Proposta de mini curso:
Título:
CAPACITAÇÃO DE MULTIPLICADORES DA PRÁTICA DA ESCUTA ATIVA
Valéria Giannella, George Popoff.
Resumo
Dentro de um paradigma da complexidade que almeja o reconhecimento do princípio de
interconexão (unidade) e do respeito à diferença como princípios fundadores de nossa
ação educadora a questão da escuta é reconhecida sempre mais como crucial e merece
um espaço especial que, no entanto, ainda é longe de ser proporcionado. Este mini
curso entende oferecer uma experiência concreta de escuta ativa pelo meio da técnica da
Roda de Escuta. Objetiva selecionar sujeitos atuantes no campo da educação com
funções estratégicas (gestores de instituições educativas ou de ONGs, professores,
lideres comunitários), que possam qualificar suas práticas por meio de uma reflexão e
vivência dos princípios e da prática da escuta ativa (ou escuta sensível).
Autora: Valéria Giannella, (UFC- Campus Cariri); George Popoff (Centro
Interdisciplinar em Desenvolvimento e Gestão Social-UFBA)
Palavras chave: Escuta Ativa, Roda de Escuta, Complexidade, Integração unidadediversidade.
Contexto:
Em todo e qualquer segmento do mundo da educação, seja que ela aconteça dentro de
instituições escolares, associações, contextos comunitários, a competência da Escuta
Ativa é relevante e pertinente. No paradigma que herdamos do passado, caracterizado
pela visão dicotômica do mundo que separa o falso do verdadeiro, a mente do corpo, a
razão da emoção, a natureza da cultura, a arte da ciência... a “arte de escutar” - ou escuta
ativa - nunca foi especialmente valorizada, pois, simplesmente, ela era desnecessária.
No entanto, quando começamos a entender a cognição como mediada não apenas pela
razão e sim também pela emoção, quando começamos a pensar que não tem um sujeito
único a ser dono da verdade (tipicamente o cientista) e que as mesmas coisas podem têm
sentidos diferentes (cfr. SCLAVI, 2000, p. 43), isto é, que vivemos em contextos
complexos e multiculturais, a capacidade de escutar o outro se torna uma competência
sempre mais necessária, que deveria ser ensinada e treinada a partir das escolas
primárias e em todos os contextos de interação e socialização. Além de ser uma porta de
acesso a novas formas de enxergar o mundo, fonte de conhecimento e descoberta, a
Escuta Ativa é uma ferramenta eficaz com vistas à gestão criativa de conflitos. Ela é a
base, quando praticada assiduamente, para uma nova postura frente ao mundo, para a
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produção de um conhecimento inclusivo, democrático e integrativo, e para a construção
de relações humanas sadias, das quais o conflito faz parte, porque fundado em nossas
diferenças, mas que pode ser observado e gerenciado de forma não violenta e criativa.
Em suma, se estes forem os componentes necessários para pensarmos na educação do
presente, isto significa que a competência na prática da escuta deve ser considerada
estratégica para todas as pessoas e especialmente para os que têm funções gerenciais e
de liderança nesta área.
A Escuta Ativa e os Sete Saberes
Para entender o elo existente entre os sete saberes e a Escuta Ativa é útil apresentar as
“sete regras da arte de escutar” elaboradas pela Marianella Sclavi (SCLAVI, 2000,
tradução minha), disponíveis no link
http://planetaadm.cariri.ufc.br/index.php?option=com_docman&task=cat_view&a
mp;gid=220&Itemid=58 .
A partir delas podemos entender melhor as conexões existentes com a proposta dos 7
Saberes. Nomeadamente podemos citar dentro do SABER II o tema 3. da
“multidimensionalidade humana: Os diálogos razão/emoção e consciência humana”.
Dentro do SABER III, o tema 1, da “consciência da complexidade humana”; o 3,
“Educação corporal e educação emocional”; 4, “Pedagogia da ternura e da
sensibilidade: reflexões e experiências”; o tema 5, “Educação, complexidade e valores
humanos: Questões axiológicas, teleológicas e metodológicas”. Dentro do “SABER IV,
o tema 1, da “Educação, cidadania e democracia”; o 2, “Consciência antropológica: a
unidade na diversidade”; o tema 4, “Educação para a solidariedade, a cooperação e a
cidadania” e, em último, o tema 6, “Educação, não violência e cultura de paz”. Enfim,
quanto ao “SABER VI”, destacamos como o que neste eixo é chamado de escuta
sensível corresponde em nosso entendimento ao que aqui definimos de Escuta Ativa.
