Estágio nos anos iniciais: vivências e aprendizados Denise Teresinha Campos Braga 1 Eliane Cristina Araujo Schneider 2 Resumo: Este artigo apresenta a proposta de estágio nos Anos Iniciais ocorrido em uma escola da rede municipal de ensino de Santo Antônio da Patrulha, em uma turma de 3º ano, no qual a estagiária juntamente com a professora orientadora do estágio apresentam o caminho do planejamento desse período, ações e reflexões teóricas a partir das vivências realizadas. Partindo de uma proposta de trabalho globalizada, integrada, que envolva os conteúdos de forma significativa e contextualizada, a estagiária procurou reinventar o seu fazer docente. Percebe-se que a trajetória da mesma, durante o estágio, possibilitou muitas reflexões em busca de diferenciação na ação docente, possibilitando avanços significativos para a sua formação com professora. Palavras-chave: estágio obrigatório - metodologias globalizadas - reflexões teóricas. Abstract: This article shows the internship proposal at “Anos Iniciais” in a municipal public school in SAP, in a third grade, in which the intern student and her advisos professor of internship show the planning, action and reflections from situations experencied during this period. Based on globalised and integrated proposal with meaningful and contextualized contents, the intern student tricol to reinvent her teaching practice. We have noticed that the internships provided her a lot of reflections, searching something different in the practice and meaningful advances of her background as a teacher. Keywords: compulsory internship - globalised methodologies - teorethical reflections. Introdução O estágio obrigatório é um componente do projeto pedagógico do curso de Pedagogia. Entende-se o mesmo como parte do processo de ensinar e aprender, da articulação teoria e prática e como forma de interação entre a instituição e as escolas. O estágio obrigatório tem como objetivo oportunizar ao acadêmico um contato mais direto e sistemático com a realidade profissional, visando à concretização de pressupostos teóricos, associados a determinadas práticas específicas, aplicando os conhecimentos obtidos no curso. No que se trata do Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais, cabe ao (a) acadêmico (a) iniciar esse período através do contato com a escola, do aceite da mesma, da definição da turma com a qual irá estagiar e da concordância da professora titular 1 Acadêmica do Curso de Pedagogia; professora da rede municipal de ensino de Santo António da Patrulha. 2 Docente da Faculdade Cenecista de Osório; professora orientadora da disciplina de Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais. Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 73 para a realização do estágio. Entende-se que o aceite compreende a abertura do espaço necessário para o (a) estagiário (a) poder desenvolver seus planejamentos com mais autonomia, definindo caminhos em relação à metodologia e a forma de trabalho com os alunos, inclusive no que se trata das relações pessoais. Caminho esse que se faz com o acompanhamento da professora da turma, auxiliando e sugerindo no que for necessário. Nesse sentido, a presença do professor titular é fundamental, pois é alguém experiente que está, no momento, colaborando com a formação do aluno e, ao mesmo tempo, aprendendo com o mesmo. Com o intuito de desenvolver um trabalho de qualidade o (a) acadêmico (a) realiza as observações, elabora a fundamentação teórico-metodológica, opta por uma metodologia integrada; realiza o projeto de estágio, o cronograma e o planejamento das aulas. Todas essas etapas devem ser sempre discutidas com a professora da disciplina de Estágio e ainda serem apresentados à professora titular para o seu acompanhamento. Para a realização da proposta de estágio, cabe a escolha de uma Metodologia Globalizada, isto é, aquela que parte de um tema, uma temática, um assunto que surja da necessidade dos alunos, da sugestão da estagiária ou da sugestão da professora titular, além de também serem consideradas as observações realizadas na turma. Ou seja um tema que possa agregar em seu desenvolvimento