A EXPLORAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS NO DESENVOLVIMENTO
DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
O interesse por parte da concepção construtivista pelos conhecimentos prévios não
se dá apenas para estudo e análise das questões relativas ao processo ensinoaprendizagem (teoria), mas principalmente pela repercussão que esses
conhecimentos têm neste processo. O que isso quer dizer? Que o sucesso referente
ao ensinar e ao aprender depende muito de se ensinar o que o aluno ainda não
sabe ou a partir do que este já sabe.
Ao planejar seu curso ou sua aula, é importante que o professor se dedique a
detectar os conhecimentos prévios de seus alunos. Cabe aqui destacar que esse
conhecimento por parte de um professor, no início de um processo educativo, é uma
tarefa bastante difícil, mas primordial ao pensarmos na organização e no
planejamento desse processo.
O primeiro critério, nesta “busca” pelos conhecimentos prévios dos alunos, pauta-se
na seleção de quais deles devem ser explorados, ou seja, quais questões são
importantes para que se descubra o que os alunos já sabem sobre determinado
assunto.
Um segundo critério a ser considerado são os objetivos concretos do professor em
relação aos conteúdos e ao tipo de aprendizagem pretendida. Se esses objetivos
enfocam o conteúdo em questão de forma superficial ou em profundidade.
“A consideração simultânea e relacionada de ambos os fatores, o conteúdo e nossos
objetivos, deveria levar-nos a fazer perguntas como: o que pretendo que os alunos
aprendam concretamente sobre os conteúdos? Como pretendo que o aprendam? O
que precisam saber para poder entrar em contato e atribuir um significado inicial a
estes aspectos do conteúdo que pretendo que aprendam? Que coisas já podem
saber que tenham alguma relação ou que possam chegar a relacionar-se com esses
aspectos do conteúdo?” (Miras, 1996). Responder a estas perguntas ajuda-nos a ter
“em mãos” os aspectos básicos que devem ser explorados e conhecidos quanto
àquilo que nossos alunos já sabem.
Mas, e se detectamos que nossos alunos nada sabem? Ou que não possuem
nenhuma noção a respeito do que é nossa proposta ensinar-lhes? É necessário
refletir se nada sabem ou se sabem pouco. Ainda assim, precisamos enfrentar o
desafio de descobrir “de onde partir” para que o processo educativo ocorra
efetivamente. Se, por exemplo, nossos alunos não estão alfabetizados, é
impossível planejar um ensino de determinada regra ortográfica. Então, diante
deste exemplo, você poderá estar pensando: tenho primeiro que alfabetizá-los? E a
resposta é sim.
Da mesma maneira, é importante que detectemos como ocorreram as
aprendizagens anteriores de nossos alunos. Superficialmente? Memorizadas? Há
aqui outra tarefa para nós professores, talvez ainda mais árdua: a de transformar a
maneira como nosso aluno pode aprender.
Mas, não desanime! Essas ações não são impossíveis. Os referenciais teóricos
e a nossa própria prática nos apontarão alternativas e, também a nós, desafios
possíveis de serem vencidos.
A ação do professor depende de constantes atualizações reflexivas sobre o
processo educativo. O que isso quer dizer? É fundamental que constantemente
analisemos:
• a disponibilidade dos nossos alunos para a aprendizagem;
• a possibilidade da falta de sentido que atribuem à atividade;
• a escassa motivação deles;
• a forma como organizamos nosso ensino na relação direta com os alunos ou no
contexto (de currículo, da falta de relação entre as áreas, entre outros.)
Nossas observações acerca desses fatores nos permitem saber se nossos alunos
atualizam ou não os seus conhecimentos prévios e, na negativa, nossa ajuda é
imprescindível. Como? Tendo presentes seus conhecimentos prévios necessários
para a atribuição de sentido e significado ao novo conteúdo; orientando-os a utilizálos nos momentos em que devem atualizá-los ou explicando as relações entre seus
conhecimentos prévios e os novos, no processo educativo. Em quais situações? Nas
apresentações e introduções aos novos conteúdos, nas sínteses e nas
recapitulações.
Vamos, então, discutir a exploração dos conhecimentos prévios de nossos alunos,
utilizando três questões:
1) O que explorar? A experiência da prática é importante para responder a esta
questão, pois o que devemos explorar enquanto conhecimentos prévios de nossos
alunos está atrelado aos objetivos (tão mais claros quanto maior nossa experiência)
que temos para a aprendizagem de um novo conteúdo. Além disso, também nossa
experiência nos fornece elementos que nos permitem, por exemplo, saber quais as
dificuldades mais habituais de determinados conteúdos. Ainda, é preciso levar em
consideração aspectos além de uma lista de fatos, conceitos, procedimentos ou
atitudes, mas necessariamente a relação ou relações estabelecidas entre esses
elementos.
2) Quando? Sempre. É natural que no início do processo educativo exploremos os
conhecimentos prévios de nossos alunos para que saibamos “de onde partir”, mas é
necessário que isso ocorra constantemente. Porém, a principal questão é: o que
fazermos com isso? Se detectamos os conhecimentos prévios e as relações que
nossos alunos estabelecem entre estes e os novos conteúdos, mas não
replanejamos nossa prática, não reformulamos estratégias, não buscamos diferentes
recursos, enfim, se não refletirmos sobre os resultados detectados por nós, de nada
terá adiantado nosso “esforço”.
3) Como realizar a exploração? Há vários instrumentos, os mais padronizados ou
fechados e os de caráter mais aberto ou flexível. A inter-relação professor/aluno, o
nível de escolaridade e também os conteúdos indicarão os melhores instrumentos.
Por exemplo, instrumentos mais fechados (questionários, mapas, entre outros) são
úteis para a exploração de conteúdos conceituais, já a exploração dos conteúdos
procedimentais exige observações constantes durante a realização de atividades e,
parece mais adequado que se explorem conteúdos atitudinais utilizando
instrumentos mais abertos como observação e diálogos entre professor e alunos.
Obviamente o início e desenvolvimento do processo educativo não incluem apenas
a exploração dos conhecimentos prévios de nossos alunos. Outras questões estão
em jogo como a disposição deles para a aprendizagem, seus recursos e
capacidades gerais. Mas é importante que possamos contar com uma contribuição
que nos dê referências do ponto de partida para a organização da nossa atuação em
sala de aula.
Estamos no final desta unidade e convém agora retomarmos aquele conceito
que você escreveu como sendo seu conhecimento prévio sobre este nosso
conteúdo trabalhado. Compare-o com o que você aprendeu, estabelecendo
uma relação entre sua concepção antes e depois do processo.
Download

A EXPLORAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS NO