Torna-se evidente, portanto, o elo entre nossa proposta e o tema 2, “Educação para a
tolerância, a inclusão, a solidariedade, a compaixão, a escuta sensível....”; o tema 3, que
trata da “aprendizagem da compreensão. Dimensão individual (aspectos cognitivos,
emocionais e espirituais) e dimensão social (aspectos organizativos, decisórios,
mediadores, resolução de conflitos, etc) e por último com os temas 4, “A compreensão
do outro e a consciência da complexidade humana” e 5, “Educação para uma cidadania
planetária”.
3.1.2. Detalhamento
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Justificativa
Argumentamos logo acima sobre a importância da prática da Escuta Ativa no contexto
de nossas sociedades contemporâneas e de como ela seja um norte para o conceito e a
prática da missão educativa. No contexto da Conferência Internacional sobre os 7
Saberes um mini curso sobre EA é apropriado e oportuno por ela ser um elemento
qualificador de um paradigma que assume a complexidade como característica
fundamental da nossa realidade, pautada ao mesmo tempo pelo princípio de unidade e o
de diferença. Acreditamos que a prática da EA assim como a postura relacional que ela
propicia em direção ao Outro e a todas as situações da vida sejam fundamentais para
caracterizar a postura de gestores, educadores, políticos e lideres nos tempos atuais, e
estamos convencidas, portanto, da utilidade e necessidade de difundir ocasiões de
capacitação em todos os contextos apropriados para aumentar o número de potenciais
multiplicadores dela.
Objetivos gerais
1. Criar um contexto propício à vivência da Escuta Ativa objetivando capacitar
multiplicadores atuantes em campos estratégicos da área da educação.
2. Esclarecer os elos existentes entre a prática da EA e o quadro de virada
paradigmática, de um paradigma positivista a um pós-positivista, necessário para
habitarmos o novo século;
3. Aumentar o reconhecimento da importância da prática da Escuta Ativa como
postura que nos permite aproximar a complexidade que nos desafia
constantemente com respeito e eficácia.
Objetivos específicos
1. Estabelecer uma situação de reflexão e troca com sujeitos atuantes em lugares
estratégicos do campo educacional sobre suas práticas comunicativas.
2. Refletir de que forma a comunicação, em seu formato convencional, propicia, ou
dificulta a gestão cotidiana das tarefas e da missão de cada um/a.
3. Com base na vivência, refletir sobre a prática de EA e sobre como ela permite
uma mudança de atitude consigo mesmo, com o Outro e com as situações
encaradas no trabalho e na vida em geral.
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4. Avaliar o potencial transformativo da prática da EA nos contextos de atuação
específicos de cada participante, trocando considerações a respeito
5. Estabelecer uma rede de praticantes da EA, que permita partilhar notícias,
eventos, oportunidades formativas e mais ainda.
Descrição dos processos e da intencionalidade do mini-curso:
O mini-curso aqui proposto objetiva criar um contexto de troca e aprendizagem coletiva
em torno da prática da Escuta Ativa. Direcionado a 40 operadores atuantes no campo da
educação amplamente entendido ele busca articulação entre a prática vivencial e a autoreflexão coletiva sobre ela, sem descuidar de um enquadramento teórico da Prática da
escuta no referencial do paradigma da complexidade.
Etapas previstas
Devido à limitação de tempo, se procurará expandir a interação com os participantes por
meio de envio anterior de material via e-mail e da continuação da relação com eles para
aprofundar a possibilidade de avaliação. Por conta disso seria necessário ter acesso aos
endereços e-mail dos participantes antes do começo da Conferencia. O conteúdo das
interações ocorridas posteriormente ao evento serão devolvidas como feedback para a
organização científica do evento.
Boas Vindas: Acolhida dos e das participantes; Apresentação dos proponentes; breve
dinâmica “quebra gelo”; o que estamos fazendo aqui. (15 min.)
