16 REFERENCIAL TEÓRICO 1.5.ITIL - Information Technology Infrastructure Library A Information Technology Infrastructure Library (ITIL) é uma biblioteca de boas práticas (do inglês "Best practices") nos serviços de tecnologia da informação (TI), desenvolvida no final dos anos 80 pela CCTA – “Central Computer and Telecommunications Agency” e atualmente sob custódia da OGC – “Office for Government Commerce” da Inglaterra. A ITIL busca promover a gestão com foco no cliente e na qualidade dos serviços de tecnologia da informação (TI). A ITIL endereça estruturas de processos para a gestão de uma PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA organização de TI apresentando um conjunto abrangente de processos e procedimentos gerenciais, organizados em disciplinas, com os quais uma organização pode fazer sua gestão tática e operacional em vista de alcançar o alinhamento estratégico com os negócios. O itSMF é o único fórum destinado a profissionais especializados em ITIL totalmente independente e reconhecido mundialmente. Estabelecido no Brasil em setembro de 2003, o fórum nacional itSMF Brasil tem como principal meta consolidar o conhecimento dessas melhores práticas, promover a integração de profissionais da área de TI em torno desse tema e auxiliar na criação e revisão de processos voltados à Gerência de Serviços de TI. A versão 3 da biblioteca ITIL foi lançada mundialmente em maio de 2007 como uma atualização completa da antiga versão 2, publicada na década de 90 do século passado. O conjunto de livros em versões eletrônicas (eBook) que compõem o ITIL são: • ISBN 9780113312424 Service Strategy (SS) • ISBN 9780113310548 Service Design (SD) • ISBN 9780113310555 Service Transition (ST) • ISBN 9780113310531 Service Operation (SO) • ISBN 9780113310562 Continual Service Improvement (CSI) • ISBN 9780113310517 ITIL Lifecycle Publication Suite (Conjunto completo da biblioteca ITIL V3) 17 • ISBN 9780113310623 Official Introduction to the ITIL Service Lifecycle E um complemento: PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA • ISBN 0955124581 An Introductory Overview of ITIL® V3 Figura 1: Diagrama alto nível da visão geral do ITIL Seguem os processos de Gerenciamento de Serviço cobertos pelo ITIL e suas respectivas publicações: Avaliação (ST), Cumprimento de Requisição (SO), Geração de Estratégia (SS), Gerenciamento de Capacidade (SD, SO e CSI), Gerenciamento da Configuração e de Ativos de Serviços (ST e SO), Gerenciamento da Continuidade do Serviço de TI(SD e CSI) , Gerenciamento da Demanda (SS e SD), Gerenciamento da Disponibilidade(SD e CSI), Gerenciamento de Acesso(SO), Gerenciamento de Evento (SO), Gerenciamento de Fornecedor (SD), Gerenciamento de Incidente (SO e CSI), Gerenciamento de Liberação e Implantação (ST e SO), Gerenciamento de Mudança (ST), Gerenciamento de Portfólio de Serviço (SS e SD), Gerenciamento de Problema (SO e CSI), Gerenciamento de Segurança da Informação (SD e SO), Gerenciamento do Conhecimento (ST e CSI), Gerenciamento Financeiro (SS), Mensuração de Serviços (CSI), Planejamento e Suporte da Transição (ST), Processo de 18 Melhoria em 7 Etapas (CSI), Relatório de Serviço (CSI), Validação e Teste de Serviço (ST). A ITIL traz algumas mudanças de paradigma, tais como: faz com que o negócio foque no valor e não no custo; nos faz pensar em toda a cadeia que envolve a prestação de serviços (end-to-end service) e não uma visão fragmentada; e internamente transfere o olhar para processos e pessoas e não apenas na tecnologia. Quando se fala na melhoria da maturidade dos serviços prestados, o mais adequado é implementar na empresa os processos preconizados pela ITIL (Infrastructure Technology Information Library), principalmente os processos das áreas de “Service Support” e “Service Delivery”, que tratam especificamente do gerenciamento dos serviços de TI, observando o alinhamento com as perspectivas de negócio e adotando a infra-estrutura adequada para tal. Os processos e objetivos da área de “Service Support” são: PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA • “Incident Management” (Gerenciamento de incidentes) – reduzir o tempo de indisponibilidade (downtime) dos