os conteúdos que precisam ser desenvolvidos, levando-se em consideração que os conteúdos são importantes, mas não precisam ser a base para decidir o que fazer em sala de aula, e que o grande desafio do educador, na atualidade, é pensar como fazer e não somente o que fazer, é que essa posposta é sugerida. Assim, os conteúdos passam a ser vistos de forma integrada, contextualizada, trabalhados de forma mais significativa para o aluno. Durante esse período, as propostas devem ser as mais condizentes com os estudos realizados durante o curso e amparados por concepções teóricas. Lembrando e respeitando as particularidades da escola e da turma em relação aos projetos, eventos, e outros momentos, o que se pretende é demonstrar a possibilidade de uma prática significativa para quem aprende e quem ensina, Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 74 através de propostas que envolvam as diferentes áreas do conhecimento, como: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Geografia, História, Educação Física, Música, Artes, Ensino Religioso, Informática, entre outras, inter-relacionadas ao tema do projeto. O projeto do estágio O projeto teve como tema: Aprender, criar e brincar através do mundo da imaginação, sonhos e fantasias da literatura infantil, e o objetivo principal foi de promover o interesse e o gosto pela leitura, ampliando e desenvolvendo o universo linguístico e a comunicação oral e escrita. As crianças demonstravam muito interesse pelos livros e queriam saber o que poderiam aprender com eles, demonstrando que ‘dentro’ de cada um há um universo de informações importantes. A escolha do tema literatura se justifica pelo resgate do interesse pelas histórias para que se efetivasse um processo de leitura e como consequência que as crianças pudessem ler e escrever de forma mais criativa e, principalmente, interpretar aquilo que leem. Visto que as formas mais tradicionais de leitura não estão surtindo efeito necessário, pensou-se na literatura infantil e a contação de histórias sendo uma forma mais interessante para construção de saberes. Atualmente a leitura é a habilidade intelectual mais importante a ser desenvolvida por qualquer pessoa independentemente da idade. O fantástico mundo da leitura envolve o leitor, proporcionando o mesmo a sentir várias sensações, sentimentos, parecendo tornar tudo muito vivo e fascinante. Desperta o prazer, a imaginação e o sonho infantil, possibilitando às crianças levantarem hipóteses e apontarem relações entre os acontecimentos, argumentando e posicionando-se, além de oportunizar e desenvolver seu potencial criativo, ampliando os horizontes da cultura e do conhecimento. A leitura precisa se fazer presente nas escolas, principalmente nos anos iniciais, pois produzir linguagem significa produzir discursos para se dizer algo num Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 75 determinado contexto histórico. A criança e a literatura infantil compartilham das mesmas naturezas: a lúdica, a mágica e a questionadora. Após a escolha do tema, os objetivos precisaram ser pensados. Com relação aos objetivos do projeto, têm-se os seguintes: Problematizar situações do cotidiano relacionando a situações novas e construir seus conceitos; sentir-se estimulado pela leitura de livros e pelas histórias infantis; desenvolver a criatividade através de construções de histórias individuais e coletivas; utilizar gestos e o ritmo corporal nas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de integração; produzir trabalhos de arte, utilizando linguagens diversificadas; participar de diferentes momentos literários, ouvindo, lendo, contando histórias e dramatizando; perceber as diferenças entre os personagens da literatura e conhecer associando-as às diferenças entre as pessoas; adotar hábitos e cuidados para si, para os colegas, para o material e o ambiente escolar; socializar com as famílias as leituras abordadas em aula, resgatando valores e ampliando sua leitura de mundo; estabelecer relações com o meio ambiente e a forma de vida; conhecer a sua comunidade através de pesquisas; valorizar e conservar meio ambiente em que está