50 Interbio v.8 n.2, Jul-Dez, 2014 - ISSN 1981-3775 PREVALÊNCIA DE DISLPIDEMIAS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: REVISÃO SISTEMÁTICA DISLPIDEMIAS PREVALENCE IN CHILDREN AND ADOLESCENTS: A SYSTEMATIC REVIEW SILVA, Fernanda Nogueira 1; SOUZA, Maria Cristina Corrêa de Souza1 Resumo O objetivo do presente estudo foi verificar a prevalência de dislipidemias em crianças e adolescentes. Foi realizada uma revisão sistemática de literatura a partir da base de dados Bireme e artigos da base de dados Scientific Electronic Libray Online (SciELO) e U.S National Library of Medicine and the National Institutes Health (Pubmed). Foram incluídas publicações de 2000 a 2013 com o uso dos descritores padronizados: dyslipidemias, adolesc$, LDL cholesterol, HDL cholesterol, triglycerides. Foram localizados 1350 estudos e após a seleção pelos critérios de inclusão definidos 30 artigos. A prevalência de colesterol total alterado variou de 3,3 a 73,4%; a de LDL-c de 4,7 a 40,5%; de HDL-c de 5,7 a 86% e a de triglicerídeos 3,3 a 52%. Os dados evidenciam que a dislipidemia está presente numa parcela importante da população de crianças e adolescentes, seja na alteração de apenas um ou mais fatores. Os estudos sobre dislipidemias neste grupo devem ser difundidos pois podem prevenir o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. PALAVRAS CHAVE: Dislipidemias, Crianças e Adolescentes, LDL colesterol, HDL colesterol, Triglicérides. Abstract The aim of this study was to determine the prevalence of dyslipidemia in children and adolescents. A systematic review of literature from the base of data and articles Bireme database Libray Scientific Electronic Online (SciELO) and U.S. National Library of Medicine and the National Institutes Health (PubMed) was performed. Publications from 2000 to 2013 with the use of standardized descriptors were included: dyslipidemias, adolesc$, LDL cholesterol, HDL cholesterol, triglycerides. 1350 articles were found after selection and inclusion criteria defined by 30 items. The prevalence of total cholesterol changed varied from 3.3 to 73.4%; the LDL-C from 4.7 to 40.5%; HDL-C from 5.7 to 86% and triglycerides 3.3 to 52%. The data show that dyslipidemia is present in a significant proportion of the population of children and adolescents, is the change of only one or more factors. Studies on dyslipidemia in this group shall be disseminated as they may prevent the development of cardiovascular diseases. Key words: Dyslipidemias, Adolescents, LDL cholesterol, HDL cholesterol, Triglycerides. 1 Universidade Federal da Grande Dourados, Faculdade de Ciências da Saúde, Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil. [email protected]; [email protected] SILVA, Fernanda Nogueira; SOUZA, Maria Cristina Corrêa de Souza 51 Interbio v.8 n.2, Jul-Dez, 2014 - ISSN 1981-3775 Introdução A principal causa de morte no Brasil e em países desenvolvidos é a doença cardiovascular. Destaca-se a aterosclerose, uma doença inflamatória crônica, que se inicia com um longo período assintomático (KERBER et al., 2010). A literatura evidencia que seu desencadeamento pode ocorrer na infância (PEREIRA et al., 2010). A aterosclerose se desenvolve com a formação de estrias gordurosas a partir dos 3 anos de idade e na adolescência passa a atingir as coronárias, progredindo, então, para as fases subsequentes (CARVALHO et al., 2007). Os fatores de risco para as doenças