THOMAS KUHN
Thomas Kuhn (1922-1996) foi um físico norteamericano e estudioso primordial no ramo da
filosofia da ciência. Foi importante na medida que
estabeleceu teorias que desconstruíam o
paradigma objetivista da ciência.
Nasceu em Cincinnati, Ohio. Ingressou na
Universidade de Havard, onde fez curso de física.
Desta faculdade, recebeu o título de mestre e
doutor.
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THOMAS KUHN
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O grande mérito de Kuhn foi apontar o
caráter subjetivista da ciência, normalmente
vista como puramente objetiva. Segundo
ele, as teorias científicas estão sujeitas às
questões e debates do meio social, dos
interesses e das comunidades que as
formulam. Por isso, Kuhn desenvolveu suas
teorias usando um enfoque historicista.
Kuhn morreu em 1996.
PONTOS PRINCIPAIS DA OBRA

Objetivo : Trata-se de abordagem
inovadora sobre as relações existentes
entre os pressupostos dogmáticos
encontrados entre as diversas teorias
dos pesquisadores e suas revoluções
científicas, apesar de que haveria uma
opinião corriqueira de que dogma e
pesquisa científica não se misturam.
PONTOS PRINCIPAIS

Noção de Dogma : do grego dokein,
tem o significado de constituir
qualquer pressuposto que se aceita
sem discussão, como nas crenças
religiosas, nos atos de fé, pela
aceitação por mera via de autoridade,
sem questioná-los. Ex: o dogma da
Santíssima Trindade.
PONTOS PRINCIPAIS

A Estrutura das Revoluções Científicas : é o
livro clássico do Autor, no qual ele
pretendeu demonstrar que o surgimento
das teorias inovadoras presentes na história
das ciências, como a revolução de
Copérnico, de Newton, de Einstein ou da
teoria quântica, representam uma ruptura
diante do pensamento tradicional, e só se
tornaram possíveis quando houve uma
alteração nos paradigmas que sustentavam
as velhas teorias.
PONTOS PRINCIPAIS

A Herança Cultural : Como criador de
uma perspectiva histórico-filosófica da
ciência, Thomas Kuhn procurou
desenvolver uma síntese das ideias
epistemológicas que circulavam entre
diversos autores de seu tempo, como
Alexandre Koiré, Jean Piaget, Quine,
que muito contribuíram na análise
crítica da validade do conhecimento
científico.
PONTOS PRINCIPAIS

Noção de Paradigma : aparece em
substituição ao conceito clássico de objeto
da ciência, resumido em objeto material e
formal, para se constituir como modelo,
padrão, perspectiva, no acolhimento de
novos pressupostos para explicar uma
sucessão de fenômenos.
PONTOS PRINCIPAIS
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Fases das Transformações Paradigmáticas :
segundo o que propõe Kuhn, a caracterização
paradigmática do pensamento científico passa
pelas seguintes fases:
a) conhecimento pré-paradigmático (disperso,
confuso);
b) a ciência normal, sistematizada em
determinado momento;
c) crise provocada pelo surgimento de novos
aspectos;
d) inovação extraordinária, que conduz à
revolução científica;
e) posteriormente ocorre a repetição do ciclo.
PONTOS PRINCIPAIS
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Importância dos Pressupostos Dogmáticos :
Nos estágios iniciais, qualquer formulação
teórica sobre determinado grupo de
fenômenos sofre a interferência de alguns
princípios inovadores, aceitos sem muita
discordância e que vão constituir as bases
possíveis para as revoluções científicas.
São os chamados puzzles (enigmas). Ex: a
evolução da física clássica newtoniana para
a física relativista de Einstein.
PONTOS PRINCIPAIS
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A Disseminação dos Dogmas na
Comunidade Científica : resolvendo os
problemas surgentes em função das
novas pesquisas, os novos paradigmas
vão sendo paulatinamente acolhidos
pela comunidade científica,
assegurando um relativo consenso, o
que solidifica as novas ideias
propostas. Através da educação, é
assegurada a sua aceitação.
PONTOS PRINCIPAIS