inserido; conhecer seus direitos, deveres e valores básicos para o exercício da cidadania através de diálogos, e diversos recursos; identificar-se como parte integrante da comunidade, exercendo sua autonomia e cidadania; valorizar e reconhecer a importância das amizades e do convívio social através das conversas informais; adotar atitudes solidárias com seu próximo através das ajudas em grupos; descobrir a matemática presente nas histórias, entre outros. A avaliação se deu de forma diária em todas as atividades, obedecendo a alguns critérios e a alguns instrumentos como: participação e interesse nas atividades propostas, produções escritas, artísticas e corporais dos alunos, relatos orais frente a situações trabalhadas, participação, envolvimento com a pesquisa, etc. A avaliação possibilita o professor e ao aluno uma reflexão permanente do ensino, diagnostica as dificuldades, corrige as falhas e estimula a superação dos problemas para mudar os rumos do processo educativo, possibilitando-os avançar, rever determinados conceitos até então não atingidos. Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 76 Metodologia: que caminho(s) seguir? No estágio referente, a metodologia escolhida foram os Projetos de Trabalho, já que a mesma envolve o aluno através de pesquisa, permitindo que a aprendizagem se construa através das relações significativas, proporcionando e possibilitando aos educandos realizarem uma abertura dentro do espaço escolar para a construção de aprendizagens significativas, prazerosas e que estejam relacionadas às vivências e realidade dos mesmos. Segundo Jollibert (2006), geralmente os professores estão acostumados a dar seus conteúdos, a utilizar métodos de trabalho e esperar que os mesmos recebam, apliquem e memorizem. Ao contrário, a proposta de projetos procura enriquecer a aprendizagem através do envolvimento, dos conflitos, de alegrias, experiências e vivências. O trabalho com projetos permite aos alunos trabalharem coletivamente, favorece as relações inter-grupais, estabelece uma rede de comunicações entre a escola e as famílias, ajuda os alunos a organizarem-se, fazer combinações, tomar decisões. Durante o estágio, foram trabalhados temas significativos que sejam do interesse dos alunos contemplando-os em relação as suas curiosidades, sanando suas dificuldades, necessidades, quando surgidas, fazendo ligações com as diversas áreas do conhecimento, possibilitando o envolvimento e a resolução de problemas. O trabalho desenvolvido procurou proporcionar atividades que auxiliassem os alunos na formação como indivíduo autônomo, crítico e pensante, capazes de expressar diversos sentimentos e emoções além de seus saberes, procurando solucionar as dificuldades, através de debates, argumentações, interagindo com os colegas, trazendo temas de interesse coletivo para ser trabalhado no grupo, buscando soluções para resolver problemas do cotidiano quando surgidos. Dentro desta perspectiva, o trabalho realizado foi o de orientar os alunos nas investigações, auxiliando na construção de hipóteses, experimentação, avaliação e comunicação proporcionando a busca de estímulos e respostas para o esclarecimento de suas indagações podendo aprofundar o estudo e o conhecimento a cada dia. Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 77 Para Zabala (2002),os projetos são considerados métodos de ensino utilizados na aprendizagem dos alunos. Para ele, todos os tipos de projetos têm algo em comum como o estabelecimento de um máximo de relações interdisciplinares, para alcançar um novo conhecimento. O autor ainda afirma que o trabalho com projetos faz parte de uma proposta de trabalho que envolve os métodos globalizados. Para ele: Métodos globalizados são caracterizados como métodos complexos de ensino, que de uma maneira explícita, organizam os conteúdos de aprendizagem a partir de situações, temas ou ações, independentemente da existência ou não de algumas matérias ou disciplinas que precisam ser lecionadas (ZABALA, 2002, p. 27). O professor deve proporcionar aos alunos uma aprendizagem através de pesquisas, levando-o a exploração de assuntos através de