1 UNIVERSIDADE DE CUIABÁ FACULDADE DE NUTRIÇÃO DISCIPLINA: TÉCNICA DIETÉTICA E GASTRONOMIA PROFª NENSMORENA PREZA TÉCNICAS DE COCÇÃO EM ALIMENTOS A cocção pode ser definida como o aumento de temperatura dos alimentos com duração suficiente para ocasionar alterações irreversíveis (COENDERS, 1996). As técnicas de cocção em alimentos podem ser classificação segundo o meio de transferência de calor em: Cocção em meio não aquoso – calor seco Cocção em meio gorduroso Cocção em meio aquoso – calor úmido Cocção mista – calor misto Cocção especial 1. COCÇÃO EM MEIO NÃO AQUOSO – CALOR SECO Sob esta denominação se reúnem diversos tipos de cocção que também podem ser denominadas de calor seco, porque o alimento é aquecido através de sua parte superficial, posto em contato com uma atmosfera de ar quente. O calor pode ser obtido através de: 1.1. Fogo direto – grelha ou placa metálica; Assar em grelha – cocção em temperatura elevada sobre grelha que recebe calor por radiação, a uma distância adequada da fonte calorífica, geralmente constituído de brasas de carvão (madeira), gás e resistência elétrica. Supõe-se que o braseiro seja a primeira técnica utilizada pelo homem primitivo para transformar seus alimentos crus. As grelhas ou placas podem ser de ferro fundido, aço inoxidável, aço cromado, sendo as melhores obtidas pela liga de ferro-níquel-cromo, pois suportam altas temperaturas e são de fácil limpeza. A distância que separa o alimento das brasas é essencial para obter um bom assado. Em temperaturas baixas, a cocção é lenta e ocorre a saída de sucos do interior do alimento, obtendo-se um assado duro, fibroso e seco. Por outro lado, quando se trabalha com temperatura excessiva, ocorre a carbonização do alimento. A crosta externa típica dos alimentos assados é conseguida quando o alimento se encontra em temperaturas que oscilam entre 175 e 200°C. Em qualquer caso, as gorduras se fundem parcialmente com o calor e tendem a sair do alimento. Em geral, os assados diminuem o teor de gordura presente no alimento inicial. Esta distância também é importante do ponto de vista toxicológico. No caso do churrasco é importante manter a distância mínima de 30cm entre a carne e a brasa, pois a gordura presente na carne derrete e ao pingar na brasa produz compostos tóxicos (poliaromáticos) que são liberados e retornam à carne. Assim, além da distância, o teor de gordura na carne também é um fator importante. 2 Assar em placa metálica – cocção em temperatura elevada (1100°C), onde o calor se transfere por condução a partir do calor recebido de um foco calorífico de carvão em brasa, eletricidade ou gás. 1.2. Fonte calorífica indireta – forno convencional (ar quente) Assar ao forno – cocção em um recinto fechado onde o calor se transfere em parte por radiação e em parte por correntes de convecção. Nos fornos modernos é possível controlar estas correntes de ar. Tipos especiais: no espeto giratório ou em papillote (o alimento recebe cocção envolto em papel manteiga ou alumínio). Gratinar – acabamento que se dá ao alimento pronto para fornecer-lhe sabor e coloração superficial. Geralmente é utilizado um molho branco e/ou queijo. Banho Maria – cocção do alimento sem contato com líquido, ainda que colocado em um recipiente introduzido em outro que contém água quente, o qual atua como regulador da temperatura do ar. Deste modo, o alimento é aquecido de maneira suave e uniforme. O alimento nunca se aquece acima de 100°C. O assado consiste em coccionar um alimento de tal maneira que o calor recebido na superfície penetre no mesmo, de um modo lento e progressivo, até alcançar o ponto central da peça. A parte externa se aquece ao ficar exposta a uma fonte de energia calorífica, enquanto na parte interna o aumento da temperatura ocorre por um fenômeno de condução térmica. Requisitos importantes para se obter um bom assado: Selecionar o alimento de modo adequado (tamanho, tempo, maciez, rendimento, sabor); Conhecer a relação tempo-temperatura mais adequada para cada tipo de alimento Os assados são métodos de cocção que não amaciam os alimentos devido à sua rapidez. Estas técnicas de cocção promovem as seguintes alterações nos alimentos: 2. Coagulação superficial das proteínas. 