Quebra-Cabeças e Anomalias : são
dois conceitos que enriquecem o
pensamento do Autor, o primeiro sob
a forma de aparentes contradições
conceituais que os novos paradigmas
terão o dever de superar; não
obstante, estes quebra-cabeças
poderão se transformar em anomalias,
ou problemas que os novos
paradigmas não conseguiram explicar.
PONTOS PRINCIPAIS
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As Crises no Conhecimento Científico :
são, portanto, o resultado de
anomalias não resolvidas, o que acaba
por enfraquecer a coerência dos novos
modelos de explicação, debilitando
assim seus fundamentos (dogmas).
PONTOS PRINCIPAIS
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O Surgimento de uma Ciência
Extraordinária : é o estágio caracterizado
pelo dissenso imperante entre os
cientistas, quando novas intuições
paradigmáticas entram em disputa, com o
objetivo de incluir os novos fatos
observados.
Contudo, um só paradigma deve
prevalecer, aquele que consiga fornecer o
maior número de respostas aos problemas
surgentes.
PONTOS PRINCIPAIS
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Concluindo : as revoluções científicas
não são verdadeiras nem falsas, mas
apenas os estágios que ocorrem na
evolução dos conhecimentos
científicos, o que significa que há um
campo infinito de perspectivas
paradigmáticas, oscilando entre o
dogmatismo e sua crítica, que não são
necessariamente opostos, mas
complementares.
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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Entender as ciências é conhecer sua prática, seu
funcionamento e seus mecanismos.
É compreender o comportamento do cientista,
suas atitudes e suas decisões.
Foi a partir da compreensão da prática do cientista que
Thomas Kuhn desvelou os mecanismos internos das
ciências.
Para ele as ciências evoluem através de paradigmas.
Paradigmas são modelos, representações e
interpretações de mundo universalmente reconhecidas
que fornecem problemas e soluções modelares para uma
comunidade científica.
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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É por meio dos paradigmas que os cientistas
buscam respostas para os problemas
colocados pelas ciências.
Os paradigmas são, portanto, os
pressupostos das ciências.
A prática científica ao fomentar leis, teorias,
explicações e aplicações criam modelos que
fomentam as tradições científicas.
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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Segundo Kuhn, os “paradigmas são as
realizações científicas universalmente
reconhecidas que, durante algum tempo,
fornece problemas e soluções modelares para
uma comunidade de praticantes de uma ciência”
(Kuhn).
A física de Aristóteles é um bom exemplo de
paradigma, sua teoria foi aceito por mais de mil
anos.
A astronomia Copernicana, a dinâmica
Newtoniana, a química de Boyle, a teoria da
relatividade de Einstein também são
paradigmas.
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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O conceito de paradigma surgiu das experiências
de Kuhn como cientista.
Ele percebeu que a prática cientifica é uma
tentativa de forçar a natureza a encaixar-se
dentro dos limites preestabelecidos e
relativamente inflexíveis fornecido pelo
paradigma.
Ou seja, a ciência é uma tentativa de forçar a
natureza a esquemas conceituais fornecidos pela
educação profissional.
Na ausência de um paradigma, todos os fatos
significativos são pertinentes ao
desenvolvimento de uma ciência.
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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O motor das ciências é a luta entre moldelos explicativos,
entre teorias e concepções de mundo, “o desenvolvimentoda
da maioria das ciências têm-se caracterizado pela
contínua competição entre diversas concepções de natureza
distintas”. (Kuhn).
É o que Kuhn denomina de ciência normal.
A ciência normal não se desenvolve por acumulação de
descobertas e invenções individuais, mas por revoluções de
paradigmas.
Por exemplo, a teoria geocêntrica de Ptolomeu, que afirmava
ser a terra o centro do universo, foi substituída por um novo
modelo, a teoria heliocêntrica de Copérnico, que afirmava ser
o sol o centro.
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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Outro exemplo é a teoria da gravitação de Newton, que
afirmava ser a gravidade uma força fundamental existente
em todos os corpos. Essa teoria foi completamente
modificada por um novo modelo explicativo, a teoria da
relatividade-geral de Einstein. Segundo esse novo modelo, a
gravidade não seria uma característica dos corpos, mas das
distorções do espaço-tempo local causado pelo peso das
massas dos corpos. Essas transformações de paradigmas são
revoluções científicas e “a transição sucessiva de um
paradigma a outro, por meio de uma revolução, é o padrão
usual de desenvolvimento da ciência amadurecida” (Kuhn,
1991, 32).
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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Para Kuhn a ciência normal são as pesquisas que
estão baseadas em conquistas do passado.
Essas conquistas são reconhecidas pela
comunidade científica de uma área particular e
possuem duas características comuns.
A primeira característica é que suas conquistas
atraem um grande número de cientista em torno de
uma atividade ou teoria.
A segunda afirma que suas realizações estão
abertas para a comunidade científica problematizar
e resolver toda espécie de problemas.
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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Os cientistas que compartilham um mesmo
paradigma estão comprometidos com as
mesmas “regras” e “padrões” estabelecidos pela
prática científica.
“A ciência normal, atividade na qual a maioria
dos cientistas emprega inevitavelmente quase
todo seu tempo, é baseada no pressuposto de
que a comunidade científica sabe como é o
mundo.
Grande parte do sucesso do empreendimento