leituras, entrevistas, e também das observações da realidade dentro do seu contexto cultural, político e social. O aluno sente-se realizado e demonstra muito prazer e satisfação quando atinge seu conhecimento através das descobertas, já o professor pode desenvolver técnicas diversificadas para ensinar coisas jamais esquecidas por eles, desde que estas técnicas estejam de acordo com o grau de desenvolvimento dos mesmos. Este tema foi escolhido porque o melhor meio de se conhecer os diferentes textos, estrutura, intenções e vocabulários é através da leitura, daí constrói-se um leitor, ampliando o universo linguístico e o prazer pela leitura. A leitura ajuda a formar seres pensantes, preparados para a vida. Ela desenvolve a reflexão e o espírito crítico. “É fonte inesgotável de assuntos para melhor compreender a si e ao mundo” (CAGNETI, 1986, p.23). O contador de histórias deve permitir que haja a interação e o prazer com a leitura e, ao mesmo tempo, oportunizar seus ouvintes a despertar este prazer. Aroeira (1996, p.141) reafirma que “(...) contar história é uma experiência de grande significado para quem conta e para quem ouve”. Relatos e reflexões da vivência Durante o período do estágio, a estagiária procurou organizar e realizar situações que estimulassem a imaginação, ajudando-os a desenvolver seu intelecto e tornar claras suas emoções, bem como a capacidade de raciocínio dos alunos, na busca de seus conhecimentos, o gosto pela leitura, mostrando soluções para os conflitos Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 78 apresentados no cotidiano, além de oportunizar uma aprendizagem ligada aos encantamentos da literatura infantil. Para a abertura do projeto, foi apresentado ‘O mundo mágico da literatura infantil’ onde as crianças entravam em um “porta mágica” na qual encontravam personagens clássicos, fantasias, máscaras, livros diversificados, materiais diversos. Questionavam-se os alunos sobre o que eles queriam saber, o que pensavam sobre a literatura infantil, que livros conheciam, entre outras perguntas. Dessa forma, foram apresentados os livros, sugeridos pela estagiária, que seriam trabalhados durante o período de estágio: Os três porquinhos; Se as coisas fossem mães; Uma Joaninha diferente; A viagem da sementinha; Maria-vai-com-as-outras; A descoberta da joaninha. Nesse momento, a professora combinou e organizou com os alunos uma pesquisa sobre as histórias infantis conhecidas pelos pais, pedindo aos mesmos que contassem aos filhos estas histórias. A cada história explorada, curiosidades e desafios iam surgindo. Na contação dos Três Porquinhos, foi analisada a história, a criação dos personagens, o imaginário presente na mesma, as histórias atuais, envolvendo esses personagens clássicos; realidade das construções de ontem e hoje, as possibilidades de acontecerem os fatos relatados na história; as visões de bom e mau, etc. Através das atividades propostas, construíram-se conhecimentos diversificados, havendo uma aprendizagem significativa e envolvente, na qual eles eram autores do seu próprio saber. No retorno das entrevistas, houve uma conversa sobre a realização da mesma, sobre as questões, o que acharam da atividade, se foram importantes as respostas que obtiveram, o que observaram em relação às atitudes dos pais para responderem as perguntas, além de outros questionamentos que foram surgindo. Durante a conversa, foram colocados no quadro os nomes dos livros que eles falavam e que escutavam as histórias em casa. Ainda com relação à entrevista realizada com os pais, foram também exploradas as respostas quanto à importância da leitura, a vivência com a leitura, livros que lembram de terem lido, etc. Construímos um gráfico sobre a pesquisa realizada e fizemos a análise do mesmo, verificando as histórias que apareceram em maior número, as casas que mais apresentam a contação de Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 79 histórias em seu contexto familiar, entre outros aspectos. Foi sugerido pelos alunos que, durante o projeto, os pais lessem para eles essas histórias e que eles contassem aos pais as leituras que estavam fazendo na escola. Ainda, durante