O que você não deve esquecer-se de colocar em sua bagagem para o Intercâmbio Eliene Vargas1 Malas prontas, curso pago, passagens na mão, frio na barriga! É chegada a hora de partir rumo a uma nova vida, em busca de novos conhecimentos e experiências. Na bagagem, levamos esperanças, ansiedade, fé, medo, confiança, determinação. São tantos sentimentos que é difícil explicar, você precisa senti-los. O intercâmbio nunca foi um dos meus sonhos, diferente de algumas pessoas que se programam e fazem planos para vivê-lo. Comigo foi diferente. Somente no último ano da faculdade de Letras - Português/Inglês na Faculdade Cenecista de Osório, é que me interessei pela possibilidade de estudar fora do país. Em seis meses já estava com tudo pronto. Quando saímos do Brasil, nós, intercambistas, acreditamos que estudar 1, 3 ou 6 meses serão o suficiente para desenvolvermos nossas habilidades em Língua Inglesa. Nem sempre é assim. Aqui se aplica aquele velho ditado “toda regra tem sua exceção”. Se você estudou muito no Brasil e tem facilidade com línguas, talvez seja possível. No entanto, ao chegar em seu destino, o choque é inevitável para a maioria dos estudantes. Todos lembrarão do primeiro dia de aula com o professor estrangeiro sem que entendessem uma palavra sequer. Seria realmente inglês a língua que ele estava ensinando, com aquele sotaque carregado e sem falar nem uma palavra da Língua Portuguesa... Imediatamente, surgem os primeiros questionamentos: “O que vim fazer aqui? Eu não sei nada de inglês? Mas eu já estudei no Brasil? Por que não entendo o que eles falam agora? Será que tenho tantas dificuldades? Será que sou menos capaz que os outros?” Assim se inicia uma angustiante batalha interior e você tem que enfrentar os seus medos. Afinal, você precisa comer, ir ao supermercado, conhecer a cidade, você precisa “se virar” e falar o inglês. É preciso deixar a vergonha e a insegurança de 1 Graduada no curso de Letras Português/Inglês - FACOS/CNEC. Revista EnsiQlopédia – FACOS/CNEC Osório Vol.10 – Nº1 – OUT/2013 – ISSN 1984-9125 Página 93 lado. Ainda, assim, você irá sentir-se intimidado ao pronunciar as palavras. E é nesse momento, sem dúvida, que você precisa buscar a confiança e a determinação que trouxe na mala. É a hora de usá-las e seguir em frente. Superados os primeiros desafios, você retoma seus propósitos. É preciso valorizar essa oportunidade em sua vida, inventar uma coragem e fazer da curiosidade um caminho para o aprendizado, portanto procure conhecer a cidade em que você está, busque o que ela tem de interessante a lhe oferecer. Intercâmbio não é um “terror”. Há muitos pontos bons nessa experiência. Na verdade, são esses que predominam. Logo você percebe que até o que parece “ruim” torna-se positivo, é o mal necessário por assim dizer. Então tudo vira festa, são amizades novas, pubs, restaurantes, viagens, museus, muitas fotos, grandes emoções somadas à constatação - “estou na EUROPA!” Sim, posso dizer que é possível divertir-se e estudar, mas aconselho não perder o foco, pois você sabe que parceria para festas é sempre fácil de encontrar, já para estudar ... Acredito que um dos maiores ganhos em se estudar fora é poder conhecer pessoas de todos os cantos do mundo, morar com estrangeiros, conviver com culturas diferentes e conhecer-se a si mesmo. É testar seus limites nas relações humanas, é aprender a aceitar o diferente, é perder o preconceito, é viver cercado de gente e, ao mesmo tempo, estar tão sozinho... Não temos a quem recorrer numa situação extrema, sua família, seus amigos, os laços que você criou durante sua vida inteira estão do outro lado do oceano. Mesmo assim, não se desespere, você encontrará pessoas boas, e valerá a pena conhecê-las. Como tudo tem muitos lados, você encontrará pessoas que passarão despercebidas, terá em seu convívio pessoas ruins, sem carácter, egoístas. No entanto, o fundamental é que serão lições acumuladas para o resto de sua vida e que lhe tornarão um ser humano melhor. Os primeiros meses de