cardiovasculares têm aumentado em crianças e adolescentes, sendo os principais as dislipidemias, hipertensão arterial e obesidade, aliados a maus hábitos alimentares e sedentarismo (SCHERR et al., 2007; PEREIRA et al., 2010). Uma das estratégias mais importantes para o tratamento das doenças cardiovasculares é a prevenção com a verificação em idade precoce da prevalência de fatores de risco (BECK et al., 2011). A dislipidemia é a concentração anormal de lipídeos ou lipoproteínas, e pode ser determinada por fatores ambientais ou genéticos (FRANCA; ALVES, 2006). Para a avaliação laboratorial do perfil lipídico, devem ser medidas as concentrações séricas de colesterol total (CT), colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL-c), colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) e triglicerídeos (TG) (KERBER et al., 2010). Segundo a IV Diretriz Brasileira sobre dislipidemia e aterosclerose a dislipidemia (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2007) apresenta quatro tipos definidos: o HDL-c baixo; hispercolesterolemia isolada; hipertrigliceridemia isolada; e a hiperlipidemia mista (aumento dos valores de CT e TG). Evidências epidemiológicas obtidas através de pesquisas nos últimos 40 anos têm demonstrado que a hipercolesterolemia, caracterizada pelo aumento de LDL-c, é a causadora direta de doença aórtica e deve ser o principal alvo de intervenção segundo as diretrizes do Programa Nacional de Educação sobre o colesterol (NCEP) (RIBAS; SILVA, 2009). Estudos vêm demonstrando a relação entre o excesso de peso e a obesidade abdominal com o perfil lipídico. A dislipidemia normalmente é secundária à obesidade infantil, havendo uma relação positiva entre elas (PEREIRA et al., 2010). Cerca de 40 a 55% de crianças com níveis anormais de lipídeos o manterão durante a vida adulta (HATAMI et al., 2012). Atualmente, a prevalência de dislipidemias entre crianças e adolescentes em todo o mundo tem avançado, sendo encontrada variação de 2,9 a 33% com o aumento proporcional à idade (PEREIRA et al., 2010). De acordo com a I Diretriz Brasileira de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2005), a análise do perfil lipídico deve ser realizada em crianças que tenham pais ou avós com história de aterosclerose com idade inferior a 55 anos, tenham pais com colesterol total > 240 mg/dL, apresentem outros fatores de risco como a hipertensão arterial, obesidade, tabagismo ou dieta rica em gorduras saturadas e/ou ácidos graxos trans, utilizem drogas ou sejam portadores de doenças que cursam com a dislipidemia (deficiência de hormônio do crescimento, diabetes melito, hipotireoidismo, entre outras) e possuam manifestações clínicas de dislipidemia. O aumento dos níveis de colesterol total, triglicerídeos e/ou de ambos pode estar relacionado com anormalidades genéticas no mecanismo de lipoproteínas, porém o principal fator para o aumento do colesterol é a ingestão alimentar caracterizada pelo excesso de ácidos graxos saturados, colesterol e energia total (FERNANDES et al., 2011). O colesterol contido na alimentação possui menor efeito hipercolesterolêmico do que as gorduras saturadas, que são SILVA, Fernanda Nogueira; SOUZA, Maria Cristina Corrêa de Souza 52 Interbio v.8 n.2, Jul-Dez, 2014 - ISSN 1981-3775 consideradas aterogênicas, já que causam um grande aumento do colesterol plasmático e do LDL-c. Os ácidos graxos trans são responsáveis pelo aumento do colesterol