primeiras palavras ..... progredindo nessa lógica até a construção de narrativas . Julgando-se ser necessária a passagem por essas mesmas etapas como se a aprendizagem de língua escrita fosse ocorrendo em semelhança à fala . Com a reformulação educacional muitos parâmetros de desenvolvimento se perderam dificultando o estabelecimento do possível e do esperado para cada faixa etária . A forma de abordar a aquisição de conhecimento possivelmente incitou na formação de seres mais pensantes , mais ativos que , associado ao fato de ingressarem mais precócemente na escola , atingem níveis de desenvolvimento em fases anteriores . Dessa forma , encarar uma situação específica , como no caso a questão da introdução da letra cursiva ,implica em retratar o todo de um processo que sofreu profundas transformações nesses últimos anos , descaracterizando a clientela . Assim , entender a questão da letra cursiva foi poder entender que as modificações na educação quebraram um padrão e portanto , ficou uma questão contextualizada na nova realidade , que precisou ser compreendida . Pelo que foi exposto , finalizo , concluindo que a criança percorre um longo caminho na construção da escrita até compreender o seu uso , sua função , suas características . Assim , muito embora fique evidenciado que é muito melhor que a letra cursiva seja introduzida após a fase em que a criança já compreendeu o sistema de escrita e , portanto atingiu , no mínimo , um nível alfabético pois em fases anteriores lida com muitas questões conceituais e situa-se em dificultariam diferenciadas fases lidar com signos de desenvolvimento cognitivo que múltiplos não podemos descartar lhe a possibilidade de um trabalho em grupo existir a emergência do interesse pelo uso da referida letra em fases anteriores pois , de acordo com Ferreiro , as crianças não passam por esse processo de forma isolada ,e , a atividade grupal gera a possibilidade de socialização do conhecimento . Ocorre no entanto , que o efeito desse estímulo pode surtir impactos diferenciados nos esquemas de assimilação das crianças , fazendo com que cada uma possa interpretar e assimilar de maneiras diferenciadas . Nessa etapa entra a influência do meio de modo a reforçar ou não o seu uso . Concluindo , existem parâmetros evolutivos de grafismo , de desenvolvimento cognitivo , de níveis conceituais que indicam um fase mais apropriada para lidar com os caracteres gráficos mas não deve ser nunca esquecido o contexto de uma forma mais global . V- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abud , Maria J.M. “ O ensino da leitura e da escrita na fase inicial da escolaridade de acordo com alfabetizadores considerados eficientes.” - Departamento de Educação / PUC- SP. Dissertação de Mestrado - Mimeo - 1986 Araújo , Maria Noemi “Mas ,eu escrevi do meu jeito .” - Departamento de Educação / PUC - SP Dissertação de Mestrado . Mimeo - 1982 . Cagliari , Luís C. “ Alfabetização e Linguística ” - São Paulo -Ed. Scipione - 1995 Contini Jr , J. “A concepção do Sistema Alfabético para crianças em idade Pré-escolar .” Departamento de Educação / PUC -SP Dissertação de Mestrado . Mimeo - 1985 . Ferreiro , E. “Análisis de las Perturbaciones en el Proceso de Aprendizajaae Escolar de la lectura y la Escrita .” Fasc .2 , México , OEA -Proyeto Especial De Educacion Especial - 1982 Ferreiro , E. & Teberosky , A . “Psicogênese da língua Escrita ” - Porto Alegre - Ed. Artes Médicas - -1986 Furth , Hans G. & Wachs ,Harry “Piaget na Prática Escolar ” - São Paulo - Ed . Ibrasa - 1989 Silva, A.V. “ Bastão x Cursiva ” - in Revista Escola - Ano XI - n- 99 - 1996 Zorzi , Jaime L. “Linguagem e Aprendizagem ” in Tópicos em Fonoaudiologia Editora Pancast - São Paulo - 1995 REVISORES SÍLVIA LUIZA S. DONATELLI - LÍNGUAS E LITERATURA INGLESA MÁRCIO RIBEIRO DONATELLI - LETRAS MARIA LUÍZA RODRIGUES VALLE - PEDAGOGA IARA XAVIER DE SÁ - FONOAUDIÓLOGA IARA - PSICÓLOGA GENIOLI