deriva da disposição da comunidade para
defender esse pressuposto – com custos
consideráveis se necessário”. (Kuhn).
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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Kuhn (1991) afirma ainda que o paradigma se
constitui como uma rede de compromissos ou
adesões, conceituais, teóricas, metodológicas e
instrumentais compartilhados.
O paradigma é o que faz com que um cientista
seja membro de uma determinada comunidade
cientifica.
Através da educação o jovem adquire os
esquemas conceituais de sua atividade.
É a educação profissional que lhe permitirá
aprender e internalizar esses pressupostos.
Uma vez aprendido o cientista vai compartilhálos em sua prática profissional.
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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Outra característica importante do paradigma é que
ele não depende de regras externas.
Para Kuhn (1991), os problemas e técnicas da
pesquisa que surgem numa tradição não estão
necessariamente submetidos a um conjunto de
regras.
A falta de uma interpretação padronizada ou de
regras não impede que um paradigma oriente a
pesquisa.
Na verdade, a existência de um paradigma nem
mesmo precisa implicar a existência de qualquer
conjunto completo de regras.
O QUE É PARADIGMA PARA
KUHN
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Isso significa que a ciência normal não é um
empreendimento unificado.
As várias ciências e seus vários ramos são
bastante instáveis, muitos delas não têm
coerência entre suas partes.
Há grandes revoluções como pequenas
revoluçãos, algumas apenas afetam apenas uma
parte de um campo de estudos, outras afetam
grupos bastante amplos.
Devido a esta estrutura instável das ciências é
impossível uma total padronização dos
paradigmas.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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Inicia a obra falando do discurso do
cientista: “... à ideia do cientista como o
investigador sem preconceitosem busca
da verdade; o explorador da natureza – o
homem que rejeita preconcei-tos quando
entra no laboratório, que coleciona e
examina os fatos crus, objetivos,e que é
fiel a tais fatos e só a eles... Ser científico
é, entre outras coisas, ser objetivo eter
espírito aberto.”
COMPREENDENDO O
TEXTO
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Embora a atividade científica possa ter um espírito aberto –
qualquer que seja o sentido que esta frase possa ter – o
cientista individual muito frequentemente não o tem. Quer o
seu trabalho seja predominantemente teórico, quer seja
experimental, o cientista normalmente parece conhecer, antes
do projeto de investigação estar razoavelmente avançado,
pormenores dos resultados que serão alcançados com tal
projeto. Se o resultado aparece rapidamente, ótimo. Senão,
ele lutará com os seus instrumentos e com as suas equações
até que, se forpossível, forneçam-lhe os resultados que
estejam conformes com o modelo queele tinha previsto desde
o começo.
Com frequência, as mesmas convicções evidenciam-se mais
claramente ainda nas suas réplicas ao trabalho de outros
cientistas.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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Embora o preconceito e a resistência às inovações
possam muito facilmente pôr um freio ao progresso
científico, a sua onipresença é, porém, sintomática
como característica requerida para que a investigação
tenha continuidade e vitalidade.
Características desse tipo, tomadas coletivamente, eu
classifico como o dogmatismo das ciências maduras, e
nas páginas que se seguem tentarei precisar alguns
dos seus aspectos.
A educação científica "semeia"o que a comunidade
científica, com dificuldade, alcançou até aí – uma
adesão pro-funda a uma maneira particular de ver o
mundo e praticar a ciência.
Tal adesãopode ser, e é, de tempos em tempos,
substituída por outra, mas nunca pode serfacilmente
abandonada.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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
Além do mais, essa adesão tem um segundo papel na
investigação que é algoincompatível com o primeiro.
A força que ela tem e a unanimidade com que
épartilhada pelo grupo profissional fornecem ao
cientista individual um detectorimensamente sensível
dos focos de dificuldades de onde surgem
inevitavelmenteas inovações importantes nos fatos e
nas teorias.
Nas ciências, a maior parte dasdescobertas de fatos
inesperados e todas as inovações fundamentais
da teoria sãorespostas a um fracasso prévio usando as
regras do jogo estabelecido.
Portanto,embora uma adesão quase dogmática seja,
por um lado, uma fonte de resistênciae controvérsia, é
também um instrumento inestimável que faz das
ciências a ati-vidade humana mais consistentemente
revolucionária.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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Antes de continuar a examinar a natureza e as
consequências do dogma científico, vejamos o esquema de
educação através do qual ele é transmitido por uma geração
de profissionais à seguinte.
Os cientistas não formam, está claro, a única comunidade
profissional que adquire pela educação um conjunto de
padrões, instrumentos e técnicas que mais tarde usam no
seu próprio trabalho criativo.
Porém uma vista rápida que seja da pedagogia científica
sugere que ela pode in-duzir uma rigidez profissional
praticamente impossível de alcançar noutros cam-pos,
exceto talvez na teologia.
Admito que essa exposição esteja deformada peloesquema
americano que é o que conheço melhor. Os contrastes que
tenho emvista, porém, devem ser visíveis igualmente nas
devidas proporções na educaçãoeuropeia e britânica.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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
Ser baseada quase exclusivamente em
manuais não é tudo o que diferencia
aeducação científica.
Os estudantes de outras áreas são, ao fim
e ao cabo, também expostos à ação de tais
livros, embora raramente depois do segundo
ano de universidade, e mesmo nos primeiros