total, da fração LDL-c e diminuição do HDL-c (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2005). Crianças e adolescentes apresentam diferenças em relação à frequência de dislipidemia, e isso ocorre por vários fatores entre eles história familiar de doença cardiovascular prematura, influência genética, variação biológica, fatores ambientais, hábitos alimentares da família e condição socioeconômica (ROMALDINI et al., 2004). A prevalência de dislipidemia na infância e adolescência tem apresentado incremento e pode ser precursora das doenças cardiovasculares que provocam muitas mortes em todo o mundo, sendo assim faz-se necessária uma revisão sobre o tema. O presente estudo objetivou sistematizar as evidências científicas disponíveis sobre a prevalência de dislipidemias em crianças e adolescentes. Material e Métodos Foi realizada uma revisão sistemática de literatura a partir da base de dados Bireme que levou aos artigos da base de dados Scientific Electronic Libray Online (SciELO) e U.S National Library of Medicine and the National Institutes Health (Pubmed). Foram definidos os seguintes descritores pelo DeCS: dyslipidemias, adolesc, LDL cholesterol, HDL cholesterol, triglycerides. Os critérios de inclusão utilizados foram: artigo original publicado a menos de 10 anos; realizado em humanos; idade dos participantes de 2 a 19 anos; presença de algum dos exames: colesterol total, triglicerídeos, LDL-c e HDL-c; publicado no idioma português, inglês ou espanhol. A seleção dos artigos foi feita em 3 etapas, sendo a primeira a leitura dos títulos dos artigos encontrados, quando foram retirados aqueles que, sem dúvida, não estavam adequados aos critérios de inclusão. Após esse momento foi realizada a revisão dos artigos selecionados para retirar os artigos repetidos e; na última etapa todos os artigos foram lidos para verificar os que estavam inclusos. Resultados e Discussão Com a pesquisa foram encontrados 1350 artigos e selecionados 65 artigos pelo título, destes apenas 40 não eram repetidos. Após a leitura de todos foram selecionados 30 artigos que atendiam aos critérios de inclusão. Quanto ao tipo de estudo, dos 30 artigos encontrados 20 eram transversais, cinco estudos descritivos, um observacional, um retrospectivo e três não especificavam no artigo. Os estudos variaram de 1 mês a 11 anos de pesquisa, sendo que em alguns, também, não foi citado o tempo de coleta de dados. Para o critério de referência de dislipidemias foram encontrados 5 diferentes pontos de corte, sendo estes: a) I, III e IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipidemias (DBSD); b) a Academia Americana de Pediatría y el Programa Nacional de Educación en Colesterol de los Estados Unidos de América (EUA) e o Programa Nacional de Educação em Colesterol (NCEP) norte americano; c) I Diretriz Brasileira de Prevenção da Aterosclerose na Infância e na Adolescência (I DPAIA); d) Instituto Nacional de Nutrición y Fundacredesa; f) NHANES e foram encontrados, ainda, estudos em que não foi citada a referência utilizada. Os valores referenciais de colesterol total variaram de ≥ 150 a ≥ 200 mg/dL; LDL-c ≥ 100 a > 130 mg/dL; HDL-c ≤ 30 a ≤ 45 mg/dL; LDL-c ≥ 100 a > 130mg/dL; triglicerídeos ≥ 130 a ≥ 150 mg/dL. As referências foram agrupadas em uma tabela com o nome do autor, país, população de estudo, faixa etária, tipo de estudo/duração, referência de dislipidemia e principais resultados na