3. Formação de uma crosta superficial (variável em coloração, textura e sabor); 4. Perda de água de constituição como consequência do ambiente seco onde se desenvolve, que se traduz em maior concentração dos nutrientes iniciais por ficarem retidos no interior do alimento; 5. Perda de gordura – caso o assado esteja sendo feito em espeto, grelha sobre assadeira ou ainda que a gordura derretida seja descartada antes do consumo No caso de carnes, a ação do calor em assados resulta em: Desnaturação das proteínas que iniciam a partir de 65°C com perda da solubilidade. Acima de 75°C endurecem. A mioglobina fica marron. O colágeno se transforma em gelatina a partir de 56°, em presença de água; A gordura muscular se funde no interior da carne proporcionando maior suculência e maciez. Cocção em forno – É recomendável que um forno possua portas transparentes que permitam acompanhar o processo de cocção. O forno precisa de um aquecimento prévio e a energia calorífica (tempo e temperatura) deve ser bem controlada. 3 Cortes macios e pequenos, animais jovens – é recomendável a utilização de uma temperatura inicial alta (180°C) para que ocorra a formação da crosta superficial. Em seguida deve-se reduzir a temperatura para que ocorra a cocção do interior do produto e se mantenha a suculência e o sabor; Cortes grandes e duros (alto teor de colágeno)- é recomendável inicial a cocção em temperatura baixa (150°C) e só após a cocção interna aumentar a temperatura para desenvolvimento da coloração. À medida que a peça aquece, o calor que penetra provoca a contração das fibras musculares com aumento da pressão interna dos sucos, que tendem a sair. O essencial para este tipo de cocção é conseguir, coma a maior rapidez possível, um endurecimento superficial capaz de dificultar as perdas do suco. Apesar deste endurecimento superficial nos assados, este tipo de cocção também proporciona um fenômeno químico de interesse: a Reação de Maillard, que ocorre entre grupos carbonila (C=O) de alguns açúcares e os grupos amina de aminoácidos. Esta reação, dependente da temperatura, pH e atividade de água, produz pigmentos denominados melanoidinas. Em consequência os alimentos modificam de um modo geralmente favorável sua cor e seu aroma. Este fenômeno não é exclusivo de assados e ocorre em outros processos tais como: fritura de pescados, assado do pão e tostado de frutos secos. Outras características sensoriais dos assados vão depender da intensidade do calor e da duração de sua aplicação. Para as carnes vermelhas assadas em grelhas ou placas, a prática culinária tem estabelecido três estados determinados de cocção: Mal passado – cocção rápida; crosta com ligeira resistência à pressão do dedo; consistência ligeiramente firme; cor vermelha no interior; 50-55°C de temperatura no centro da peça; Ao ponto – cocção relativamente “lenta”; resistente à pressão digital; consistência interna branda; cor rosa no interior; temperatura de 60-65°C no centro da peça; Bem passado – cocção “muito lenta”; consistência firme ao mastigar; cor marron no interior; temperatura de 70-80°C no interior da peça. No caso de carnes brancas, a formação da crosta superficial tem menos importância porque no interior das peças existe pouca quantidade de sucos. Uma vez assados, as peças devem descansar por algum tempo para conseguir os seguintes objetivos: relaxamento das fibras musculares, rehidratação difusiva da peça e uniformidade na coloração. As grandes peças devem ser retiradas do forno quendo a temperatura interior estiver uns 5-10°C abaixo da temperatura desejada, porque o calor continuará atuando no interior da peça neste tempo de descanso. Estes tipos de cocção ocorrem em temperaturas bastante elevadas que oscilam desde 260°C existente nos fornos até 1100°C que se alcançam nas placas metálicas. Por isso, a cocção sob calor direto ocorre mais rápida. Os métodos de cocção em meio não líquido (calor seco) se aplicam a diversos grupos de alimentos: carnes em grelha, pescados e vegetais. No caso dos pescados, são mais indicados os peixes gordos em fogo moderado. Os pescados magros devem ser protegidos de uma dessecação excessiva, untando-os com gordura, envolvendo-os em papel ou farinhas. Os vegetais, ricos em água, são adequados ao assado em grelha. Ex: cebola, tomate, batata, pimentão, berinjela, batata doce. 4 2. COCÇÃO EM MEIO GORDUROSO Esta tecnologia implica sempre em trabalhar com temperaturas elevadas que proporcionam aos alimentos uma textura e sabor característico, melhorando na maioria das vezes suas qualidades organolépticas. Os principais tipos são: Salteado – cocção total ou parcial de um alimento em pequena quantidade de gordura quente. É um método de cocção rápida e pode ser aplicado a alimentos crus ou submetidos à cocção prévia. Devido à temperatura elevada, ocorre uma rápida coagulação superficial das proteínas , o que impede a saída de sucos internos. Esta operação pode ser aplicada a vegetais picados, ovos, pescados e carnes tenras. Em geral, podemos afirmar que podemos saltear adequadamente somente os produtos que ficarão macios neste rápido processo de cocção. Fritura – cocção total de um alimento por imersão em gordura quente obtendo-se preparações douradas e crocantes. Pode ser aplicado aos diversos grupos de alimentos: carnes, pescados, ovos, verduras. Tipos de Fritura: Fritura superficial – ocorre em frigideiras e recipientes de pouca profundidade sendo que o alimento submerge parcialmente na gordura quente; Fritura de imersão – o alimento é totalmente imerso em óleo quente. Para conseguir um produto crocante deve-se trabalhar na faixa de temperatura de 160200°C . Tipos de fritura conforme a temperatura: Pouco quente – 135 a 140°C – utilizado para vegetais ricos em água ou pescados com alta espessura; Quente – 155 – 160°C – produtos pré-coccionados; Muito quente – > 180°C – tubérculos e empanados em geral. Operações prévias à fritura: Enfarinhar – a doré – operação que consiste em proteger o alimento com uma ligeira camada de farinha, muito comum em pescados; Encapado – operação pelo qual o alimento se recobre com uma capa variável: massa de ovo, massa de trigo, leite, ervas, à milanesa (farinha-ovo-farinha); Empanado – operação em que o alimento é recoberto com pão ralado (farinha de rosca) antes da fritura. Propriedades da fritura - o óleo/gordura desempenha uma dupla função: de um lado, atua como meio de transferência de calor, e por outro lado, pode ser absorvido pelo alimento, integrando-se ao mesmo como ingrediente. Em consequência, sua estabilidade determina a vida útil do produto frito. De um modo geral podemos afirmar que são aptas para a fritura aquelas gorduras, tanto vegetais como animais, que apresentam um certo grau de resistência aos efeitos do calor e podem alcançar, sem se alterar, um elevado nível calórico. Por isso, as gorduras ricas em ácidos graxos poliinsaturados, como girassol e milho, que se oxidam com grande rapidez, não são recomendadas para os processos de fritura que implicam ciclos de aquecimento repetidos. Os óleos mais usados são o óleo de soja e a gordura vegetal hidrogenada específica. Três parâmetros são essenciais para indicar a possibilidade de uso de uma gordura nos processos de fritura: Temperatura de fusão, Temperatura máxima possível para a imersão e Temperatura crítica de decomposição. 5 Quadro 1. Características de Temperatura (TPT) de diversos Óleos e Gorduras utilizados em fritura Gordura Tpt de fusão °C Amendoim 18 Girassol 5 Milho 5 Azeite de oliva 5-12 Manteiga 36-40 Soja 5 Fonte: adaptado de GUTIÉRREZ (1998) Tpt máx. de imersão °C 180 170 170 180 150 180 Tpt crítica de decomposição °C 220 200 220 220 200 220 Os principais requisitos da gordura para a fritura são: Ter sabor neutro; Suportar temperaturas de decomposição entre 180-200°C; Ser anidro, isto,é, não conter água, pois na fritura se vaporizará e será projetada para fora da frigideira; Resistir as oxidações, que conduzem a rancidez surgida pelos aquecimentos repetidos e numerosos; Suportar variações de temperaturas; Ser muito fluído ao aquecer para que os alimentos possam ser bem escorridos e não encharcar. È bastante difícil termos parâmetros fixos