o estágio, havia a data comemorativa “O dia das mães”. Entendendo que as datas comemorativas não podem ser a base para a organização do planejamento na escola, mas que não se pode fugir de trabalhar com algumas culturalmente impostas, deu-se início a discussão sobre o que é ser mãe a partir do livro “Se as coisas fossem mães” da autora Silvia Orthoff. Houve uma conversa sobre as mães de ontem e hoje, sobre o que é ser mãe, sobre os papéis das diferentes pessoas da família em substituição da mãe, sobre as tarefas das mães e encaminhou-se mais uma pesquisa sobre o ser mãe na atualidade. Importante ressaltar que as crianças não estavam acostumadas a buscar informações através de pesquisa, sendo esse um importante aprendizado. Assim, a cada tema trabalhado uma pesquisa era sugerida para que se compreendessem como autores do aprendizado. Martins (2001, p.23) aponta que a metodologia de trabalho por projetos “permite superar as práticas habituais e já superadas e, tornar o ensino mais dinâmico e diversificado pelo relacionamento interdisciplinar, assumindo a postura de aprender a prender e do aprender a pensar”. De acordo com Wallon (1980), a criança na idade escolar está com seu desenvolvimento e sua sociabilidade ampliada. Ela se vê capaz de participar de diferentes grupos de diferentes graus de classificações, dependendo das atividades das quais participam. Essa etapa é muito importante para o desenvolvimento das aptidões intelectuais e sociais da criança. Para que o professor desenvolva uma boa prática pedagógica, deve diversificar e usar várias metodologias, fundamentando-as de acordo com as características físicas e psíquicas que correspondem à fase de maturação do indivíduo, pois, do contrário, ocorre o risco de não se obter êxito no processo de ensino aprendizagem. Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 80 Em relação ao professor, Weisz (1999, p. 45) afirma que: Se o professor procura inovar sua prática, adotando um modelo de ensino que pressupõe a construção do conhecimento sem compreender suficientemente as questões que lhe dão sustentação, corre o risco, grave ao meu modo de ver, de ficar se deslocando de um modelo que lhe é familiar para o outro, meio desconhecido, sem domínio de sua própria prática – “mesclando”, como se costuma dizer. Para realizar o referido estágio, a estagiária procurou pesquisar, também, embasando-se em diversos teóricos, cujo objetivo era analisar a importância da literatura infantil e suas contribuições no desenvolvimento da criança nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A partir da pesquisa e na realização do estágio, foram desenvolvidas brincadeiras, dramatizações, jogos, quebra-cabeça, trilhas, problemas e cálculos matemáticos, composição e decomposição numérica, sequências numéricas, atividades relacionadas às dúzias, unidade, dezena e centena, leitura e interpretação, produção textual, acrósticos, pesquisas e entrevistas, desenhos livres e direcionados, construção de livros, confecção de cartazes, atividades gramaticais, entre outras atividades. Sabe-se que os ‘conteúdos’ estão presentes na realização das aulas, dentro do possível, os mesmos apareceram de forma integrada ao projeto.Para Zabala (2002), quando os conteúdos necessitam ser trabalhados, mas não há possibilidade de integração ao projeto, devemos dar a ele um enfoque globalizador. Com esse termo, define-se a maneira de organizar os conteúdos a partir de uma concepção de ensino na qual o objeto fundamental de estudo para os alunos seja o conhecimento e a intervenção na realidade. Aceitar essa finalidade significa entender que a função básica do ensino é a de potencializar nas crianças as capacidades que lhes permitam responder aos problemas reais em todos os âmbitos de desenvolvimento pessoal, sejam sociais, emocionais ou profissionais, os quais sabemos que, por sua natureza, jamais serão simples. Ser capazes de compreender e intervir na realidade comporta dispor de instrumentos cogniscitivos que permitam lidar com a complexidade. O enfoque globalizador pretende oferecer aos alunos os meios para compreender e atuar na complexidade (p.35 -36). Assim foram organizadas situações que estimulassem a imaginação, ajudando-os a desenvolver seu intelecto e tornar claras suas emoções, bem como a capacidade de raciocínio dos alunos, na busca de seus conhecimentos, o gosto pela leitura, mostrando soluções para os conflitos apresentados no cotidiano, além de Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 81 oportunizar uma aprendizagem ligada aos encantamentos da literatura infantil. Através das atividades propostas, foi oportunizada a realização de uma construção de conhecimentos diversificados, mostrando a importância de se construir uma aprendizagem significativa e envolvente, na qual eles eram autores do seu próprio saber. De acordo com Bissoli: O professor deve levar em conta que, a partir do momento em que são dadas condições de o aprendiz interagir e participar de situações significativas, ele vai realizar novas conquistas a cada minuto, sendo, portanto, imprescindível observá-lo frequentemente. (2005, p. 8). Durante o período de estágio, a procura pela diversificação de propostas possibilitou que a aprendizagem fosse construída de maneira agradável, prazerosa e instigante, buscando atender as necessidades dos alunos dentro dos níveis em que se encontram, a fim de que eles participassem ativamente, possibilitando e proporcionando a interação de todos na construção de seu conhecimento. Muitos jogos foram trabalhados, desde os pedagógicos até os mais livres. Em relação aos jogos, o professor deve explicar sempre o porquê ele está sendo utilizado naquele momento. Através dos jogos, as crianças ao participarem, representam conquistas cognitivas, emocionais, morais e sociais, estimulando o desenvolvimento de seu raciocínio lógico. "A criança que joga acaba desenvolvendo suas percepções, sua inteligência, suas tendências à experimentação, seus instintos sociais" (Piaget, 1972, p. 156). Através do lúdico, os alunos demonstram compreender melhor os conteúdos trabalhados, pois o mesmo tem finalidade de desenvolver habilidades de resoluções, proporcionando aos mesmos, oportunidades de estabelecerem e atingirem determinados objetivos. "Os jogos ou brinquedos pedagógicos são desenvolvidos com a intenção explícita de provocar uma aprendizagem significativa, estimular a construção de um novo conhecimento" (ANTUNES, 2002, p. 38). Os jogos são alternativas pedagógicas que os professores utilizam para auxiliá-los na aprendizagem dos alunos. Através dele pode reforçar os conteúdos já Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 82 aprendidos. Eles favorecem e contribuem para uma aprendizagem em que o aluno possa fazer suas próprias descobertas, desenvolver suas habilidades e competências, além do cognitivo, envolvendo e explorando a imaginação. Segundo Luckesi (2000, p. 52), a ludicidade é um fazer humano mais amplo, que se relaciona não apenas à presença das brincadeiras ou jogos, mas também a um sentimento, atitude do sujeito envolvido na ação, que se refere a um prazer de celebração em função do desenvolvimento genuíno com a atividade, a sensação de plenitude que acompanha as coisas significativas e verdadeiras. A ludicidade não pode ser vista somente como uma diversão, pois ela é uma necessidade do ser humano independentemente de idade. Através dela, o professor pode desenvolver um ótimo trabalho no auxílio à aprendizagem, no desenvolvimento pessoal, no social e no cultural. Dessa forma ajuda no processo de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento, além de permitir que a criança assimile tudo aquilo que está vivenciando. Segundo Aguiar (1998, p.37), a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo por isso, indispensável a pratica educativa. E, pelo fato de o jogo ser um meio tão poderoso para a aprendizagem das crianças que em todo lugar onde se consegue transformar em jogo a iniciação a leitura, ao calculo ou à ortografia, observa-se que as crianças se apaixonam por essas ocupações, geralmente tidas como maçante. Através dos jogos lúdicos, o professor pode realizar um trabalho diferenciado, motivador e que seja significativo para os alunos, possibilitando a construção de novos