anos, não de uma forma tão exclusiva.
Mas,enquanto que, nas ciências, se há
manuais diferentes é porque expõem
assuntosdiferentes, nas humanidades e em
várias ciências sociais, há manuais que apresentam diferentes tratamentos para uma
mesma problemática.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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Além do mais, essa adesão tem um segundo papel na
investigação que é algo incompatível com o primeiro.
A força que ela tem e a unanimidade com que
épartilhada pelo grupo profissional fornecem ao
cientista individual um detector imensamente sensível
dos focos de dificuldades de onde surgem
inevitavelmente as inovações importantes nos fatos e
nas teorias.
Nas ciências, a maior parte dasdescobertas de fatos
inesperados e todas as inovações fundamentais
da teoria são respostas a um fracasso prévio usando
as regras do jogo estabelecido.
Portanto,embora uma adesão quase dogmática seja,
por um lado, uma fonte de resistência e controvérsia, é
também um instrumento inestimável que faz das
ciências a atividade humana mais consistentemente
revolucionária.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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
O esquema de educação sistemática dos manuais que acabamos de
descrever ão existia em nenhuma parte e em nenhuma ciência
(exceto talvez na matemá-tica elementar) até o começo do séc. XIX.
Onde não existiam manuais, havia com frequência paradigmas
universais aceitos para a prática das várias ciências.
Eram constituídos pelos feitos científicos descritos em livros que
todos os praticantes em um dado campo conheciam intimamente e
admiravam, feitos que davam os modelos para as suas próprias
investigações e os padrões para avaliar os seus próprios resultados.
A Física de Aristóteles, o Almagesto de Ptolomeu, os Principia e a Óptica
de Newton, a Eletricidade de Franklin, a Química de Lavoisier... estas
obras e muitas outras foramtodas utilizadas implicitamente,
durante algum tempo, para definir os problemas legítimos e os
métodos de investigação para sucessivas gerações de praticantes.
No seu tempo cada um desses livros, juntamente com outros
escritos segundo o modelo iniciado por eles, teve no seu domínio
mais ou menos a mesma função que têm hoje os manuais de uma
ciência.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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
Para perceber a diferença entre desenvolvimento científico pré e
pós-paradigmatico, consideremos um exemplo simples. No começo
do séc. XVIII, como no séc.XVII e antes dele, havia quase tantos
pontos de vista sobre a natureza da eletricidade como o número de
experimentadores importantes.
Todos os diversos conceitos que eles possuíam sobre a eletricidade
tinham algo em comum – eram em parte derivados das experiências
e observações e em parte de uma ou outra versão da filosofia
mecânico-corpuscular que orientava toda a investigação científica
da época.
Contudo, esses elementos comuns davam aos seus trabalhos só uma
vaga semelhança.
Somos forçados a admitir a existência de várias escolas e
subescolas em competição, cada uma retirando força de sua ligação
com uma versão par-ticular (cartesiana ou newtoniana) da
metafísica corpuscular, e cada uma dando relevo especial
ao conjunto de fenômenos elétricos mais facilmente explicado por
ela. As outras observações eram explicadas usando construções ou
eram deixadas como problemas importantes para investigação
futura.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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Em épocas diferentes, cada uma das
escolas trouxe contribuições significativas para o corpo de conceitos,
fenômenos e técnicas de onde Franklin
extraiu o primeiro paradigma para as
ciências elétricas. Uma definição de
cientista que exclua os membros
dessas escolas, deverá excluir
igualmente os seus sucessores
modernos.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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Contudo, alguém que se debruce sobre o
desenvolvimento da eletricidade antes de Franklin
pode muito bem tirar a conclusão de que, embora os
praticantes do ofício fossem cientistas, o resultado
imediato da sua atividade era algo menos do que
ciência.
Cada experimentador em eletricidade era forçado a
construir o seu domínio de novo a partir da base, uma
vez que o conjunto de convicções que ele podia tomar
como certas era muito limitado.
Ao fazer isso, a sua escolha de experiências e
observações fundamentais era relativamente livre,
porque o conjunto de métodos, padrão e fenômenos
que cada teórico da eletricidade podia utilizar e
explicar era extraordinariamente reduzido.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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
Na ausência de uma teoria bem articulada e
amplamente aceita (uma propriedade que
nenhuma ciência possui de início e que
poucas das ciências sociais, se que alguma,
possuem atualmente), a situação só muito
dificilmente poderia ter sido diferente.
Para os teóricos da eletricidade, durante a
primeira metadedo séc. XVIII não
havia maneira de distinguir consistentemente
entre efeitos elétricos e não-elétricos, entre
acidentes de laboratório e novidades
essenciais, ou entre exibições brilhantes e
experiências que revelassem aspectos
essenciais da natureza da eletricidade.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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Esta é a situação que Franklin mudou.
A sua teoria explicava tantos – embora não
todos – efeitos elétricos reconhecidos pelas
várias escolas anteriores que no período
de uma geração todos os teóricos
da eletricidade foram convertidos a maneiras
de ver quase idênticas. Embora não pusesse
fim a todos os desacordos, a teoria de
Franklin constituiu o primeiro paradigma da
eletricidade e a experiência dele dá um tom e
um sabor novo às investigações em
eletricidade nas últimas décadas do séc.
XVIII.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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