para a reutilização de óleos e gorduras nos processos de fritura porque os fatores relacionados são muito diversos, tais como: Composição química da gordura utilizada; Temperatura da fritura; Duração do aquecimento; Condições do aquecimento: direto ou indireto; Existência ou não de termostato para regular a variação térmica; Natureza dos alimentos a fritar (resíduos). Outro fator importante na fritura industrial é a rentabilidade comercial. Deste ponto de vista deve-se considerar que em toda fritura se perde certo volume de óleo absorvido ou impregnado no produto a ser frito. Por isso é importante determinar o Grau de Renovação do Óleo (GR), sendo: óleo adicionado por hora % GR x 100 capacidade do recipiente O rendimento é considerado adequado quando este valor supera 10%. Para incrementalo pode-se atuar de três maneiras: a) aumentando a produção; b) diminuindo a capacidade da fritadeira; e c) alternando em seu funcionamento os alimentos de alta absorção e pouca absorção de óleo. Efeito da fritura sobre os alimentos: Desenvolvimento de uma crosta superficial que impede a saída de vapor de água formado, sendo que o interior do alimento sofre uma cocção a 100°C; Redução do conteúdo aquoso da parte interna da crosta e aumento do teor de gordura; 6 Desidratação total da parte externa da casca (crosta), o que favorece os fenômenos de caramelização e escurecimento não enzimático com a mudança de cor superficial do alimento. O conjunto destas alterações proporciona ao alimento frito as seguintes características: Melhora da textura superficial, tornando-se mais crocante, sendo o interior brando e às, vezes, suculento; Desenvolvimento de cor dourada e brilhante; Desenvolvimento de um flavor especial devido a contribuição dos compostos químicos e gorduras pela ação de altas temperaturas. Maior concentração de nutrientes- sabor e aumenta a gordura dos alimento; Alterações lipídicas desagradáveis: hidrólise, rancificação. O resultado do processo de fritura é influenciado por um conjunto de variáveis que dependem da natureza do alimento e da gordura, assim como da tecnologia do processo. Variantes dependentes do alimento – deve-se cuidar da superfície do alimento, a qual deve estar completamente seca, pois a umidade favorece o fenômeno de hidrólise, além de formar espumas, que aceleram as oxidações. Deve-se também evitar peças grandes para que o interior possa estar completamente cozido. A fritura é um processo apropriado aos vegetais ricos em amido, como é o caso das batatas e mandioca. Pela brusca imersão em gordura quente, o amido forma uma crosta impermeável que retém em seu interior o vapor de água. No entanto, deve ser evitado o aquecimento em excesso, pois no caso dos vegetais ocorre a caramelização dos açúcares e os produtos adquirem um sabor amargo e pouco agradável. Variantes dependentes da gordura – a seleção da gordura tem muita importância porque sua natureza química deve estar em consonância com os diversos fatores e critérios> condições de trabalho, odor, rentabilidade, etc. Variáveis dependentes da tecnologia do processo – além do material das fritadeiras e renovação de óleos, podemos considerar os seguintes aspectos tecnológicos: a) a temperatura do processo – dela vai depender o tempo que o alimento deve permanecer na fritadeira para que ocorra a coagulação superficial das proteínas, a geleificação do amido ou a desidratação parcial, todos importantes para que produzam o efeito esperado. A temperatura da fritura depende do tamanho da peça a fritar, sendo de grande importância a relação tempo/temperatura. Para tanto deve-se observar os seguintes critérios: todos os alimentos de origem vegetal que contém um elevado teor de água, o qual é necessário evaporar no começo da cocção, requerem um processo de fritura moderadamente quente (140°C). O mesmo deve ocorrer com pedaços espessos de pescados cortados em filé que precisem de cocção previa antes que se forme a crosta superficial; aqueles alimentos com cocção prévia que necessitam apenas a formação da crosta superficial, requerem o processo de fritura quente (160°C). todos os alimentos de pequeno