Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental Profª: Letícia Lazarini de Abreu Bibliografia Disponível na Biblioteca da UCB - KAPLAN . H.I .& SADOCK . B.J. Compêndio de Psiquiatria .3 ed. Porto Alegre , 1997 - Leituras complementares- Oferecidas pela docente ao longo do período. Distúrbios Mentais - Histórico Gregos e Romanos Tolerância e Compreensão Cristianismo Idade Média ate a Idade Moderna -Cismas Teóricos: *Sem alma *Feitiços (demônios) * Dom (privilégio) Século XVIII Indignação pelo modelo de tratamento Algemas Francês Philippe Pinel (Pai da Psiquiatria) Bethlem Royal Hospital O Bethlem Royal Hospital foi o primeiro hospital psiquiátrico, fundado em 1247 em Londres. Era famoso pela forma desumana como tratava os doentes e permitia que visitantes "pagantes" assistissem a "espetáculos" protagonizados pelos internos, como um verdadeiro circo de horrores. Pinel Asilos Manicômios SÉCULO XIX O tratamento no manicômio: -Deveria ser de reeducação do alienado; -Em respeito às normas; -Com desencorajamento das condutas inconvenientes. “A função disciplinadora do manicômio e do médico deve ser exercida como um perfeito equilíbrio entre firmeza e gentileza. Mais ainda, a permanência demorada do médico em contato com os doentes melhora seu conhecimento sobre os sintomas e sobre a evolução da loucura”, afirmava Pinel. Tratamento humanizado Philippe Pinel = Primeiro a utilizar métodos humanizados no tratamento dos doentes, enquanto foi superintendente do asilo Bisêtre em Paris. Jean Baptiste Pussin, Enfermeiro, foi o primeiro a questionar a ausência de humanidade na atenção ao portador de sofrimento psíquico, removendo as amarras dos internos. Início do século XIX releitura distorcida do tratamento moral de Pinel Utilização de medidas físicas e higiênicas como duchas, banhos frios, chicotadas, máquinas giratórias e sangrias. Doença moral passou também a ter uma concepção orgânica, de acordo com o pensamento de vários discípulos de Pinel. As técnicas de tratamento usadas pelos que defendiam as teorias organicistas eram as mesmas empregadas pelos adeptos do tratamento moral, todas com explicações e justificativas fisiológicas para sua utilização. Prevalência das teorias organicistas da doença mental= decorrentes de descobertas experimentais da neurofisiologia e da anatomia patológica. Sistema asilar = percebe-se uma institucionalização das relações lá exercidas,tornando-se um mundo à parte, afastando cada vez mais o indivíduo de suas relações exteriores. "Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais." (Esquirol, 1818, apud Ugolotti, 1949) O doente mental.... Eles constituem uma população específica, com perda da sua autonomia e vulneráveis não só em decorrência da própria doença que os afeta, mas também pela situação de abandono que muitas vezes se encontram. Formas de Tratamento já usadas: - Insulinoterapia de Sakel, - eletroconvulsoterapia de Ugo Cerletti, (ECT). A fundamentação teórica para estes procedimentos seria que uma desmontagem da estrutura psíquica proporcionaria uma reconstrução sadia. - a malarioterapia (paralisia geral) foi introduzida pela primeira vez no Brasil, no Hospital São Pedro, com grande sucesso na época. HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS NO BRASIL A história oficial da psiquiatria no Brasil teve início com a chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, trazendo a bordo, “engaiolada”, a rainha D.Maria I. Sua Alteza havia sido considerada insana e afastada de suas funções; Os hospitais psiquiátricos no Brasil surgiram no final do século XIX; Influenciados pela psiquiatria francesa e pelo tratamento moral; O primeiro foi o Asilo Pedro II, no Rio de Janeiro fundado em 1853. 1890 - Lei da Insanidade = – Somente pacientes com atestado médico poderiam ser admitidos num hospício; 1948 – Serviço Nacional de Saúde= Todos os hospitais passam ao Estado e são igualados em status e financiamento; Pacientes começam a ser tratados como seres humanos dignos Década de 50 Lei da saúde Mental – 1959 = Abolição das diferenças entre doença mental e orgânica; Índice de alta hospitalar aumenta; Aprovada lei que mandava fechar os hospitais psiquiátricos 1961 = Diminuição de necessidade de leitos em 3,3% para cada 1.000 hab 1976 = Diminuição de necessidade de leitos em 1,8% para cada 1000 hab. A Premissa da Enfermagem Psiquiátrica era: Conter, Medicar, Vigiar 1970 – Movimento pró Reforma Psiquiátrica Brasileira 1987- II Congresso Nacional do MTSM (Bauru- S.P)- “ Por uma sociedade sem Manicômios.” 1987- I Conferência Nacional de Saúde Mental ( Rio de Janeiro). Crítica do modelo hospitalocêntrico (1978-1991) Greve dos trabalhadores em 1978, quando se inicia a organização do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental – MTSM, no Rio de Janeiro; 1987-surgimento do primeiro CAPS no Brasil, na cidade de São Paulo; Luis da Rocha Cerqueira (1911-1984), psiquiatra, foi um dos precursores da psiquiatria social no Brasil. Em 1973, enquanto Coordenador de Saúde Mental do Estado de São Paulo criou o Centro de Atenção Diária. Posteriormente, o primeiro CAPS fundado, em 1987, recebeu seu nome em homenagem à sua luta pela causa maior da saúde mental. 