conhecimentos e habilidades, explorando o raciocínio e estimulando os discentes a descobrirem novos meios de reproduzir soluções para resolver situações problemas apresentadas pelo docente, tornando-se uma atividade prazerosa. Trabalhar com jogos em sala proporciona a quem está jogando conhecimentos gratificantes por estar realizando uma aprendizagem espontânea, criativa e significativa. O jogo possibilita o desenvolvimento da criatividade, a sociabilidade e as múltiplas inteligências bem como proporciona a autoconfiança e a concentração. Quando é oferecido o jogo, o professor está oportunizando aos alunos a aprender a jogar numa participação ativa com os demais. Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 83 Para utilizar os jogos em sala de aula como recurso didático, esse deve passar por um processo seletivo, além de um planejamento com as etapas a serem seguidas e, se caso precise, o professor deve confeccioná-los e avaliá-los a sua aplicabilidade, verificando o desempenho dos alunos ao utilizá-los. Jamais pense em usar os jogos pedagógicos sem um rigoroso e cuidadoso planejamento, marcando por etapas muito nítidas e que efetivamente acompanhem o progresso dos alunos (ANTUNES, 2002, p. 37). Os professores devem procurar alternativas pedagógicas que favoreçam e contribuam aos alunos uma aprendizagem de forma que sejam capazes de desenvolverem suas habilidades e competências. Os livros de literatura infantil, propostos para o projeto e os sugeridos pelos alunos, proporcionaram o estudo de diferentes temáticas, como a diversidade, a autonomia, a cooperação, assim como os jogos, proporcionando momentos de aprendizado. Considerações finais Acredita-se que a formação inicial norteará a atuação do futuro professor em sala de aula, possibilitando a esse a apropriação da realidade presente no cotidiano da escola e, certamente, a prática do estágio torna-se o caminho para esta apropriação. Entende-se que o estágio supervisionado tem a função de orientar o acadêmico para reconhecer o espaço escolar, apropriando, problematizando, criando o seu projeto de pesquisa e trabalho a ser realizado na escola, o que viabiliza que o mesmo atue, comprometendo-se com o processo de ensino e aprendizagem no período de estágio. Pode-se considerar que o período de estágio é fundamental para o aluno, já que nesse cabe relacionar saberes construídos durante a sua formação à prática planejada para esse período. O desafio proposto é o de organizar uma prática pautada por teorias e promover inovações nas escolas, refletindo-se a respeito dos Revista e-Ped – FACOS/CNEC Osório Vol.2 – Nº1 – AGO/2012 – ISSN2237-7077 84 fazeres dos professores em exercício em turmas dos anos iniciais. Percebe-se que, durante esta etapa, aprendizagens foram construídas pela estagiária e pelos alunos. Sendo assim, nós, enquanto educadores, estamos em constante busca de novos conhecimentos, realizando uma reelaboração de nossas práticas pedagógicas e nos permitindo mudar, quando necessário, para que possamos ressignificar nossa prática educativa e sempre beneficiar nossos alunos. Além de todos os benefícios e aprendizados que o trabalho com projetos e a literatura infantil proporcionam às crianças, também possibilitam que o trabalho do professor seja mais significativo, quando este observa seus alunos durante o ato de ler, escrever, dramatizar, contar as histórias e ouvi-las com muito entusiasmo. Quando isso ocorre, abrem-se inúmeras possibilidades de trabalho que devem ser aproveitadas pelo professor para a melhoria de sua prática pedagógica. Referências AGUIAR, J.S. Jogos para o ensino de conceitos. Campinas: Papirus, 1998. ANTUNES, C. Novas Maneiras de Ensinar: Novas formas de Aprender. Rio de Janeiro: Artmed, 2002. AROEIRA, M.; SOARES, M.; MENDES, R. Didática de pré-escola: vida e criança: brincar e aprender. São Paulo: FTD, 1996. BISSOLI, Ligia Maria Sciarra. Histórias Infantis: Recurso desafiante e lúdico incentiva a aprendizagem da matemática. Revista do professor. Porto Alegre, 21 (81): 7 – 10 de jan./mar. 2005. CAGNETI, S. Livro que te quero Livro. 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