Essas observações devem já começar a esclarecer o
que considero ser um paradigma.
É, em primeiro lugar, um resultado científico
fundamental que inclui ao mesmo tempo uma teoria e
algumas aplicações exemplares aos resultados das
experiências e da observação.
Mais importante ainda, é um resultado cujo completar
está em aberto e que deixa toda espécie de
investigação ainda por serfeita.
E, por fim, é um resultado aceito no sentido de que é
recebido por um grupo cujos membros deixam de
tentar ser seu rival ou deixam de criar-lhe
alternativas.
Pelo contrário, tentam desenvolvê-lo e explorá-lo
numa variedade de formas a que voltarei a seguir.
COMPREENDENDO O
TEXTO



A minha posição ficará ainda mais clara se eu agora
perguntar o que é que fica para a comunidade
científica fazer quando existe um paradigma?
A resposta – tendo em vista a resistência a inovações
que existe e que é escondida frequentemente debaixo
do tapete – é que, dado um paradigma, os cientistas
esforçam-se, usando todas as suas capacidades e
todos os seus conhecimentos para adequá-lo cada vez
mais à natureza.
Muito do seu esforço, particularmente nos estágios
iniciais do desenvolvimento paradigmático, é
direcionado para articular o paradigma tornando-o
mais preciso em áreas em que a formulação original
fora, como não podia deixar de ser, vaga.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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
Esse tipo de problema não constitui o
único campo a conquistar que um
paradigma propõe à comunidade que o
aceita.
Há sempre muitos outros campos onde
o paradigma supostamente funciona,
mas em que não foi, de fato, ainda
aplicado.
O ajustamento do paradigma à
natureza em tais casos com frequência
ocupa os melhores talentos científicos
de uma geração.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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

