Das Questões da Informação as Agendas Temáticas da Ciência da Informação Maria Nelida G. De Gomez [email protected] Abril 2006 Metafora de integração? Nas ultimas décadas, a informação foi tematizada como expressão de um domínio em que se resolveriam alguns dos principais problemas de integração das sociedade contemporânea, – em relação aos conhecimentos, a memória, os meios e as linguagens. Ao mesmo tempo, o que se designa como informação mudava de contexto, ao ponto que a função de integração ora se exerce no plano socio-epistemológico ou ainda administrativo (ciência orientada a missão, interdisciplinaridade), ora no domínio tecnológico (convergência, digitalização, interoperabilidade), ora no domínio juridico- normativo (codificação, padrões, regulação, gestão), ora no contexto econômico (por mecanismos de mercado). Mudanças de cenario-1 Regime de informação centrado no Estado Regime de informação centrado na Economia e o Mercado Mudanças de cenario-2 Regime de informação centrado no Estado Regime de informação centrado na Economia e nos Mercados INSTITUIÇÕES (Principio de legitimação; Escopo e abrangência “universal”) ORGANIZAÇÕES (Principio de eficácia; Escopo e abrangência corporativos) Políticas e Programas Contratos O conhecimento do conhecimento Filosofia e Ciencias Humanas Ciências Sociais Ciências Biológicas Engenharias; Ciências da Computação; Teorias dos modelos Ciências da Gestão CONDIÇÕES DESCRIÇÃO INTERPRETAÇÃO EXPLICAÇÃO CONCEPÇÃO CONTROLE E MONITORAMENTO Teoria do Conhecimento; Filosofia da Ciência; Epistemologia; Historia da Ciência Sociologia do Conhecimento; Estúdios Sociais da Ciência; Antropologia Cognitiva; Biologia; Neurobiologia, Conexionismo. Engenhieria del Conocimiento; Inteligencia Artificial; Sistemas Especialistas (Expert Systems); Realidade Virtual "Knowledge Management"; "Knowledge Assessment"; "Inteligencia Organizacional; Inteligencia Competitiva; Inteligência Social/ Inteligência Coletiva”. Fonte:González de Gómez, 2000. Informação: Contexto preferencial de tematização Industria Cultural (Commodities) Industria da Informacao (Setor) Infra-estruturas de informacao (Redes)/ Sociedade da Informacao A mercadorização da informação A indústria cultural, conforme a definição da escola de Frankfurt, colocaria a informação cultural nas redes distributivas do mercado, afetando, assim, diretamente as formas de acesso cultural, e só afetaria indiretamente os conteúdos e processos de geração da informação. Refere-se aos processos de mercadorização da cultura. As indústrias da informação, pelo contrário, seriam aquelas que intervém no próprio processo de produção de bens e serviços de conhecimento e informação, reformulando as formas de organização e produção do trabalho intelectual e artístico: a partir de um “input” gerado dentro ou fora da unidade “produtiva”, acontece a apropriação das fontes de informação e dos produtos gerados através de processos de agregação de valor. Refere-se antes ao modo de produção que ao modo de consumo. Bell, 1976 “Conhecimento é tudo o que chega a ser objetivamente conhecido, uma propriedade intelectual, associada a um nome ou a um grupo de nomes, e garantida por copyright ou por alguma outra forma de reconhecimento social (publicação, por exemplo). Pagase por este conhecimento – com o tempo consagrado a escrever e pesquisar, com a compensação monetária atribuída a comunicação e aos meios educacionais. Ele fica sujeito ao julgamento proferido pelo mercado, pelas decisões administrativas ou políticas de instâncias superiores ou equivalentes, que aquilatam o valor dos resultados, e as exigências que deles advirão quanto aos recursos da sociedade, sempre que surjam exigências desse tipo. BELL, 1976, p.202 Bell, 1976 Nesse sentido, o conhecimento faz parte do investimento que a sociedade faz em suas despesas gerais; trata-se de uma formulação coerente, apresentada num livro, num artigo ou mesmo num programa de computador, redigida e gravada num lugar qualquer para ser transmitida e sujeita a alguma avaliação aproximada”. BELL, 1976, p.202 PORAT, 1977 “Colocamo-nos uma questão diferente: que ocupações estão principalmente (primarily) envolvidas na produção, processamento ou distribuição de informação como seu produto (output), e que ocupações desenvolvem tarefas de processamento de informação como atividades subordinadas (ancillary) à função principal (primary function)?”.(PORAT, 1977, pág. 105, apud SCHEMENT, 1990) A internet, como meta-tecnologia Para Brian Kahin (2004), as sociedades contemporâneas estariam configuradas por três grandes infra-estruturas, altamente coesas, baseadas em codificações e que requerem a constituição de padrões, instituições e profissões específicas: a infra-estrutura do conhecimento, a infra-estrutura legal e a infra-estrutura de “prestação de contas” (“accounting infrastructure”). A internet, como meta-tecnologia Todas elas manteriam relações intensas com a nova infra-estrutura constituída pela Internet que, como todas elas, tem como principal domínio de ação e intervenção os contextos de informação. Conforme o mesmo Kahin (2004, p.40), ao reunir características das infraestruturas físicas –como as infra-estruturas viárias e de telefonia - e características próprias de infra-estruturas baseadas em codificações, “assume uma posição central e definidora entre o tangível e o intangível que ilumina as características infra-estruturais dos sistemas codificados”. IMPORTÂNCIA DOS MEIOS Um dos efeitos mais imediatos destas transformações seria a substituição das linhas de influência econômico-politica das tecnologias analógicas (e suas trilhas diferenciadas conforme funções de transmissão aplicadas a voz, texto, imagem, dados, audivisual) pelas influências cruzadas das tecnologias digitais, cujas definições funcionais agregariam voz, texto, imagem, dados, vídeo-comunicação em trilhas horizontais diferenciadas em conteúdos, dispositivos multimídia e “infovias”. Objetos-mundo “... Serres, em Hominescências, decreta o fim das redes e a instauração de um novo espaço, topológico,sem distância mensurável e que permite uma ubiqüidade generalizada que sepulta o ser-aí heideggeriano e o aqui e agora (latouriano?), em favor do que já denominara ser-por-todo-o-mundo (être-partout), que invade a ontologia (Serres 1992:40). Seriam eventos provocados pelos novos objetos-mundo: o computador portátil e o telefone celular” VELHO, 2004, 348-349. Linguagem, o medium paradigmatico? Os meios simbólicos generalizados HABERMAS – (In: Chernilo, 2002) Meios Dinâmica de coordenação das ações Orientação dos atores Relação com a linguagem natural Relação com a reprodução social Dinheiro Poder Estratégica. Funcional. Sucesso Substituição Reprodução material dos sistemas Influencia; Compromisso Comunicativa. Orientada ao entendimento. Entendimento Condensação Reprodução simbólica do mundo da vida. Integração social. AGAMBEN, 1990 “For this very reason...the era in which we live is also that in which for the first time it is possible for humans to experience their own linguistic being –not this or that content of language, but language itself, nor this or that true proposition, but the very fact that one speak. Contemporary politics is this desvasting experimentum linguae that all over the planet unhiges and empties traditions and belief, ideologies and religions, identities and communities.” p.82 REFERÊNCIAS AGAMBEN, G. 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