serviços; • “Problem Management” (Gerenciamento de problemas) – minimizar o impacto no negócio dos incidentes e problemas causados pelos erros na infra-estrutura de TI e prevenir incidentes recorrentes desses mesmos erros; • “Configuration Management” (Gerenciamento de configuração) – identificar e controlar os ativos de TI e itens de configuração (CIs) existentes na organização, estabelecendo o relacionamento dos mesmos aos serviços prestados; • “Change Management” (Gerenciamento de mudanças) – minimizar o impacto da mudança requerida para resolução do incidente ou problema, mantendo a qualidade dos serviços, bem como melhorar a operacionalização da infra-estrutura; • “Release Management” (Gerenciamento de liberações) – prevenir a indisponibilidade do serviço, garantindo que as instalações de versões de hardware e software estejam seguras, autorizadas e devidamente testadas. Os processos e objetivos da área de “Service Delivery” são: • “Service Level Management” - SLM (Gerenciamento de Nível de Serviços) – garantir o acordo de nível de serviço (SLAs) previamente estabelecido entre o fornecedor e o cliente; 19 • “Financial Management for IT Service” (Gerenciamento Financeiro para TI) – demonstrar ao cliente o custo real dos serviços prestados e gerenciá-los de forma profissional; • “Availability Management” (Gerenciamento de Disponibilidade) – garantir a disponibilidade e confiabilidade dos recursos de TI, a fim de assegurar a satisfação do cliente e a reputação do negócio; • “Capacity Management” (Gerenciamento de Capacidade) – assegurar que a capacidade da infra-estrutura de TI está adequada às demandas do negócio conforme a necessidade e no tempo esperado, observando sempre o gerenciamento do custo envolvido; • “IT Service Continuity Management” / ITSCM (Gerenciamento de Continuidade de Serviços) – atender todo o processo de gerenciamento da continuidade do negócio, assegurando que os recursos técnicos e sistemas de TI sejam recuperados quando PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA requeridos, no tempo desejado. Figura 2: “Service Knowledge Management System” (SKMS): Key links, inputs & outputs of the service lifecycle stages O presente estudo focou mais na área de “Service Delivery”, com a forte preocupação de entender como a entrega do serviço de TI é percebida pelos seus clientes, ou seja, pontos positivos e negativos. E de que forma a mau 20 prestação deste serviço pode ocasionar conflitos, identificando inclusive as PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA possíveis causas destes conflitos. 21 1.6.COBIT – “Control Objectives for Information and Related Technology” COBIT é um guia, formulado como “framework”, dirigido para a gestão de tecnologia de informação (TI). Recomendado pelo ISACA – “Information Systems Audit and Control Association”, possui uma serie de recursos que podem servir como um modelo de referência para gestão da TI, incluindo um sumário executivo, um "framework", controle de objetivos, mapas de auditoria, ferramentas para a sua implementação e principalmente, um guia com técnicas de gerenciamento. Especialistas em gestão e institutos independentes recomendam o uso do COBIT como meio para otimizar os investimentos de TI, melhorando o retorno sobre o investimento (ROI) percebido, fornecendo métricas para avaliação dos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA resultados (KPIs – “Key Performance Indicators”) O COBIT independe das plataformas de TI adotadas nas empresas, tal como independe do tipo de negócio e do valor e participação que a tecnologia da informação tem na cadeia produtiva da empresa. Porém cada empresa pode dar um peso maior ou menor aos controles implementados, de acordo com a importância de TI para o seu negócio. COBIT cobre os quatro domínios, os quais possuem 34 processos (2 objetivos de controle para cada processo): • Planejar e Organizar • Adquirir e Implementar • Entregar e Dar Suporte • Monitorar e Avaliar O domínio de Planejamento e Organização cobre o uso de informação e tecnologia e como isso pode ser usado para que a empresa atinja seus objetivos e metas. Ele também salienta que a forma organizacional e a infra-estrutura da TI devem ser consideradas para que se atinjam resultados ótimos e para que se gerem benefícios do seu uso. Este primeiro processo reforça a importância do alinhamento estratégico de TI com os Negócios da Organização, a fim de otimizar a utilização dos recursos escassos nos projetos que realmente irão trazer retorno financeiro e conquista de mercado para a organização. O domínio de Adquirir e Implementar cobre os processos de aquisição de tecnologia e implementação, dentro dos processos de negócios da companhia. 