!"#$" %'&)(*&)+,.- /10.2*&4365879&4/1:.+58;.2*<>=?5.@A2*3B;.- C)D 5.,.5FE)5.G.+&4- (IHJ&?,.+/?<>=)5.KA:.+5MLN&OHJ5F&4E)2*EOHJ&)(IHJ/)G.- D - ;./);.& Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO DO BALANCED SCORECARD EM ORGANIZAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS Paulo César de Sousa Batista (UECE) [email protected] Paulo Henrique Wanick Mattos (Ohio Univ) [email protected] Julio Cavalcante Neto (UECE) [email protected] Fatima Evaneide Barbosa de Almeida (UECE) [email protected] O presente artigo tem como objetivo analisar a experiência de implantação do Balanced Scorecard no Instituto Terra, organização sem fins lucrativos dedicada à promoção de modelo de desenvolvimento eco-sustentável em área degradada da Floressta Atlântica Brasileira. O trabalho adota a estratégia de estudo de caso, combinada com a observação direta para o desenvolvimento da investigação. As especificidades das ONGS são levadas em conta para avaliar os desafios à implantação do BSC nessas organizações. Os principais resultados da construção do modelo são apresentados, sob a forma do Mapa Estratégico, da natureza e do conteúdo das perspectivas do BSC, dos indicadores chaves de performance construídos, dos projetos e das metas a eles associados. As conclusões realçam os resultados já obtidos no curto prazo com a introdução do modelo e os desafios a serem enfrentados para a consolidação da experiência Palavras-chaves: Balanced Scorecard, Lucrativos, Gestão Estratégica. Organização sem Fins PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 1. Introdução O surgimento de um grande número de organizações do terceiro setor, a partir da década de 70, tem sido atribuído às transformações políticas, sociais e econômicas ocorridas mundialmente. O Brasil, segundo dados do IBGE, contava com 276 mil organizações sem fins lucrativos, em 2002. A partir da década de 90, observou-se uma tendência a um crescimento mais intenso de organizações especializadas, particularmente aquelas destinadas a promoção do desenvolvimento e defesa dos direitos. O grupo dedicado às questões do meio ambiente representava apenas 0,58% do total dessas organizações, uma vez que, segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), somente a partir da Conferência Rio-92 a pauta ambiental brasileira diversificou-se e tornou-se mais complexa, atraindo o interesse dessas entidades. Verificou-se ainda uma tendência à formação de redes de organizações temáticas, como a rede Mata Atlântica, a rede Pró-Cerrado, a Coalizão Rios Vivos ou o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA). Para França Filho e Laville (2004), as mudanças que levaram ao crescimento do número dessas organizações resultaram do surgimento de uma crise de valores e de uma crise econômica. A crise de valores foi associada ao crescente questionamento, pelos movimentos sociais, do primado da dimensão quantitativa da expansão econômica ou do “culto do produto nacional bruto” (Ibidem, p.73) e à defesa da substituição de “uma política do modo de vida por uma política do nível de vida” [(ROUSTANG (1988) citado por FRANÇA FILHO e LAVILLE (2004, p. 73))]. A crise econômica, desencadeada pela crise do petróleo, a desorganização do comércio internacional e a interrupção dos fluxos de capital, na segunda metade dos anos 70, levou a uma reestruturação industrial em nível mundial, destruindo setores, empresas e empregos e comprometendo, pelo crescimento do endividamento, a capacidade de realização dos governos nacionais e locais nos campos econômico e social. Uma nova economia surgiu como decorrência de todas essas transformações, onde as relações de produção, consumo e distribuição passaram a ser compartilhadas por um conjunto mais diversificado de agentes, com objetivos distintos. À ordem econômica orientada pelos princípios do lucro e mercado (setor privado) e do distributivismo ou igualdade social (Estado), associou-se àquela direcionada pela solidariedade ou reciprocidade, denominada de economia solidária ou de terceiro setor (FRANÇA FILHO e LAVILLE, 2004). Segundo Schommer (2000, p. 146), esse setor é formado “por organizações da sociedade civil, sem fins de lucro, que se estruturam em torno de objetivos públicos e são geridas por agentes privados”. Devido suas origens, muitas vezes associadas a iniciativas de auto-gestão de trabalhadores ou a movimentos voltados a objetivos sociais considerados não atendidos pela economia de mercado, essas organizações desenvolveram resistência à adoção de práticas de gestão, que eram vistas como ferramentas a serviço do capitalismo, forma de organização da produção que se pretendia substituir ou modificar. A importância que essas organizações assumiram nas economias modernas, o volume expressivo de recursos que passaram a movimentar e a pressão dos doadores por gestão mais eficiente, eficaz e transparente dos recursos terminaram por modificar a visão dessas organizações quanto às práticas de gestão, a ponto de passarem a ser consideradas como organizações com capacidade de oferecer lições a empresas privadas e públicas (DRUCKER, 2 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 1993). Dentro dessa linha de pensamento, o presente artigo analisa a experiência de uma organização sem fins lucrativos, o Instituto Terra, na aplicação do Balanced Scorecard (BSC), com o objetivo de investigar a utilização dessa ferramenta na eficácia da implementação de suas estratégias e no uso dos recursos que lhe foram alocados. O Instituto Terra é uma associação civil, sem fins lucrativos, fundada em 1999, localizada em Aimorés – MG, tendo como objetivos principais promover a recuperação da mata atlântica da região e o desenvolvimento sustentável da comunidade. Para isso, desenvolve atividades de reflorestamento, educação ambiental da comunidade e pesquisas científicas para testar e avaliar técnicas para recuperação florestal. Metodologicamente o artigo adota o estudo de caso como estratégia de investigação e utiliza como métodos auxiliares a pesquisa de campo de natureza qualitativo-descritiva e a observação participante, esta última favorecida pelo fato de dois dos co-autores do artigo haver participado diretamente da experiência de implantação do BSC. Em sua estrutura, o artigo trata inicialmente das especificidades da gestão nas organizações do terceiro setor, em seguida apresenta a metodologia de implantação do Balanced Scorecard e a metodologia de pesquisa do trabalho. O relato da experiência é então feito, com indicação das estratégias e cuidados adotados para implantação do modelo e os resultados obtidos. As considerações finais realçam a contribuição da experiência para o aperfeiçoamento da gestão no âmbito da organização estudada e avança os desafios a serem enfrentados neste desiderato. 2. Especificidades da Gestão de uma Organização Não-Governamental Drucker (1993) destaca o papel das organizações do terceiro setor como provedoras de serviços comunitários, restaurando os laços comunitários e o senso de cidadania ativa. Segundo o mesmo autor “somente as organizações do setor social, baseadas em voluntários e liberando as energias espirituais das pessoas, poderão prover tanto os serviços sociais de que necessita a sociedade e o desenvolvimento de lideranças de que necessita o governo”. (Ibidem, 1993, p.134), Karpouzas e Santos (2005) acreditam que as organizações do terceiro setor estão empenhadas no aperfeiçoamento dos processos de gestão, particularmente quanto à formação da estratégia, o relacionamento com os stakeholders, a transparência das ações e a prestação de contas à sociedade. Iozzi e Sales (2004) citando Hudson (1999) apontam o modelo de transação das ONGs como uma de suas especificidades. Segundo esses autores, essas organizações têm uma frágil ligação com beneficiários ou usuários de seus serviços e com seus financiadores, o que implica na administração de três categorias de problemas, a saber: “uma demanda de serviços ilimitada ou contida apenas pela minimização de marketing e promoções do serviço; estar atentas às diferentes expectativas dos financiadores e usuários; não ser diretamente responsáveis pela qualidade do serviço oferecido”. Os