1989-Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) que funcionam 24 horas, em Santos; 1988-Constituição - é criado o SUS 1989-Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. Regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. Começa a implantação da rede extra-hospitalar (1992-2000) 1992- os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental. Declaração de Caracas(Reflete sobre a psiquiatria na comunidade),e pela realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental. Experiências dos primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos. Reforma Psiquiátrica no Brasil A Reforma Psiquiátrica brasileira foi influenciada pelo movimento reformista italiano. Franco Basaglia foi o principal ator da reforma psiquiátrica italiana. Nasceu em Veneza, Itália em 1924, falecendo em 1980. Era médico e ao ingressar no hospital psiquiátrico de Gorizia na condição de diretor (1968), iniciou ações no intuito de transformá-lo em uma comunidade terapêutica. Porém, com o passar do tempo, percebeu que somente a humanização da assistência não seria suficiente para superar a miséria, por exemplo, dos internos. Então, iniciou o movimento de transformação radical, no sentido de extinguir o hospital psiquiátrico. Reforma Psiquiátrica no Brasil Crise da Divisão Nacional de Saúde Mental; greve dos trabalhadores em 1978, quando se inicia a organização do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental – MTSM, no Rio de Janeiro; abertas as portas à reforma psiquiátrica apoio dos pacientes, familiares e parte da sociedade Reforma Psiquiátrica no Brasil - 2001 Lei nº 10.216/2001 ( Paulo Delgado) redireciona a assistência em saúde mental Não se usa mais paciente, mas usuário. Desinstitucionalização de pessoas longamente internadas é impulsionado, com a criação do Programa “De Volta para Casa”. Reforma Psiquiátrica se consolida como política oficial do governo federal. De modelo hospitalocêntrico passamos ao modelo psicossocial, que busca um olhar abrangente sobre este ser humano que sofre de um transtorno mental. III Conferência Nacional de Saúde Mental e a participação de usuários e familiares : Reforma Psiquiátrica como política de Governo CAPS Mudança no modelo de assistência Políticas de saúde p/ usuários de álcool e outras drogas Estabelece o controle Social como garantia na Reforma Redução de leitos da segunda metade da década de 90 Ano Leitos HP 1996 72514 1997 71041 1998 70323 Leitos Psiquiátricos SUS por ano (1996-2005)1999 66393 2000 60868 2001 52962 2002 51393 2003 48303 2004 45814 2005 42076 Embora em ritmos diferenciados, a redução do número de leitos psiquiátricos vem se efetivando em todos os estados brasileiros, sendo muitas vezes este processo o desencadeador do processo de Reforma. Entre os anos de 2003 e 2005 foram reduzidos 6227 leitos. PNASH/Psiquiatria, PRH, Programa de Volta para Casa A luta anti-manicomial A reforma psiquiátrica não deve ser entendida apenas como a mudança do modelo de atenção, e a substituição dos manicômios por serviços de atenção diária. É um movimento social de inclusão, de reintegração social e de reconstrução, na busca – cotidiana e permanente – do novo lugar do doente mental na sociedade. Dia Nacional da Luta Antimanicomial no Brasil. No Brasil é comemorado no dia 18 de maio Portaria GM nº336, de 19 de abril de 2002 Define as três modalidades de serviço: CAPSI, CAPSII e CAPSIII. os CAPSi, direcionado para atendimentos de crianças e adolescentes, e o CAPSad para atendimento de álcool e outras drogas, são caracterizados como CAPSII. Os CAPS possuem características que são comuns a todos tais como: a) responsabilizar-se pela organização da demanda e da rede de cuidados em saúde mental no território; b) possuir capacidade técnica para desempenhar papel de regulador da porta de entrada da rede assistencial no território; c) coordenar atividades de supervisão de unidades hospitalares no seu território; d) supervisionar e capacitar equipes de atenção básica e outros serviços no território; e) realizar e atualizar o cadastramento de pacientes que fazem uso de medicamento essencial ou excepcional na área de assistência. Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Os Centros de Atenção Psicossocial começaram a surgir nas cidades brasileiras na década de 80 e passaram a receber uma linha específica de financiamento do Ministério da Saúde a partir do ano de 2002 Os CAPS I são os Centros de Atenção Psicossocial de menor porte, capazes de oferecer uma resposta efetiva às demandas de saúde mental em municípios com população entre 20.000 e 50.000 habitantes - cerca de 19% dos municípios brasileiros, onde residem por volta de 17% da população do país. Estes serviços têm equipe mínima de 9 profissionais, entre profissionais de nível médio e nível superior, e têm como clientela adultos com transtornos mentais severos e persistentes e transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Funcionam durante os cinco dias úteis da semana, e têm capacidade para o acompanhamento de cerca de 240 pessoas por mês. Os CAPS II são serviços de médio porte, e dão cobertura a municípios com mais de 50.000 habitantes - cerca de 10% dos municípios brasileiros, onde residem cerca de 65% da população brasileira. A clientela típica destes serviços é de adultos com transtornos mentais severos e persistentes. Os CAPS III são os serviços de maior porte da rede CAPS. Previstos para dar cobertura aos municípios com mais de 200.000 