22 Esse domínio também foca o desenvolvimento do plano de manutenção que a companhia adota para prolongar a vida do sistema de TI e seus componentes. O domínio de Entregar e Dar Suporte foca em aspectos de entrega de tecnologia da informação. Cobre a execução de aplicações dentro do sistema de TI e seus resultados, assim como o suporte dos processos que habilitam a execução de forma eficiente e efetiva. Esses processos de suporte também incluem questões de segurança e treinamento. Aqui podemos ressaltar a importância dos treinamentos, com a utilização de linguagem menos técnica possível, procurando demonstrar maior proximidade de TI com o Negócio. O domínio de Monitorar e Avaliar lida com a estimativa estratégica das necessidades da companhia e avalia se o atual sistema de TI atinge os objetivos para o qual ele foi especificado e controla os requisitos para atender objetivos regulatórios. Ele também cobre as questões de processos internos da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA companhia através de auditores internos e externos. 23 1.7.Qualidade de Serviços Para entender melhor o que o cliente percebe ou avalia como qualidade de serviço e como os gestores das empresas prestadores de serviços percebem esta mesma qualidade de serviço, incluí este capítulo. O objetivo é apresentar um modelo geral de qualidade de serviço chamado SERVQUAL. Foram identificadas nas entrevistas várias reclamações sobre a qualidade de serviço prestado, porém, ao mesmo tempo, foi identificada uma certa dificuldade na classificação do que seria um serviço de boa qualidade. O Modelo SERVQUAL tem como objetivo identificar primeiramente o que os seus clientes esperam receber e posteriormente comparar com os resultados entregues. Vale ressaltar a importância de prometer somente aquilo que é possível PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA entregar, pois em alguns casos, como demonstrado na pesquisa de campo, uma das insatisfações mencionadas pelos entrevistados foi o não cumprimento do que foi prometido. Construído em 7 anos de pesquisa em qualidade de serviço, o modelo SERQUAL, que balanceia as percepções de valores dos clientes para um determinado serviço com as necessidades dos clientes para o mesmo serviço, ou seja, a comparação entre a expectativa do cliente com a entrega do serviço propriamente dito. É importante ter o cuidado de não se iludir ao fazer uma entrega não esperada pelo cliente, com o objetivo de corrigir uma falha de entrega de um serviço esperado pelo mesmo, pois o nível de satisfação do cliente poderá não melhorar, conforme demonstrado também nos depoimentos dos entrevistados. A aplicação do modelo SERVQUAL pode ser feita através de entrevistas com grupos focais, para preenchimento dos 22 itens genéricos do questionário, SERVQUAL. Este questionário pode ser customizado para cobrir aspectos específicos de cada serviço de sua organização. O questionário é divido em cinco atributos de qualidade: Confiabilidade (constância no serviço, oferecer sempre a mesma qualidade), Empatia (forma de diferenciar cada cliente, conhecer um a um, saber o que cliente quer, quando e como), Segurança (segurança nas informações prestadas), Sensibilidade (maneira cortês no tratamento de todos, perceberem o momento do cliente (tempo), atenção para o cliente) e tangíveis (aparência de facilidades físicas, equipamentos, pessoas ou materiais de comunicação). 