setores privado e público, ao contrário, têm relações mais diretas com seus clientes ou usuários e fornecedores, que se baseiam numa oferta de bens em troca de pagamento ou pela prestação de serviços públicos em troca de legitimação pelo voto e pela aceitação de uma política de impostos. Carvalho e Santos (2005) citando Tenório (1997) apontaram ainda como fatores diferenciadores da gestão das ONGs a proximidade dos beneficiários; a estrutura não- 3 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 burocrática e enxuta; o modelo de gestão participativa; a motivação da equipe e a participação de voluntários; a necessidade de adequada imagem institucional e de credibilidade; a ação baseada no modelo de "redes" e alta competitividade inter-organizacional. Dentre esses aspectos, Drucker (1993) realçou a mudança do perfil dos voluntários como a tendência de substituir “volunteers for unpaid staff “e os avanços na governança corporativa (IBIDEM, p.204). Uma abordagem abrangente das especificidades das ONGS é encontrada nas oito diferenças principais entre organizações do terceiro setor e de outros setores, identificadas por O’Neill (1998d) apud Falconer (1999). Característica 1) Propósito/missão Natureza da especificidade O propósito principal é o benefício para a comunidade, sendo a captação de recursos financeiros um meio. 2) Valores Todas as organizações têm valores próprios, mas em nenhum setor os valores são organizacionais tão centrais ao propósito quanto no terceiro setor. 3) Obtenção de recursos Tarefa complexa devido a necessidade de recorrer a variadas fontes: vendas de financeiros serviços, doações de indivíduos, grants de fundações, empresas e do governo, resultados de investimentos patrimoniais etc. 4) Legislação Ambiental Legislação específica, particularmente quanto a aplicação dos recursos e tributação. 5) Bottom Line Resultados baseados em impacto sobre a comunidade-alvo, e não na lucratividade (resultado) ou outras medidas de relacionamento com o mercado, representando muitas vezes dificuldades de medição objetiva. 6) Perfil do Trabalhador Trabalho compartilhado por gerentes e especialistas pagos e uma grande maioria de voluntários, muitas vezes, também especializados. 7) Governança Conselho Gestor e Gestor Executivo atuantes, com o Conselho formado por doadores e pessoas comprometidas com a missão da organização e funcionando com proximidade ao corpo profissional. 8) Complexidade Complexidade determinada pela variedade dos serviços prestados, relações com Organizacional múltiplos públicos, dependência de fontes variadas de recursos. Fonte: O’Neill (1998d) apud Falconer (1999): Quadro 1 - Síntese das Especificidades das ONGs 3. Metodologia de Implantação do Balanced Scorecard em Organizações sem Fins Lucrativos O Balanced Scorecard (BSC) é um conceito criado por Robert Kaplan e David Norton, inicialmente voltado para avaliar a performance das organizações, levando em conta indicadores financeiros e não financeiros, que evoluiu para ser reconhecido a partir de 1996 como um modelo de gestão estratégica (Rodrigues, 2001). Esse modelo é igualmente aplicável a organizações sem fins lucrativos, mesmo que suas características representem algum desafio a essa utilização. De modo converso, Urrutia e Eriksen (2005) realçaram que duas principais características do modelo têm implicações importantes para sua aplicação em ONGs, conforme o Quadro 2. Características do BSC 1. O BSC é destinado a promover o aumento do valor do acionista, através de um conjunto balanceado de indicadores. 