Tabela 1(em anexo). SILVA, Fernanda Nogueira; SOUZA, Maria Cristina Corrêa de Souza 53 Interbio v.8 n.2, Jul-Dez, 2014 - ISSN 1981-3775 Prevalência de colesterol total aumentado O colesterol total foi avaliado na maioria dos estudos (24) e a prevalência de hipercolesterolemia variou de 3,3 a 73,4%. Gontijo et al. (2010), encontraram os maiores valores de colesterol total alterado (≥ 150 mg/dL) sendo estes presentes em 73,4% dos adolescentes de um total de 199 de 10 a 19 anos atendidos no Programa à Saúde do Adolescente da Universidade Federal de Viçosa. Esse lipídeo foi o que apresentou maior alteração dentre todos os avaliados (HDL-c, LDL-c e triglicerídeos), sendo encontrados valores superiores entre adolescentes com excesso de peso. A menor prevalência encontrada (3,3%) foi no estudo de Carvalho et al. (2007). O estudo foi realizado em Campina Grande, PB com 180 adolescentes de 14 a 17 anos de escola privada e pública. Estes resultados distintos em regiões do Brasil podem ser devidos ao local onde foi realizado o estudo. Gontijo et al. (2010) coletaram os dados em um Programa à Saúde do Adolescente da Universidade Federal de Viçosa diferente de Carvalho et al. (2007) e Scherr et al. (2007) que avaliaram estudantes nas escolas, ou seja indivíduos sadios que não estavam a procura de tratamento especifico. No estudo realizado com adolescentes no Rio de Janeiro foi encontrado o colesterol total maior que 190 mg/dL em 23% dos alunos de escolas privadas e apenas em 4% dos alunos de escolas públicas/filantrópicas. Esta diferença ocorreu devido a fatores relacionados aos hábitos alimentares e à atividade física. Os estudantes das escolas públicas tinham como única ou principal refeição a merenda escolar, que normalmente conta com a supervisão de um nutricionista, diferentemente do que ocorre com os estudantes das escolas particulares que se alimentam em cantinas terceirizadas que possuem menores cuidados com a qualidade da alimentação. Quanto à atividade física, foi observado que os alunos das escolas privadas se exercitavam regularmente, mas com menor intensidade e duração que os de escolas públicas (SCHERR et al., 2007). Prevalência de LDL-c elevado A prevalência de LDL-c elevado foi apresentada em 21 dos 30 artigos selecionados e variou de 4,7 a 40,5%. A prevalência encontrada no estudo de Pereira et al. (2009) foi a maior, estando presente em 40,5% das 494 crianças de ambos os sexos com idade entre 2 a 19 anos na cidade de Itapetininga, SP. As crianças obesas apresentaram maior chance de possuírem colesterol total, LDL-c e triglicerídeos elevados, porém não aumentou a chance de apresentarem níveis baixos de HDL-c. As prevalências em eutróficos e obesos de colesterol total, LDL e triglicerídeos foram, respectivamente, 47,8 e 74,6%; 36,8 e 55,6%; 4,7 e 27%. Os níveis de HDL-c mantiveram-se estáveis nos dois grupos, sendo 6,0 versus 7,9%, respectivamente. A menor prevalência de LDL-c elevado foi encontrada na América do Norte e na Ásia. O estudo de Leblanc e Jansen (2010) realizado em Kingston, Ontário no Canadá foi o que apresentou a menor prevalência de LDL-c elevado, sendo encontrado em 2% dos meninos e 3,8% das meninas. Este foi realizado em 1235 participantes (659 meninos e 576 meninas) com idades de 12 a 19 anos. O outro foi realizado na Coréia, onde Yang et al. (2012) obtiveram a prevalência de LDL-c elevado em apenas 4,7%, sendo mais frequente nas meninas do que nos