24 Comparando as percepções com as expectativas, o modelo fornece aos gestores uma visão dos dois lados da qualidade percebida e que pode até levar a segmentação do mercado em grupos, com expectativas de serviços diferenciadas. O questionário também identifica a importância relativa de cada uma das dimensões para cada cliente. Os resultados das análises dos GAPs também podem ser utilizados para alguma iniciativa de certificação ISO ou apenas como base para plano de melhoria do nível de serviço prestado. Alguns autores mencionam a correlação deste modelo com o ITIL. Segundo Valarie A. Zeithaml, A. Parasuraman, Leonard L. Berry, em seu livro entitulado “Delivering Quality Service: balancing customer perceptions and expectations”, existe uma forte relação entre o ITIL e a busca pela qualidade de serviço. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA ITIL foca em prover serviços de alta qualidade com um foco particular em relacionamento com os clientes, o que faz com que a ferramenta SEVQUAL seja ideal para suporte. A área “Service Delivery” do ITIL é parcialmente relacionada aos acordos realizados com os clientes e monitoramento dos resultados atingidos. Os processos de “Service Support” podem ser vistos como entrega dos serviços de acordo com o acordado com os clientes. Portanto existe um alinhamento direto entre ITIL e a Análise de Gaps SERVQUAL. ITIL suporta o sistema de qualidade provendo definição de processos e melhores práticas de gerenciamento dos serviços de TI. O ITIL endereça diversas dimensões da qualidade. Durante as investigações, os autores identificaram que Confiabilidade foi o a mais importante dimensão utilizada e a Sensibilidade foi a segunda mais citada. Começando pela confiabilidade, o processo de Gerenciamento da Mudança do ITIL estabelece processos e procedimentos padrão para garantir que as mudanças sejam conduzidas eficaz e eficientemente e levando em consideração todos os riscos e impactos que possam causar aos clientes do serviço. Portanto um efetivo gerenciamento de mudança irá minimizar os efeitos adversos das mudanças no Negócio, aumentando a confiabilidade do serviço. Confiabilidade está fortemente relacionada com a prevenção de falhas e a habilidade de manter os serviços e componentes operáveis. Quando ao processo de Gerenciamento da Disponibilidade, o mesmo inicia com desenho dos sistemas, englobando também a implementação e medição e 25 monitoramento da infraestrutura, garantindo que os requerimentos de disponibilidade da organização sejam atingidos. Existem outros processos que também contribuem para a entrega dos serviços dentro das expectativas do cliente, tais como: Gerenciamento da Capacidade. Este processo envolve um monitoramento detalhado para garantir a melhor utilização dos recursos disponíveis. A provisão da capacidade suficiente reduz o risco de desempenho ruim e conseqüentemente serviços não confiáveis. Vale relembrar também que os serviços ou sistemas fornecidos dependem de fornecedores externos e a capacidade de entregas destes fornecedores é crucial para garantir as expectativas dos clientes. • O processo de Gerenciamento de Problemas também tem um papel importante para manter a confiabilidade nos serviços prestados. Identificação de problemas e erros conhecidos através das análises das causas raiz de cada um dos problemas e a subseqüente correção das mesmas previne futuros incidentes PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA e aumentam a confiabilidade no serviço prestado. O processo de Gerenciamento Proativo de problemas, através da análise de tendências, pode identificar problemas antes que eles ocorram. A dimensão de Sensibilidade ou Receptividade, ou seja, a prontidão para ajudar os clientes e prover um serviço rápido é a regra fundamental para o Service Desk. O “Service Desk” é responsável pela interface entre os clientes e os times que resolvem os problemas. De acordo com a alocação de pessoas, processos e tecnologias adequadas, o “Service Desk” pode atender aos clientes, dando o primeiro atendimento, encaminhando para os respectivos responsáveis pela resolução do problema, acompanhando a resolução final, garantindo que o cliente recebeu o retorno rapidamente, de acordo com a severidade do problema. O “Service Desk” é crucial para melhoria da percepção do cliente sobre o serviço prestado, pois as percepções dos clientes são formadas por estas