2. A perspectiva financeira é crucial no modelo, porque representa uma forma objetiva da medida em que o valor do acionista se desenvolve. Implicações A ausência desse objetivo pode significar que os indicadores originalmente propostos para modelo não sejam adequados às ONGs. Como a perspectiva financeira nas ONGs é apenas um meio para um fim, a missão toma seu lugar como fator central da avaliação. Os indicadores de medição da missão, porém, podem não ter a mesma objetividade e 4 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 facilidade de medição comparativamente a lucro e retorno. Fonte: Urrutia e Eriksen (2005) Quadro 2 - Implicações de Características do BSC para a Aplicação em ONGs A esse respeito, Kaplan e Norton (2001) afirmam que a utilização do Balanced Scorecard em organizações sem fins lucrativos foi fortalecida após 1996, quando o conceito se ampliou e adaptou-se para atender às peculiaridades dessas organizações. A principal dessas adaptações reside em substituir a lucratividade pela missão dessas organizações no alto de seus scorecards (IBIDEM, 2001). Levando em conta esse e outros ajustes menores, a construção do BSC desenvolve-se em 4 principais etapas: 1) definir os mais importantes objetivos estratégicos; 2) construir o Mapa Estratégico, com as diferentes perspectivas, suas causas e efeitos; 3) definir as hipóteses estratégicas, seus indicadores-chaves de performance e suas metas; 4) definir os correspondentes planos de ação e projetos. 4. Metodologia do Trabalho Científico A estratégia principal de pesquisa da investigação é o estudo de caso. Yin (2001) explica que o estudo de caso contribui para a análise de experiências contemporâneas, em que não há controle de seus aspectos relevantes e não são claros os limites entre o fenômeno estudado e o contexto. Dentre as aplicações propostas pelo autor para o estudo de caso, duas ajustam-se ao propósito deste trabalho, a descrição “de uma intervenção e do contexto na vida real onde ela ocorre” e a exploração de situações que não “apresentam um conjunto simples e claro de resultados”. (IBIDEM, p. 32). A análise da situação do Instituto Terra é de fato uma avaliação da intervenção na gestão da organização, que ocorreu recentemente, e que apresenta relativo grau de complexidade pela adoção de modelo inicialmente concebido para aplicação no âmbito das empresas lucrativas. O contexto é, portanto, o processo de mudança da gestão da organização e a unidade de análise do estudo é a implantação do BSC. Por adotar uma única unidade de análise o presente caso pode ser classificado como holístico, que utiliza informações quantitativas e qualitativas. O caso holístico é ainda recomendado quando a teoria subjacente à análise tem caráter holístico, como é o caso do Modelo do BSC. Este tipo de caso, porém, oferece risco à investigação porque o fenômeno pode sofrer modificação ao longo do período da investigação, dificuldade que não se verificou no presente estudo. Como método auxiliar a investigação, foi utilizada a observação direta, realizada por dois dos co-autores deste artigo. A observação direta é uma técnica de coleta de dados de natureza qualitativa, em que o observador está presente no contexto social com o propósito de investigação. (HAGUETTE, 1982). Como procedimento, a observação direta é um dos menos estruturados de todas as formas de pesquisa qualitativa, dispensando roteiros e questionários estruturados, mas que requer grande experiência prática e conhecimento do observador, requisitos que são atendidos pelos coautores do artigo envolvidos no trabalho de campo. 5. Experiência de implantação do BSC no Instituto Terra 5 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 O Instituto Terra foi fundado em 1999 pela arquiteta Lélia D. Wanick Salgado e pelo fotógrafo Sebastião R. Salgado, tendo como parte de seu patrimônio inicial uma área de 1.670 acres na cidade de Aimorés, no Estado de Minas Gerais, localizada a cerca de 185 km de Vitória, capital do vizinho Estado do Espírito Santo. A área é hoje denominada Fazenda Bulcão, reconhecida pelo Decreto Governamental IEF.MG No. 081, de 7 de outubro de 1999, como Reserva Privada de Propriedade Natural - RPPN. A área doada encontrava-se, à época da criação do Instituto, comprometida pela ocupação inadequada. No Séc XVI, a Floresta Atlântica chegou a ter 1 milhão de Km2, e ainda hoje, mesmo representando apenas 9% de sua área original, se constitui um dos maiores depositários de biodiversidade do planeta, sendo considerada uma das 25 Conservation International biodiversity hotspots em nível mundial. Após anos de uso