meninos (5,5 e 4,1% respectivamente). Este estudo possui a maior amostra (2363 indivíduos, 1245 meninos e 1118 meninas) que tinham entre 10 a 18 anos. A diferença entre os sexos, possivelmente seja devido aos hormônios da puberdade, sendo que as meninas apresentaram maior prevalência de LDL-c elevado em relação aos meninos. No Brasil, o estudo que apresentou a menor prevalência de níveis elevados de LDL-c (5,7%) foi o de Ribas e Silva (2012), realizado na cidade de Belém, PA com 874 SILVA, Fernanda Nogueira; SOUZA, Maria Cristina Corrêa de Souza 54 Interbio v.8 n.2, Jul-Dez, 2014 - ISSN 1981-3775 crianças e adolescentes de 6 a 19 anos. Neste estudo, assim como no de Pereira et al. (2009) e Yang et al. (2012) foi verificado que o maior percentual de LDL-c era encontrado em pacientes com sobrepeso e obesidade, já que a gordura abdominal nestes casos é mais elevada alterando, assim, o valor do LDL-c. Prevalência de HDL-c baixo Dos 30 estudos, 25 avaliaram HDL-c e a prevalência de sua redução variou de 5,7 a 86%. Kerber et al. (2010), avaliando 350 indivíduos na cidade de Carazinho, RS observaram a maior prevalência de HDL-c reduzido (86%). A média de HDL-c foi 35,9 mg/dL e foi obtida uma associação com outras alterações lipídicas em 35% dos casos e de forma isolada em 51% destes. Segundo a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose (Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2007), a forma isolada ocorre quando apenas o HDL-c apresenta valores alterados e quando há associação com outra alteração se refere ao aumento do LDL-c e/ou TG. Em San Juan de Lurigancho no Perú, a prevalência de HDL-c baixo foi elevada, sendo de 68,4% nos meninos e 85% nas meninas entre 277 adolescentes de 12 a 17 anos. Este foi o lipídeo sérico que apresentou a maior alteração quando comparado aos outros (CT, LDL-c e triglicerídeos). Resultado semelhante foi obtido em período anterior nesta região e essa alteração foi justificada por fatores ambientais, como o sedentarismo, obesidade, dietas pouco saudáveis e o tabagismo (SAÉZ; BERNUI, 2009). Shalitin e Phillip (2008) avaliando 262 adolescentes israelitas de 5 a 19 anos, observaram uma prevalência de HDL-c baixo de 5,7%. Os pacientes que apresentaram esta alteração tinham acúmulo de gordura corporal e esteatose hepática. No Brasil, a menor prevalência de HDL-c baixo (6,1%) foi no estudo de Pereira et al. (2009) que avaliou a presença de fatores de risco cardiovasculares e sua associação com o sobrepeso e obesidade em escolares de 2 a 10 anos do interior de São Paulo. A prevalência de HDL-c, glicemia e apolipoproteinas não apresentou associação com os grupos (sem excesso de peso, sobrepeso, obeso). Silva et al. (2011), demonstraram apenas uma pequena alteração no perfil lipídico quando avaliados 1229 adolescentes de 15 a 17 anos da rede privada e pública no município de Rio Verde, GO. Somente o HDL-c apresentou uma pequena variação ficando abaixo do desejado, porém não sendo significativo, mas este serviu para instigar a realização de estudos para a caracterização do perfil lipídico de adolescentes, já que esta faixa etária delimita o ponto de partida para o início de doenças cardiovasculares. Prevalência de hipertrigliceridemia A prevalência de hipertrigliceridemia foi avaliada em 24 artigos dos 30 utilizados e variou de 3,3 e 52%. O estudo realizado no ambulatório do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, com 