volume que promovem a rápida formação da crosta superficial e cuja cocção deve ser efetuada em tempos reduzidos, aplica-se a fritura muito quente (180°C); quando a temperatura do meio oleoso estiver inferior a necessária para a cocção, os alimentos absorvem muito óleo do meio e se tornam 7 encharcados e indigestos. Se a temperatura é excessiva, ocorre caramelização dos açúcares e carbonização de proteínas. b) volume de fritura – é conveniente fritar os alimentos em quantidades proporcionais ao tamanho da fritadeira, porque se a quantidade for excessiva ocasionará o abaixamento da temperatura do meio oleoso, sobretudo quando se trata de produtos congelados, com risco de vários efeitos negativos: formação de espumas, rompimento da crosta do empanado, projeções perigosas de vapor de água, formação de odores desagradáveis e absorção excessiva de óleo. A quantidade de óleo empregada deve ser proporcional a quantidade ou volume de alimentos a fritar, os quais devem estar a todo momento imersos no óleo. 3. COCÇÃO EM MEIO AQUOSO – CALOR ÚMIDO Estas técnicas utilizam um fluído aquoso como meio de transferência de calor para o tratamento térmico do alimento. Para isto, o alimento entra em contato com água, caldo, xarope ou também vapor de água. A diversidade do meio aquoso escolhido refletirá nas conseqüências práticas do mecanismo de transferência de energia e massa. De acordo com seu calor específico, cada corpo líquido retém ou acumula quantidades diferentes de calor, de tal modo que sua temperatura pode ser muito diferente. Conforme estas condições, ocorrerá maior ou menor facilidade de difusão das substâncias hidrossolúveis do alimento ao meio e vice versa. Na prática podemos classificar estes métodos em 4 grupos, a seguir: Escaldado ou branqueamento – cocção incompleta de um alimento que recebe os efeitos térmicos da água fervendo durante um curto período de tempo. Pode dês denominado aferventado quando este tempo de cocção é um pouco maior. Processo muito utilizado para o congelamento de vegetais visando inativar os sistemas enzimáticos; Cozido ou fervido – processo que implica na cocção do alimento por imersão em água ou em caldo que pode iniciar em diferentes graus de temperatura: fria, quente, fervendo. È importante minimizar a evaporação para manter o volume de líquido durante a cocção. Escalfar – cocção de um alimento em meio aquoso e abaixo do seu ponto de ebulição. São cocções lentas em meio líquido sem ebulição. O meio líquido pode ser a água, caldos, leite, xarope, etc. Na França esta técnica é denominada pocher. A temperatura precisa ser bem controlada para não cozer os alimentos em excesso. Muito usada para cocção de ovos e vegetais tenros. Cocção a vapor – pode ser realizada a pressão normal ou a pressão elevada. Seus objetivos incluem: facilitar a digestão, proporcionar textura mais agradável e minimizar as perdas de nutrientes. Entre suas vantagens podemos citar: melhor retenção de nutrientes, redução do risco de cocção excessiva, maior rapidez de preparo, no caso do vapor a alta pressão, não altera o valor calórico do alimento, sendo muito recomendado na alimentação saudável. Efeito sobre os alimentos – é variável conforme a temperatura do meio aquoso no início da cocção. Quando um alimento é colocado em um líquido com temperatura superior a 70°C ocorre uma coagulação das proteínas superficiais, o que dificulta o intercâmbio de substâncias entre o alimento e o meio que o rodeia. Assim, o alimento conserva melhor sua qualidade nutritiva porque se reduzem as perdas por dissolução de sais minerais e vitaminas hidrossolúveis. Quando o mio aquoso está 8 frio isto não ocorre e o fenômeno de osmose ocorre com muita importância. Durante o processo de cocção, ocorre um duplo sentido de líquidos e substâncias até que alcance o equilíbrio das concentrações de ambos os lados. Alguns grãos precisam deste tipo de cocção para obter uma boa hidratação, principalmente as leguminosas. A ação do calor úmido durante um tempo maior ou menor tem influência sobre as macromoléculas que formam as fibras de alguns alimentos como as carnes e os vegetais: o tecido