experiências, que são chamadas de “momentos da verdade”. Os momentos da verdade são a base do serviço e descrevem cada momento que o cliente entra em contato com o serviço prestado. Em TI, o “momento da verdade” é o momento em que o cliente liga para o “Service Desk”. Uma simples experiência negativa pode derrubar uma série de serviços bem prestados. O conhecimento e a cortesia dos empregados e a habilidade dos mesmos em ser confiáveis e a dimensão de Segurança. Segurança é referente à competência de ter os perfis de conhecimento, cortesia e credibilidade. Mais uma vez o “Service Desk” é chave para endereçar esta dimensão, com as 26 pessoas, processos e tecnologia adequada. Qualquer área de Gerenciamento de serviço em TI envolvida em comunicação com o cliente tal como Gerenciamento da mudança ou gerenciamento dos níveis de serviços possuem os mesmos requisitos que o “Service Desk” para endereçar a dimensão de Sensibilidade ou Receptividade. Empatia requer uma atenção e cuidado individualizados. Envolve acesso, facilidade de contato, comunicação e entendimento das necessidades dos clientes. Obviamente o “Service Desk” é novamente chave para endereçar esta dimensão. O Gerenciamento dos níveis de serviço e a comunicação com os clientes também contribuem. A dimensão final é Tangibilidade, que se refere à aparência de facilidades físicas, equipamentos, pessoas ou materiais de comunicação. Não inteiramente endereçada através do processo de Gerenciamento de serviço, mas suportada pela aplicação da estratégia de qualidade para efetuar mudanças, através do PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA processo de Gerenciamento de mudança e configuração. O ITIL pode ajudar a melhorar as cinco dimensões da qualidade. Quando os Gaps são encontrados, os processos do ITIL podem ajudar a determinar como endereçá-los, monitorando aspectos dos processos através do Gerenciamento de incidentes e problemas, Gerenciamento de Disponibilidade e Capacidade e especialmente o Gerenciamento dos Níveis de Serviços. 27 1.8.Percepção A palavra “percepção”, vinda do latim per+cipio, per+capere, significa literalmente “obtido por captura ou captação” (MATURANA 2002, p. 79). Segundo este autor, o fenômeno a que chamam percepção não é nem pode ser o de captação de aspectos do mundo de objetos independentes do observador e demonstra que a percepção consiste na constituição de um mundo de ações. Segundo o autor, “tudo é dito por um observador” (p. 53). O que acontece ao sistema depende de como ele é feito. Por exemplo, uma máquina de fazer café é projetada para fazer algo que não é determinado pelo apertar do botão, mas sim pelo que o apertar do botão desencadeia. De forma semelhante, os seres humanos são preparados para agir, de acordo com a forma como foram PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA estruturados. A organização estrutura, de certa forma, os seus colaboradores, esperando certas reações e comportamentos. Eles são estruturados para reagirem de determinada maneira. Porém, eles podem sofrer mudanças em suas estruturas, podendo modificar sua forma de agir. Isto equivale a dizer que cada humano, dentro de uma organização, pode agir diferentemente em resposta ao mesmo estímulo. Não por acaso, há autores que entendem que é fundamental conhecer as estruturas de cada indivíduo para melhor previsão de suas reações. Maturana (2002) afirma que existem transformações estruturais que resultam da própria dinâmica do sistema, (alterações que o próprio indivíduo faz em si mesmo, independente do meio em que vive) mas aquelas que têm a ver com o meio são selecionadas por meio da interação com o meio. Em outros termos, cada ser humano é o resultado de nossas histórias particulares de interações que teve com o meio. Maturana (2002) chega então ao conceito de conduta adequada, aquela que é congruente com as circunstâncias nas quais ela se realiza. A conduta é algo que se vê; é as mudanças de estado de um organismo em seu meio, tal qual vistas por um observador (exemplo do aluno de física que responde exatamente o que o professor espera que ele responda como aluno de física, utilizando os recursos aprendidos em sala e não