1937 crianças e adolescentes de 2 a 19 anos foi o que apresentou a maior prevalência de triglicerídeos elevados. Neste estudo, 52% dos indivíduos apresentaram aumento dos triglicerídeos, sem diferença entre os sexos (FARIA et al., 2008). Kerber et al. (2010), observaram menor prevalência de hipertrigliceridemia isolada (3,5%). O triglicerídeo baixo indicou que o aumento do colesterol total no estudo (49,6%) não se deu pelo excesso de alimentos, já que este aumentaria, também, os triglicerídeos, mas sim a qualidade do alimento que deve ser rico em gordura saturada/e ou gordura trans ou ainda devido a distúrbio genético. O estudo realizado na cidade de Valera na Venezuela apresentou a menor prevalência de hipertrigliceridemia em relação aos outros estudos, com prevalência de 3,3%. Foram estudados 337 indivíduos SILVA, Fernanda Nogueira; SOUZA, Maria Cristina Corrêa de Souza 55 Interbio v.8 n.2, Jul-Dez, 2014 - ISSN 1981-3775 de 6 a 18 anos e apenas seis indivíduos apresentaram o aumento de triglicerídeos (SANDOVAL et al., 2009). A maior prevalência de hipertrigliceridemia foi encontrada em estudo realizado em ambiente hospitalar, podendo indicar que os pacientes que participaram deste estudo já tinham algum tipo de doença por isso procuraram o estabelecimento de saúde. Conclusão Os dados evidenciam que a dislipidemia está presente numa parcela importante da população infantil e adolescente, seja na alteração de um ou mais parâmetros. Entende-se, então, a importância da verificação precoce destes fatores para a prevenção de doenças cardiovasculares. A promoção da saúde nesta faixa etária é de extrema importância já que distúrbios ocasionados na infância e adolescência tendem a continuar ou, até mesmo, progredir na vida adulta. Os estudos sobre dislipidemias em crianças e adolescentes devem ser difundidos no Brasil e no Mundo, para a maior conscientização da população sobre os malefícios trazidos à vida adulta. Referências Bibliográficas ALAYÓN, N.A. et al. 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Fevereiro a maio de 2004 NCEP e Sociedade Brasileira de Cardiologia III DBSD DACCARETT et al., 2007 México SÁNCHEZ et al., 2007 México n=240 10 a 19 anos. Transversal Não citado n=1846 12 a 16 anos. Transversal Não citado SCHERR et al., 2007 Brasil n=343 5 a 16 anos ------------------- SILVA et al., 2007. Brasil VELARDE et al., 2007 México n=787 2 a 19 anos n= 132 5 a 15 anos Transversal. Dezembro de 2004 a janeiro de 2006 Transversal analítico. Março de 1997 a fevereiro de 2000 III DBSD e Diretriz de Prevenção da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia III DBSD FARIA et al., 2008 Brasil SHALITIN et al., 2008 n=1937 2 a 19 anos Retrospectivo. 2000 a 2007 n= 262 5 a 19 anos 2004 a 2006 Academia Americana de Pediatria y el Programa Nacional de Educación en Colesterol de los Estados Unidos de América (EUA) Não citado Academia Americana de Principais resultados alterados 7,3% CT; 13,8% HDL-c;7,3% LDL-c, 12,8% TG 6% CT; 18,9% HDL-c; 10% LDL-c; 12,4% TG 3,3% CT; 56,7% HDL-c; 1,7% LDL-c; 11,1% TG 38,70% dislipidemia Meninos: 17,5% HDL-c; 36,1% TG Meninas: 12,95% HDL-c; 24,6% TG 23% alunos de escolas privadas; 4% escolas públicas CT 41% CT; 31% HDL-c; 33 % LDL-c 25% CT; 38,7% HDL-c; 20,9% LDL-c; 38,7% TG 44% CT; 48% HDL-c; 36% LDL-c, 52% TG 5,7% HDL-c; 6,5% LDL-c; SILVA, Fernanda Nogueira; SOUZA, Maria Cristina Corrêa de Souza 58 Interbio v.8 n.2, Jul-Dez, 