conjuntivo se abranda ao transformar o colágeno em gelatina, as fibras musculares da carne se incham, sofrem uma fragmentação parcial e se abrandam; o mesmo ocorrendo com as fibras celulósicas dos vegetais ou com o amido dos cereais e tubérculos. Todos estes fenômenos têm grande importância prática porque modificam a estrutura, o sabor e o valor nutritivo dos alimentos tratados. Além disso pode apresentar a vantagem da exclusão ou inativação de substâncias tóxicas. Quando de deseja evitar as perdas de substâncias solúveis no alimento pode-se empregar o uso de um meio líquido com elevada concentração de substâncias dissolvidas: aparece uma pressão osmótica que se opõe à saída de substâncias do alimento. Isto ocorre com as cocções em caldos e xaropes e o alimento pode ser enriquecido com minerais e substâncias aromáticas. Isto explica o endurecimento das verduras coccionadas em águas calcáreas, ao enriquecer as fibras com cálcio. No processo de cocção a vapor, o contato do alimento com a água não ocorre e em consequência há uma maior retenção de vitaminas hidrossolúveis. Em adição, mantém o sabor original do alimento, o que nem sempre é favorável, como no caso nas crucíferas em geral (repolho, couve-flor, brócolis). O uso de panelas de pressão permite alcançar temperaturas superiores a 100°C, que aumentam a velocidade das reações e reduzem o tempo de cocção. Também oferece a vantagem de menor perda de nutrientes. 4. COCÇÃO MISTA Ocorre quando o calor que se transmite ao alimento provém tanto da água como da gordura, os quais podem ser adicionados ou provenientes do próprio alimento ou guarnição que o acompanha. Neste grupo temos uma diversidade de terminologias em relação ao preparo dos alimentos, mas podemos agrupá-las em: a) Estofado ou guisado ou de panela – cocção com gordura e água ou caldo, sempre em fogo lento. Pode ou não ser refogado antes. Alimento e líquido são servidos juntos. b) Refogado – o alimento é passado, em fogo fraco, em pequena quantidade de óleo com a intervenção da água do próprio alimento. c) Assado misto – quando o alimento é submetido a cocção prévia e depois ao forno para o desenvolvimento de cor. Ou ainda pode haver uma cocção prévia no próprio forno, sendo o alimento envolto em papel e posteriormente assado de modo tradicional (ar quente). Este tipo de cocção é recomendado para as grandes peças de carne que precisam de um longo tempo de cocção para abrandar seus tecidos ou ainda para o desenvolvimento de cor e sabor. 5. COCÇÃO ESPECIAL 9 São métodos de cocção mais recentes e não envolvem as formas tradicionais de obtenção de calor. Podemos considerar a cocção a vácuo e a cocção em microondas. a) Cocção a vácuo – operação em que as matérias primas (algumas com ligeira cocção prévia) são condimentadas e colocadas em bolsas especiais (hermética e termoresistente) para serem embaladas a vácuo. Depois são pasteurizadas em autoclaves. Após a cocção ocorre um rápido resfriamento e armazenamento. Conforme o produto e o processo utilizado, o alimento pode ser conservado por 6-21 dias sob refrigeração (abaixo de 3°C). Em geral, este processo compreende as seguintes etapas: Preparação – lavagem e pré-preparo Pré-cocção – geralmente aplicado para as carnes Embalagem a vácuo – a película deve ficar totalmente aderida a superfície do alimento para que ocorra uma máxima transferência de calor. Tratamento térmico – controlar o binômio tempo-temperatura para obter um produto homogêneo e eficaz. Refrigeração rápida – no máximo em 90 minutos de vê estar a 1-3°C. Armazenamento sob refrigeração Regeneração ou acondicionamento – novo aquecimento para ser servido. Pode ocorrer na mesma bolsa a vácuo usando banho de água quente ou forno com vapor. Também podem ser aquecidas em pratos térmicos em forno microondas. Em qualquer método a temperatura interna do produto deve atingir 65°C. Apesar deste método ser aplicado para muitas preparações, sua ação é limitada, como é o caso de suflês, panificação e frituras em geral. b) Cocção em microondas – operação em que os alimentos se aquecem pela ação de ondas eletromagnéticas de alta freqüência em virtude do