inventando novas formas). O aluno vai ter uma conduta adequada, aos olhos do professor, através de uma série de interações que teve com o mesmo. O comportamento cognitivo, ou seja, 28 a conduta adequada é decorrente de ocorrências estruturais que são resultantes das histórias de interações dos organismos. Segundo Maturana (2002), os seres vivos são dinâmicos e tudo que acontece com eles é determinado a cada instante por sua estrutura. Isto significa que o meio não pode especificar o que acontece num ser vivo. Ele pode apenas desencadear em sua estrutura algumas mudanças. Nestas circunstâncias, Maturana define Percepção como uma associação, pelo observador, das regularidades de comportamento que ele ou ela distingue no organismo observado com as condições do meio que ele ou ela vê como desencadeando PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA estas regularidades. Para o autor, “O fenômeno que conotamos com a palavra percepção não consiste na captação, pelo organismo, de objetos externos a ele, como implica o discurso usual da neurofisiologia e da psicologia. Tampouco consiste na especificação, por parte do meio, de mudanças no organismo, resultando em que esse organismo opere com base numa representação do meio na geração de sua conduta. Ao contrário, o fenômeno conotado pela palavra percepção consiste na configuração que o observador faz de objetos perceptivos, mediante a distinção de cortes operacionais na conduta dos organismos, ao descrever as interações desse organismo no fluir de sua correspondência estrutural no meio”. (Maturana, 2002 p. 72) 29 1.9.Conflitos Segundo Moline (2001), conflito é o comportamento competitivo entre pessoas ou grupos, sob circunstâncias nas quais duas ou mais pessoas competem ou perseguem objetivos ou recursos incompatíveis. O conflito é inevitável, em função da necessidade de se relacionar com outras pessoas diferentes entre si, mas ao mesmo tempo propicia o desenvolvimento humano. Vários conflitos são o resultado das diferenças de objetivos. Duas importantes qualidades aparecem em todos os conflitos. A primeira é o comportamento competitivo, que prevalece quando um indivíduo visualiza algo raro ou exclusivo. A segunda qualidade do conflito é a incompatibilidade, quando duas ou mais pessoas competem pelos mesmos objetivos ou recursos. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA O tempo despendido em resolver conflitos, poderia estar sendo gasto para desenvolver estratégias de negócios e implementar novas iniciativas (MOLINE, 2001). Cavalcanti (2006) cita a pesquisa de Baron (1983, p.374), que afirma que gestores de alto e médio nível gastam cerca de 20 por cento de seus tempos gerenciando conflitos. Geralmente são os gestores que desempenham o papel de mediador nas resoluções dos conflitos e o estudo de Cavalcanti (2006) reforça a importância do papel do gestor nesta atividade de gerenciamento de conflitos na empresa. Segundo estudo de Milan (2007), a confiança e o compromisso estão fortemente relacionados, pois quando há confiança, as partes assumem riscos juntas e consequentemente se comprometem em resolver os problemas encontrados da melhor forma possível, de forma a mitigar estes riscos assumidos. Segundo Camacho (2005) em seu estudo, fica clara a dificuldade de entendimento / comunicação durante todo o processo de elaboração e posterior análise de requisitos de negócio. Ela ressalta a dificuldade de se chegar a um consenso sobre a real necessidade dos clientes, o que desencadeia uma série de negociações, que levam em consideração não somente aspectos lógicos e técnicos, mas também aspectos políticos, organizacionais e as próprias personalidades de todos os envolvidos. Segundo a mesma autora, a literatura sobre conflitos ressalta a importância da distinção sobre conflitos funcionais e não funcionais. 