Essa referência ao resultado de um projeto
de investigação que é desejado de antemão
leva à característica notável daquilo a que
estou agora chamando de investigação
normal, de base paradigmática.
O cientista que trabalha nela de modo
algum se ajusta à antiga imagem do cientista
como um exploradorou um inventor de novas
e luminosas teorias que permitem previsões
brilhantes e inesperadas.
Pelo contrário, em todos os problemas
discutidos atrás todo o resultado mesmo em
pormenor era conhecido desde o início.
COMPREENDENDO O
TEXTO




Estas são as características da investigação normal
que eu tinha em vista quando, no começo deste
ensaio, descrevia a pessoa envolvida nela como um
solucionador de quebra-cabeças, à maneira de um
jogador de xadrez.
O paradigma que ele adquiriu graças a uma
preparação prévia fornece-lhe as regras do jogo,
descreve as peças com que se deve jogar e indica o
objetivo que se pretende alcançar.
A sua tarefa consiste em manipular as peças segundo
as regras de maneira que seja alcançado o objetivo em
vista.
Se ele falha, como acontece com a maioria dos
cientistas, pelo menos na primeira tentativa de atacar
um problema, esse fracasso só revela a sua falta de
habilidade.
COMPREENDENDO O
TEXTO


As regras fornecidas pelo paradigma
não podem então ser postas em
questão, uma vez que sem essas
regras não haveria quebra-cabeças
para resolver.
Não há, portanto, dúvidas de que os
problemas(ou quebra-cabeças), pelos
quais o praticante da ciência madura
normalmente se interessa,
pressupõem a adesão profunda a um
paradigma.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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



Os cientistas são treinados para funcionar como
solucionadores de quebra-cabeças dentro de regras
estabelecidas, mas são também ensinados a considerar-se
eles próprios como exploradores e inventores que não
conhecem outras regras além das ditadas pela natureza.
O resultado é a aquisição de uma tensão, em parte ao nível
da comunidade, entre as habilitações profissionais de um lado
e a ideologia profissional do outro.
É quase certo que a tensão e a capacidade de mantê-la são
elementos importantes para o êxito da ciência.
Até aqui tratei exclusivamente da dependência da
investigação da tradição, a minha discussão é inevitavelmente
unilateral.
Em todas essas questões há muito mais para ser dito.
COMPREENDENDO O
TEXTO
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
Mas ser unilateral não significa necessariamente estar errado,
e pode mesmo ser uma atitude preliminar essencial antes de
se fazer um exame mais penetrante das condições
necessárias para uma vida científica com êxito.
Quase ninguém, talvez mesmo ninguém, precisa de ser
informado que a vitalidade da ciência depende da
continuidade nas inovações que abalem as tradições.
Mas, aparentemente em conflito, a dependência da
investigação de uma profunda adesão a instrumentalidades e
convicções estabelecidas recebe o mínimo possível de
atenção.
Pressiono para que lhe seja dada mais atenção.
Até que isso aconteça, algumas das características mais
importantes da educação científica e do desenvolvimento da
ciência continuarão a ser extremamente difíceis de
compreender.
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Aprimoramento – THOMAS KUHN