comportamento dielétrico de alguns de seus compostos, principalmente a água. Microondas são um tipo de radiação eletromagnética, com comprimento de onda entre o infravermelho e as ondas de rádio. Não geral calor: o aquecimento do alimento se dá pela vibração das moléculas de água nele presentes. As microondas que se aplicam aos utensílios se propagam em linha reta e quando incidem sobre um corpo podem desencadear as seguintes respostas: - os objetos eletricamente neutros – cristal, papel, cerâmica e plástico – são transparentes e estas radiações atravessam-nos sem que modifique sua temperatura; - as superfícies metálicas refletem as ondas e a energia; - os materiais com moléculas não condutoras, que apresenta, uma polaridade elétrica (água, proteína, carboidrato) absorvem as ondas e por agitação eletrônica transformam sua energia em calor. Deste modo, se gera nestas moléculas um aumento de temperatura de modo semelhante ao que ocorre com uma resistência ôhmica. Seu emprego na prática das cocções apresenta limitações, principalmente relacionadas à composição do alimento, a qual está diretamente relacionado ao seu teor de água. As microondas atuam sobre a água livre ou ligada fracamente. Nestes fornos a cocção não supera os 100°C. A cocção ocorre por um processo instantâneo, sendo que na superfície não forma temperatura e nem tempo suficiente para formar uma crosta e a caramelização superficial requerida em algumas preparações. Suas principais aplicações incluem: a) descongelamento de alimentos crus ou coccionados; b) reaqueciemnto de pratos pré coccionados e elaboração de pratos cozidos. 1 0 Entretanto, para realizar seu emprego correto é preciso levar em consideração os seguintes aspectos: A natureza, tamanho e volume do alimento; As características técnicas do forno microondas; O objetivo da preparação que se deseja alcançar. Quadro 2. Principais métodos de cocção Método 1. Pochê Temperatura Transferência °C de calor ~ 95°C condução Meio Utensílio Alimento água frigideira Ovos, pescados Grãos, carnes, massas, ovos e hortaliças Grãos, carnes e aves 2. Cozido ou Fervido 100°C condução água caçarola 3. Guisado ou “de panela” 4. Cocção a vapor 100°C condução água + gordura caçarola 100°C convecção + condução Vapor 5. Cocção 120°C convecção + sob Pressão condução 6. Fritura por 150 – 180°C condução imersão água + gordura gordura 120 – 180°C convecção + condução água + gordura 7. Fritura superficial 8. Placa metálica 1100°C condução metal 9. Churrasco 150-280°C condução + radiação ar 10. Assado ao forno convencional 11. Forno microondas 150-280°C Radiação + convecção ar 100°C Irradiação + convecção ar Panela com Hortaliças, peneira para aves, cuzcuz, vapor pescados Panela de Carnes, grãos pressão e hortaliças fritadeira Hortaliças, pescado e empanados em geral frigideira Pescados, carnes, aves, ovos, vegetais Chapa Pescados, metálica carnes, aves, vegetais grelha Pescados, carnes, aves, vegetais assadeira Pescados, carnes, aves, vegetais Plástico, Pescados, vidro, carnes, aves, porcelana e ovos e cerâmica vegetais 1 1 6. CONCLUSÃO É importante ficar atento às inovações tecnológicas relacionadas aos diversos processos de cocção para que o profissional possa selecionar os métodos mais adequados de cocção conforme os objetivos do serviço e também promover a orientação adequada dos diversos tipos de cocção à população de uma forma em geral. Apesar das etapas de seleção e composição dos alimentos ser de fundamental importância não podemos reduzir ou eliminar esta importante etapa que é a cocção dos alimentos, sendo determinante no consumo e valor nutricional da alimentação populacional. 7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BARRETO, R.L.P. Passaporte para o sabor. Tecnologias para a elaboração de cardápios. SENAC, São Paulo. 200. 304p. COELHO, T. Alimentos. Propriedades Físico-Químicas. 2ª ed. Cultura Médica, Rio de Janeiro. 2001. 240p. COENDERS, A. Química Culinaria. Acribia, Zaragoza. 1996. 290p. GUTIÉRREZ, J.G. Ciência y Tecnologia Culinária. Diaz de Santos, Madrid. 1998. 269p. ORNELAS, L.H. 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