adaptação não são fáceis. Há dias em que você quer ir embora. Quando a saudade da família aperta, a vontade de desistir é grande. Outra vez você desfaz as malas, agarra-se às esperanças que vieram com você e vai para rua procurar emprego. Não pense que vai se sentar confortavelmente em uma cadeira estofada de escritório com ar condicionado. Na maioria das vezes, você vai Revista EnsiQlopédia – FACOS/CNEC Osório Vol.10 – Nº1 – OUT/2013 – ISSN 1984-9125 Página 94 trabalhar na rua com chuva, frio, sol e, pior, pode ser que todas essas mudanças de clima aconteçam em um só dia ( no caso de você estar em Dublin, como eu). É o que acontece com quem entrega jornal nos principais pontos da cidade, por exemplo. Trabalho feito por muitos meninos e por meninas também que encaram essa difícil tarefa. Para elas, até é mais fácil conseguir um emprego de aupair, babysitter , que nada mais é do que cuidar de crianças e conviver com a família para melhorar o inglês. Claro, nunca esqueça esse que é o principal motivo de estar fora do seu país, tudo em prol do inglês. Vale até namorar um estrangeiro, apenas para “treinar o inglês” - brincadeirinha... Existem vários outros empregos - em lojas , em cafés , em restaurantes. O certo é que, no começo, é realmente difícil. Eu disse “difícil”; não impossível, porque você precisa ter um bom inglês. Os meses vão passando. Haverá dias em que parecerá que o seu inglês melhorou muito; em outros, você acha que não está progredindo. Então, você começa a administrar melhor os dias difíceis, descobre que eles passam e que você precisa mesmo é da coragem e do entusiasmo que vieram em sua bagagem. E, de repente, os seis meses chegam ao fim, você precisa decidir se volta para seu país ou se fica. Mas - espera um pouco- seis meses e eu não estou fluente na língua? O que aconteceu? Algumas pessoas ficam apenas um mês fora e já falam inglês... Sou eu o problema? Outra vez você balança. Novamente a ansiedade e o medo lhe invadem. É fácil desistir e voltar, porque sua família está lhe esperando com muita saudade. Até proposta de emprego você já tem, mas aí você precisa repensar para que veio e por que veio. E, mesmo assim, você opta por ficar, trabalhando em “subempregos”, vivendo longe da família, enfrentando as dificuldades. Na verdade, você tem metas, sejam elas viajar ou estudar, não importa, cada um sabe o que é determinante em suas escolhas. Você tem a sua história de vida e não quer desistir. Mesmo o intercâmbio não sendo somente o “glamour” como aparece nas postagens em meu facebook - muitas fotos, viagens, amigos. E, embora eu confesse que na maioria dos dias me sinta como se estivesse nas cenas de um filme, daqueles a que assistia no cinema e ficava só imaginando - passeios na neve, nos parques europeus, nas ruas de Paris, tomando um café, simplesmente perfeito – mais que tudo, é preciso ressaltar que essa oportunidade é uma experiência inexplicável e deve ser vivida por todas as pessoas. Revista EnsiQlopédia – FACOS/CNEC Osório Vol.10 – Nº1 – OUT/2013 – ISSN 1984-9125 Página 95 Ironicamente, no lugar mais glamoroso do mundo, descobri que realmente sou uma pessoa simples. Nas ruas de Londres ou em Paris, surpreendi-me reconhecendo o quanto as coisas simples da vida me fazem feliz. Não importa o que você tem, mas o que você é. Você pode ser feliz em qualquer lugar do mundo. E isso já vale um intercâmbio inteiro, a busca de si mesmo, o reconhecimento de sua essência não tem preço. Poderia ficar dias escrevendo sobre tudo que um intercâmbio pode oferecer, mas não é esse o objetivo. Apenas queria falar um pouquinho dessa experiência incrível que estou vivendo e dizer a quem tem planos de viajar e estudar no exterior para que não desista, seja qual for sua busca - apenas conhecimento da língua, experiência de vida, novas amizades, quebrar preconceitos ou autoconhecimento ponha os seus melhores sentimentos em sua mala e boa viagem! Revista EnsiQlopédia – FACOS/CNEC Osório Vol.10 – Nº1 – OUT/2013 – ISSN 1984-9125 Página 96