30 O conflito não funcional ou disfuncional é aquele que interfere no desempenho. O conflito pode ser disfuncional por várias razões. Uma das razões é a existência de grupos de interesses diferentes, onde um grupo defende uma determinada necessidade ou projeto, por exemplo, e outro grupo é totalmente contra, podendo provocar o fracasso do mesmo. Outra razão é quando o conflito pode fazer com que as pessoas exerçam os seus poderes individuais para realizar seus interesses individuais, deixando de lado os interesses da organização. Outro motivo é quando o conflito pode gerar efeitos negativos nas relações interpessoais, como por exemplo: raiva, hostilidade, frustração, estresse, todos eles prejudiciais à organização. Neste último caso, recursos que poderiam estar sendo utilizados pela organização para alcançar as metas definidas, inovando e criando, são utilizados para resolução dos conflitos criados. O Conflito funcional é aquele que é benéfico para a organização, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA incentivando a criatividade e a inovação. Muito conhecida a abordagem formal de advocacia do diabo, onde uma pessoa assume o papel de questionador das idéias, com o objetivo de identificar mais alternativas possíveis para as resoluções os problemas. Neste caso o conflito pode ser muito benéfico, facilitando a mudança, elevando o moral do time, gerando uma maior espontaneidade na comunicação. Pela experiência do pesquisador, definir os principais processos da organização, priorizar os processos mais críticos, documentar e divulgar estes processos para toda a organização tem sido uma tarefa árdua de muitas empresas. Fazer com que todos pensem primeiro em melhorias de processos, para depois pensar em automatização é também uma tarefa cada vez mais importante, porém também muito difícil. Segundo estudo de Camacho (2005), as causas de conflitos que mais afetaram o seu estudo foram os fatores de comunicação, os estruturais e os pessoais. Os fatores de comunicação foram observados durante a elaboração do requisito de negócio, onde a informação passa por diversos intermediários, com conhecimentos diferenciados, podendo gerar diferenças grandes de entendimentos. As pessoas envolvidas na elaboração dos requisitos vão modificando o seu conteúdo, ao conversarem umas com as outras, chegando até a eliminar solicitações que inicialmente eram importantes, mas que ao serem questionadas em maior detalhes deixaram de ser importantes. O estudo mostrou que no início do requisito houve pouco questionamento sobre o seu 31 conteúdo, gerando retrabalhos até a finalização do documento de requisito final (CAMACHO, 2005). Quanto aos fatores estruturais, relacionados à própria estrutura da organização, como por exemplo, a condução de reuniões, a organização dos processos, a forma de gestão entre outros fatores, o estudo demonstrou que quando se organizam melhor, os conflitos diminuem e consequentemente o resultado do trabalho apresenta melhor qualidade (CAMACHO, 2005). Os fatores pessoais, tais como interesses pessoais e personalidades diferentes foram mencionados no estudo como fatores que influenciaram nas negociações. O autor cita que uma pessoa de forte personalidade pode fazer prevalecer o seu requisito como prioritário, mesmo que ele não seja o melhor para a empresa, principalmente se tiver influência na organização, assim como pode eliminar também algum requisito importante. Mas o autor deu mais ênfase à utilização de métodos e ferramentas para auxiliar no processo de elaboração PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0712990/CA de requisitos (CAMACHO, 2005). Segundo Boundon (1996) uma das causas dos conflitos é a diversidade de interesses. Portanto quando os objetivos não são compartilhados há uma maior tendência de geração de conflitos. O autor também ressalta que nem todos os conflitos são decorrentes da dimensão interpessoal. Muitas vezes são decorrentes de causas coletivas, tais como interesses de uma comunidade como um todo ou uma organização como um todo. Várias podem ser as causas de conflitos, dentre elas questões técnicas, limitação de recursos ou sobrecarga de solicitações devido a um excesso de solicitações incompatíveis de serem executadas ao mesmo tempo (BOUNDON, 1996). Outro ponto importante ressaltado pelo autor é a importância de considerar o contexto em que a decisão é tomada, pois podem surgir os conflitos de interpretação, caso as partes estejam com visões diferentes sobre o mesmo problema ou questão (BOUNDON, 1996).