2014 - ISSN 1981-3775 Israel Pediatria 16,1% TG NCEP 30% CT; 28% HDL-c; 16% TG SUÁREZ et al., 2008 Argentina PEREIRA et al., 2009 Brasil n=1043 5 a 18 anos Descritivo observacional n=494 2 a 19 anos RIBAS et al., 2009 Brasil n=437 6 a 19 anos Transversal. Abril a Diretrizes da dezembro de 2001 Sociedade Americana de Cardiologia Transversal, III DBSD descritiva SÁEZ et al., 2009 Peru n=277 12 a 17 anos Descritivo e transversal Não citado SANDOVAL et al., 2009 Venezuela n=337 6 a 18 anos Descritivo de coorte. Março a julho de 2005 GONTIJO et al., 2010 Brasil n=199 10 a 19 anos Transversal. Banco de dados de 1998 a 2009 Instituto Nacional de Nutrición y Fundacredesa Não citado KERBER et al., 2010 Brasil LEBLANC et al., 2010 Canadá n=143 10 a 18 anos Transversal IV DBSD n=1235 12 a 19 anos Transversal. 2003 a 2006 NHANES PEREIRA et al., 2010 Brasil n=466 10 a 14 anos I DPAIA VILLARREAL et al., 2010 México n=254, 99 meninos e 155 meninas n=173 10 a 19 anos Observacional do tipo transversal. Outubro a dezembro de 2007 Transversal analítico 7 a 14 anos Transversal. Ano de 2009 NCEP 48% CT n=660 14 a 19 anos Transversal. Junho a julho de 2006 Não citado 20,3% CT; 25,9% HDL-c n=62 7 a 19 anos III DBSD n= 432 10 a 19 Transversal quantitativo. Março a maio de 2006 Transversal. 2007 a 32,3% CT; 42% HDL-c; 30,7% LDL-c; 29% TG 44,4% CT; 50,5% ALAYÓN et al., 2011 Colômbia BECK et al., 2011 Brasil BEZERRA et al., 2011 Brasil LIMA et al., NCEP Não citado 51% CT; 6,1% HDL-c; 40,5% LDL-c; 8,5% TG 3,7% CT; 29,5% HDL-c; 7,6% LDL-c; 15,8% TG Meninos: 10,5% CT; 68,4% HDLc; 26,3% LDL-c; 21,1% TG Meninas: 5%CT, 85% HDL-c, 30% LDL-c, 15% TG 1,1% CT; 3,3% TG 73,4% CT; 49,7% HDL-c; 44,7% LDL-c; 41,2% TG 30,8% CT; 86% HDL-c; 30,8% LDL-c; 3,5% TG Meninos: 4,3% TG; 2,0% LDL-c; 18,1% HDL-c. Meninas: 5,4% TG; 3,8% LDLc;12,2% HDL-c; 11,6% CT; 56% HDL-c; 2,1% LDL-c; 15,1% TG 29,5% HDL-c; 9,8% TG SILVA, Fernanda Nogueira; SOUZA, Maria Cristina Corrêa de Souza 59 Interbio v.8 n.2, Jul-Dez, 2014 - ISSN 1981-3775 2011 Brasil anos 2008 RAMOS et al., 2011 Brasil SILVA et al., 2011 Brasil RIBAS et al., 2012 Brasil n=217 2 a 18 anos Transversal. Abril e I DPAIA novembro de 2009 n=1229 15 a 17 anos Descritivo transversal.2006 III DBSD n=874 6 a 19 anos Transversal.2008 American Academy of Pediatrics GARCÍA et al., 2012 Venezuela n=154 12 a 15 anos Não citado GONÇALVES et al., 2012 Brasil n= 95 10 a 13 anos Descritivo correlacional, de corte transversal e de campo.2009 a 2010 Transversal observacional.2008 YANG et al., 2012 Coréia n=2363 12 a 19 anos Transversal. 2003 a 2006 NCEP e AHA I DPAIA HDL-c; 29,9% LDL-c; 26,7% TG 37,8% CT; 80,6% HDL-c; 14,7% LDL-c; 35% TG Sem alteração. 4% CT; 28,1% HDL-c; 5,7% LDL-c; 15,9% TG 25,6% CT; 8,2% HDL-c; 25,3% LDL-c; 30,7% TG Meninos: 51,9% CT; 26,9% HDLc; 21,1LDL-c; 18,6% TG Meninas:55,8% CT; 30,2% HDLc; 32,6% LDL-c; 25,6% TG 7,4% meninos e 5,8% meninas CT; 7,1% HDL-c; 4,7% LDL-c; 10,1% TG CT = colesterol total; HDL-c = colesterol da lipoproteína de alta densidade; LDL-c = colesterol da lipoproteína de baixa densidade; TG = triglicerídeos; NCEP= Programa Nacional de Educação em Colesterol; III DBSD = III Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia; IV DBSD = Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia; I DPAIA= I Diretriz Brasileira de Prevenção de Aterosclerose na Infância e na Adolescência. SILVA, Fernanda Nogueira; SOUZA, Maria Cristina Corrêa de Souza