inadequado, a floresta corre risco de extinção devido à acentuação, nas últimas décadas, da dinâmica de destruição, resultando em sérias alterações do ecossistema, ameaça de extinção da grande maioria das espécies da fauna e da flora e condições precárias de vida para as pessoas remanescentes dos grupos originais. A preocupação com o desaparecimento da Floresta Atlântica e o propósito de oferecer contribuição à reversão dessa tendência motivaram a criação do Instituto Terra, que tem como missão “Estimular o desenvolvimento eco-sustentável, através da recuperação, conservação e uso adequado dos recursos naturais”. 5.1. O Modelo de Gestão do Instituto Diante dos desafios a serem enfrentados, os fundadores do Instituto decidiram desenhar um modelo de gestão e de governança corporativa que garantissem a integração de todos os seus agentes em tornos da missão organizacional. O modelo tem como agentes os organismos e profissionais da organização - associados, gestores, Conselhos Fiscal e Consultivo, auditores independentes e membros da equipe de trabalho do Instituto. O modelo realça as relações entre a formulação, o monitoramento e a implementação estratégicas e entre os agentes propriamente ditos e se assenta em três pilares fundamentais - a comunicação, a gestão e a medição dos resultados pretendidos. Para conferir efetividade a este modelo, os membros do Conselho Diretor do Instituto decidiram selecionar uma ferramenta de gestão que promovesse uma clara compreensão da missão, que orientasse o seu desdobramento em estratégias e projetos e que monitorasse os resultados decorrentes do esforço de gestão. O BSC foi o modelo escolhido por seu foco na comunicação e na medição de resultados, além do fato de haver sido objeto de uma experiência bem sucedida do grupo internacional Arcelor Mittal, hoje pertencente ao BCS’s Hall of Fame, e que é a matriz da CST-Arcelor Brasil, uma das empresas doadoras de recursos do Instituto Terra. 5.2. Os Resultados da Implementação do BSC O Mapa Estratégico do Instituto, apresentado no Anexo I, foi criado a partir da aplicação do SWOT MODEL e de uma série de discussões realizadas entre os gestores e membros da equipe da organização. A missão foi considerada como o grande norte do trabalho e a partir dela foram definidos os conteúdos das quatro perspectivas selecionadas: aprendizado e crescimento, processos internos, sustentabilidade e clientes. O Quadro 3 apresenta o conteúdo das perspectivas, destacando os agentes envolvidos, as expectativas consideradas e os objetivos definidos para o atendimento destas. 6 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 Perspectivas 1. Clientes (comunidades e clientes beneficiários das ações ecológicas e educativas; investidores e doadores) 2. Financeiro/Sustentabiliade 3. Processos Internos 4. Aprendizados e Crescimento Principais expectativas/objetivos a serem atendidos Realização de todos os programas e projetos, a partir do desenvolvimento de uma filosofia e tecnologia de recuperação ambiental e social. Oferta de produtos e serviços ecológicos com elevados padrões de resultados. Ser reconhecido como doador e ter credibilidade. Otimizar a capacidade de captar fundos financeiros para o financiamento dos programas e projetos. Os recursos financeiros são associados à sustentabilidade das iniciativas e oportunidades criadas pelo Instituto, na medida em que as favorece numa perspectiva de longo prazo. Melhorar e difundir técnicas de recuperação ambiental; Estruturar e ofertar programas educacionais e de preservação ambiental; Tornar mais efetivas as comunicações internas e com a comunidade; Melhorar a coerência das ações internas e desenvolver capacidade de persuasão na interação com a comunidade; Estabelecer modelos de relações com parceiros brasileiros e internacionais. Desenvolver capacidades específicas e habilidades técnicas, de modo a promover a criatividade, a autonomia, a motivação e o compromisso com os valores e princípios do Instituto. Fonte: Instituto Terra Quadro 3 - Conteúdo das Perspectivas Levando em conta a missão e o conteúdo do