CRIANÇA - COMPUTADOR: um exame das possibilidades pedagógicas
SILVA FILHO, João Josué da
Universidade Federal de Santa Catarina
RESUMO
Em 96.2, trabalhamos com um grupo de 14 crianças (4/5 anos) e, em 97.1, com
um grupo de 13 crianças ( idem). Visitamos o laboratório de informática (LANTEC/
CED) com os grupos de crianças com o intuito de explorar diferentes possibilidades.
Também foi realizado um levantamento de softwares educacionais existentes em língua
portuguesa ( 0 a 6 anos ), tendo alguns deles sido experimentados pelo grupo, que
realizou anotações sobre a performance. Apesar de sabermos que o nosso trabalho se
realizou apenas com um pequeno grupo de crianças, e que, além disto, tratam-se de
crianças situadas em uma determinada condição social, econômica e cultural,
entendemos ser possível tecer algumas considerações de ordem mais ampla. Por
exemplo, as crianças tenderam a se comportar diante dos computadores da mesma
forma como se colocam diante de tudo o mais na vida: curiosas, ávidas pela exploração
e sensíveis ao contexto afetivo, contudo, quase todas não suportaram sessões muito
longas no laboratório ( mesmo quando bastante interessadas). Percebemos, por aí, a
grande importância da mediação de um outro ser mais "experiente" para ajudar a
superar certas barreiras que sozinhas as crianças não teriam como conseguir.
Parte II
3. Considerações finais
Hoje, terceiro ano de atividades do grupo, podemos dizer que a convivência com
este espaço de pesquisa e produção de conhecimento vem favorecendo imensamente
nossa atividade pedagógica. Não apenas pelas experiências que aqui realizamos, mas,
principalmente, por termos nos apropriado de um processo vivo, um instrumental que
nos possibilita inventar as soluções e pensar por nós mesmos onde e quando a situação
assim o exigir. Este ponto representa um aspecto bastante gratificante para todo o grupo.
Temos a convicção de ter conseguido avançar em relação às intenções de
aprofundamento na discussão e a respeito dos aspectos pedagógicos envolvidos na
educação infantil (pré-escolar) face aos requisitos das novas tecnologias de
comunicação e tratamento de sinais, principalmente no que diz respeito à elaboração
daqueles aspectos relacionados com a presença do computador. As indagações, oriundas
das atividades de interação com as crianças e do estudo do material teórico, foram
desafiadoras das nossas convicções e levaram a um questionamento das
finalidades e
das próprias propostas que, segundo acreditamos, devam orientar uma prática educativa.
Esta reflexão sobre valores, teorias, crenças e tendências que cada um de nós trazia
consigo tem alimentado um profícuo movimento de (re)elaboração da nossa própria
prática.
A maior lição de todas parece ter sido a certeza de que o processo de capacitação
de docentes para lidar com as situações novas (e em educação, de certa maneira, cada
dia é "novo") não pode se preocupar apenas com a instrumentalização propriamente
dita, com o manejo de certos apetrechos. Se quisermos dar mais conta dos desafios que
a prática educativa requer superar, devemos investir uma parte substancial do esforço no
sentido de propiciar uma vivência coletiva de práticas educativas alimentadas pela
reflexão acerca das situações vividas.
Não obstante termos a clareza de que nosso trabalho se realizou apenas com um
pequeno grupo de crianças, e que, além disto, tratavam-se de crianças situadas em uma
determinada condição social, econômica e cultural, acreditamos ser possível colocar
algumas considerações de ordem mais ampla.
De maneira geral, as crianças tenderam a se comportar diante dos computadores
da mesma forma como se colocam diante de tudo o mais na vida: curiosas, ávidas pela
exploração e sensíveis ao contexto afetivo que cerca todo trabalho que se realiza com
elas. Alguns aspectos das nossas observações, contudo, indicam cuidados que precisam
ser tomados quando do trabalho com crianças pequenas em ambientes informatizados:
quase todas elas não suportaram sessões muito longas no laboratório (mesmo quando
bastante interessadas), por que ? Porque o funcionamento do computador e da maioria
dos programas pressupõe uma seqüência de ações e possui um tempo próprio de
processamento que em muitos casos as crianças ou não conseguem acompanhar, ou
então perdem o interesse ao esperar (muitas vezes, elas estiveram mais
interessadas
em manipular os botões, o mouse e o teclado e ficarem se divertindo com as mudanças
provocadas por estas ações do que com a proposta apresentada por um jogo ou
aplicativo).
Nossas observações nos levaram a confirmar a importância de um
acompanhamento sistemático por parte de
alguém mais experiente que faça a
mediação entre o conhecimento e habilidades que a criança já desenvolveu e domina e
aqueles conhecimentos e habilidades que esperamos que elas venham a dominar
sozinhas. Para nós, não resta dúvida que, embora detentor de um grau de sofisticação
extremamente requintado, o computador não prescinde da presença da mediação
humana nos processos de aprendizagem, seja nos aspectos técnicos (a programação,
tanto didática, quanto instrucional), seja nos aspectos políticos(o sentido e a discussão
sobre o que deve ser ensinado) ou nos aspectos afetivos (a (re)significação do que está
sendo aprendido). Em todos eles o elemento principal é a postura que orienta o processo
de trabalho.
Tanto quanto como com qualquer outro material utilizado para facilitar a
mediação do educador, aqui também é necessária uma finalidade explícita com
diretrizes teóricas capazes de sustentar a tomada de decisão que faz parte do cotidiano
do educador, qualquer que seja o instrumental que ele utilize.
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