Introduzindo a prática da Escuta Ativa: Mini introdução sobre EA, sua necessidade,
seu desafio, seu referencial teórico. (30 min.)
Instituindo a Roda de Escuta: A técnica da Roda de Escuta; Separação do grupo em
dois grupos de 20 participantes que vivenciarão a Roda separadamente. Nos dois grupos
serão explicadas as regras que regem a prática da Roda e os participantes serão
convidados à entrarem na roda para testemunhar, dentro dela, suas experiências em
torno da pergunta mobilizadora: “Qual é o seu maior desafio como educador/a e como
consegue encará-lo?” (15 min.)
Realização de duas Rodas de Escuta em salas separadas. Será partilhada com o/as
participantes a consigna de se auto-regular atendo-se ao tempo máximo de uma hora e
meia. (75 min.)
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Partilha/avaliação da experiência da Roda: esta etapa será muito comprimida pela
limitação de tempo. Os dois grupos refletirão sobre suas experiências de forma
separada. No entanto é possível imaginar uma fase adicional de partilha/avaliação que
possa acontecer online, permitindo acompanhar de que forma a experiência de Escuta
Ativa vivenciada reverbera nas práticas de trabalho e diversos contextos de atuação dos
participantes. Será possível comparar as vivências ocorridas nas duas Rodas e a reflexão
com respeito às diferenças entre a modalidade de comunicação vivenciada e a
modalidade costumeira, assim como a avaliar se e de que forma a EA nos proporciona
meios mais eficazes para entrar no diálogo e construir a convivência entre diferentes em
nossos contextos. (45 min.)
Em conclusão
Este mini-curso vai proporcionar uma experiência marcante pela criação de um contexto
de comunicação onde cada um/a é acolhido/a na sua integridade e diferença.
Experiências anteriores, realizadas com públicos diferentes, mostraram que a vivência
da EA pode proporcionar uma grande contribuição pela desconstrução do sentimento de
ser o único dono da verdade; pela suspensão dos julgamentos sobre o Outro que nos
permite acessar novos pontos de vista e visões de mundo; pelo reconhecimento dele
como igual na diferença; pelo entendimento de como os conflitos originam
frequentemente na incapacidade de contemplar, lidar e conviver na e com a diferença;
pelo sentimento de união e liberdade que origina ao falarmos e escutarmos a partir do
coração; pela percepção concreta e intuição geral da interconexão e interdependência de
tudo, até que nos pareça distante e conflitante.
Recursos necessários e número de participantes.
Para a melhor realização do mini-curso é desejável:
 Uma turma de 40 pessoas no máximo.
 Obter o contato e-mail dos participantes inscritos alguns dias antes do começo
do evento para podermos enviar antecipadamente alguns materiais didáticos e
poder continuar um processo de partilha e avaliação em seguida.
 Um datashow.
 Duas salas próximas para realização das Rodas de Escuta.
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Referencias básicas.
ALVES, Rubem. Escutatória. [s.l.]: 2005. Disponível em:
http://ouvidoria.petrobras.com.br/PaginaDinamica.asp?Grupo=254&Publicacao=320&APRES=PUBL.
Acesso em: 20 de Abr. 2008.
GIANNELLA, Valéria. Base teórica e papel das metodologias não convencionais para a formação em
gestão social. In: CANÇADO, Airton, Cardoso et al. (org.). Os desafios da formação em gestão social.
Anais do II ENAPEGS, Provisão: Palmas/TO 2008.
___ Maria Suzana Moura. Gestão em rede e metodologias não convencionais para a gestão social.
Coleção Roteriros de Gestão Social, Vol. 2, CIAGS/UFBA: Salvador, 2009.
MARIOTTI, Humberto, O automatismo concordo-discordo e as armadilhas do reducionismo. 2000.
Disponível em: <http://www.geocities.com/pluriversu/concdisc.html>. Acesso em: 09 de jan. 2009.
MORIN, Edgar, A Religação dos Saberes. O desafio do século XXI, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,
2001.
SCLAVI, Marianella. Arte di ascoltare e mondi possibili. Milano: Le Vespe, 2000.
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