Mapa Estratégico da organização, os membros da equipe e gestores do Instituto desenvolveram um conjunto de 16 Indicadores-Chave de Desempenho (ICD). O Quadro 4 apresenta, a título de ilustração, os objetivos estratégicos e os indicadores e projetos da perspectiva do Cliente. Objetivo Estratégico Estimular o desenvolvimento sustentável através da recuperação, conservação e correta utilização dos recursos naturais. Oferecer filosofia e tecnologia para a recuperação ambiental e social. ICD Obter 10% de recuperação externa em cada área interna recuperada. Principais projetos associados - Programa de fundação de floresta (área de fundação externa). - Projetos e programas internos para o desenvolvimento da consciência ambiental. - Projetos de terceiro setor, principalmente de municípios. - Programa de reflorestamento (mais de 700 ha). % de crescimento em técnicas sugeridas através de cursos externos e aplicabilidade interna. Oferecer produtos e serviços ambientais. % de crescimento no número de produtos e serviços ambientais oferecidos. Ser reconhecido como executor de credibilidade. % de crescimento do número de investidores. - Projeto Meio-ambiente na Educação em algumas regiões locais. - Projeto Terrinhas. - Projeto Documentação das técnicas de recuperação florestal. - Artigo interno Produção Pau de Cebola. - Produção de 100 diferentes tipos de sementes nativas no viveiro. - Projeto Meio-ambiente na Educação em algumas regiões locais. - Projeto SEBRAE (terceiro setor). - Projeto Está limpo com a Companhia Vale do Rio Doce. - Manutenção de vários cursos oferecidos sobre meioambiente. - Projeto de Planejamento de Marketing. Fonte: Instituto Terra Quadro 4 - Alguns Indicadores Chaves de Desempenho dos Objetivos Estratégicos da Perspectiva de 7 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 Cliente 6. Considerações Finais A despeito de que a obtenção plena dos benefícios finais esperados com a implantação do novo modelo de gestão do Instituto ocorra numa perspectiva de longo prazo, já são observados resultados concretos em termos de realização dos planos e projetos concebidos e com respeito aos seguintes aspectos da gestão: a) coerência entre planos e ações; b) clara compreensão das estratégias e de suas formas de implementação; c) capacidade de refutar iniciativas não integrantes dos projetos integrados ao BSC; d) integração efetiva entre os membros do Conselho Diretor e do Diretor Executivo do Instituto; e) sistema de monitoramento e medição dos objetivos e metas implantados e funcionamento do mecanismo de acionamento de resposta corretiva. A sustentabilidade do sucesso da iniciativa, pelo que foi possível avaliar, depende da capacidade de melhoria continua do processo de decisão do Instituto e da introdução de aperfeiçoamentos na políticas de gestão, na documentação das experiências e dos resultados no cumprimento da missão, no monitoramento dos indicadores chaves de performance e nas técnicas de contabilidade, orçamentação e accountability. Referências DRUCKER, PETER F. Managing for the Future. The 1990s and Beyond. New York: Truman Talley Books/Plume, 1993. CARVALHO, ADRIANE MARIA ARANTES DE; SANTOS, AMANDA BETHIZA ALVES DOS. Gestão estratégica para a promoção da inclusão digital: proposta de Balanced Scorecard para o Comitê de democratização da Informática – Regional Minas Gerais. In Proceedings CINFORM - Encontro Nacional de Ciência da Informação VI, Salvador – Bahia, 2005. FALCONER, ANDRÉS PABLO. 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Tornar a comunicação interna e externa mais efetiva 9.Ter excelência em gestão de projetos próprios e de terceiros 13. Aproximar a diretoria da gestão Relacionamento Processos Internos Aprendizagem e Crescimento 14- Organizar e estruturar tarefas internas em processos 15. Desenvolver sistemas de informação e gestão • • • • • • • Criatividade Autonomia, Equipe de Trabalho Auto-crítica Consciência Ambiental Ética Compromisso 16. Desenvolver competências específicas e habilidades técnicas . Fonte: Instituto Terra Figura 1 - Mapa Estratégico do Instituto Terra 10