habitantes, os CAPS III estão presentes hoje, em sua maioria, nas grandes metrópoles brasileiras –são serviços de grande complexidade, uma vez que funcionam durante 24 horas em todos os dias da semana e em feriados(internações curtas, de algumas horas a no máximo 7 dias) Os CAPSi, especializados no atendimento de crianças e adolescentes com transtornos mentais, são equipamentos geralmente necessários para dar resposta à demanda em saúde mental em municípios com mais de 200.000 habitantes. Os CAPSad, especializados no atendimento de pessoas que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, são equipamentos previstos para cidades com mais de 200.000 habitantes, ou cidades que, por sua localização geográfica (municípios de fronteira, ou parte de rota de tráfico de drogas) ou cenários epidemiológicos importantes, necessitem deste serviço para dar resposta efetiva às demandas de saúde mental. O perfil populacional dos municípios é sem dúvida um dos principais critérios para o planejamento da rede de atenção à saúde mental nas cidades, e para a implantação de Centros de Atenção Psicossocial. Características específicas dos CAPS CAPSI Funcionar das 8 às 18 horas, em dois turnos, durante os cinco dias úteis da semana. CAPSII Funcionar das 8 às 18 horas, em dois turnos, durante os cinco dias úteis da semana, podendo comportar um terceiro turno funcionando até às 21 horas. CAPSIII Constituir-se em serviço ambulatorial de atenção contínua, durante 24 horas diariamente, incluindo feriados e finais de semana. Estar referenciado a um serviço de atendimento de urgência/emergência geral, para suporte médico. CAPSi Constituir-se em serviço ambulatorial de atenção diária destinado a crianças e adolescentes com transtornos mentais. Funcionar das 8 às 18 horas, em dois turnos, durante os cinco dias úteis da semana, podendo comportar um terceiro turno funcionando até às 21 horas. CAPSad Responsabilizar-se pela organização da demanda e da rede de atenção a usuários de álcool e outras drogas, no território. Coordenar atividades de supervisão de serviços de atenção a usuários de álcool e outras drogas no território. Funcionar das 8 às 18 horas, em dois turnos, durante os cinco dias úteis da semana, podendo comportar um terceiro turno funcionando até às 21 horas. Manter de dois a quatro leitos para desintoxicação e repouso. Atendimentos específicos dos CAPS CAPSIII Acolhimento noturno, nos feriados e finais de semana, com no máximo cinco leitos para repouso ou observação. A permanência de um mesmo paciente no acolhimento noturno fica limitada a sete dias corridos ou 10 dias intercalados por um período de 30 dias. CAPSi Atividades comunitárias enfocando a integração da criança e do adolescente na família, na escola, na comunidade. Desenvolvimento de ações intersetoriais, principalmente com áreas de assistência social, educação e justiça. CAPSad Atendimento de desintoxicação. Recursos Humanos dos CAPS CAPSI 01 médico com formação em saúde mental 01 enfermeiro 03 profissionais de nível superior (psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo, outro) 04 profissionais de nível médio (técnico/ auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional, artesão) CAPSII 01 médico psiquiatra 01 enfermeiro com formação em saúde mental 04 profissionais de nível superior (psicólogo, enfermeiro, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo, outro) 06 profissionais de nível médio (técnico/ auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional, artesão) CAPSIII 02 médicos psiquiatras 01 enfermeiro com formação em saúde mental 05 profissionais de nível superior (psicólogo, enfermeiro, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo, outro) 08 profissionais de nível médio (técnico/ auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional, artesão) CAPSi 01 médico psiquiatra, ou neurologista ou pediatra com formação em saúde mental 01 enfermeiro 04 profissionais de nível superior (psicólogo, enfermeiro, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo, outro) 05 profissionais de nível médio (técnico/ auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional, artesão) CAPSad 01 médico psiquiatra 01 enfermeiro com formação em saúde mental 01 médico clínico 04 profissionais de nível superior (psicólogo, enfermeiro, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo, outro) 06 profissionais de nível médio (técnico/ auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional, artesão) A rede de cuidados na comunidade A rede de atenção à saúde mental brasileira é parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), rede organizada de ações e serviços públicos de saúde, instituída no Brasil por Lei Federal na década de 90; O papel dos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde, assim como das Conferências de Saúde Mental, é por excelência garantir a participação dos trabalhadores, usuários de saúde mental e seus familiares nos processos de gestão do SUS, favorecendo assim o protagonismo dos usuários na construção de uma rede de atenção à saúde mental; O território é a designação não apenas de uma área geográfica, mas das pessoas, das instituições, das redes e dos cenários nos quais se dão a vida comunitária; É função, portanto, e por excelência, dos CAPS organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios